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História The Kingdoms - NaruSaku - Chapter III


Escrita por: JonB

Notas do Autor


Hello Everyone!

Demorei, estou muito ocupado ultimamente, infelizmente não vivo de escrever (queria muito).

Quem quiser entender um pouco mais o Sasuke nesse cap, recomendo muito que escutem essa musica: https://www.youtube.com/watch?v=Mu8JxZLG0Wc Conforme vier os próximos caps colocarei outras musicas para mais entendimento dos outros personagens.

Bom, boa leitura. Relevem possíveis erros de digitação e ortografia, revisar cap enormes é cansativo e complicado. Até as notas finais.

Capítulo 4 - Chapter III


Fanfic / Fanfiction The Kingdoms - NaruSaku - Chapter III

III

362 d.P

 

*Cinco anos depois*

Sasuke

"Os homens preferem uma doce mentira a uma dura verdade"

George R.R Martin.

O crocitar dos corvos soava.

Os animais curiosos voavam circundando o campo poluído por cadáveres. Sasuke caminhou por entre os corpos espalhados, uma pequena carnificina que liderou minutos atrás, e o Uchiha fazia questão de observar cada um dos soldados mortos por onde passava. Não havia expressões neles e muito menos vida em seus olhos vidrados, enquanto as moscas pousavam nas carnes expostas e sangue derramado. 

O cheiro de morte parecia palpável, criando um gosto ascoso na boca, porém era tão costumeiro as suas narinas que para si já não incomodava, na verdade o lembrava o quão fedia o ser humano por dentro, não importasse quão perfumado e bem visto era enquanto vivo. A morte iguala os homens à mesma patente. A de meros restos de carne apodrecendo. Reis, fidalgos, nobres, plebeus, camponeses, ricos e pobres, eram iguais diante do fim inevitável que aguardava a todos.

E isso dava um senso de veneração à morte em Sasuke. Num mundo que vive de engano, a morte é a verdade que poucos reconhecem.

Deixou os companheiros despojando os itens de valor nos mortos e entrou no castro, passando por entre os portões de madeira escancarados e quase destruídos. Entrou segurando na mão direita sua espada ensanguentada com a ponta cortando a terra e criando um rastro conforme avançava. Na mão esquerda trazia pelos cabelos duas cabeças recém decapitadas, com sangue a pingar em grossas gotas por onde anteriormente possuíam pescoços.

Totalmente vestido de negro, com um grosso manto de peles por sobre os ombros, sangue seco espalhado em manchas secas pelo couro, e metade do rosto coberto pelos cabelos, quem o olhasse de longe pensaria ser ele a própria personificação da morte.  

No pátio os homens empilhavam as poucas riquezas do Conde Romir — seus quadros, alabastros, vasos e etc —, para então atearem fogo. O próprio conde, rendido de joelhos por Omoi em frente ao seu casarão, encarava as chamas devorarem os objetos em fortes estalos, transformando tudo em pó e fumaça negra. Porém, o forte e desesperado grito choroso da condessa, sua esposa, também rendida de joelhos ao lado, atraiu a atenção do homem rendido para Sasuke.

— Meus filhos!! — esbravejou a mulher se esperneando ao ver as cabeças degoladas que o Uchiha trazia. — Não!! Não! Não! – gemeu ela contorcendo o rosto em prantos.

Sasuke jogou as cabeças, que rolaram com a de bonecos, até os joelhos do conde.

— É esse o preço que desejava pagar? — indagou Omoi, um homem sulista e de pele escura, que se tornara tão amigo de Sasuke e Naruto que desejou vir para o norte junto deles. — Bastava apenas abrir os portões, velhote.

— Vantagem numérica não representa vitória — acrescentou Kiba, que rendia a condessa.

A vantagem numérica dos homens do conde na curta batalha foi pouca, ao ponto de nem ser necessário um cerco ao castro.

Sasuke liderou trinta dos homens de Naruto contra os cinquenta do conde, porém eram homens fora de forma, desacostumados com uma batalha. Diferente de seus adversários que voltavam da Segunda Grande Guerra, sobreviventes da maior carnificina que os sete reinos já presenciaram.

Nem mesmo a rebelião de sua casa, a Casa Uchiha, anos atrás foi tão sangrenta.

O Uchiha apoiou-se num joelho de frente para o homem, ambos agora na mesma altura. Romir encarava o que restou dos filhos com uma feição amargurada.

— Você matou meus filhos!! — esbravejou a condessa para Sasuke, com a voz engasgada pelas lágrimas. — Seu monstro!! Matou meus filhos!

Sasuke estalou os dentes negando com a cabeça.

— Eu matei, ou foi seu esposo? — indagou com ironia, sem tirar os olhos do Romir. Não falava à algumas horas e por conta da boca seca a voz saiu bem rouca.

— O que querem conosco!?

— Ela não sabe? – perguntou para o conde, que continuava em silencio e se quer prestou-se a olha-lo.

Um dos seus homens se aproximou atraindo as atenções.

— Sir Sasuke, os encontramos debaixo de um fundo falso na chancelaria – revelou o soldado.

— Escolte todos na carroça até os acampamentos — ordenou recebendo um aceno de cabeça do homem. Nesse momento ao fundo passavam homens e mulheres enfileirados de cabeças baixas, bem magros e sujos, vestidos em farrapos. Encaravam a todos ali com olhares caídos tamanha fraqueza.

— Quem são esses?! — indagou a mulher numa feição confusa que se intensificava pelas rugas. Porém Sasuke notou com curiosidade ser um pouco teatral a expressão dela.

— São escravos, madame — respondeu Kiba — O seu esposo é um contrabandista de escravos – revelou.

A mulher com o rosto ensopado de choro fez uma careta descrente.

— O rei e a cúpula dos anciões baniram no segundo século a escravidão em todo o continente — informou Sasuke apenas pela diversão de falar as consequências em seguida. — A punição para a violação dessa lei é a morte. No caso de fidalgos envolvidos há também a total desonra e desmembramento geral das terras.

— Como pôde, Romir?!! — esbravejou a condessa rangendo os dentes e tentando se soltar, mas Kiba não permitiu — Mandou nossos filhos para lutar por seus crimes!!

— Agora eu sou o monstro? — ironizou Sasuke, dessa vez com um sorrisinho de lado. Aquela situação o divertia demasiadamente e por si mesmo já teria matado os dois, mas deveria haver um julgamento ainda.

Após uma batalha seu estado de espirito sempre era incitado.

Romir persistiu na mudez. Omoi sem paciência fechou o punho, e com a parte de baixo esmurrou a lateral da cabeça do conde que grunhiu.

— Responda, seu velho de merda!

Finalmente o conde ergueu a cabeça, sustentando o olhar de Sasuke, e inevitavelmente mostrou quem era quando as linhas do rosto endureceram de forma hostil.

— Sua fama corre pelos sete reinos. Todos sabem quem é você — sibilou Romir, a voz rouca e baixa. — O orgulhoso Uchiha a qual chamam de Lobo Negro, por ser um corvo criado entre os Uzumakis. Entre os lobos de Uzugakure. Mas a grande verdade é que não passa de um vira-lata do Lorde Naruto – cuspiu, e em resposta, o sorrisinho nos lábios de Sasuke cresceu um pouco mais, maquinando o que faria com o conde.

Omoi sacou um punhal imediatamente e pôs na garganta do conde, puxando a cabeça dele para trás, e expondo o pescoço com a lâmina pressionada contra pele. Mas Sasuke ergueu a mão sinalizando que Omoi parasse.

— Leve ele lá para trás, tenho perguntas para fazer – ordenou. Omoi ergueu Romir levando-o. — Kiba, prenda a condessa em um dos quartos da casa com um homem a vigia-la, e depois venha até nós.

O Inuzuka assentiu erguendo e levando a mulher.

Já no pátio inferior do castro pôde ter mais liberdade com o conde.

— Quem é o fornecedor de escravos aqui no Norte? — perguntou.

Romir, que estava sentado e preso numa cadeira por cordas, não respondeu. O Uchiha repetiu mais duas vezes a pergunta e ele não respondeu, e como consequência Omoi passou a esmurrar o conde. Cada soco produzindo grunhidos de dor a ressoar.

