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História The Rose - A primeira tentativa


Escrita por: carat_mar

Capítulo 7 - A primeira tentativa


Acordo com recordações de uma noite passada não muito boa. Diferente de ter passado a noite e a madrugada resmungando com falta de ar, de dor muscular pela falta de circulação, cãibras, pesadelos e vontade de morrer, passei as últimas horas do dia anterior pensando em como fui idiota. 

Uma coisa engraçada aconteceu, tive um lapso de confiança em meu vizinho, até Mingyu passou a ver o lado bom dele. Contei sobre meus problemas para Minghao, agora me pergunto se ele não pode tirar proveito disso. Estou quase enlouquecendo, se eu demoro a me abrir para todas as psicólogas, por que contei a ele? 

Levanto da cama e vou tomar banho para esvaziar a mente. Ainda estou bem só com o calmante de ontem, por enquanto. 

Começo a pensar na possibilidade de ir para a casa dos meus pais durante a semana, esfriar a cabeça e esquecer tudo. Não sei se devo contar o episódio de ontem para alguém, nem mesmo para Kun, para não acabar com as esperanças que começaram a nascer nela com seu trabalho. Até ontem eu poderia achar que ela realmente me fez progredir, mas a covardia nunca vai me deixar em paz e não importa o quanto eu me esforce. 

O calmante que tomo é meio pesado, estou meio lesado desde ontem. É por isso que Mingyu não gosta que eu fique tomando sempre, ele tem medo de que vá se tornar uma droga, maior do que ela já é. 

Brincando com Nina, ouço a campainha tocar. Isso me deixa assustado, porque Mingyu e meus pais sempre me ligam antes de vir e não pedi comida no restaurante. 

– Fica quietinha, Nina. – Penso em fingir que não estou em casa, mas Nina fica latindo. O resquício do remédio de ontem começa a se extrair do meu organismo através de suor, por isso fico nervoso. Basta ouvir a campainha sem aviso prévio. 

– Jun? – A voz de Minghao me chama. O que ele quer? Droga, antecipou seu plano de me matar agora que sabe que sou um completo idiota incapaz de se defender? – Jun? 

Se eu não respondo, talvez eu não esteja em casa. Mas ele insiste por quê? 

– Por favor, eu sei que está aí me ouvindo. Disse que não gosta de sair de casa. – E ele diz com o maior tom de autoridade possível. 

Sou traído por mim mesmo, depois de ter revelado aquilo para ele no jantar de ontem. Droga, porque eu contei essas coisas para ele? 

Respiro fundo e levanto do chão, estou de moletom. 

– Você… Pode me dar um minuto? – Digo. Fico cara a cara com a porta para ouvi-lo.

– Se prometer que vai abrir a porta ‘pra conversar comigo… – Ouço sua voz, meio abafada pela porta de madeira. 

– Não sei… ‘Tô meio confuso. – Meu estômago revira. 

– Claro que está! Olha, foi mal ter sido rude com você, estou chateado comigo mesmo também, eu pensei que não tinha gostado de ser convidado ‘pra sair por outro homem. Desculpe, de verdade. – Ele foi sincero. 

Pois é! Não sei como ele foi pensar assim. Acho que nunca mostrei ser hétero, mas também nunca revelei que era gay. 

– É que… Você tem uma personalidade muito forte. Não estou acostumado. – Esfrego o rosto. Não acredito que estamos nos falando pela porta, é muita idiotice até para mim. 

– Vamos, me desculpe! Saiu batido do meu apartamento ontem… Quero saber se está bem! Você não passou mal de novo, passou? – Do nada ele mudou de tom, agora preocupado. 

? Eu não disse que fiquei chateado com você, ‘pra quê se desculpar? Eu só fiquei com medo. Não sei como agir perto de você, só isso. Eu tô bem, não se preocupe. – Apesar dele estar se mostrando atencioso, preferia que fosse embora. 

