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História Take me to Church KatsuDeku - 7. Apenas uma conversa com um bar-man típico de praia.


Escrita por: Marta_Tata

Notas do Autor


Só para dizer que o diálogo enorme deste capítulo que ocupa quase todas as palavras é das coisas que mais me orgulho de ter feito até hoje.

Capítulo 8 - 7. Apenas uma conversa com um bar-man típico de praia.


Fanfic / Fanfiction Take me to Church KatsuDeku - 7. Apenas uma conversa com um bar-man típico de praia.

Novamente, Bakugou estava sozinho, no seu quarto. Era só ele e a música rock pesada no volume máximo, a roçar nas suas orelhas, saindo dos headphones. Desta vez, nem a luz se fazia presente. Estava escuro, estava frio. 

Estava solitário; pensativo.

Se antes a sua cabeça já estava a mil a pensar sobre a sua vida e tudo o que lhe rodeava, agora estava a um milhão. Tinha muitas dúvidas - Fora o mais velho da casa que realmente deixara a mãe assim? Será que sabiam da homossexualidade não assumida para o mundo de Midoriya, ou só o provocara e isso tornaria as coisas muito complicadas lá em casa porque, bem... Eram religiosos? Ele nunca vira os seus amigos da escola... Nem uma única vez. Como raios tinha conhecimento deles? Será que a sua parte má-cristã - ou seja, ele todo -, podia chegar a descarregar fisicamente nos que o rodeavam? 

Mesmo inquieto, mesmo desconfortável, Katsuki não se movia, deitado na sua cama. 

O quarto, normalmente, estava todo iluminado. O dono da divisão adorava-o cheio de luz, achava que ficava mais quente e acolhedor assim. O chão era completamente de alcatifa azul clara, que era um inferno aspirar, antes de arranjarem uma empregada doméstica... A partir daí, Bakugou parou de espirrar tanto, pela sua leve quase nada alergia ao pó. A cama estava ao lado de uma das janelas do quarto - Afinal, o dono do prédio fizera remodelações no mesmo há uns anos, acrescentando uma janela em cada um dos apartamentos; a sorte ficou tanto do seu lado que calhou no seu quarto. Por um lado, podia dormir a olhar para a rua e estrelas, como tanto gostava. Mesmo sem admitir e muito secretamente, Katsuki era fascinado por astrologia e tencionava cursar isso, um dia.

A sua cama era de casal. Era branca com lençóis da mesma cor e uma colcha azul com alguns detalhes azuis escuros. As paredes eram todas claras, menos a que estava de frente para a cama. Nessa parede, tinha as prateleiras com figures nerds, jogos e até mesmo era onde estava a televisão velha encostada, apoiada num banco improvisado branco, ligado à sua consola. Ao lado da consola, a sua linda guitarra elétrica que cuidava desde criança e lhe fora dada pelo pai estava pendurada à parede, ligada a um amplificador e, quando queria, retirava-a para tocar. Depois, os seus olhos bateram no móvel comprido que percorria praticamente toda a grande parede oposta à janela, verde claro. Tinha alguns autocolantes das suas bandas favoritas, bem como duas marcas pequenas que se orgulhava mundo, a caneta permanente, escritas há mais ou menos um ano e muito:

"Kacchan esteve aqui!". - Com a letra do melhor amigo. 

"O Deku também!". - E um pequeno boneco com a língua de fora ao lado, sendo ele mesmo o dono da segunda frase. Ficou a encarar aquilo por tanto tempo que perdeu a conta, sem entender o amargo sorriso que se estendeu nos próprios lábios finos e quentes. Podia estar com frio; mesmo assim, não se deu ao trabalho de ligar o aquecedor, como todas as noites.

Não era uma noite agradável. Então, não seria quente. Não para si.

O teto do seu quarto era branco. Deslizando o olhar vermelho para ele, deparou-se com o que mais gostava nele e se recusava a tirar, desde criança - Dezenas e dezenas de estrelas coladas, que brilhavam no escuro, num tom verde claro neón. Lembrou-se de quando era mais novo, com sete anos, quando tudo era fácil. Quando a sua única preocupação era enfiar-se debaixo dos cobertores, e noite, com uma luz fraca e desenhar constelações existentes ou inventadas, apenas com o que estava no topo do local.

Por fim, as janelas. Uma, ao lado da cama e outra, onde via sempre o pessoal da igreja entrar, aos domingos de manhã, perto da sua televisão, mais propriamente ao lado esquerdo da mesma, para quem está na cama. Com o seu hábito, arranjou um banco velho que almofadou e restaurou depois, só para ficar confortável nessas horas.

