02 de dezembro de 1503
NamJoon permanecia sério em sua carruagem, após a cerimônia de nomeação à Duque, evento no qual ele não mostrou sequer um sorriso. A morte de seus pais, mesmo após duas semanas, ainda o afetava de certa forma, mas não havia tristeza, havia raiva e vergonha pela mulher que ele sempre considerou um exemplo. Os boatos ainda corriam, e sempre que chegavam aos ouvidos de NamJoon, ele ordenava que algum camponês desonesto matasse aquele que algo disse em troca de dinheiro. A crueldade nele era imensa, a dor e a vergonha o dominaram de tal forma que até mesmo o último vestígio de sua inocência se foi, exceto quando se tratava de Damara, a mulher que aos olhos dele era boa, gentil e traída. Ele se culpava por ser filho do marido dela e ela nem ao menos suspeitar, mesmo com os boatos, confiava plenamente no marido.
Após o cocheiro o deixar no povoado, NamJoon o agradeceu com um breve acenar e caminhou pelo comércio, um costume que sempre teve, mas que tornou-se ainda mais frequente após ele perceber o quão tedioso era ser um Duque e cuidar de todas as propriedades de sua família e assuntos da realeza.
– Gostaria de alguma coisa, rapaz?
Perguntou o comerciante ao ver NamJoon tocar seus tecidos, mas quando o olhar frio do mais alto cruzou com o seu, o homem abaixou a cabeça.
– Ah, Duque Kim, perdoe-me a tonalidade. Sinto por seus pais.
NamJoon não o respondeu, apenas virou-se de costas, ainda o olhando por cima dos ombros com a mesma frieza e seguindo seu caminho, mas por não prestar atenção à frente, esbarrou em alguém que logo caiu no chão. Ele arregalou os olhos e olhou para baixo, olhando com preocupação para a garota que mantinha as mãos pressionadas na cabeça, por provavelmente ter batido no chão. Aos poucos ela ergueu a cabeça para encarar aquele que a derrubou, e aqueles olhos azuis, grandes e cheios de uma bela raiva fizeram-no tremer. Ela estava irritada, mas até mesmo o bico formado em seus lábios contraídos e suas bochechas vermelhas atraíram ele. NamJoon ajudou-a levantar, curvando-se em frente a ela ao desculpar-se. A menina, antes irritada, abriu um largo sorriso e balançou a cabeça.
– Está tudo bem, eu sou desastrada, perdoe-me.
– Somos dois desastrados, senhorita.
– O senhor veio comprar tecidos? Olhe, os tecidos do meu pai são os melhores!
– Seu pai?
Ele ergueu as sobrancelhas quando a viu abraçar o senhor de antes, engolindo seco ao sorrir amarelo.
– Menina, não seja tão inconveniente, ele é o Duque Kim!
– Ora, e o que tem? – Perguntou ela, emburrada. – Os Duques também usam roupas!
Ambos riram, então o homem balançou a cabeça negativamente e passou o braço pelos ombros da menina.
– Perdoe a minha filha, senhor, ela é imprudente.
– Não se preocupe, ela é uma menina divertida. Eu sou o Duque Kim NamJoon, e vocês?
– Esse é o meu pai, Brandon! – Ela apontou para o homem, e depois para si mesma. – E eu sou Sophie. É um prazer.
NamJoon apenas sorriu, permanecendo preso aos olhos azuis dela, e ela não quebrou o contato do olhar, sorrindo timidamente conforme seu coração batia de maneira diferente e seu estômago revirava, como se algo a ligasse àquele homem, como se eu já conhecesse.
E, de fato, algo os ligava.
(...)
Jimin estava inquieto, batendo o pé rapidamente no chão enquanto tamborilava seus dedos na mesa, incomodado pelo pai que permanecia o chamando. O pai de Jimin retornou da batalha, ao contrário do pai de Hoseok que morreu tentando salva-lo, porém, a batalha foi de tamanha brutalidade que o homem perdera ambas as pernas, e isso tornou-se um incômodo para Jimin, que além de ser nomeado cavaleiro e arcar com o trabalho chato de seu pai, precisava cuidar dele o tempo todo, para qualquer coisa. Ele havia deixado o pobre homem dentro da banheira, sozinho, e a água fria torturava-o. Jimin não aguentava mais a deficiência de seu pai o atrapalhando, e a raiva o cegava, ainda mais no estado em que ele se encontrava, cada vez mais entregue ao demônio. Em um impulso de raiva, levantou-se e entrou no cômodo onde seu pai estava, imerso às lagrimas, implorando pela ajuda de seu filho. Jimin chorou com a decisão que tomara naquele instante, então ajoelhou ao lado do pai e tentou conter o choro.
