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História Tão Raro Quanto Uma Noite Ensolarada - Capítulo 4 - Enfim a descoberta


Escrita por: venusspoetry

Notas do Autor


Meu deus gente, quanto tempo!!! Como estão?? Realmente espero que bem.

Peço mil perdões pela minha enorme demora, acabei tendo alguns problemas e fiquei muito mais tempo sem escrever do que pretendia.

Então espero que esse capítulo de 28k de palavras compense pelo enorme sumiço ksksk, já que acho que talvez algumas pessoas levem até alguns dias pra terminar de ler.

Enfim né, as emoções mudam horrores desde o início do capítulo até o fim, então não vou dizer mais nada e só vou deixar vocês lerem.

Boa leitura e perdão por qualquer possível erro.💚

Capítulo 5 - Capítulo 4 - Enfim a descoberta


— Tchau, Jae! — Um animado Yugyeom ia se afastando de Youngjae, juntamente de um pequeno amontoado de trainees.

— Tchau Yug, se cuida.

Em breves segundos o Kim sumiu da vista do híbrido, assim como todo o restante das outras pessoas. Por aquele dia os treinos estavam concluídos.

Youngjae olhou para uma das enormes janelas da sala, vendo a bela noite que já havia se formado há algum tempo. Poderia ir embora assim como todos os outros ou então ficar e treinar mais um pouco, estava bem dividido entre essas duas opções.

Geralmente costumava gastar boas horas extras treinando mais do que os outros, mas tudo o que andava conseguindo fazer naqueles últimos dias era voltar para casa o mais rápido possível, se jogar na cama e então acordar apenas na manhã seguinte. Não tinha certeza se todo aquele seu cansaço repentino era por conta de ainda estar vomitando pelo menos umas três vezes num único dia e então seu corpo não ter da onde tirar energia para trabalhar ou então era apenas mais um arrebatador sintoma da sua… doença?

Já estava bem mais tranquilo em relação àquele teste de gravidez que havia dado positivo três dias antes, mas vez ou outra ele ainda voltava à sua mente, pairando sobre ela como uma ameaça ao resquício de paz que ainda tinha em sua vida, ou talvez um aviso, de que se não melhorasse dali a algum tempo, seria simplesmente obrigado a ir em um médico.

Youngjae suspirou diante daqueles pensamentos. O seu cansaço físico e o seu cansaço mental pareciam fazer uma verdadeira competição para ver qual seria capaz de o derrubar primeiro.

Resolvendo que assim como nos dias anteriores não tinha disposição para treinar por mais algumas horas, pegou sua mochila, pronto para enfrentar um tempo indeterminado esperando um ônibus que pudesse o deixar perto de casa.

Não tinha certeza se deveria se sentir surpreso ou não quando Jaebeom cautelosamente entrou na sala.

Desde que havia presenciado aquela cena de carinho entre Jinyoung e si, o Im magicamente havia começado a falar consigo, sempre aparecendo ali por volta daquele horário. Era bastante esperto da parte dele, escolher aparecer quando não tinha absolutamente ninguém por perto que pudesse os ver.

Aquele já era o terceiro dia seguido em que aquilo se repetia e Youngjae estava começando a ficar verdadeiramente irritado. Ter Jaebeom o rondando daquela forma, fazia o Choi ficar ainda mais confuso e tenso em relação a absolutamente tudo.

— Oi…

Youngjae pateticamente sentiu seu coração pular uma batida diante daquele simples cumprimento de Jaebeom. O fato como ele conseguia facilmente o afetar tanto, deixava o Choi mais irritado ainda.

— Vai ficar atrás de mim até quando? Achei que qualquer assunto entre nós já estivesse encerrado há muito tempo. Até alguns dias atrás você parecia nem lembrar que eu existia. — O híbrido disse ríspido, ignorando completamente o cumprimento do mais velho.

— Parece que você está meio irritado hoje… — Jaebeom constatou, um pouco hesitante. — Assim como ontem, e antes de ontem…

— Você está me irritando!

— Eu?! Por que?!!

— Porque você me ignorou por quase um mês inteiro e agora volta a falar comigo como se absolutamente nada tivesse acontecido! Só porque me viu abraçado com outro alfa! — Youngjae explodiu, deixando sua frustração e nervosismo acumulados por todos aqueles dias saírem em cada palavra.

— Está dizendo que eu voltei a falar com você por causa de ciúmes? — Apenas a lembrança daquele lúpus grudado em Youngjae, fazia Jaebeom se tornar um pouco hostil.

— Você é quem está dizendo… — Youngjae desviou o olhar, mas tentava falar de forma indiferente. Por mais irritado que estivesse, jamais teria coragem de afirmar em voz alta que um alfa como Jaebeom poderia ter ciúmes de si, porque sua autoestima nunca o permitiria.

Mesmo que a forma como o Im, no dia seguinte ao qual havia visto Youngjae e Jinyoung juntos, tinha parecido bastante determinado em descobrir quem era aquele alfa lúpus e qual era o papel dele na vida no Choi, já provasse quem era o certo naquela discussão.

— Não posso simplesmente querer ficar perto de você? — Jaebeom suspirou, frustrado. Sequer deveria estar dizendo aquelas palavras, mas também, supostamente ainda deveria estar mandando distância do Choi, então do que adiantava tentar seguir qualquer regra idiota que havia botado em sua cabeça quando já havia quebrado a primeira e principal de todas?

— E por que justo agora...? É só isso que eu quero saber...

Jaebeom suspirou mais uma vez. Não era como se pudesse responder àquela pergunta, se ainda tivesse qualquer mínima vontade de botar seu sonho em primeiro lugar acima de tudo.

— Você é muito especulativo.

— Talvez se você explicasse as coisas eu não seria assim. Estou até agora tentando entender o que foi aquele beijo logo depois de concordamos em ter apenas uma relação profissional.

Levantar aquela questão pela primeira vez e de forma tão repentina, deixou Jaebeom sem reação por alguns segundos.

— Eu… Eu também não sei. — Foi tudo o que pôde responder por fim, porque ao menos naquele momento era a pura verdade.

Youngjae riu soprado, sem muito humor.

— Nem você mesmo se entende, e espera que eu não fique confuso e cheio de perguntas?

— Olha, em todo esse tempo, você também não veio falar comigo… Achei que não me queria por perto, como você queria que eu me aproximasse? — Jaebeom trouxe de volta a questão inicial de tudo, querendo ser enfim capaz de responder pelo menos uma coisa.

Uma pena que Youngjae analisava muito bem até as entrelinhas de suas palavras.

— Então você realmente só voltou a se aproximar por causa do Jinyoung…? — Perguntou em um tom de voz baixo. Youngjae perguntou em um tom de voz bastante baixo, parecendo verdadeiramente calmo pela primeira vez, apenas porque sua surpresa era maior do que sua irritação.

— E você? Ficou todo esse tempo me evitando também por causa dele? — O Im rebateu, tentando não se amedrontar diante da pergunta de Youngjae que tinha uma resposta mais do que óbvia.

Apenas dois dias antes, o Choi já havia o dito — muito à contragosto, e também de forma mau-humorada — que Jinyoung era apenas seu melhor amigo, e o Im havia tentado verdadeiramente acreditar naquilo, porém Youngjae trazer à conversa o momento em que o alfa havia visto os dois praticamente grudados, fazia ser inevitável Jaebeom não não sentir toda a sua desconfiança voltar.

— O quê?! Eu estava apenas seguindo o combinado! Não fui eu que estabeleci que deveríamos ter apenas uma relação profissional! — Youngjae parecia quase indignado por Jaebeom supor uma relação entre si e Jinyoung que fosse além da amizade e tornar isso como um motivo para o Choi ter o evitado tanto.

— Mas você concordou com isso…

Youngjae lançou um olhar mortal ao alfa, se irritando mais ainda por ele ousar o contestar.

— Não queria ter concordado? — Jaebeom franziu o cenho, enquanto Youngjae pareceu quase que paralisar por alguns segundos diante daquela pergunta.

O coração do Im acelerou apenas com a possibilidade do Choi o dar uma resposta.

Porém a resposta em questão nunca veio.

Youngjae simplesmente desviou o olhar de Jaebeom e começou a caminhar a passos duros em direção à porta.

— Não quero mais falar com você. — O Choi quase parecia uma criança emburrada.

— Não, não, espera! — Jaebeom foi mais rápido do que Youngjae, parando diante dele em poucos milésimos de segundos, antes mesmo do híbrido chegar à porta. — Eu te dou uma carona até a sua casa, hoje é domingo e já 'tá tarde, é mais difícil de conseguir um ônibus. — Jaebeom fazia aquela proposta tanto por preocupação com o Choi, como por querer passar mais algum tempo com ele.

O híbrido, orgulhoso como era, queria imensamente recusar, porém Jaebeom estava certo. Por mais irritado que estivesse, estar em seu apartamento dali a dez ou quinze minutos era uma alternativa muito mais atraente do que ficar na parada de ônibus por no mínimo meia hora e depois ainda levar mais uns vinte minutos de viagem para enfim chegar em sua casa.

A oferta do Im fazia o Choi se sentir em parte grato e em outra parte irritado simplesmente por estar grato, por mais que aquilo não fizesse o mínimo sentido.

— Tá… — Youngjae apenas murmurou, cruzando os braços, fazendo um bico sem nem perceber e evitando olhar para Jaebeom.

Era preocupante que mesmo sabendo que o Choi estava muitíssimo irritado, o mais velho o achasse extremamente adorável naquele momento?

✩✩☼✩✩

Faziam três ou quatro minutos desde a última palavra que Youngjae e Jaebeom haviam trocado. Naquele momento o Choi parecia bastante interessado em olhar através da janela do carro e observar a cidade iluminada apenas pelas luzes dos postes da rua e a bela lua crescente que se encontrava muito graciosa, acima de todos.

Desde que relutantemente havia aceitado a carona, o híbrido não havia falado muito além das direções que era obrigado a dar para Jaebeom chegar em seu apartamento. Ele até poderia parecer indiferente, se não fosse pelo pequeno detalhe que não parava de remexer suas mãos uma contra a outra, demonstrando que estava nervoso. Porém como Jaebeom estava com o olhar focado na estrada, não era capaz de perceber isso.

Youngjae torcia para que a audição sobre-humana do Im não fosse boa o suficiente para ele ser capaz de ouvir o seu coração batendo mais rápido do que deveria. A proximidade que tinham naquele momento era a maior que já haviam tido desde… aquela noite, e por mais estúpido que fosse, o Choi simplesmente não conseguia fugir do efeito que aquilo tinha em si.

Talvez se soubesse que Jaebeom se sentia tanto ou até mais afetado do que ele, o híbrido não estaria tão nervoso daquela forma. Ou estaria ainda mais, não era possível saber.

Envolvido em pensamentos, Youngjae se surpreendeu quando o carro parou. Já estavam em frente a sua bela moradia, e apenas pensar na aconchegante cama que o esperava lá dentro, já fazia o Choi sentir uma certa paz.

— Obrigado… — Murmurou, desafivelando seu cinto. Por mais irritado que estivesse, jamais deixaria de demonstrar a belíssima educação que seus pais haviam lhe dado.

— Então é aqui que você mora… — Jaebeom constatou quase em um sussurro, parecendo mais do que interessado em observar a frente do prédio de classe média.

— Sim, eu e o Jiny. — Não prestando muita atenção às suas próprias palavras, Youngjae abriu a porta do carro, pronto para sair daquele lugar que parecia se tornar menor a cada minuto.

Acabou se assustando quando em questão de milésimos, Jaebeom foi capaz de desafivelar o próprio cinto e se esticar até alcançar o lugar onde sua mão estava, fechando a porta do carro que mal havia sido aberta.

Por puro reflexo, acabou olhando para o Im, e se arrependeu no mesmo segundo. Ele estava a uma distância de si que era um tanto quanto perigosa para o seu coração, que resolveu disparar de vez assim que percebeu isso. O fato da mão dele estar sobre a sua também não ajudava muito.

— Você não me disse que vocês dois moravam juntos. — O olhar de Jaebeom parecia um pouco duro de repente, numa certa mistura de irritação e chateação.

Youngjae engoliu em seco, não por medo ou algo do tipo, mas por conta do Im nunca ter o olhado daquela forma. Era ridículo, mas se sentia quase como uma criança malcriada.

— Você não perguntou. — Respondeu, o mais indiferente possível, se sentindo irritado pela forma como Jaebeom o afetava.

O Im semicerrou os olhos diante da resposta um tanto quanto engraçadinha do Choi.

— Vocês são realmente só amigos?

— Não, somos mais que isso. Somos melhores amigos. — Youngjae falou apenas para provocar. Bem no fundo, achava um pouco engraçado a forma como o Im estava agindo. Se ele estava daquele jeito apenas por saber que morava junto com Jinyoung, como ele ficaria se soubesse que a amizade que tinham possuía certos benefícios que as demais não costumavam ter?

O olhar do alfa sobre Youngjae não suavizou nem um pouco e ele permaneceu em completo silêncio, como se exigisse maiores explicações.

Aquele mero ato acabou por irritar o Choi.

— Sabe Jaebeom, você não tem o direito de ficar me interrogando. Eu não te devo satisfação nenhuma. — Youngjae disse num tom bem mais duro.

O Im pareceu ser pego de surpresa pela veracidade daquelas palavras

— Não, não deve… — Murmurou, um pouco desnorteado.

— Que ótimo que você concorda. Passar bem. — O Choi mais uma vez abriu a porta do carro, querendo ficar a uma distância segura de Jaebeom o mais rápido possível. E mais uma vez o Im puxou a porta, a fechando estrondosamente.

— E se eu quisesse ter algo além de um relacionamento profissional com você?! — O Im disse, de forma meio desesperada.

Youngjae paralisou completamente, porque entre todas as coisas que esperava ouvir naquele momento, aquela estava muitíssimo longe de ser uma delas.

— O… o que? — Se virou lentamente em direção ao Im, tentando não se sentir afetado ao o ter extremamente perto.

— Nós não podemos ser… — Jaebeom travou por poucos segundos diante do olhar do Choi, porque o conflito entre o que queria dizer e o que deveria dizer era intenso demais. Mas no final, seu lado racional ainda tinha mais voz do que qualquer outro. — amigos…?

Foi possível ver a decepção atravessar os olhos de Youngjae, porém apenas por alguns milésimos de segundos, antes do olhar do Choi endurecer e já não ser mais possível ver o que se passava pela mente dele.

— Não. Não se você vai ficar me cobrando sobre com quem eu estou ou deixo de estar. Amigos não fazem isso. E também, não acho que manter uma amizade seria bom pra qualquer um de nós dois. — O híbrido parecia mais do que firme em suas palavras.

— Por que você acha que não seria bom? Acha que... acabaríamos ultrapassando a linha da amizade? — Jaebeom acabou desviando o olhar para a boca de Youngjae em um ato automático.

— Você parece bem disposto a isso...

— E você não? — O Im voltou a olhar nos olhos do híbrido, acabando por o deixar sem respostas.

Youngjae não conseguiria mentir olhando dentro dos olhos de Jaebeom, porém também não aceitaria concordar com ele. O silêncio parecia ser a maior proteção que tinha naquele momento.

Com o Choi não se pronunciando e os dois estando tão próximos da forma como estavam naquele momento, a tensão no carro pareceu duplicar de tamanho após a pergunta do Im. Acabou sendo meio inevitável não tomar o silêncio de Youngjae como uma resposta positiva.

Por isso, sem realmente pensar muito, Jaebeom avançou para um beijo. Mas o híbrido, ainda bastante irritado, magoado e tudo mais, não deixou, botando a mão que o Im não estava segurando, sobre o ombro dele, o parando quando faltava apenas uns cinco centímetros para a distância entre eles ser completamente findada.

— Não. Você não vai me beijar e depois voltar a me ignorar e me deixar mais confuso do que eu já estou. — Daquela vez estava pensando mais racionalmente do que nunca, porque se parasse sequer um momento para pensar sobre suas vontades, sentia que o ciclo de Jaebeom indo embora logo depois de conseguir o que queria de si, iria continuar se repetindo.

O Im pareceu mais do que chocado pelas palavras do Choi, ao mesmo tempo que sabia que não poderia ficar irritado por ele pensar daquela forma, considerando o jeito como vinha agindo desde a noite em que tinham se conhecido.

— Eu não pretendia fazer isso… — Murmurou; seu choque acabando por trazer a pura verdade à superfície.

Youngjae quase amoleceu por um segundo, mas não achava que sua dignidade valia tão pouco assim para se render por uma mera frase.

— Não confio em você. — Disse firme. Aquela foi a deixa para Jaebeom enfim sair de cima de si, voltando ao seu lugar diante do volante.

O Choi se endireitou em seu banco, conseguindo sentir seu coração tentando retomar ao ritmo normal, com Jaebeom enfim à uma distância mais segura. Sabia que não havia dito realmente nada demais, porque os dois tinham conhecimento de que o híbrido não tinha um motivo sequer para confiar no Im, mas ainda assim, o peso daquelas palavras acabou por preencher o carro com outro tipo de tensão.

Quando passaram mais de meio minuto em completo silêncio, Youngjae imaginou que se daquela vez tentasse sair do carro, Jaebeom não iria o impedir, mas ainda assim, simplesmente nem tentou, mesmo sem saber o porquê.

— Você não deveria se preocupar com os paparazzis? Aposto que eles perseguem você e os outros meninos quase o tempo todo. — Observou, enfim quebrando o silêncio, mais tentando mudar de assunto e aliviar o clima do que realmente estando preocupado em relação àquilo.

— Não dá pra ver nada que acontece dentro do carro. — Jaebeom disse automaticamente, sequer olhando para o Choi. Parecia estar bem absorto em seus próprios pensamentos.

— Ah… — Youngjae corou, se sentindo estúpido, mas em parte aliviado pelo Im não estar o olhando naquele momento.

Não tinham feito absolutamente nada, muito menos iriam fazer, mas ainda assim, apenas o pensamento de que tinham a liberdade para fazer qualquer coisa que quisessem ali dentro, fazia o Choi se arrepiar. Urgh, naqueles últimos dias seus hormônios andavam à flor da pele, como se tivesse voltado a ser um adolescente!

Definitivamente não iria conseguir ficar mais um segundo dentro daquele veículo sem que acabasse falando ou fazendo alguma besteira.

— Bom, obrigado pela carona, tenha uma boa noite. — Disse de forma repentina e nem um pouco natural, deixando mais do que perceptível que estava agitado. Agradeceu quando enfim abriu a porta do carro e Jaebeom não tentou o impedir de sair.

— Boa noite, Youngjae, até amanhã. — O Im ainda parecia bastante pensativo, mas pelo menos daquela vez havia desviado os olhos da rua para direcioná-los ao Choi.

— Até... amanhã...? — O híbrido repetiu, como se nunca tivesse ouvido aquelas palavras antes. De repente entendeu porque não havia querido sair do carro pouco antes, quando a oportunidade perfeita havia surgido. Após ter recusado o beijo de Jaebeom, havia pensado, mesmo que de forma subconsciente, que o Im pararia de vir atrás de si, então por isso queria alongar um pouco o tempo que tinha junto com ele, tomando aquela como a última vez em que se veriam dentro de princípios não profissionais.

Toda aquela situação estava ficando cada vez mais confusa. Se o Im não queria apenas troca de contato físico, então o que afinal ele queria de si?!

— Achou que ia se livrar da minha companhia tão fácil assim? — Jaebeom riu soprado, parecendo enfim ter sido tirado de seus pensamentos.

Youngjae não se mexeu, nem falou por bons segundos, transtornado ainda tentando entender o que Im Jaebeom, em toda a sua perfeição celestial, poderia querer consigo, que não tinha um ponto positivo sequer.

— Hm... pode fechar a porta, por favor?

Apenas após o pedido do Im que Youngjae acordou para a realidade e foi capaz de perceber que ainda estava segurando a porta do carro, e olhando para o alfa como um completo idiota.

— A-ah, desculpa. — Fechou a porta, de forma estrondosa e atrapalhada, esperando que o Im não ficasse bravo por aquilo.

O carro deu partida em seguida, e Youngjae foi capaz de se mexer outra vez apenas após alguns segundos depois do automóvel sumir de sua visão, o deixando completamente sozinho na rua naquele momento deserta.

Mesmo enquanto entrava no prédio, pegava o elevador e logo depois caminhava pelo corredor onde seu apartamento ficava, sua mente não o deu descanso por um segundo sequer, questionando sem parar o porquê de Jaebeom supostamente querer ficar perto de si, ao mesmo tempo que já formulava trezentas hipóteses diferentes e surgia com mais quinhentas perguntas.

Estava quase zonzo tendo tantos pensamentos diferentes ao mesmo tempo, quando enfim adentrou o seu querido e aconchegante apartamento.

Resolvendo deixar para tomar um banho na manhã seguinte, porque não sentia disposição nem para fazer aquilo naquele momento, caminhou direto em direção ao seu quarto, não se surpreendendo ao encontrar Jinyoung na sala de estar, porque ele sempre costumava estar por ali naquele horário.

Mas pelo fato da televisão, diferente do usual, estar desligada, e principalmente por conta do Park parecer extremamente tenso, Youngjae parou imediatamente, franzindo o cenho.

— Jiny…? Aconteceu alguma coisa…? — Perguntou hesitante.

O lúpus prontamente o olhou, ficando alguns segundos em silêncio antes de suspirar alto e responder.

— Eu joguei o lixo fora agora pouco e… acabei vendo aqueles testes de gravidez… — Disse, ainda bastante tenso. Não estava daquela forma por conta de sua descoberta recém feita, mas sim por ter que falar com Youngjae sobre aquilo.

