História The Five Guardians - Training

“— Quando você repousa sua cabeça nos braços de seu amado, doce irmã, é como se deitasse sobre os lençóis da maldade e envolvesse teu corpo com os lábios pecaminosos do demônio.” — Pandora.

***

            Taehyung caminhava em silêncio ao lado de Damara, que suspirava vez ou outra na tentativa de quebrar o silêncio, mas a única coisa que de fato o quebrava era o lento caminhar do cavalo. Quando o rapaz prendeu seu cavalo outra, virou-se de frente à bruxa e sorriu brevemente.

— Obrigado.

— Pelo que agradece, senhor?

            Taehyung soprou um riso, cruzando seus braços conforme repousava suas costas na árvore atrás de si, então balançou os ombros e curvou levemente o pescoço para o lado direito.

— Por ter aconselhado o meu primo. Sabemos que ele não ama aquela mulher, e confesso que tive medo de você pedir a ele para voltar atrás e ficar com Sophie, agora que sabe sobre o parentesco de vocês.

— O Duque Kim se comprometeu com a senhorita Min muito antes de conhecer minha irmã, senhor. Acredito que as pessoas devam cumprir com suas promessas.

— Diz isso, mas está casada com um homem que não ama e deitando-se comigo.

— Sei que erro neste ponto, mas as situações diferem uma da outra, senhor.

— O que há de diferente, bruxinha?

— O poder, senhor. Mesmo que eu seja infiel e desrespeitosa, nada tenho a temer, pois nada tenho a perder.

— Nada tens porque não queres.

— Creio que seja melhor encerrarmos por aqui, senhor.

            Damara curvou-se diante a ele e virou-se de costas, mas Taehyung segurou-a pela cintura ao vê-la de costas, abraçando-a com cuidado, até que deitou sua cabeça no topo da cabeça dela, aproveitando-se da diferença de altura entre ambos.

— Seja minha, Damara.

— Deseja-me ainda mais do que já tens, meu senhor?

— Ainda não tenho o suficiente.

            Ele virou-a de frente a si, mas manteve os braços ao redor da fina cintura da bruxa, acabando com qualquer resquício de espaço entre os corpos; ela ergueu a cabeça e descansou as mãos no peito do amado quando os olhares se cruzaram. Taehyung continuava a sorrir.

— Case-se comigo, Damara.

— Taehyung, eu...

— Não, Damara! Você não está casada devidamente, casou-se de acordo com suas crenças, que são pecaminosas para nosso povo. Case-se comigo às escondidas, terás meu nome, meu amor, meu coração e direito a tudo o que minha família possui. Não faltará nada a ti.

— Casar-me escondida? Poupe-me! – Damara riu, negando de imediato. – Os boatos correm como o vento por estes reinos, Taehyung.

— Matarei qualquer um que entrar em nosso caminho. Seja minha como Deus exige e ninguém poderá nos separar.

            Damara calou-se quando percebeu a esperança que corria no rosto de Taehyung, a qual se esvaiu pouco a pouco quando o silêncio tornou-se uma evidente resposta. O rapaz assentiu com a cabeça e forçou um sorriso, soltando-a sem pressa ao desviar seu olhar; virou-se no sentido oposto e caminhou pelo estábulo, para que assim pudesse adentrar o palácio, porém, quando tomou uma distância considerável de Damara, ela gritou:

— Eu aceito! Aceito casar-me com você, Taehyung.

            O sorriso foi inevitável, e com extrema empolgação Taehyung correu até a bruxa, tomando assim impulso para ergue-la pela cintura, rodando-a no ar. O gargalhar dela preencheu o corpo do rapaz com alegria, e quando os lábios encontraram-se em um necessitado beijo, ele colocou-a novamente no chão. O ar vacilou por um instante e o beijo foi cessado, para desta vez Taehyung sussurrar:

— Serás minha Condessa, minha amada bruxa.

***

            Fevereiro, 1504

            Damara esperava pacientemente o último rapaz chegar àquela área da floresta, em frente às montanhas que as pessoas evitavam cruzar. À esquerda, Taehyung dormia encostado em algumas rochas, enquanto SeokJin, Annelise e JungKook conversavam, e mesmo que ele mostrasse estar contente, era evidente que em luto ainda estava. Em poucos minutos Yoongi chegou ao encontro deles, encarando brevemente JungKook e Annelise.

— Está atrasado.

— Perdoe-me, Damara.

