1. Spirit Fanfics >
  2. Things That Science Cannot Explain >
  3. Ato III

História Things That Science Cannot Explain - Ato III


Escrita por: mergoony_delusions

Capítulo 3 - Ato III


O relacionamento dos dois arautos, infelizmente, não durou muito. O tempo que haviam compartilhado juntos — as descobertas, os sentimentos — tudo parecia perfeito, até que a doença de Viktor começou a piorar.

Antes de conhecer Jayce, Viktor costumava contemplar a morte. Talvez já a tivesse aceitado como uma parte inevitável da vida. Mas, depois de tudo que viveu ao lado de Jayce, depois de experimentar algo tão próximo do que imaginava ser felicidade, desistir tornou-se impossível.

Contudo, a cura tinha um preço, e o preço era alto demais.

Quando Viktor foi expulso da Academia pelos conselheiros de Piltover, acusado de utilizar métodos antiéticos, Jayce fez o possível para protegê-lo. Ainda assim, não conseguiu evitar a inquietação. No fundo, temia que Viktor estivesse perdendo a cabeça.

O término se seguiu inevitável. As discussões entre eles haviam se tornado frequentes, carregadas de frustração e mágoa. Mas, mesmo assim, Jayce nunca superou a sua ausência.

Enquanto isso, Viktor retornou à Subferia, consumido pela raiva e pela certeza inabalável de que o fator humano era o maior obstáculo para a evolução, seus sentimentos por Jayce eram a prova disso.

Ele começou a distribuir suas invenções aos Zaunitas, reunindo seguidores leais e criando máquinas poderosas. Aos poucos, substituía sua carne por metal, corrigindo as imperfeições de seu corpo, transformando-se no que acreditava ser um ser superior.

Jayce tentou seguir com sua vida. Fez o possível para ignorar o vazio crescente em seu peito, a ausência cruel de Viktor. Mas, por mais que tentasse, a ferida não cicatrizava.

Dois longos anos haviam se passado. Agora, ali estava ele, sentado na sala do conselho, divagando enquanto os líderes das nações vizinhas e seus próprios companheiros conspiravam para derrubar o Arauto Das Máquinas.

Ao fim da reunião, Jayce retornou às forjas da família Talis. Ele sabia que não poderia enfrentar Viktor sem estar devidamente preparado.

***

Nas vielas, a vida seguia agitada como de costume.Viktor trabalhava concentrado quando o som agudo de Blitzcrank interrompeu seu foco.

— Perigo, perigo, perigo — alertou o golem, sua voz metálica ecoando pelo espaço.

Viktor levantou a máscara de proteção e virou-se na direção de Blitzcrank. O autômato se aproximou com suas engrenagens ressoando suavemente, e transmitiu ao núcleo de Viktor as imagens que havia coletado nas vielas próximas.

Poderíamos dizer que o que Viktor viu fez seu coração acelerar, mas isso seria mentira. Seu coração não era mais feito de carne há muito tempo. Mesmo assim, uma sensação incômoda, algo próximo a uma inquietação, percorreu suas sinapses.

Jayce. Ele estava nas vielas novamente. Mas desta vez, seu olhar determinado carregava algo diferente. Uma ameaça silenciosa. E ele estava muito mais próximo do laboratório do que em qualquer outra ocasião.

Viktor suspirou, o som reverberando com um toque metálico.

— Será possível que ele ainda não tenha desistido? — murmurou para si mesmo, um misto de cansaço e irritação permeando suas palavras.

Virando-se para Blitzcrank, deu a ordem sem hesitar:

— Reforce as defesas.

Blitzcrank soltou um chiado prolongado, confirmando a ordem com um movimento brusco da cabeça. Suas mãos gigantescas começaram a se mover, ativando alavancas e painéis embutidos nas paredes do laboratório. O ambiente, antes iluminado por luzes fluorescentes azuladas, foi invadido por uma tonalidade vermelha pulsante.