– Algo me diz que se realmente estivesse bem, abriria a porta. Ainda acha que eu posso te machucar? 

– Como eu vou saber? – Enrugo a testa. 

– Viu? Você não está nenhum pouco bem. – Minghao acertou em cheio, bastou uma noite para pensar sobre tudo que lhe contei. Maldita hora que eu fui abrir a minha boca para Minghao! 

– Minghao, eu acredito em você ou não teria levado o jantar ontem. Mas basta um piso em falso e uma parte da minha cabeça faz o resto da minha cabeça martelar, não sou eu quem controla. Essa insegurança me toma com muita besteira. – Explico, encarando a porta como se fosse ele. 

– Tipo o quê? 

– Que você pode polir armas na sua cozinha e quer me esquarteja para vender meus órgãos. Que seus quadros escondem drogas. Ou que seu quarto é vermelho e tem um milhão de coisas para tortura… Eu não sei! – Exclamo. 

– Sua mente é mais fértil que a de uma criança! – Sua voz subiu alguns oitavos, chocado com minha revelação. 

– Olha, por quê tá insistindo tanto? Devia se sentir insultado. 

– Já entendi o que você sente, quero mostrar que podemos ser amigos. Agora que eu entendo, posso ficar numa boa, prometo não fazer convites inconvenientes. – Insistiu. 

Mordo o canto da boca e pego na maçaneta. Nina está no meu pé, esperando para ver se o outro chinês vai entrar e trazer sua amiguinha. Conhecendo poucas pessoas, ela já reconheceu a voz de Minghao. 

– Está me ouvindo? Jun! Isso não é jeito de se conversar, pelo amor de Deus. – Ele esbraveja e começo a pensar em não abrir. 

– Desculpe, acho que não consigo agora. – Eu me afasto. 

– Mas… Tudo bem. – Ouço Minghao dar um longo suspiro. – Só estava querendo tentar ser seu amigo. Desculpa, talvez eu não entenda de verdade o que você tem.

Fico em silêncio. Encarando a porta, tento imaginar seu rosto desapontado a julgar por sua voz. Mais uma vez os meus dedos tocam a maçaneta. Não ouço mais nada dele, talvez tenha ido embora. Bem devagar retiro todas as travas e ponho a cabeça de fora.

Minghao está entrando em seu apartamento quando Nina sai na porta e late, chamando sua atenção.

Hey! – Ele dá um pulo, mas logo se reprime. – Desculpa, não vou ser afoito. – Devagar ele volta para minha porta. 

– Obrigado. 

Reparo que ela está com uma jardineira e uma blusa listrada verde, e óculos no rosto. Acho que nunca vi com a aparência fofa. 

– A gente vai conversar na porta mesmo ou eu vou poder entrar? – Prensa os lábios e aponta o interior do meu apartamento. 

– Não sei. – Cara a cara com ele, não consigo ser mais longo, depois de ontem.

– Ok! O que eu preciso fazer ‘pra você me deixar entrar? Qual é? Não é tão ruim, é? – Minghao de repente pergunta, recordando das inúmeras fobias que falei ontem para ele. 

– Deixar seus chinelos na porta. – Aponto. Minghao olha para os pé e fica confuso, não sabe o que aquilo significaria para um cara que disse ter medo de pessoas. – Eles podem ter bactérias da rua, germes…

– Vai me dizer que também é hipocondríaco? – Ele ri.

– Hipocondríaco é quem acha que tem doenças. Eu sou germofóbico. Cuido da higiene para não ter nada. – E lá vai o meu primeiro ponto de loucura, só para que ele consiga entrar. 

Minghao me olha estranho, se não me achou idiota pelo episódio de ontem deve estar achando agora.

– ‘Tá bom, Sheldon. Posso? – Eu entendo sua brincadeira e faço cara feia. – Aí, Jun! Eu só quero descontrair, você é muito sério… Se importa com tudo.