Nem percebeu desde quando analisava o quarto calmamente, pousando os olhos com muita lentidão em cada poster presente ao lado da sua coleção, ou até mesmo no pequeno buraco da parede que por algum motivo estava visível, pensando logo que a culpa era do maldito Midoriya, afinal, ele ficava sempre tapado pelo móvel grande e adorava desvia-lo só para o irritar. 

Então, do nada, petrificou. Parou bruscamente de se concentrar no lugar, arregalando os olhos de tal maneira que quase lhe fez doer a vista. Só a ideia que acabara de lhe passar pela mente o fez querer gritar, desabafar, tremer. Ficou muito pálido e arfou cada vez mais, sentindo uma imensa falta de ar, resultando num sentar brusco na cama, enquanto agarrava o peito pela tshirt negra sem mangas, amarrotando-a. Mordeu o lábio, presenciando um nó gelado no estômago, com pontadas que o stressavam entre adrenalina e receio, dando-lhe náuseas. Tapou a boca, sentindo que iria vomitar toda a bolonhesa do jantar presente no seu estômago a qualquer momento, levantando-se da cama tonto e com a cabeça à roda, cambaleando até à porta, com destino na casa de banho mais próxima. 

Será que o seu avô descobrira o seu pecado?

A hipótese foi fundida com todas as outras dúvidas, sendo mais um problema no seu psicológico; contudo, esta pesava ainda mais. Sentia que as pernas estavam a falhar e a visão ficar turva. Era claro que não estava assim tão mal... Ou não deveria. De facto, era a sua mente que lhe dava tonturas quando se relembrava do seu pecado, do único arrependimento da sua vida. Sim, era verdade, ele vomitava às vezes por isso. E sim, também já desmaiara por isso.

A nossa mente é incrível. Uma vez, o loiro leu numa pesquisa, para tentar parar com estes sintomas todos, que um homem morreu pura e simplesmente por julgar que tinha perdido todo o sangue do seu corpo, num experimento. Mordeu o lábio atrás da palma da mão, para ver se a dor o mantinha acordado.

Kanji Bakugou. O avô era um homem respeitado, um exemplo a ser seguido, na sociedade. Cheio de respeito, cheio de votos católicos, cheio de bíblias pela casa, ajudava o próximo; um trabalhador excepcional. Abriu sete empresas ao longo da sua vida, lucrando tanto que chegou a ser milionário. Meio reformado, meio empresário atualmente, faliu completamente no último investimento e perdeu todos os três milhões que lucrara, durante a sua vida. A única coisa que lhe restou foi este apartamento e teve de hipotecar a fica de quase todos os familiares... E obviamente que o desculpavam! É claro! É um puto de um católico, óbvio que tem desculpas. Esse é o porquê de tanta gente viver num apartamento com tanta gente. 

O seu nome - Kanji - é o nome de uma das três escritas japonesas; algo... Bem, neste caso alguém de cultura, de respeito, de nome. Também significa 'afeto', 'carinho'. Deveria ser alguém minimamente bom. 

Mas aquele senhor? Nem nome merecia ter.

Colocou delicadamente a mão sobre a maçaneta redonda da porta, gelada. Apoiou-se por um tempo, a tentar acalmar-se com a respiração e para não vomitar todo o pânico dentro de si para fora, mas sem qualquer sucesso. Era... Era só uma possibilidade, Katsuki. Não havia certezas de ele conhecer o seu pecado. Uma possibilidade que batia certo com tudo o que lhe rodeava e muito, muito provável. Só isso.

Respira fundo... Acalma-te, ordenava para si mesmo. 

Engoliu em seco, depois de uns três minutos a tentar não pensar no assunto. Todo o seu corpo refletia a tensão dentro de si e o rapaz parecia à beira de um colapso. Afastou lentamente a mão da maçaneta, tentando ficar direito e em pé, sem desmaiar. 

Quando já estava minimamente estável, alguém bateu contra a sua porta, coisa que o surpreendeu... Afinal, um - privacidade não existe naquela casa, durante a noite, quando toda a gente está presente e nunca ninguém batia à porta, em ser os seus pais - dois, a mãe conhecia-o e ele conhecia-a e ambos sabiam perfeitamente que seria melhor só falarem na manhã seguinte, para não piorar a situação. E três, estava sem fones. Isso foi confirmado quando os viu caídos no chão. No meio de tanta confusão, nem percebeu que os tinha perdido, no trajeto.

A batida foi novamente escutada. Então, quando viu a porta se abrir lentamente, por instinto, forçou novamente com força, que se fechasse.