Desde que havia dito para o Choi que não falaria mais sobre a possibilidade de ele estar grávido, vinha fazendo exatamente isso e não tinha acontecido mais nenhuma briga entre eles, então sabia que voltar a tocar no assunto acabaria mais uma vez com a paz recém formada no apartamento.

Mas não era como se pudesse simplesmente ignorar o que tinha visto.

Apesar de que naquele momento, pensava que talvez deveria ter feito exatamente isso, porque Youngjae estava parado no mesmo lugar, quase tão imóvel quanto uma estátua enquanto inúmeros sentimentos atravessavam o seu rosto, há bons segundos.

Era mais do que óbvio que não queria que Jinyoung, ou melhor, que ninguém soubesse sobre aquilo. Deveria estar completamente desnorteado naquele momento por isso o Park foi mais do que paciente em esperar o amigo dizer qualquer coisa.

— E o que tem isso…? — Youngjae quebrou o silêncio após quase um minuto inteiro, num fio de voz. Sua mente não estava funcionando adequadamente para formular coisa melhor que aquilo.

Até pouquíssimo tempo antes, estava tendo uma avassaladora avalanche de pensamentos sobre Im Jaebeom, e agora Jinyoung trazia à tona o furacão com alta potência de destruição que o Choi tinha dado um jeito de momentaneamente jogar para o fundo de sua mente. O híbrido simplesmente não tinha a menor estrutura para lidar com dois desastres naturais acontecendo dentro de si ao mesmo tempo.

— Deu positivo… — Jinyoung quase sussurrou.

Youngjae demorou alguns segundos para assimilar aquelas palavras, mas pelo menos levou menos tempo do que antes para esboçar alguma reação. Ainda que não tenha sido das melhores.

— Um deles! Os outros dois deram negativo! — O híbrido se exaltou, enfim se mexendo.

— Você sabe que é muito mais fácil receber um falso negativo do que um falso positivo, não é?

— Você virou médico agora?!

— Qual é, Youngjae, não é possível que você queira ignorar isso tanto assim! Já ‘tá na hora de encarar os fatos! Você anda sentindo enjoos diariamente, vomita só de sentir qualquer cheiro forte demais, fica tendo variações de humor sem nenhum motivo, e ontem mesmo você ficou tonto do nada! Além disso, eu consigo sentir que o seu cheiro está mudando, mesmo que ainda seja de forma muito leve! Nenhuma doença causa tudo isso junto!

Mais uma vez Youngjae se tornou imóvel diante do Park. Queria contestá-lo de alguma forma, talvez até gritar com ele e xingá-lo de diversas maneiras, mas como poderia quando o lúpus parecia estar tão certo?

— Você não sabe disso… — Disse entre dentes. Saber que seu amigo estava tremendamente certo, o fazia ficar ainda mais irritado do que já estava.

Jinyoung suspirou, frustrado com toda aquela negação do amigo que já estava começando a ficar irracional.

— Jae, por favor, estou falando isso pro seu bem… Só faz logo um exame de sangue e acaba com isso.

O Choi pareceu sentir o dobro de irritação ao ouvir aquelas palavras.

— Não vou fazer exame nenhum! — Por um momento pareceu ser possível Youngjae pular em cima do amigo e esganá-lo.

Jinyoung passou as mãos pelo rosto de forma exasperada, devido à sua frustração. Sabia que aquilo não se tratava de si, porém Youngjae era uma das partes mais importantes da sua vida, se não de fato a mais importante, e vê-lo lidar com tudo aquilo de forma tão negativa, deixava o Park muitíssimo preocupado e tenso, porque uma hora ou outra a verdade acabaria se tornando impossível de negar e tinha medo de como o Choi ficaria diante daquilo.

Queria imensamente cuidar dele e ampará-lo, como sempre costumava fazer, mas naquele momento, diante de a toda aquela negação, não tinha muito que pudesse desempenhar para ajudá-lo e isso acabava o deixando extremamente agoniado e estressado. Se pelo menos suas desconfianças fossem confirmadas, então talvez poderia ser capaz de fazer alguma coisa pelo Choi após isso.

— Você precisa mesmo dificultar tanto as coisas…? — Tentou falar num tom calmo, mas mesmo assim suas palavras acabaram por ser um tanto quanto acusatórias na visão de Youngjae.

Jinyoung era seu melhor amigo, a pessoa que amava tanto quanto a sua própria família, mas ainda assim ele não entendia, nem nunca seria capaz de entender como as coisas eram realmente difíceis para si. Tudo o que tinha era uma mera noção.

O Park poderia alcançar absolutamente qualquer coisa que quisesse sem sequer ter que se esforçar para isso, porque no ranking de raças, ele estava na maior posição em que se poderia estar, não tinha absolutamente ninguém acima dele. Já Youngjae, estava na posição mais baixa e miserável possível, tendo que sempre colocar o triplo ou quádruplo de esforço em qualquer coisa para conseguir ao menos ter a chance de batalhar e concorrer pelo que queria.

Então o que Jinyoung queria que fizesse? Simplesmente aceitasse a hipótese que ele estava levantando, como se ela não fosse nada demais? Como se aquilo não pudesse arruinar absolutamente tudo que já tinha conquistado até ali? Não, de jeito nenhum! Não, impossível

Era impossível que não houvesse pelo menos uma doença que provocasse aquilo tudo. Youngjae acreditava fielmente nisso e não conseguia entender porque Jinyoung não poderia fazer o mesmo e o dar algum apoio.

— Quem está dificultando tudo é você! Por que não pode só me deixar em paz ao invés de fazer eu ficar pior do que já estou?! — O Choi quase berrou, com a voz embargada e a visão embaçada por conta das lágrimas que estavam se acumulando em seus olhos.

Jinyoung ficou surpreendido ao ver o amigo à beira das lágrimas por sua culpa. Sua intenção ao começar aquele assunto jamais havia sido magoá-lo.

— Jae, eu não… — Começou, de forma atrapalhada, mas Youngjae o interrompeu no mesmo segundo.

— Você é um idiota! — Daquela vez o Choi realmente gritou, já sentindo as lágrimas começarem a descer por seu rosto. Céus, como odiava a forma como andava sensível! Não gostava de se mostrar vulnerável daquela forma.

Antes mesmo que Jinyoung fosse capaz de formular qualquer palavra, Youngjae foi para o seu quarto, fechando a porta de forma estrondosa e a trancando logo em seguida.

O híbrido se jogou na cama e enfiou a cara no travesseiro, numa tentativa de abafar seu choro intenso. Ouvia Jinyoung na porta, pedindo para conversarem, mas o ignorou completamente até ele desistir.

Ficou chorando por tanto tempo, que chegou a um ponto que sequer sabia o porquê de continuar chorando, apenas não conseguia parar de jeito nenhum. Talvez acumular estresse demais por tanto tempo tivesse aquele efeito.

Por fim, parou de chorar apenas quando acabou caindo no sono.

✩✩☼✩✩

Youngjae adentrou o prédio da JG e atravessou os corredores e as escadas de forma tão rápida até chegar em sua habitual sala de treino, que acabou até se surpreendendo consigo mesmo.

Por outro lado, não se sentiu tão surpreso assim ao encontrar a sala completamente vazia, já que tirando o celular de dentro do seu bolso, viu que faltavam cinco minutos para as seis horas da manhã. Ainda era extremamente cedo.

Também viu que era terça-feira, o que significava que fazia apenas dois dias desde a briga que havia tido com Jinyoung, que inclusive havia sido a última vez em que tinha trocado qualquer palavra com o Park, e até mesmo o visto. Na segunda, tinha saído do apartamento também muito cedo, e voltado tarde o suficiente para que o lúpus já estivesse dormindo e não o visse.

Poderia até ser uma birra infantil, mas pretendia fazer exatamente a mesma coisa naquele dia, porque realmente não queria se cruzar com Jinyoung. Ainda estava chateado demais com ele.

Definitivamente estava completamente ferrado no sentido emocional. Mas estava numa situação pior ainda quando se tratava do seu estado físico.

Se tivesse chegado a dormir quatro horas naquela última noite já seria muito, e além disso, não havia comido absolutamente nada desde o dia anterior à briga com Jinyoung, o que significava que, dependendo de como fosse, aquele dia que estava em andamento poderia ser o seu quarto sem comer qualquer coisa.

Antigamente costumava ser muito bom naquilo. Conseguia passar até mesmo uma semana inteira sem comer e ainda assim ter energia para realizar todas as suas atividades diárias, mas por algum motivo naqueles últimos tempos já se sentia completamente esgotado apenas de ficar um único dia sem comer. O que significava que naquele atual momento, sentia-se como se tivesse sido atropelado por um caminhão. Cem vezes seguidas.

E como se tudo isso já não fosse suficiente, Youngjae ainda continuava vomitando da exata mesma forma que antes, mesmo que sequer tivesse algo em seu estômago. O que na sua concepção estava tendo uma grande parte na forma como se sentia ficando mais fraco num ritmo extremamente mais rápido do que o que estava acostumado.

Sua saúde de fato estava simplesmente indo por água abaixo e se deteriorando mais a cada dia. E mesmo que soubesse disso muito bem, não era como se fosse fazer qualquer coisa em relação àquilo. Era negligente demais consigo mesmo para realmente se importar.

Suspirou, largando sua mochila no canto da sala e começando a se alongar, querendo aproveitar que estava completamente sozinho para treinar mais sua dança, que para si ainda não parecia estar tão boa quanto a dos outros trainees. Seu corpo o mandava diversos sinais de que não tinha qualquer resquício de energia para aquilo, porém Youngjae não dava a mínima.

Um dia indo muito além de seu próprio limite não faria mal algum.

Foi pego de surpresa quando, pelo grande espelho que cobria uma parede inteira, foi capaz de ver Jaebeom entrando na sala. Aquele estava bem longe de ser o horário em que ele costumava aparecer por ali.

Como ainda estava apenas no alongamento, não viu um grande problema em parar o que estava fazendo. Se virou para o Im, não sentindo nenhuma raiva irracional e súbita, diferente do que costumava ser o habitual. A exata mesma coisa havia acontecido no dia anterior.

Talvez não tivesse forças o suficiente nem para se sentir irritado?

— Como sabia que eu estava aqui...? — Perguntou de imediato, no mesmo tom desanimado que estava consigo desde a briga com Jinyoung.

— Eu te vi chegando. — Jaebeom caminhava na direção de Youngjae.

— E por que está aqui tão cedo? — O Choi franziu o cenho, agradecendo pelo mais velho parar a uns três passos de si, porque mesmo com aquela distância já era capaz de sentir o seu coração tendo as batidas um pouco alteradas.

Era muito mais fácil ignorar tudo o que Jaebeom lhe fazia sentir, quando estava envolto por toda aquela antiga raiva irracional.

— Hoje eu e os meninos temos a agenda lotada. O primeiro compromisso é daqui a pouco e o último só pelo fim da noite.

— Ah… — Youngjae não se surpreendeu muito com aquilo, já que faltava apenas três dias para o natal e nove para o ano novo e aquela época costumava ser extremamente agitada no meio do K-Pop, cheia de preparações para os diversos eventos que ocorriam.

— E você...? Qual é o seu motivo para estar aqui tão cedo, antes de todo mundo?

Youngjae suspirou, tanto pela resposta àquela pergunta vir imediatamente à sua mente, como por saber que não poderia falar a verdade. Bom, talvez até poderia dizer que havia brigado feio com Jinyoung e por conta disso estava o evitando, mas sabia que Jaebeom iria querer saber o motivo da briga, e se conhecia bem o suficiente para saber que acabaria ficando nervoso e não conseguiria mentir de uma forma que parecesse verídica.

— Eu tenho que ser triplamente mais esforçado do que o resto, não é? Se eu realmente quero ser um idol um dia… — Murmurou, tirando os olhos de cima de Jaebeom e lentamente caminhando até a janela, acabando por cruzar os braços em cima da parte inferior dela. O que estava falando não era uma mentira em si, porém também não era a resposta certa àquela pergunta, então de qualquer forma estava escondendo a verdade e aquilo se tornava um pouco menos cansativo e mais fácil se não olhasse para o Im.

— Hm… não tenho certeza sobre isso, mas de qualquer forma, nunca te vi chegar tão cedo assim antes… — Jaebeom falava hesitante, por conta de Youngjae ter se afastado. Não precisava ir para a JG super cedo exatamente todos os dias, mas também, fazia aquilo com mais frequência do que gostaria, e em nenhuma das vezes em que havia ido tão cedo para a empresa, tinha avistado o Choi chegando ou pelo menos passando pelos corredores.

— Talvez apenas não tenha prestado atenção… — Por um breve momento o pensamento de que deveria parar de mentir e apenas despejar toda a verdade sobre o Im passou pela mente do híbrido, mas como supostamente deveria fazer aquilo, se ele próprio estava negando todos os fatos que apontavam para a possibilidade mais óbvia? E também, do que adiantaria, se provavelmente tudo o que acabaria ganhando seria mais uma pessoa para ficar nervosa e preocupada junto consigo?

— Ah… Bom, talvez você esteja certo, às vezes eu fico meio aéreo mesmo. — Jaebeom deu um pequeno riso de forma nem um pouco natural. Estava ficando nervoso por conta de Youngjae se encontrar tão desanimado ao ponto de nem esboçar qualquer emoção. Preferia até mesmo quando ele ficava o retrucando e sendo grosso consigo. — De qualquer forma, agora que sei que você vem tão cedo assim pra JG, a gente pode se ver duas vezes em alguns dias. E também, fico muito feliz por justo hoje ter te visto chegar, se não acabaríamos nos falando só amanhã. — Continuou falando após não ter recebido resposta alguma, sendo totalmente sincero.

Daquela vez a única resposta que recebeu foi a visão que obteve através do reflexo do vidro da janela, de Youngjae sorrindo sem mostrar os dentes. Porém seus olhos não acompanhavam o sorriso.

Se fosse em uma situação normal, o Choi diria que estava indo tão cedo para a JG para treinar e não ficar batendo papo, mas simplesmente se sentia cansado demais para arranjar qualquer briga. Bom, também tinha a questão de que não achava que iria ficar indo tão cedo para a empresa para todo o sempre, afinal não estava em seus planos nunca mais voltar a falar com Jinyoung, então não adiantaria brigar sendo que nem tinha certeza se acabariam se vendo alguma outra vez naquele horário.

E também, no fundo ficava feliz por ter sido possível acabarem se vendo. Haviam voltado a se falar há apenas cinco dias, e ainda assim já estava caindo no preocupante mau costume de ver o Im todos os dias.

— Ok, estou começando a ficar preocupado de verdade. Você está quase tão pálido como um fantasma, completamente desanimado e ainda ignora todas as chances de me retrucar? Além disso, esse é o segundo dia consecutivo que não se irrita só de me ver. Tem algo muito errado acontecendo. — Jaebeom disse após bons segundos de silêncio, verdadeiramente preocupado por conta de ter visto Youngjae agir daquela exata mesma forma no dia anterior.

— É, talvez tenha mesmo… — O Choi murmurou, completamente desolado.

— Não gosto de te ver assim, você parece tão triste.

— Eu acho que estou. — Youngjae murmurou mais uma vez.

Jaebeom quase sentiu uma dor física ao ver o Choi daquela forma, e antes que pudesse perceber, fez a única coisa que imaginava estar ao seu alcance para tentar fazê-lo se sentir melhor.

No mesmo segundo em que Youngjae foi capaz de sentir os braços de Jaebeom carinhosamente envolvendo sua cintura, num abraço por trás, seu coração disparou como se estivesse correndo uma maratona. Não tinha percebido o quão perto de si o Im estava, por isso ser puxado contra ele de uma forma repentina, mesmo que sem maldade alguma, fez o Choi perder qualquer linha lógica de pensamentos por um momento.

— Uma parte minha estava esperando que você fosse me empurrar… mas pelo visto as coisas realmente estão fora do normal… Acho que fico meio grato por isso, apenas por esse minuto. — Jaebeom falava como se nada de muito importante estivesse acontecendo ali, enquanto o Choi se sentia cada vez mais patético por saber que pouco a pouco suas bochechas estavam adquirindo um tom rosado.

Aquela era a primeira vez em um bom tempo que ficavam colados daquela forma. E por conta disso, o Choi se via surtando internamente como se fosse um garoto de quinze anos que nunca havia tido qualquer contato físico daquele tipo em toda a sua vida. Talvez seus hormônios que andavam meio descontrolados tivessem alguma coisa a ver com aquilo, mas independente disso, continuava se sentindo ridículo.

Ouviu, ou melhor, sentiu Jaebeom suspirar logo atrás de si, provavelmente frustrado pela sua falta de pronunciamento. O Choi se controlou por um segundo para não se arrepiar, ao mesmo tempo em que se perguntou como o Im poderia querer que dissesse algo, quando tudo o que conseguia pensar era em quão colados os seus corpos estavam.

— Eu poderia te perguntar o que aconteceu para te deixar desse jeito, mas eu não acho que você gostaria de me contar, então apenas quero que saiba que eu estou aqui para o que você precisar, incluindo desabafar, chorar ou qualquer coisa do tipo, tá bem? — Jaebeom falava quase sussurrando, devido à grande proximidade dos dois.

Youngjae até se sentiu tocado por aquelas palavras, e talvez poderia cogitar a possibilidade de desabafar com o Im, se o assunto todo que o afligia não envolvesse justamente o alfa.

Na realidade, não entendia como ele parecia seguir a vida sem qualquer grande preocupação. Não havia tido a desconfiança, nem por um segundo sequer, de que a noite que haviam tido poderia ter resultado em… algo a mais?

Quer dizer, Youngjae negava veementemente que as hipóteses que Jinyoung levantava estivessem certas, mas isso não significava que não passava um bom tempo se remoendo pensando nelas. E por mais que imaginasse que Jaebeom não tinha ninguém para ficar o atazanando com aquele tipo de ideias, não fazia sentido algum o Im não ter pensado ou se preocupado sobre aquilo pelo menos uma vez.

Ou ele estava ignorando completamente o assunto ou não tinha nem tempo para pensar sobre aquilo ou então simplesmente tinha assumido a conclusão de que a sorte tinha estado ao lado deles na fatídica noite.

— Tá bem… Obrigado… — Youngjae enfim disse algo, começando a achar o abraço de Jaebeom verdadeiramente reconfortante acima de qualquer outra coisa.

Mesmo assim, foi abrindo o vidro da janela devagar, sentindo que conseguia pensar de forma um pouco mais racional tendo o ar extremamente frio contra seu rosto. Além disso, aquilo também fazia a vermelhidão em suas bochechas começar a ir embora aos poucos, o fazendo enfim se sentir menos constrangido.

Acabaram por ficar alguns bons segundos em silêncio, já que Youngjae não achava que tinha qualquer coisa a falar e Jaebeom estava justamente procurando algo para dizer.

— Hoje faz um mês que nos conhecemos. — O Im disse de forma repentina, por conta de ter se lembrado daquele fato naquele exato momento. Na realidade, havia se dado conta daquilo poucos segundos depois de ter acordado — não que estivesse contando os dias, claro —, porém não era como se aquele pensamento tivesse ficado pairando sobre a sua mente o tempo inteiro.

— Como você se lembra disso? — O Choi perguntou após alguns segundos digerindo as palavras do Im, se surpreendendo mais com o fato do alfa lembrar daquilo do que qualquer outra coisa. Se tivesse que ser sincero, até aquele momento não tinha a mínima ideia do dia em que tinham se conhecido.

— Acho que foi um dia meio especial pra mim. — Jaebeom quase sussurrou, um pouco incerto se deveria estar dizendo aquelas palavras ou não. Era mais difícil esconder a verdade quando Youngjae estava daquela forma, não o jogando ofensas ou grosserias o tempo inteiro.

— Especial…? — O Choi repetiu, como se nunca tivesse ouvido aquela palavra em toda a sua vida.

— É… — Jaebeom sussurrou daquela vez, tendo cada vez mais certeza de que não deveria estar falando aquilo. Onde estava a sua determinação de não se envolver com nada e principalmente ninguém além de sua carreira?

— Por que? — Youngjae perguntou de imediato. Sua curiosidade era quase palpável.

— Não é todo dia que eu tenho a honra de conhecer alguém tão encantador quanto você. — Jaebeom respondeu sem pensar muito, porque era impossível responder qualquer outra coisa além daquilo. Se preocuparia com as consequências depois.

Youngjae acabou por se surpreender, tanto que as palavras lhe fugiram por bons segundos. Por fim, se virou na direção do Im, sentindo suas costas ficando contra a parede e o vento frio lhe atingindo a nuca ao invés do rosto. Por um momento teve medo de voltar a corar, porque não esperava que seu rosto fosse ficar tão próximo do rosto do alfa.

— Você me acha… encantador? — De qualquer forma, independente do que sentia com aquela troca de posição, precisava ver Jaebeom reafirmando suas palavras enquanto olhava para o rosto dele, para ter certeza de que o Im não estava apenas mentindo e brincando com seus sentimentos. Como já haviam feito antes.

— Claro que sim. A pessoa mais encantadora que já conheci em toda a minha vida. — Jaebeom respondeu sem a menor hesitação.

Se surpreendeu ao sentir Youngjae também envolver os braços ao seu redor e delicadamente deitar a cabeça em seu ombro.

Ficaram alguns segundos em silêncio antes do Choi se pronunciar.

— Como… Como eu posso ser a pessoa mais encantadora que você já conheceu na vida…? Tenho certeza que já deve ter conhecido inúmeras pessoas, principalmente por ser tão famoso. — Com “pessoas”, Youngjae tinha mais em mente ômegas, porque perante as regras da sociedade, alguém dessa raça deveria ser a pessoa mais encantadora que Jaebeom conheceria em toda a sua vida. Não ele, um miserável híbrido, que estava muitíssimo longe de ser um par ideal para um alfa.

