História The Better Side Of Darkness - Poderes Interessantes

O ruivo tocou meu ombro e me apontou um outro corredor. Depois que chegamos na parte que eu acreditei ser a principal do castelo, os corredores se tornaram mais largos, o teto mais alto, e a iluminação havia melhorado muito. Eu já conseguia ver claramente o lugar, e até alguns de seus detalhes. Depois de entrar em mais dois ou três corredores diferentes, chegamos a um lugar que anteriormente era separado do corredor por uma porta que não existia mais. Lá dentro, uma bela morena cor de chocolate, de coxas roliças à mostra em um vestido preto e curto, que parecia vitoriano, salvo o comprimento de sua barra, muito acima dos vestidos tradicionais. Um corset bege marcava sua cintura e cobria seus seios, o deixando mais volumosos, e se destacavam por não ter nada mais do que as rendas do próprio vestido cobrindo seu colo. Um batom preto destacava seus lábios, mas mesmo ela sendo uma linda mulher, nada era mais excitante do que a cena que presenciei ao entrar naquele lugar. Ela estava sentada em alguma coisa que parecia ser a mesa, também de pedra, enquanto mantinha entre suas pernas um rapaz de costas largas e camisa branca, que contrastava com seus longos cabelos negros. Ambos estavam vestidos, mas ela o olhava com o desejo de quem queria senti-lo dentro de si naquele mesmo momento se pudesse. Assim que nos ouviu entrando, o moreno se virou, e eu pude ver que ele tinha alguns traços parecidos com o ruivo que me acompanhava, embora aparentasse ser mais novo. Os mesmos lábios grossos e volumosos, o queixo anguloso e um olhar maldoso e enigmático. Mas quando ele sorriu, pude ver que não carregava a mesma maldade que o ruivo.

- Dá pra vocês pararem com isso?

- O que foi Die?

O moreno saiu da posição confortável em que se encontrava, enquanto o ruivo ia até a geladeira e pegava uma cerveja. O lugar era antigo, secular talvez, mas completamente adaptado para a vida moderna. Geladeira, microondas, utensílios modernos de cozinha e uma gama de aparelhos eletrodomésticos ocupavam aquela enorme cozinha. Tinha energia elétrica. Luz elétrica por todo o corredor em que eu estava anteriormente... provavelmente as tochas eram pra dar apenas um ar lúgubre ao lugar. A morena sorriu como se eu e o ruivo não tivéssemos interrompido uma provável cena de sexo que acabaria ocorrendo entre eles, e me mandou sentar. Me trouxe rapidamente um suco e um sanduíche de frios.

- Coma. Você está com fome.

- Como... sabe?

- Sabendo. E não precisa ficar envergonhada pelo que viu.

- Eu não...

- Está sim. Pode me olhar nos olhos. Eu não posso ler seus pensamentos, mas sinto tudo o que você sente.

- Como?

- Cada um de nós tem um poder aqui. Você deve ter percebido que Daisuke é extremamente forte. E que Kouyou consegue fazer você se acalmar só de conversar com você. É assim. A propósito... meu nome é Kaalia. E esse é Yuu.

O ruivo então se desencostou da pia onde estava, com a garrafa de cerveja na mão, e cara de poucos amigos. Visivelmente ele não sentia nenhum tipo de simpatia por mim.

- Não sei porque vocês insistem em tentar fazer amizade com a comida.

O moreno se sentou ao meu lado, passando um de seus braços sobre meu ombro, como quem quisesse me confortar, enquanto ainda olhava para o ruivo.

- Olha quem fala, o cara que obedece uma humana.

O ruivo apertou a garrafa de cerveja em sua mão até que a mesma se partisse em mil pedaços. Metade do líquido que ainda estava no recipiente escorreu por sua mão, enquanto eu via os cortes provocados pelos cacos se fecharem quase que instantaneamente. Fiquei em choque ao ver aquilo, que nem me dei conta que ele saiu da cozinha, até que Kaalia falasse comigo novamente.

- Não liga não.

- Acho que ele não foi com a minha cara.

O moreno riu, divertido, enquanto tomava mais um gole de sua cerveja.

- Ele não vai com a cara de ninguém. Só tem uma pessoa dentro desse castelo que é capaz de fazer ele se comportar como um cachorrinho de madame. E curiosamente... é uma humana.

- E ele é o que?

- Você vai saber no momento certo.

Ouvi um barulho de porta batendo, mas muito mais forte do que uma porta normal. E muito mais alto do que se uma pessoa normal a tivesse batido. O moreno riu, enquanto tomava mais um gole da própria cerveja.

- PARE DE BATER AS PORTAS DIE! Se ele quebrar mais uma dessas portas Karyu vai ficar bravo. Muito bravo. Ele já destruiu a porta da cozinha.

- Ele destruiu uma porta de madeira maciça?

- De cinco centímetros de espessura. Era uma porta tão bonita...

Me espantei em pensar naquele ruivo, que visualmente era magro e não parecia ser tão forte, quebrando as coisas dessa maneira.

- Vejo que já fez novas amizades.

Me levantei rapidamente ao ouvir uma voz diferente na cozinha onde eu comia na companhia da bela morena cor de chocolate e de seu... namorado? Assim que me virei, um pequeno rapaz, moreno, cabelos curtos e arrepiados. Ele estava sem camisa, e pude ver que tinha um corpo bonito, bem definido, provavelmente fruto de muitos abdominais e uma dieta um pouco regrada. Cara de poucos amigos e muitas... muitas tatuagens.

- Eu...

Assim que comecei a falar, ele me olhou sério, e se possível, mais assustador ainda.

- Não falei com você.

Me encolhi no canto onde estava, enquanto a morena o repreendia pelos modos

- Kyo!

- O que?

- Por que tratar a garota assim?

- Porque tratar bem a comida?

O olhei assustada, mas antes que pudesse dizer alguma coisa, ele se dirigiu ao moreno, que Kaalia disse se chamar Yuu.

- Shiroyama, vocês ainda não contaram a ela?

- Não...

- Por isso ela tá me olhando e pensando que me quer bem longe?

- Provavelmente. Pare de ler os pensamentos da garota, Kyo.

Olhei assustada, agora para o moreno mais alto. Enquanto isso, vi o pequeno sorrir divertido, mostrando um pouco dos seus dentes tortos.

- Ela quer saber como eu sei o que ela está pensando.

- Ele está me assustando.

Peguei nas mãos de Kaalia, enquanto ela tentava me proteger, de alguma forma, do olhar invasivo do pequeno.

- Calma. Ele não vai te fazer nada.

- Pare com isso Kaalia, – o pequeno abria a geladeira, pegando qualquer coisa lá dentro que eu não fiz questão de saber o que era. – você sabe muito bem qual é o destino dela.

- Pare com isso Kyo. Não precisa assustar a garota ainda mais.

Uma voz que não era de nenhum dos presentes naquela cozinha. No mesmo momento, os três se viraram para um canto escuro da cozinha, de onde apareceu um rapaz alto, mais alto do que todos os que eu já havia visto. Seus cabelos eram da cor dos cabelos de Kouyou, mas um pouco mais curtos. Ele tinha um nariz bonito, anguloso. Os lábios bem desenhados, um pouco cheinhos, mas não tão grandes quanto Die e Yuu. O corpo magro e esguio vestia uma calça preta, uma camisa também preta, e o que parecia ser uma capa vermelha. Sua voz era doce e suave. Ele era o homem mais lindo que eu já havia visto em toda a minha vida.

- Venha comigo, pequena.