" - Katsuki... Não é?". - Admirou-se com o dono da voz. - "Eu só queria saber se estavas bem".

Para surpresa das surpresas, o rapaz atrás da porta era o noivo da irmã, Shinsou qualquer coisa que não ouvira ou ele não mencionara. Deu um grunhido que foi incompreensível até para ele próprio, girando a chave na porta.

" - Estou bem. Desaparece".

Esperando que ele o mandasse à merda, virou de costas para a porta, pronto para voltar às crises existenciais na cama, a voz do homem soou de novo, fazendo-o paralisar.

" - Ambos sabemos que tu não estás bem".

Não soube dizer porquê, contudo, não se mexeu. Ficou ali, parado, como se a sua mente estivesse em branco e admirado com apenas um facto:

De tantas perguntas... De tantas tantas que circulavam a sua mente. Ele nunca fazia aquela mesma, para si próprio.

" - Não... Não precisas de me responder se não quiseres, Katsuki". - Sussurrou o rapaz alto o suficiente para o loiro ouvir. Não o conseguia ver, contudo, o de cabelos roxos rebeldes lançava um sorriso gentil. - "Podes me mentir. Contudo... Eu peço-te, para não te enganares a ti próprio".

Sem resposta, o homem de vinte e seis anos suspirou, derrotado. Estava pronto para sair do corredor, plantado à frente de uma das demais portas brancas com um autocolante 'Danger! Shock Hazard. Do not Touch.' e depois, a caneta permanente escrito na própria porta um 'It can kill you' (traduzindo, daria um 'perigo de eletrificação; não toque, pode te matar', que possivelmente roubara num dos seus atos de rebeldia de algum lugar proibido de se entrar, quando essa mesma entrada de madeira foi destrancada e aberta lentamente. Apesar da surpresa no rosto de Shinsou, Bakugou não expressou qualquer emoção. Nem mesmo de surpresa, ao ver a irmã Himiko atrás dele.

" - Anda". - Chamou-o para entrar, sem qualquer gesto formal, dando uma inclinação em direção ao próprio quarto, com a cabeça. O outro apontou para si próprio, fazendo a voz do loiro perder a paciência. - "Sim, tu. Mas só tu. Vem".

A instrução era clara, todavia, o rosto do homem não. Engoliu em seco e entrou, sem saber bem o que se ia passar. Então, o rapaz mais novo da casa fechou a porta com força, indo calmamente em direção à cama com as mãos nos bolsos, ignorando completamente a presença do outro.

" - Uhm...". - Shinsou começou a tentar falar, analisando cada lugar do quarto. O rosto tinha confusão, curiosidade e mais alguns pacotes de dúvidas. No entanto, foi cortado por um rosto com raiva e sem paciência, do futuro cunhado.

" - Cala a boca". - Grunhiu, olhando-o sem paciência e analisando-o de cima a baixo. - "Não fales. Não digas nada. Quase cem por cento das pessoas que considero boas cagam tudo assim que abrem a boca com essa mesma expressão no rosto".

Piscou os olhos roxos claros várias vezes, surpreendendo-se cada vez mais com aquele rapaz. Tentou ignorar o facto de mal o conhecer e o achar uma pessoa boa, coisa que devia ser raro, pelas suas atitudes. Então, decidiu mudar de postura, acentuando uma agora descontraída pelo corpo, com apenas a mão esquerda nos bolsos e um sorriso.

" - Okay. Entendi. Sem formalidades?".

" - Sem formalidades". - E assentiu.

Silêncio. Apenas o suspiro pesado do loiro presente no quarto foi ouvido, despertando a atenção do mais velho.

" - Quem é que te mandou?". - Cuspiu as palavras, deslizando o olhar dos olhos calculistas de Shinsou e navegando os olhos pelo quarto, até parar ao seu lado direito, na cómoda verde clara... Mais especificamente nos nomes dele e do amigo. Era ali onde fitava, se ficasse desconfortável. - "O puto do meu avô? A chata da minha irmã? A minha mã--".

" - Eu vim porque eu quis". - Acentuou, agora numa voz mais alta e vincando bem o pé onde queria. Katsuki deu uma risada irónica anasalada, revirando os olhos.

" - Vai enganar a puta que te pariu. Ninguém vinha ver como raios o cunhado mal-educado da família está".

" - Bem... Tens razão. Eu não iria ver o meu cunhado mal-educado por vontade própria". - Andou com passos incrivelmente calmos até à pequena cadeira de verga branca ao lado da porta, arrastando-a até perto da cama do rapaz. Não queria se sentar ao seu lado, afinal, iria logo entrar na defensiva, embora o mais novo já o fazia por si só, como um simples avançar de uma cadeira. Sentou-se calmamente e sorriu, olhando-o nos olhos vermelhos gelados. - "Mas o meu cunhado não é mal-educado. Na verdade, se o fosses, eu não estava aqui. Olha que eu não gosto de faltas de educação, Katsuki".

