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História Tomorrow - Aceitação


Escrita por: Diabrete

Notas do Autor


Olá, trago-lhes hoje mais um capítulo e... SIM, É ISSO MESMO QUE VOCÊS LERAM, 5000 E TANTAS PALAVRAS BABIES MUAHAHAHA *surtando* ~peguem um banquinho -q

Capítulo 10 - Aceitação


 JungKook acordou com a claridade da luz que teimava em passar pelo tecido da cortina, ele lembrou da noite passada e que Yoongi e ele dormiram na mesma cama, ele virou-se esperançoso, constatando que o ruivo não estava lá, mas seu perfume inebriante ainda tomava conta do cômodo.

 Encarava com olhar solitário o espaço ao seu lado. Sentia-se inexplicavelmente "vazio", e sentia-se também estranho por sentir falta do calor que haviam compartilhado. Julgava-se bobo por estar pensando no mais velho daquela forma, sem saber o que fazer, despejava-se de um lado para o outro na cama, até que decidiu finalmente se levantar.

***

 Era manhã e Jimin caminhava em passos lentos e desanimados em direção à escola. Ele estava cansado da noite passada, na qual havia tido uma discussão com seu pai.

 O homem havia lhe dito que sabia onde o garoto havia tentado ir, e além disso, falou do "garoto que lhe acompanhava", certamente havia usado aquilo como uma ameaça à segurança de Taehyung, Jimin estava com medo.

 Porém, após repreendê-lo arduamente, Sr. Park o mandou seguir com sua vida como se nada tivesse acontecido, fazendo questão de ressaltar o fato de seu amado irmão mais novo estar morto. O homem disse que seria obrigado a tomar então alguma atitude caso Jimin voltasse a tentar procurar o mais novo, e ameaçou atrocidades caso o garoto procurasse a delegacia novamente.

 Mesmo com a raiva o dominando, ele aceitou a proposta de seu pai, se havia perdido Jungkook, ele não deixaria que nada acontecesse com seu melhor amigo também. Ele porém não se daria por vencido apenas com a palavra daquele homem, não aceitaria o fato de Jungkook realmente estar morto até encontrá-lo, nem que fosse apenas seu corpo.

 Porém estava inquieto enquanto adentrava na escola pelo portão principal. Ele estava certo de que estava sendo vigiado de algum lugar à mando de seu pai, e apenas por não saber como, ele era obrigado a entrar naquela escola, era obrigado a ignorar o fato do único membro de a sua família que ele realmente amava correr perigo. Tinha que ignorar tudo e seguir "normalmente" até a escola.

 Adentrou pisando no gramado já úmido por conta daquele dia chuvoso e nublado. Apressou-se para logo chegar aos corredores daquele local, atravessava aquele gramado verde e descoberto encolhendo-se em seu casaco, o dia estava frio demais, e aquele agasalho não lhe protegia devidamente. Mas também apressava-se não apenas pelo frio e desconforto, mas também à procura da única pessoa que lhe interessava naquele local, com quem ele precisava urgentemente trocar palavras.

 A cena que presenciou era totalmente desagradável, Taehyung estava ali mas não estava sozinho. Jimin odiava ver aquilo, um aperto em seu coração lhe tomava toda vez que era forçadamente relembrado de que ele não era apenas seu. E dessa vez fora relembrado desse fato ao ver o garoto de pé apoiado com as costas na parede enquanto dois garotos encontravam-se parados à sua volta. Eles conversavam animadamente, o loiro, que chamava atenção por onde quer que fosse, por hora sussurrava nos ouvidos dos garotos, hora mostrava seu sorriso retangular junto com sua risada rouca.