— Vamos velhote, acabe logo com isso! — falou Kiba chegando por trás, esfregando a placa de peito da própria armadura.

O homem já tinha o rosto ensanguentado e inchado da surra. Omoi era o tipo de soldado tentado a se exceder, e Sasuke gostava disso nele, não só gostava como também o estimulava, o que não acontecia quando Naruto estava presente.

— Nós encontraremos o fornecedor de um jeito ou de outro — comentou Sasuke inclinando-se um pouco e Romir cuspiu sangue no seu rosto recebendo mais um forte soco.

— Eu não sou como você, vira-lata! Que têm o sangue de um traidor correndo nas veias!

Omoi ergueu o punho, mas Sasuke pôs a mão no seu peito impedindo-o de voltar a esmurrar, e em seguida limpou o rosto do cuspe.

Já estava acostumado a ser lembrado pelos pecados de seu pai. Agora, depois de defender os sete reinos, os julgamentos diminuíram, porém no fundo sempre existiriam, eternamente seria lembrado como o filho do traidor. O que fez alguns fidalgos, como o Lorde A, discordarem de Naruto por permitir Sasuke a se tornar um Sir, um cavaleiro juramentado.

Porém, ele já tinha abraçado e aceitado quem era anos atrás. Na verdade, o que antes lhe parecia ser um fardo, hoje é o que lhe dava liberdade, pois essa é a consequência da aceitação. Não importava o que fizesse, fosse bem ou mal, o passado o perseguiria, os julgamentos continuariam, então deixava toda a escuridão em seu coração toma-lo sem se importar, pois no final a culpa era de seu sangue renegado, como sempre julgariam.

Sabia que isso era uma mentira, uma doce mentira que ele adorava saborear.

— Kiba, traga a condessa pra cá. Vamos ver o que ela pode saber — ordenou e viu Romir ranger os dentes em reação.

— Não! Eu falo, deixem a mulher em paz – objetivou suspirando.

— Estamos a lhe ouvir.

— Nos limites de Porto Branco, onde há trocas escondidas de mercadorias roubadas por piratas no porto, há um homem chamado Urie, ele é que traz os escravos – revelou em baixos grunhidos.

— Eles vêm de onde?

— De Roran.

— Roran? – repetiu Omoi encarando os outros dois com confusão. – Onde é isso?

— É uma cidade-estado na Baía dos Escravos em Essos – respondeu Sasuke lembrando-se brevemente de uma das aulas de geografia do Meistre Iruka quando mais jovem.

 — Duvido que vão encontrar Urie no porto.

— Por que?

— Há um rei lá... – o conde soltou um ruído de desdenhou – Esteve caçando e matando todos os escravistas da região — respondeu contorcendo o rosto de dor. – Dominou Roran, e vem libertando todos os escravos.

— Roran não pertence aos Otsutsukis? – perguntou Kiba.

— Mas ao que parece foi conquistada por esse rei faz mais de um ano.

Os três se entreolharam.

— Certo, agora me diga quem comprou os escravos que estavam com você.

Romir riu, uma risada seca e sem fôlego, revelando os dentes avermelhados de sangue.

— Quer mesmo saber? – havia sarcasmo no seu tom de voz.

Sasuke assentiu semicerrando os olhos.

— O barão de Vila Inverno. A dona do prostibulo em Vila Toupeira. Conde Lousek… — Romir falou mais nomes e fez uma pausa dando a entender que havia um último. — E a Lady Uzumaki – concluiu sorrindo irônico.

A reação dos três homens foi de total surpresa, até Sasuke não conseguiu disfarçar. O mesmo então abruptamente agarrou o pescoço do conde apertando-o. Pela primeira vez até ali perdera seu autocontrole.

— É só falar o nome Uzumaki que o vira-lata se eriça em defesa! — murmurou Romir com a voz engasgada pelo aperto na garganta – Mas duvido que seja para proteger a lady Sakura, mas sim por causa do lorde, não é? — Sasuke contra vontade retirou a mão.

— Se isso for mentira… — o encarava cerrando os dentes.

— Não é! — cortou o conde tossindo. — A senhora esposa de nosso amado lorde Naruto comprou dois escravos várias e várias luas atrás – revelou arfando e então riu. — Pelo que sei ela é raramente vista fora das muralhas de Uzugakure, mas secretam que se tornou a mais bela mulher do Norte. A chamam de "Rosa do Inverno". Será uma pena o Uzumaki ter que matá-la, não é? É o que manda a lei! — gargalhou. — Isso vai manchar a Casa Uzumaki. Ele nem vai poder se meter entre as pernas da espo…

Romir foi interrompido ao ter o pescoço perfurado abruptamente pelo punhal de Sasuke, que pressionava a lâmina enquanto agarrava com força a cabeça do conde. Sangue quente esborrifou do golpe, espirrando gotas no rosto do Uchiha.

O homem guinchou como um porco se contorcendo, com o rosto numa mistura de dor, medo e surpresa. E ali estava o prazer de Sasuke, que com olhos vidrados estudava atentamente o conde engasgar no próprio sangue, tentando a todo custo agarrar as mãos de seu agressor numa falsa esperança de sobreviver. O prazer de ver, e ser o causador de uma morte era momentâneo, algo que ia e vinha tão rápido quanto um relâmpago, e talvez por isso Sasuke sempre ansiava por mais. Matar lhe trazia além de prazer, mas também um senso de justiça próprio. Cada ser humano que matou na guerra – e foram muitos – tornavam o reino menos utópico e mais verdadeiro.

Ganhara a alcunha de Lobo Negro, e como tal predador, matar fazia parte de seu extinto.

— Não faz sentido Lady Sakura comprar escravos quando Uzugakure tem seus criados estabelecidos — comentou Kiba confuso, enquanto Sasuke limpava o punhal na roupa do conde, e esse já residia morto com a cabeça pendendo para trás na cadeira.

— Mas sendo verdade, isso mancha a honra da Casa Uzumaki, e o nome do Naruto. E no estado atual dele... — alertou Omoi em tom pensativo, esfregando o dedo na sobrancelha. – Não conheço lady Sakura, mas que os deuses tenham piedade dela.

— Quando se trata do Naruto nem os deuses tem piedade – disse Kiba retirando um anel do dedo do falecido.

Sasuke concordou mentalmente.

Naruto não vinha tendo um bom estado de espírito há muito tempo, principalmente após o cerco na fortaleza dos Hyuugas dois anos atrás. Seu temperamento estava ardil como fogo, a personalidade tão severa quanto ferro, e a paciência tão curta e agressiva quanto um punhal dependendo do dia. Todos sabiam que a causa era os traumas na mente do Protetor do Norte, traumas que ele se negava a comentar, mesmo entre os amigos mais próximos, incluindo o próprio Sasuke.

— Não cabe a nós debater esse assunto — desdenhou o Uchiha olhando para o interior do castro. Precisaria ter uma conversa com a condessa depois das informações que o marido dela contara — Kiba, você com resto que ficar aqui no castro, coloque a cabeça do conde e de seus filhos em estacas por cima dos muros, bem a vista de todos que passem por perto. E mande os criados daqui espalharem que o Lorde Uzumaki está de volta para acabar com toda essa desordem que se acendeu no Norte durante sua ausência.

O amigo assentiu.

Adentou no castro e um pequeno grupo de criados quando o viu se esconderam temerosos. Subiu os degraus da escada que levava aos quartos, e no principal encontrou a porta aberta. Um soldado fazia a guarda, enquanto a condessa estava sentada na ponta da cama, com o corpo encostado na parede. Ela estava de costas para ele, porém sua presença logo foi notada, a fazendo se virar para ele.

A expressão da condessa era de ódio e fúria, e num rompante disparou em direção a Sasuke. O Uchiha não se moveu. Já a mulher foi parada pelo soldado pouco antes de alcança-lo.

— Seu dom teatral é formidável, condessa Romir – falou enquanto a mulher era mais uma vez rendida, sendo segurada por trás com facilidade pelo guarda – Por acaso participara de estudos nas artes cênicas de Braavos?

— Monstro! Demônio! Renegado! Fruto do... – praguejava ela se contorcendo. Os olhos avermelhados de choro.

Sasuke a cortou agarrando o rosto dela.