O Im deu um pequeno riso soprado diante das palavras do Choi.

— Mas é justamente por já ter conhecido tantas pessoas que eu sei que você é e sempre vai ser a mais encantadora que eu já conheci.

Diferente do que esperava, o Choi não disse absolutamente nada ao ouvir aquelas palavras.

— Youngjae…? — Chamou, após quase um minuto inteiro de silêncio.

O híbrido ainda levou mais alguns segundos para dizer algo.

— Eu… E-eu não sei como responder o que você acabou de me dizer. Sinto que também deveria te elogiar de alguma forma...

Jaebeom se sentiu extremamente aliviado ao saber que aquele era o único motivo do silêncio de Youngjae. Já o Choi queria enfiar a cara no chão pelo o que havia acabado de admitir.

— Não precisa. Você tinha me perguntado o porquê eu achava o dia em que a gente se conheceu especial, eu respondi, e pronto, foi isso. Por que você teria a obrigação de me dar qualquer elogio? — Perguntou retoricamente. Por conta de estarem colados da forma como estavam, era capaz de sentir o quão tenso Youngjae estava.

— Ah… Hm… Tudo bem, então… — O Choi ainda parecia meio incerto se realmente deveria deixar as coisas daquele jeito.

— Se quer realmente me agradar pelo o que eu te disse, então só me diz… o que você achou da noite em que a gente se conheceu?

— O-o que?

— Bom, eu acabei de dizer que achei a noite especial e disse o motivo. Não seria mais do que justo você também compartilhar o seu ponto de vista?

— Eu… E-eu não tenho certeza se realmente tenho um “ponto de vista” ou algo assim sobre aquela noite. Foi apenas algo… bom. Por que isso interessa de qualquer forma? — O Choi desencostou sua cabeça do ombro de Jaebeom, acabando por olhar para o rosto do alfa. Quase se atropelava em suas próprias palavras, parecendo mais do que nervoso.

— Eu apenas queria saber… Mas se não teve muito significado para você, então deixa. — Jaebeom parecia bastante desapontado ao ver Youngjae definir apenas como “bom”, o que ele próprio tinha definido como uma noite especial.

O Choi sentiu uma ponta de desespero ao ver o alfa daquela forma.

— É que… não sou bom falando sobre esse tipo de coisa… — Admitiu, não gostando nem um pouco de se expor daquela forma, porém mesmo assim continuando. — M-mas aquela noite também foi especial pra mim de uma certa forma… Você me tratou de um jeito que eu nunca fui tratado por mais ninguém, e também eu… e-eu… hm… — As palavras pareceram ficar trancadas na garganta de Youngjae, porque por mais que o Choi quisesse as dizer, o medo de parecer ridículo era maior do que qualquer outra coisa.

— Você…? — Jaebeom incentivou.

— Senti… uma certa conexão… entre nós dois... — Youngjae enfim confessou, porém se arrependeu já no mesmo segundo. — Mas olha, eu sei que foi coisa da minha cabeça, tá? Não precisa se preocupar, eu não…

— Então, afinal você sentiu o mesmo que eu. — Jaebeom interrompeu Youngjae, parecendo maravilhado com o que o Choi tinha acabado de dizer.

Enfim saber que tudo que havia sentido era na realidade recíproco e aquela certa conexão que havia sentido entre si e Youngjae não tinha sido coisa de sua cabeça, o deixava quase que em puro êxtase.

Já o Choi tentava assimilar como Jaebeom parecia tão sincero naquele momento, porque não fazia o mínimo sentido para si, a impressão que havia tido daquela noite não ter sido apenas algo que sua mente havia inventado.

Enquanto digeriam as palavras um do outro, não desgrudando seus olhares nem por um segundo, Jaebeom acabou por perder sua racionalidade por curtos segundos, devido ao tamanho da felicidade que sentia.

E foi o suficiente para acabar dando um selar demorado em Youngjae, pegando o Choi completamente de surpresa.

Ainda processava o que estava acontecendo, quando Jaebeom separou suas bocas. O próprio Im parecia um pouco surpreso com suas ações. E logo em seguida completamente desesperado.

— Ai meu Deus, desculpa, eu fui tão idiota! Estraguei tudo! Desculpa mesmo, de verdade, eu sei que você não queria que eu te beijasse, eu não… — Jaebeom falava sem parar, se atropelando nas próprias palavras, visivelmente bastante nervoso.

Apenas então Youngjae se deu conta de que o Im estava daquela forma por conta de que apenas dois dias antes, tinha o impedido de o beijar, e havia dado um motivo não muito simpático para isso.

Céus, dois dias antes pareciam ter quase uma eternidade de distância daquele momento.

Sinceramente, não era como se de um minuto para o outro iria passar a confiar em Jaebeom apenas pelas palavras dele que tinham antecedido o beijo, mas, era incontestável a forma como o Im tinha sido sincero ao dizê-las, então talvez ele não merecesse uma quantidade tão enorme assim de desconfiança. E chegando a essa conclusão, Youngjae decidiu que valia a pena se arriscar, já que andava tão deprimido que merecia um momento de felicidade, nem que fosse por alguns meros segundos.

Por isso, nem se importou em interromper Jaebeom no meio do seu enorme pedido de desculpas e apenas o beijou da forma mais enérgica que pôde, quase como se o Im fosse o ar que precisasse para respirar.

Foi a vez do alfa de ser surpreendido, mas em poucos segundos ele já estava correspondendo ao beijo na exata mesma intensidade de Youngjae, acabando por prensar o Choi contra a parede sem nem perceber. O híbrido não deu a mínima para isso e fechou uma de suas mãos em torno dos fios de Jaebeom, puxando o Im para ainda mais perto, se é que isso era possível.

Após mais de um minuto, os dois enfim se separaram, quebrando até mesmo o abraço que compartilhavam. Ambos tinham a respiração irregular e as bochechas rosadas.

Se encararam por bons segundos, tentando entender como as coisas haviam escalado de nível de forma tão rápida, antes de Jaebeom quebrar o curto momento de silêncio.

— O que… O que foi isso…? Eu achava que…

Sabendo o que o Im iria falar, Youngjae o cortou, imediatamente ficando na defensiva.

— Você que me beijou primeiro!

— Não estou negando isso, só não tô entendendo porque você me beijou, ao invés de gritar comigo, me bater ou qualquer coisa desse tipo.

O Choi demorou alguns segundos para se dar conta do quão ridículas eram as suas últimas ações. Apenas dois dias antes tinha feito toda uma cena porque não queria que Jaebeom o beijasse, e agora, havia beijado o Im quase como se sua vida dependesse daquilo.

Deveria parecer o ser mais idiota, indeciso e louco de toda a face da terra.

— Também não faço a mínima ideia do porquê você me beijou do nada. — Youngjae cruzou os braços, continuando na defensiva por conta de que queria ter alguma dignidade.

Pela primeira vez desde que havia brigado com Jinyoung, sentia uma certa parcela de energia, mesmo que repentina, e consequentemente também sentia disposição para discutir.

Jaebeom não sabia se se sentia feliz pelo Choi parecer ter voltado um pouco ao normal, ou triste porque o temperamento difícil dele parecia também voltar.

— Eu acabei me deixando levar pelas minhas emoções, e além disso, venho querendo te beijar de novo desde aquele dia lá no depósito. — O Im não hesitou por muito tempo em dar a explicação que nem havia sido realmente pedida.

— Ah… — O Choi tentou não se mostrar muito afetado por aquelas palavras, mas era uma tarefa verdadeiramente difícil, porque qualquer mínima coisa vinda de Jaebeom parecia o afetar de forma mais intensa do que deveria.

— Sinceramente, desde que eu botei os olhos em você pela primeira vez, não teve um único dia que eu não tenha pensado sobre te beijar, te abraçar, segurar a sua mão e mais inúmeras coisas. — Jaebeom prosseguiu após a falta de palavras de Youngjae, se aproximando do híbrido novamente e deslizando uma de suas mãos pelo rosto dele, verdadeiramente abrindo seu coração naquele momento.

De certa forma, era quase como se estivesse se declarando.

Youngjae acabou mais uma vez corando. Sentiu as palavras que o alfa tinha acabado de dizer sendo gravadas em sua mente, e então soube que havia perdido qualquer chance de discutir naquele momento.

— Agora que esclareci a sua dúvida, você poderia fazer o favor de esclarecer a minha? — Jaebeom disse de forma calma após alguns segundos de silêncio diante de um Choi completamente imóvel e sem palavras.

Mesmo após a pergunta do Im, Youngjae foi capaz de falar apenas quando deu um passo para trás, escapando da mão do alfa que já se encontrava acariciando sua bochecha e enfim pensando com um pouco mais de clareza.

— Com o que você disse logo antes de me beijar, e... todo o resto, eu comecei a achar que você pode estar sendo sincero de verdade... então... não vi problema em um beijo… — Youngjae murmurava, mantendo os olhos bem distantes da imagem de Jaebeom, claramente desconcertado e talvez até um pouco encabulado.

— Isso quer dizer que está começando a confiar em mim...? — Jaebeom perguntou um pouco hesitante.

— Talvez... — Youngjae respondeu após alguns segundos, não dando o braço a torcer, mas ainda assim excedendo um pouco as expectativas do Im, que esperava por uma resposta negativa.

O alfa acabou por rir de forma soprada, achando um pouco adorável a forma como o Choi relutava em dar uma simples resposta positiva.

— Isso já significa muito vindo de você, então fico feliz de verdade de ouvir isso. — Disse de forma sincera, fazendo o Choi mais uma vez não ter o que dizer.

Acabaram por passar bons segundos em silêncio, apenas encarando um ao outro, até que momentaneamente o clima no cômodo foi se alterando e intensificando. Sentindo isso, Jaebeom não teve muito medo de quebrar o silêncio e mais uma vez se aproximar de Youngjae.

— Bom, se não tem problema em um beijo, então também não tem em dois, não é? — Disse, segurando as mãos do Choi e o puxando com delicadeza para bem perto de si.

Apesar de não receber resposta alguma, o Im concluiu que o fato de Youngjae não ter se afastado e também a forma como os olhos dele brilhavam naquele momento, eram uma resposta positiva para a sua pergunta.

Por isso, com todo o cuidado do mundo, quase como se o Choi fosse uma jóia preciosa, soltou as mãos dele e colocou as suas no rosto que lhe parecia perfeito, fazendo um leve carinho ali antes de beijar o híbrido de forma calma e carinhosa.

Sentiu Youngjae botar ambas as mãos em sua cintura, apertando entre seus dedos a camiseta que cobria a região, e então aprofundou o beijo, ainda assim continuando em um ritmo calmo e lento.

De alguma forma, ao final do ósculo Jaebeom era quem se encontrava envolvendo a cintura do Choi, enquanto o híbrido rodeava seu pescoço com os braços e tinha uma de suas mãos entre seus fios. Aquele beijo, assim como o anterior, tinha durado por volta de um minuto, por isso mais uma vez se encontravam com as bochechas coradas e a respirações um pouco descompassadas.

Ficaram alguns segundos se entreolhando, poderia se dizer até que de forma apaixonada, se ainda não se conhecessem tão pouco.

— Talvez também não tenha problema em três… — Youngjae enfim foi capaz de dizer algo, quebrando o curto silêncio. Reconhecia que era um pouco perigosa a forma como sentia que poderia facilmente se viciar no jeito como Jaebeom o beijava de forma tão demorada e cuidadosa, mas simplesmente não dava a mínima para isso naquele momento.

A única resposta do Im foi rir soprado, antes de voltar a beijar Youngjae da exata mesma forma que antes.

Estavam num clima encantadoramente maravilhoso pela primeira vez em um grande tempo, no meio de um dos melhores beijos de suas vidas inteiras, quando o toque do celular de Jaebeom — que naquele momento pareceu um som vindo do inferno — ressoou por toda a sala.

A última coisa que o Im queria fazer era parar de beijar Youngjae, mas como havia meio que fugido para estar ali, tinha uma certa noção de quem deveria estar ligando e de que também não poderia simplesmente ignorar.

Extremamente a contra gosto, interrompeu o beijo e de forma desajeitada procurou por seu celular nos bolsos de sua calça, até enfim encontrar e acabar tristemente confirmando o que já pensava.

— Ai que droga, é o meu manager, ele deve estar me procurando. — A infelicidade era quase palpável em sua voz, porque aquilo nada mais era do que uma sentença ao tempo que tinham ali juntos.

— Ah… Vai lá, não quero atrapalhar. — Youngjae também parecia meio chateado, pelo exato mesmo motivo que Jaebeom.

Inacreditavelmente, ter visto o Im naquele dia tinha o dado um certo ânimo, mas já sentia esse ânimo em questão desaparecendo apenas de saber que ele iria embora.

— Você nunca atrapalha. — O Im disse de imediato, ignorando completamente o seu celular que ainda tocava em altíssimo som. — Me dá o seu celular. — Disse de forma repentina, estendendo a mão para Youngjae.

O Choi franziu o cenho diante daquilo.

— Pra que…?

— Vou te dar meu número, caso queira falar comigo.

Youngjae ficou olhando para o Im por alguns segundos, tentando não pensar que ter o número do alfa significava aumentar o nível de intimidade entre eles.

Enquanto tirava o celular de seu bolso, desbloqueava e entrava na lista de contatos, logo em seguida entregando o aparelho nas mãos de Jaebeom, se perguntou o que eram afinal.

Não achava que serviam para serem definidos como amigos, mas também, não podiam ser definidos como algo além disso. Então… não eram nada?

Quando se deu conta de que estava pensando demais, imediatamente parou.

Achava que o tempo acabaria trazendo a resposta, por mais que gostasse muito da hipótese de terminar o ano com pelo menos aquele quesito de sua vida resolvido.

— Como vou falar com você pelo celular se você é a pessoa mais ocupada que eu conheço?

— Abro um espacinho na minha agenda pra falar com você, não é grande coisa. — Jaebeom disse, devolvendo o celular de Youngjae.

O Choi se surpreendeu ao encontrar o nome do contato do Im salvo como "Beomie❤️".

Aquilo não era meloso demais?

— Vamos ver então… De qualquer forma, não é como se eu pretendesse te ligar. — Deu de ombros, guardando o celular.

— Ai, assim você me magoa. — Jaebeom disse de forma cômica, botando uma das mãos sobre o peito, como se estivesse ferido.

— A gente 'tá se vendo todos os dias, então qual a necessidade?

— Podemos nos falar mais do que só uma vez por dia.

— Gosta tanto assim de falar comigo?

— Óbvio. — Ao invés do toque de celular de Jaebeom, daquela vez o que preencheu a sala foi o som das notificações de mensagens, pelo menos umas dez seguidas, com no máximo um segundo de intervalo entre cada. — Tá, agora tenho que ir mesmo.

Youngjae não se surpreendeu quando o Im segurou seu rosto e o beijou da forma mais demorada possível, ainda terminando o ósculo com alguns selinhos estalados. Era preocupante a forma como era tão fácil se acostumar àquilo.

— Pelo amor de Deus, se cuida hein? Amanhã quero te ver menos pálido, e também mais animado, por favor. — O Im disse, ainda tendo o rosto do Choi entre as mãos.

— Vou tentar, mas não prometo nada.

Daquela vez, o som da notificação de centenas de mensagens se juntou ao de uma ligação, demonstrando o quão desesperado o pobre manager deveria estar.

— Tenho que realmente ir agora, mas amanhã vou cobrar se você tentou mesmo, viu. — Jaebeom ainda deu mais um selar demorado em Youngjae antes de enfim o soltar. — Tchau. — Disse, já caminhando em direção à porta, porque se olhasse para o Choi por muito mais tempo, acabaria desistindo de todos os seus compromissos do dia.

— Tchau… — Youngjae disse, sentindo o Im levar toda a sua momentânea energia junto com ele.

Quando Jaebeom sumiu por completo de sua vista, já sentia o exato mesmo desânimo de antes.

Mas não teve muito tempo para se concentrar nisso, pois milésimos de segundos depois de Jaebeom ir embora, Bonhwa adentrou o recinto. Youngjae imediatamente pensou em como andava tão difícil ter pelo menos um dia de paz naqueles últimos tempos.

Quase que de imediato soube que o Kang deveria ter ouvido e visto a grande maioria de tudo que tinha acabado de acontecer, escondido em algum ponto estratégico para que Jaebeom não o visse quando saísse.

E mesmo se não tivesse chegado àquela conclusão, a terrível expressão que o alfa tinha já deixava bastante claro que ele tinha visto a coisa toda ou quase isso.

— Por Deus! Você está de fato virando um sasaeng.

— Você… — Bonhwa disse entre dentes, se aproximando de Youngjae numa velocidade impressionante e quase enfiando o dedo na cara do Choi, como se ele tivesse cometido alguma espécie de crime. — Quem te deu o direito de encostar em Jaebeom?!

O híbrido vacilou por um momento diante de toda aquela raiva, afinal por mais destemido que tentasse se mostrar, nada mudava o fato de que Bonhwa era um alfa e muito provavelmente bastaria apenas um soco dele para sair voando sala afora.

Mas no segundo seguinte recuperou sua pose, porque não se permitiria demonstrar medo tão fácil assim.

— O próprio Jaebeom. Se tiver algum problema com isso, vai resolver com ele, não comigo. — Realmente não estava a fim de enfrentar uma briga naquele momento, principalmente com alguém que considerava um pouco louco, então apenas queria que aquilo acabasse o mais rápido possível.

O Kang deu um riso sem humor algum.

— O mundo deve realmente estar de cabeça para baixo para você dizer isso como se fosse a mais pura verdade. Você vem se jogando pra cima dele faz tempo, e como Jaebeom é um cara bonzinho demais, sentiu pena e por isso se deu ao horrível trabalho de tocar em você daquela forma e falar todas aquelas mentiras, mas isso não significa que você tenha o direito de agarrá-lo do jeito como fez!

Youngjae franziu o cenho diante daquelas palavras, por conta de não ter muita ideia do que o Kang estava falando. Primeiro, não se lembrava de ter se jogado para cima de Jaebeom em momento algum, e segundo, não entendia o que Bonhwa queria dizer com “agarrá-lo”, quando não havia tocado no Im de forma maliciosa em qualquer minuto.

— Olha, Bonhwa, eu até posso entender que esteja chateado, mas também você não pode ser tão irracional dessa forma. Eu nunca me joguei pra cima de Jaebeom em momento algum, muito pelo contrário, ele sempre é o primeiro a tomar qualquer iniciativa entre nós dois, então sinceramente, não vejo motivo algum pra ele sentir pena de mim, quando jamais pedi ou tentei ter qualquer tipo de atenção vinda dele. — Youngjae ficou verdadeiramente impressionado com a calma impecável com que havia conseguido falar tudo aquilo.

— Jamais pediu ou tentou ter qualquer tipo de atenção vinda dele?! — Bonhwa repetiu exatamente o que o Choi tinha acabado de falar, como se fosse a coisa mais inverídica do mundo. — Não seja ridículo! E todos os últimos encontrinhos de vocês, hein? Você até mesmo teve a audácia de andar no carro dele e agora vem me dizer que jamais procurou por atenção?! Ah, por favor, a coisa que você mais quer é a atenção do Jaebeom! — O Kang quase gritava ao final de suas palavras, voltando a apontar o dedo na cara de Youngjae.

O Choi arregalou os olhos por um momento ao se dar conta de que Bonhwa havia visto cada mísero segundo ou quase isso que tinha passado ao lado do Im naqueles últimos dias. Depois, ficou extremamente irritado por conta daquele fato e também pelas palavras do Kang.

— Quer saber?! Talvez eu queira mesmo! Mas pelo menos consigo, não é?! E sinceramente, sem nem ter que me esforçar muito. E você?! Que mesmo perseguindo ele pra lá e pra cá durante o maior tempo que pode, não consegue nem uma mísera migalha de atenção?! — Bonhwa abriu a boca para falar, porém Youngjae não o permitiu, dando apenas um riso sarcástico antes de voltar a se pronunciar. — Agora entendi porque você está aqui tão cedo. Sabe, até achei estranho quando te vi entrar por aquela porta, porque ontem vim pra empresa tão cedo quanto hoje e só te vi chegando um bom tempo depois. Você veio porque de alguma forma sabia que Jaebeom estaria aqui a essa hora, não é? Sua situação é tão miserável que você faz de tudo para vê-lo, mesmo que ele sequer se dê conta de que você exista. — O Choi simplesmente despejou toda a sua raiva acumulada, proveniente dos hormônios e de todo o estresse que vinha sentindo, no Kang.

Ficou um pouco assustado com a forma como o alfa repentinamente começou a tremer da cabeça aos pés, completamente tomado pela raiva, mas ao mesmo tempo satisfeito, por saber que o que havia dito tinha o afetado naquele nível.

— Cala a boca! Cala essa boca imunda! Diferente de você, eu tenho princípios e sei o que é certo e errado! Eu fico por perto de Jaebeom o máximo de tempo que posso apenas para garantir que ele está seguindo um bom caminho! Como ele claramente não está agora, ficando perto de você! Jamais quis, nem nunca vou querer qualquer atenção vinda dele! — A voz de Bonhwa ficava mais alta a cada palavra, fazendo Youngjae se encolher um pouco.

— Tudo bem, se acreditar nisso te ajuda a dormir à noite… — O Choi quase murmurava, fazendo um enorme esforço para não desviar os olhos do rosto do Kang e direcioná-los para o chão, acabando por demonstrar submissão como seus instintos mandavam que fizesse. — Apenas não venha jogar as suas frustrações em cima de mim, só porque Jaebeom faz comigo o que você secretamente gostaria que ele fizesse com você. Não tenho a menor culpa disso.