            Ela sorriu ao concordar e levantou-se, segurando Taehyung pelo braço, acordando-o de seu sono. Os cinco formaram um grande círculo ao redor da bruxa, que ao levar as mãos para trás e as cruzar em suas costas, começou a caminhar em frente a eles.

— Adiamos nossa primeira aula por conta do falecimento de nossa rainha, que descansa em paz, mas desta vez nada poderá nos atrapalhar, em hipótese alguma poderão faltar aos treinos, se desejarem dominar suas forças. Hoje deixaremos qualquer hierarquia de lado, não haverá obrigação alguma de pronomes de tratamento, assim como não será permitido ofensas aos inimigos de batalha. – Disse ela, com notável firmeza na voz. – Hoje vocês não são amigos, portanto, deixem de lado o medo de machucar uns aos outros, porém, não golpeiem com covardia seu inimigo, pois não queremos mortes. Se tiverem dúvidas, perguntem-me agora.

            Um breve silêncio se estabeleceu, enquanto a bruxa corria os olhos por cada um dos presentes, então Jin ergueu uma das mãos e Damara o incentivou a perguntar.

— Em nosso treinamento será permitida a magia?

— Neste treinamento será permitido tudo aquilo que souberem fazer, pois o principal intuito disto é dominar e controlar corretamente seus poderes. Aliás! – Ergueu o dedo indicador, apontando para Annelise. – Disseste mais cedo que tens prática com ervas medicinais, correto?

— Sim, senhora.

— Pois dedique seu tempo a estudar como usará apenas a energia delas para a cura.

— Certamente.

— Agora começaremos com algo simples: espadas. – Disse Damara, sorrindo ao retirar as espadas de JungKook e Taehyung para si. – Os pares serão: Yoongi e JungKook, SeokJin e Taehyung.

— E quanto a mim? – Perguntou Annelise.

— Virá comigo.

            Damara sorriu e jogou a espada de JungKook para Annelise, que rapidamente a segurou, mesmo sem ter noção alguma de como a usaria. A bruxa pediu para que se afastassem quando Annelise parou em frente a ela, e então disse:

— Imite tudo o que eu fizer.

— Prometa que não me matará.

— Ora, criança, a última coisa que desejo é matar algum de vocês.

            Annelise respirou fundo e ergueu a espada quando Damara o fez, e com certa agilidade a bruxa arremessou a espada inimiga para longe, fazendo-a cair perto de Yoongi, que logo a entregou outra vez para a camponesa.

— Quando lutar, minha cara, jamais olhe apenas para a arma do inimigo. O segredo está nos olhos dele.

            Disse Damara e outra vez posicionou-se, e desta vez Annelise conseguiu desviar da espada que a bruxa usava, e em pouco tempo ela já conseguia desviar de qualquer golpe e impedir qualquer ferimento que viria em seguida. A batalha durou poucos minutos, pois novamente Annelise perdeu sua espada, porém, estava contente por ter aprendido em tão pouco tempo. Damara devolveu as espadas para os donos e encarou Yoongi.

— Admiro seu poder, Yoongi.

— Por quê?

— Porque você pôde controlar os movimentos desta menina.

            Quando todos os olhares se direcionaram ao rapaz, a confusão em sua face os fez rir, então Damara cruzou os braços.

— Vocês não são mais simples amigos, agora todos são irmãos, todos têm ligação entre si. Assim como Yoongi conseguiu ajudar Annelise, pode ajudar cada um de vocês.

— Com isso ele pode nos fazer enfraquecer?

— Toda manipulação exige muita força, concentração e energia. Mesmo que ele use deste poder para vantagem própria, seria como assinar a própria sentença de morte. A manipulação que ele usou causou dano a ele, pois não pôde mais a usar quando desarmei a Annelise. Essa é a desvantagem de cada um de vocês. Se usarem seus poderes em excesso, ficarão mais fracos rapidamente.

— Então eu tenho que evitar me curar? – Perguntou Taehyung, mas Damara negou.

— Isto não é algo que você controla, é algo que seu corpo faz por vontade própria.

— Damara. – Sussurrou JungKook.

— Sim?

— Quando minha mãe faleceu, eu vi um homem junto dela. Um homem de olhos vermelhos... um demônio! Eu quero saber sobre ele.

— Desculpe-me, mas eu não tenho conhecimento o suficiente sobre isso. Existem diversos demônios, JungKook, e eles podem tomar a forma que quiserem.

— Caso descubra sobre ele, conte-me.

— Certamente, mas por quê?

