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História Titanomaquia - XXXIV. Eu... segui-vos desde o quartel...


Escrita por: Eycharistisi

Notas do Autor


Oi aos novos favoritos! <3

Capítulo 35 - XXXIV. Eu... segui-vos desde o quartel...


— Eu vou esganar-te, criatura! — berrava Karenn, apertando o pescoço de Lithiel — Vou arrancar-te a pele e roer-te os ossos, sua…!

— Karenn, o que é que estás a fazer? — perguntei, arrastando-me para fora da cama com a rapidez que o meu corpo meio adormecido permitia.

Karenn olhou para mim por cima do ombro com os olhos verdes a faiscar.

— Estou a matá-la, não se vê logo?!

Lithiel estava meio zonza devido à brutalidade com que tinha sido arrancada do seu sono, mas aproveitou a breve distração da vampira para desenvencilhar as pernas da roupa da cama e assentar um pontapé vigoroso na barriga da agressora. Karenn dobrou-se com a dor do golpe, mas não soltou a garganta de Lithiel.

— Tu drogaste-me — rosnou Karenn — Esfregaste-me sonífero na cara para poderes seguir a Eduarda…!

— Qual é… o teu… problema? — arquejou Lithiel, lutando para respirar.

— Tu! Tu és o meu problema! Porque é que metes sempre o nariz onde não és chamada?!

— Olha quem fala…!

— Karenn, já chega! — exclamei.

Ela ignorou-me, por isso corri para juntar-me à luta de Lithiel para afastar as mãos da vampira do seu pescoço. Karenn, no entanto, era anormalmente forte para a constituição corporal que tinha e resistiu sem dificuldades. Regalias da sua raça…

— Solta-a, Karenn! — continuei a apelar — Estás a magoá-la!

— A ideia é essa!

— Para…!

Ouvi um estrondo algures atrás de nós, mas estava demasiado ocupada para ver do que se tratava. Segundos depois, senti uma mão agarrar o colarinho da minha camisa e puxar-me para trás com tanta força que caí de costas na cama de Karenn. Senti algo estalar no meu ombro direito e abafei um queixume enquanto me sentava e procurava a origem do puxão.

Nevra estava agachado ao lado da cama de Lithiel, mantendo a irmã deitada no chão com uma mão poisada no seu ombro. Karenn bufava e silvava como um animal selvagem enquanto lutava para se libertar.

— O que é que se passa aqui? — perguntou Nevra, num tom calmo que prenunciava sarilhos.

Lithiel sentou-se na cama com uma mão a proteger o pescoço marcado pelos dedos de Karenn. Respirava com dificuldade, mas conseguiu reunir ar suficiente para murmurar com uma voz enrouquecida:

— Ela atacou-me… do nada! Estava a dormir e… — foi interrompida por um pequeno ataque de tosse.

Karenn continuava a debater-se e a arreganhar os dentes. Nevra franziu ligeiramente o sobrolho.

— Há quanto tempo não te alimentas, Karenn?

A vampira respondeu com um silvo irado. Nevra segurou-lhe o rosto com a outra mão, amassando as suas bochechas enquanto imobilizava a sua cabeça.

— Olha para mim. Karenn, olha para mim — lentamente, a vampira começou a sossegar — Há quanto tempo não te alimentas?

A rapariga humedeceu os lábios.

— Não sei — coaxou com uma voz enrouquecida.

— Tu sabes que não podes ficar mais de três meses sem beber, não sabes? Porque é que deixaste a situação chegar a este ponto?

— Eu… esqueci-me…

— Não podes esquecer essas coisas, Karenn. Já viste o que fizeste à Lithiel? O que teria acontecido se eu não estivesse aqui para te segurar?

A pequena vampira engoliu em seco e não respondeu. Nevra soltou o seu rosto para lhe beliscar carinhosamente a ponta do nariz.

— Vamos encontrar alguém para te alimentar antes de partirmos, pode ser? Eu vou soltar-te e tu vais portar-te bem… combinado?

Karenn acenou hesitantemente com a cabeça e Nevra soltou-a lenta e cautelosamente. A vampira sentou-se, mas não fez qualquer gesto no sentido de se levantar.

— Estás bem? — perguntou-lhe o irmão.

— Sim…

— Posso ir-me embora e deixar-vos preparar para a viagem?

— Podes…

— Ótimo. Eu vou arranjar alguém para te alimentar no entretanto. Vem ter comigo quando estiveres pronta.

