História Take Me To Church - Camren - Fire and Ice

— Camila, espera.  — Lauren falou e eu parei no meio do caminho até a saída, me virei preguiçosamente e encarei ela com certa raiva.

— O que você quer? Depois de jogar na minha cara que meu pai trai minha mãe, que o casamento que eu achei ser perfeito, não é, e tentar me convencer que a igreja tem defeitos?  — falei irritada e ela sorriu.

— Sabia que aceitar fatos não é tão ruim quanto parece? Seu pai trai sua mãe, e daí? Muitos traem. É só mais um. — Lauren falou com uma calma que me fez querer estrangulá-la.

— Pra você é fácil falar, não é com você. — só percebi minha gafe após cometê-la, Lauren fechou a cara imediatamente e eu encolhi meus ombros.

O pai dela não somente traia sua mãe, como também, ajudava outros a trair. Se duvidar, a Sra. Jauregui nem sabia dessa boate do marido, e ele com certeza se "divertia" em serviço.

— Acha mesmo que não? — encolhi os ombros e abaixei a cabeça.

— Me desculpe Lauren, eu não queria. — ela negou com a cabeça e subiu em sua moto, colocou o capacete e ficou esperando por mim.

— Ande logo, Camila! — disse levemente irritada e eu me encolhi mais, subi atrás dela, coloquei o capacete e esperei que ela desse partida. — Aonde lhe deixo? — pensei um pouco.

— Na biblioteca próxima a minha casa. — ela assentiu e deu partida, acelerando.

Aquele friozinho do começo já nem se passava pela minha cabeça, um sorriso automaticamente se formou em meu rosto. Lauren ainda estava carrancuda, mas obviamente estava mais feliz.

X X X

Eu imediatamente vi a enorme fachada da biblioteca, Saint Victor, era uma construção vitoriana seminova, do século XX ou XIX. A fachada ainda estava em cores vivas, apenas um pouco desbotadas nos cantos. Mirian cuidava muito bem da biblioteca, admito. Mas o desgaste era inevitável devido a chuva. A biblioteca possuía dois andares, no primeiro, apenas alguns estudantes que desciam e sentavam-se para ler seus livros escolhidos e tomar café.

No segundo andar, pra onde eu rapidamente me direcionei após me despedir secamente de Lauren e agradecer, no segundo andar haviam os livros e uma pequena cafeteria, nada extravagante, algo simples e acolhedor. Andei pela fileira de livros e peguei o primeiro que vi, um livro de poemas, ia apenas registrar e voltar pra casa, caso minha mãe viesse checar.

Mas a capa do livro me chamou atenção, uma árvore dourada e umas flores prateadas caindo, e Poemas escrito em letras cursivas. Abri o livro na página 16, por coincidência, comecei a ler o poema.

O escritor era Robert Frost, eu não o conhecia, então resolvi dar uma chance.

Fogo e gelo

Alguns dizem que o mundo acabará em fogo,
Outros dizem em gelo.
Fico com quem prefere o fogo.
Mas, se tivesse de perecer duas vezes,
Acho que conheço o bastante do ódio
Para saber que a ruína pelo gelo
Também seria ótima
E bastaria.

Aquele poema me lembrou muito duas pessoas que eu conheço, eu e Lauren no caso. Instigou minha curiosidade à ponto de ir até o segundo andar novamente e procurar Mirian, perdida no meio de todos aqueles livros.

— Olá, mi querida, quer algo, Camila? Há tanto tempo que não nós vemos. — abracei Mirian e acenei em comprimento após soltar o abraço.

— Olá, Mirian. Preciso de um favor. Não sei se vai deixar, mas eu acabei de ler um poema e gostei muito dele, nesse livro, — levantei o livro e ela assentiu. — será que posso levar pra casa por um dia? Gostaria de pesquisar sobre ele, fazer uma interpretação detalhada, mas já tenho que ir embora, cuidar de Sofia.

— Não sei, Camila... — Mirian começou a dizer, eu sabia que ela não podia, mas mesmo assim insisti, até que ela cedeu. Me olhando com uma carinha simpática.

Mirian é o tipo de mulher que você não diz que tem a idade que tem. Ela tem 46 anos e pode facilmente ser confundida à uma mulher de 32, ou menos. Ruiva, da pele branca e dos olhos azuis, ela usa óculos redondos, e é alta, magra. Mirian é linda.

— Por favor, Mirian. Eu devolvo amanhã mesmo. — ela bufou e olhou aos céus, se deu por vencida.