– Meus problemas são sérios, não faça piada se quiser mesmo fazer amizade comigo. Por favor. – Fui duro pela primeira vez, piadinhas podiam me deixar com medo, fazendo surgir fantasias dele me humilhando. 

Minghao afirma e o deixo entrar, sentindo meu coração pulsar na garganta. Ele é o primeiro estranho que entra no meu apartamento, minhas mãos começam a suar.

Fecho a porta e o vejo pronto para pegar Nina no colo.

– Não faça isso! – Grito. O garoto se assusta e levanta o corpo na mesma hora.

– Meu Deus, que susto! Calma! Também não sou ladrão de cachorro. – Mostra as mãos como quem se rende. Vou até a gaveta da estante na sala e pego um álcool em gel e ofereço.

– Precisa estar com as mãos limpas ‘pra pegar na Nina.

Ah! –  Ele abre a boca e fecha. Não sabe o que dizer para aquela exigência. – Jun… Também não tenho carrapato.

Dou de ombros e balanço o frasco. Só depois que limpa as mãos o deixo brincar com Nina. Sento no sofá e só o observo por um momento, tentando antecipar se ele não vai puxar uma faca ou uma arma do cós da calça. 

O chinês tem muito jeito de brincar, ri e deixa Nina lamber seu rosto, como se fosse seu dono. Confesso que tive ciúmes, como Nina pode ter me trocado? 

– Acho que a Nina gosta de você. – Digo envergonhado. 

– É, gosta. Menos o dono. – Abaixo o olhar para o chão. – Tudo bem… Se ficou com medo de mim, além de não sair muito de casa, quer dizer que também não teve muitos relacionamentos? – Minghao estreita os olhos.

Pisco umas vezes. Só faço que sim. 

– Devia ter notado no dia que a gente se conheceu… Ficou com tanto medo e emudeceu. 

– Achei que fosse me bater por estar olhando seu apartamento. Mas por um momento você quis, não? – Coço a cabeça. 

– Não vou mentir que eu realmente teria sido capaz… – Riu. – Você era um estranho, mas diferente de você eu passei a ter confiança quando me ofereceu ajuda. 

Hum– Aquilo me deixa envergonhado. – Tenho inveja da sua determinação. Sou um fiasco total. Por isso nunca tive um relacionamento, também invejo isso do meu irmão, ele é muito melhor que eu. Você o conheceu, não o achou bonito? 

– Para de dizer tanta coisa ruim de si mesmo. Ele sabe que você faz essa comparação ridícula? – Vi sua careta, menosprezando minha automutilação. 

– Não. Eu nunca disse, acho que ele se sentiria culpado. – Fico encolhido, olhando para ele e querendo saber o que achou de Mingyu. – Não respondeu minha pergunta. 

– Vocês são bem diferentes. – Se limitou a falar apenas isso. 

– Claro! Ele é muito mais bonito. 

Ia dizer o contrário… – Minghao sussurrou algumas palavras e revirou os olhos, mas não consegui entender até ele falar normalmente. – Quero dizer que cada um tem o seu jeito, não use ele como espelho. 

– Bom, essa não é a única chave da minha sociofobia. – Minghao faz uma expressão de quem guarda o nome que acabou de ouvir. – São muitas coisas, cada uma pior que a outra. 

– Tipo o quê? – Deixou Nina no chão e vem sentar do meu lado devagar. Primeiro, dou um pulinho mais para o lado. Depois o encaro. 

– Aí já são coisas mais profundas, não tenho coragem de falar assim, abertamente. Sei que são dificuldades demais para uma pessoa só… Mas… 

Esfrego minhas mãos. 

– Isso tudo deve virar um turbilhão, não é? Medo de pessoas, medo de doenças… – Minghao adquire um tom mais calmo, preocupado até. Só respondo com a cabeça. O motivo é evitá-lo, não é a vergonha de falar sobre mim, mas por estar perto demais. De canto, vejo sua mão tentar se aproximar da minha, mas acho que ele lembra dos germes e não faz. 

