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História The Five Guardians - The Sacrament


Escrita por: KimYutaka

Notas do Autor


OOOOOOOOOOOI!!! Isso mesmo, eu retornei com a fic depois de um longo tempo, desculpem-me. ):
Bom, vocês merecem uma explicação para o meu sumiço, certo? Certo. Vamos lá:
Ano passado eu precisei apagar a fanfic às pressas e não pude dar o final a vocês, e isso porque eu reescrevi ela inteira como livro. Um livro com cerca de 450 páginas cheias de carinho e muuuuuuuuuuito mais detalhadas e bem escritas do que a fic. Eu decidi colocar meu livro em um concurso, mas acabei não conseguindo participar e isso me desanimou um pouco e acabei desistindo de repostar a fic temporariamente, mas recentemente eu repostei a primeira temporada (que também estou escrevendo como livro no wattpad), então decidi que vocês merecem o último capítulo dessa belezura!! O capítulo está identico ao do livro, exceto pelos nomes dos meninos que precisei mudar por causa dos direitos autorais e essa coisa toda. Bem, eu novamente tentarei a premiação e voltarei a apagar a fanfic, então aproveitem bastante esse tempinho, porque até o dia 10 do mês que vem eu vou apagar a fanfic novamente!!! É com muita do no coração que eu anuncio isso, mas é necessário para eu seguir o meu sonho de ser uma escritora profissional, hm? Mas eu jamais esquecerei de vocês e de todo o carinho até aqui, então assim que possível eu voltarei, hm??


Agora vamos à leitura, amores! <3

Capítulo 49 - The Sacrament


Fanfic / Fanfiction The Five Guardians - The Sacrament

  

"— Muitos têm sorte, mas poucos sabem como a usar. Nascestes com uma sorte imensa, Damara, mas tens de saber usá-la, pois as consequências são tão imensas quanto." — Allane.

 

 

           

"Podem implorar, minha senhora, podem chorar e até mesmo se ajoelhar diante a nós, mas eles não serão libertos de seus próprios destinos. Então, quando a última guardiã completar seus dezoito anos, o grande dia começará!"

Então, após a bruxa dizer isso a mim, meu chão desapareceu, pois eu sabia que meu filho seria a causa do maior desastre que este mundo conheceria.

Ela prometeu e eu sei que ela cumprirá! As Igrejas estarão vazias, o solo não será mais fértil, as riquezas que conquistamos com tanto empenho não serão suficientes para salvarmos os reinos e, por fim, o diabo conseguirá vencer.

Cuida-te, meu amado filho, antes que o dia final chegue.

 

Jeon Sunhee.

 

xxx

 

 

            Damara vestia-se apressada junto do Conde, o qual já havia separado roupas e mantimentos em sua carruagem. A esposa estava tremula, mas tentava aparentar calma, no entanto, Taehyung percebeu, segurando-a as mãos.

— Não temas, minha amada, em poucas horas estaremos distantes.

— Os cavalos resistirão? Preocupo-me com eles.

— Aguentarão o suficiente até chegarmos à nossa primeira parada, lá descansaremos para prosseguirmos.

            Ela concordou e sorriu junto dele, recebendo um demorado beijo na testa. Taehyung puxou de cima da cama duas túnicas com capuz, vestindo-se após também vestir a esposa, a qual não contestou.

— Para que vestir isso?

— Pensarão que sou um padre, e se mantiver seu rosto coberto, não verão que és uma mulher. Vamos.

            Ele segurou-a uma das mãos, mas antes que pudessem se retirar do local, Damara parou de andar, fazendo-o olhar em seus olhos cansados.

— Taehyung, e se eu morrer?

— Cumprirei minha promessa de permanecer ao teu lado. Lutarei até o fim por tua vida, minha amada, e se não for o suficiente, morrerei junto a ti.