O alfa aproximou bastante o seu rosto do rosto de Youngjae, de forma ameaçadora, quase enfiando o dedo na cara do Choi. O híbrido percebeu como a mão dele tremia, e por um segundo se perguntou se ela poderia repentinamente se fechar e lhe dar um soco, mas espantou esse pensamento para longe o mais rápido que pôde.

— Vamos ver… Vamos ver até quando vai ficar se achando dessa forma… Jaebeom vai se cansar de você mais rápido do que pensa. Por mais que seja um brinquedinho interessante, por ser tão diferente dos outros, ainda continua sendo um híbrido nojento, e jamais vai chegar aos pés de um ômega!

Youngjae se sentiu tão ferido por aquelas palavras, que sequer pensou antes de responder o Kang.

— E você continua sendo um alfa independente do quanto queira ser um ômega… então, quem está mais perto do tipo ideal de Jaebeom? — Sinceramente, no fundo não acreditava que o tipo ideal de um alfa era necessariamente um ômega e vice versa, mas sabia que Bonhwa sim, então aquelas palavras pareciam mais do que adequadas para aquele momento.

— Você ainda vai se arrepender muito de dizer tudo isso. — O Kang disse entre dentes, se aproximando tanto de Youngjae daquela vez, que o Choi foi capaz de sentir a respiração dele contra seu rosto.

Por mais que o híbrido fosse adorar continuar aquela discussão, sabia que escolher fazer isso talvez resultasse em diversos roxos espalhados por seu corpo no dia seguinte e talvez até algumas fraturas, então resolveu por encerrar as coisas daquela forma.

— Vamos ver, então. — Foi tudo o que disse, se afastando de Bonhwa e indo para o outro canto da sala, voltando a se alongar como se nada tivesse acabado de acontecer.

O Kang poderia não ter dito mais nada verbalmente, porém o olhar raivoso que ele tinha e que fazia parecer que a qualquer momento seus olhos poderiam pular para fora das órbitas, dizia inúmeras coisas.

E nenhuma delas era exatamente boa.

✩✩☼✩✩

Já fazia pelo menos umas nove horas desde que Jaebeom havia ido embora e Youngjae tinha brigado com Bonhwa.

Eram umas três horas da tarde, e felizmente a sala já se encontrava cheia de outros trainees há muito tempo. Bonhwa ainda lançava olhares raivosos para o Choi em diversos momentos, porém o híbrido simplesmente não dava a mínima para ele, sabendo que isso deveria irritar o alfa ainda mais.

Sinceramente, se ele gostava tanto de Jaebeom como dizia gostar, por que simplesmente não dava em cima do Im ao invés de encher o saco das pessoas? Youngjae não tinha culpa alguma do mais velho vir atrás de si.

E também, sabia que Jaebeom acabaria não sentindo a mínima atração pelo Kang, e nem era por conta de ele ser outro alfa, e sim porque era a pessoa mais arrogante e chata que qualquer um teria o desprazer de conhecer. Além de ter alguns parafusos a menos.

— Por que Bonhwa está te olhando como se quisesse te matar…? — Yugyeom perguntou, arrancando o híbrido de seus próprios pensamentos. Tinha um tom um pouco preocupado.

Estavam no meio do intervalo da segunda aula de dança do dia — terceira para Youngjae, contando quando havia treinado de manhã super cedo —, que parecia se arrastar mais lentamente do que o normal.

— Porque ele viu eu e Jaebeom juntos. — Youngjae deu de ombros. — Bom, viu a gente se beijando também, e logo depois ele veio me confrontar e acabamos brigando... então talvez isso tenha agravado um pouco a situação… — O Choi murmurou, se abaixando para pegar a garrafa de água que estava dentro de sua mochila e sentindo suas pernas fraquejarem, como se a qualquer momento fossem simplesmente desistir de o manter em pé.

Se levantou extremamente rápido, porque de fato parecia que suas pernas poderiam perder a força a qualquer momento, principalmente porque estavam tremendo sem parar. Quando foi abrir a garrafa, percebeu que suas mãos também estavam tremendo imensamente. Felizmente Yugyeom não se deu conta de coisa alguma.

Sabia que havia ultrapassado muito o seu próprio limite, porque era capaz de sentir isso em cada mínimo músculo seu, mas ainda assim, não tinha percebido o quão mal seu corpo estava lidando com aquilo. Estava meio decepcionado consigo mesmo, porque achava que era mais forte.

— Você e Jaebeom… — Yugyeom quase gritou, atraindo inúmeros olhares para os dois, o que fez o Kim imediatamente se envergonhar e falar sussurrando. — Você e Jaebeom se beijaram?!

Obviamente Yugyeom sabia que o Im havia voltado a falar com o seu amigo, mas ainda não tinham conversado muito naquele dia, por falta de oportunidade, então Youngjae não tinha o contado os mais novos fatos.

Youngjae até riria da reação do amigo, se não estivesse ocupado tomando quase toda a água que estava dentro de sua garrafa, achando que talvez aquilo fizesse seu corpo ganhar um pouco de energia, já que era um elemento tão necessário.

O Choi balançou positivamente a cabeça assim que terminou de tomar a quantidade de água que achava que precisava, nem se importando com alguns olhares que ainda pairavam sobre si e Yugyeom. Definitivamente não sentia que sua energia havia aumentado nem um pouco que fosse, mas achava que talvez precisasse de algum tempo para isso acontecer.

— Que?! Como assim? Por que? Como isso… — Yugyeom parou sua enxurrada de perguntas assim que Youngjae acabou deixando sua garrafa cair, e colocou uma das mãos na parede, claramente se apoiando. — Jae? Você tá bem?!

— Eu… Hm… Tá tudo girando… — Youngjae se sentia completamente desorientado por conta da tontura extremamente repentina. Já havia ficado tonto algumas poucas vezes naqueles últimos tempos, porém nunca daquela forma tão intensa. Naquele momento, sentia que não era capaz de dar nem um passo na direção certa.

Conseguia sentir que estavam atraindo atenção mais uma vez, muito provavelmente pelo desespero evidente do Kim. As pessoas pareciam muito mais interessadas nos dois do que antes, por conta de que era claro que algo estava acontecendo naquele exato momento.

O Choi não tinha certeza se estava pendendo para o lado oposto à parede, ou tinha dado algum passo sem nem perceber, porque não estava prestando muita atenção aos próprios movimentos, apenas soube que Yugyeom prontamente agarrou seus braços, o mantendo firme e em pé, antes que acabasse tendo o azar de cair de cara no chão.

— O-o que você quer que eu faça? Quer dizer, o que eu posso fazer pra te ajudar? — Yugyeom parecia bastante desesperado. Mais um pouco e ele acabaria sendo o próximo a passar mal.

Youngjae também já estava ficando um pouquinho desesperado por conta de não conseguir focar seu olhar em ponto algum, mas a situação ficou muito pior quando tudo escureceu ao redor da sua visão, o fazendo perder completamente a visão periférica e o limitando apenas à visão central.

— Só continua me segurando… — Respondeu em um fio de voz, tomado pelo medo do que estava acontecendo consigo. Seu coração havia disparado, mas não tinha certeza se era pelo medo ou por conta de ser algum sintoma daquilo que estava o abatendo naquele momento.

— Youngjae? Você está bem? — O professor de dança, que até então se encontrava alheio à situação, se pronunciou, num tom quase preocupado.

O Choi acenou de forma positiva com a cabeça, mentindo descaradamente. Apesar de tudo, não queria ser mandado para casa outra vez.

— Eu só… só preciso descansar um pouco… e vou ficar bem... — Disse, ainda em um fio de voz. Estava começando a se sentir nauseado também, mas de certa forma aquilo não o incomodou tanto por conta de estar ficando habituado à sensação.

Não era capaz de ver, mas sentia todos os olhares da sala grudados em si, assim como as pessoas se aproximando pouco a pouco, o rodeando para ver melhor o que estava acontecendo.

Não gostava daquilo, queria pedir para que se afastassem. Mas não era capaz nem de fazer aquele simples pedido.

— Ah, por favor, ele só está fazendo drama. — Youngjae ouviu Bonhwa falar num tom desdenhoso, claramente não gostando nem um pouco de toda aquela atenção voltada para o híbrido.

Não foi capaz de ver a reação de ninguém além de Yugyeom, que lançou um olhar muitíssimo feio para o Kang, algo um pouco surpreendente considerando que o Kim não gostava de arranjar intrigas com pessoa alguma, principalmente alfas. Ele devia ter ficado realmente irritado.

— Eu… Eu vou chamar uma ambulância, é melhor, você nem consegue parar em pé. — Yugyeom disse, extremamente preocupado.

Youngjae achou ouvir Yonghwa, o professor de dança, concordar, mas não tinha certeza, porque os sons ao seu redor estavam começando a ficar abafados e distantes.

O Kim pareceu falar alguma coisa para si, algo como “fica calmo” ou “vai ficar tudo bem”, não tinha a menor ideia, porque definitivamente estava perdendo os seus sentidos. E Yugyeom sem dúvida percebeu isso, porque o tom de voz que até então estava usando para tentar o acalmar, rapidamente foi tomado pelo pior dos desesperos.

O beta continuava falando consigo, muito provavelmente apenas tentando o manter ali, mas o Choi já sabia que a tentativa era inútil, até mesmo porque mal era capaz de distinguir as palavras do Kim, apenas conseguia notar o tom de desespero nelas. Tentou murmurar alguma coisa para o acalmar, mas não tinha certeza se havia dito ao menos uma palavra compreensível, porque não havia ouvido nem a si mesmo.

Estava depositando cada vez mais seu peso sobre o Kim, mesmo que não tivesse a intenção, e apenas torcia para que não fosse pesado demais para ele o sustentar da forma como estava sustentando. Tinha uma noção de que um murmurinho havia se formado ao seu redor, mas não tinha a mínima ideia se era de preocupação ou apenas curiosidade, apesar de que apostava na segunda opção, porque muito dificilmente alguém se preocuparia com um híbrido. Yonghwa não estava envolto pelo murmurinho porque falava mais alto que o restante, mas ainda assim não adiantava de muita coisa, pois Youngjae havia conseguido distinguir apenas "hospital" em meio às inúmeras palavras que o professor falava quase sem parar.

Era isso, seu corpo era mais fraco do que pensava. Youngjae admitia e aceitava a terrível derrota.

Tudo se tornou um breu por completo e sentiu seu corpo se chocar contra o de Yugyeom, assim como ouviu o Kim gritar, muito provavelmente o seu nome, antes de perder completamente a audição, e junto com ela, todo o restante dos seus sentidos.

✩✩☼✩✩

Barulhos, diversos barulhos abafados e inconcretos, isso era tudo que Youngjae era capaz de ouvir e era também seu primeiro passo na volta à realidade. Depois, sentiu um leve cheiro de produtos de limpeza, e em seguida sua mão esquerda contra uma superfície macia, porém fria, talvez um colchão…?

Aquele pensamento não fez muito sentido para si, considerando que sua mente recém estava começando a voltar a funcionar e a última coisa de que se lembrava era de ter caído em cima de Yugyeom. O colchão definitivamente estava inclinado, já que sentia que estava meio sentado e meio deitado ao mesmo tempo, então com certeza não era o seu e simplesmente não conseguia fazer a conexão de como havia ido parar dos braços de Yugyeom para um colchão desconhecido.

Já na mão direita, sentia o envolver quente do que sem dúvida alguma era uma outra mão. Automaticamente se sentiu mais tranquilo ao saber que havia alguém ali consigo.

Aos poucos, os sons ao seu redor foram se tornando mais nítidos, e então conseguiu distinguir diversas vozes na sua volta, mas nenhuma de fato próxima. A não ser por duas, aparentemente uma em cada lado seu.

— Ele vai ficar bem, Yugyeom. Sei que não foi nada muito grave. — Youngjae enfim foi capaz de ouvir claramente o que antes não conseguia, reconhecendo a voz de Jinyoung de imediato, logo ao seu lado esquerdo. Apesar do que dizia, a voz do Park estava carregada de preocupação.

Mesmo ficando feliz e completamente relaxado ao saber que estava na companhia de seus dois únicos amigos, se perguntou como o Park havia ido parar ali, mesmo que ainda não soubesse onde “ali” se localizava.

— Como pode ter tanta certeza? — Yugyeom perguntou quase tão baixo como um sussurro, à sua direita. Apenas então, Youngjae se deu conta de que o Kim era quem segurava sua mão.

— Eu… apenas tenho.

Enfim começando a se sentir no comando de seu próprio corpo mais uma vez, entreabriu os olhos, voltando a fechá-los quase no mesmo segundo ao ser atingido por uma enorme quantidade de luz. Mas apenas isso já foi o suficiente para interromper a conversa de seus amigos e fazê-los prestar ainda mais atenção em si do que já estavam prestando.

— Jae…? — Yugyeom foi o primeiro a se pronunciar.

Ouvir a voz do Kim encorajou o híbrido a entreabrir seus olhos mais uma vez, e apesar de novamente ser atingido por mais luz do que gostaria, daquela vez tentou ir piscando repetidamente até sua visão se focar e a quantidade de luz já não ser mais tão incomodativa. E então, enfim foi capaz de abrir os olhos por completo.

Primeiro olhou para Yugyeom, que estava tão preocupado ao ponto de parecer que talvez pudesse ser o próximo a desmaiar, e então olhou para Jinyoung, que exibia o mesmo nível de preocupação, porém de uma forma um pouco mais controlada. Bastou olhar para o melhor amigo por apenas um segundo para entender que toda a briga e qualquer desentendimento que haviam tido já havia sido completamente esquecido.

Também avistou sua mochila, logo numa cadeira atrás de Yugyeom.

— Jae! Como você está se sentindo? Tudo bem? Quer que eu traga alguma coisa? Sente dor em algum lugar? Está… — Jinyoung começou a disparar, poucos segundos depois do Choi ter aberto os olhos.

— Jiny, calma, eu acabei de acordar. — Youngjae pediu com a voz fraca, se sentindo zonzo pela enxurrada de perguntas do amigo. O Park se calou de imediato.

Bastou olhar ao redor por alguns segundos para perceber que estava num hospital, mesmo que a cortina azul que formava uma pequena área quadrada ao redor de si e seus amigos não lhe permitisse ver nada além do que havia dentro daquele espaço.

Então, a presença de Jinyoung finalmente fez sentido, já que ele era seu contato de emergência. Mesmo que Yugyeom estivesse ali, Youngjae imaginava que os médicos muito provavelmente tinham visto a necessidade de chamar o Park quando haviam começado a fazer todas aquelas perguntas que médicos costumam fazer e o Kim não tinha sabido responder nenhuma.

— Por quanto tempo eu fiquei desacordado…?

— Exatamente uma hora e vinte minutos. — Yugyeom respondeu no mesmo segundo. O Choi não tinha muita ideia de como ele sabia do tempo exato, mas pelo tamanho de seu nervosismo, não duvidava nem um pouco de que o Kim poderia ter contado cada mísero minuto a partir do momento em que tinha caído nos braços dele.

— Ah… — Aquilo era menos tempo do que esperava ouvir, considerando o enorme cansaço que sentia antes de perder completamente os sentidos. Mas ao menos explicava o porquê ainda se sentia extremamente cansado.

— O professor Kwon quis vir com você, mas só permitiam um acompanhante na ambulância… — Yugyeom explicou o que ninguém havia perguntado, deixando Youngjae surpreso ao pensar que talvez, de alguma forma, seu professor de dança se importasse consigo. — Ele apenas pediu para eu dar notícias suas assim que o visse. Também disse que você está completamente dispensado das aulas dele de amanhã, apesar de não poder dizer o mesmo pelos outros professores.

— Ah… Isso é muito generoso vindo dele… fico agradecido. Talvez eu precise mesmo de um dia sem fazer qualquer esforço físico…

— Um dia?! Você precisa de no mínimo um mês! — Foi a vez de Jinyoung de se pronunciar.

Youngjae revirou os olhos por conta da preocupação excessiva do Park.

— Não seja exagerado.

— Exagerado?! Você…

Jinyoung interrompeu suas próprias palavras quando a cortina que os cercava foi repentinamente aberta e no segundo seguinte novamente fechada.

— Boa tarde senhor Choi, vejo que acordou. — O médico com quem o Park havia conversado pela última vez por volta de meia hora antes, disse. O lúpus ficou grato por o ver ali, porque já iria chamá-lo, de qualquer forma. — Eu sou o doutor Lee, médico responsável pelo seu tratamento hoje.

— Ah… sim… boa tarde… — A surpresa de Youngjae era mais do que evidente. Havia começado a entender tudo o que estava acontecendo há pouquíssimo tempo, então nem sequer havia pensado no fato de que deveria ter algum profissional por ali responsável por si.

Com a presença do médico, o Choi se sentou cuidadosamente na cama hospitalar, dobrando uma perna e deixando a outra pendurada sobre o chão, com o pé a alguns centímetros de encostar na superfície fria. Acabou soltando a mão de Yugyeom no meio do processo.

Achava amargamente cômico a forma como andava evitando tanto ir num hospital, e por fim seu próprio corpo havia o traído e o feito ir parar naquele lugar.

— E então, doutor? O que ele tem? Por que ele desmaiou? — Jinyoung perguntou assim que percebeu que o Choi não faria aquelas perguntas.

Apenas então Youngjae se deu conta do amontoado de folhas que o médico levava logo em cima de uma prancheta e também do algodão sob um esparadrapo logo em seu braço direito. Imaginava que deveriam ter feito um exame de sangue em si, então.

— Bom, fizemos um exame de sangue o mais completo possível e não tem como dizer de forma exata o que causou o desmaio. O seu amigo me disse que você é um trainee, senhor Choi, o que imagino que signifique que sua rotina é baseada em comer bem menos do que deveria, se exercitar muito além do necessário e quase não dormir, correto? — O doutor tirou os olhos de cima de seus papéis e os direcionou para Youngjae, num olhar questionador.

O Choi se encolheu um pouco, porque os olhares de Jinyoung e Yugyeom também caíram sobre si. O Kim estava somente preocupado, mas o lúpus parecia capaz de o fritar apenas com o olhar.

— Sim… — Respondeu baixinho.

— Certo… — O doutor Lee fez uma pequena anotação em seus papéis. — Bom, senhor Choi, você está com avitaminose, que é a falta de uma ou mais vitaminas no organismo. O seu caso é ainda mais grave do que o comum, porque nunca antes em tantos anos de carreira vi alguém apresentar o nível de quase todas as vitaminas abaixo do ideal. Como é um trainee, imagino que isso esteja sendo causado por uma alimentação extremamente pobre em todos os grupos alimentares. Você também desenvolveu uma anemia derivada dessa avitaminose, então vai ter que tomar diversos suplementos vitamínicos e começar a fazer no mínimo três refeições por dia, ricas em diversas vitaminas, ainda mais no ferro. Além disso, está desidratado em um nível moderado, mas isso pode ser resolvido apenas aumentando a quantidade de água ingerida diariamente, e também, se possível, bebendo algumas bebidas isotônicas. O que de fato torna todo o seu quadro mais preocupante é o fato de que você está grávido. — O médico falava com tanta naturalidade e leveza, que era como se simplesmente estivesse dizendo a previsão do tempo para a semana.

O híbrido sentiu uma pequena falta de ar repentina, porque era como se tivesse acabado de ser nocauteado por tantas informações. Mas nenhuma de fato se prendeu à sua mente como a última.

De uma hora para a outra, era como se o mundo simplesmente tivesse parado e aquela cena se repetisse sem parar. “Você está grávido” o doutor Lee dizia de novo e de novo e de novo, até aquelas três palavras começarem a fazer eco dentro de sua cabeça.

Mas não importava quantas vezes a mesma frase se repetisse em sua mente, simplesmente era incapaz de conseguir processar a informação. Na verdade, não se sentia capaz nem de mexer um dedo sequer, muito menos falar e que dirá pensar.

Sentiu quando Jinyoung se aproximou de si e envolveu seus ombros, como forma de apoio. Obviamente, o Park não parecia nem um pouco chocado, apenas preocupado pela sua falta de reação, bem diferente de Yugyeom, que parecia quase tão surpreso quanto si.

— O desmaio pode ter sido causado pela gravidez, já que no início da gestação, como é o seu caso, o corpo ainda não produz uma quantidade de sangue suficiente para o gestante, a placenta e o embrião, o que às vezes resulta numa queda de pressão e consequentemente um desmaio, mas a sua anemia também é uma resposta possível para a síncope que você sofreu. E por último, há a opção de que o seu organismo ficou sobrecarregado e, digamos, acabou sofrendo um “pane”, devido à sua rotina nem um pouco saudável combinada com a avitaminose, anemia, desidratação e ainda por cima uma gravidez, que é algo que exige demais do corpo.

Tudo que Youngjae queria fazer naquele momento era mandar o médico calar a boca, porque ele continuava falando sem parar, atirando cada vez mais informações em cima de si, sem nem ao menos o dar um segundo para respirar.

Apenas se sentia patético naquele momento e gostaria de um minuto em paz.

Patético por pensar que poderia ser descuidado pelo menos uma vez em sua vida e não sofrer consequência alguma por isso. Àquele ponto, já deveria saber muito bem que pessoas como si, simplesmente nunca podiam ter descuido algum, ainda mais de forma proposital.

Por conta de que quando não era a sociedade que não colaborava, então era o universo. Porque esses dois o odiavam no mesmo nível.