Viktor observou, seus olhos dourados brilhando intensamente, destacando-se na escuridão que havia tomado conta das suas antigas escleras humanas. Linhas de código e runas mágicas fluíam em tempo real pelo visor holográfico no canto de seu campo de visão, enquanto ele monitorava cada alteração.

Do lado de fora, as vielas responderam à ativação das defesas. Portas metálicas deslizavam suavemente para selar acessos estratégicos, câmeras-aranha se desprendiam das paredes, seus olhos eletrônicos varrendo cada movimento. Drones silenciosos emergiam das sombras, armados com pulsos eletromagnéticos que zumbiam baixinho, como predadores à espreita.

Blitzcrank, agora conectado diretamente ao sistema, girou sua mão em forma de garra, gerando uma vibração que ressoava pelo chão. Placas reforçadas subiram ao redor do laboratório, transformando a estrutura em uma fortaleza improvisada.

— Invasor detectado — anunciou Blitzcrank, sua voz robótica carregada de urgência. Uma imagem holográfica projetou-se no centro do laboratório, mostrando Jayce caminhando pelas vielas, sua figura destacando-se no nevoeiro constante da Subferia.

Viktor se aproximou do holograma, os olhos semicerrados. Jayce estava armado. O Martelo Hextec brilhava em sua mão, emitindo faíscas elétricas que dançavam no ar ao seu redor. Ele parecia imune à hostilidade do ambiente, movendo-se com precisão, como se soubesse exatamente para onde ir.

— Ele está rastreando o sinal Hextec... — Viktor resmungou para si mesmo, ajustando um painel no braço esquerdo. Seu corpo respondeu com pequenos estalos metálicos enquanto ele flexionava os dedos artificiais.

Blitzcrank permaneceu imóvel por um momento, analisando os dados.

— Adaptar contramedidas?

— Não — respondeu Viktor, sua voz fria. — Quero ver até onde ele vai.

Jayce já estava a poucos metros do laboratório. Drones surgiram em seu caminho, disparando rajadas de luz ofuscante e sons ensurdecedores. Ele os neutralizou com golpes precisos, derrubando-os com força bruta. Câmeras-aranha caíram em cascata, cada uma destruída antes de transmitir mais do que alguns segundos de vídeo.

Viktor não desviava o olhar da tela. A tensão entre os dois crescia a cada passo de Jayce.

— Ele acredita que pode me parar — murmurou, a sombra de um sorriso curvando os cantos de sua boca.

Blitzcrank emitiu um som curto, quase uma imitação de um riso.

— Ele subestima nossa evolução, criador.

Viktor ergueu a cabeça, o brilho dourado em seus olhos intensificando-se.

Do lado de fora do portão principal, Jayce baixou o Martelo Hextec por um momento e ergueu a voz, projetando-a através do silêncio opressivo da Subferia.

— Viktor! Eu sei que você está aí dentro!

As câmeras-aranha ainda funcionais focalizaram nele, transmitindo sua imagem para Viktor, que não pôde conter um sorriso e um leve arquear de sobrancelhas ao perceber como o outro havia mudado. Apesar de seus esforços, ainda lhe restava alguma humanidade, porque ele o admirava em silêncio no laboratório.

A barba lhe caiu muito bem Jayce.

— Piltover já decidiu o seu destino. Estão vindo para destruir tudo o que você construiu! Suas máquinas, seus seguidores... Eles não vão parar.

— Deixe-os vir —murmurou Viktor.

Jayce parecia lutar contra a emoção enquanto gritava novamente:

— Não seja idiota, Viktor! Você é forte, mas não suficiente para derrotar Piltover e os exércitos Noxianos. Você pode parar isso! Renda-se agora, e posso convencê-los a poupar você.

A resposta de Viktor veio através de alto-falantes escondidos nos arredores, a voz amplificada ecoando pelas vielas:

— Poupar-me? Que tolice. Eles querem apagar tudo o que eu sou porque não conseguem compreender. Não vou desistir, Jayce. Nem agora, nem nunca.