            Então, após um reconfortante sorriso de ambos, saíram do Palácio às pressas, mas mantendo um silêncio absoluto. Os empregados já estavam em seus aposentos, e o ambiente estava silencioso, nem mesmo Seokjin estava presente, o que facilitou a fuga. Taehyung ajudou a esposa a subir na carruagem, rapidamente subindo à frente e olhando ao redor pela última vez, mas não tinha tempo para memorizar cada detalhe, então apenas olhou para as plantas do jardim, despedindo-se de seu país.

 

 

xxx

 

 

 

— Então, meu filho, deixo a ti não só o trono, mas também o conhecimento do oculto. O destino de nosso reino está em suas mãos.

            Jungkook fechou o diário ao respirar fundo e o colocou de lado, juntando-se ao silêncio de seus amigos. Ele encostou-se na cadeira e ergueu sua cabeça.

— Ela enganou a todos nós! — Esbravejou Yoongi, socando a parede. — Como ela pôde? Tão maléfica e inteligente!

— Sequer desconfiei de sua bondade. — Jin soprou um riso, balançando negativamente a cabeça. — Precisamos procurar por meu primo, Jimin e Hoseok!

— Jimin e Hoseok são o de menos neste momento. Precisamos encontrar imediatamente Taehyung e contar a ele toda a verdade.

— Annelise tem razão! — Disse Jungkook, levantando-se ao retirar seu relógio de bolso e checar a hora. — Faltam menos de duas horas para meia noite, temos que correr antes que o dia vire.

— E o que faremos quando o encontrar?

— Juntar-nos-emos e mataremos Damara.

            Jungkook respondeu ao Jin, rapidamente recolhendo o diário e saindo juntamente aos outros três, para irem ao estábulo e cada um montar em seu respectivo cavalo. A noite estava fria e garoava, fenômeno raro nos últimos dias, mas isso não os intimidou, seguiram seu caminho rapidamente, e durante este perceberam certa movimentação. Os plebeus curvaram-se em frente ao seu Rei, mas impediram sua passagem.

— Como ousam? O que há na fronteira? — Perguntou Yoongi em um grito, olhando o fogo não tão longe.

— Há uma feiticeira entre nós, milorde. — Um jovem rapaz disse. — Procuramos por ela, mas acreditamos que ela está em fuga!

— De quem falas, rapaz? — Perguntou Jin.

— Damara, senhor.

            Entreolharam-se brevemente, então Jungkook respirou fundo e olhou para seus súditos.

— Ouçam! — Disse alto — Estão corretos em pensar que há uma bruxa entre nós e, como todos bem sabem, não admitimos devoção ao Demônio nestes reinos, ou seja, todos têm a minha permissão para prosseguirem com a caça! Aquele que a trouxer até nós, terá em suas mãos um ótimo pagamento. Não permitam que uma mulher qualquer nos tire dos caminhos de Deus. Vão!

            Ele gritou ao erguer sua espada ao céu, então, imediatamente, voltaram à sua perseguição, enquanto os nobres procuravam Damara e Taehyung pelos locais mais óbvios, no entanto, era tudo em vão. Quando finalmente chegaram à fronteira, a cavalaria tentava conter as pessoas de todas as formas, até mesmo já havia alguns feridos, e irritado com aquilo Jin desceu de seu cavalo e impediu Alcander de ferir mais uma pessoa.

— Onde está sua esposa?

— Também a procuro, meu caro!

— "Meu caro"? — Jin soprou um riso, olhando o cavaleiro de cima à baixo. — Não seja informal, insolente!

— Perdoe-me, Vossa Majestade, estou tão desolado!

— Pouco me importo com seus sentimentos, cavaleiro, apenas ordene aos seus homens que não impeçam a passagem destes camponeses. Toda ajuda é bem-vinda.

