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História Tales of a Flammable Love Story - Portgas D. Ace - Uma Noite Sem Luar


Escrita por: K1NGSL4YER

Notas do Autor


Oie, xuxus! Espero não ter matado ninguém de ansiedade KKKKKKKKKK

E, meu Deus, que parto foi escrever esse capítulo! Juro que nem era pra ter demorado tanto tempo assim, mas eu travei de uma forma assustadora pra escrever algumas cenas. Me desculpem mesmo! 🥺

Mais uma vez, @DoceteTabua, o amor da minha vida, obrigada pela betagem tão atenciosa e a paciência por ler as 5 mil versões do texto com tanta calma! 💖 Também preciso agradecer a @Margherit4 pela ajudinha, porque quando o assunto é o Bundinha de Fogo, essa mulher é PhD💕 Salvaram minha vida!

Espero que gostem do capítulo de hoje!🥰

Capítulo 37 - Uma Noite Sem Luar


Memórias de Marco

Embora importunar nossos jovens amantes tivesse se tornado um dos passatempos preferidos dos comandantes de Barba Branca, deixamos que eles aproveitassem um ao outro. A principal razão para essa decisão era que não queríamos constranger a nossa preciosa escriba, e, portanto, concedemos a devida privacidade ao casal, nos contentando em irritar Ace quando Nyx não estava por perto. E mesmo com aquela zombaria insistente, estávamos todos extremamente felizes pelos dois.

Eu mesmo não poderia estar mais contente pela forma como as coisas se desenrolaram.

Sendo assim, ao fim da nossa segunda semana em Kreta, o clima de comemoração havia mudado seu foco. Antes, brindávamos pelas férias, mas, depois do festival de verão, passamos a brindar pelo sucesso de Ace ao conquistar sua garota. A frota inteira parecia ter se empolgado com a novidade, encontrando em qualquer esquina um motivo para festejar. Acho que foi por isso que não percebi a tempestade se aproximando.

Só nos demos conta do sumiço de Nyx perto do anoitecer, quando Ace finalmente saiu do quarto, parcialmente recuperado de sua ressaca. Ele veio caminhando até onde estávamos sentados, em uma mesa do lado de fora da estalagem, zombando Haruta por ter sumido da festa acompanhado de uma jovem muito bonita, na noite anterior. Ace franziu as sobrancelhas ao se aproximar, esfregando os olhos antes de perguntar, em tom sonolento:

— Onde está a Nyx?

— Ué? Ela não estava com você? — indagou Jozu, confuso.

— Ela tinha saído pra dar uma volta — explicou Ace, estalando as costas. — Acabei desmaiando e só acordei agora, mas ela não estava no quarto dela. Achei que estaria com vocês.

— Que horas ela saiu? — foi a vez de Thatch perguntar.

— Logo depois do almoço — Ace deu de ombros.

— Ih, será que ela se perdeu?

— Ela é inteligente demais pra isso. Deve estar entretida com alguma coisa que a fez lembrar de casa — Izo sugeriu, abanando displicente uma das mãos.

Logo de início, pude sentir a minha intuição cutucando a parte de trás da minha cabeça, como se dissesse, muito baixinho, que alguma coisa estava errada. Ace, por sua vez, pareceu bastante incomodado pelo desaparecimento da namorada, mas se juntou ao restante do grupo sem nenhum questionamento. Portanto, continuamos alheios à ausência de Nyx até que a noite caísse.

Por volta da hora do jantar, meu subconsciente gritava pelo sumiço da escriba, ao passo que o Punhos de Fogo se encontrava distraído e ansioso, batucando os dedos na mesa e frequentemente voltando o olhar para a porta. Tínhamos terminado nossa refeição há poucos minutos quando a gigantesca figura do pai entrou no estabelecimento, seguido por Vista. 

O velho correu os olhos pela mesa, como se procurasse alguma coisa, e como não encontrou, perguntou, a voz grave fazendo o ar estremecer:

— Onde está a minha pequena flor de lótus?