– O pai não gosta de atrapalhar a sua vida, filho...
– Então por que atrapalha?
– Por favor, filho, sou a sua única família, precisa ter paciência...
– Não, pai. Não preciso.
– O que vai fazer, filho?
– Eu amo você, pai... perdoe-me.
Jimin secou as lágrimas e afundou a cabeça do pai na água gélida, fazendo-o se debater para tentar salvar sua vida, mas era em vão, Jimin estava extremamente forte e o pai não conseguia o conter. O choro do mais novo era alto, mas nem mesmo com toda a dor ele conseguia parar, era como se algo o guiasse naquilo, como se alguém o obrigasse a matar. Pouco a pouco a água parou de cair para fora da banheira e o corpo do pai parou de se mover. Ele estava morto. Jimin matou o próprio pai, mas o remorso não fazia parte da sua bagunça de sentimentos.
– Perdoe-me, mas não posso permitir que você atrapalhe os meus planos.
(...)
Duas semanas passaram-se após a morte de Park, a triste e trágica morte do homem honesto que havia se afogado durante o banho, segundo o que o filho contou às autoridades, que vendo o sofrimento do “herói” da nação, acreditou. Um banquete foi feito em homenagem ao homem que serviu durante tantos anos à família real, e mesmo com a alegria de estar naquela mesa, Jimin precisava manter-se sério e com seu luto diante das pessoas, mas Hoseok sabia do que o amigo havia feito, e isso não o assustava, pois assim como Jimin, Hoseok estava dominado pela ganância e pela maldade. Elizabeth servia sem pressa os pratos e a barriga já era visível, fazendo algumas pessoas cochicharem entre si e questionarem sobre o pai, rindo conforme faziam piadas. Jimin direcionou o olhar aos pais de Yoongi que estavam logo ao seu lado, então a Baronesa aproximou-se do rapaz e disse:
– Olhe só, jovem cavaleiro, que humilhação para esta família!
– Por que diz isso, minha senhora?
– Ora, uma criada grávida e nem ao menos tem um marido, pode ser de qualquer homem deste reino! É uma depravada mesmo.
Após o insulto, alto, Jimin apertou a faca entre seus dedos, mas Hoseok segurou o pulso do amigo com força, fazendo-o olhar para si.
– Pode passar o molho para mim, Jimin?
Jimin concordou e soltou a faca, fazendo Hoseok suspirar aliviado, então Jimin lhe entregou o molho e respirou fundo para se acalmar, então olhou para frente ao levar a taça de vinho aos lábios, percebendo o olhar de Cho-Hee sobre ele, um olhar convidativo e muito sensual para o rapaz.
– Diga-me, Jimin. – O rei chamou sua atenção – O que pretende fazer agora?
– Bem, meu senhor, ocuparei o lugar e as responsabilidades de meu pai, que descansa em paz.
– És um rapaz de ouro, Jimin. Tens futuro na cavalaria.
– Obrigado, Vossa Majestade.
– E quanto ao casamento, rapaz, já tens uma jovem dama para si? – Perguntou o Marquês, tão afeiçoado pelo rapaz, entre um sorriso.
– Infelizmente, não, meu senhor. Ainda não tive a honra de encontrar uma dama para cuidar de mim e de meu amor.
– Ora, mulheres estão em toda a parte, talvez a sua esteja diante de seus olhos.
O Marquês ergueu as sobrancelhas e moveu sua taça, sorrindo de canto antes de beber o vinho. O rei, percebendo o estranho ato do homem, olhou preocupado para a esposa, que ainda em sua depressão, olhava para o prato sem tocar sua comida, enquanto Damara, sorridente, deliciava-se com a tristeza daquela mulher tão imprudente para si.