            Alcander concordou e curvou-se diante ao seu rei, para logo seguir suas ordens. Os três nobres já estavam no chão, mas voltaram a subir em seus cavalos quando um senhor trouxe a informação de que havia encontrado pistas. Seguiram aquele homem com pressa, deparando-se não tão longe dali com uma carruagem, mas sem cavalos. Jin pulou para o chão, abriu a porta da carruagem e retirou algumas vestes de dentro dela. Suspirou.

— Estiveram aqui, são as roupas de Damara.

— Abandonaram o peso e seguiram em seus cavalos. Inteligentes. — Disse Annelise.

— A bruxa não deve estar muito longe daqui. As rodas da carruagem ainda estão quentes.

            Alcander, que estava agachado ao lado do veículo, falou, levantando-se novamente e subindo em seu cavalo, mas antes que ditasse os planos de busca, gritos revoltos foram audíveis, chamando a atenção de todos. Rapidamente cavalgaram em direção ao pequeno incêndio visto anteriormente pelo Barão, mas não precisaram cavalgar nem cinco minutos sequer, pois logo viram Taehyung abraçado à Damara, enquanto que com a mão esquerda apontava sua espada a qualquer um que ousasse se aproximar.

— Damara Beaumanoir, condeno-te à fogueira por bruxaria! — Esbravejou Jin, olhando-a de cima de seu cavalo.

— Não a tocarão, a menos que me matem! — Disse Taehyung.

— Estás cego, meu caro! Esta mulher em seus braços é o próprio demônio. Tenho como provar o que digo, tudo está escrito no diário de minha mãe.

— Sua mãe era louca, Jungkook! — Taehyung soprou um riso. — Quem garante que ela estaria escrevendo a verdade?

— Sua máscara caiu, Damara. És uma pobre coitada que enfeitiçou meu primo. Ouça, Alcander! — Disse Jin. — Sua amada e boa esposa está casada com meu primo e espera por um filho dele. Mostre-se ao seu verdadeiro marido, Damara.

            Ela agarrou-se ao Conde, escondendo o rosto o quanto conseguia, e mesmo que Alcander fizesse parte de tudo aquilo, desceu de seu cavalo, trêmulo e com seus olhos cheios de lágrimas, deploravelmente humilhado.

— O que ele diz é verdade, minha querida?

— Ora, seu tolo, não se finja de inocente!

            Gritou Damara, afastando-se de Taehyung e tirando o capuz de sua túnica.

— Sabias muito bem que a ti eu não pertencia mais, assim como também me traístes com a antiga Duquesa! Conte a todos que enquanto eu era devota a ti, engravidastes uma mulher comprometida. Vamos, querido, conte a eles que Kim Namjoon era seu filho!

            Alcander fingiu estar ofendido e funcionou bem, pois logo objetos foram arremessados contra a bruxa, fazendo-a esconder-se novamente nos braços do Conde. Palavras ofensivas eram jogadas contra Damara, e cada pessoa que tentava se aproximar era morta ou ferida pela espada de Taehyung, o qual não demonstrava remorso algum em tirar a vida daqueles camponeses. Então, quando o cavaleiro finalmente percebeu a barriga de sua antiga esposa quando o vento grudou a túnica no corpo dela, uma raiva imensurável surgiu em seu peito, fazendo-o avançar para cima do conde, o qual habilmente esquivou-se, usando sua própria espada para defender-se dos golpes do cavaleiro, mas Kim estava em desvantagem, já que ao mesmo tempo em que lutava tentava proteger sua esposa. Alcander estava em perfeita postura, e frequentemente conseguia acertar o corpo do Conde, e durante aquela batalha os súditos tentavam puxar a bruxa dos braços dele, porém, a força de Taehyung era grande e seu braço não se soltava do corpo de sua frágil esposa.

            Os pés arrastavam-se no chão de terra e pedras, mas aquilo não era obstáculo para nenhum dos dois, que se moviam em sincronia, como se tivessem ensaiado; eram dois espadachins à altura, dois oponentes difíceis de derrotar, apesar de um deles estar usando apenas um dos braços.