Semicerrou os olhos, voltando a sentar-se, numa pose mais confortável e defensiva que antes, esperando alguma coisa que não conseguia prever.

" - O que caralhos queres tu dizer com isso?".

Por mais que o de cabelos roxos não gostasse muito dos palavrões que às vezes Bakugou lhe lançava, continuou a sorrir. Compreendia que ele não estava bem e que parecia desconfortável com alguma situação atual. Então, arranjou paciência para ignorar isso... Porque, sendo sincero, para além disso, não vira outra falta de educação para consigo.

" - Quero dizer que o único ser intragável nesta casa, é o teu avô".

Outrora semicerrados, o olhar do de pele bronzeada arregalou-se lentamente, como se estivesse a verter calmamente a situação que ouvira para o seu cérebro. A surpresa exclamada no rosto do dono do quarto causou aos olhos roxos uma valente gargalhada alta.

" - Não é mentira nenhuma. Sabes, por mais respeito que tenha de ter pelo senhor avô da minha noiv...". - A voz falhou-lhe quando viu a expressão de raiva no rosto do rapaz, reformulando a frase. - "Da minha... Da minha namorada". - E a face tensa desapareceu, dando a lugar a uma bem mais descontraída, coisa que ele suspirou mentalmente. - "...Eu não o consigo levar a sério. Por favor. É mais que óbvio o seu discurso falso contra mim e todos!! A sério, este cabelo todo direito com o gel está a dar cabo de mim".

O rapaz que acabara de ouvir aquilo, tombou ligeiramente a cabeça para o lado, agora desconfiado.

" - Mas... Mas isso não é normal? Tipo, és advogado e assim, nã--".

" - O quê? Oh, não, não!". - E voltou a rir. Desta vez, era mais baixo, enquanto abanava a cabeça para os lados e esfregava os dedos todos nos seus cabelos, revelando que aquele todo direito e que parecia milimetricamente bem cortado, com um ar de totó, era nada mais nada menos que todo mal cortado, volumoso, todo roxo claro. - "Eu não sou advogado e nem estou na universidade". - Voltou a sorrir. Sorriu, exatamente, como se enganar o avô do rapaz não fosse algo de temer, praticamente, a própria morte. 

A boca de Katsuki abriu tanto que o outro teve de se conter para não voltar a rir. O rosto do adolescente, coitado, estava tão confuso como chocado, pelo que escutara.

Shinsou repôs a sua postura; inclinou-se para a frente, sem tirar o ar gentil do seu rosto. Apoiou as mãos juntas sobre as pernas, num olhar gentil. 

" - Está na hora de nos conhecermos melhor, não achas?".

A sua pergunta soou mais direta do que esperava, fazendo o rapaz voltar à defensiva. Era incrível como a cada gesto de alguém exterior, Bakugou era rude, ofensivo e parecia logo ter algo que o protegia a todo o custo para se mostrar a alguém; e por mais que isso pareça ameaçador, Shinsou conseguiu compreender logo que isso era o modo de auto-defesa instantânea do rapaz.

" - E quem disse que eu te quero conhecer?".

O olhar roxo suspirou, num aspeto irónico.

" - Está bem, está bem... Então, vais apenas conhecer-me". 

Mesmo sem admitir, o renegado da cidade parecia tão curioso como receoso do que iria acontecer a seguir. Tentara ser mal-educado com o rapaz, tentara mandá-lo embora e até mesmo dizer-lhe diretamente que não queria saber dele. Mesmo assim, ele respeitou as suas decisões e não desistiu dele. Manteve-se na sua posição, sem mostrar que estava um pouco mais confiante e relaxado. Não queria dar parte fraca, por mais mínima que fosse, a um rapaz que nunca vira na vida.

" - Chamo-me Hitoshi Shinsou". - Começou. O tom de voz estava um tanto carinhoso e paciente, enquanto voltava a encostar-se na cadeira, para lhe transmitir conforto. - "Tenho vinte seis anos como já sabes, e sou bar-man num bar de praia".

" - Wow, a sério?!". - Quase gritou de espanto. - "Tu mentiste ao meu av... Ao home,m a dizer que estavas a tirar advocacia não sei das quantas para depois lhe espetares na fronha que és um homem que serve bebidas?!".