  Taehyung sabia da atenção que atraía, na verdade gostava de ter todos à sua volta, ser tratado assim aumentava seu ego, e saber que estava provocando Jimin também. O menor aproximava-se lentamente dos três garotos, sem nem sequer atrair a atenção de algum dele, ele não estava confiante, sentia-se feliz e agradecido por ter o privilégio de ser o melhor amigo de Tae, sabendo que poderia chamá-lo ou interrompê-lo a qualquer momento, podia passar cada momento perto dele, e mesmo que não passassem de amigos, também tinham seus momentos e suas noites, noites em que Jimin lhe dava todo o seu amor, disfarçado de prazer.

 E conforme ele se aproximava, tudo apenas tornava-se pior. Por que Taehyung ria daquela forma gostosa e escandalosa sempre que estava com outros garotos, e nunca com Jimin? Por que agora aquele garoto tocava sua cintura, segurava sua mão disfarçadamente, ele podia até mesmo ver uma maldita mão pousar em sua coxa... Por quê? Ele realmente não gostava daquilo, mas tentava aproximar-se mantendo a calma.

 – Tae... – Jimin chamou em tom receoso, recebendo quase que instantaneamente a atenção do mais novo – Preciso falar com você. 

 – Jimin? Ah, eu estou meio ocupado agora, pode ser depois, não é? – O loiro o observou com um sorriso travesso e aproximou-se lentamente de um dos garotos, sussurrou novamente algo em seu ouvido, fazendo-o rir. E fazendo Jimin perder a paciência.

 – Não, não pode. – Falou seco e segurou a mão do garoto, puxando-o para longe dali.

 – Ei Jimin! Jimin... Park Jimin, me solta! – Taehyung gritou fazendo-o parar, ele sabia que o moreno odiava ser chamado pelo seu nome completo. Jimin então largou sua mão e virou-se, observando de modo sério o mais novo, que estremeceu ao encontrar seu olhar – O que deu em você? Não me diga que está com ciú...

 – Fica quieto pra variar e me escuta. – Ordenou e o loiro se calou, observando-o surpreso – Ontem depois que fui pra minha casa, meu pai veio me confrontar... Aquele homem contou à ele que fomos à delegacia, ele me ameaçou... E a você também.

 – ...E o que ele vai fazer?

 – Nada, contanto que nós não nos envolvamos nisso novamente, mas caso a gente desobedeça... Vou ter que "arcar com as consequências". Ele quer que eu desista de procurar o Jungkook, eu não posso Tae... Quero encontrar meu irmão, ele é a coisa mais importante pra mim... – O loiro olhou para baixo pensando nas últimas palavras de Jimin.

 O mais velho percebeu de imediato a reação do garoto e, por um momento, sentiu-se com um pingo de felicidade, mesmo que ainda preocupado. Taehyung estava ali, se importando com a sua atenção.

 O mais novo, ainda cabisbaixo, desviou sua cabeça para o lado, na tentativa de afastar aqueles pensamentos. Para ele, Jimin devia ser apenas um amigo, só isso e mais nada. Ele gostava de brincar com os sentimentos do mais velho, mas segundo ele, era impossível que os dois "tivessem algo a mais".

 – Ei... Tae, aconteceu alguma coisa? – Park colocou a mão em seu rosto e o puxou de leve, fazendo seus olhares se tornarem perfeitamente alinhados.

 – Jimin... Não, não é nada... – Segurou com delicadeza o pulso do mais velho e o afastou de seu rosto – Você que não parece bem, Jimin, o que acha de sairmos pra descontrair um pouco?

 – Como assim?! Não podemos simplesmente sair enquanto Jungkook está...

 – Shh... – Taehyung colocou um dedo sobre sua boca – Nós vamos sair no final da aula sim, e ponto final... Você não disse que não podemos fazer nada?

 – Mas... Ah, você tem toda razão, mesmo que eu quisesse não poderia fazer nada agora, mas eu não vou desistir de JungKook, você vai me ajudar a achar um meio de encontrá-lo, ok? – O silêncio se fez presente entre os dois, eles se entreolharam e acabaram quebrando o contato visual.