Karenn anuiu e Nevra sacudir afetuosamente o seu cabelo antes de sair do quarto. Nós ficámos em silêncio, tentando processar o que tinha acontecido. Lithiel foi a primeira a quebrar o silêncio, acusando:

— Tu não estás com sede. Tu só querias matar-me!

Karenn não responde de imediato.

— Acho que juntou-se a fome com a vontade de comer — murmurou — Eu não queria matar-me… Só queria ensinar-te uma lição. Mas parece que escolher o teu pescoço foi uma má ideia. A tua pulsação… — Karenn sacudiu a cabeça como se estivesse a afastar a memória — É melhor sair daqui…

— Eu pensei que… a Maana suprimia a vossa necessidade de sangue — murmurei enquanto via a vampira levantar-se com dificuldade.

— Suprime o suficiente para nos permitir controlá-la. Conseguimos aguentar até três meses sem beber sangue, mas mais do que isso… é perigoso para nós e para os que nos rodeiam — começou a trocar apressadamente de roupa — Nós ainda não terminámos a nossa conversa, Lithiel, mas vamos deixá-la para quando eu estiver mais estável. Até lá…

E quase correu para fora do quarto. Lithiel soltou um suspiro e saiu da cama, resmungando pragas contra Karenn. Eu permaneci sentada, recordando a expressão ensandecida da pequena vampira. Será que aconteceria o mesmo comigo se não consumisse cristais…?

— Eduarda? — chamou Lithiel, interrompendo a sua muda de roupa para me lançar um olhar curioso — Estás bem?

— Hum…? Sim, claro… Estou bem.

— Não pareces bem. Não dormiste o suficiente?

— Bem… não, nem por isso…

— Eu tenho poções para espantar o sono. Queres uma?

— Não, obrigada — recusei com um pequeno sorriso — Não preciso de tanto para me manter acordada. Caminhar irá resolver o problema.

Lithiel não parecia convencida, mas não insistiu. Eu levantei-me com um pequeno suspiro e preparei-me para vestir. Lithiel guiou-me durante o processo para garantir que usávamos peças de roupa iguais. Eu sabia que era inútil manter aquela fantochada, uma vez que o titã sabia como nos distinguir, mas não podia explicar isso ao resto do grupo sem me encrencar também, por isso, o melhor era mantê-la. Não iria enganar o titã, mas poderia enganar os nossos companheiros…

Descemos para o salão para tomar o pequeno-almoço, juntando-nos a Valkyon, Lee e Adonis. O elfo quase se engasgou no pão com mel que estava a comer quando abriu a boca para perguntar:

— O que foram aqueles gritos no vosso quarto? Acordei por vossa causa!

— A Karenn perdeu o juízo e atacou-me enquanto dormia — revelou Lithiel, roubando a outra metade do pão de Lee — Tenho as marcas dos dedos dela no pescoço, olha só!

— Ela não acabou com a tua raça? Oh, que pena — lamentou o elfo sem sequer tentar disfarçar o seu sorriso rasgado.

Lithiel lançou-lhe um olhar fulminante e atirou o pão à cara de Lee, besuntando-o com o mel quente. Ele abriu a boca para protestar, mas um grito horrorizado interrompeu-o:

— NÃO!!

Ezarel apareceu a correr e atirou-se a Lee, segurando o seu rosto entre as mãos enquanto mirava o estrago provocado pelo mel.

— O que fizeste? — Ezarel rosnou para a minha dupla — O que fizeste?! O mel… Como te atreves a desperdiçar tanto mel?!

— Ah, para com as lamúrias, eu não desperdicei o mel — defendeu-se Lithiel — Podes perfeitamente lambê-lo da cara dele…

Lee abriu um sorriso extasiado e afastou rapidamente o curto cabelo azul da face manchada de mel, oferecendo-a a Ezarel.

— Esteja à vontade, Diretorauauauau! — começou o elfo a queixar-se quando Ezarel lhe torceu uma das longas orelhas.

— Não te armes em engraçadinho comigo…

— Chrome! — exclamou subitamente Adonis, desviando as atenções da discussão entre os dois elfos. Seguimos o olhar arregalado do centauro e vimos Nevra aproximar-se da nossa mesa, vindo do exterior da estalagem… com um Chrome muito infeliz debaixo do braço.

— O que é que o teu cachorro está a fazer aqui, Nevra? — perguntou Ezarel, soltando a orelha de Lee.