Deu uma risada e encolheu os ombros, como resposta. Adorou o facto de ver o irmão da futura esposa bem mais à vontade, pegando involuntariamente numa almofada e colocando-a perto de si, parecendo atento à história. Limpou a garganta e continuou.

" - Vivo sozinho desde os meus dezoito anos. Mudei-me para cá nessa altura, afinal, nasci na Califórnia".

Katsuki arqueou uma sobrancelha.

" - O que raios estava alguém na boa vida, em Califórnia, no meio de calor, praias e dinheiro possivelmente, a pensar para se mudar para a cidadezeca, no meio do nada?".

" - Bem, às vezes sabe bem cometer loucuras. Califórnia não era para mim". - Admitiu, descendo o olhar para os sapatos. - "Eu perdi o meu pai muito cedo, por isso...".

" - O-Oh... Desculpa". - Murmurou. O loiro era horrível a se desculpar, quanto mais prestar as devidas condolências. - "D-Devo dizer os meus pêsames ou assim?".

Deu um sorriso e negou com a cabeça.

" - Eu era mais novo que tu um ano, se não me engano... Sinceramente, já ultrapassei isso. Contudo, eu e a minha mãe nunca fomos muito chegados. Eu era mais apegado à minha tia e sinceramente vejo-a mais como uma mãe, sabes? Quando ela foi viver para o Canadá por questões de trabalho, simplesmente perdi a única motivação de continuar a viver lá. Tudo lembrava-me o meu pai e eu queria descontrair, seguir uma vida nova, tranquila, sem ninguém me romper a paciência. Então, inscrevi-me na universidade, usei os fundos todos que o meu pai deixou quando morreu e arranjei uma casa que parece mais uma sala com casa de banho por ser muito pequena, mas fiz a minha vida".

Katsuki estava tão atento à história que nem percebia que já lhe dera a sua 'parte fraca e curiosa' há muito tempo. Abraçava a almofada, interessado verdadeiramente em Hitoshi.

" - Conheci a tua irmã há dois anos... E sinceramente? Sempre tive uma paixão secreta por ela, desde a primeira vez que lhe pus os olhos". - Sussurrou a última parte, provocando uma careta no irmão dela e, como resultado, numa ligeira gargalhada do rapaz que contava a sua história.

" - Credo! Sinceramente, não sei porque andas com ela". - Cruzou os braços, deixando a almofada cair à sua frente, ignorando-a completamente e pousando o olhar sincero nos seus olhos. - "Por incrível que pareça, és o primeiro paspalho que ela arranja verdadeiramente bom".

" - P-Paspalho...?". - Ele até se engasgou. O adolescente ignorou e continuou.

" - Não percebo como é que alguém como tu está com a Toga". - Reforçou a ideia. - "Ela troca de namorado a cada duas semanas... Bem, é verdade, estás a durar mais que eles e já vejo isso como um ótimo começo. Mas, mesmo assim, porque raios estás a perder tempo? És porreiro, tens piada e és engraçado. Bonito não sei, desculpa, sou hétero e não sei avaliar beleza de homens, contudo, não acredito que sejas feio e muito menos um mau partido".

Engoliu em seco e abriu a boca para continuar, até ver o rosto de Hitoshi. Quase que parecia ofendido e por breves momentos, deu um leve pulo para trás, percebendo que passara das marcas, ao criticá-la. Boa. Ele tinha acabado de fazer borrada com a única pessoa daquele sítio que se dignou a ir falar com ele.

Shinsou esfregou as mãos na nuca, dando um sorriso entristecido. Ele tentou falar várias vezes, todavia, Katsuki achava que a voz não lhe saía e com bastante razão. 

" - Desculpa". - Foi tudo o que o loiro murmurou, até para surpresa dos dois. Não era do seu género se desculpar com qualquer um, muito menos com o namorado da irmã que tanto se odiavam e conhecera apenas há uma hora atrás.

" - Eu entendi que não foi por mal".

Mesmo com as palavras sinceras, o de cabelos roxos estava triste e era visível no seu sorriso. Bakugou queria desfazer aquele problema, começando a se atrapalhar.

" - E-Eu e ela nunca nos demos bem e ela nem falou de ti e...". 

Ele tentava falar a esbracejar, no entanto, toda a sua esperança foi embora quando viu Hitoshi se levantar e pronto para despedir. Por instinto, agarrou-lhe no pulso e só entendendo depois o que tinha feito. De olhos arregalados, o loiro recolheu a mão, envergonhado. O homem voltou a sentar-se, com um ar paciente, percebendo que era um pedido silencioso para permanecer a conversar.