– Bem, eu tenho um comunicado importante a fazer. – Disse Jin, levantando-se junto à Pandora. – Eu e minha amada noiva decidimos a data de nosso casório! – Ele sorriu. – Casaremos no próximo mês, conto com a presença ilustre de todos vocês, meus caros.
Os pais dele sorriram orgulhosos junto de Damara e Alcander, que estavam de mãos dadas, mas em meio às comemorações dos presentes, Taehyung arranhava a própria perna para conter a raiva de ver sua amada ao lado daquele homem, fingindo estar feliz junto a ele, mas o que o jovem sequer imaginava era que aquela felicidade não provinha do amor de ambos, e sim dos planos que começavam a dar certo.
A realeza começava a cair, o ódio começava a dominar e, assim, a vingança estava perto de ser alcançada.
A noite seguiu sem preocupações, e pouco a pouco os convidados foram se recolhendo nos quartos de hospedes, permanecendo acordados apenas Jimin e o Marquês, que por serem bons amantes de bebidas, apreciavam uma das garrafas de licor da coleção do rei.
– Jimin, és um bom homem, honesto, valente e preciso admitir, com boa aparência também.
– Estou lisonjeado, senhor!
– E não é para menos, rapaz!
– Estou curioso, meu senhor.
– Pergunte-me, então, rapaz.
– Quando anunciará o casamento de sua bela filha?
– O Príncipe Jeon não pareceu um bom partido para a minha amada filha.
– Poderia eu perguntar por quê?
– Eu conheço um homem apaixonado, conheço um homem de honra, e acredite: Jeon não é este homem. Vejo nos olhos dele que ama outra mulher, rapaz.
– De fato, meu senhor. O coração de meu amigo é de outra mulher, uma camponesa, acredita? – Jimin riu, sendo acompanhado pelo homem ao lado.
– Que péssimo gosto, é o mesmo que amar uma criada!
Jimin engasgou-se com o licor, mas quando se livrou da ardência em sua garganta, riu junto ao Marquês.
– Que tipo de homem poderia olhar para uma mera criada, não é mesmo? Elas servem apenas de diversão para muitos de nós.
– Concordo, rapaz! Eu mesmo me diverti muito com minhas criadas, e reconheço que você também.
– Ora, sou um homem, preciso me satisfazer, não é?
– És tão parecido comigo, Jimin! Tenho orgulho de conhece-lo.
Jimin riu e balançou a cabeça, respirando fundo para não pular naquele homem e o matar no mesmo instante, pois precisava fingir que não amava Elizabeth, precisava fingir que aquele filho não era seu.
– Se o senhor não quer que sua filha se case com o Príncipe, com quem ela se casará?
– Não sei, rapaz. Sugere algo? – O Marquês, sugestivo, encarou Jimin.
– Seria uma honra se o senhor concedesse a mão de sua filha a mim, meu senhor.
– O que te interessa em minha filha, Park?
– Ora, senhor, tens uma bela filha, inteligente, forte, saudável, amável e sei que seria uma ótima esposa, assim como eu seria um bom homem para ela.
– Está interessado em nossa fortuna, Park?
– Como pode pensar algo assim de mim, meu senhor? Contento-me com minha posição e minhas terras, mas como o senhor sabe, nós homens precisamos de uma boa esposa ao nosso lado.
– Pois bem, Jimin. – O Marquês levantou junto ao garoto, apertando a mão alheia. – Darei a ti a mão de minha filha, casará com ela e se tornará Marquês. Não encontrarei melhor homem para me substituir futuramente.
– Será um grande prazer caminhar ao lado de sua filha e ser fiel ao senhor, milorde.
Jimin sorriu junto ao homem, mas o momento de alegria fora roubado quando o barulho das taças de cristal caindo ao chão se fez presente. Jimin e o Marquês olharam para a porta, e a garganta de Jimin secou quando viu Elizabeth imersa em lágrimas, soluçando com o que acabara de ouvir. Ela acariciava a barriga e não desgrudava o olhar do amado.
– Criada imunda, estava ouvindo nossa conversa? Por que o espanto, tu estás apaixonada pelo meu genro? – Ele gargalhou – Pobre criada.
– Elizabeth. – Jimin a chamou – Estava ouvindo nossa conversa?
– Jimin, eu...
– Que desrespeito é esse com meu genro, maldita meretriz? – Gritou o homem, jogando a taça de licor no chão. – Deveria eu te punir?