— Já basta!

— Quem vem lá?!

            Gritaram os camponeses quando ouviram a ordem, então, distraído, Taehyung foi desarmado, mas antes que Alcander o cortasse a cabeça, Jimin e Hoseok cavalgaram entre as pessoas, derrubando-as sem dó, e desarmaram o cavaleiro. Ambos fizeram uma barreira ao redor de Taehyung e Damara, e em ocasião tão especial, Jimin usava de sua espada herdada do pai.

— Saia da frente, Jimin! — Exigiu Jungkook.

— De maneira alguma, meu caro. Não permitiremos que a toquem.

— Passarão por cima de nós se quiserem.

            Disse Hoseok, olhando desafiador aos amigos, mas era em vão suas ameaças, já que há tempos a amizade não existia. Alcander, discretamente, aproximou-se de sua espada caída e a pegou, e aproveitando-se dos instantes de distração, ele agarrou Damara pelos pulsos e a encostou em seu corpo de costas para si, apoiando a lâmina em seu pescoço. Taehyung passou entre os cavalos e tentou atacá-lo, mas os reis pularam para fora dos animais e o impediram.

— Soltem-me, vermes imundos!

— Escute-nos, Taehyung! — Exigiu Yoongi. — Não deves confiar nesta bruxa!

— Ora, e quem és tu para dizer em quem devemos confiar? Roubaste a mulher de teu melhor amigo!

— Kim Taehyung!

            Desta vez quem gritou foi Jin, seu primo, apertando-o os braços com força o suficiente para o fazer gritar quando as unhas curtas o cortaram a pele. Damara tentou chamar por Jimin e Hoseok, porém, estes já estavam caídos, imobilizados por alguns cavaleiros, e mesmo que facilmente pudessem se livrar, tinham medo de também serem condenados. 

— Taehyung, podemos provar que ela mente. — Disse Yoongi, mantendo-se com a voz neutra.

— Não acredito em ti!

            Yoongi não tentava mais falar, pois sabia que um homem cego de amores não ouvira nem mesmo a Deus, então decidiu mostrar-lhe de outra forma. Ele colocou-se entre Damara e Taehyung. Seus movimentos e agilidade eram incríveis, e quando Yoongi fechou os olhos as duas mãos foram de encontro às cabeças deles, e bastou dois segundos para todas as memórias serem transmitidas para o Conde, pois aquele momento de medo e fragilidade de Damara era a deixa perfeita para que ele se aprofundasse nas memórias mais obscuras da bruxa.

            A jovem Damara, a morte de sua mãe, o primeiro beijo de Alcander, o acordo com os demônios, as mortes e as maldições. Taehyung viu tudo, até mesmo quando as famílias adoeceram. Tudo era culpa de sua amada, tudo o que acontecia e sentia era culpa da única mulher em quem confiou seu coração, e tudo passava-se em sua mente em um raio, mas aquelas memórias ficariam marcadas durante toda a eternidade. Yoongi discretamente escorregou as mãos para baixo outra vez, ofegante e enfraquecido, levando as mãos ao peito que apertava. Damara estava quieta, de olhos fechados e chorando em silêncio, ainda com a espada posta em seu pescoço.

            Taehyung, quando mais calmo, soltou-se dos primos e deu um passo à frente, erguendo sua mão cautelosamente até o rosto de sua amada, secando-a as lágrimas. Os olhos assustados e arrependidos de Damara fixaram-se aos do Conde, e quando ele sorriu pela última vez, virou-se de costas.

— Queimem-na.