Jayce fechou os olhos por um momento, a expressão de frustração tomando conta de seu rosto.

— Por favor Vik... Se não pela humanidade, senão por si mesmo, faça isso por mim... Eu não vou aguentar te perder outra vez.

Houve uma pausa. Por um breve instante, Viktor considerou responder, mas rejeitou a ideia.

— Blitzcrank. — Sua voz soou firme dentro do laboratório. — Vá lembrá-lo por que ele nunca deveria ter voltado.

Blitzcrank respondeu com um ruído mecânico, caminhando pesadamente em direção ao portão. Jayce ouviu o som das engrenagens antes de ver a figura gigantesca emergir da neblina.

— Perigo confirmado. Eliminação iniciada.

Blitzcrank avançou com velocidade surpreendente, sua mão metálica estendendo-se para agarrar Jayce. Ele esquivou no último instante, o braço do golem cravando-se no chão de concreto com um impacto devastador.

Jayce girou o Martelo Hextec, uma descarga elétrica iluminando as vielas. Ele avançou, desferindo um golpe poderoso contra o autômato, que resistiu, absorvendo o impacto com sua armadura reforçada. O golem contra-atacou, desferindo um soco que lançou Jayce contra uma parede.

A batalha prosseguiu em um espetáculo de faíscas, explosões e o som ensurdecedor de metal colidindo com metal. Blitzcrank, resistente e incansável, pressionava Jayce a cada movimento. Mas o inventor de Piltover era igualmente habilidoso.

Com um golpe preciso, Jayce ativou o raio concentrado do Martelo Hextec, atingindo diretamente o núcleo de Blitzcrank. O golem estremeceu, suas luzes piscando antes de apagar completamente. Ele caiu de joelhos, sua estrutura pesada colapsando no chão.

Sem perder tempo, com o Martelo ainda brilhando, carregado com energia, Jayce mirou nas defesas do laboratório. Uma única rajada de energia foi suficiente para abrir um caminho pelo portão principal, destruindo as barreiras internas.

Atravessando o corredor escuro e repleto de vapor, Jayce finalmente adentrou o laboratório, aproximando-se com cuidado do centro, onde tudo o que podia ver eram os olhos dourados de Viktor.

— Apesar das circunstâncias... — ele começou a dizer, sua voz reverberando entre as paredes, desprovida de qualquer emoção. — É bom te ver, Jayce.

O arauto emergiu em meio ao vapor, sua silhueta aos poucos se revelando diante de Jayce.

O homem ficou imóvel por um instante, os olhos arregalados enquanto tentava compreender o que via. A luz refletia na armadura dourada que cobria Viktor, delineando o corpo que, em outros tempos, havia sido tão humano. Cada placa metálica parecia uma obra de arte, ajustada perfeitamente à forma que Viktor moldara para si, como se a carne fosse apenas uma memória distante. Além disso, um terceiro braço mecânico emergia de suas costas, movimentando-se ocasionalmente, como se estivesse seguindo os comandos mentais do cientista.

Ainda assim, havia algo profundamente familiar. Por trás da máscara que ocultava boa parte de seu rosto, seus olhos dourados exibiam aquele olhar cínico e irônico que Jayce conhecia tão bem.

Jayce sentiu o ar se esvair de seus pulmões. A dor e a nostalgia vieram em ondas esmagadoras. Ele balançou a cabeça, como se quisesse dissipar a visão diante dele, mas a verdade era inescapável.

— Viktor... Meu Deus. — Sua voz tremeu, as palavras saindo antes que pudesse segurá-las.

Viktor inclinou levemente a cabeça, o movimento mecânico quase antinatural, deixando escapar um riso sinistro, como se estivesse se divertindo com as suas reações.

Jayce respirou fundo, tentando controlar as emoções que borbulhavam dentro de si. Ele queria gritar, argumentar, implorar para que Viktor o escutasse. No fim, seus sentimentos falaram mais alto.