— É isso que eu pretendo descobrir — resmoneou o vampiro, puxando violentamente uma cadeira e empurrando o rapazinho para ela — Começa a falar, Chrome!

A mesa mergulhou em silêncio enquanto esperávamos uma resposta. O rapazinho baixou a cabeça com as orelhas murchas.

— Eu… segui-vos desde o quartel…

— Até aí já tinha percebido! — exclamou Nevra, impaciente — Quero é saber porquê!

Chrome remexeu-se na cadeira.

— Eu ouvi a Karenn, o Lee e o Adonis conversar sobre uma missão secreta…

— Os teus recrutas são muito discretos, não haja dúvida — desdenhou Ezarel.

Nevra lançou-lhe um olhar irritado, mas não respondeu.

— Continua, Chrome. Ouviste sobre a missão e… quiseste participar, foi isso?

— Não… exatamente… Eu fiquei preocupado, porque…

— Ele está a mentir — anunciou Lithiel.

Chrome dirigiu um olhar arregalado à doppelganger, com as bochechas coloridas de vermelho, mas fiquei na dúvida se seria por vergonha ou por raiva.

— Diz a verdade, Chrome — pediu Nevra.

— Fiquei preocupado porque vocês convidaram pessoas sem qualquer tipo de treino para uma missão importante — disse o rapaz sem parar de fitar a minha dupla — Achei que eles iriam estragar tudo, ou pior…

— Preocupação? Não terá sido inveja? — alvitrou Lithiel — Ficaste chateado porque uma humana e um aprendiz de bibliotecário foram convocados para uma missão secreta e tu não?

— N-não!

— Mentes.

— Eu não estou a mentir!

— É inútil discutir com a Lithiel, Chrome — lembrou Nevra — Diz a verdade, simplesmente…

Chrome lançou um olhar furioso a Lithiel, mas endireitou os ombros ao dizer:

— Sim, fiquei chateado! E não foi só por duas pessoas sem treino terem sido chamadas a participar na missão! Fiquei chateado porque tu — apontou um dedo à cara de Nevra — chamaste-me para investigar o roubo das amostras, mas descartaste-me na hora de seguir as pistas! Não é justo!

— Do que é que ele está a falar? — perguntei num murmúrio a Lithiel.

— O Nevra disse que esta missão era para seguir uma pista do roubo das amostras, para esconder o nosso verdadeiro propósito.

— Verdadeiro propósito? — repetiu Chrome, espetando as orelhas — Qual é o verdadeiro propósito?

Nevra soltou um suspiro cansado, apertando a cana do nariz entre o indicador e o polegar.

— O que é que eu faço convosco…?

— Envia-o de volta — exigiu Ezarel — Nós já temos excursionistas suficientes, não precisamos de mais um!

— O Chrome pode ajudar-nos, na verdade — disse Karenn, surgindo atrás do irmão — Tu estavas preocupado porque não tínhamos ninguém para vigiar a nossa retaguarda, não era, Nevra? O Chrome pode fazê-lo.

— Não, não, não — negou Ezarel — Má ideia. Nevra, não.

— O Chrome é bastante hábil na leitura de rastos — continuou a vampira — Tem afinidade com a terra, consegue farejar o perigo a quilómetros de distância…

— Pudera, é um cão! — atirou Ezarel.

— Eu não sou um cão! — gritou o rapazinho, esmurrando a mesa — Sou um lobo! Lo-bo!

— Já chega!

O berro do Comandante da Obsidiana pôs os zaragateiros em sentido e de bico calado. Valkyon fixou-os um a um para se certificar de que permaneceriam quietos antes de encarar o Mestre da Sombra.

— Nevra — chamou num tom mais sereno — Tu és o líder da missão e o Mestre do Chrome. Cabe-te a ti decidir o que fazer com ele.

— Ele fica — decidiu o vampiro — A Karenn tem razão…

— É má ideia — repetiu Ezarel.

— Seria pior enviá-lo de volta. O Chrome sabe demasiado e, além disso… — baixou o tom de voz — Por esta altura, o titã já deve saber que ele está connosco. Se o mandarmos voltar para trás, há o risco de o titã o apanhar e usar como refém. Não podemos permitir isso.

— Vocês estão atrás do titã? — admirou-se Chrome.

— Nós vamos explicar-te tudo durante a viagem — disse o vampiro antes de se virar para a irmã — Karenn, faz o que tens a fazer. Não demores, precisamos de nos meter a caminho.