 O ruivo não gostava nada daquilo, daquele horrível silêncio constrangedor, então decidiu puxar o rosto do mais velho, mantendo o diretamente o contato visual, enquanto aproximava o até que seus lábios se encontraram. Pressionou seus lábios contra os do outro, que permaneceu parado sem reação, apenas abrindo a boca para dar passagem à sua língua, Taehyung era realmente imprevisível.

 – Mal posso esperar para o final da aula... – Com um sorriso, murmurou ao mais velho após separar os lábios. Taehyung riu e saiu e rapidamente saiu correndo para a sala de aula, deixando Park Jimin confuso, mas acima de tudo, loucamente apaixonado.

***

 Yoongi e Namjoon adentravam juntos na casa, totalmente acabados, hoje fora um dos piores dias para a máfia de Park, digamos que algumas negociações não deram muito bem, e duas máfias distintas acabaram numa discussão pouco pacífica...

 – Yoongi, eu preciso falar com você. – Sério, o loiro falou assim que entraram.

 – Eu não tenho nada para falar, na posição em que eu estava era impossível te dar reforço!

 – Não interessa! – Namjoon gritou e o ruivo gelou – Você sabe como é difícil ter que praticamente te levar nas costas apenas porque você é um total inútil?! Eu derrubei 7 homens sozinho porque você não podia invadir uma casa!

 – Tinham crianças lá! Namjoon, você...

 – E desde quando você se importa? Hein? Me diga Yoongi, desde quando infâncias perdidas são relevantes para você? E não me venha com essa de "passado", passado é passado... – Disse normalizando seu tom de voz, mas agora atacando Yoongi da forma mais brutal, do modo que só ele conseguia – Logo logo elas se esquecerão do que viram lá, e vão seguir como pessoas normais, diferente de você.

 – Cala a porra da sua boca...

 – Você está me mandando fazer o quê?!

 – Estou mandando se calar, seu desgraçado, filho da... – Nesse momento, foi interrompido com Namjoon desferindo um tapa forte no lado direto de seu rosto.

 – Eu não estou com saco pra ouvir isso logo de você, agora vê se fica calminho ou não vai ser só um tapa que você vai levar.

 Yoongi levou uma mão à área na qual recebeu a agressão, lançando um olhar raivoso e indignado ao parceiro. Sem dizer mais nada o rapaz de cabelos rubros andou até o sofá, onde pegou sua mochila e dirigiu-se até a porta, passando diretamente por Namjoon, que segurou seu braço antes que saísse. 

 – Aonde você vai? – Perguntou em tom autoritário.

 – Me larga.

 O mais velho hesitou em soltá-lo, porém Yoongi puxou com força seu próprio braço, deixando a casa em silêncio. Ele ficou mentalmente abalado com as palavras e depois com o tapa que recebeu daquele homem, Namjoon sabia como te enlouquecer, e de uma maneira ruim. Ele já havia perdido a paciência, e agora fugiria, fugiria daquela realidade para o seu único refúgio no mundo: O único lugar onde podia ter paz.

 A caminhada até aquela casa era grande, e a essa hora, Hoseok ainda estava trabalhando, sorte sua que aquele garoto estava lá. Aquele garoto tão estranho, aquele que conseguia lhe confundir em segundos, que brincava com a sua cabeça sem a menor dificuldade, pode-se dizer que Yoongi tinha medo do estrago que aquele jovem podia causar em sua mente. Mesmo assim, recusava-se a evitá-lo.

 Depois de caminhar imerso em seus próprios pensamentos, conseguiu deixar de lado a discussão que teve com o parceiro, tornando-se gradativamente mais calmo até finalmente chegar à casa. Bateu na porta, mas não recebeu nenhuma resposta, então apenas abriu-a e entrou.

 Dirigiu-se ao quarto de hóspedes e encontrou o que esperava, deitado na cama e olhando para cima, um Jeon com olhar distante, tão perdido em devaneio que nem deve ter percebido a aproximação do mais velho.