– Porquê quer ser meu amigo? Achei que tivesse te insultado o suficiente para não querer ver mais a minha cara, nem pintado de ouro. Só faltei te chamar de psicopata, não se chateou? – Estou curioso. 

– Não muito. – Enrugou o nariz. – Na verdade eu acho que começamos bem, o pé esquerdo só veio depois, ontem mais exatamente. 

Uhum – Resmungo. – Tudo veio como uma avalanche ontem. Era ‘pra ter sido melhor, Mingyu me disse para ser legal com você. 

– Não precisa se preocupar com isso Jun. Bom, na hora eu gostei quando levou o jantar ‘pra mim, mas agora realmente não precisa fazer mais isso. – De novo ele queria pegar minha mão, mas recuou. 

– Pensei no suco que você me deu por subir sua mudança, achei que jantar seria uma maneira de ser tão normal quanto. – Dou de ombros. 

– Quando conversamos sobre a dança no meu apartamento você ficou tranquilo. Aquilo pareceu normal ‘pra mim, quando você foi você. Quando as coisas fluíram naturalmente. – Sorriu. Eu quase pude senti-lo me tocar. 

– Duvido! Só está querendo me confortar. 

– Bobagem. É verdade! Você foi bem no início, ou eu não teria te convidado ‘pra sair. – Me empurrou com o ombro. 

– Talvez… – Cruzo os braços e me mexo desconfortável. – Quando você fala de si mesmo eu fico bem, eu capto mais informações e… Conforto minhas manias. E tiro o foco de mim, porque isso é outra coisa que odeio. 

Minghao pisca uma vezes. 

– Olha, você já tentou superar esses medos? 

– Por favor, não volte o assunto para mim… – Resmungo. 

– Só responde. – Minghao fala com simplicidade, me olhando docemente para piorar minha vergonha. Às vezes acho que ele não diz nada muito sério. 

– Sim, eu não me canso de tentar. Mas nunca deu muito certo… Não uso elevadores, não chego naquela sacada, corro das pessoas… – Apontei a janela, entregando a acrofobia

Bufo. 

– Não tá parecendo que tenta de verdade. – Balançou a cabeça. 

– Consulto uma psicóloga toda semana. Meus pais gostam que eu tente, desde pequeno. Ainda que me sinta desagradável, eu faço. E Mingyu sempre me acompanha. Só por isso que vou. – Dou de ombros. 

Penso em muitas coisas que sou obrigado. Embora a que mais marque minha mente seja a de tentar conhecer meu novo vizinho. Ainda estou tentando, sei lá porque raio… 

Minghao tem razão, eu detesto fazer isso toda semana. 

– Acho que precisa encarar seus medos de frente, como faz comigo agora. 

– E o que sugere? Que fique subindo e descendo o elevador o dia inteiro até que não me dê vontade de vomitar lá dentro? – Ironizei e quase ganhei um tapa. 

– Óbvio que não! – Esbravejou. – Seria bom começar com coisas pequenas, indo ‘pra esse tipo de medo só mais tarde. Que acha? 

– De quê? – Fico assustado e começo a tremer. 

– Eu não sei, mas quero te ajudar. Vamos fazer alguma coisa ‘pra você ver as pessoas de frente, ver no que vai dar… 

– Nada bom, isso eu garanto. – Antes de conhecê-lo, a última vez que falei com uma garota eu quase morri. 

– Precisa espantar esse medo, Jun! Anda! Levanta. – Ele fica de pé e quer me fazer ir para algum lugar. 

– Minghao, o que… – Levanto, mas não sei o que devo fazer com ele. – Gosto de querer tentar ser meu amigo, mas uma hora ou outra… Vai dar merda! Não devia esperar muito de mim. Você devia me achar estranho! 