            Damara gritava em desespero, e ao contrário dela, o povo gritava em clamor a Deus. Um dos cavaleiros tampou-a o rosto com um saco de pano preto, enquanto Alcander prendeu-a as mãos com cordas que lhe foram entregues por um camponês. Ele a empurrava enquanto direcionavam-se ao centro da praça do povoado em frente à cavalaria e aos nobres. Jimin e Hoseok também estavam presos, mas suas faces estavam livres, e a todo instante mantinham-se de cabeças baixas. Ali, na praça, havia lenhas empilhadas em volta de um tronco de madeira erguido a muito custo, e Alcander, sem ajuda alguma, guiou ela pelo pequeno caminho aberto até o tronco; as mãos dela foram soltas, mas em questão de segundos já foram presas outra vez com ainda mais força. Alcander queria que ela sofresse, e queria que Taehyung visse o desespero no rosto da mulher que amava, e por isso retirou o saco que cobria o rosto deplorável da bruxa. Quando ele saiu, mais lenhas foram jogadas. Não havia padres ou seminaristas, mas havia o povo devoto a Deus e isso já bastava para que aquela bruxa fosse mandada para o Inferno. Ela gritava, implorava e praguejava, mas de nada adiantava, ela era a única culpada, a única vilã aos olhos deles, mas mal sabiam que ela também era fruto de uma injustiça.

            As tochas acesas foram jogadas contra a madeira e folhas, e mesmo com a garoa, as chamas pegaram rapidamente; Damara tentava se esquivar e movia o corpo com toda sua garra para escapar ou derrubar o tronco, mas seus esforços eram inúteis e patéticos, ela ouvia constantemente “morte à bruxa” ou “Deus é justo”, porém, que justiça era aquela que os “fiéis” acreditavam? Com certeza não era a de Deus. Damara sentia na pele o desespero de seu povo, sentia no coração a injustiça com suas práticas que existiam antes mesmo do Catolicismo, e sentia na alma a dor de ser queimada viva. Ela chamava por Taehyung, mas este mantinha-se firme e evitava a olhar. As pernas começavam a queimar, a temperatura a fazia suar, e sua pele parecia derreter entre as chamas. A dor era insuportável e apesar de seu ódio ela desejava que sua morte fosse rápida, pois somente ela sabia o que estava sentindo.

            Os olhos cheios de lágrimas, inchados e rancorosos olharam Taehyung.

— Kim Taehyung! Prometeste-me amor e cumplicidade eterna, mas não pôde cumprir! — Exclamou ela com a voz sôfrega. — Contudo, és covarde! — Disse, concentrando suas forças em sua linha de pensamento. — Amaldiçoo-te, Kim Taehyung. Amaldiçoo a todos, cretinos! Viverão este inferno durante a eternidade!

            Ela gritava conforme as chamas cobriam seu corpo, mas ninguém além do próprio Taehyung se comovia. Alcander sorria, de braços cruzados, mas o que sequer desconfiou foi que os nobres também sabiam sobre ele. Jin, discretamente, aproximou-se do cavaleiro e o amarrou as mãos.

— Condeno-te, Alcander, por pregar a palavra do diabo.

            Alcander relutou, moveu-se para os lados desesperadamente, mas sua movimentação serviu apenas de auxílio para o Jin, que o jogou entre as chamas altas. Junto aos gritos de Damara, os do cavaleiro eram audíveis e ainda mais altos, e quaisquer esforços eram inúteis, porque a dor não o permitia raciocinar com calma para levantar-se dali. Este era o fim, eles acreditavam. Aquele era o fim de todo um sofrimento, porém, sem o aviso do sino da Igreja, sequer perceberam quando a noite virou.

            Os céus escureceram, as nuvens negras corriam em círculos acima dos reinos, e apesar de a morte ter calado os gritos da bruxa e do cavaleiro, os trovões davam som à noite. A tempestade caíra e apagou o fogo rapidamente devido sua força, e na tentativa de se protegerem, o povo tentou correr, mas algo parecia os prender ali.