 – Jeo Jun... – Chamou, surpreendendo-se quando, de imediato, o garoto saiu de seu transe, encarando-o surpreso.

 – Hyung! – Jungkook se levantou e correu em direção ao mais velho, que estava parado na porta.

 E então teve novamente a sensação da noite passada, braços que envolveram seu corpo, incluindo seus dois braços de modo acolhedor, mais uma vez era aquele toque doce do garoto, aquele que lhe tirava de si. O mais novo passava necessidade e carinho, como se estivesse há anos na espera daquele momento, acolhia-o em seus braços como se não quisesse largar nunca, apertando ainda mais aquele abraço. Yoongi por sua vez, ficou estático, ele não sabia o que fazer, nem qual reação deveria tomar, apenas não hesitou, deixou que o garoto o abraçasse com todo aquele carinho, como nunca fora abraçado antes.

 – Tão quente, hyung... – O moreno murmurou e, lentamente, saiu do abraço, soltando o mais velho, que ficou novamente sem reação com aquela frase.

 – Onde está Hoseok? Você estava sozinho aqui? – Yoongi perguntou tentando disfarçar sua inquietação.

 – Ele foi trabalhar... E eu queria pedir uma coisa... – Falou enquanto se sentava na cama.

 – O que é?

 – Bem, com todo esse tempo que estive passando sozinho e ocupado apenas com meus próprios pensamentos e o tédio... – Deu uma pausa e olhou para baixo – Sobre a minha mãe, você... m-mata as pessoas, não é? Você deve saber algo sobre as condições da morte dela, e o motivo...

 – Eu não sei de nada. – Respondeu automaticamente.

 – Mas você...

 – Seu pai fez isso sozinho, ele não envolveu nenhum de "nós". Apenas soubemos do acontecido depois, desculpe.

 Jeon achou estranho, como seu olhar tornou-se tão frio apenas quando entraram naquele assunto, e como sua fala havia se tornado tão coordenada, como se a resposta já estivesse pronta, esperando pela pergunta, concluiu que aquilo deveria ser normal... pelo "meio" em que vivia no "trabalho".

 – Acredito em você. – Afirmou convicto, causando um desconforto no mais velho – Mas eu continuo precisando de respostas, tanto sobre a minha mãe quanto a... a do meu irmão... E então estive pensando, e me veio uma lembrança. Eu devia ser pequeno na época, mas me recordo da imagem dela sentada na cama, com as pernas encolhidas escrevendo numa folha... Eu estava sentado no chão, observava-a de baixo e as vezes podia vê-la olhando para mim e sorrindo, aquele sorriso me passava aflição...

 – Isso é realmente uma lembrança dolorosa, mas o que você queria me pedir?

 – Calma, estou falando... Depois daquilo eu só me lembro dela dobrar a folha e colocá-la num envelope azul, depois ela segurando minha mão... Nós andávamos pelo bairro, eu saltitava muito, sempre gostei muito das poucas vezes em que saía com ela – Deu uma pausa e sorriu enquanto encarava o chão – Porém nesse dia... Ela estava diferente, suas mãos suavam e em seu olhar havia uma expressão nervosa, as vezes podia ouvir-lhe dizer coisas em tom baixo, até hoje não sei se falava para mim ou para si mesma... Enfim, nós acabamos por chegar numa construção grande, ela falou pra esperar na parte de fora e gritar se qualquer coisa acontecer. E até hoje eu lembro, alguns homens entrando saindo logo depois, segurando minha mãe aos berros pelos braços, ela chorava muito também, e então eu gritei... Eu nunca consegui perceber o que estava acontecendo, mas agora eu entendo perfeitamente... – O mais novo cerrou os punhos, apertando com força o pano da bermuda.

