1. Spirit Fanfics >
  2. This strange feeling >
  3. Garrafa partida

História This strange feeling - Garrafa partida


Escrita por: laranjinhamec

Notas do Autor


Já sei, devo desculpas novamente pela demora.
Não queria escrever qualquer coisa só pra entregar o capítulo, sinto muitíssimo se os (as) aborreci.
Teve gente que deu desfav. na fic. Foi mal galera, da próxima vez vou tentar ser mais rápida
Obrigada de coração aos que ainda permanecem, leem e comentam tá? cês são demais!

Capítulo 13 - Garrafa partida


Hawkins – Indiana – 1983

(Steve)

Ao entrar na sala, vislumbrei por um segundo a cena por um segundo em que pisquei os olhos. Vi Jonathan parado ao lado do quadro-negro totalmente imóvel e lívido. Seu rosto ganhava uma cor arroxeada. Não sei bem se ele iria desmaiar, mas por impulso e, ignorando o fato de que agora todos sabiam da gente, segurei sua mão.

Não sei bem como momentos assim despertam essa coragem que não tínhamos e sabe-se lá de onde ela vem, mas estávamos lá, de mãos dadas, eu e ele.

Podia ouvir os cochichos, as risadas abafadas e os olhares de reprovação. Tentei passar por eles como quem passa por uma chuva de flechas.

- Ei, Jonathan, você está bem? - cochichei ao seu lado.

- Quem fez isso Steve? - ele disse com um fio de voz e com as mãos tremendo – quem fez isso vai ter que pagar! - seu tom era de um que eu nunca tinha ouvido ele falar antes, e gostaria de nunca mais ouvir.

A voz do Sr. Jenkins se sobrepôs ao burburinho dos alunos e aos poucos silenciou os cochichos.

- Quero todo mundo sentado imediatamente! Quero saber quem foi o responsável por esse ato de vandalismo! - vociferou ele.

Agnes Bay, uma aluna gorducha e baixa, conhecida por ser a fofoqueira da classe timidamente levantou a mão.

- Com licença senhor, eu creio que o culpado não vai se apresentar assim, de graça, não é? E, aliás, ele não é nenhum mentiroso. Quer dizer, olha as provas aí..

- CALADA! - gritou o professor.

Jenkins parecia cansado. Se apoiou na mesa e jogou os livros em cima com violência. Deu um olhar vago pela sala por um momento.

- Eu ensino há 35 anos em Hawkins. E nunca vi uma juventude tão inútil e perdida quanto essa. Vocês só pensam em destruir, não estão interessados em construir nada, duvido muito que algum faça a diferença no mundo. Vão chegar a uma idade e perceber que falharam, mas aí já vai ser tarde demais. Destruir o patrimônio da escola dessa forma...

 

Demorei um segundo pra processar que ele não estava preocupado conosco, mas simplesmente com a pichação no quadro.

-Mas senhor, na pichação diz que eles..

- Eu não estou interessado na vida íntima de ninguém, isso não é assunto para se discutir em sala de aula – cortou.

- Peraí, essa porcaria que fizeram nos desrespeitou! O mínimo que tem a gente deve fazer é descobrir quem é o responsável.

- Bem, isso eu concordo. Já que estão metidos nisso, eu sugiro falarmos com o diretor para discutirmos como podemos punir esse vândalo.

Se ainda tivemos que passar pelo constrangimento de ter que chamar o diretor para que ele soubesse do que tinham feito? Tivemos. Tive vontade de dar um tapa na cara daquele gordo hipócrita do Jenkins, que se importava mais com uma parede pixada do que com o que tinham feito com a gente. Ele fingiu não notar as risadas, os gritinhos de “E aí, casal de bixas?” e as humilhações que os outros estavam infringindo a gente.

O diretor Dolinsky chegou na sala de aula e soube do que aconteceu. Parecia absurdamente tranquilo com o fato das pichações, como se já esperasse aquilo. Nos chamou em sua sala.

- A questão aqui, jovens, é que se trata de vandalismo. Dano ao patrimônio da escola. No que diz respeito aos detalhes mais – fez um tom sarcástico – íntimos, isso não me interessa. Se não houve qualquer lesão física aos senhores, sugiro que tentem esquecer o caso para o bem do bom andamento do ano letivo.

- Será que não vê que a gente foi exposto pra escola toda sem a nossa permissão e ferindo nossa dignidade? Será que a gente precisa desenhar que nós fomos a vítima nessa situação? - eu estava fechando meus punhos em cima da mesa para tentar me controlar.

-Acho que não estão em muita posição para falar sobre dignidade. Essa.. conduta homossexual não é bem aceita pela sociedade, então eu acho que vocês deveriam pelo menos ser mais discretos em relação a isso. Não estou julgando ninguém, porém, há limites que devem ser respeitados.

 

Claro, ele não iria fazer nada em relação a isso. Porque eu ainda esperava que ele fosse se importar? Foi muita ingenuidade da minha parte. Mas antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, Jonathan agarrou sua mochila e deixou a sala do diretor batendo a porta com violência.

 

 

 

 

 

Não vejo Jonathan a uma semana.

 

Ele também não quis atender minhas ligações, todas atendidas por Will, que se desdobrava em inventar desculpas para que ele não pudesse atender as ligações. Até que eu deixei de ligar por pena dele e pelo meu estado de espírito.

Peguei o fone e pensei em ligar mais uma vez, mas acabei colocando de volta no gancho. Fiquei contemplando o telefone por alguns minutos, até que aquela ligação estranha da Nancy me voltou à memória.