— Está bem, mas me devolva, esse livro é muito pedido, e não conte a ninguém, não posso fazer estes favores à todo mundo. Beijos à sua mãe e à sua família. — assenti e a abracei um pouco entusiasmada demais.

— Desculpe. — ela assentiu e eu me retirei dali rapidamente.

Precisava me apressar para chegar em casa, minha mãe não poderia chegar e ver que eu deixei Sofi sozinha.

Abri a porta da minha casa e entrei silenciosamente, eu achei que estava tudo bem, não ouvi barulhos. Mas, ao subir o primeiro degrau de escada, ouvi um pigarreio que me fez parar e todos os pelos do meu corpo se eriçaram. 

— Aonde estava, Karla Camila Cabello Estrabão? — minha mãe falou brava, desci o degrau e a encarei juntando as mãos sobre o peito, pedindo perdão.

— Perdão, mama. Eu estava na biblioteca atrás de um livro da escola e perdi as horas. Sinto muito. — ela me encarou ainda com raiva. Sim eu menti, mas, há meninas da minha idade fazem pior, era apenas uma mentirinha boba.

— Deixou sua irmã sozinha, Camila. Como pode. — ela me encarou meio... decepcionada? Aquilo me magoou muito.

— Eu sinto muito, Sofia. Não queria mesmo, foi rapidinho. Sinto muito. — Sofi assentiu pra mim, mas minha mãe não estava satisfeita.

— Achou o tal livro? — assenti. — Então vá pro seu quarto estudar. O jantar será servido em pouco tempo.

Subi pro meu quarto e tranquei a porta. Me sentei na cama e abri o livro novamente.

Comecei a reler inúmeras vezes. Liguei o computador e comecei a pesquisar mais sobre Robert Frost.

Até agora sei que ele foi um poeta muito importante daqui dos Estados Unidos, e que teve muitos, muitos filhos. Minha cabeça começou a doer e eu desliguei o computador. Minha mãe bateu a porta e me chamou para almoçar.

Desci e meu pai havia chegado. Ele me encarou e eu abaixei a cabeça, mamãe havia contado pra ele.

O jantar foi, como todas as noites, em silêncio. Mamãe falou sobre a igreja, rezamos e comemos. Papai disse que não poderíamos ir à igreja hoje, pois ele teria que sair à trabalho. Eu desconfiei, mas não falei nada.

Subi para meu quarto mas não resisti à entrar no quarto de Sofi, desejei-a boa noite e me desculpei, ela me beijou e me disse que estava tudo bem e apenas tinha ficado assustada.

Entrei no meu quarto e tomei um banho rápido, sem molhar a cabeça. Vesti meu pijama e fui dormir, desliguei o abajur, deitei na cama e fechei os olhos. Me revirei sem conseguir dormir. Escutei pedrinhas batendo na minha janela e me levantei apressada. Lauren me encarava sorrindo.

— Lauren? — gritei, mas depois me contive. — O que faz aqui? — eu praticamente sussurrei.

— Vim te buscar pra se divertir. — eu sorri, mas logo parei.

— Ficou louca? — falei ainda sorrindo.

— Se não descer vou aí em cima te buscar, ou grito e acordo todo mundo. — eu a olhei desconfiando mas ela abriu a boca e eu fiz gestos desesperados e ela fechou, sorrindo.

— Um minuto. — ela assentiu e eu entrei novamente no quarto, troquei de roupa e coloquei um vestido, pouco apertado, penteei o cabelo, tranquei a porta do quarto.

Voltei para a varanda e a encarei assustada. Como eu iria descer?

— Pula.

— Tá louca?

— Eu te seguro.

— Tá, espera. Me segura. — ela assentiu.

Eu pulei, me preparei pra queda, mas ela não veio, Lauren havia realmente me segurado. Eu abri os olhos e a encarei sorrindo, ela sorriu de volta e me pôs no chão. Meus olhos quase brilharam ao ver a moto.

— Qualquer dia te ensino à dirigir.

— O quê? Não. Sem chances.

— É fácil, você aprende rápido. — assenti meio desconfiada e ela subiu na moto, subi junto.

Eu só podia estar louca, mas mesmo assim subi na moto com Lauren, apertei sua cintura e esperei ela dar partida. Eu só tinha duas certezas. 1 - Lauren iria me meter em problemas. 2 - Ao fim do dia, eu estaria completamente encrencada...

Mas no momento, não poderia me importar menos...

Lauren Jauregui Point Of View

Eu estava disposta à dar para Camila, a melhor noite de sua vida...