— Traidor – completou apertando as bochechas até ela grunhir. – Já estou acostumado com tais insultos e veja, em nada eles me afetam. – sorriu com ironia. – Mas a madame deveria se envergonhar, acusa-me de tantas indulgencias, porém foi você e seu esposo a trancarem e venderem ser humanos como animais.

A feição da condessa murchou.

— Vou repetir, seu dom teatral é formidável!

— Acha que estou fingindo a tristeza pela morte dos meus filhos!!? – indignou-se. — Pela morte daqueles que trouxe ao mundo entre dor e gritos...

Sasuke a cortou novamente apertando ainda mais o rosto dela entre os dedos, e sacudiu a cabeça negando.

— Acredita mesmo que passaria despercebido por mim o fato de que tinha conhecimento sobre os escravos desde que eles chegaram nesse castro? — os olhos da mulher se arregalaram. – Solte-a – ordenou para o soldado que assim obedeceu.

Ela desviou o olhar limpando as lágrimas do rosto.

— Sua reação lá embaixo fora exacerbada, me pareceu um tanto farsante, não que tenha sido inapropriada, porém muito me chamou a atenção. Em seguida notei olhares dos escravos para você, o que em contrapartida não diz muito. Mas então o seu esposo momentos atrás suplicou para que eu não a interrogasse. Tamanha foi sua agonia que preferiu confessar boa parte do esquema de escravização aqui no Norte a vê-la falando comigo – disse dando passos para frente, enquanto a condessa dava passos para trás. Toda a hostilidade e ímpeto dela deram lugar a receio e inquietação – Fora impossível para minha pessoa ignorar tais coincidências. – o tom baixo e polido lhe dava um ar mais ameaçador, o que combinava com os olhos negros cravados na mulher.

Parecia-se com um lobo encurralando sua presa. E essa mesma nada falou, apenas o ruído de sua respiração era ouvido.

— Bom, tudo o que falei não passava de uma suposição — zombou. — Porém já que não negou presumo então estar correto – falou com um pequeno sorriso vitorioso.

A condessa fechou os olhos com força.

— Você o matou? – ela indagou voltando a encara-lo. Uma resiliência afetada lhe tomava o rosto – O conde? O matou?

A pergunta não pegou Sasuke de surpresa. Havia respingos recentes de sangue em suas mangas e rosto, além de grossas manchas na luva por conta do punhal.

— Sim, o matei.

Ela ergueu o queixo engolindo em seco.

— Pois bem, não nego que sabia sobre os escravos. E farei questão de contar isso pessoalmente aos lordes, porém acrescentarei sua total desonra para com o título que recebestes! — a condessa o olhou com repúdio. — És um cavaleiro consagrado, e mesmo assim matou um homem por um crime que exige o julgamento do lorde suserano!  

O soldado que havia se movido para a porta ficou inquieto.

— Isto é verdade, Sir?! – indagou e Sasuke o olhou por sobre o ombro.

— Sim – respondeu com uma sinceridade despreocupada.

— Soldado, me diga – chamou a condessa lhe apontando o dedo trêmulo — Quais são os principais códigos de um cavaleiro? – questionou.

O homem alternou o olhar para Sasuke que continuava indiferente.

— Ser fiel as autoridades; Proteger as mulheres e os fracos; Defender a justiça contra a injustiça e o mal; Amar sua terra natal; E nunca atacar um homem desarmado.

Fez um gesto de desdenho com os dedos.

— Na verdade eu também o torturei, e isso é igualmente proibido pelo código dos cavaleiros – acrescentou o próprio Sasuke num sorriso divertido. Ergueu uma sobrancelha ao notar o olhar severo que recebeu do s0ldado.

— Ainda se vangloria de suas transgressões! – acusou a condessa.

Suspirou alto e ergueu as mãos em rendição irônica.

— Está certa. Sou um cavaleiro apenas no nome e no título. Sou um homem desonrado, não sou como lorde Uzumaki, apesar de termos recebido igual educação – admitiu com sinceridade, mesmo que no fundo de seu coração isso o machucasse.

Sim, o machucava.

Crescera sendo instruído por um homem que levava a honra muito a sério, que o ensinara o valor da honra como princípio fundamental para qualquer homem. Minato Uzumaki foi para ele como um professor, um pai, um conselheiro. E tinha total noção que se o mesmo pudesse vê-lo hoje estaria demasiadamente desapontado, e isso é que lhe doía. Mas não podia ignorar sua natureza renegada. A natureza que o pendia a ir contra a honra e o dever que tanto era pregada pelos Uzumakis, pois não importava quanto tempo tenha passado entre eles, o quanto se ache um lobo, no fim era um corvo. No fim, não era um Uzumaki.

Como refletido anteriormente, ele já havia abraçado quem realmente era. Um Uchiha renegado.

— Falarei isso tudo no meu julgamento! Você pagará! Pagará pelas mortes de meus filhos!

— Isso em nada irá ajuda-la, no final será condenada de qualquer jeito. Também em nada me prejudicará, acha que haverá repudio a mim que matei um contrabandista de escravos – ficou percebível que aquelas palavras a afetaram, a inquietando — Mas posso mentir. Posso dizer que na verdade é inocente, e em nada sabia sobre os escravos – sugeriu colocando suavemente uma mecha do cabelo dela atrás da orelha. A mesma prendeu a respiração com o movimento, o olhar e as mãos trêmulas, enquanto Sasuke tinha um sorriso ardiloso de canto   — Se já quebrei tantos códigos de cavaleiro, um a mais não fará diferença.

Ela pareceu balançada com a proposta.

— Tudo o que preciso é que responda minhas próximas perguntas e deixarei sua vida em paz, eu prometo.

A condessa o encarou pensativa, mas assentiu. Como imaginava, ela estava desesperada pela vida.

— Você tinha noção sobre as negociações, valores, tráfego, rotas e etc, dos escravos?

— Si... sim — afirmou gaguejando — Mas nunca fui à favor. Sou esposa dele, era obrigada a aceitar suas loucuras! Nada pude fazer...

— Uma última pergunta — cortou ignorando-a — Você é uma prima distante de lorde Brief, não é?

Ela tornou a confirmar. Era tudo o que Sasuke precisava saber.

Além de significar que a condessa sabia sobre a compra de escravos por parte de lady Sakura, ela também podia ser usada contra Naruto por parte de lorde Brief. E esse era o real problema. Os Briefs carregavam um ódio contra o Uzumaki, além de desavenças constantes. Se o nome de Sakura for envolvido nesse esquema de escravidão que se ascendeu durante a guerra, assim como Omoi falou, a casa Uzumaki estaria manchada com um crime pesado, e nisso aqueles que são contra a liderança de Naruto poderiam o prejudicar seriamente.

Sasuke nunca foi íntimo de política. Era mais voltado para a ação, e preferia morrer lutando do que se estressar no jogo dos tronos entre os lordes. Mas dada a situação, se a condessa abrisse a boca demais as consequências seriam problemáticas. Não poderia permitir isso, não por causa da senhora Uzumaki, para ele não fazia diferencia ela estar viva ou morta, mas ele fora criado pelos Uzumakis, e amava a Naruto como um irmão, e por isso faria o que fosse preciso para que o lorde de forma alguma fosse prejudicado. Não importava se o que faria fosse certo ou errado, honroso ou desonroso, ele apenas faria, mesmo que a morte fosse a consequência.

Podiam acusa-lo de muitas coisas. Porém de uma jamais: ser infiel a casa Uzumaki. Foi a casa lhe promoveu um lar e disso jamais esqueceria. Eternamente estaria em dívida.

Sasuke bufou profundamente. Em seguida, com uma das mãos abruptamente agarrou o pescoço da condessa, que assustou-se.

— Sir!? – alarmou-se o soldado indo impedi-lo, porém Sasuke apenas ergueu a outra mão para trás em sinal de que não devia se aproximar.

Apertou o pescoço da mulher com força, tanta que os dedos se enfiavam entre os músculos. Ela era bastante magra e na faixa dos seus mais de quarenta anos, poderia facilmente quebrar seu pescoço, sentia que seria com a mesma facilidade que quebraria um graveto.