            O coração de Jin pareceu perfurar seu peito e sua pele era tão incômoda quanto o fogo que a pouco queimou sua criadora; eles, os guardiões, arranhavam-se e com uma facilidade inacreditável arrancavam suas peles. As cabeças pendiam-se bruscamente para os lados quando os pescoços evidenciavam a carne e as veias enquanto tornavam-se ainda mais longos. O rosto humano descolava da carne quando a face animalesca surgia, e os dentes afiados e evidentes eram ainda maiores que suas mãos. O povo gritou em desespero, mas não adiantava tentarem fugir, pois aquelas criaturas, aqueles demônios, os seguiam com rapidez. As cabeças eram as primeiras partes a serem arrancadas com as presas, e devido à força, metade do tronco também rasgava ao meio.

            A chuva espalhava o sangue, mas não abafava o terror nas súplicas do povo, o que era inútil, porque como Taehyung havia dito: eles foram esquecidos por Deus.

            As asas enormes e macias estavam molhadas, mas sequer isso os impedia de usá-las para de movimentar de lá para cá; porém, aquela chacina fora tão rápida que sequer serviu-lhes para matar a fome. Os pedaços de corpos estavam espalhados por todos os lados, o fogo não existia mais, não havia mais vida humana, porém, havia as criações do diabo.

            Silêncio.

            Respirações pesadas.

            A energia do ódio.

            As mágoas humanas.

            E um novo odor: medo.

            Jimin e Hoseok ainda estavam vivos, escondidos e tentavam fugir, pois até mesmo seus próprios demônios curvaram-se em rendição. Taehyung virou a cabeça para trás e os olhos profundos encontraram os dois amigos, mas tentar fugir foi em vão, suas vidas foram tiradas tão inutilmente que sequer sobrou tempo para arrependerem-se. Contudo, aqueles dois pedaços de carne podre eram como iscas para as outras criaturas, e era Jin que as mais queria, afinal, nenhum de seus irmãos poderia ter melhor refeição do que ele.

            As garras do Guardião do Inferno fincaram no pescoço grosso de seu primo, jogando-o facilmente contra a Igreja, fazendo a construção desmoronar como se fosse cinzas jogadas ao vento. O Guardião dos Portais sequer sentiu cócegas, e impulsionou o corpo para cima do seu inimigo, arrancando-o um pedaço da asa com os dentes; em instantes aquilo voltou a virar uma cena ainda pior que a do purgatório. Eles voavam em círculos agarrados uns aos outros, arrancando-os cada pedaço do corpo, mas é claro que uns tinham mais vantagem do que outros. Taehyung era mais forte que Jin, que era mais forte que Yoongi, o qual sequer chegava aos pés da força de Annelise. Porém, Jungkook era superior, mais astuto e ágil.

            Aquela não era apenas uma luta corporal, suas proporções ultrapassavam até mesmo a batalha espiritual deles. Damara dizia que as criações de Lúcifer eram mais perfeitas que as de Deus, mas aquela foi a maior mentira na qual ela caiu em vida. As criações não eram perfeitas, e o plano tornou-se tão imperfeito quanto.

            Lúcifer não podia permitir que uma de suas chaves morresse, mas nem mesmo ele imaginaria que suas criaturas seriam mais fortes que ele, e mais uma vez ele sentiu-se inferior, tão inútil quanto um inseto.

            O que o diabo não percebeu era que sua falha estava justamente nos planos de seu criador. Jungkook era parte sua, mas a outra parte dele era de Deus, fruto do arrependimento de sua mãe cristã, e isso explicava o porquê de ele ser tão luminoso quanto um ser celestial.

            Taehyung deu o último golpe em Jin, que o olhava com fúria, mas não conseguia mais lutar; estava sem suas asas, sem seus braços e pernas, um dos olhos estava saltado e o sangue negro pintava o cenário antes vermelho. Taehyung estava enfraquecido, mas ainda conseguiu tempo para arrancar a cabeça de seu irmão.