— Só Deus sabe — respondeu Haruta.

— Como assim, rapaz? — Barba Branca franziu o sobrolho enrugado.

— Ela saiu pra dar uma volta depois do almoço e não retornou ainda — explicou Ace, os braços cruzados e a expressão fechada.

— E ninguém foi atrás dela?

— Não — Thatch deu de ombros.

— Que tipo de macacos desmiolados são vocês?! — indagou, irritado. — O mundo é perigoso para uma mocinha bonita como ela!

— Ela sabe se defender muito bem sozinha, pai — argumentou Jozu, despreocupado.

— Ela provavelmente está na praia ou nos morros "aproveitando o silêncio" — comentou Izo, desinteressado. — Sossega o facho aí.

— Sei que ela sabe se virar, mas não é do feitio dela ficar longe por tanto tempo. Mesmo com aquelas manias solitárias — protestou o velho, o ar preocupado.

— Eu concordo com o pai — Ace balançou a cabeça, muito sério. — Não acho que ela ia querer ficar tanto tempo longe assim.

— Se eu fosse ela, fugiria para o lugar mais distante possível depois de ver o quanto você beija mal — provocou Thatch, em tom de deboche, fazendo com que os outros irmãos rissem.

— Ah, pelo amor de Deus! — praguejou o pai, visivelmente incomodado com a situação. — Alguém vai atrás dela antes que eu decida estapear todos vocês!

Bem, ele não precisou pedir duas vezes. Levantei-me da cadeira e chamei por Ace, indicando a porta com o queixo. Ele imediatamente se levantou, acompanhando-me até a saída com a postura tensa.

— Ela te disse aonde estava indo-yoi?

— Acho que comentou alguma coisa sobre um boticário.

Cerca de uma hora depois, eu entrava bruscamente na estalagem, o coração acelerado e o estômago pesado. O barulho da porta sendo escancarada chamou a atenção dos que se sentavam com o pai no centro da taverna, sorridentes e completamente alheios ao estado desesperado no qual Ace se encontrava, do lado de fora.

— Irmãos, acho que temos um problema-yoi.

❤️

As buscas se arrastaram em uma lentidão agonizante até a meia-noite. Havíamos nos separado com a intenção de cobrir o maior território possível em menos tempo, estabelecendo um ponto de encontro para nos reunirmos outra vez. A esperança era de que algum de nós retornasse com Nyx, e que todos déssemos um sermão na jovem escriba por nos assustar. Porém, conforme os outros se aproximavam, desacompanhados e as expressões preocupadas, meu estômago já pesado pela ansiedade pareceu afundar até os pés.

Os primeiros a chegar foram Izo e Thatch, parecendo igualmente perturbados. Pouco tempo depois, Jozu e Haruta apareceram, e, quando afirmaram não ter encontrado sequer um sinal de Nyx, um silêncio pesado e tenso se formou entre nosso pequeno grupo. Portanto, ficamos ali, parados, os braços cruzados e os rostos sérios, esperando que Ace e Vista retornassem e trouxessem alguma boa notícia. 

Meus pensamentos pareciam todos embaralhados, e precisei fazer muito esforço para afastar os inúmeros cenários desesperadores que me vinham à cabeça. Precisava manter a calma se quisesse ser capaz de tranquilizar Ace, que parecia estar à beira de um colapso nervoso. Posso dizer que estava me saindo muito bem nessa tarefa, até que Izo decidiu abrir a boca:

— E se ela estava enganando a gente esse tempo todo?

Suas palavras fizeram meu sangue gelar.

— Não seja ridículo! — exclamou Thatch, em tom indignado.

— Ela é parte da família, Izo! Jamais faria isso com a gente! — concordou Haruta, que parecia tão ansioso com o desaparecimento da irmã quanto o próprio Ace.

— É uma possibilidade. Afinal, não foi assim que ela obteve todas as informações do Arquivo? — argumentou Izo, as sobrancelhas franzidas em uma carranca. — Se ela se infiltrou na Marinha durante anos, o que a impediria de começar a fazer o mesmo nas tripulações dos Quatro Yonkous? 