" - Está bem. Porque não começas por explicar os desentendimentos entre vocês?". - Sussurrou-lhe. Sabia que ele ia negar, contudo, interrompeu-o. - "Para eu entender os dois lados da moeda. Eu só a ouvi falar de ti e não o contrário... Então, não posso escolher um lado dessa maneira, seria injustiça para contigo e Himiko. Conta-me a tua versão para eu tentar perceber".

Desta vez, o de olhar vermelho não negou; porém, arqueou uma sobrancelha.

" - Se tu vais tentar ajudar-me com ela para sermos aqueles irmãos felizes, aviso já que não vai resultar".

" - Eu não vou fazer isso". - Fechou os olhos, voltando à posição inclinada, negando lentamente com a cabeça. - "Primeiro, quero saber o que se passa, para entender o que acabaste de dizer dela. Não digo que tens razão ou estás errado. Mas eu quero conhecê-la verdadeiramente, entendes? Pensa mais que me estás a ajudar a mim que a ti".

Mesmo sem confiar a cem por cento nas suas palavras e atitudes, Bakugou assentiu calmamente.

" - Está bem... Bem, ela nunca gostou de mim, para começo de conversa". - Cuspiu as palavras. Os olhos violeta cheios de olheiras marcadas subiu as duas sobrancelhas.

" - Não, isso não chega para explicar tudo... Aliás, porque dizes isso? Aposto que ela nunca te disse que odiava desde o teu nascimento, com todas as letras".

Passou o peso do corpo de um lado para o outro, meio desconfortável, meio pego de surpresa.

" - B-Bem, ela nunca me disse diretamente na cara... Mas eu consigo subentender isso pelas suas atitudes". - Confirmou, começando a contar. Tentou conter o que lhe ia explicar, embora admitisse, mais tarde, que se perdera no meio da história e contara mais do que pretendia. - "Primeiro, não fui um filho planeado e tirei-lhe a fama da 'mais nova querida que devemos proteger' da família, bem como metade do protagonismo, como filha. Depois, eu e ela nunca nos entendemos em nenhuma brincadeira e sempre fizemos de tudo para nos prejudicar".

O outro suspirou, dando um sorriso ligeiro.

" - Já tentaste falar com ela sobre o assunto?". - Perguntou, de maneira suave e gentil. - "Ou tentaste colaborar com uma amizade mais saudável?".

" - Se ela não tenta, porque eu deveria de tentar?!". - E cruzou os braços, bastante irritado. - "Fora que ela prefere os rapazes todos quem vêm cá a casa a mim. É a mimadinha do avô e a queridinha da família. Óbvio que o lugar de renegado e deserdado foi para quem?". - Apontou para si com o indicador, arqueando as sobrancelhas e com um olhar mais sorriso irónicos. 

" - Bem... Alguém deveria tomar a iniciativa, não achas?". - Silêncio. Hitoshi continuou, ao perceber que tocara num ponto novo, para o loiro. Sabia que ele ia argumentar com questões de honra, contudo, cortou-o, deixando surpreso por prever. - "Acho que o orgulho vale menos que uma boa relação familiar, não?".

" - O que vale mais mesmo é uma passagem para longe de tudo e todos". - Desabafou. Pelo olhar curioso do homem, esperando já ser bombardeado com perguntas que não queria. Mesmo assim, tanto um como o outro ficaram quietos, enquanto o mais velho percebeu a mensagem para ignorar o comentário.

Segundos depois, o de olhos vermelhos desceu os ombros, admitindo derrota. Os seus olhos vermelhos levantaram-se para os violetas de Shinsou, dando um ligeiro sorriso, a esfregar a nuca.

" - Okay... Eu posso tentar fazer um esforço".

O sorriso de orelha a orelha do outro brilhou com as poucas estrelas do teto.

" - Isso seria um bom avanço, Katsuki. Tenho a certeza que se te esforçares, consegues tudo o que tu quiseres".

A frase deixou-o pensativo por uns segundos; tanto que Hitoshi compreendeu o efeito que ela tivera no loiro, anotando mentalmente para ter cuidado com os elogios. Alguém como ele aparentava ter uma ótima auto estima, achando-se o dono do mundo... Contudo, para quem olhasse com mais atenção, compreendia como o adolescente era inseguro, não compartilhava sentimentos e deixava que tudo fosse atulhado pouco a pouco no peito, até o sufocar. Era só mais um rapaz completamente frágil por dentro e difícil de chegar a ele e precisava, seriamente, de ajuda.