Foi no último dia em que Jonathan havia estado aqui. Atendi o telefone e reconheci a respiração dela do outro lado da linha, porém não parecia nada com o tom de voz dela.

“ …. Por favor, termine com ele..”

“Nancy? Onde você está?”

Alguém começou a rir do outro lado da linha e eu ouvi gritinhos debochados, seguido por um grito agudo.

“NANCY? QUEM ESTÁ AÍ?”

E desligaram.

Eu não via Nancy desde o dia da pichação. Disseram que os pais dela tinham saído da cidade para fazer uma viagem ou coisa do tipo, então pensei que ela também estivesse com eles.

A ideia de que ela estivesse envolvida nisso começou a passar pela minha cabeça. Mas se ela realmente estivesse envolvida, deveria querer ver tudo de perto, não faria sentido ela se afastar, ou se ela estivesse viajado, teria feito tudo antes? Afinal, o que era aquela ligação? No dia, pensei que fosse algum trote dos babacas da escola, mas agora sabia que alguma coisa estava acontecendo.

No dia seguinte cheguei à escola e me sentei no banco do jardim sozinho. Desde o que aconteceu tenho evitado falar com as outras pessoas. Me isolei por completo porque eu queria evitá-las e porque não suportava as brincadeiras que ainda aconteciam vez por outra. Me sentia um lixo por ter que conviver com elas e principalmente com ódio de Jonathan por ter desaparecido e se afastado. Tudo era uma mentira, afinal. Ele não me amava, porque não conseguia assumir na frente das outras pessoas. No fim, ele sentia vergonha de quem era, era um covarde.

Mas eu ainda o amava. Sentia meu coração despedaçado. Eu não podia acreditar que tudo o que ele havia dito pra mim, tudo o que ele tinha desenhado naquele caderno não passava de mentiras. De que adiantava dizer que me amava se ele não tinha coragem? Ele apenas me iludiu. Antes dele, minha vida feliz, não me preocupava com nada. Cheguei a sentir saudades de quem eu era antes. Pelo menos eu tinha amigos, não eram verdadeiros, mas fingiam bem.

Nunca antes tive meu coração partido por alguém. Era uma sensação nova e angustiante. Me lembrei das garotas com quem eu costumava ficar, e quando perdia o interesse, simplesmente “dava um perdido” e partia pra outra. Era igual uma fase de video-game, acabou, partia pra próxima. Nunca pensei que elas tivessem sentimentos, e que eles pesassem tanto e que fizessem a gente se sentir o último dos seres humanos.

Tentei levar minha vida o melhor possível. Assistia as aulas, me sentava sozinho, ia embora, fazia as lições, voltava pra casa, ficava olhando pra minha janela, pro infinito, pro nada.

 

Isso é o melhor?

 

Coloquei a fita que ele gravou pra mim pra tocar, porque eu sou masoquista e autodestrutivo. Cada música que ele havia selecionado especialmente pra mim, e cada música era mais maravilhosa que a outra. Quando a última acabou, não aguentei, foda-se essa merda toda.

Saí de casa às cegas como um louco, eram 20:40 da noite, não liguei se ele estaria em casa ou não, já não me importava com nada. Roubei uma garrafa de qualquer coisa do meu pai e a bebi tropegamente. Já estava na metade quando eu cheguei em sua casa. Toquei a campainha e ninguém atendeu. Pude ver a luz do seu quarto acesa de longe, mas logo se apagou.

 

O peso do meu coração, da bebida, de todas as coisas que tinham acontecido de repente explodiram em meu peito e me deu uma enorme vontade de...

 

- EU SEI QUE VOCÊ ESTÁ AÍ, JONATHAN, EU QUERO FALAR COM VOCÊ - O grito saiu quase involuntariamente.

 

Silêncio

 

- SABE... VOCÊ É UM COVARDE, UM COVARDE MESMO.. POR QUE VOCÊ FEZ ISSO COMIGO? POR QUE? EU PENSEI QUE VOCÊ SENTISSE ALGUMA COISA POR MIM. EU... EU NÃO TENHO MAIS MEDO... - Comecei a chorar e as palavras entalavam na minha garganta. EU TE AMO, EU NÃO SEI MAIS VIVER SEM VOCÊ! SE AS PESSOAS NÃO PODEM ACEITAR A GENTE... QUE SE FODAM ELAS! QUE SE FODA TUDO.. EU TÔ PARADO, AQUI, EM FRENTE A SUA CASA.. DIZENDO QUE EU TE AMO... Por favor.... eu já não podia continuar gritando.

A garrafa entre meus dedos foi aos poucos deslizando entre eles, até deslizar por completo. Senti o impacto quando ela se chocou com o asfalto e se partiu em pedaços. Uma chuva fina começou a cair.

- E se eu quisesse salvar sua vida, seu grande bêbado imbecil?

Ele veio correndo de dentro da casa com um moletom enorme e folgado, saiu na chuva e me abraçou, um abraço mais estilo “estou pegando esse bêbado para que ele não caia”.

 

- Se eu te deixasse, você iria fazer a gente ir pra cadeia! Seu maluco!

 

Ele passou o moletom e o capuz dele ao meu redor.

 

- Honestamente, eu não me importo, respondi.

 

Seu hálito quente se misturou no meu, com gosto e cheiro de bebida. Desmaiei em seu ombro.


Notas Finais


Mais uma vez, desculpem pela demora :(


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...