— Até onde eu saiba, o pai ainda não pagou a própria parte do acordo. Tecnicamente, ela não teria motivo para ir embora-yoi — comentei, relutante em aceitar sua teoria.

Não queria acreditar que Nyx pudesse ter nos traído. Sequer conseguia me forçar a imaginar tal cenário. O mero fato que de Izo sequer cogitava essa possibilidade partia meu coração em inúmeros pedaços.

— Mas ela sabe muitas outras coisas, não é? Quer dizer, ela fez parte do Conselho de Frota — retorquiu, gesticulando de forma desconexa com as mãos, e percebi que elas estavam tremendo.

E, não podia negar, ele tinha um ponto. Por mais que não quisesse aceitar a hipótese de meu irmão, Nyx poderia, de fato, ter nos abandonado. Afinal, ela não tinha nada a perder. É claro que correria o risco de despertar a fúria do pai, a minha e a de Ace, se o fizesse, mas, assim como surgiu tão subitamente em nossas vidas, poderia desaparecer com facilidade em um piscar de olhos.

Só que, mesmo assim, isso me parecia tão... improvável? Simplesmente não fazia sentido. Se aquele era o caso, então por que ela teria nos contado seus problemas em relação à Mihawk? Por que teria se esforçado tanto para nos ajudar a ponto de ficar dias sem dormir ou comer? Por que teria agido de maneira tão cuidadosa para conquistar o coração de Ace? Qual seria o objetivo disso se estivesse mentindo desde o começo? Será que tudo não havia passado de uma enorme farsa para adquirir nossa confiança?

Não, não. Nyx jamais faria isso. Ou faria?

— Em primeiro lugar, ela faz parte do Conselho — corrigiu Thatch, em tom furioso, interrompendo o fluxo dos meus pensamentos. — Em segundo lugar, é melhor você parar de falar merda, ou vou acabar arrastando a sua cara na calçada.

— Eu também não quero que seja verdade, mas não podemos fechar os olhos para essa possibilidade!

— Olha, cara, você pode pensar o que quiser, só não fala isso perto do Ace-yoi — eu disse, esfregando os olhos com uma mão, na tentativa de afastar as preocupações para o fundo da mente. — Ele está quase surtando e não quero ter que tratar queimaduras de terceiro grau em ninguém.

Izo estava prestes a retrucar, mas antes mesmo que pudesse abrir a boca, Vista se aproximou do grupo, trazendo algo em mãos.

— Irmãos, eu encontrei isso — disse, em tom muito sério, em seguida nos mostrou o que carregava consigo. Era Myalus, a espada de Nyx.

Nesse momento, tive certeza que meu coração parou de bater.

— Onde-yoi? 

— Estava jogada perto de uma escadaria, em um canto bem afastado da cidade.

— Viu, Izo? Ela cuida dessa espada como se fosse um filho! — Jozu apontou para a bainha ornamentada nas mãos de Vista. — Nunca a deixaria largada pela cidade se tivesse simplesmente ido embora! 

— Ah, puta merda! Então alguma coisa realmente aconteceu com ela! — exclamou Haruta.

— Calma, cara! — Thatch tentou acalmá-lo, embora parecesse tão aflito quando ele.

— O Ace ainda não voltou da mata, pode ser que ela tenha se enfiado lá e se perdido.

— Como é que ninguém reparou no sumiço dela-yoi? — perguntei, incapaz de assimilar aquela situação toda direito.

— Ela é muito quietinha. Às vezes, até esqueço que ela existe — admitiu Vista.

— Pessoal! — Deuce se juntou ao nosso grupo, ofegante. — Perguntei para os caras da guarda costeira. Disseram que um grupo de três homens encapuzados partiu por volta das duas da tarde. Eles estavam carregando um outro, que parecia inconsciente, mas acreditaram ser um companheiro bêbado e não deram muita atenção. Foi a única atividade possivelmente suspeita que eles observaram.