Aquela conversa, por mais idiota e sem sentido que tivesse sido... Algo espontâneo, deixara Bakugou verdadeiramente mais descontraído e calmo. Deixara-o com bastante peso a menos sobre os ombros e ligeiramente sonolento, conseguindo evaporar todo o seu stress ao ponto de dormir em paz.

O homem de cabelos roxos e olheiras fundas sorriu mais uma vez. Num impulso, levantou-se. Mesmo com ambos num rosto satisfeito, dava para entender a pontada de tristeza do adolescente. Para tal, o outro suspirou e pegou a carteira, retirando um cartão branco com letras douradas e violetas.

" - Aqui". - Estendeu-lhe, por entre os dedos indicador e do meio, da mão direita. O outro assentiu, deslizando o olhar até ele, pegando delicadamente por entre os dedos, ainda com as pernas sentadas à índio. - "Está aí o meu número e onde eu trabalho... Qualquer coisa, se quiseres falar, desabafar, podes aparecer. Mesmo que esteja ocupado, prometo tentar arranjar nem que seja quinze minutos para te ajudar".

Num último sorriso, começou a avançar calmamente para a porta, esperando algum comentário confuso pelo nome escrito no cartão; o que foi que aconteceu.

" - E-Espera!". - Exclamou, confuso. Os olhos cansados e calmos deslizaram até ele, num ligeiro sorriso. Katsuki apontava para o cartão, sem entender mais nada. - "Mas não eras um bar-man?".

" - Era e sou". - E fez uma reverência, a brincar, olhando-o nos olhos. - "Nas horas vagas, sou psicólogo... Eu nunca te disse o que tinha tirado na faculdade".

Então, saiu sem dizer mais nada, fechando a porta lentamente atrás de si. Bakugou deu um sorriso de canto, revirando os olhos e pousando o cartão ao lado da fotografia que tinha com Izuku, na mesinha ao lado da cama.

Olha a audácia do filho da puta.

[...]

Ah! Todoroki já tinha dito o quanto odiava Bakugou? 

Se ele já disse, então, volta a repetir:

" - Eu odeio-te com todas as minhas forças!". - Gritou-lhe o rapaz, cerrando o punho e pronto para lhe socar a qualquer momento. Era apenas o segundo dia no castigo e já se tinham morto quase oito vezes e meia. 

Midoriya suspirou, enquanto passava a esfregona num dos cantos da sala, de olhos fechados. Estava verdadeiramente nervoso só pelo facto de estar na mesma sala que Shoto, contudo, ficava logo bem quando se lembrava que Bakugou estava presente... E ele fazia questão de lhe relembrar pelos berros que lançavam um ao outro. Então, juntando equações, Izuku nem ficava muito confiante, como agia com o melhor amigo, nem muito nervoso, como agia com a sua maior paixão até então.

" - Já acabaram?". - Suspirou o de cabelos verdes, apoiando-se à sua esfregona de cabo de madeira, sério. Ficou de pé, vendo que eles nem o tinham escutado e continuavam com ameaças de tom elevado. - "Vamos lá, parem de brigar... Estamos aqui há uma hora e meia e nem fizemos nada!! E eu quero ir para casa!". - Reclamou pela liberdade mais alto na última frase, na esperança de os alertar para pararem de ser idiotas e limparem as coisas.

Foi como se ele nem estivesse ali. Respirou fundo, tentando acalmar-se e contar até dez, para não espetar a vassoura e esfregona em dois sítios que nós cá sabemos. 

Aquela seria uma longa tarde.

[...]

"Heeey, Kacchan!"

Revirou os olhos, dando um sorriso miúdo e uma risada anasalada. Deitado na cama, entre os lençóis, escrevia mensagens e trocava-as com o melhor amigo que apelidara de Deku. O quarto estava escuro, desta vez aquecido, e só a lua e as estrelas do teto é que iluminavam as feições descontraídas e satisfeitas de Katsuki, por conversar tranquilamente com o melhor amigo.

"Deixa-me adivinhar... Amanhã vou ser arrastado de novo para fora de casa, num sábado de manhã, em que não vou poder jogar e provavelmente vou ser levado para alguma sorveteria ou cinema, correto?".

O tom da mensagem podia ser de tédio, a provocar. Todavia, lá no fundo... Bem lá no fundo, o mísero sorriso do loiro a imaginar a situação do amigo, no momento, era mais interessante.

Do outro lado das mensagens, rodeado de lençóis com vários tons esverdeados, Izuku estava tapado até à cabeça por elas, sendo só iluminado pela luz fraca do telemóvel que brilhava contra os seus olhos, já que nenhuma janela do seu quarto estava aberta. Achava engraçado falar até tarde com ele e, talvez fosse bastante fora da lei porque o seu pai era exigente nas horas, contudo, Midoriya não era o rapaz mais certinho que existia. Apesar de ter boas notas, passava a vida a quebrar regras por diversão.