 Yoongi continuava sem reação, às vezes esquecia-se de que Jungkook não era apenas um adolescente comum, ele nasceu e viveu naquele meio de pessoas ruins, mesmo que não soubesse. Não era mimado, e sim um garoto que não cresceu em circunstâncias normais. Sua infância fora demasiadamente conturbada, e o mais velho conhecia bem isso.

 – Eu não quero que sinta pena de mim, eu só quero que me ajuda a descobrir o que estava escrito lá, se aqueles homens a retiraram à força, então o envelope deve ter ficado lá.

 – Envelope? Então era uma carta? – Nesse momento o mais novo levantou a cabeça para encarar o maior – Jeon, você sabe o que era aquele lugar?

 – ...Carta... Carta... Correio?!

 – Ei, no que você está pensando? Se acha que vou lhe deixar sair daqui e te levar ao correio em busca de um papel de anos atrás que pode nem existir, você está enganado...

 – Mas hyung! É a única pista que tenho pra obter respostas, eu preciso!

 – Não! Eu não me dei ao trabalho de poupar sua vida pra você se arriscar passeando por aí...

 – Mas... Se você fizesse idéia do meu sofrimento, você iria entender... – Com olhar vazio, levantou-se e começou a andar para fora quarto, passando diretamente pelo hyung.

 Yoongi sabia o que o garoto estava fazendo, jogando sujo para tentar comovê-lo, mas era Min Yoongi, "coração de pedra", não se comoveria tão fácil assim...

***

 "Idiota"

 Era o que o ruivo falava para si mesmo enquanto, na companhia do jovem moreno, cruzava a calçada.

 "Estúpido"

 Xingava-se mentalmente por ter cedido aos pedidos do garoto tão facilmente apenas em alguns minutos nos quais fora ignorado por birra do mesmo.

 "Cãozinho de guarda de Jeon JungKook..."

 E era como se sentia conforme andava ao lado dele, chutando com todo o seu descontentamento algumas pedrinhas que encontravam seus pés.

 – Pare de focar no chão, você não disse que ia me proteger? – O mais novo sorria de um modo que apenas Yoongi sabia o quanto era irritante e provocativo.

 O mais velho riu em deboche das palavras do garoto, sem olhar em seus olhos, passou o braço por cima de seus ombros, cobertos pelo capuz do casaco azul marinho, puxando-o e praticamente obrigando o garoto a aproximar seu corpo. Jeon corou com aquela atitude, mas sabia que era um modo que seu hyung tinha para mostrar que seria capaz de zelar por sua segurança.

 – Chegamos... Abaixe a cabeça. – O ruivo ordenou e Jungkook o fez, ele observou atentamente todo o local, era como se fosse uma praça, haviam alguns bancos por volta de uma área plana com gramado verde, tudo era rodeado por várias árvores, e também havia algum comércio em volta. No centro de tudo estava uma construção antiga de caráter histórico, porém bem conservado, era o correio – Tudo bem, pode entrar. Vou ficar do lado de fora, nada vai te acontecer lá dentro... Enquanto eu estiver aqui, entendeu? – Perguntou sério olhando nos olhos do garoto que fez que sim timidamente com a cabeça – Ótimo, não demore...

 O mais novo então correu e adentrou no local. Lá dentro era espaçoso, havia uma balcão com duas atendentes, atrás delas havia uma grande estante de ferro, a qual ocupava toda a parede, com muitas divisórias cheias de papéis. Dirigiu-se até uma das atendentes, ela aparentava ser jovem e estava entretida com seu celular, o local estava vazio, e ao perceber o garoto que acabara de entrar, bloqueou o aparelho, deixando-o de lado, e arrumou sua postura, um pouco desajeitada.

 – Boa tarde, eu preciso recuperar uma carta que não foi enviada, é muito importante.

 – Tudo bem, nós guardamos tudo o que não pôde ser enviado naquela sala... – Ela apontou para uma porta de madeira na parede ao lado do balcão – Eu posso ir pegar pra você a carta, qual é o seu nome? – A garota observava-o esperando uma resposta, seus cabelos negros estavam presos em um coque frouxo, deixando soltos alguns fios.