A ergueu alguns centímetros do chão. Enquanto a condessa se esperneava em busca de ar, cravando as unhas na mão de Sasuke e com o rosto vermelho em agonia, o do Uchiha se tornava cada vez mais sombrio. Novamente aquele prazer lhe sobreveio, uma anseia de seguir o fluxo de sua natureza e matá-la ali mesmo, com a própria mão. Olhou por sobre o ombro, e falou para o soldado que observava a tudo alarmado, porém impotente por ser um homem adestrado a seguir ordens.

— As coisas que faço por amor – sibilou o Uchiha, com repugnância. Com toda sua força ele empurrou a condessa, na direção da janela atrás dela.

A janela era de latrina, estreita e baixa, mas o suficiente para um ser humano passar. A parte inferior dos joelhos da mulher se dobraram para trás na amurada da janela e então ela despencou sem conseguir gritar pelo recém engasgo proveniente do aperto no pescoço. A queda foi apenas por breves segundos. Tudo o que se seguiu foi um estrondo alto lá embaixo revelando que ela chegara ao chão.

Chegara ao seu fim.

O soldado correu até a janela.

— Diga que foi suicídio — ordenou. O homem se voltou para ele contrariado.

— Isso... isso é... – tentava falar o soldado, mas o choque da situação o travara.

Escutou a voz de Kiba lá embaixo perguntando o que havia acontecido.

— Vamos, é uma ordem! 

O soldado relutou por alguns segundos, mas a contragosto teve que mentir.

— Ela se jogou! Suicidou-se — avisou ele para os homens lá embaixo. Se virou o olhou para Sasuke com aversão. — Que os pálidos o levem, Uchiha! — praguejou. — Ela era inocente! Sua alma apodrecerá no inferno!

— Bom, dizem que sou um demônio. Então já vivo num inferno — falou girando os calcanhares e se encaminhando para a saída, mas as palavras seguintes do soldado o travaram.

— Que tipo de homem é você?! Não tem um pingo de honra?! Lorde Uzumaki saberá o que aconteceu aqui!

Sasuke tornou a se virar, e encarou o homem fixamente.

— Recomponha-se soldado! — alertou em repreensão. – Eu sou o tipo de homem que faz o que precisa ser feito. Que suja as mãos para que essa porra de reino continue de pé.

— Não. Você é egoísta, orgulhoso, sádico e nojento. Você é uma vergonha velada para o Norte e para a casa Uzumaki. Lorde Naruto ainda não sabe disso, mas saberá.

Suspirou folgando um pouco sua espada dentro da bainha.

— Tudo o que falou está corretíssimo. Porém vou lhe advertir sobre algo... – se aproximou até estar a um palmo do soldado. – O que é natural para um lobo, é caos para uma ovelha – sibilou, a voz fria — Se abrir a sua boca demais, será o próximo a ter uma morte tão trágica.

— Acha...

— Talvez tenha se esquecido... – o interrompeu — Mas qual é a principal regra de Naruto para seu exército?

O homem desviou o olhar.

— Responda!

— Obediência!

— Exato. Eu sou o seu superior. Para comigo você apenas abaixa a cabeça e obedece, nada além disso. Sabe muito bem o que aconteceu ao filho de lorde Brief por ser desobediente.

— Sei sim – disse ele com os dentes cerrados.

— Então ficará de boca fechada como a ovelha submissa que é?

O soldado encarou Sasuke com um olhar frio. Os dois com os rostos a centimetros.

O soldado assentiu.

— Não é assim que se responde. Eu sou um cavaleiro juramentado, lembra? Diga: “Sim, Sir Sasuke” – o homem contorceu o nariz e a boca contrariado. – Vamos, diga! – insistiu engrossando o tom em ordem.

— Sim, Sir Sasuke – falou o soldado a contragosto, apertando os punhos.

— Ótimo.

Voltou-se para a saída e a voz do soldado tornou a ser ouvida, mas dessa vez não deu importância.

— Os velhos deuses o farão pagar por tudo que faz, Uchiha. Irão fazer você engolir esse seu orgulho.

❂❂❂

Sakura

 

Olhou para longe, observava o horizonte com a imaginação fértil.

Seu rosto encarava a paisagem com repugnância, imaginando um longo rio de homens a cavalo vindo pela estrada do rei. Em breve não seria apenas fruto de sua mente, pois realmente aconteceria. Uma carta chegada no início da manhã informava a proximidade do lorde de Uzugakure, que chegaria ainda naquele dia. Logo todo o seu séquito atravessaria os portões principais da fortaleza.

Sakura cravou as unhas com força na própria pele.

— Milady — chamou a criada atrás de si. — Seu banho está pronto.

As duas criadas no quarto a despiram completamente e segurando suas mãos a adentraram na banheira. A senhora de Uzugakure relaxou o corpo na água morna, ou pelo menos tentava. Sua tensão era evidente nos músculos não importava o quanto quisesse disfarçar.

A criada por nome Tenten, passava uma esponja pelo corpo de Sakura e inevitavelmente sentira a tensão de Sakura.

— O que lhe aflige, minha senhora?

Sakura fitava o nada, com os dedos entrelaçados no vão dos seios.

— Tens liberdade, Tenten? — indagou de volta, pegando a criada de surpresa.

Ela pareceu refletir.

— Bom, depende do tipo de liberdade, lady Sakura — respondeu encolhendo os ombros.

— Me refiro a uma liberdade por completo — encarou o teto refletindo. Abriu um pouco mais as pernas dentro da banheira, fazendo a água agitar levemente — Podes fazer o que bem desejas? Pode ir onde quiser? Ser quem quiser?

— Não, milady — dessa vez foi direta e convicta.

— Então não tem liberdade — afirmou. — E eu não a julga, nós duas não possuímos a verdadeira liberdade. Porém eu degustei um pouco do gosto de ser livre, apesar de não o aproveitar ao todo, e sabe onde ele reside? — a criada atenta sacudiu a cabeça negando. — Reside no poder — revelou com os longos fios rosas serpenteando na superfície da água a sua volta. — Durante esses cinco longos anos eu provei do poder. Da liberdade que o poder gera, e como uma abelha ao provar o mais doce mel eu receio não abrir mão deste poder sem antes ferroar quem quer que deseje rouba-lo de mim — concluiu convicta, girando o anel em seu dedo. O mesmo anel com um rubi em forma de lobo deixado por seu esposo exatamente cinco anos atrás.

— Eu não entendo o que quer dizer, milady.

Sakura então esticou a mão e lhe acariciou a bochecha.

— Como nós mulheres somos veladas — balbuciou.

— Não acredito que a senhora seja, milady.

— Mas eu fui antes de vir para Uzugakure — lamentou e arrepiou-se quando a criada passou a esponja pelos seus seios desnudos, com apenas os mamilos rosados acima d’água, que se enrijeceram. — Fui uma menina submissa e obediente, sempre debaixo das vontades a mim expostas. E agora tornarei a ser assim quando enfim retornar o meu esposo.

Encarou a amiga com um sorrisinho, que foi retribuído.

— A conheço muito bem, senhora. Não és mais uma menina, é uma mulher agora, que não seria assim tão facilmente domada — disse Tenten, e então seu rosto se iluminou entendendo as palavras anteriores de Sakura. — A parte sobre ferroar… está se referindo ao lorde Uzumaki? Não o conheço. Ele é um homem ruim?

A Uzumaki voltou a fitar o nada respirando fundo.

As lembranças do dia de seu casamento retornaram a sua mente, desde o momento que conheceu o esposo, com ele lhe presenteando, até a noite de núpcias.

— Não. Nosso senhor Uzumaki é um homem bom, gentil e complacente — contou com uma sinceridade carinhosa. — Não sei se tais características persistem nele após tantos anos, mas ele foi um homem que mesmo sofrendo não deixou de ser cuidadoso para comigo, na época em que não passava de uma menina assustada com a guerra e com o casamento.

“Sacrificou a própria honra e a sobrevivência da Casa Uzumaki apenas para não me machucar durante a consumação”, pensou não permitindo se tornar em palavras. Era um segredo.

— Então ele não tentará roubar sua influência, lady Sakura.