O martelo caiu de suas mãos com um estrondo metálico que ecoou pelo laboratório. Viktor deu um passo à frente, confuso, mas antes que pudesse reagir, Jayce se lançou em sua direção.

Seus braços o envolveram em um abraço apertado, sem hesitação. A sensação foi um choque. O metal dourado era frio, rígido, intransigente contra a pele quente e suada de Jayce. Mas ele não se afastou. Ele apertou ainda mais, como se tentasse alcançar algo que talvez não estivesse mais lá.

— Eu sinto tanto a sua falta... — murmurou Jayce, a voz abafada pela proximidade.

Por um instante, Viktor permaneceu imóvel, seu corpo completamente estático, como se o gesto tivesse causado um curto-circuito em suas sinapses. Ele finalmente se moveu, mas não para retribuir o abraço. Suas mãos metálicas seguraram os ombros de Jayce, firmes, e o afastaram.

— O que acha que está fazendo? 

Jayce olhou direto nos olhos dourados dele, e teve a certeza de que algo humano ainda brilhava ali. Talvez, nem tudo estivesse perdido.

— Pare com essa loucura Viktor, por favor, volte pra mim — implorou.

O silêncio entre os dois foi carregado, o som dos sistemas de ventilação do laboratório preenchendo o ar. Viktor apertou os lábios por trás da máscara, seu olhar desviando por um breve instante antes de voltar a Jayce.

— Você é tão... previsível. — Viktor suspirou, mas não havia o mesmo desprezo em seu tom.

Num movimento rápido, o terceiro braço mecânico agarrou o pescoço de Jayce, levantando-o no ar. Jayce ofegou sentindo o aperto em seu pescoço. A força fria e impessoal era quase insuportável, mas ele não desviou o olhar. Seus olhos castanhos buscaram os de Viktor, mesmo enquanto o ar escapava de seus pulmões.

— Por que você faz isso? — Viktor perguntou, sua voz ecoando como um trovão metálico. — Por que continua tentando?

Jayce conseguiu um sorriso fraco, mesmo enquanto lutava contra o aperto.

— Porque... eu ainda te amo... — Ele sussurrou, as palavras mal audíveis, mas claras o suficiente para que Viktor as ouvisse.

O braço mecânico hesitou, o aperto afrouxando gradualmente até que Jayce caiu de joelhos no chão, tossindo e recuperando o fôlego. Viktor deu um passo para trás, sua silhueta dourada e fria iluminada pelas luzes pulsantes do laboratório.

— Você é um tolo, Jayce. — A voz de Viktor soou firme, mas havia algo ali, uma rachadura na armadura, tanto literal quanto metafórica.

Jayce se levantou com dificuldade, tentando se aproximar do arauto novamente, mas bastou que Viktor levantasse uma de suas mãos para que ele fosse jogado no chão por uma força invisível. Aparentemente, Viktor podia controlar a magia com muito mais precisão agora.

— Quando você entrou aqui, eu estava disposto a matá-lo. — o mais velho começou a dizer, caminhando ao seu redor. — Mas agora eu entendo. Nunca poderei me livrar de você. Você é a humanidade que me resta. Eu devo... levar você comigo. Você pode se juntar à gloriosa evolução Jayce, não há necessidade de usar a violência.

Viktor estendeu uma de suas mãos para ele. E por mais absurdo que aquilo fosse, Jayce chegou a considerar o convite. Afinal, por mais que se esforçasse muito para se enganar, lá no fundo ele sabia que só estava fazendo tudo aquilo pelo amor que ainda nutria pelo cientista.

Sim, a verdade é que Jayce só queria tomar as suas mãos e fugir com ele para qualquer lugar onde pudessem ficar à sós, onde pudessem ser parceiros novamente.

— Eu não posso, Viktor. — disse ele, com pesar, afastando as mãos do outro e levantando-se sozinho.

Jayce recuperou o seu martelo, e encarou o seu oponente com um olhar desafiador.

— Vamos terminar o que começamos, então. 



Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...