 – É... É Jeon Jungkook, mas a carta não está no meu nome...

 – Ah, se é assim, me desculpe, mas não posso lhe entregar nada que não seja seu, é a política daqui, sinto muito mes...

 – Não, por favor, eu preciso dessa carta! É da... Minha mãe, Jeon... Jeon Seo Hee... – O garoto olha para baixo ao pronunciar o nome da falecida mãe.

 – Sua mãe? Ok, venha acompanhado dela que eu vejo o que posso fazer, tudo bem?

 – Não... – Levantou a cabeça e olhou para a atendente – Minha mãe não pode me acompanhar, porque ela... ela morreu.

 Surpresa, a garota o observou e, um pouco sem graça, olhou para baixo. Mordeu o lábio inferior e, sem dizer mais nada, abriu uma gaveta e retirou de lá uma chave. JungKook observou confuso enquanto a menina se levantava e dava a volta no balcão.

 – Hm... Olha, eu vou abrir pra você, mas só porque você não tem cara de ladrão de cartas... Me desculpe, sou novata aqui, apenas não conte para o meu chefe. – Ela riu e abriu a porta, entrando logo em seguida. JungKook sorriu, contente como uma criança, e seguiu a garota para dentro da sala.

 Passaram-se alguns longos minutos, eles procuraram nos arquivos de letra "J", e a cada envelope azul que o mais novo rasgava, uma nova decepção... E no final, uma pilha de papéis jogados de lado, mas nenhum sinal da carta de "Jeon Seo Hee". Jeon suspirou, os jovens se levantaram e estavam prontos para sair em passos desanimados, quando o garoto observa ao lado de um dos pés da garota, um papel... Não um simples papel, um envelope de cor azul-bebê, e bordas amassadas, que aparentavam maltratadas pelo tempo. O mais novo o observou atentamente, todas as lembranças voltaram à sua mente, e ele teve certeza:

 – É ele. – Afirmou com convicção enquanto se abaixava e puxava o envelope. Leu em voz alta as letras em caligrafia peculiar na parte de trás do mesmo: – J. Seo Hee...

 Olhou para cima e sorriu, a menina retribuiu o sorriso e ele voltou sua atenção ao documento em suas mãos. Sem demora rasgou o envelope para ler o conteúdo, sentiu seu coração pulsar logo com as primeiras frases:

 "Olá mãe, aqui é Seo Hee, sua filha, lembra? Haha... Eu estou bem, pelo menos eu acho...

 Me desculpe, eu sei que não estou dando muitas notícias ultimamente, mas a culpa não é minha, eu juro! Eu conheci este homem enquanto alugava um apartamento, ele era o dono, e dava em cima de mim, falo sério, ele era muito estranho, e eu sabia que ele era casado, eu não queria me envolver com um cara casado, não queria mesmo, você sabe disso, não sabe? Enfim, numa noite, eu estava em meu apartamento, ele apareceu batendo na porta, disse que estava atrasado, e eu como a burra idiota que sou, abri a porta, eu estava confusa... Ele entrou e trancou o apartamento, não tive tempo de gritar, nem sequer resistir... Foi tudo tão rápido e horrível, a dor que senti naquela maldita noite ainda me faz chorar até hoje... Sim, eu fui estuprada, e não só uma vez, e sim duas, três, quatro... Resistir nem era mais uma opção pra mim, ele estava em todo lugar para o qual eu fugia, cheguei a um ponto em que fui obrigada a morar em sua casa, a minha vida se tornou um inferno.