– E quem disse isso? Quero ser seu amigo e estou disposto a te ajudar se você quiser. É o que amigos fazem um pelo outro. Para de ser birrento… 

Minghao bate no meu ombro. O que eu preciso fazer para recusar? Eu não quero sair falando com estranhos, já sei como isso vai terminar. 

– Isso é uma péssima ideia, Minghao. – Como posso dizer que não quero ir? Só tento fazê-lo mudar de ideia, talvez funcione. 

– Só se você não tentar de verdade. Pense em alguma coisa simples, que faria no dia a dia. Tipo ir numa lanchonete e fazer um pedido! – Gesticulou. 

– Por favor, tudo, menos uma lanchonete. – Suplico, deixando o moreno confusa. – Também tem a ver com os germes, eu… Não sei como seria a comida. 

– Ah! Ok, então… 

Droga, não tenho saída! Gostaria de poder dizer para Minghao que ele está fazendo de novo, tentando forçar tudo. 

– Às vezes eu vou ao mercado. Mas dia de domingo, e hoje é sábado… 

– Por acaso existe dia específico para ir no mercado? Não gostou quando te chamei de Sheldon, mas tá sendo igualzinho – Aponta pra mim. – Troca de roupa e vamos. 

Só então percebo que ainda estava de moletom, todo largado e falando com o homem que vem me deixado estranho ultimamente. Mas quem vou enganar? Minghao é bonito demais para mim, ainda que eu tivesse coragem de falar com ele decentemente. 

Vou para o quarto querendo morrer. Mingyu ficaria mais bonito mesmo de moletom, eu pago mico. Troco de roupa e pego meu celular e a bombinha de asma. Ele me esperava na porta. 

– Vem logo! – Acho que ele também foi trocar de roupa. Agora trajava uma calça mais justa e um casaco fino. 

– Ok! – Tranco minha porta e sigo com ele. – Ah, eu desço de escada, se  você se incomodar em ir, pode descer de elevador e te encontro lá embaixo. 

– Tudo bem, é só um lance não vou ficar cansado. 

Saímos e não fico muito perto dele enquanto caminho. Segunda vez que saio sem planejar antes e sem a companhia de Mingyu. Pois é, está um fim de semana e tanto. Para muitos, fazer loucuras não é nada dessa frescura. Para mim, é assim. 

Chegamos ao mercado. Eu congelo na porta e Minghao fica esperando. 

– Eu… Dia de sábado é muito cheio, não é? – Pergunto. Manhãs de domingo são tranquilas, ainda mais no horário que venho, quando o mercado acabou de abrir. Agora já são dez da manhã, parece que Seoul inteira está aqui. 

– Relaxa! Só vamos fazer um teste. 

– Teste? Eu não posso falar com a psicóloga primeiro, ver o que ela recomenda? Podemos voltar outro dia… – Eu me viro para sair. 

Mas Minghao me segura forte, ignorando os germes que pegamos na rua. Seu olhar me diz que mesmo que eu gritasse, ela não me soltaria. 

– Seu primeiro erro de tudo é perguntar a opinião dos outros. Não importa o que eles acham sobre o que está fazendo. Faça por você. 

– Por mim? Por mim eu não daria um centavo… – Engulo em seco e meus batimentos disparam, não só por ele me olhar cara a cara, por ter muita gente respirando o mesmo ar. 

– Você não é inferior a ninguém, Jun. 

– Minghao, aqui tem muita gente. Eu não consigo! – Resmungo. 

– Consegue sim. Eu vou estar aqui, não se preocupa, como seu amigo não vou te deixar sozinho um minuto. – Por um segundo ele segura minha mão, só para mostrar companhia. Engulo em seco de novo, tentando compreender. – Vem. – Minghao me solta e só vai me cutucando, depois de ter notado meu nervosismo com seu toque. 

Ele pega um carrinho no caminho e me pergunto se vamos comprar algo. O lugar tá muito cheio, sinto que vou sufocar com tanta gente indo e vindo pelos lados, rostos estranhos que não têm um sentido aparente. 