— Ah, meu Deus… — Haruta levou as mãos à cabeça.

— Calma, Haruta, porra! — exclamou Thatch, visivelmente em pânico.

— Caçadores de recompensa? — Izo me lançou um olhar inquisitivo.

Balancei a cabeça.

— Não pode ser, ela não tem foto no cartaz de procurada-yoi. Só soube que era ela quando a arrastei até o Moby Dick porque o Ruivo a havia descrito para o pai, antes de ele tentar negociar pela primeira vez.

— Traficantes de escravos?

— Ah, estou ficando enjoado — Haruta fez uma careta.

— Eu vou te dar uma bicuda.

— Você sabe o que acontece com traficantes de escravos no território do pai-yoi — eu disse a Izo, ignorando o desespero daqueles dois idiotas. —  Isso está fora de cogitação.

— Então só podem ter sido marinheiros — concluiu Jozu. — Ela se enfiou em tudo quanto é buraco da Marinha, alguém deve ter reconhecido o rosto dela. 

— Mas como eles saberiam que ela estaria aqui? Ela é tipo um fantasma. Tem gente que nem acredita que ela realmente existe — Vista franziu as sobrancelhas, e suas palavras soaram como um estalo em minha mente.

— O jornal-yoi — as palavras escaparam da minha boca em um murmuro baixo. 

Meus irmãos me encararam, confusos, enquanto eu massageava as têmporas com as pontas dos dedos, sentindo a adrenalina disparar por minhas veias. As informações me vinham à cabeça rápido demais, e não precisava fazer esforço para que elas se alinhassem sozinhas.

— Logo depois que ela chegou ao navio, li no jornal que a Marinha suspeitava de uma aliança entre a Escriba e o Barba Branca. E logo depois... — dei voz aos meus pensamentos, cerrando os dentes com força.  —  Merda! Logo depois a gente passou uma semana inteira em Íllios, que é território do Governo Mundial. Podem ter visto a gente andando junto-yoi!

— Ace! — Deuce exclamou, e nos voltamos na direção para a qual ele acenava.

Ace veio caminhando, sozinho, a postura tensa e o rosto muito sério. Quando se aproximou, correu os olhos por nosso pequeno grupo, e, ao perceber que não havia nenhum sinal da escriba, entrelaçou os dedos nos cabelos, jogando o chapéu para as costas com o movimento.

— Nada? — perguntou, ansioso.

— Bem... — começou Vista, erguendo a mão que segurava a espada de Nyx, então prosseguiu relatando tudo o que havia se passado antes de ele se juntar a nós, inclusive as informações trazidas por Deuce.

— E ninguém vai mandar um navio atrás desses caras?! — Exclamou Ace, em tom irritado. 

— Se eles deixaram a ilha durante a tarde, já devem estar em mar aberto! Seria praticamente impossível persegui-los agora! — argumentou Izo. — A gente nem sabe pra que direção eles foram!

— E como que a gente vai encontrá-la agora?! Podem estar a levando pra qualquer lugar!

— Vamos ter que esperar a Marinha divulgar alguma coisa — murmurou Vista, pensativo.

— Esperar?! — repetiu Ace, em tom furioso. — E o que vai acontecer com ela nesse tempo?! Eles podem nem falar nada pra não chamar a atenção do Shanks! A gente precisa ir atrás dela!

— Mas como, Ace?

— Não sei! Me deixem tentar encontrá-la com o Striker! Qualquer coisa!

— Ace, você precisa se acalmar-yoi — coloquei uma mão em seu ombro, na tentativa de trazê-lo à luz da razão.

— Como você quer que eu fique calmo, Marco?! — berrou, empurrando minha mão e me lançando um olhar enfurecido. — Ela pode estar correndo perigo! Não posso deixar que nada aconteça com aquela mulher, ou nunca vou conseguir me perdoar! 