Não tinha a mínima ideia do que deveria fazer, de qual seria a próxima atitude a tomar após receber aquela notícia. Qualquer plano que tivesse simplesmente evaporou de sua cabeça. Se sentia tomado pelo desespero e sua mente não era capaz de se focar em mais nada além do fato de que tinha um… uma coisa dentro de si, que vinha o fazendo se sentir um verdadeiro pó de tão acabado, e ainda por cima também sugava todos os já poucos nutrientes que tinha.

— Sendo sincero, é fascinante que até agora você não tenha acabado sofrendo um aborto espontâneo. Já é mais propenso a isso do que a maioria, por conta de ser em parte beta, e ainda com todas essas complicações… uau, é impressionante de verdade. — O doutor disse sem a menor sensibilidade, envolto por todo o seu fascínio científico.

— Isso não é algo muito ético de se dizer, não acha? — Jinyoung enfim interrompeu o falatório sem fim do médico, parecendo capaz de avançar nele, devido à sua irritação momentânea.

Youngjae ficou extremamente grato por isso, porque já estava começando a ficar zonzo ouvindo tanta coisa. Não tinha certeza se havia chegado a compreender ao menos metade das informações que lhe tinham sido passadas.

Aborto espontâneo? Não sabia como deveria se sentir sobre aquilo, porque ainda nem sabia como estava se sentindo em relação à gravidez descoberta dois ou três minutos antes.

Era tudo um completo furacão de sentimentos e pensamentos. A única, realmente única coisa naquele mundo que queria que não acontecesse, tinha acabado acontecendo.

Estava totalmente arrasado, no mínimo.

— A-ah, sim, sim. Perdão, senhor Choi, pela minha insensibilidade. — O médico imediatamente voltou aos eixos diante do pronunciamento de Jinyoung. Sendo um beta, não era louco de mexer com o temperamento de um alfa lúpus.

Youngjae não respondeu nada, apesar de querer. Era como se estivesse completamente envolto por uma névoa de tristeza, quase como um estupor. Sua mente simplesmente não era capaz de produzir qualquer resposta verbal naquele momento.

Ao não receber resposta alguma do Choi, o doutor continuou.

— Hm… bom, de qualquer forma, eu preciso saber como você deseja prosseguir em relação à gravidez. Quer começar a fazer um acompanhamento pré-natal ou quer um encaminhamento para um aborto?

Youngjae se sentiu ainda mais zonzo ao ter aquela pergunta direcionada a si.

— Jae… o que você quer fazer, hm? Sabe que independente da decisão que tomar, vamos te apoiar, não é? — Jinyoung disse diante da falta de resposta do amigo, passando a mão pelas costas do híbrido num leve carinho.

Sabia que havia insistido muito para Youngjae aceitar logo a ideia de que estava grávido, mas isso passava bem longe de esperar que o Choi fosse prosseguir com a gestação. Na verdade, queria que ele descobrisse logo, justamente para ter o maior tempo possível para decidir que atitude iria querer tomar em relação ao assunto.

— É, Jae. Independente de qualquer decisão… — Yugyeom enfim se pronunciou, reforçando as palavras do Park.

O Choi era extremamente grato por todo o apoio dos dois, mas gostaria que entendessem que não tinha como tomar qualquer decisão em um momento em que sua mente não funcionava de forma alguma.

— Eu acho que ele ainda não está preparado para fazer essa escolha, doutor. — Jinyoung acabou por se pronunciar pelo amigo, diante da ainda falta de resposta dele.

O médico olhou para Youngjae por alguns segundos, o analisando antes de voltar a falar.

— Tudo bem, essa decisão pode ser tomada depois. — Disse, ainda olhando para o Choi. — Mas você não parece nem um pouco feliz com a notícia, então quando terminar de absorver a informação, já sei que decisão vai tomar, portanto tenho algo aqui do seu interesse. — O médico remexeu em um de seus bolsos, fazendo Youngjae perceber os folhetos de diferentes cores, então muito provavelmente de diferentes assuntos, que haviam ali.

O Choi se perguntou que tipo de médico carregava tantos folhetos, mas não teve muito tempo para pensar sobre o questionamento, pois o doutor Lee logo o estendeu um folheto azul.

— Essa é uma das melhores clínicas de aborto em Seul, você vai receber o melhor tratamento possível lá.

Youngjae encarou o panfleto por diversos segundos até lentamente estender a mão e pegá-lo. Reparou em como os diferentes tons de azul do papel eram realmente bonitos, mas nada além disso.

Desde quando os lobos haviam assumido o controle do mundo, o procedimento de aborto havia se tornado legalizado em todos os países, tanto para os próprios lobos como também para as mulheres humanas. E mesmo que a sociedade ainda fosse muito retrógrada em diversos assuntos, ninguém tinha a coragem de se opor àquilo, pois aquela legalização em volta do globo terrestre havia acontecido em respeito e apoio a todos os ômegas que haviam sido vítimas de estrupo durante a guerra entre lobos e humanos. E aquele simplesmente era um tópico sensível demais para se mexer com tanta facilidade assim.

— Bom, deixe-me prescrever a sua receita para você ser liberado logo. — O doutor continuou falando após mais uma vez não obter qualquer palavra vinda do Choi. Em meio à toda papelada que tinha em sua prancheta, retirou um receituário médico, começando a escrever com a caneta que já estava pendurada em seu bolso superior. — Estou botando aqui todos os suplementos vitamínicos que você vai precisar tomar. Durante a primeira semana, vai tomá-los de quatorze em quatorze horas e depois disso vai continuar os tomando por mais duas semanas, mas apenas à cada vinte e quatro horas. Não é obrigatório tomar todos de uma vez só, mas eu sugiro que faça isso, porque são diversos suplementos e você pode acabar se confundindo se tomar cada um em um horário diferente. — O médico falava enquanto escrevia.

Youngjae agradecia por ele estar escrevendo todas as informações essenciais, porque sua mente não estava sendo capaz de se prender à nada do que lhe estava sendo falado.

— É importante que não conte apenas com os suplementos e se alimente bem, procurando sempre pelas maiores fontes de vitaminas possíveis, ainda mais do ferro. Também seria muito bom que tomasse sol por pelo menos quinze minutos por dia, já que é uma fonte a mais da vitamina D. Vou botar aqui o nome de algumas bebidas isotônicas também, caso tenha interesse. E por último… — O doutor mais uma vez remexeu em seus papéis, procurando por algo, até enfim pegar uma folha parcialmente digitada, tendo alguns espaços para serem preenchidos. — Um atestado de uma semana e meia. Imagino que sendo um trainee, não vai querer parar de treinar, mas espero que entenda o quanto o seu corpo precisa desse descanso. Então, nada de continuar seguindo uma rotina maluca também, você precisa dormir oito horas por noite e ter uma boa alimentação, se não vai acabar não descansando da forma como precisa.

Youngjae achava que uma semana e meia era tempo demais, mas também, não via muito sentido em se preocupar com aquilo naquele momento. Na realidade, não via sentido em coisa alguma, tudo estava muito desconexo e enevoado dentro de sua mente.

O médico carimbou os papéis e então os deu para Jinyoung, achando que o Park daria mais aproveitamento a eles do que o híbrido, que prosseguia quase tão imóvel como uma estátua.

— Bom, é isso, você está liberado, senhor Choi. Marque uma consulta com um dos clínicos gerais do hospital daqui a três semanas. Se fizer tudo direitinho, é possível que a avitaminose diminua de grau ou até mesmo suma até lá e você possa parar de tomar tantos suplementos vitamínicos. Com sorte, a sua anemia também pode se curar ou ao menos chegar perto disso daqui a esse tempo. Realmente espero que você melhore. Tenham uma boa tarde. — Após se despedir, o médico saiu dali com a exata mesma leveza que havia entrado.

Youngjae ficou olhando para a cortina pela qual o doutor havia saído, por longos segundos. A única coisa que conseguia pensar era em como a cor do material era quase igual à uma das do panfleto que havia recebido. Em um ato automático, seus olhos acabaram se direcionando para o objeto com variados tons de azul.

A névoa que o envolvia enfim parecia se dissipar, e por conta disso, sentia um aperto crescente em seu coração, uma angústia da qual não poderia escapar para sempre. Sentiu algo molhar seu rosto, e apesar de não ter a mínima ideia do que poderia ser, não deu muita atenção àquilo.

— Não chora, Jae, por favor. — Jinyoung pediu, parecendo estar num enorme sofrimento apenas por ver o amigo daquela forma.

Youngjae olhou para o Park, arregalando os olhos por um segundo. Não havia percebido que o que tinha molhado seu rosto havia sido uma lágrima sua.

As palavras do lúpus pareceram ter o efeito exatamente contrário ao pretendido, pois no segundo seguinte o Choi começou a chorar de verdade, se virando completamente para o amigo e envolvendo os braços em torno dele, enquanto derramava grossas lágrimas que vinham cada vez mais rápido.

Jinyoung correspondeu o abraço de imediato, apertando o híbrido em seus braços, ainda que de uma forma cuidadosa. O Choi estava em busca de algum conforto, e aquilo era verdadeiramente a única coisa que o Park poderia oferecer para ele naquele momento.

Realmente, por mais que o lúpus quisesse, não tinha a capacidade de proteger seu amigo de absolutamente tudo naquele mundo.

— Shhh… Vai ficar tudo bem, eu prometo. — O Park sussurrou para o híbrido, enquanto ele se desmanchava em lágrimas nos seus braços, tremendo e soluçando.

De forma um pouco desajeitada, Yugyeom se aproximou dos dois, começando a passar a mão pelas costas de Youngjae lenta e repetidamente, como a única forma de apoio que poderia oferecer naquele momento. Era simplesmente agonizante ver o Choi, sua fonte de alegria diária, chorando daquela forma, e não ser capaz de fazer nada por ele.

Por isso, focou sua total atenção no híbrido, achando que era o mínimo que poderia fazer e quase fingindo que Jinyoung não estava ali. Ignorou todos os curtos e periódicos espaços de segundos em que tinha sentido o olhar do Park sobre si, e até mesmo o mínimo contato que acabaram tendo quando sua mão acabou resvalando sobre a do lúpus sem querer. Não havia sido muito difícil fazer aquilo quando estava envolto por uma grossa camada de agonia e preocupação.

Enquanto isso, Youngjae continuava chorando sem a menor previsão de parar, jurando por tudo que era até mesmo capaz de sentir o seu coração se despedaçando de forma física, tamanha era a sua dor.

Preferia muito mais o momento de minutos antes, quando ainda estava envolto por toda aquela névoa que o fazia não ser capaz de pensar muito.

Definitivamente, era bem menos doloroso.

✩✩☼✩✩

Youngjae se sentia quase desconectado do próprio corpo enquanto via a paisagem de Seul passando na frente de seus olhos em um ritmo levemente rápido. Mesmo não estando mais dentro daquele estupor que a tristeza havia construído em volta de si, ainda estava tendo um pouco de dificuldade para assimilar a situação toda em que estava.

Sua cabeça doía após ter passado longos minutos chorando, agarrado a Jinyoung. Se sentia meio culpado por ter sido o Park quem tinha resolvido tudo no hospital, e ainda por cima ele ter gastado o próprio dinheiro comprando tudo que o médico havia lhe receitado, incluindo até as bebidas isotônicas.

A sacola com tudo que o lúpus tinha comprado estava no banco de trás, junto com a mochila de Youngjae, e o próprio Choi, além de Yugyeom. O Kim estava ao lado do híbrido, em silêncio porque entendia que ele não queria conversar, mas segurando a mão dele para dizer que estava ali, o apoiando.

Youngjae se sentia grato por aquilo, mesmo que não o fizesse se sentir muito melhor.

Direcionando seu olhar para dentro do carro, aleatoriamente acabou olhando para o retrovisor, encontrando o olhar de Jinyoung, que logo desfez o contato visual.

Suspirou. O Park estava o lançando olhares de tempos em tempos através do retrovisor, como se estivesse lhe verificando. Era quase como se pensasse que a qualquer momento fosse ser tomado pela loucura e então resolver se atirar pela janela do carro.

O Choi suspirou mais uma vez, porque imaginava que a sua aparência completamente acabada somada com a sua expressão nem um pouco boa, deveria passar exatamente aquela mensagem. Sinceramente, desconfiava que talvez realmente estivesse bastante perto de enlouquecer, ter um surto psicótico ou algo do tipo.

Era estranho demais pensar que estava carregando uma mistura de células suas e de Jaebeom dentro de si. Ao mesmo tempo que também era desesperador.

Principalmente porque ainda não conseguia pensar sobre o que faria em relação àquilo.

Bom, contar para o Im sem dúvida não era uma opção, e ficar com… aquela coisa, também não. Mas não era como se isso realmente tornasse as coisas claras, porque Youngjae ainda tinha inúmeras dúvidas e preocupações percorrendo sua mente.

No geral, apenas sabia que se arrependia amarguradamente do momento em que havia botado seus olhos sobre Jaebeom naquela festa, de quando havia se deixado levar por toda a beleza e carisma dele, e principalmente por ter aceitado a horrível ideia de ter transado sem camisinha.

Apesar de que também, sem dúvida alguma o universo deveria odiá-lo imensamente para justo na primeira vez em que havia resolvido se arriscar, ter aquela catástrofe toda como resultado.

Cansado de se martirizar tanto, resolveu olhar para Yugyeom. O fato de que o Kim iria voltar para casa consigo apenas para ter certeza de que ficaria bem, e depois teria todo o trabalho de pegar um ônibus para voltar para a própria moradia, o fazia se sentir culpado.

Não queria que seus amigos gastassem tanta energia consigo, muito menos que se preocupassem tanto como estavam se preocupando.

Ainda mais que Yugyeom morava em um dos dormitórios que a JG oferecia. Apesar do K-Pop continuar com praticamente cem por cento das características que tinha antes de toda a guerra entre lobos e humanos acontecer, uma das pouquíssimas coisas que haviam mudado, era o fato de que trainees não eram mais obrigados a viver em um dormitório, a não ser que: morassem muito longe de suas empresas ou então não tivessem dinheiro o suficiente para bancar sua própria casa, comida e etc.

Por conta disso, inúmeros trainees ainda eram submetidos àquela opção, o que resultava por vezes em um único dormitório sendo ocupado por quinze trainees ou quase isso. O que era muito para um lugar que não era exatamente super grande, e além disso, todos que acabavam seguindo aquela escolha ficavam muito mais propensos às exigências da empresa, o que resultava numa rotina de alimentação extremamente restrita e intervalos de tempo para dormir menores ainda do que os demais.

Por isso, Youngjae realmente gostaria que Yugyeom não gastasse a reserva limitada de energia que tinha, consigo. Ele acabaria ficando mais cansado do que o normal no dia seguinte, daquela forma. E apesar do Choi não se sentir nem um pouco contente com aquilo, sabia que não adiantaria nada expressar o seu descontentamento naquele momento, quando já estavam há apenas uns cinco minutos de seu apartamento.

Quando o carro de Jinyoung entrou no estacionamento do prédio, Youngjae já era capaz de sentir que estava começando a se despedaçar novamente, mas daquela vez não parecia que iria realmente parar. Talvez se despedaçasse tanto ao ponto de quase virar pó.

Aquilo seria bom em sua visão. Se tornar algo inerte e sem vida não lhe parecia tão ruim quando já se sentia daquela forma. E além disso havia a vantagem de que simplesmente não sentiria mais coisa alguma.

Nem pensaria mais em Jaebeom, que era um dos principais assuntos que tomavam conta da sua mente naquele momento.

Quando Jinyoung terminou de estacionar, ele e Yugyeom logo saíram do carro, o Kim levando a sacola com todos os seus medicamentos e também a mochila, pendurada por uma alça em um de seus ombros. Youngjae demorou alguns segundos a mais, porque sentia como se o seu corpo pesasse muitíssimo mais do que poucas horas antes.

Dentro daquele curto intervalo de tempo, assistiu Jinyoung se aproximar de Yugyeom, e supôs que ele se ofereceu para levar a mochila, pois após uma curta frase, o Kim acabou passando o objeto para ele, murmurando algo que o Choi teve certeza de que era um obrigado.

Notou a forma como o beta corou levemente, mas aquele fato logo se desprendeu de sua mente.

Quando enfim saiu, sentindo um frio congelante atravessar todo o seu corpo, notou que o céu já não estava nem um pouco claro como antes, indicando que dali a menos de uma hora tudo já estaria completamente escuro. Não que aquilo indicasse que estava tarde, afinal estavam no inverno, então deveria ser apenas umas cinco horas da tarde.

O caminho até a entrada do prédio foi tão silenciosa quanto a viagem de carro. Até a atenção de Youngjae ser pega por algo extremamente pequeno e branco descendo, talvez do céu, até o chão, e poucos segundos depois derretendo. O Choi imediatamente parou, atraindo a atenção dos outros dois.

Em um gesto automático, quase como uma criança, colocou a palma da mão para cima. Em poucos segundos, a mesma coisa que havia caído sobre o chão, caiu sobre sua mão. Um floco de neve. Que derreteu logo em seguida.

— Jae? Você está bem? ‘Tá sentindo dor em algum lugar? O que… — Jinyoung exibia uma feição completamente preocupada, idêntica à de Yugyeom.

— ´Tá nevando… — O Choi murmurou, interrompendo Jinyoung e assistindo mais um floco de neve se depositar em sua mão para logo depois derreter.

— O que…? — Toda a agitação do Park desapareceu e ele franziu o cenho.

— ‘Tá nevando. — Youngjae repetiu, daquela vez de uma forma um pouco mais audível.

Jinyoung ficou olhando para o amigo por alguns segundos antes de olhar para o céu. Yugyeom o imitou poucos segundos depois.

— É, tá mesmo… — O Park disse.

Youngjae acabou olhando para cima também, vendo a maravilha de poucos e dispersos flocos de neve caindo.

Desde quando era criança, simplesmente tinha um fascínio pela neve, porque parecia haver algo mágico no formato que os flocos de neve tinham e na forma como as ruas ficavam tomadas pelo mais puro e fofo branco. Às vezes chegava a passar quase uma hora em frente à janela, apenas vendo a neve cair enquanto tomava um chocolate quente. Seus natais preferidos sempre eram os que tinham neve.

O curioso é que fazia uns três ou quatro anos desde a última vez que haviam tido um natal com neve. Bom, os flocos de neve ainda caíam de forma muito escassa, mas se o ritmo aumentasse um pouco, então dali a três dias já poderia ter uma boa cobertura de neve pela cidade. Exatamente o tipo de natal que adorava.

Aquilo parecia um pouco irônico para Youngjae. Estava passando sem dúvida alguma pela pior fase de sua vida, e ao mesmo tempo uma das suas coisas favoritas no mundo todo estava prestes a acontecer?

O que era aquilo? Um agradinho do universo após o fazer sofrer tanto ou apenas uma piada com a sua cara?

— É melhor entrarmos, Jae. Você não está agasalhado o suficiente para ficar aqui na neve. — Jinyoung cortou seus pensamentos, passando o braço pelos seus ombros e o conduzindo até a entrada do prédio.

Adentraram o prédio e foram em direção ao elevador em completo silêncio. Dentro da caixa metálica, com apenas os três lá dentro, havia sido um pouquinho incômodo aquele silêncio todo, mas em poucos segundos já estavam no terceiro andar.

Youngjae caminhou um pouco mais rápido, incentivado pelo pensamento de que estava a meros passos do conforto de sua moradia, e apenas esperou Jinyoung abrir a porta para entrar.

O Choi foi bastante rápido em caminhar até a sala, enfim se jogando no sofá e soltando um alto suspiro. Tudo o que conseguia pensar era que estava completamente acabado. Aquele pensamento se repetia em sua mente de novo e de novo e de novo, sem parar, como um disco arranhado.

Mesmo que sua mente ainda não conseguisse trabalhar de forma objetiva para tomar a decisão do que fazer, simplesmente sabia que as coisas jamais voltariam a ser da forma como eram antes de saber… De receber a terrível notícia. E aquilo o destruía de forma ainda mais rápida.

Yugyeom e Jinyoung logo apareceram em seu campo de visão, não carregando mais coisa alguma, o que fez o Choi concluir que haviam deixado sua mochila e a sacola com os remédios em cima da mesa da cozinha.

O Kim logo se sentou ao seu lado, enquanto o Park se abaixou na sua frente, ficando de cócoras.

— Você tá bem, Jae? Quer alguma coisa? — Yugyeom perguntou, e o Choi teve que se controlar para não explodir em lágrimas mais uma vez ao ouvir a primeira pergunta.

Estava tão aprofundado num misto de sentimentos negativos que chegava a sentir que nunca mais seria capaz de dizer “sim” àquele simples questionamento. E aquilo deixava tudo ainda mais desesperador, como se tivesse entrado num buraco obscuro do qual jamais seria capaz de sair.

— Quer que eu faça alguma coisa especial pro jantar, hm? Tem um monte de comida em casa, posso fazer qualquer coisa que você quiser. — Jinyoung disse, em um tom bastante delicado, envolvendo uma de suas mãos com duas dele e fazendo um leve carinho nela.

— Eu não quero comer… — Youngjae disse numa fraca voz. Mesmo que já estivesse há dias sem comer, simplesmente não sentia o menor resquício de fome naquele momento.

— E qual foi a última vez que você comeu? — Jinyoung tentou perguntar num tom ameno. Não podia se irritar com o Choi naquele momento.

A única resposta de Youngjae foi dar de ombros, porque sabia que a verdade não seria nem um pouco bem recebida.

Jinyoung suspirou. Era possível cuidar de alguém que simplesmente não se importava consigo mesmo?

— Youngjae, você não pode ficar longos períodos de tempo sem comer. Você ‘tá fraco demais pra isso.

— Jae… não precisa comer muito se não quiser… mas pelo menos um prato de sopa ou algo do tipo, hm? — Yugyeom se pronunciou, tentando ser de alguma ajuda.