– A-a gente vai comprar o quê? – Não saio de perto dele, afinal, se ele quer ser meu amigo, também pode usar de sua força para me proteger. 

– Sei lá. Tá precisando de alguma coisa em casa? – Ele me encara e não sei como responder, vejo algumas crianças correndo pelo corredor inicial, onde passamos, e aquilo me dá vontade de desmaiar. Eu me apoio no carrinho, para tentar respirar no espaço em que ele ocupa. – Calma! Tem alguma ameaça aparente aqui ‘pra você? 

Minghao olha em volta. 

– É tudo. – Suspiro. A expressão dele mostra muita preocupação. – Vamos em frente. O que tinha perguntado? 

– Se está precisando de algo em casa. 

– Lenço umedecido. 

– Lenço umedecido? Oh, meu Deus! Você já teve filho? – Minghao se espanta e pega meu braço. 

– Claro que não. Que parte do “nunca tive um relacionamento” não entendeu? – Tomo cuidado para falar aquilo baixo. Não quero ser o idiota do mercado. – Uso ‘pra limpar as mãos. 

– Ah, tudo bem. Nossa, me precipitei bastante agora… – Sinto que parte dele ficou aliviado. – Onde ficam os lenços? 

Nada disso ainda faz sentido para mim, fico tentando encontrar uma conexão com Minghao e a vontade de se aproximar. Já que saímos juntos, tento não imaginar nada ruim. Minghao ri do meu lado, acho que o lance do filho foi brincadeira, mera distração até sairmos da enorme concentração. 

Vou com ele e dou graças a Deus por aquele corredor estar mais vazio. Seoul não tem muitos bebês? Respiro fundo e minhas pernas ficam mais firmes. 

Seguro, vou pegar minha marca favorita. Balanço na frente dele e ponho no carrinho. 

– Podemos ir pra casa? 

– Já? Calma, vamos dar mais uma volta. Quero comer um queijo, vamos ver onde fica o setor de laticínios. – Chama com a cabeça. Vou me arrastando. – Olha, pergunte àquele cara arrumando as prateleiras de fraldas onde ficam os frios. 

– Quê? Eu sei onde é, só vem comigo. 

– Acontece que eu nunca vim nesse mercado, então não conheço nada. – Ele fala calmamente. 

Olho para ele e pisco algumas vezes. Acabei de dizer que eu sabia, e daí que ele se mudou para cá e é a primeira vez que ele veio aqui? 

– Vai ali perguntar. – Gesticula para não precisar me empurrar. – Finja que também não sabe, pensa que acabou de se mudar. O que faria se estivesse no meu lugar e sozinho? 

– Sairia caçando para evitar contato. 

O garoto revirou os olhos. 

– Deixa de bobagem, vai lá agora. – Agora ele me dá um tapa no ombro para seguir em frente. 

Congelo no meio do corredor de produtos para bebês e fico encarando o homem, como se ele fosse me matar. O ambiente começa a ficar perigoso para mim, eu não sei se devo arriscar e ir falar com o desconhecido ou se fico paralisado. 

– Jun, você está bem? – Acho que ele percebeu meu estado estupefato. 

– Tô começando a ter falta de ar… – Me abano com a mão. O garoto arregala os olhos. 

– Diz que trouxe a bombinha? – Faço que sim, mas não pretendo usar agora. Eu faço isso uma vez por mês, porque hoje estou amarelando? – Ei, você consegue falar com ele. Sem pressa, estou aqui te esperando. 

Encaro o moreno, que encosta o carrinho perto da prateleira dos lenços e se apoia no ferro. 

Eu consigo fazer! Faço isso um domingo por mês, não devia estar assustado. É só ir devagar, não tenha pressa ou você vai ficar trêmulo, Junhui. Oro mentalmente. 