— Sei que está preocupado. Todos nós estamos-yoi — retruquei, fazendo algum esforço para não elevar o tom de voz. — Mas ter um chilique agora não vai ajudar em porra nenhuma!

— Se o chilique me motivar a tomar alguma atitude, é claro que vai! — exclamou, irritado. — De que adianta parar pra pensar se ela simplesmente desapareceu?

— E de que adianta sair sem rumo pela Grand Line atrás dela? Você só nos traria mais dor de cabeça e colocaria a sua vida em risco à toa-yoi! — retorqui, também me sentindo irritado. Estávamos perdendo tempo com aquela discussão idiota.

— Não importa! Vou revirar o mundo inteiro até encontrá-la, se for preciso! — Seu peito subia e descia de forma irregular e sua voz falhava, como se ele estivesse se esforçando para não hiperventilar. — Não consigo ficar parado, esperando algum milagre acontecer! Preciso fazer alguma coisa e não vou descansar até que ela esteja em segurança outra vez! 

— Ace, você está em pânico, não está pensando direito. Vai acabar fazendo besteira se tentar tomar uma decisão agora!

— Marco, se alguma coisa acontecer com ela, vou enlouquecer! Você sabe o quanto eu a amo! Não posso perdê-la justamente agora! 

— Sei disso, mas precisa se acalmar! — Já não me importava mais com o volume da minha própria voz, gritando de volta. — Se ela estivesse aqui, diria que essa sua ideia é uma grande insensatez!

— Não tente usar as palavras dela contra mim! — rosnou, fechando as mãos em punho. — Não quando sou o único que está realmente tentando fazer alguma coisa! 

— Como é que é?! Por acaso não percebe o quanto estou angustiado? Acha que não me importo com ela?

— Se o fizesse, você viria comigo ao invés de tentar me impedir!

— Você perdeu o juízo?! — Foi a minha vez de endireitar a postura e cerrar os punhos com tanta força que meus dedos ficaram dormentes. Ele estava se esforçando para me tirar do sério. — Será que não se lembra quem ficou ao lado dela quando você fez merda-yoi?

— Então faça alguma coisa! — retrucou, apontando na direção do oceano.

— Estou tentando, mas se continuar sendo um completo imbecil, vou precisar te dar uma surra tão grande que não vai conseguir se levantar para nos ajudar a resgatá-la, quando a encontrarmos!

— Não vou ficar aqui, de braços cruzados, enquanto vocês fingem que…

Não deixei que ele terminasse aquela frase, acertando um soco em seu rosto. O impacto foi forte o suficiente para fazê-lo dar um passo para trás, levando a mão à cabeça por conta da dor. Tinha certeza de que aquilo lhe renderia um olho roxo. 

Ótimo, que servisse de lembrete da próxima que ele pensasse em dizer mais alguma coisa absurda para qualquer um de nós.

Quando Ace voltou o olhar na minha direção, parecia prestes a soltar fumaça pelas orelhas. O brilho colérico em seu olhar era tão intenso que poderia me intimidar, se não o conhecesse. Chamas envolveram seu punho e subiram pelo seu antebraço conforme ele se moveu para revidar, mas rapidamente desviei do golpe, acertando o joelho em seu estômago.

— Marco! — exclamou Thatch, em tom de aviso.

— Não se intrometa-yoi! — retruquei, sem desviar os olhos de Ace, que tossia, apoiando-se nos próprios joelhos. — Se ninguém segurar esse idiota, vai acabar fazendo merda. Não vou permitir que ele nos atrapalhe em um momento como esse.

Podia sentir a raiva borbulhando no estômago, disputando espaço com o peso da ansiedade pela situação de Nyx. Entendia os sentimentos de Ace, mas não podia tolerar aquela histeria. Precisava fazê-lo compreender que aquela situação era delicada demais para que tomássemos medidas desesperadas e impensadas. 

Inspirei profundamente, me obrigando a recuperar a compostura enquanto Ace recuperava o fôlego.