— Ele não precisa roubar, Tenten — corrigiu, a feição se tornando rígida e a voz saindo um pouco fria. — Como se rouba o que pertence a ele. Com seu retorno eu me torno apenas a sua esposa. Todo o poder que antes eu possuía em sua ausência retorna para ele naturalmente. Ele que é o Lorde de Uzugakure, Protetor do Norte, Senhor destas terras. As ordens agora virão dele. A atenção para ele. As pessoas se voltarão para ele em suas horas de socorro. Todo o poder de um suserano provém dele, e eu que com esforço administrei essa fortaleza e seus arredores por todos esses anos, serei mais uma vez velada pela hierarquia senhorial.

— Mas milady, as pessoas não esquecerão da senhora! Seus esforços afastaram a fome no Norte durante os cinco impetuosos invernos que passamos.

Maneou a cabeça em concordância, mas sabia que não seria assim. Naruto retornaria como um herói de guerra. Um homem mais respeitado e poderoso que outrora, pois não será apenas pelo seu título e posição, mas também por estar à frente da vitória sobre os inimigos do reino, tendo conquistado o respeito dos outros seis lordes suseranos. 

E era justamente o seu retorno que tanto incomodava a Sakura, pelos pontos negativos que lhe traria. Sim, ela só conseguia pensar nos pontos negativos. Não seria tão fútil ao ponto de não se compadecer com o retorno dele. Aquele era seu lar, muito mais dele do que dela. Mas seu regresso significava que retornaria para as sombras de um homem.

Nesses cinco anos ela foi forte, firme e sozinha lidou com todos os contratempos que apareceram. Óbvio que teve ajuda e uma mentoria, mas as decisões foi si mesma que tomou arcando com o peso delas. Administrou com dificuldades e determinação cada centímetro daquele castelo. Foi deixada ali, mas foi ali que verdadeiramente florescerá, se descobrindo. Onde se transformara em quem realmente era, uma mulher capaz, forte, e poderosa, sendo não mais exposta a vontade dos outros.

Se não fosse por aqueles anos ela ainda seria a garota que se casou precocemente, sendo adornada com a lástima e misericórdia do esposo para não sofrer na noite de núpcias, porque era fraca e frágil. Tal lembrança só aumentou sua ira para com aquela versão de si mesma.

Jamais voltaria a ser aquela Sakura, em hipótese nenhuma. Ela agora sozinha administrou o Norte diante da insegurança, da fome e incertezas da guerra ao Sul. As pessoas a amavam, e davam todo o crédito de suas sobrevivências nesses cinco invernos que passaram nela. Toda a fé, confiança e esperanças eram direcionados para ela.

Mas com o retorno do marido isso mudaria, sabia que mudaria. Ele era o Lorde Uzumaki, o verdadeiro senhor de Uzugakure e guardião daquelas terras. Com isso ela voltaria a viver na sombra de um homem, como vivera a sombra das vontades do pai e da nobreza, sendo obrigada a fazer o que não queria, a dizer o que não pensava. Porque era assim as coisas no reino, as mulheres viviam para serem obedientes e submissas.

Ela mudaria isso.

"Nosso é o dever e a honra", lembrou-se do seu lema, do lema de sua casa. Porque sim, ela era uma Uzumaki, e criara um orgulho forte quanto a isso. Era uma loba, e de forma nenhuma cederia terreno ao macho alfa, na verdade faria tudo ao seu alcance para ser a alfa. Cumpriria seu dever como esposa, mas a honra ela não dividiria com ninguém e o do poder não se desfaria. Reclamaria o espaço que conquistou, ela não se deixaria nunca mais retornar para debaixo das assas de ninguém.

Ergueu-se na banheira, com a água pelo corpo corado a cair como cascatas. Tenten a secou com uma toalha e em seguida vestiu um robe de tecido leve indo sentar-se de frente a um espelho.

A educação de uma dama não lhe fugiria, mesmo que desejasse, o que não era o caso. Então era requerido estar bem apresentada para o retorno do esposo. E por isso escolheu um belo vestido de seda verde, com detalhes em branco, e mangas largas, mas primeiro deixou a outra criada pentear os seus cabelos rosados numa longa trança, para em seguida Tenten ajudar-lhe a trajar o vestido.

Já pronta ela caminhou novamente até a janela e assustou-se com o que viu. No limite do horizonte, pela estrada do rei, vinham uma longa fila de cavaleiros com estandartes. Dessa vez não era sua imaginação.

Naruto realmente chegara.

Como em resposta batidas na porta foram ouvidas e Sakura permitiu a entrada.

— Milady, lorde… — ia avisando Moegi, filha do intendente Genma.

— Eu sei. Quero todos no pátio imediatamente — ordenou e a jovem inclinou a cabeça se retirando.

Sakura desceu até o Grande Salão já organizado e preparado para um banquete de retorno à Naruto. Chegou no pátio se posicionando à frente de todos as mais de cem pessoas que serviam e moravam nas dependências de Uzugakure, apenas os guardas continuaram em suas posições padrões, inclusive no topo da muralha.

Olhou ao seu redor vendo todos com olhares ansiosos e não podia censura-los. A grande maioria ali conhecia Naruto desde que o mesmo nascera. A empolgação deles pela volta do lorde, apesar de ser disfarçada, já era notada por Sakura desde que a notícia do fim da guerra chegou há vários ciclos de luas atrás. Não importava o quanto eles a respeitassem, jamais conseguiria substituir a devoção deles para com Naruto, pois ele era o Uzumaki legítimo, e filho de lorde Minato e lady Kushina, casal tão amado por todos no Norte. Contra esses pontos ela não podia lutar. Sabia que se tivessem que escolher a quem seguir, escolheriam ele. E isso a incomodava bastante diante dos planos que tinha em mente para assegurar sua posição.

Fitou o céu, como sempre cinza, tomado por nuvens carregadas, porém mais ao longe espaços entre as nuvens se abriam, e por eles passavam feixes de luz do sol. Até mesmo o céu se abria parecendo comtemplar o retorno de Naruto.

— Recomendo que transpareça um pouco de júbilo, lady Sakura — falou a voz sábia de Iruka chegando ao seu lado, com o ruído dos metais em seu pesado colar.

— A mim será cotado como pecado deixar-se levar pelo meu estado de espírito deste momento, Meistre Iruka?

— Os velhos deuses têm pecados mais importantes para julgarem. Todavia não permita minha senhora que tal indulgência lhe dê concessão para desfazer-se do seu papel como esposa.

Entrelaçou seus dedos a cima da cintura.

— E já o cumpro muito bem, ou não enxerga minha boa aparência para recebe-lo, além de preparar um formidável banquete — declarou.

— Uma boa esposa não vive apenas do exterior. Com todo respeito eu peço que tenha um pouco de empatia, milady. O homem que verá entrar por aqueles portões não será o mesmo de antes, a guerra lhe sucumbira o ânimo, e os fardos a vitalidade. Tenho certeza que um sorriso e boas palavras vindas da senhora, sua esposa, o aquecerá o coração — aconselhou o meistre com leveza no tom — Tudo o que um homem deseja após tanto lutar é voltar para seu lar sendo recebido de forma amável, não concorda?

Sakura suspirou e o encarou. Então forçou a lateral dos lábios a arquear-se num singelo sorriso.

— Assim está melhor?

— É um começo, minha senhora.

Neste momento os portões foram abertos.

Mas não foi a comitiva que passou, mas sim apenas uma carroça sendo trazida por um idoso. No vagão da carroça haviam largos caixotes, e era de conhecimento geral serem caixotes de uso funerário. Aquilo atraiu a curiosidade de Sakura, principalmente quando logo atrás da carroça vinham as tão conhecidas e temerosas Irmãs Silenciosas, com seus capuzes negros que cobrem suas cabeças, e véus que cobrem todo o rosto, exceto os olhos. Elas são responsáveis por preparar os corpos e os ritos do funeral. Elas são chamadas de "Irmãs Silenciosas" porque juraram votos de silêncio.

A surpresa pela presença delas era o fato de serem servas dos novos deuses, e no Norte apenas os velhos deuses eram adorados.

— Meistre, havia alguma informação sobre sepultamentos na carta de Naruto?

— Não senhora — respondeu o homem, seu olhar era de pesar para a carroça — Porém pela importância com que os caixotes foram trazidos só pode significar que aqueles ali são...

— Lorde Minato e Lady Kushina — completou sentindo sua pele arrepiar.

Teria Naruto conseguido trazer os restos mortais dos pais? Mesmo depois de cinco anos.