 E então, um dia descobri que estava grávida, e aquilo foi a pior coisa que poderia ter me acontecido... Eu apanhava diariamente, Sr. Park odiava à mim e àquele bebê, a sua esposa já tinha um filho, o nome dele era Jimin, ele era um doce e era tratado com todos os privilégios que poderia ter, eu adorava cuidar dele, é um garoto adorável, o oposto do pai... Me perguntava o que seria de mim quando a criança nascesse... Porém ele nasceu e mesmo com todo o sofrimento que me causou, posso dizer que foi o único amor que tive na vida, seus olhinhos brilhavam e seu sorriso era lindo, o menino que batizei de Jung-Kook (com o nosso sobrenome) era lindo, como um anjinho enviado para mim..."

 Jungkook fechou os olhos, tentando controlar suas lágrimas, ele não podia acreditar... Era fruto de um estupro, fruto de uma gestação sofrida, filho de um homem nojento, talvez o pior ser com quem já havia cruzado. Lembrou-se de que a garota ainda estava ali, levantou o rosto para encará-la, ela tinha uma expressão preocupada. Apertou o papel em sua mão e o enfiou no bolso, levantou-se, mas mantinha seu olhar para baixo, tentando disfarçar seu estado debilitado.

 – E-Eu... O-Obrigado por me deixar ver a carta... Eu... Eu tenho que ir. – Começou a correr, ignorando totalmente a tão simpática garota que havia lhe ajudado, ele só queria sair dali, encontrar um local seguro onde pudesse se afundar em suas lágrimas, pensando em tudo o que havia descoberto.

 Saiu da construção já com os olhos vermelhos, ele olhava em volta à procura do homem que havia prometido lhe proteger, mas onde ele estava? Jungkook só queria que ele aparecesse, queria ir para casa, queria o mais velho lhe reconfortando, agora mais do que nunca Jungkook precisava de proteção, mas desta vez de si próprio.

 – JungKook...? – Sentiu uma mão segurar seu braço e virou-se para encarar aquela pessoa, observou com alívio e desespero o rosto daquele ruivo conhecido – O que aconteceu?!

 E ao observar o rosto de Yoongi preocupado, sentiu seus olhos arderem, olhou para baixo com os olhos fechados na tentativa de conter as lágrimas, mas sentiu elas caindo... Uma, duas, três, quatro lágrimas caíam e escorriam por seu rosto. Olhou para cima e desistiu de contê-las, estava chorando e soluçando, na frente do mais velho.

 Yoongi olhava hora para o garoto, hora para os lados, sem saber o que fazer com a criança em prantos à sua frente, colocava a mão em seu ombro, pedia para que se acalmasse, mas nada adiantava, estava ficando desesperado.

 – JungKook, calma, não chora... – Tentou mais uma vez em vão, em silêncio começou a analisar as feições do garoto, quando seus olhos pararam em sua boca, levou uma das mãos à sua nuca, onde entrelaçou os dedos em seus fios, puxando de forma gentil o rosto do mais novo para si, num ato sem pensar.

 E antes que pudesse contestar, JungKook se viu com os lábios tomados pelos do outro, as lágrimas ainda saíam, porém ele não continuava a soluçar, muito menos pensou em resistir àquele beijo. Tomados por um instinto muito mais forte do que a razão, os jovens finalmente entregaram-se e deixaram-se levar por um sentimento em comum.

 Após uma breve pausa, os garotos se entreolharam os batimentos cardíacos acelerados, a respiração já descompassada... e não demoraram muio para novamente unirem suas bocas de forma necessitada, a língua de Yoongi logo passava por entre os lábios do menor sem pedir licença, as bochechas do mesmo se tornando vermelhas conforme seguiam para um beijo calmo e lento, as duas línguas em uma sintonia perfeita e, como se completassem uma ao outro, o ritmo dos seus corações igualmente acelerado. Logo o ar se fez necessário para o mais novo, que já estava tão nervoso que mal conseguia respirar, fazendo-o separar seu rosto.

 Corou ainda mais ao perceber os olhares intensos direcionados para si pelo maior, que também mal sabia o que havia acontecido ali. Confusos, porém satisfeitos os garotos não diziam nada um pro outro, mas trocavam olhares que diziam tudo o que sentiam.