— Eu sei que quer protegê-la, sei que a quer de volta e tem medo de que tentem feri-la — disse, em tom sério. — Mas, agora, precisamos fazer por ela o mesmo que ela faria por nós se estivesse aqui: manter a calma e pensar em uma solução. E não sair pelo oceano sem rumo e revirar a Grand Line até encontrá-la-yoi. Portanto, aquieta a porra do facho e tenta não atrapalhar ninguém, entendeu?

Como que se tivesse pressentido o problema, Barba Branca surgiu por entre os prédios da cidade, aproximando-se do nosso grupo a passos largos.

— Qual é o motivo desse escândalo? Onde ela está? — bradou, cruzando os braços.

Eu e Ace nos encaramos por um longo instante, as expressões sérias, no qual silenciosamente o comuniquei que aquela discussão estava encerrada ao semicerrar os olhos. Não o deduraria para o pai, contanto que ele mantivesse a cabeça no lugar e não perdesse o controle. 

— Pai, ela sumiu! — choramingou Thatch.

— Como assim “sumiu”?

— Reviramos a ilha inteira e não a encontramos!

— Achamos que ela pode ter sido capturada por marinheiros disfarçados-yoi — esclareci, sem conseguir esconder a irritação no tom de voz. 

— Marinheiros disfarçados? — O rosto do velho se fechou em uma carranca, o que costumava acontecer quando ele adentrava um estado pensativo. — Está me dizendo que... Aquele bastardo! Não acredito que ele teve a audácia de fazer isso com a minha filha

— Do que está falando-yoi?

— Pouco antes de você a trazer para o Moby Dick, Marco, a Marinha tinha iniciado uma perseguição oficial à Escriba — explicou o velho, como se fosse o assunto mais casual do mundo. — É por isso que vocês acabaram se esbarrando naquela ilhazinha. Ela estava fugindo deles.

— Por que nenhum de vocês dois se importou em nos avisar isso?! — exclamou Thatch, a expressão incrédula.

— Ela estava sob minha custódia e passava a maior parte do tempo no Moby Dick, ao meu lado. Pensei que eles não entrariam em confronto, nem continuariam a perseguição sob tais circunstâncias e, segundo ela, o Ruivo acreditava o mesmo.

— E agora? — perguntou Haruta.

— Bem, agora a Marinha provou que estávamos todos errados — resmungou, em tom rabugento.

— Mas o que vamos fazer? — perguntou Ace, em tom aflito. — Eles podem estar a levando para qualquer lugar! E se planejam executá-la?!

— Não acho que eles fariam isso sem tentar descobrir a localização do Arquivo antes. Seria muito arriscado e tenho certeza de que eles pretendem destruí-lo.

— Mas para onde a levariam? Impel Down?

— Não, porque, se eles têm conhecimento das atividades dela, sabem que ela muito provavelmente conseguiria escapar de lá — argumentou Jozu.

— Você sabe de mais alguma a respeito dessa perseguição, pai? Talvez possamos traçar algum plano de busca com as informações que já temos-yoi.

— Tudo o que sei é que há um responsável encarregado pela procura dela. É um dos três Almirantes — esclareceu, e suas mãos enormes se fecharam em punhos. —  O nome dele é Sakazuki, mas talvez vocês o conheçam como "Akainu".

❤️

Quarenta e oito horas se arrastaram por uma eternidade agonizante.

Imediatamente após aquela pequena reunião com o pai, iniciamos a missão impossível de tentar encontrar uma forma de localizar Nyx e resgatá-la. Mal havia conseguido dormir, dependendo de uma quantidade alarmante de café para permanecer acordado. Entretanto, nem mesmo o cansaço parecia ser suficiente para me embalar no sono por mais de três horas. Sempre acordava com o coração disparado, o estômago pesado e a mente em estado de alerta, gritando para que eu não baixasse a guarda até que minha irmã estivesse a salvo, sob a proteção da família.