– Minghao, não posso. – Volto e sussurro para ele. Eu faço isso uma vez por mês, eu não devia estar me sentindo assim. Porém, essa é a primeira vez que tenho plateia. Talvez Minghao tenha esquecido de quando disse que detesto o foco voltado para mim. 

– É claro que pode, vai lá. 

Olho mais uma vez para o homem e tento medir a distância daqui para lá mentalmente. Com certeza são menos de dez metros, meu vizinho poderá me ver perfeitamente. 

Sinto que estou em um show de rock, no meio de uma roda punk. 

De costas para Minghao, posso sentir seu olhar sobre mim e a expectativa que ele tem se vou conseguir ou não. Começo a tremer, minhas pernas parecem que vão desmanchar quando dou um passo, e na velocidade de uma tartaruga. 

Em volta de mim, parece que aumentou o número de pessoas no corredor e sempre que alguém passa por mim ele olha bem no fundo dos meus olhos, fazendo uma expressão como se eu fosse algum bicho. Milhares de olhares me dizem que sou um monstro, as pessoas se afastam com o tanto que ficam incomodadas. 

Todo mundo está me olhando. 

De repente, a questão não é se sou capaz de falar com o cara do mercado, se vou falar cara a cara com ele sem gaguejar, mas o que o próprio vai achar de mim com o rosto pálido de medo, as roupas nitidamente molhadas e a ponto de cair no chão. E o que Minghao vai dizer de mim, provavelmente que sou um covarde, talvez ria da minha péssima postura masculina. Meu corpo fica todo molhado de suor, talvez Minghao perceba e comece a me achar fedorento também. 

Solto um grunhido de dor. Começo a deixar meu corpo pender para frente; envolvo meus braços na barriga para impedir que o vômito venha. 

– Jun? – Sinto uma mão no meu ombro. Meio turvo, consigo ver Minghao tentando me segurar para eu não desmaiar. 

– Desculpa, eu não consigo mesmo fazer isso. Eu falei ‘pra você que não dava. Olha ‘pra eles agora? – Esbravejo, querendo que ela veja como me tornei um palhaço para os outros do mercado. 

Minghao olha em volta da multidão, mas pareceu ignorar. 

– Tudo bem, fica calmo. Não tem ninguém aqui. – Teve uma tentativa falha de passar meu braço por seu pescoço, mas eu não deixo. – Vamos para outro lugar. 

– Por favor, me deixa. Eu não quero fazer mais, tá todo mundo achando que sou um imbecil, não querem me ver andando na rua. 

Hein? Que ideia é essa? Não há ninguém aqui, além de mim. – Não a deixo me segurar de jeito nenhum. 

– Droga! 

Consigo fazê-lo ir para longe, o empurro com força. Foi difícil, já que ele é mais forte do que eu. Saio apressado do mercado e quando chego do lado de fora, nem me lembro para qual lado fica o meu apartamento. 

Há mais pessoas chegando. Algumas de carro, tentam vir para cima de mim na calçada, o que me obriga a escorar na parede. O caminho todo para casa foi assim. 

Tranco a meia dúzia de fechaduras da porta e me jogo no sofá, me escondendo embaixo das almofadas. Tomara que ninguém tenha me seguido. 

Minghao deve me achar muito imbecil. Eu mesmo me acho. 



Notas Finais


Então, o que acharam? Aqui já vemos um pouco mais do relacionamento do Jun e do Hao, mas pena que o Hao não acertou muito bem no que fazer. Toda a perseguição que o Junhui acreditou estar vendo foi mera imaginação de sua cabecinha. Igual no elevador. É a síndrome do pânico, minha gente. Espero que tenha ficado claro com a letra destacada e no depoimento do Minghao. É uma pena o Hao ter enfiado os pés pelas mãos, mas no fundo achei esse momento necessário, agora ele vai ver como deve e como não deve agir com o Jun. Concordam comigo?

Até o próximo Capítulo!! 😘😘😘


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