— Pra que? Pra eu vomitar logo em seguida? — O Choi tinha um tom um pouco irritado.

— Uma hora alguma coisa vai ter que parar no seu estômago… — Jinyoung disse, no mesmo tom de anteriormente.

Youngjae suspirou ao ver que estava começando a se irritar apenas porque seus amigos estavam se preocupando consigo. Talvez não estivesse em um bom momento para conversar com qualquer pessoa.

— Tá… Vou comer depois… Pode fazer qualquer coisa, Jiny… — Youngjae não sabia se realmente iria, mas talvez aquelas palavras fossem satisfazer seus amigos por aquele momento.

O Park apenas acenou positivamente com a cabeça. O híbrido suspirou.

— ‘Tô cansado, vou me deitar. — Foi a única coisa que disse enquanto se desvencilhava de seus amigos, logo depois indo em direção à porta de seu quarto e entrando nele.

Yugyeom suspirou, se sentindo um completo inútil por não ter nada ao seu alcance que pudesse fazer para ajudar o amigo. Jinyoung ao menos havia comprado as coisas que o Choi precisava e ainda iria cuidar dele em casa. O Kim se perguntava que serventia havia tido ou poderia chegar a ter naquilo tudo. Duvidava bastante de que alguma.

Se soubesse que o envolvimento que Youngjae havia tido com Jaebeom iria resultar naquela tristeza toda do Choi, teria dito alguma coisa um mês antes, enquanto Jinyoung e Taehyung convenciam o híbrido de ficar com o Im. Qualquer coisa que convencesse o amigo de não fazer aquilo.

Bom, mas não era como se pensar sobre aquilo fosse fazer qualquer diferença.

Jinyoung acabou por se levantar e logo em seguida sentar ao seu lado, imediatamente o fazendo ficar um pouco nervoso, porque aquela era a maior proximidade que tinham desde que haviam se conhecido.

Não haviam conversado muito no espaço de tempo em que tinham ficado esperando Youngjae acordar. Na realidade, haviam trocado poucas frases, e todas elas exclusivamente sobre o Choi. Então, o Kim ainda continuava na mesma, se sentindo extremamente tímido e até mesmo intimidado perto do alfa.

— Ele precisa de um tempo… mas vai ficar bem. Sei que vai. — Jinyoung disse, consolando Yugyeom e ele próprio.

— Eu espero que sim… Queria poder fazer mais por ele... — O Kim disse quase em um sussurro, porque sentia que se falasse mais alto do que aquilo, poderia acabar gaguejando.

Ainda se lembrava da sua pergunta que havia ficado sem resposta um bom tempo antes, na festa, poucas horas após terem se conhecido. Jinyoung havia falado que seus instintos tinham ficado meio confusos ao seu redor, e quando tinha perguntando o que aquilo significava, Taehyung havia chegado bem na hora.

Depois daquilo nunca mais haviam se falado, até aquele momento. Não sabia qual seria a próxima vez que falaria com Jinyoung, então talvez devesse aproveitar aquela oportunidade para fazer sua pergunta mais uma vez.

Mas logo espantou aquele pensamento para longe, porque aquele estava longe de ser um momento propício para aquilo.

— Você já faz muito por ele. Acredite em mim. — Em um gesto quase automático, Jinyoung botou sua mão sobre a de Yugyeom. Deu um pequeno sorriso, tentando consolar, enquanto depositou um pequeno aperto sobre a mão do Kim.

O beta se sentiu completamente estúpido ao sentir um calor anormal tomar conta de seu rosto. Seu coração duplicou os batimentos e sua garganta de repente parecia seca demais.

Tudo aquilo, com que nunca havia lidado antes, era simplesmente demais para si.

Rapidamente se levantou do sofá, surpreendendo um pouco Jinyoung pelo movimento repentino.

— E-eu tenho que ir. ‘T-Tá ficando tarde. — Sem dúvida alguma o Park era capaz de perceber o quão vermelho estava, e aquele pensamento fez Yugyeom se sentir mais envergonhado ainda.

Já havia se certificado de que Youngjae ficaria bem — ao menos fisicamente —, então não tinha mais motivos para continuar ali. O Choi não parecia nem um pouco a fim de ter qualquer pessoa por perto, então achava melhor nem se despedir. Em outro momento falaria melhor com ele.

— Já? Não quer ficar pra jantar? — Jinyoung acabou se levantando do sofá também. Via o quão vermelho Yugyeom estava, mas não era capaz de se apegar muito àquele fato. Achava que ele mais uma vez não queria ficar perto de si. Porque não gostava da sua companhia, muito menos da sua pessoa.

E aquele pensamento o deixava meio chateado.

— Ah, n-não, não, eu tenho que pegar ônibus e… s-sabe como é, eles nem s-sempre seguem os horários. — Yugyeom gritava internamente para parar de gaguejar e começar a se comportar como um ser humano normal, que era capaz de conversar.

— Mas se esse é o problema eu posso te levar pra casa depois, não tem problema.

Apenas a ideia de ficar mais uma vez sozinho com Jinyoung dentro do carro dele, fez Yugyeom querer que um buraco surgisse no chão, para poder se enfiar. Ainda se lembrava muito bem da última — e primeira — vez que aquilo tinha acontecido. Não iria aguentar passar por todo aquele nervosismo e tensão mais uma vez.

— Ah, n-não. Eu preciso voltar realmente cedo hoje, tenho um monte de coisa pra fazer. — Yugyeom tentou fazer suas palavras parecerem o mais verdadeiras possível.

Jinyoung entendeu que o Kim apenas queria se livrar da sua companhia o mais rápido possível e então parou de insistir.

— Tá, tudo bem então… Deixe que eu te leve até a porta, pelo menos. — O Park já começava a andar na direção da entrada do apartamento, sendo seguido por Yugyeom.

Quando abriu a porta, pôde ver um certo alívio no rosto do Kim, enquanto ele saía de dentro do apartamento e entrava no corredor. Uau, o beta o odiava tanto assim?

— Tchau, então… — A voz de Yugyeom era quase um sussurro.

— Tchau… — Jinyoung pensou em oferecer mais uma vez a opção do Kim ficar para o jantar, mas logo dispensou essa ideia. Por que queria tanto que Yugyeom continuasse ali, afinal?

O beta não se demorou em virar as costas e caminhar pelo corredor, até alcançar o elevador. Jinyoung fechou a porta do apartamento apenas quando viu Yugyeom entrando na peça de metal.

Se certificando de trancar muito bem a porta, o Park pensava sobre o porquê Yugyeom não gostava de si. Quer dizer, um mês antes ele havia o dito que apenas se sentia diferente ao seu redor, mas aquilo já fazia muito tempo.

Um mês era mais do que o suficiente para descobrir um ódio por alguém.

Suspirou, resolvendo parar de pensar sobre aquilo. Gostaria de se dar bem com o único outro amigo de Youngjae, mas se ele não queria o mesmo, então não era como se pudesse fazer qualquer coisa a respeito.

Foi em direção à sacola de coisas que havia comprado para Youngjae e pegou uma bebida isotônica. Já havia entendido que ele não queria conversar, mas tinha que ao menos tentar hidratá-lo.

Com cautela, foi caminhando até o quarto do Choi, e com mais cautela ainda, abriu a porta devagar. Seu coração se despedaçou completamente ao encontrar Youngjae deitado, chorando mais uma vez, os dedos apertando o travesseiro com força como uma forma de aliviar sua agonia.

— Jae… — Jinyoung tinha a voz cheia de lamúria.

— J-Jiny, v-você pode me a-abraçar, por f-favor? — Youngjae pediu aos soluços.

Sentindo seu coração se afundar cada vez mais dentro do peito, Jinyoung deixou a bebida na mesa de cabeceira, suspirando. Em um curto e rápido movimento, estava atrás de Youngjae, completamente colado à ele enquanto o abraçava.

— Você sabe que eu posso fazer qualquer coisa que você queira que eu faça, não é? Se quiser levar isso adiante, eu posso ser o melhor tio de todos. Agora, se não quiser prosseguir com isso, pode contar comigo pra te acompanhar no… sabe… procedimento, e te dar todos os cuidados físicos e mentais possíveis depois. — Jinyoung tentava falar com delicadeza, não querendo que Youngjae chorasse mais ainda.

Não estava exigindo nenhuma rápida tomada de decisão, apenas estava querendo mostrar que o Choi não estava sozinho naquilo tudo.

Youngjae se virou nos braços do Park, ficando de frente para ele.

— E-eu não quero p-pensar nisso agora… — Ainda soluçava, sentindo algumas lágrimas molhando seu travesseiro. Apesar de se sentir confortado pela ideia de Jinyoung fazer qualquer coisa que pedisse, não queria refletir sobre as possibilidades que ele havia levantado.

— Tudo bem, sem pressa. Apenas queria dizer que estou aqui, pronto pra tudo. — Jinyoung passou a mão pelo rosto do Choi numa tentativa de secar as lágrimas dele. Não que aquele ato tivesse sido de muita eficácia, pois Youngjae simplesmente não parava de chorar.

Aquilo preocupava um pouco Jinyoung, pois chorar tanto daquela forma poderia fazer Youngjae ficar mais desidratado ainda. Poderia até falar aquilo pra ele, mas não achava que resolveria qualquer coisa.

— Obrigado, e-eu não te m-mereço. — E então o híbrido explodiu em uma corrente de lágrimas mais intensa ainda.

— Shh… Não fala uma coisa dessas. Não me merece só se for porque merece um melhor amigo muito melhor. — O Choi apenas balançou a cabeça negativamente, provavelmente com medo de chorar mais ainda se falasse qualquer coisa.

Jinyoung depositou um beijo na testa dele, em seguida nas bochechas, sentindo o leve salgado das lágrimas, na pontinha do nariz e por último na boca, o que não representava nada mais do que uma demonstração de carinho, mesmo que a maioria dos amigos não costumassem fazer aquilo.

O híbrido não disse nada e apenas se colou completamente no corpo do amigo, o apertando firme contra si, tentando encontrar algum conforto. Jinyoung correspondeu o aperto, ainda que de forma mais leve.

Por fim, acabou fazendo um cafuné em Youngjae, enquanto tentava o distrair com diversos assuntos e ele chorava na curva de seu pescoço. Por um longo tempo.

✩✩☼✩✩

Dois dias.

Esse era o tempo que fazia desde que Youngjae havia entrado em um ciclo de dormir, acordar, chorar e então dormir de novo. Seu corpo estava a apenas um passo de se tornar um só com a cama, e sinceramente, talvez até gostaria disso.

Ser um móvel lhe parecia muito mais interessante do que ser uma pessoa, principalmente uma tão azarada e odiada pelo universo.

Suspirou, se virando na cama pela centésima vez e encarando o teto de seu quarto. Yugyeom havia levado o seu atestado médico para a JG, e surpreendentemente, a empresa tinha resolvido seguir as recomendações médicas, o que significava que poderia não aparecer por lá por uma semana e meia e ainda assim não ser prejudicado por isso. Consequentemente também significava que ainda tinha mais uma semana e um ou dois dias pela frente, para não fazer nada mais além de ficar em casa.

E não tinha a mínima ideia de como se sentia em relação àquilo, pois tudo em sua vida parecia ter saído fora dos eixos e já não era mais capaz de distinguir nada corretamente. Era como se estivesse infinitamente caindo num buraco sem fim, e simplesmente não fosse capaz de se agarrar à coisa alguma, enquanto via todo o pouco que havia construído até ali, se quebrando em sua frente de novo e de novo e de novo.

Achava que uma das maiores provas de que estava completamente desorientado, era que o CEO da JG, havia se dado ao trabalho de o ligar algumas vezes, e ainda assim, simplesmente não tinha o atendido em nenhuma delas. Apesar de que também, tinha uma ideia do porquê da ligação.

Ver uma ambulância em frente à JG, e uma pessoa saindo carregada de dentro da empresa para dentro do veículo, era algo que nunca havia acontecido antes, então obviamente a mídia estava anunciando aquilo como um enorme acontecimento e fazendo diversas especulações, afinal sem dúvida o que não havia faltado na ocasião tinha sido gente para filmar e fotografar a coisa toda, mesmo que de uma certa distância. E sinceramente, se Youngjae iria receber um sermão ou algo do tipo por ter desmaiado, que era algo completamente fora de seu controle, então preferia simplesmente não atender.

Sabia que fazendo aquilo, poderia dificultar um pouco as coisas para o seu lado, mas o buraco infinito em que se sentia caindo, não o fazia ver uma grande gravidade naquilo.

Se virou na cama novamente, daquela vez se esticando até conseguir olhar para a janela de seu quarto, que ficava a uma boa distância de sua cama. A neve caía espessa lá fora, e em uma das raras vezes em que havia se levantado, tinha visto através da janela que uma boa camada do conteúdo impecavelmente branco e fofo, já se encontrava cobrindo a cidade.

O natal já seria no dia seguinte, então realmente a data seria comemorada em meio à uma bela quantidade de neve. Exatamente do jeito que Youngjae amava e admirava.

Porém pensar na data comemorativa naquele momento fez o Choi se sentir agoniado, porque não tinha a mínima ideia de como encontraria forças para sair da cama e fingir felicidade por um dia inteiro, junto de sua família. Mas também, sabia que se não comparecesse na celebração, levantaria diversas dúvidas e consequentemente acabaria atraindo muita atenção para si mesmo, que era justamente tudo o que não queria naquele momento.

Bom, teria que dar um jeito.

Sem que pretendesse, seus pensamentos acabaram se voltando para Jaebeom ao pensar que o natal estava a apenas um dia de distância, e o fim do ano, a apenas uma semana. Imaginava que o Im deveria estar mais ocupado do que nunca por conta disso, então se perguntava se ele teria sido capaz de dar a sua falta.

Se tivesse, Youngjae simplesmente jamais saberia, pois Jaebeom havia lhe dado o número dele, porém não tinha pegado o seu, o que significava que não tinha como lhe ligar, e até poderia saber em qual prédio morava, mas não tinha a mínima ideia de em qual apartamento, e o Choi achava que bater de porta em porta em todos os andares, até chegar no terceiro, era um trabalho e tanto que ninguém seria louco o suficiente de fazer.

Então, estava completamente incomunicável para o alfa. Não que pretendesse ou quisesse voltar a falar com o Im, de qualquer forma. Estava se questionando sobre ele apenas por mera curiosidade.

Seus pensamentos foram interrompidos ao ser capaz de ouvir uma batida delicada na porta de entrada do apartamento, segundos depois a peça de madeira sendo aberta, e em seguida coisas como “Como ele está?” “Já comeu alguma coisa?” “Sei que ele vai ficar bem logo” e toda essa baboseira.

Pouco tempo depois, Taehyung adentrou o seu quarto.

Ah sim, ele havia descoberto a coisa toda.

Poderiam não se ver em pessoa tanto quanto gostariam, mas sempre trocavam mensagens ao menos uma vez ao dia, então, como o Choi não havia o mandado mensagem alguma no dia em que tinha desmaiado, Taehyung havia aparecido no apartamento extremamente cedo logo no dia sucedente à tudo, com uma feição de enorme preocupação e já disparando cem perguntas diferentes sobre o que tinha acontecido. Ele realmente era um irmão mais velho muito protetor.

Youngjae não tinha se sentido capaz de dizer muita coisa na ocasião, porém havia deixado que Jinyoung contasse tudo, porque àquele ponto não era como se tivesse qualquer coisa a perder.

Surpreendentemente, Taehyung havia sido bastante compreensivo com toda a situação, ao invés de lhe passar algum sermão, que era o que esperava. Bom, desconfiava que talvez seu rosto mostrasse que se alguém brigasse consigo naquele momento, simplesmente iria se partir em mil pedacinhos, como um boneco de porcelana ao cair no chão.

Taehyung se aproximou de sua cama lentamente, e mais lentamente ainda se deitou nela, logo em sua frente. Poderia até tentar disfarçar, porém parecia tão preocupado quanto no dia anterior.

— Você está levemente menos pálido hoje... — Observou, enquanto afastava alguns fios de cabelo dos olhos de seu irmão.

— Jinyoung me obrigou a tomar sol ontem de tarde… Talvez seja por isso... — Youngjae murmurou, irracionalmente irritado por imaginar que o Park faria exatamente a mesma coisa naquele dia. Quando havia falado “obrigou” não estava exagerando em absolutamente nada, seu amigo havia lhe pegado no colo contra à sua vontade e o levado para a varanda do apartamento, onde batia uma enorme quantidade de sol durante a tarde, mesmo durante o inverno, e o tinha mantido lá pelo o que sabia que havia sido no mínimo quinze minutos. O lúpus estava seguindo todas as recomendações médicas de forma extremamente rigorosa.

— Eu imaginei que tivesse algo a ver com ele. — O Choi mais velho riu soprado. — Ele cuida de você quase como se fosse seu segundo irmão mais velho, mesmo que vocês dois tenham a mesma idade.

Youngjae resmungou algo incompreensível, mas Taehyung imaginou que havia sido alguma reclamação sobre todo o cuidado e preocupação extrema que Jinyoung tinha com ele.

— E como você está se sentindo hoje, hm? Menos enjoado…? Mais disposto…? — O mais velho perguntou, um pouco esperançoso de receber alguma resposta positiva.

— Me sinto da exata mesma forma que ontem. — Youngjae respondeu, jogando um balde de água fria na esperança do irmão.

Taehyung suspirou, porque pela primeira vez em sua vida, não havia realmente muito que poderia fazer por seu irmãozinho. E aquilo era simplesmente agoniante.

— Você não deveria se preocupar tanto comigo, Tae. — Youngjae disse ao perceber o abatimento do mais velho. — Inclusive, vai acabar se atrasando para o trabalho pelo segundo dia seguido se ficar aqui tanto tempo quanto ficou ontem. — Youngjae não tinha uma ideia exata de que horas eram, mas fazia uma suposição, assim como também supunha o tempo que seu irmão levaria na trajetória entre o apartamento e seu trabalho.

— Eu sempre vou me preocupar com você. — Taehyung disse, sério. — E não me importo se eu me atrasar, meu trabalho nunca vai ser mais importante do que o meu irmãozinho mais novo.

Na realidade, Taehyung sempre havia tido o hábito de não se importar com qualquer consequência que suas ações poderiam ter, quando se tratava de seu irmão.

No ensino fundamental, o número de vezes que havia ido parar na diretoria por amedrontar alunos mais novos que si — que faziam a vida de seu irmão um inferno — eram incontáveis, e mesmo durante o ensino médio, tinha sido constantemente repreendido por arranjar briga frequentemente com os alunos da escola de ensino fundamental vizinha.

Quando se tratava de proteger Youngjae, Taehyung simplesmente não enxergava limites.

O Choi abriu a boca, pronto para contestar as palavras recém ditas pelo mais velho, porém no mesmo segundo Jinyoung entrou no quarto.

— Ah, não… — O Choi gemeu ao ver o conjunto colorido de comprimidos que o Park levava em mãos, junto com um copo cheio de água até a borda.

Odiava tomar remédios, vitaminas ou o que quer que fosse em forma de comprimidos. Ainda mais tantos de uma vez só.

— Vamos lá, Jae, é rapidinho, hm? Em menos de um minuto você toma tudo isso aqui. — Jinyoung falava quase como se estivesse tentando convencer uma criança.

Taehyung se sentou na cama, e vendo que não tinha outra escolha, Youngjae acabou por fazer o mesmo, soltando um alto suspiro no processo. Com o espaço livre, Jinyoung se sentou na beirada do colchão, estendendo os comprimidos e a água para o Choi mais novo.

Um pouco relutante, Youngjae tomou um comprimido por vez, tendo medo de se engasgar, por mais infantil que aquilo fosse. Taehyung passava as mãos por suas costas em um gesto de consolo.

Quando enfim terminou, devolveu o copo vazio a Jinyoung.

— Quer comer alguma coisa? — O Park arriscou fazer aquela pergunta pela centésima vez.

E também pela centésima vez, Youngjae acenou negativamente com a cabeça, fazendo Jinyoung suspirar pesadamente. Continuava sem comer absolutamente nada desde o dia anterior ao da briga com o Park — o que significava que naquele dia atual, iria completar cinco dias sem se alimentar —, e por mais que soubesse que aquilo chateava e irritava o alfa ao mesmo tempo, não era como se fosse mudar de atitude tão rápido. Sinceramente, a única coisa que o consolava no meio daquela confusão toda em que estava, era saber que continuava perdendo peso dia após dia.

E também, comer era a única coisa que Jinyoung não podia o obrigar a fazer.

— Jae… — Taehyung disse, em um tom pesaroso, pedindo para o irmão mudar de ideia através daquele simples gesto.

— Tudo bem, não posso te forçar a comer, mas de qualquer forma tem comida na geladeira se você quiser. Espero que se lembre do que o médico disse, de que não adianta nada tomar as vitaminas se não se alimentar direito, e mude de ideia. — Jinyoung tentava falar num tom conformado, mas transparecia uma leve tristeza.

Youngjae apenas desviou os olhos do amigo diante daquelas palavras, não querendo ver o quão chateado ele estava por sua causa. O Park acabou por se levantar da cama poucos segundos depois.

— Tenho que dar uma saída agora, você vai ficar bem sozinho, depois que o hyung ir para o trabalho?

Youngjae voltou a olhar para Jinyoung, o encarando por alguns segundos, porque era um pouco difícil de acreditar que ele de fato o deixaria sozinho, por total conta própria, quando já havia deixado claro diversas vezes que não confiava na sua pessoa para cuidar de si mesmo.

Por fim, apenas acenou positivamente com a cabeça. Ficar completamente sozinho naquele momento, lhe parecia ótimo.