– Não se preocupe, meu senhor! – Jimin sorriu – Eu darei um jeito nessa mulherzinha.
– Ora, pois dê, ou a matarei com minhas próprias mãos, rapaz!
Disse o Marquês e Jimin agarrou Elizabeth pelo braço, arrastando-a pelo chão, causando o riso no homem que seguia para seu aposento. Jimin a levou para o estábulo, longe de olhares curiosos e a jogou no chão.
– O que acha que está fazendo, Elizabeth? Quer acabar com a minha imagem?
– Eu não acredito, Jimin! Casará com outra mulher e deixará a mim e ao nosso filho desamparados?
– Elizabeth, quando eu estiver no topo voltarei para ti!
– Então é por dinheiro que faz isso? Você me enoja, Park Jimin! Eu não acredito que amei você, não acredito que darei um filho a você!
– Elizabeth, por favor...
– Eu odeio você, Jimin! Eu prefiro morrer a vê-lo casado com outra mulher!
– Pois morra, então! Porque casarei com a filha do Marquês, e você não poderá fazer nada, nem mesmo me chantagear com esse filho.
– Você se arrependerá, Jimin.
– Que venha o arrependimento, então, se dele preciso para usufruir da riqueza.
Ele abriu os braços e sorriu, virando-se de costas para então entrar outra vez no palácio, e mesmo percebendo o choro e os passos rápidos de Elizabeth atrás dele, ele ignorou, continuando em frente. Ele voltou para a sala de jantar e sentou-se em uma das cadeiras, servindo-se outra bebida para acalmar-se, massageando a testa quando uma leve dor de cabeça o atingiu. O choro de Elizabeth ainda era audível e isso o incomodava, porém, o que o chamou a atenção foi o barulho de cadeira arrastando na cozinha, e em poucos instantes o coração estranhamente apertou, fazendo-o sentir uma enorme culpa acima de si, e quando parou de ouvir o choro de sua amada, levantou-se e caminhou devagar à cozinha, tocando a porta.
– Elizabeth? Ainda está aí? – Perguntou, mas ninguém respondeu – Elizabeth, não tem graça, responda-me! – Outra vez o silêncio. – Elizabeth!
Irritado, ele gritou, empurrando a porta com força e entrando na cozinha, mas a cena que viu fez suas pernas fraquejarem e seu corpo cair ao chão, enquanto os olhos jorravam lágrimas. Elizabeth estava suspensa por uma corda presa às madeiras expostas do teto, enquanto o corpo dela balançava de um lado para o outro acima da cadeira caída que ela usou para seu ato. O rosto inchado, pele roxa e olhos vermelhos indicavam sua morte, e a culpa permanecia com Jimin, a culpa por ter feito a sua amada e seu filho morrerem.
– Rapaz, o que aconteceu aqui?
Perguntou o Marquês que, após tanto barulho, voltou à cozinha junto do Rei e de JungKook. Jimin estava em silêncio, controlando seu choro, então levantou-se.
– Essa pobre mulher, ela se confessou a mim e quando neguei a reciprocidade, cometeu este desesperado ato.
– Pobre mulher... pobre Jimin, está passando por tantas dificuldades.
Disse o rei, puxando Jimin para si em um abraço forte, e comovido pela “inocência” e “injustiça” de Jimin, o Marquês também o abraçou, porém, há poucos passos deles, JungKook encarava o amigo, como se pudesse ver através dele certa culpa e segredo, e quando percebeu a aura negra que rodeava o amigo, JungKook arregalou os olhos e deu um passo para trás, batendo seu corpo contra algo grande e gélido, e ao virar-se, viu um homem muito elegante parado, observando aquela cena, e quando os olhos avermelhados daquele homem sorridente encontraram o rosto de JungKook, o garoto se afastou, mas não conseguiu gritar.
– Não se preocupe, garoto! Eu não machucaria o meu filho.
E então, após estranhas palavras, o homem desapareceu diante dos olhos de Jeon, que ainda sem conseguir pronunciar uma palavra sequer, correu para seu quarto, trancando-se no mesmo imediatamente.
Aquele homem, por mais estranho que fosse, parecia semelhante para JungKook.
– Afinal, o que está acontecendo aqui, meu Deus?
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