— Porque eu tenho assuntos pendentes com ele.

            Disse ele ao erguer a cabeça e cerrar os punhos, e Damara apenas concordou com um gentil sorriso, sequer deixando transparecer seu conhecimento sobre o demônio que ela mesma mandou.

— Yoongi e JungKook, serão os primeiros a batalhar.

            Quando ambos foram para frente e o restante sentou-se para assistir, Yoongi e JungKook reverenciaram e posicionaram suas espadas, e a última frase dita por JungKook preocupou Yoongi.

— Perdoe-me, meu caro amigo.

            Yoongi ergueu as sobrancelhas e no mesmo instante a luta iniciou. O Rei desviava de cada golpe conforme acertava a lâmina de sua espada na cintura alheia, mas não aprofundando o corte, e Yoongi tentava não machucar o amigo, porém, quando os olhares de ambos encontraram-se, Yoongi viu o motivo para seu antigo amigo lhe pedir perdão.

— Casarás com minha amada, Jeon JungKook? Sequer teve a decência de avisar-me.

            Após um ranger de dentes, Yoongi abaixou seu corpo para desviar da lâmina alheia, aproveitando-se do momento de vantagem para rasgar a barriga de JungKook, que ao sentir a dor largou a espada e caiu de joelhos. Os olhos de Yoongi perderam a cor, tornando-se completamente negros, e quando a respiração acelerou seu corpo adormeceu e seu autocontrole se perdeu junto de sua sanidade. Apenas aquele leve indício de seu demônio serviu para que todos os outros quatro também dessem sinal de presença, e quando Damara viu Taehyung cair e gritar pela dor, sentiu o coração apertar.

            Ela segurou Yoongi pelo pescoço e facilmente ergueu o corpo dele, arremessando-o contra as rochas que de imediato quebraram. Quando ele sentiu a dor, seu corpo voltou a reagir e os outros caíram fracos no chão. Ela franziu a testa e cravou as unhas no pescoço dele, obrigando-o a levantar-se outra vez.

— Controle suas emoções, Min Yoongi. Não estamos aqui para nos preocuparmos com corações partidos.

— Eu não preciso ficar ouvindo essas baboseiras.

            Yoongi empurrou-a para trás com toda sua força, mas ela sequer saiu do lugar, continuou segurando-o pelo pescoço. Um silêncio incômodo os tomou, e após longos instantes, mais calmo, Yoongi pediu em silencioso choro:

— Por favor, deixe-me ir.

— Não pode permitir que suas emoções atrapalhem sua vida, Yoongi.

— Não é a perda de um amor que me corrói, Damara. O que mais me corrói é a traição de um amigo. Diga-me, senhora: alguma vez foi traída por aquele que julgou ser seu melhor amigo?

            Damara sorriu e balançou a cabeça positivamente.

— O meu amor e meu melhor amigo eram a mesma pessoa, Yoongi, e hoje eu sou obrigada a olhar o fruto da traição dele todos os dias, mas eu não permito que isso me tire do controle. O segredo da força e da coragem está no autocontrole. Deixe seu coração de lado durante hoje e coloque a sua sanidade em primeiro lugar.

            Damara soltou-o e pegou a espada ao lado dela, entregando-a para Yoongi, que observou o próprio reflexo deplorável na lâmina prateada. Ele voltou a olhar a bruxa que sorriu em resposta.

— Pegue esta espada e lute, porque em uma guerra ninguém estará preocupado com os seus sentimentos.

            Após acenar com a cabeça, Yoongi segurou sua espada e limpou as lágrimas em seu rosto, posicionando-se outra vez após reverenciar o amigo.

            A cada hora que se passava as habilidades e o controle deles melhorava, e o suor que pingava do rosto de cada um era a prova da vitória de cada um deles. Juntos tornaram-se fortes, juntos tornaram-se sábios e juntos tornaram-se maduros, e a cada dia que se passou durante os três meses seguintes Damara apegava-se mais a cada um deles, porém, o medo também a revestia junto ao afeto, e ao chegar tão longe em sua vingança já não se via mais sem ela; o carinho e orgulho de suas próprias criações aumentavam a cada conquista, até mesmo quando Annelise e JungKook subiram no altar um dia antes de seu pai também falecer.

Entretanto, juntamente aos grandes feitos e às grandes honras, os resquícios humanos desapareciam.

“Na batalha entre o ódio e o amor, o mais fraco sempre será aquele que mais profundamente atacar.”