— Posso confiar que vai pelo menos tentar se manter hidratado e vai ir na varanda por no mínimo uns quinze minutos pra tomar sol? — Era quase como se Jinyoung estivesse advertindo uma criança.

Youngjae não tinha certeza se se daria ao trabalho de fazer qualquer coisa que envolvesse sair da cama, mas se falasse a verdade, Jinyoung não sairia de jeito nenhum, e além de querer ficar sozinho, também não queria ficar prendendo o amigo, por isso apenas acabou por responder com um acenar positivo de cabeça mais uma vez.

— Tá… Vou confiar em você por hoje… — Apesar de suas palavras, Jinyoung tinha uma expressão um pouco desconfiada. — Tchau, meus garotos favoritos. — Se apoiou no colchão para depositar um rápido selar na testa de cada um dos irmãos Choi.

— Tchau, Jiny… — Taehyung parecia um pouco apreensivo com a saída do Park, mesmo que não dissesse nada a respeito, porque assim como seu irmão, não queria prender o alfa ali. Além disso, se ele achava que Youngjae era capaz de ficar sozinho, então realmente deveria ser.

Youngjae replicou as palavras do irmão logo em seguida, e então Jinyoung saiu do quarto. Poucos segundos depois, foi possível ouvi-lo sair pela porta da frente.

Os irmãos Choi passaram alguns segundos em silêncio, até que Youngjae depositou a cabeça no ombro de Taehyung, visivelmente desolado, o que parecia estar prestes a se tornar o seu estado natural. O mais velho realmente daria qualquer coisa para saber o que se passava pela cabeça de seu irmãozinho naquele momento.

— Vai comemorar o natal com a gente amanhã…? — Perguntou, quebrando o silêncio. “A gente” obviamente se referia à família dos dois.

— Não é como se eu tivesse outra escolha… — Youngjae respondeu, num tom de voz mais baixo do que o seu normal. — Se eu não ir, nossos pais vão ficar chateados ou preocupados, ou talvez até mesmo os dois.

— Você não é obrigado a nada, Jae. Se quiser, posso dar uma desculpa por você amanhã. — Taehyung deslizou sua mão até agarrar a de Youngjae, a apertando levemente

— Não… eu vou… Quero pelo menos continuar sendo um bom filho.

— Tudo bem… Qualquer coisa que te fizer se sentir melhor…

— Mas não consegui comprar um presente pra ninguém… — Youngjae falou num tom de voz mais baixo ainda. O chateava um pouco que seu dinheiro era tão escasso ao ponto de que não podia fazer muita coisa além de pagar a sua metade no aluguel do apartamento.

— Presentes são o que menos importam, Jae. Você sabe disso.

— Hm… — Youngjae resmungou baixinho. O que iria ficar fazendo enquanto todos estivessem trocando presentes? Não, pior do que isso, o que iria fazer quando recebesse presentes e não tivesse nada para dar de volta? Apenas aquele pensamento o fez ter vontade de enfiar a cara no chão.

— Vamos ficar felizes apenas por ter você lá, sério. — Taehyung continuou, ao ver que seu irmão não parecia muito convencido.

— Tá… — Foi tudo o que Youngjae disse, acabando por fazer Taehyung suspirar, um pouco frustrado.

O mais velho tentou puxar alguns outros assuntos, mas seu irmãozinho não estava exatamente no maior dos picos de animação, então suas tentativas acabavam por não ter muita eficácia em o distrair.

— Tenho quase certeza que você já está atrasado para o trabalho. — Youngjae disse de forma repentina, após uns vinte minutos desde que Taehyung havia iniciado um ciclo inacabável de puxar um assunto qualquer, não receber muita resposta, e então tentar puxar outro.

— Talvez… Um pouco… — O mais velho respondeu de forma cautelosa ao pegar o celular de seu bolso e olhar de canto de olho para a tela, vendo o horário.

Daquela vez Youngjae foi quem suspirou.

— Tae, eu vou ficar bem sozinho, pode ir. — Tentou falar da forma mais convincente possível. Até mesmo porque realmente achava que iria ficar bem sem ninguém por perto. Bom, não exatamente bem, porque já nem se lembrava mais como era se sentir dessa forma, mas definitivamente não ficaria pior.

— Tem certeza…? — O mais velho sentiu seu coração se apertar apenas com a ideia de deixar seu irmão ali sozinho.

— Absoluta. Vai logo, não quero que acabe perdendo o emprego por causa de mim. — Com a pouca força que tinha, Youngjae tentou empurrar Taehyung para se levantar da cama. Sem ter realmente muita eficácia naquilo.

— Ai… tem mesmo certeza de que não quer que eu fique…? — O mais velho parecia mais relutante do que nunca.

— Toda a certeza do mundo, estou falando sério.

Se sentindo derrotado, Taehyung acabou por se levantar da cama, suspirando pesadamente.

— Promete que vai me ligar se acontecer qualquer coisa? E quando digo qualquer coisa, quero dizer qualquer coisa mesmo! Qualquer mínima coisinha que pareça estar errada, mesmo se você achar que não é nada.

— Prometo, Hyung. Juro por tudo. — Youngjae não gostava da ideia de ficar enchendo o saco de seu irmão com coisas que na sua visão não eram de grande importância, mas também sabia que se não fizesse o que ele estava pedindo, acabaria recebendo uma bronca depois. Ou não, por conta de toda a delicadeza com que Taehyung andava fazendo questão de o tratar, mas mesmo assim ele ficaria no mínimo chateado, e tudo o que menos queria era aquilo.

— Tá… — Taehyung disse em um suspiro. — Se cuida, por favor. Tchau, maninho. — Assim como Jinyoung, o ômega depositou um beijo na testa do Choi antes de sair.

— Tchau…

Youngjae voltou a se deitar, se tapando até o queixo enquanto ouvia Taehyung andar até a porta de entrada. Ouviu um barulho de tranca e então imaginou que seu irmão havia usado a cópia da chave do apartamento que tinha.

Enfim estava completamente sozinho.

Se virou para o lado onde a parede ficava colada em sua cama, e por volta de três minutos depois, se virou para o outro lado, até que após um curto espaço de tempo voltou a ficar de barriga para cima. Estava tão incomodado com simplesmente tudo, que não conseguia voltar a dormir. E aquilo era irritante.

Na realidade, aquela situação inteira era irritante. Irritante, triste e agoniante, era isso o que era. Nunca tinha se sentido tão deprimido em toda a sua vida.

Se sentia como se tivesse se tornado exatamente o que os outros esperavam que fosse acabar se tornando, e o que seus pais tinham tentado ao máximo fazê-lo não ser.

Após Taehyung ter engravidado tão cedo, a notícia tinha se espalhado pelas redondezas de uma forma extremamente rápida, afinal até antes daquilo, ele era considerado como um garoto de ouro por todos, mesmo com as brigas que arranjava por sua causa.

Por conta disso, não havia tido praticamente nenhum colega durante o final do ensino fundamental e todo o ensino médio, que não soubesse que tinha um irmão que havia engravidado ainda adolescente.

E isso, somado ao fato de que era um híbrido, e a forma como havia agido durante o seu ensino médio inteiro, tinha rendido um enorme número de pessoas falando que acabaria da exata mesma forma que seu irmão.

E apesar de verdadeiramente admirar Taehyung por ter tido Eunji cedo e ainda assim ter tido a determinação para continuar atrás de seus sonhos, não conseguia imaginar a mesma coisa acontecendo consigo. Além disso, também havia o fato de que seus pais, que nunca haviam falado qualquer coisa sobre sexo antes, tinham se tornado quase uma enciclopédia ambulante de como se ter uma vida sexual saudável e segura, após o nascimento de Eunji. Tudo para que Youngjae também não acabasse os dando um neto cedo demais.

Por conta de tudo isso — além do fato de que não gostava muito de filhotes e não costumava se dar bem com eles — um dos maiores medos de Youngjae, se não de fato o maior de todos, era que a história de Taehyung se repetisse consigo, bom ou ao menos o começo dela, já que depois seu irmão havia dado uma bela e tremenda volta por cima.

Então, no final, havia correspondido terrivelmente bem às expectativas das pessoas que haviam sido seus colegas no ensino fundamental e médio. E havia se tornado uma completa decepção para seus pais, mesmo que eles ainda não soubessem de nada.

Quer dizer, sabia que a sua situação atual e a situação pela qual Taehyung tinha passado, não eram cem por cento iguais, já que não era mais um adolescente, nem dependia mais do dinheiro de seus pais.

Mas ainda assim, era novo demais para engravidar. Ainda não havia completado nem um ano desde que havia se formado no ensino médio, e tinha saído da casa de seus pais e alugado um apartamento junto com Jinyoung há apenas nove meses, então tinha absolutamente nenhuma estabilidade econômica. Logo, as situações não tinham de fato uma grande diferença.

Então, estava literalmente passando pela coisa que mais temia em toda a sua vida.

Por isso, não tinha a mínima ideia de como iria encarar seus pais e alguns outros parentes um pouco mais distantes no dia seguinte, daquela forma. E um pouco mais preocupante do que isso: como iria voltar para a JG dali a um pouco mais de uma semana, naquelas condições? Seu futuro estava nas mãos daquela empresa!

Todo aquele furacão de pensamentos juntos, o desesperaram um pouco, principalmente porque sabia que quanto mais tempo se passasse, pior a sua situação ficaria. Em todos os sentidos.

Tudo aquilo era… um erro.

Sim, um erro que odiava e iria atrapalhar absolutamente tudo. Um erro que iria estragar a sua vida inteira.

Completamente consternado com seus próprios pensamentos e ciente de que não conseguiria voltar a dormir, Youngjae se sentou na cama, abrindo a gaveta da sua mesa de cabeceira em busca de seu celular, que havia jogado lá dentro por razão de não querer mais contato algum com qualquer coisa fora daquele apartamento.

Mas talvez, ver as últimas novidades do que andava acontecendo para conseguir se distrair, não fosse tão ruim.

Porém seus olhos não captaram a presença de celular algum, antes disso, se dirigiram para variados tons de azul bastante chamativos.

O folhetinho que o Dr. Lee havia o dado apenas dois dias antes.

✩✩☼✩✩

Youngjae tremia de frio da cabeça aos pés diante da clínica, por mais que estivesse muito bem encasacado.

Sabia que poderia ter simplesmente ligado para agendar um horário, mas a sua repentina tomada de decisão havia o feito ficar ansioso demais para conseguir continuar imóvel em sua cama, então tinha achado que já que de qualquer forma não conseguiria dormir, poderia aproveitar e ver a clínica com seus próprios olhos, para já se familiarizar um pouco com o local.

A grande questão era que já havia pegado um ônibus até ali, tudo o que faltava era atravessar a rua e então entrar no lugar. Mas estava enfrentando uma verdadeira dificuldade naquilo, como se seus pés simplesmente estivessem grudados no chão.

Já deveria estar ali parado por volta de uns dez minutos, o que era péssimo, porque era capaz de sentir alguns flocos de neve caindo sobre si, e por mais que os adorasse, naquele momento eles apenas aumentavam o seu frio.

Bom, pelo menos também estava sendo atingido pelos pequenos raios de sol capazes de atravessar a grossa camada de nuvens que havia se formado acima da cidade. Talvez Jinyoung ficasse feliz ao saber que afinal havia saído da cama e tomado uma certa quantidade de sol.

Movido pelo repentino pensamento otimista, arriscou dar um passo para frente, mas no segundo seguinte retrocedeu.

Suspirou. Aquilo estava ficando verdadeiramente ridículo!

Nem era capaz de compreender o porquê estava parado ali há tanto tempo, tão receoso. De qualquer forma, aquele não havia sido sempre o único plano que tinha, caso a suspeita de Jinyoung se confirmasse?

Não era como se tivesse qualquer outra alternativa ou até mesmo quisesse ter. Um erro terrível havia sido cometido e o que tinha que fazer era se livrar dele o mais rápido possível. Para o seu futuro não acabar sendo completamente estragado.

Sim, era exatamente isso, não tinha motivos para hesitar.

Um pouco mais confiante, o Choi enfim atravessou a rua que naquele momento não tinha muitos carros passando e então subiu os poucos degraus que direcionavam para a porta de entrada da clínica. Hesitou por alguns segundos diante do puxador da porta, mas por fim o agarrou firmemente e empurrou.

Enfim estava dentro do local.

Olhando ao redor, realmente parecia ser um lugar de altíssima qualidade, e por conta disso era até um pouco surpreendente que oferecesse um serviço completamente gratuito.

Mas Youngjae estava um pouquinho nervoso demais para pensar muito sobre aquilo. Sua confiança havia se perdido completamente mais uma vez.

Um pouco hesitante, se aproximou do balcão, onde uma bela ômega se encontrava.

— Olá, boa tarde, no que posso ajudá-lo?

O Choi se surpreendeu um pouco quando a mulher lhe deu um amigável sorriso assim que o viu. As pessoas costumavam passar bem longe de ter aquela reação quando botavam os olhos sobre si.

— H-Hm… Eu… E-eu… hm… gostaria de… hm… — Youngjae começou a se sentir ridículo diante da sua falta de capacidade de ao menos concluir uma frase. Por que estava tão nervoso, afinal?

— Marcar um procedimento…? — A ômega se arriscou a completar suas palavras.

“Procedimento”; na visão de Youngjae, o uso daquela palavra suavizava um pouco as coisas.

— A-ah, sim, s-sim.

— Certo. Um momentinho, vou olhar os horários que estão disponíveis.

O Choi respondeu apenas com um acenar de cabeça positivo, assistindo a mulher apertar algumas teclas do teclado do computador diante de si.

— Oh, que sorte a sua, tem um horário vago para ainda hoje, daqui a duas horas, isso raramente costuma acontecer.

Dali a duas horas?! Uau, Youngjae realmente não estava esperando que seria tão rápido. Achava que conseguiria marcar um horário no mínimo para a semana seguinte.

Tudo parecia estar acontecendo tão rápido desde que havia repentinamente decidido ir até ali, que chegava a ficar um pouco zonzo por conta de tudo aquilo.

— Claro que se o senhor se importar em esperar, posso marcar para outro dia. — A atendente disse após alguns segundos de silêncio.

O Choi enfim saiu do seu estado de surpresa.

— A-ah, não, não, eu não me importo. Pode marcar para daqui a duas horas sim.

Aquilo era o certo a se fazer, afinal.

— Ótimo! Preciso apenas do seu nome e algumas outras informações.

— Tudo bem…

A atendente foi bastante rápida em fazer perguntas e logo depois anotar o que o Choi lhe respondia. Em questão de quatro minutos, ela já tinha tudo o que precisava.

— Prontinho. Agora tudo que você precisa fazer é sentar e esperar. Ou dar uma volta até o horário do atendimento, o senhor quem sabe. — A atendente disse, lhe direcionando um sorriso simpático.

— A-ah, eu acho que vou apenas sentar e esperar, obrigado. — O Choi devolveu toda a simpatia da ômega com um pequeno sorriso.

Lentamente caminhou até uma cadeira que estava vazia e se sentou nela. Tinham algumas outras pessoas sentadas nas fileiras de cadeiras distribuídas pelo espaço, a grande maioria ômegas, mas havia dois ou três betas e também uma mulher alfa. Surpreendentemente, ninguém se importou muito com a sua presença.

Então, para se distrair um pouco, acabou por analisar como as expressões faciais variavam imensamente de rosto para rosto.

Alguns carregavam uma enorme feição de tristeza e culpa, outros uma paz absurda, como se nada fora do normal estivesse ocorrendo, também tinha os que apresentavam um extremo nervosismo com uma certa mistura de medo, e havia até mesmo os que mostravam certa raiva, como se estar naquele lugar, ou na situação em que estavam, irritasse imensamente os donos daquelas expressões.

Youngjae de repente se perguntou qual poderia ser a sua expressão.

Raiva? Bom, poderia ser, porque toda aquela situação era realmente irritante. Paz? Não, definitivamente não, sem a menor chance. Nervosismo e medo? Sem dúvida era uma certa possibilidade. Tristeza e culpa…? Não… Como poderia se sentir triste quando estava simplesmente resolvendo a sua vida?

E também, pelo o que deveria se sentir culpado? Havia sido um excelente aluno de biologia na escola, e por conta disso, sabia muito bem que aquilo que estava carregando não poderia ser considerado uma vida e ainda estava bem longe disso.

E ainda havia o fato de que de qualquer forma já tinha uma chance razoável de sofrer um aborto espontâneo, por conta de ser em parte beta. Considerando isso somado ao péssimo estado em que a sua saúde se encontrava, a chance duplicava de tamanho. Então, estava apenas antecipando algo que no final seria inevitável.

Mas… se realmente sabia de tudo aquilo, por que se sentia meio incerto sobre o que estava prestes a fazer, logo quando estava a apenas um passo de enfim se livrar do seu maior problema?

Deveria estar enlouquecendo de vez, aquele era o único motivo plausível.

Quanto mais Youngjae pensava sobre o possível motivo para se sentir tão hesitante daquela forma, mais nervoso acabava ficando. Já balançava ambas as pernas num ritmo incessante, apenas como forma de descontar sua ansiedade.

Será que deveria pensar um pouco mais sobre o assunto…?

Não! Não, não não! Sequer tinha no que pensar, sua decisão já estava perfeitamente tomada até mesmo antes de descobrir… aquilo.

Era normal ficar nervoso e hesitante, por mais certo que estivesse do que ia fazer, afinal a situação pela qual estava prestes a passar não era realmente muito fácil. Estava daquela forma apenas porque era tudo novo e esquisito demais, mas dali a um pouco mais de duas horas, se sentiria aliviado e completamente calmo, talvez até fosse rir de todo o nervosismo exagerado que estava sentindo antes.

Sim, era exatamente isso, apenas um medinho bobo do desconhecido.

Diferente do que esperava, pensar daquela forma não o acalmou nem um pouco.

Estava começando a suar frio e sua respiração estava bastante irregular. Conseguia sentir o seu coração batendo mais rápido do que deveria também. Quase como se estivesse prestes a ter um ataque de pânico.

Naquele momento, sequer conseguia pensar de forma racional. Sentia um desespero completamente repentino que não tinha a mínima ideia de onde estava vindo.

Quando seu estômago se revirou de uma forma inexplicável, o Choi se levantou e caminhou a passos rápidos em direção ao que julgava ser o banheiro.

Agradeceu quando entrou no cômodo e era de fato um banheiro. Abriu com tudo a porta do primeiro cubículo que viu em sua frente e praticamente se jogou sobre o vaso, botando para fora o completo nada que estava em seu estômago. Quando seu corpo parou com aquela tortura, Youngjae se recostou na parede ao lado do vaso, um pouco ofegante e ainda sentindo o pânico correr por seus veias.

Daquela vez, não havia sido apenas um enjoo aleatório, sabia disso. Tinha vomitado por puro terror.

Num ímpeto, se levantou do chão e foi em direção a porta, continuando a andar mesmo após sair do banheiro, ainda que quase não sentisse o movimento de suas pernas, como se elas tivessem ganhado vida própria. De repente, estar naquele local, naquela clínica, simplesmente o fazia se sentir sufocado.

Ouviu a moça da recepção chamando o seu nome, perguntando se estava tudo bem ou algo do tipo, mas sequer olhou para ela, porque tudo em que sua visão era capaz de se focar naquele momento era apenas a porta de saída.

Apenas quando passou por ela, parou de andar de forma tão apressada e por um momento apoiou as mãos sobre os joelhos, tentando se acalmar e normalizar sua respiração. Seu coração ainda batia à toda velocidade.

O choque repentino com o frio que estava fazendo lá fora, o ajudou a voltar aos eixos um pouco mais rápido.

Quando enfim achou que estava um pouco mais calmo, desceu as escadas da clínica e foi em direção a parada de ônibus. Tudo o que mais queria naquele momento era chegar em casa.

Havia apenas mais duas pessoas ali, e para a sua sorte, elas ignoraram completamente a sua presença. Em menos de cinco minutos, viu ao longe um dos ônibus que poderia pegar para voltar para casa. Assim que ele parou, se enfiou dentro dele o mais rápido possível, pagando sua passagem num ato automático e se sentando no primeiro assento vazio que avistou.

Sentiu inúmeros olhares sobre si, e por mais que já estivesse habituado àquilo, ainda estava um pouco fora de sua racionalidade, então pensou se as pessoas eram capazes de perceber… a sua situação.

Quer dizer, um híbrido por si só já era odiado, mas um híbrido com prole...? Ah, esses eram de fato tratados como criminosos.

Balançou a sua cabeça para afastar aqueles pensamentos. Sendo racional, sabia que estava apenas sendo paranóico, porque ainda era muito cedo para aquela confusão toda pela qual estava passando, ser perceptível em qualquer aspecto. E além disso, até mesmo pensar na palavra “prole” o provocava arrepios.

Tentou esvaziar sua mente durante todo o percurso que o ônibus percorreu, até que quando deu por si, já estava diante da parada logo em frente ao seu apartamento. Rapidamente desceu do veículo e caminhou em direção ao prédio mais rápido ainda.

Não tinha paciência sequer para esperar pelo elevador, então pegou as escadas, e em questão de um minuto, já estava entrando na sua amada e aconchegante residência.

Enquanto trancava a porta, agradeceu por Jinyoung aparentemente ainda não ter voltado para casa, pois não sentia a menor disposição para conversar o mínimo assunto possível naquele momento. Muito menos responder perguntas sobre onde havia ido.

Caminhou em direção ao seu quarto assim que terminou de trancar a porta, e no mesmo segundo em que entrou nele, se atirou na sua cama que parecia mais macia e confortável do que nunca. A sua pequena viagem havia sido simplesmente exaustiva demais, como se houvesse passado uma semana fora.