            Annelise não havia movido um músculo sequer, porque a única missão dela era guiar nossas almas quando estivéssemos todos mortos, mas ainda restavam Yoongi e eu vivos. Ele olhava-me com desdém, e apesar de estar tomado por seu lado demoníaco, os olhos continuavam exatamente com a mesma essência de quando era humano. Meu velho amigo deu um passo à frente e sua escuridão tentava me cegar, mas nada conseguia atravessar o escudo energético que tinha em volta de mim. Ele tentou me atacar diversas vezes, mas sempre que tentava se feria, eu ainda o amava e pedia para ele se redimir, visto que eu era o único que ainda tinha consciência, mas ele não me ouvia, ele me odiava e permitiu que suas emoções mal resolvidas quando humano interferissem. Eu percebi que ele sofria e que não desistiria, e percebi que uma lágrima escapava de seus olhos, entendi sua súplica. Eu fechei meus olhos, ergui minha mão e segurei-o a cabeça. Sussurrei um pedido de perdão e, sem medir o mínimo esforço, estourei-o o crânio. Yoongi caiu ajoelhado aos meus pés. Sem vida. Sem essência. Sem amor. Eu sabia o que deveria ser feito em seguida, sabia que precisaria acabar até mesmo com o grande amor da minha vida.

            Então caminhei até Annelise, parada e quieta. Segurei-lhe as mãos e ela não reagiu em momento algum, pois era para isso que ela servia: aceitar o que seus irmãos impunham. Ela abaixou a cabeça e eu toquei o peito palpitante dela, e palpitante o coração dela foi arrancado por minhas mãos.

            Havia acabado. Até mesmo a chuva havia acabado. E quando pensei em também terminar com a minha vida, apaguei em um sono impossível de controlar. Na manhã seguinte, com estupidez, o sol apareceu. Eu era humano outra vez e estava deitado acima dos corpos. Eu consegui reconhecer meus amigos, minha esposa, meus súditos e até mesmo meus criadores, apesar de seus corpos queimados.

            Eu gritei tão alto que meus pulmões arderam em uma imploração por perdão, mas Deus não me ouviu, quem me ouviu foi ele. Aquele homem que desde que eu nasci me guiava no mundo. Ele apareceu caminhando contra o sol, em direção a mim e ajudou-me a levantar. Eu não conseguia o odiar, porque sabia que ele não arquitetou aquela maldição, era apenas um escravo como eu. Ele, com sua sempre elegante postura, colocou as mãos para trás e sorriu.

— Tu sabes que não acabou, não é? — Disse ele e eu assenti em silêncio. — Não acabará até que Damara queira.

— Mas ela está morta.

            Ele soprou um riso, olhando ao redor.

— Mas está viva ao lado de Lúcifer, meu caro.

— Como acabo com ela? — Perguntei disparado, mas ouvi outro riso.

— Não acabas, rapaz. — Ele moveu os ombros e começou a caminhar em volta de mim. — Tínhamos um trato.

            Eu outra vez assenti e respirei fundo, sentindo o cheiro lúgubre impregnar em minhas narinas. Sequer me importei.

— Tenho um favor a pedir-te.

— Ah, tu tens sim.

            Ele sabia desde o início, e sorridente parou de andar, virando-se de frente para mim.

— Já que Damara condenou-nos até a eternidade, suponho que tu saibas o que virá a seguir.

— Tu passarás juntamente de teus amigos o mesmo que viveram agora em cada reencarnação, porém, a tendência é piorar. Damara não parará até que se liberte do Inferno, ela planejou até mesmo a própria falha.

            Ele sorriu outra vez e sentou-se na pilha de corpos ao lado, como se aquele fosse o mais confortável dos sofás.

— O que propões, rapaz? — Perguntou ele.

— Quando renascermos, quero que não lembremos disto.

— Por quê?