A rapariga acenou e pegou no pulso de Chrome, arrastando-o para as escadas que levavam aos quartos. Valkyon seguiu-os com o olhar, perguntando:

— Como é que o encontraste?

— Foi a Karenn quem o encontrou — revelou Nevra, sentando-se na cadeira onde estivera Chrome — Ela cheirou-o.

— Não sabia que o olfato dela era mais apurado que o teu…

— Em situações normais, não é, mas ela está sedenta. Todos os seus sentidos estão alerta. Além disso, ela já se alimentou do Chrome antes, por isso conhece o cheiro do sangue dele melhor do que eu — Nevra esticou-se para pegar numa laranja — Lee, limpa a cara, parece que estás a derreter.

O elfo olhou para Ezarel.

— Diretor, tem a certeza que não quer lamber…?

Lee calou-se e ergueu as mãos em rendição quando o outro elfo lhe apontou a faca com que estava a barrar mel num pão. Ezarel abriu um dos seus sorrisos perigosos.

— Posso tirar-te o mel da cara com esta faca… Aproveito e “aparo” as maçãs do teu rosto… Queres?

Lee negou veemente com a cabeça e afastou-se cautelosamente do Diretor da Absinto.

Terminámos o nosso pequeno-almoço sem mais sobressaltos e começamos a preparar-nos para seguir viagem. Eu subi as escadas para ir buscar a minha mochila, mas estaquei ao entrar no quarto. Karenn e Chrome separaram-se com um pulo, mas a roupa amarrotada e os rostos corados entregavam-nos completamente. Evitando um sorriso divertido, tapei os meus próprios olhos.

— Eu não vi nada. Vim ao meu quarto buscar a minha mochila e não estava ninguém aqui. Não sei onde estão a Karenn e o Chrome, nem o que estão a fazer. Talvez já estejam lá fora à nossa espera…

Senti dois pequenos vultos apressados passar por mim e ouvi os seus passos afastar-se pelo corredor. Quando os ouvi descer as escadas, baixei as mãos… e saltei de susto quando um novo par de mãos me cobriu os olhos. Teria gritado se não tivesse sentido aquela troca de calor que já me era conhecida.

— O que é que tu queres, Leiftan?

Ele soltou um risinho pelo nariz a pouca distância da minha orelha e a minha pele arrepiou-se.

— Ouvi a tua voz e vim dar-te os bons dias.

— Não esperava que estivesses aqui — admiti — Pensei que ias sair à nossa frente, como ontem.

— Eu irei à vossa frente, mas não me afastarei muito do grupo desta vez — senti o seu peito encostar-se às minhas costas, empurrando-me para dentro do quarto — Preciso de me manter perto para o caso de o titã atacar.

— Achas que ele fará isso?

Ouvi a porta do quarto bater atrás de nós.

— Não sei… Ele parece querer provar-te a sua boa vontade e eu gosto de pensar que isso o impedirá de atacar, mas… os titãs são imprevisíveis.

— Tem piada dizeres isso quando ambos temos ligações a eles…

— É justamente essa a questão. Sei como funciona a cabeça de um titã.

Agarrei os pulsos do investigador e puxei as suas mãos dos meus olhos. Virei-me para o encarar.

— Sabes mesmo?

Leiftan inclinou a cabeça ligeiramente para o lado enquanto dirigia uma mão para o meu rosto, segurando delicadamente o meu queixo.

— Porque é que estamos a falar disto, Eduarda?

Virei-lhe as costas e afastei-me alguns passos.

— Há algo sobre os titãs e a Titanomaquia… que não bate certo.

— O que queres dizer?

— A Lithiel contou-me… que os titãs já estavam aqui muito antes da guerra e que eram os senhores de Eldarya.

— E tu acreditaste?

— A Lithiel não tem razões para me mentir.

— A Lithiel não precisa de razões para mentir. É a sua natureza.

— Isso quer dizer o quê? — perguntei virando-me para o enfrentar — Quer dizer que a nossa natureza define inexoravelmente as pessoas que somos? A Lithiel é uma doppelganger, por isso é mentirosa? A Karenn é uma vampira, por isso é uma assassina? Eu sou uma titânide, por isso sou um monstro?!

— Não foi isso que eu quis dizer…

— O que quiseste dizer, então?!