Ao menos, não teve que se esforçar muito para não pensar em nada, pois em questão de cinco minutos, já havia adormecido.

✩✩☼✩✩

Preguiçosamente, Youngjae abriu os olhos, piscando algumas vezes para seu olhar entrar em foco. Não que tivesse muito para se ver, já que seu quarto estava iluminado apenas pela luz da lua.

Se sentou no colchão um pouco surpreso, se perguntando quantas horas havia dormido. Apesar de que estavam em pleno inverno, então poderia ser apenas seis horas da tarde e ainda assim a cidade já ter caído naquela completa escuridão.

Um pouco confuso por conta da sonolência que ainda tomava conta de si, vasculhou sua mente em busca dos últimos acontecimentos. Quase gemeu de pura frustração assim que se recordou de tudo.

Havia estado tão perto de se livrar do seu maior problema, e ainda assim, simplesmente tinha dado para trás. E por mais que aquilo não fizesse o mínimo sentido para si, apenas a ideia de voltar àquela clínica simplesmente o apavorava de uma forma completamente irracional.

Definitivamente havia algo de errado com a coerência de suas vontades.

Seria possível que… seu lado humano e seu lado lupino estivessem entrando em conflito?

Quer dizer, por conta de que era um híbrido, seu lobo era muito confuso, vivia mudando de pensamentos, opiniões e até mesmo princípios o tempo todo, mas ainda assim, se lembrava vagamente de algumas vezes em que havia o pegado pensando sobre alfas, toda aquela melação de almas-gêmeas e… filhotes.

De repente, tudo parecia fazer um certo sentido.

Youngjae suspirou.

Claro que possuía a sua independência e individualidade como humano, mas de uma forma ou de outra seu lobo fazia parte de si, dividindo o mesmo corpo e inclusive cérebro, então não era como se existisse uma grande possibilidade de fazer qualquer coisa que ele fosse contra.

Resolver o seu terrível problema poderia ser mais complicado do que imaginava...

Mas aquele pensamento logo foi para o fundo de sua mente assim que sentiu um maravilhoso cheiro de comida e sua barriga roncou em resposta.

Estava há dias sem comer absolutamente nada… talvez um pouco de comida não faria mal...

Preguiçosamente se arrastou para fora da cama e saiu de seu quarto, rumando até a cozinha e não se surpreendendo ao encontrar Jinyoung por lá, mexendo nas panelas.

— Jae! A comida já 'tá pronta, quer jantar…? — Apesar de um pouco eufórico por enfim ver o amigo fora da cama, Jinyoung fez aquela pergunta de forma receosa, já que todas as vezes anteriores em que havia oferecido comida para o híbrido, ele havia recusado como se fosse a pior coisa do mundo.

O Choi acenou positivamente com a cabeça de imediato.

Jinyoung pareceu quase incrédulo ao receber aquela resposta, e logo depois ainda mais eufórico, como se Youngjae comer, fosse a melhor coisa que já tivesse acontecido em sua vida.

O Park logo agarrou um prato e falou para o amigo se sentar, que ele o serviria.

Youngjae tinha ideia de que Jinyoung provavelmente encheria seu prato de comida até não poder mais, mas não ligou muito para isso e apenas se sentou. Estava com realmente muita fome, e além disso, não poderia manter aquela dieta de não comer absolutamente nada para todo o sempre.

Por isso, quando Jinyoung botou um grandioso prato com jjajangmyeon tangsuyuk em sua frente, nem se importou em contar as calorias e apenas esperou o Park se sentar do outro lado da mesa para começar a comer.

— Você 'tá com uma roupa diferente… — O lúpus observou, após poucos segundos.

O Choi automaticamente parou de atacar a comida, ao ouvir aquelas palavras. Ficou quase que completamente imóvel por algum tempo.

— Eu… saí hoje… Fui numa clínica de aborto. — Hesitou em suas palavras por poucos segundos, antes de resolver ser direto, porque não achava que havia qualquer motivo para esconder aquilo.

Jinyoung se engasgou com a própria comida assim que ouviu aquelas palavras. Definitivamente as palavras do amigo haviam o pegado de surpresa.

— Você… — Começou, logo após conseguir se desafogar.

— Não. — Youngjae respondeu a pergunta antes mesmo dela ser feita. — Eu não fiz nada, acabei dando para trás.

— Ah… — Jinyoung levou alguns segundos para absorver aquelas palavras, mas quando enfim aquilo aconteceu, acabou fazendo uma pergunta de forma automática. — Podia ter me chamado pra ir junto com você... Mas… por que...? Quero dizer, por que você desistiu?

Youngjae suspirou diante daquela pergunta, porque apenas pensar sobre ela já era algo cansativo.

— Acho que eu e o meu lobo acabamos entrando em um impasse em relação ao que fazer sobre… sabe… isso.

— Ele quer o filh… feto…? — Mentalmente, Jinyoung se bateu após quase ter falado "filhote". Sabia que ouvir aquele tipo de coisa apenas pioraria o humor de Youngjae.

— Não tenho certeza… por enquanto parece que sim, mas você sabe que ele muda de ideia o tempo todo… — O Choi murmurou, remexendo em sua comida. Havia percebido a palavra que Jinyoung tinha cortado pela metade, mas estava cansado demais para se importar com algo tão pequeno como aquilo.

— Então… o que você vai fazer...? — Jinyoung não queria de fato fazer aquela pergunta e enervar o Choi ainda mais, mas ao mesmo tempo, havia sido quase que inevitável.

Youngjae suspirou, porque aquela era a pergunta que se repetia em sua mente sem parar.

— Eu não sei… Acho que o aborto não é mais uma opção, então… — Suspirou mais uma vez. — Eu realmente não sei.

Se fizesse uma lista mental, não achava que as suas opções restantes eram muitas. Poderia esperar por um aborto espontâneo, o que sem dúvida tinha grandes chances de acontecer, ou então… entregar aquela coisa que futuramente seria uma pessoa para a adoção? Mas ainda assim… teria que passar pelos terríveis nove meses, interromper a sua vida inteira por quase um ano apenas por aquele empecilho do qual não conseguia se livrar… urgh, apenas não odiava mais aquela opção do que a de ter uma enorme e horrenda responsabilidade pela qual não havia pedido, pelo resto de sua vida.

Realmente, estava completamente ferrado, independente do ângulo que a situação fosse vista.

— Você já pensou em… falar com o Jaebeom…? — Jinyoung sugeriu de forma extremamente hesitante, não querendo que o amigo acabasse se irritando.

Youngjae ficou quase em choque ao ouvir aquela sugestão. Não havia considerado aquela ideia como uma opção por nem um minuto sequer.

— Não… E nem quero. Vou resolver isso sozinho. — O Choi falou, levemente irritado, após alguns segundos.

Não conseguia imaginar qualquer opção de realidade em que Jaebeom ficaria feliz ao receber uma notícia como aquela ou que lidaria melhor com a situação do que si.

— Mas Jae… a responsabilidade é de vocês dois… é injusto apenas você estar enfrentando tudo isso. — Jinyoung disse no tom mais calmo que conseguiu, porque por mais que não gostasse muito de Jaebeom, realmente queria conseguir convencer o amigo a falar com ele.

Não tinha muita ideia de como o Im reagiria diante de uma notícia daquelas, mas verdadeiramente esperava que talvez os dois pudessem chegar a uma conclusão do que fazer, juntos.

— Já estou habituado a injustiças. — Youngjae rebateu num tom meio rabugento e então Jinyoung entendeu que não deveria dizer mais nada.

O Park apenas acabou por suspirar, se perguntando por quanto mais tempo teria que ver o amigo enfrentando um inferno diário.

Já Youngjae não se pronunciou de qualquer outra forma e apenas se concentrou totalmente em sua comida, porque daquela forma era muito mais fácil não pensar em absolutamente nada.

✩✩☼✩✩

— Sabe… você tá ficando com uma aparência melhor a cada dia…

Youngjae suspirou diante do comentário de Taehyung.

Estava deitado em sua cama, como andava fazendo 90% do tempo naqueles últimos dias. Tinha a cabeça depositada no colo de seu irmão, e Jinyoung se encontrava logo à frente de seus pés, sentado na ponta da cama.

Era dia 27, o natal tinha sido apenas dois dias antes, e sinceramente, não havia sido tão ruim quanto Youngjae imaginava que seria. Tinha conseguido se distrair bastante, com tantas pessoas ao seu redor e diversos assuntos correndo por todos os lados. Claro, havia sido tomado pelo nervosismo em muitos momentos, porque irracionalmente pensava que de alguma forma alguém — principalmente os seus pais — descobriria o segredo que estava tentando esconder, em especial por conta das vezes que havia tido que sorrateiramente correr para o banheiro para vomitar. Mas obviamente ninguém havia descoberto nada.

Definitivamente poderia ter sido um dia pior.

E também, ver sua família em um clima tão alegre, tinha o incentivado a tentar cuidar melhor de sua saúde. Apenas por eles.

Não estava mais sendo tão relutante em relação às ordens médicas que havia recebido, e enfim estava tomando seus remédios por conta própria, fazendo questão de se hidratar adequadamente e até mesmo tomar um pouco de sol. Em relação à sua alimentação, ainda não havia melhorado muito naquela questão, não somente devido ao seu enjoo que parecia que jamais iria melhorar, mas também por conta do seu medo de acabar ganhando peso. Mas pelo menos estava comendo uma refeição por dia, o que já era um grande avanço.

Porém ainda não havia encontrado disposição alguma para fazer algo além de ficar em sua cama, afinal ainda se sentia tão entristecido, irritado e confuso quanto antes.

Por conta de que ainda não havia conseguido chegar a qualquer conclusão sobre o que faria em relação a sua vida e toda aquela situação em que estava envolvido.

— Ótimo… Porque a situação da minha aparência melhora absolutamente tudo… — Resmungou, em seu habitual mau-humor.

Sabia que Taehyung e Jinyoung andavam fazendo o melhor que podiam para o fazer se sentir melhor em relação à tudo que andava acontecendo, e agradecia imensamente por aquilo do fundo de seu coração, porém não achava que estava de fato adiantando de alguma coisa.

— Qual é, Jae… Não precisa ficar assim… Sei que tomar uma decisão é difícil, mas em algum momento você vai conseguir. — Jinyoung disse após alguns segundos de silêncio.

Youngjae rapidamente absorveu aquelas palavras. Sim, definitivamente tomar uma decisão estava sendo provavelmente a coisa mais difícil que já havia feito em toda a sua vida.

Então, se lembrou das palavras que Jinyoung tinha o dito poucos dias antes: “ a responsabilidade é de vocês dois… é injusto apenas você estar enfrentando tudo isso”.

Sim, era injusto. Extremamente injusto.

Poderia ter dito que estava acostumado a injustiças, mas na realidade, estava mais do que cansado delas.

Então talvez fosse a hora de parar de ter pena de si mesmo e tentar esconder tudo aquilo da outra pessoa que também havia causado aquela situação.

Se estava sofrendo e se preocupando em excesso, então ele merecia passar pela exata mesma coisa. E, olhando por outro lado, talvez uma conversa com Jaebeom fosse enfim trazer uma solução para tudo aquilo.

Movido por seus pensamentos, se sentou na cama num súbito impulso, e se esticou até conseguir alcançar o seu celular que estava logo em cima da mesa de cabeceira.

Era melhor fazer aquilo antes que mudasse de ideia, por mais que talvez se arrependesse depois.

— O que você vai fazer, Jae? — Taehyung perguntou, um pouco surpreso por toda aquela movimentação repentina do irmão.

— Ligar para Jaebeom. — O híbrido sequer pensou antes de responder.

— Que?! — Jinyoung e Taehyung se pronunciaram em um perfeito uníssono. Estavam mais do que chocados.

— Shhh. — Youngjae pediu por silêncio. Já havia achado o contato de Jaebeom, era só ligar.

Repensou a ideia por volta de uns dez segundos, mas por fim apenas pressionou o dedo sobre o contato. Sabia que se pensasse demais, acabaria voltando atrás.

Seu coração batia num ritmo quase desumano apenas por ouvir aquele som irritante da chamada sendo realizada e que antecedia o momento em que a pessoa do outro lado da linha atendia. Ou, em também muitos casos, não atendia.

Já que o Im não havia salvado seu número, não tinha certeza se ele atenderia. Deveria estar ocupado demais com as preparações para os diversos eventos do final e do começo do ano para se dar ao trabalho de atender um número desconhecido qualquer.

Certo, se ele não atendesse, Youngjae consideraria aquilo como um sinal e então voltaria para a sua decisão de resolver tudo sozinho.

De qualquer forma, Jaebeom dificilmente atenderia e...

— Alô? — Uma voz um pouco confusa falou do outro lado da linha.

Os pensamentos do Choi imediatamente se calaram quando a chamada foi atendida em apenas sete segundos.

O híbrido sentiu a sua garganta se fechar por um momento. Fazia realmente apenas cinco dias desde a última vez que havia falado com o Im? Porque naquele momento parecia muitíssimo mais.

— O-oi. — Ótimo, agora estava gaguejando. Para onde havia ido toda a sua coragem?

— Youngjae! Meu deus, eu estava tão preocupado! Ouvi que você desmaiou e depois você simplesmente sumiu! Como você está?! — De repente a voz de Jaebeom foi preenchida por uma mistura de preocupação e extrema felicidade.

O Choi ficou um pouco chocado pelo alfa ter o reconhecido de imediato, quando tudo o que tinha dito havia sido apenas uma única e curta palavra. E mais chocado ainda por ele parecer tão feliz em simplesmente falar consigo.

—Eu… hm… estou bem. Me recuperando, na verdade. Sabe como é… às vezes ficamos tão ocupados que acabamos esquecendo de cuidar de nós mesmos. — Youngjae não tinha certeza se estava mentindo, já que de fato o seu estado de saúde estava péssimo devido à sua falta de cuidado consigo mesmo.

Apenas estava evitando falar sobre o principal assunto.

— Mas então você 'tá melhor? Vai precisar ficar quanto tempo se recuperando? — A euforia na voz de Jaebeom era bastante perceptível.

Youngjae por um momento se questionou se ele estava daquela forma apenas por falar consigo, mas descartou a ideia no segundo seguinte.

Não fazia o menor sentido para si, Jaebeom ficar naquele estado de espírito apenas por sua causa.

— Sim, sim, eu tô melhor… Hm… Vou precisar ficar me recuperando por mais… alguns dias… — Youngjae tinha uma leve ideia de que não estava soando muito natural, mas ainda assim esperava que o Im não fosse capaz de notar aquilo.

— Mais alguns dias?! Hmph, eu queria ser capaz de te ver pelo menos mais uma vez antes do ano acabar. Não posso ir te visitar? Você me passa o número do apartamento e tudo mais, prometo não ficar muito tempo se você não quiser.

Youngjae teve uma pequena falta de ar por poucos segundos. Jaebeom queria o ver! De repente, era como se tivesse centenas de borboletas em seu estômago.

Mas tudo aquilo se esvaiu quando enfim se lembrou do motivo pelo qual havia ligado.

— Hm… Na verdade, eu te liguei justamente porque quero falar com você sobre… uma coisa… bem importante. Então… é só marcar um dia pra gente se ver… — O Choi deu uma pequena risada nervosa.

— Uma coisa importante? O que é?

O nervosismo de Youngjae duplicou de tamanho diante daquela pergunta. Apenas por um segundo, havia tido a esperança irracional de que talvez Jaebeom não fosse dar muita bola para aquelas palavras.

— Hm… H-hm… Eu… Eu prefiro falar em pessoa… — O Choi tentava não deixar transparecer o quão nervoso estava, porque não queria que Jaebeom já fosse capaz de desconfiar de alguma coisa.

— Ah… Tudo bem, então… Que tal a gente se ver amanhã? — Jaebeom pareceu estranhar um pouco a resposta de Youngjae, mas para a alegria do Choi, ele não aparentou ter se apegado demais àquilo.

— Acho melhor depois de amanhã. — O híbrido respondeu de imediato.

Poderia ser patético, mas sentia que precisava de pelo menos um dia inteiro para tentar planejar o que falaria.

— Ah… Ok, depois de amanhã então. — Era possível notar um pequeno desapontamento na voz de Jaebeom.

Inconscientemente, Youngjae olhou para Jinyoung.

Sabia que seu melhor amigo não simpatizava muito com Jaebeom, e o Im parecia simpatizar menos ainda com ele.

Dois alfas que não se gostavam, juntos, dentro do pequeno espaço de um apartamento? Ah, não, Youngjae não estava a fim de ter que tentar separar briga alguma.

Ou pior ainda, ter que correr com Jaebeom para o hospital. Porque sem dúvida alguma, se de fato houvesse um confronto físico, Jinyoung ganharia sem muito esforço.

— Hm… E podemos nos encontrar no seu dormitório? Eu acho melhor assim… — Youngjae realmente não queria testar até onde a teoria de que alfas eram explosivos, competitivos e territorialistas poderia ser verdade.

— Hã? Até podemos, mas você não está de repouso…?

O Choi foi um pouco pego de surpresa por aquela pergunta.

Jaebeom realmente não se importaria com a presença de Jinyoung ou estava apenas fingindo que não? Porque Youngjae ainda se lembrava de como ele não havia gostado nem um pouco quando tinha o dito que morava junto com o lúpus.

— Hm… mais ou menos… Não faz bem pra minha recuperação eu ficar o tempo todo em cima da cama. — De qualquer forma, era melhor não arriscar.

— Tá… Tá, tudo bem, se você acha melhor assim, eu te passo o endereço por mensagem, depois de salvar o seu número.

— Tudo bem, então...

Houve um terrível silêncio na linha por longos segundos.

— Hm… eu preciso ir agora… — Youngjae se atreveu a falar alguma coisa, enfim quebrando o silêncio.

Sabia que havia sido um telefonema muito curto, mas sentia que se falasse com Jaebeom por mais tempo, seu coração simplesmente acabaria explodindo.

Céus, se estava daquela forma apenas por uma simples ligação, como ficaria dali a dois dias, quando estivesse cara a cara com o Im?

— Já?!

Por um segundo, o Choi quis dizer que não e simplesmente continuar falando com Jaebeom até não haver mais qualquer assunto sobre o qual pudessem conversar. Mas não se sentia capaz de fazer aquilo.

— Sim… Desculpa. — Sequer sabia ao certo o porquê estava se desculpando. Jaebeom tinha parecido tão desapontado que simplesmente tinha sentido que precisava se desculpar.

— Ah, não, não! Não precisa se desculpar! Só achei que… poderíamos conversar por mais tempo…

Youngjae não encontrou palavras para responder àquilo.

— Bom… até terça então… — O Im continuou, após longos segundos de silêncio.

— Até…

Mais uma vez ficaram por alguns segundos em silêncio, até Youngjae perceber que tinha que desligar, porque Jaebeom não parecia nem um pouco a fim de fazer aquilo. Então, foi exatamente isso que fez, logo depois largando o celular sobre a cama.

Quase teve um ataque de pânico ao se dar conta do que havia acabado de fazer.

Já não havia mais como voltar atrás. Jaebeom saberia de absolutamente tudo dali a apenas dois dias.

✩✩☼✩✩

Youngjae sabia muito bem que dois dias não eram exatamente o maior tempo do mundo, mas ainda assim, também não esperava que eles pudessem passar tão rápido como em um piscar de olhos.

Já se encontrava parado em frente a porta do dormitório do R3D há alguns bons minutos, tentando pensar em alguma desculpa razoável que pudesse inventar para si mesmo para poder simplesmente se virar e ir embora. Mas até aquele momento, não havia tido êxito algum naquilo.

Se sentia verdadeiramente patético. Jinyoung ou Taehyung deveriam ter arrancado o celular de sua mão assim que havia tido a terrível ideia de ligar para o Im.

Realmente havia tentado o seu melhor naqueles últimos dois dias, para planejar o que falaria do início ao fim, dentro de diversas hipóteses de reações que Jaebeom poderia vir a ter, mas ainda assim, algo dentro de si gritava que aquilo não daria nem um pouco certo, não importando o quanto havia se preparado.

E aquela sensação acabava por duplicar o tamanho do nervosismo que já sentia.

Respirou fundo pela centésima vez desde que havia chegado até ali, tentando encontrar algum tipo de calma, se é que aquilo era possível naquele momento.

Já havia ido até ali, Jaebeom estava o esperando, e sinceramente já havia imaginado e reimaginado o pior dos cenários que poderia resultar daquela situação, então, qual era o grande problema? Era só seguir o que havia planejado falar e tudo ficaria bem.

Movido pelo pensamento calmo e otimista, Youngjae enfim bateu na porta, tentando controlar a sua respiração enquanto se perguntava por qual dos três integrantes do aclamado grupo, seria atendido.

Sua pergunta foi respondida em menos de dez segundos.

— Jae! Eu já ‘tava começando a achar que você não vinha. — Jaebeom disse, com um sorriso enorme estampando o rosto.

Youngjae imediatamente sentiu as pernas bambearem por um segundo, enquanto o seu coração disparava como louco, apenas por ver o Im pela primeira vez no que parecia ser semanas, ao invés de só uma.

E de repente, todo e qualquer plano que tivesse minuciosamente elaborado, simplesmente evaporou de sua mente mais rápido do que água.

É… Estava largado à própria sorte e completamente ferrado. 


Notas Finais


Minha nossa, quantas emoções em um só capítulo né minha gente ksks. O que acharam? Adoro saber a opinião de vocês.

Vou tentar meu máximo para atualizar o próximo bem mais rápido.

Beijinho pra todos vocês, tenham uma ótima noite.💚


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