— Porque haveria de Naruto trazer Irmãs Silenciosas para o Norte? — perguntou confusa enquanto os homens ajudavam as irmãs a levar os caixotes em direção ao bosque profundo.

— Também não me é sabido, milady.

Um dos homens recém chegados junto se aproximou.

— Lady Uzumaki, foi ordenado pelo lorde Uzumaki que os portões do bosque fossem abertos imediatamente — o homem se quer esperou um assentir dela, apenas a referenciou e saiu em direção ao bosque.

Naruto nem chegara ainda e já exercia sua regência sobre a dela. Tinha que começar a se impor o quanto antes, ou não iria conseguir sustentar seu poder por muito tempo. Mas de repente os guardas se alvoroçaram abrindo mais os portões e já era possível ouvir o trotar de cavalos se aproximando.

Um enorme frio na barriga tomara Sakura. E negava a si mesma ser por causa do reencontro com o esposo.

Foi então que num rompante entravam pelos portões como um rio de lã e aço, duzentos homens, um esplendor de soldados juramentados e cavaleiros, todos fazendo parte da comitiva armada pessoal do esposo. Reconheceu Kakashi, com os cabelos brancos tão alvos quanto neve, ali estava também Genma, o intendente. Entre eles um homem que Sakura julgara ser Guy, o novo capitão da guarda, pelo que Iruka havia contato das cartas que recebera do lorde.

Sim, o esposo trocara cartas com o Miestre, porém nenhuma mandara para ela.

O pátio se aglomerava envolta de Sakura, numa distância razoável. Até que finalmente ele atravessou o portão num garanhão branco atraindo todas as atenções. Junto de si vinha um homem de armadura completa, sendo curioso que era o único que escondia o rosto dentro de um elmo. Porém o ignorou alisando o vestido e focando no esposo.

Naruto desmontou e inconscientemente Sakura prendeu a respiração. Lembrava-se do esposo como um sofrido rapaz, mas aquele à frente de todos agora era um homem visualmente imponente, forte, firme, com um ar ameaçador. Tinha uma expressão rígida nas feições marcadas e demasiadamente cansadas. Os cabelos dourados outrora espetados foram cortados, e agora eram curtos e puxados para trás. Uma curta e encaixada barba loira lhe crescera no rosto. Ele trajava couro e veludo, com um volumoso manto, de pele de lobo branco na altura dos ombros, o que lhe dava um aspecto de ser ainda maior.

Nesse momento todos os criados, moradores e guardas que haviam ficado no Norte fizeram uma reverência ao mesmo tempo, menos Sakura. Em resposta o Lorde apenas assentiu.

Então ele focou os olhos em Sakura se aproximando com as mãos para trás, até estar em sua frente.

Pôde observa-lo com mais precisão pela proximidade. Tinha a postura e um rosto severo, de traços másculos acentuados e maxilar quadrado. Os olhos continuavam sem vida. Sem brilho. As olheiras também persistiam, o que lhe fazia parecer mais velho do que realmente era. Pelo que sabia Naruto possuía vinte três anos, mas aparentava ter trinta.

Seu olhar a fuzilava, a estudando, a pesando, e naquele momento Sakura sentiu o coração acelerado e o sangue correndo mais rápido pelas veias, junto do frio na barriga que mais lhe parecia como borboletas voando dentro si.

Se por fora nada demostrava além de sua rica educação como dama, por dentro estava sendo fortemente afetada pela presença de Naruto. Isso não só a irritava como também a frustrava. Como podia ele causar esses efeitos sobre ela? Não sabia explicar. Mas preparou-se para aquele momento e não se deixaria levar pela inesperada reação de seu corpo a ele.

— Milorde - segurou as laterais da saia e fez uma profunda reverência — Uzugakure o recebe de volta com júbilos. — endireitou-se, e se obrigou a sorrir como Iruka a aconselhou.

O esposo nada falou. Seu silêncio já a incomodava. Todo o pátio parecia observa-los também em silêncio, mas não conseguiu afastar o olhar dele, e nem queria. Sustentaria o olhar em retorno com firmeza, demonstrando que de forma alguma sentia-se inferior a ele.

Então os lábios do lorde se entre abriram para falar finalmente, porém foi interrompido quando um rosnar soou atrás de Sakura.

❂❂❂

Naruto

 

Estudou lady Sakura dos pés à cabeça minuciosamente.

A evolução dela era bastante notável, até mesmo um homem com suas faculdades mentais prejudicadas veria o quanto sua esposa mudara em comparação a última vez que a viu.

Crescera, e agora tinha a altura de uma adulta, sendo apenas uma cabeça menor que ele. O corpo ganhara curvas de mulher, notáveis mesmo debaixo do vestido. Em especial o volume mediano dos seios coroados por um tênue decote.

Porém a grande mudança residia no rosto.

Ela perdera todos os traços infantis que tanto infligiram sua consciência cinco anos atrás. No lugar ganhara atraentes, finos e delicados traços femininos acentuados pelo nariz fino e lábios naturalmente arqueados. E os olhos…

Os olhos dela por breves segundos o tiraram totalmente o foco da situação. Eram de um verde tão chamativo quanto esmeralda, mas não foi isso que realmente chamara sua atenção neles. Quando a viu pela primeira vez seu olhar era inocente e receoso, e agora deram lugar a um olhar sapiente e maduro.

O olhar de uma mulher, não mais de uma menina. E como previra, a esposa se tornou uma belíssima mulher.

— …Uzugakure o recebe de volta com júbilos — disse Sakura, lhe tirando de suas observações.

Ela sorriu acreditando estar sendo verdadeira, mas um homem quando por tantos anos se vê rodeado por inimigos sabe diferenciar muito bem uma expressão falsa. E era um sorriso falso, ele notou sem dificuldades. Instantaneamente ficou curioso para saber o quanto sua esposa mudara, não na aparência, mas sim na personalidade. Porém era uma curiosidade que não deu importância, pois pouco se importava com as mudanças da esposa. Tudo o que queria era paz agora que voltou para casa. Desejava se afundar com seus fantasmas pessoais, e sombrios fardos. Cumprir o seu tempo e dever como suserano, até finalmente morrer.

Ainda era um homem novo, mas já tinha vívido experiências o suficiente para suplicar aos deuses apenas descanso. Mesmo sabendo que isso seria difícil. O Norte se tornou uma poça de problemas em sua ausência pelo que sabia, e teria bastante trabalho para o consertar.

Naruto ia responde-la. Todavia um rosnar atrás dela travou suas palavras dentro da boca.

Em passos ardilosos o animal se aproximava até parar ao lado da esposa. Naruto não demonstrou, mas ficou impressionado com Kurama. O lobo gigante, agora adulto, se tornara um exímio exemplo de sua espécie. Seu dorso chegava na altura do tórax de Sakura de tão grande que o animal se tornou. A pelugem vermelha combinava com os olhos em carmesim, que o fitavam intensamente como era natural de um predador. Kurama franzia o focinho rosnando em sua direção, os dentes ferozes a mostra.

Naruto escutou os seus homens no pátio inquietos, logo desembainhando a espada conforme o animal se aproximava de si. Porém o lorde fez um gesto indicando aos homens que parassem.

— Ele se tornou um maravilhoso animal — elogiou alternando o olhar entre a esposa e Kurama.

Sakura assentiu com um tênue sorriso de lado e dessa vez era um verdadeiro. Obviamente ela tinha orgulho do lobo.

— Sim, milorde — ela depositou a mão sobre o dorso do lobo lhe acariciando, sem tirar os olhos do loiro — O lorde está muito próximo. Kurama não permite estranhos perto de mim e ele não o reconhece após tantos anos.

— Me admiraria se lembrasse, era apenas um filhote que cabia em minha mão, mas agora sinto que poderia matar-me sem dificuldades.

— Kurama — chamou Sakura, e o lobo a olhou já ignorando completamente a presença de Naruto. Então o animal se suavizou encostando a cabeça na barriga dela, como pedindo carinho, e assim a esposa o deu. Em seguida ela fez o gesto para o chão e Kurama imediatamente sentou-se sobre as patas traseiras.

— E foi bem treinado.

— Sim, milorde. Receio que se não o treinasse apenas eu viveria em Uzugakure tamanho o medo que possuíam dele.