Durante esses dois dias, Ace e eu brigamos outras três vezes, e foi preciso que o pai interviesse, exigindo que parássemos com aquele escândalo, ou nos algemaria com kairouseki até recuperarmos o juízo. Depois disso, conseguimos nos acalmar, mas o Bunda de Fogo ainda foi flagrado tentando alcançar o Striker no mínimo cinco vezes. Estávamos a um passo de trancafiá-lo em uma gaiola, quando, mais uma vez, Barba Branca declarou que aquilo não seria necessário, dizendo a Ace que, se ele saísse de dentro da estalagem, apanharia até que seus ossos virassem panqueca. Assim, conseguimos conter sua teimosia por um período de tempo razoável, o que permitiu que nos concentrássemos em nossa missão.

Enquanto me sentava à mesa com os outros membros do Conselho de Frota, uma coisa me incomodava profundamente. Por algum motivo que não sabia identificar, as memórias das primeiras semanas de Nyx no Moby Dick insistiam em rodopiar minha cabeça, atrapalhando o fluxo dos meus pensamentos e me distraindo do meu objetivo principal. E o que mais me intrigava era o fato de que meu cérebro havia escolhido justamente as lembranças do dia em que Hermes chegara ao navio para recordar.

Eram imagens muito claras e específicas, que não tinham relação alguma com o problema que estávamos enfrentando. Nyx jogando um pedaço enorme de peito de frango cru para o alto, enquanto Hermes mergulhava no ar para pegá-lo, a escriba alisando as penas de sua cabeça ou sorrindo suavemente para o animal. Não conseguia entender qual era o sentido de reviver aquelas cenas naquele momento.

Até que a lembrança da voz de Nyx ecoou em minha mente, tão nítida quanto se ela estivesse ao meu lado naquele momento:

"Ele sempre acaba me encontrando, de alguma forma".

— Hermes — murmurei, dando voz aos meus pensamentos.

— Quê? — Thatch franziu as sobrancelhas.

— A porra do pássaro-yoi.

Levantei-me bruscamente da cadeira. Com um movimento do braço, peguei a espada de Nyx, que estava jogada sobre a mesa, e me dirigi à porta a passos largos. Não demorei muito para localizar o enorme gavião-real, que cochilava tranquilamente apoiado no parapeito de uma janela.

— Ei! Coisa! — gritei, fazendo com que a ave abrisse um olho. Quando me viu, as penas em sua cabeça se eriçaram, e por isso apontei um dedo em sua direção. — Nem pense em fugir de mim ou vou te transformar em churrasco-yoi! 

Hermes empertigou-se em seu poleiro improvisado, como se compreendesse o que meu tom de voz significava. Talvez ele até mesmo entendesse minhas palavras. Nyx sempre conversava com seu mensageiro como se ele fosse um ser humano, e ele parecia corresponder seu afeto, à sua própria maneira.

— Escuta aqui, eu sei que você não vai com a minha cara, e particularmente também não gosto de você, mas agora o negócio ficou sério e vamos ter que cooperar — me posicionei à sua frente, e seu tamanho monstruoso permitia que nossos olhos ficassem da mesma altura. — Está vendo isso? — Levantei Myalus para que ele pudesse vê-la, e assim que a ave colocou os olhos sobre a bainha vermelha, suas pupilas dilataram. — Ela nunca larga essa espada, não é? 

Hermes voltou os olhos amarelo-claros na minha direção outra vez e inclinou a cabeça para o lado.

— Nyx sumiu. Eles a levaram para longe e desapareceram. E nós precisamos encontrá-la de algum jeito. O mais rápido possível-yoi — Dessa vez, toda a penugem do corpo do animal se arrepiou, como se ele tivesse entendido perfeitamente o que eu estava dizendo. — Não sei como você faz isso, e, para ser bem sincero, estou pouco me fodendo. Mas, agora, preciso que você descubra onde ela está e nos guie até ela antes que algo ruim aconteça. Você me entendeu, Hermes?

E, para minha surpresa e alívio, a coisa piou uma vez, esticou as enormes asas e alçou voo, disparando para o céu em um piscar de olhos.



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