— A Lithiel nem sempre consegue controlar a sua tendência para mentir. Ela não é mentirosa, mas, às vezes… acontece…

— Ela nunca me mentiu quando o assunto era sério e não acho que iria começar agora!

— Vais acreditar no que ela disse, então?

Eu inclinei a cabeça ligeiramente para o lado.

— A Lithiel disse-me uma coisa muito interessante ontem… sobre como é possível mentir sem querer apenas porque acreditamos que o que estamos a dizer é verdade. Eu sou um ótimo exemplo disso, aliás. Já disse que era humana, já disse que era meio faery e, afinal… não sou nenhuma das coisas. Pode acontecer o mesmo com a Lithiel! Ela acredita naquilo que disse, por isso, não posso acusá-la de mentir… mas não vou ignorar a hipótese de a informação ser falsa — inclinei a cabeça ligeiramente para o lado — Embora… isso seja muito improvável! Se fosse falsa, não haveria necessidade de a esconder, não é verdade?

Leiftan abriu um pequeno sorriso.

— És demasiado esperta para o teu próprio bem, Eduarda…

— Ah! — exclamei, erguendo um dedo no ar — Será que acabei de te ouvir dizer que acertei em cheio?

O sorriso do investigador alargou-se. Aproximou-se até quase encostar os nossos corpos e ergueu-me o queixo até os nossos olhos se encontrarem.

— A tua vontade de descobrir a verdade é admirável, mas… — o sorriso desfez-se lentamente — é perigoso. A verdade sobre a Titanomaquia não trará nada de bom. Não insistas nesse assunto, Eduarda. Por favor.

— O que aconteceu de tão terrível para ser preciso esconder a verdade de toda a gente? — perguntei num murmúrio — O que fizeram os titãs? Ou foram os faeries? Quem é que…?

Leiftan silenciou-me com os lábios, espetando-me um beijo enquanto a sua mão na minha nuca me impedia de afastar. Poisei as mãos no seu peito, pronta para empurrá-lo, mas ele parou antes de ter a oportunidade. Não se afastou, nem me soltou, sussurrando a centímetros da minha boca:

— Não insistas. Estou a falar a sério.

— Mas…

Ele voltou a beijar-me e eu empurrei-o com força. Descolei as nossas bocas, mas o investigador enrolou um braço na minha cintura para me segurar contra ele.

— Para de me beijar! — ralhei.

— Para de insistir — volveu ele — Eu prometi pedir autorização antes de te beijar, mas se voltares a puxar esse assunto, enfio-te a língua na boca!

— O quê?! — guinchei, corando, enquanto um grito enojado vinha do corredor.

— Ai, gostaria tanto de ser surdo agora! — queixava-se a voz de Ezarel — Ó Mãe, porque é que deste ouvidos tão apurados aos teus filhos?! Ó Pai, acode-me e sopra as palavras destes depravados para longe de mim! — a porta do quarto estremeceu com a força de um pontapé — Porcos!

Eu e Leiftan trocámos um olhar arregalado. Ele tentou conter-se, mas acabou por soltar uma pequena gargalhada.

— Parece que o nosso pequeno arranjo deixou de ser segredo… O Nevra vai ficar possesso!

— Porquê? — perguntei, confusa.

Leiftan ergueu uma sobrancelha muito ligeiramente.

— Nunca reparaste?

— No quê?

— Ele está muitíssimo interessado em ti!

— Está interessado nas minhas veias — corrigi.

— Ele quer um pouco mais do que as tuas veias…

— Porque é um mulherengo que se atira a qualquer rabo de saia que passa por ele!

— Não é só isso — negou Leiftan — Ele está fascinado contigo. Não tenho a certeza se é um fascínio romântico, mas…

— Não importa — interrompi-o, soltando-me dos seus braços e encaminhando-me para a minha mochila — Não importa, não quero saber. Eu não estou interessada em envolvimentos românticos. Podemos dizer aos outros que o nosso “pequeno arranjo” é um namoro, mas vamos “terminar a relação” assim que eu tiver Maana suficiente para reconstruir a minha casca humana. Entendido?

— Perfeitamente. Mas tenho uma questão… até onde estás disposta a ir para fingir que somos namorados?

Virei-me e deparei-me com um sorriso matreiro escondido atrás de uma mão. Estendi a minha mão para a pequena adaga guardada na minha mochila e Leiftan apressou o passo para fora do quarto, rindo baixinho.

Engraçadinho…



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