Ali próximo a atenção de Naruto foi dirigida num rompante à Kakashi e Rin que se abraçavam forte. Não só pelo retorno do albino como também em luto pelo filho. A governanta o olhou com os olhos marejados e se desvencilhou do marido.

— Obrigado, milorde… — disse ela sendo abraçada de lado por Kakashi. — Por mandar o corpo de Houki de volta para um enterro digno.

Houki morreu no segundo ano de confrontos. Foi durante uma batalha nos limites da Estrada de Ouro. Cercado por dois cavaleiros o filho de Kakashi e Rin recebeu um golpe frontal no peito que o derrubou, e teve todo o tórax esmagado pelos cavalos em seguida. Morreu com o pulmão perfurado pelas costelas. Numa ironia infeliz, Houki declarou anos atrás que não morreria, e acabou sendo o único dos amigos a falecer.

— Não agradeça, Rin. Ele foi um amigo especial para mim, e um valioso guerreiro. Se isso puder lhe aquecer um pouco o coração saiba que ele morreu como um homem, lutando com honra até o último suspiro. Não poderia ter tido um soldado melhor ao meu lado. Com seu jeito extrovertido ele alegrou a todos nós durante as pausas entre as batalhas, e com seu vigor derrubara muitos dos nossos inimigos.

Rin apertou os lábios sentida pelas palavras, e o agradeceu mais uma vez.

— Milorde, nós preparamos um banquete por seu retorno e de todos os soldados - avisou Sakura, o fazendo encara-la de cenho franzido.

— Não haverá banquete algum - interrompeu, a voz saindo firme.  A esposa pareceu surpresa, então a feição dela se fechou, porém não se importou. Girou metade do corpo em sinal de que sairia dali — Rin, mande que seja preparado cebolas greladas, coxas de frango ao mel com vinho tinto, e o leve para meu solar - ordenou para a governanta que assentiu.

Seu mestre de armas pigarreou.

— Milorde, peço que reconsidere o convite de Lady Uzumaki em relação ao banquete — disse Kakashi dando um passo manco á frente. O mestre teve a perna perfurada por uma lança e agora só conseguia andar com ajuda de uma bengala na qual se apoiava — Será muito bem vindo para os homens comer algo que não seja apenas feijão frio e peixe, cardápio que tanto se seguiu enquanto estávamos fora.

Naruto umedeceu os lábios pensativo e concordou.

— Mas não quero que seja no Grande Salão. Esse continuará de portas fechadas até segunda ordem — determinou seriamente — Ainda assim comerei em meu solar, Rin.

— Sim, senhor.

— Milady - chamou a esposa que continuava a olha-lo séria. - Siga-me. — ordenou e se virou de vez já andando. Apenas escutou os passos dela atrás de si.

Atravessaram o pátio inteiro, dando uma meia volta na fortaleza até o Bosque Profundo. Como tinha ordenado os portões estavam abertos. Entrou seguindo pela trilha em silêncio, com Sakura a segui-lo da mesma forma. No caminho contrario vinham as três irmãs silenciosas que tinham unido os restos mortais de seus pais, e só por isso permitira elas virem junto como respeito a ordem que sempre priorizou os lordes no reino. Mas de forma alguma permitiu que elas entrassem na cripta.

As cumprimentou em despedida e elas se foram.  

Passaram pela Árvore Alta, onde próximo há cinco anos atrás acontecera a cerimônia de matrimônio dos dois. Estar de volta no bosque lhe aquecia um pouco o coração com as lembranças. Percorreu e desbravou todo aquele hectare de terra com Sasuke e os amigos quando crianças.

Mas o sentimento de nostalgia se foi ao chegar no arco de pedra. Atravessou o arco seguindo até uma pequena torre com gárgulas de cabeça de lobo nas ameias. Chegou na porta velha e pesada da torre, e a abriu num ranger alto. A sua frente surgiu uma escada de degraus estreitos que descia em espiral para a escuridão profunda lá embaixo. Pegou a tocha posicionada na parede e inclinou-se a descer, não sem antes oferecer sua mão a esposa. A mesma não aparentava estar nem um pouco de acordo em descer, os olhos inquietos direcionados para a escuridão e os degraus.

— Não estou vestida adequadamente para tal incursão, milorde — disse ela em tom neutro, gesticulando para o vestido verde de seda fina. Uma peça realmente rica. — Não compreendo por qual seria o motivo a trazer-me num lugar como esse.

Naruto franziu o olhar, mas então suspirou deixando claro que desaprovava das palavras. Era óbvio que ela nunca estivera ali, e por certo ninguém também a contara.

— Essa é a cripta de Uzugakure, milady. O local de descanso para os antigos reis e lordes Uzumakis — contou a vendo encara-lo com uma leve surpresa. — É o local mais importante de todo o Norte, e da Casa Uzumaki. Não desejaria ninguém além de mim a descer por essas escadas, porém é uma Uzumaki pela lei e pelos laços que nos unem em matrimonio, é seu dever estar durante o enterro de meus pais.

Ela assentiu sem esposar reações e segurou em sua mão. A leveza da mão dela, e maciez da pele feminina, era um contraste gigante com as mãos masculinas ásperas e pesadas. A conduziu com cuidado descendo pelos degraus até chegar ao fim das escadas.

Moveu a tocha num largo semicírculo penetrando na escuridão da cripta. As sombras moveram-se e oscilaram. A vacilante luz tocou as pedras do chão e roçou numa longa procissão de pilares de granito que marchavam diante deles, dois a dois, na direção das trevas. Entre os pilares sentavam-se os mortos em seus tronos de pedra apoiados nas paredes, de costas voltadas para os sepulcros que continham seus restos mortais.

Indicou o caminho por entre os pilares e Sakura seguiu-o sem uma palavra, estremecendo com o frio subterrâneo. Ali sempre fez frio pelo que se lembrava. Seus passos ressoavam nas pedras e ecoavam na abóbada que se erguia sobre suas cabeças enquanto caminhavam por entre os mortos da Casa Uzumaki. Os Senhores e Senhoras de Uzugakure viam-nos passar. Suas imagens tinham sido esculpidas nas pedras que selavam as tumbas. Sentavam-se em longas filas, olhos cegos virados para a escuridão eterna, enquanto lobos de pedra se aninhavam junto aos seus pés. As sombras se movendo conforme andavam dava a impressão de que as figuras de pedra se moviam quando os vivos passavam por elas. Seguindo um costume antigo, uma espada de ferro tinha sido colocada sobre o colo de todos os que tinham sido l0rdes de Uzugakure, a fim de manter os espíritos vingativos em suas criptas.

Com esse pensamento a pele de Naruto arrepiou-se, pois conseguiu notar pelo canto do olho o vulto dela. Da criança. A via há pelo menos uns dois anos já. E desde que a guerra acabara, ela aparecia cada vez mais em seu campo de visão. Porém focou em chegar na tumba dos pais, igonorando-a.

Naruto parou, finalmente, e ergueu a tocha. A cripta continuava à sua frente, mergulhando na escuridão, mas para lá daquele ponto as tumbas estavam vazias e por selar; buracos negros à espera de seus mortos, à espera dele e de sua esposa - e se assim fossem abençoado - também dos seus filhos.

O único ponto de luz além de sua tocha, era justamente a tocha dos homens que terminavam de fechar os sepulcros de seus pais. O som de pedra sendo arrastada ecoava, mas então cessou. Eles tinham terminado. Se afastaram para que Naruto e Sakura ficassem de frente para os dois sepulcros. Então os iluminou e lá estavam as esculturas dos pais lado a lado, com lobos aos pés. Pedira que fossem feitas as esculturas antes da guerra e por isso já notava certos pontos de desgaste. Seu pai foi esculpido com um rosto longo e sério. Estava sentado com uma calma dignidade, com os dedos de pedra agarrados com força à espada que trazia no colo. Já lady Kushina foi esculpida com o rosto sorridente, e os longos cabelos de pedra até o colo. Não deveria ter uma espada em mãos, mas ele fez questão de pedir para ser colocada uma, já que a mãe na juventude duelava tão bem quanto qualquer homem, pelo menos era o que o pai e o tio haviam dito.