Ou pelo Katsuki.

Achava um tanto excitante quebrar regras e entusiasmante rebeldar-se um pouco, dentro dos limites, desde que conhecera o loiro. Fosse errado, fosse 'influenciável' de certa forma ou apenas uma 'má inflência'... Izuku gostava. Verdadeiramente.

O ponto era que digitava, entre o quente da noite gelada, a resposta.

"Bingo! Vou-te buscar a que horas?".

A resposta chegou rápido. O mais velho vestia sempre nos lábios um sorriso de canto, convencido, como se estivesse frente a frente ao mais baixo, para o provocar. Teclou calmamente e enviou a resposta, dando sinal que chegara com um vibrar por entre as mãos do rapaz, que pelo sono, quase adormecera.

"Deixa-me dormir um pouco, sabes como eu odeio acordar certo... Onze? Meio dia?".

"Eu também odeio acordar cedo. Mas faço isso por ti. Onze e meia fica perfeito!".

Deu um sorriso sonolento de orelha a orelha tanto pela resposta como pela rapidez com que enviou. Abraçou o telemóvel ligeiramente e não sentiu quando chegou uma nova mensagem, acabando por adormecer assim.

"Cala-te, tu sabes que eu também faço imensas coisas por ti... E também sabes como dormir é igualmente sagrado". 

Torceu o nariz. Admitiu ficar com uma pontada de tristeza ao perceber que ele não visualizara e, possivelmente, adormecera, quinze minutos depois de ficar a ver um dos episódios das suas séries a por em dia. Sentou-se ligeiramente na cama, só com as pernas tapadas, começando a questionar as mudanças repentinas de sentimentos que andava a ter. Sim, de certo, ia fazer dezassete anos em pouco tempo, porém... As hormonas estavam a deixá-lo assim? Estava um pouco confuso, tentado a não pensar no assunto.

Quando deu por si, estava inspirado a teclar tanto e tanto que nem conseguiu parar.

"Sabes, eu... Eu ando estranho. Sabes aquela sensação de conseguires fazer tudo sozinho, de sempre dar tudo certo e desta vez há alguma coisa errada? É o que eu sinto. Ando incompleto, Deku, não sei porquê... Preciso de ajuda. Eu sei que nunca partilhei coisas contigo deste género, afinal, sempre fui o 'amigo independente' que não precisa de nada ou ninguém para o amparar. Na verdade, atualmente não preciso. Só queria desabafar, embora eu saiba perfeitamente que isso não serviria de nada, até porque desabafar é uma perda de tempo e nem interessa, muito menos é importante e eu consigo fazer tudo sozinho, sem pedir ajuda. Afinal, o meu dever é proteger-te a ti e a todos, então, não posso dar parte fraca nem a quem mais confio. Eu sempre consegui tudo... Não preciso de ajuda. Sinceramente, acho que é só mais uma desculpa para ficar horas e horas a falar contigo, contudo, sendo eu a ser sincero perante os meus sentimentos. Já deve ser um texto confuso, em que não entendes nada; é como eu me sinto. Eu estou a teclar e a descrever o mesmo vazio que sinto dia após dia, como se algo estivesse incompleto. Quando apareceste, eu fiquei feliz; verdadeiramente feliz. Há uma frase que há muito me disseste e nem te lembras, contudo, que me marcou para a vida. Quando eu te contei que era ateu, tu não me bateste. Tu não me ameaçaste, não me tiraste de debaixo do teu teto, não me humilhaste. Tu aceitaste-me, Deku. E eu fico eternamente grado por te ter na minha vid...".

No momento racional seguinte, parou. Estagnou os polegares, voltando a dar uma subida na caixa de texto do aplicativo de mensagens, relendo tudo várias vezes. De facto, não fazia sentido, apesar de ser exatamente isso que ele sentia.

Mordeu o lábio. Negou lentamente com a cabeça, apagando tudo de uma vez e escrevendo apenas:

"Deves ter adormecido... Sem problemas, amanhã tu pagas-me um gelado para compensar, Deku!".

Suspirou. Deitou-se confortável, pousou o telemóvel na mesinha ao lado da cama e virou o rosto para a janela, adormecendo sobre os seus pensamentos, no momento seguinte.


Notas Finais


Repetindo: Só para dizer que o diálogo enorme deste capítulo do Shinsou e Katsuki, que ocupa quase todas as palavras, é das coisas que mais me orgulho de ter feito até hoje.


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