— Porque se não lembrarmos do que vivemos, evitaremos grande parte disto. Por exemplo o meu amor por Annelise, que resultou em minha desavença com Yoongi.

— Contudo, meu jovem, não poderei mascarar a verdade por toda a eternidade. — Ele se levantou e aproximou-se outra vez de mim. — Esquecerão, sim, porém, se restarem sobreviventes, lembrarão de tudo o que viveram nas vidas passadas.

— Por quê?

            Perguntei e ele balançou a cabeça em direção à Damara.

— Porque é assim que ela quer.

— Então proponho mais! Quando eu renascer, serei privado de minha visão, pois desta forma não reconhecerei Annelise e não me apaixonarei por qualquer outra mulher. Contudo, se mesmo assim acontecer, minha visão voltará e eu perderei todas as habilidades de meu Guardião.

            Ele não esperava por minha sugestão, e surpreso ele ergueu as sobrancelhas, apagando até mesmo o sorriso que sempre estava em seus lábios. Ele chegou a contestar e pensou em negar, porém, quando ele ousou tentar falar, calou-se e olhou sutilmente para o lado. Eu nada via, mas sentia-a ali. Damara estava ao lado dele, Damara falava com ele e era ela quem decidia o que eu faria.

            Ela sempre gostou de jogar desta forma.

— Pois bem, rapaz! Faremos do jeito que queres.

— Tem mais uma coisa.

— Diga-me.

            Eu olhei ao redor, como se desta forma eu pudesse me despedir do lugar em que surgi, vivi e amei. Então, evitando o olhar nos olhos, eu disse:

— Destrua estes reinos.

— Desculpe-me?

            Ergui a cabeça e mantive-me firme, segurando-me para não chorar diante ao demônio.

— Tu tens este poder e sei bem, pois tu já disseste anteriormente que com um estalar de dedos, se quem tivesse poder sobre tu permitisse, tu destruirias uma nação inteira. — Abri um sorriso no canto dos lábios. — Ordeno-te que faças isso, em nome de seu grande amor e perdição, em nome de minha mãe que amaldiçoou teu coração quando tu eras um anjo, Athanasi.

            Quando o nome dele foi dito por mim, o céu iluminou-se ainda mais junto ao corpo dele, e ele cambaleou para o lado, mas não chegou a cair. Ele colocou a mão no peito e olhou-me com um sorriso agradecido, e como trato é trato, ele ergueu sua mão, unicamente para dar charme ao seu ato, e estalou os dedos.

            A última coisa que eu vi antes de tudo ser destruído com o fogo foi a cor de seus olhos.

            Athanasi tinha os olhos castanhos, um belíssimo e compreensivo olhar castanho.

 

 

 

— Você o viu de novo? — Perguntou-me ela.

— Eu nunca mais vi aquele anjo, mas eu sou grato a ele, porque sempre foi prestativo.

— E a Damara?

            A voz dela abaixou alguns tons quando disse o nome da bruxa, como se aquele nome fosse tão maldito que não deveria ser pronunciado. Eu sorri e tateei a mesa da cafeteria, puxando a bengala para mim. Levantei-me apoiando uma das mãos à mesa, e mesmo sem enxergar o rosto de Eunji, eu sabia que ela estava com uma expressão assustada.

 

Eu não a respondi, afinal, eu não podia dizer que a Damara estava bem atrás dela.

 

FIM


Notas Finais


E, finalmente, este é o fim!
Eu espero que não se esqueçam dessa fic nunquinha e que, se possível, lembrem-se dela quando eu conseguir publicar o meu livro, e lembrem-se de que não seria possível sem vocês que me acompanharam até aqui.
Obrigada, obrigada e obrigada! É difícil se despedir depois de 3 temporadas, desde 2015... bom, mas valeu a pena, porque vocês são os melhores leitores do mundo todo!!!

Beijinhos e eu os vejo em breve.
Amo vocês. ;-; <3


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