Naruto amara demais sua mãe. De todo o seu coração. E nada nesse mundo poderia de alguma forma suprir o vazio que a morte dela deixara em seu peito.

— A beleza de minha mãe era maior do que isso – murmurou para ninguém após um silêncio. Os olhos prolongados no rosto da mãe, como se pudesse trazê-la de volta à vida com sua força de vontade. — Ela merecia mais que trevas. Jurei matar os Hyuugas pelo que fizeram.

— E assim o fez, milorde — falou Sakura e só então percebera que ainda estavam de mãos dadas. Mas a soltou para acariciar o rosto em pedra da mãe.

— Sim, eu os matei — sussurrou. “E condenei a minha alma eternamente pelo que fiz para os matar”, pensou sem deixar se tornar em palavras. — Os Hyuugas deixaram apenas parte dos restos mortais de meus pais. As cabeças, pelo que me foi contado, foram decapitadas e serviram de tiro ao alvo para os convidados Otsutsukis se divertirem. Meu avô se quer foi encontrado, o corpo dele foi jogado num rio — revelou.

A esposa nada comentou. E já esperava isso. Queria apenas ouvir a própria voz sobre as barbaridades contra sua família para de alguma forma diminuir o fardo em sua consciência depois do que fizera no cerco aos Hyuugas.

Retirou do bolso um rubi em forma de rosa e depositou sobre as mãos de pedra da mãe. O que se seguiu foi um silencio em respeito.

Naruto focado nas tumbas teve sua atenção atraída pela criança novamente. Dessa vez ela apareceu atrás da tumba anterior aos dos pais. Não havia luz nela, mas sempre conseguia enxerga-la no escuro. Questionava-se desde que passou a vê-la, se a criança era realmente um espirito ou era apenas fruto de sua mente conturbada, que via soldados prontos para o matar onde havia apenas seus homens, ou flechas em sua direção onde na verdade eram apenas insetos ou pássaros a voar. Os traumas da guerra residiam em todos os sobreviventes dela, mas em Naruto existia um quê a mais.

Porém no fundo sabia que a criança, uma menina, era realmente um espirito, pois de alguma forma sentia a presença dela. Um espirito que só ele via. Naruto resolveu não dá atenção a ela, por um único motivo, quando a olhava diretamente suas ilusões e pesadelos se intensificavam, então preferia nota-la apenas de soslaio. Mas sabia exatamente como ela era. A menina era bem magra, tinha a pele pálida e possuía cabelos negros longos e lisos, usando um simples vestido de musselina amarelo. Ela sempre estava de olhos fechados e com as mãos abaixo do pescoço. Geralmente ficava próxima, mas dessa vez achava-se mais afastada e de alguma forma sabia ser por conta do fogo. Naruto possuía uma suposição de quem a garotinha era, porém negava a si mesmo acreditar e preferia não se importar a bem de sua saúde mental.

— Já cumpriu seu dever, pode ir — disse em tom direto e neutro para Sakura, mas sem olha-la.

— Como sua esposa ficarei até que deseje se retirar.

A encarou brevemente. Para sua surpresa a esposa o olhava tão rígida quanto ele, com os olhos verdes refletindo todo o alaranjado das chamas na tocha. Ela quase parecia estar o desafiando, e isso em nada o agradara, muito pelo contrário, acendera uma faísca de irritação dentro de si.

— O meu desejo é ficar sozinho, lady Sakura — retrucou, numa ordem velada voltando a fitar as sepulturas.  — Acompanhem a senhora Uzumaki até o pátio principal — ordenou para os homens que assentiram. Sakura não tornou a falar, mas e se retirou - sendo acompanhada pelos homens com os caixotes - sem o reverenciar como mandava a educação de uma dama.

Naruto ficou ali, na escuridão sozinho quando já não mais se ouvia os passos ao longe.

 O fogo em tocha oscilava criando sombras nas paredes. Ele fechou os olhos e quando os abriu novamente a criança se fora, mas agora uma sensação estranha o tomava. Era como se pudesse sentir a presença, a energia, a alma de todos os mortos naquela cripta. Quase como se pudesse toca-los de tão real. O ar ficou muito mais frio, extremamente gelado. O fogo oscilou mais inquieto mesmo sem ter vento passando. As mãos dele começaram estranhamente a formigar e as cicatrizes em seu abdômen queimavam. Então, por um instante, num relance, as esculturas se tornaram véus escuros, assemelhando-se aos espíritos daqueles ali mortos, todos movendo os pescoços e os olhos em azuis profundos de forma macabra para ele, inclusive seus pais.

“Valeu a pena?”, murmuram em sua mente, numa voz aguda e distante, porém parecia ser nos seus ouvidos de tão real.

Naruto com as costas arrepiadas apenas fechara os olhos com calma, pois já havia se acostumado com os mortos o assombrando, seja acordado, seja dormindo. Quando tornou a abri os olhos as esculturas voltaram a ser pedras. E Continuou ali parado, perdido nos próprios pensamentos e reflexões. A tocha já se findava e não sabia quanto tempo passou ali, mas deduziu que provavelmente já anoitecera.

Ouviu ruídos. O raspar de botas. Passos ecoaram indicando alguém se aproximando.

— Às vezes você é mais sombrio do que eu, meu caro irmão — disse uma voz que logo reconheceu.

— Ouvindo isso de você Sasuke é realmente preocupante — retrucou. — Ainda mais quando não usas uma tocha e alegas que sou mais sombrio.

— Meus olhos sempre foram bons na escuridão.

O Uchiha parou ao seu lado, observando a escultura de lorde Minato.

— O que ele diria se pudesse nos ver agora? — indagou Sasuke.

— “Não se orgulhem da vitória, pois fizeram nada além de seus deveres” — respondeu.

— Essa tem o selo de aprovação dele.

Assentiu trocando a tocha de mão.

— Como foi com os Romir? — perguntou, ambos sem tirar os olhos da escultura.

— Escolheram abrir os portões por mal. Infelizmente nos atacaram, e tivemos que os matar.

— E a condessa?

— Suicidou-se com a morte dos filhos e do marido — revelou Sasuke suspirando.

— Como?!

— Ela se jogou da janela. Uma fatalidade que não pude impedir. A condessa era mãe, e como todas as genitoras ela possuía um coração fraco. Nós dois sabemos que o mundo não tem misericórdia para corações fracos, eles são pisoteados e rasgados em pedaços.

— Não deveria falar isso quando tem sua mãe ainda viva — o censurou.

— Descobri sobre toda a rede de escravização no Norte — falou Sasuke ignorando a última fala. — O conde me contou o nome de todos os compradores, além dos fornecedores antes de morrer a preço de eu não entregar a esposa em julgamento. O coitado não sabia que ela já estava morta.

— Quem são os compradores?

— O barão de Vila Inverno. A dona do prostibulo em Vila Toupeira. Conde Lousek... — Sasuke falou vários nomes. A grande maioria não conhecia pessoalmente.

— São esses os todos?

— Sim.

— Tem certeza? — perguntou o olhando diretamente. — Não quero falhas.

Sasuke o encarou sem responder por breves instantes. Quase pôde ver certa hesitação nele, mas o Uchiha sorriu afetado.

— Tenho absoluta certeza.

— Ótimo. Quero que agrupe uma quantidade relativa de homens e traga todos os envolvidos para cá. Os julgaremos em nome do rei, e eu mesmo os executarei.

— “O homem que dá a sentença deve brandir a espada” — recitou Sasuke, um ensinamento de lorde Minato para os dois.

 

Jon B.


Notas Finais


Ai ai, esse Sasuke... = (*meme do pica-pau passando pano*)

Muitas referencias nesse cap, quem pegou todas? rsrs
E também muitas indagações:
Sakura realmente envolvida em crime?(crime pesado) Quem é o cavaleiro misterioso? Quem é a criança que Naruto vê? O que o Naruto fez na guerra para acreditar ter condenado a alma? Bom, fiquem a vontade para teorizar.

Deu pra ter uma boa ideia da mudança nos personagens. O Sasuke e a Sakura que o diga rs. Nossa rosada vai impor muito ainda, vcs verão.
Quem quiser ter um vislumbre melhor da aparência dos personagens depois desse time skip é só ver a capa da fic, eles estão exatamente daquela forma agora na historia.

Até em breve.


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