 – Jeon JungKook?! – De repente, um frio percorre a barriga do menor ao ouvir seu nome, aquela voz... Não podia ser... Não agora, por favor...

 Mas infelizmente JungKook não tinha a sorte ao seu lado e seu medo se concretizou, Seokjin estava parado na frente dos dois e, se o conhecia bem, sabia que aquele olhar não mostrava nem um pouco de satisfação com a cena presenciada.

 Merda...

 – J-Jin... O que está fazendo aqui? – Perguntou um pouco preocupado, vendo o olhar de SeokJin focar no ruivo e depois em si, depois um sorriso em seus lábios, ele odiava aquele sorriso.

 – Meu querido dongsaeng, que saudade de você! Mas... Quem é o cara? Namorado novo? Já me esqueceu? – Jin perguntou, seu tom de deboche, sem perder o sorriso.

 Jungkook engoliu em seco e olhou para o mais velho atrás de si, que mantinha uma expressão séria. Ele tinha medo do que Seokjin podia fazer, ele sabia que as palavras do mais velho eram com tiros certeiros, capazes de despertar o ódio até no mais calmo dos seres, e também sabia como Yoongi irritava-se facilmente, pelo modo como havia ficado no dia em que Hoseok o beijou. Passou a mão no rosto na tentativa de secar algumas lágrimas que ainda haviam em sua face, encarava o mais velho como se implorasse para que o tirasse dali, enquanto tentava puxar sua mão sem que SeokJin percebesse.

 – O que foi pequeno? Não vai dizer nada? De santo você só tem o rosto mesmo, não precisa disfarçar, logo logo ele descobre... – Jin olhou para Yoongi – Isso se já não descobriu, não é? Você não parece burro o suficiente pra não perceber... É só você pedir que ele vai estar de quatro na sua cama. – Riu sarcástico.

 Yoongi já estava sem paciência de aguentar aquele idiota falando daquele jeito de seu JungKook... Agora ele começava a entender o que sentia pelo mais novo, e percebia o que aquele cara estava fazendo com ele, com aquele garoto que já estava triste e debilitado, o ruivo o percebeu abaixar a cabeça em vergonha e desconforto, Min não estava gostando nada daquilo.

 – Ei, pare... Para de falar assim dele, você não passa de um babaca medíocre se está fazendo isso só para esse garoto se sentir pior do que já está... Deixe-o em paz. – Se pronunciou diretamente para SeokJin, fazendo JungKook levantar a cabeça para encará-lo.

 – Kook, que namoradinho corajoso você arrumou, chega a ser fofo! ...No final sempre tem alguém pra te defender, eu odeio isso... – Murmurou a ultima frase para si mesmo – Vamos ver se ele vai continuar assim depois que você partir o coraçãozinho dele em mil pedaços como a bela puta que você...

 – Jin, para por favor... – O mais novo pediu com a voz trêmula. O mais velho o observou como se analisasse seu pedido, porém o ignorou.

 – Você não mudou nada... Continua o mesmo garoto fingido que conheci, com essa carinha meiga e inocente, ninguém imaginaria o quão perverso você é...

 – Chega! Eu não gosto de você, nunca tivemos e nunca vamos ter nada juntos, e não será você quem vai mudar isso, muito menos depois do que você fez comigo... Me deixe em paz, me esqueça! – Num surto de raiva JungKook virou as costas para os dois jovens e começou a andar.

 – Jeon, espera... – Yoongi começou a seguir o garoto quando uma mão segura seu antebraço, como reflexo, ele se vira para encarar aquele idiota que se atreveu a lhe tocar, o ruivo se segurou para não meter um soco na cara daquele garoto.

 – Eu só quero dizer uma coisa: Se eu fosse você teria medo de se relacionar com ele... Jeon JungKook é um garoto extremamente sádico... Só pra você saber, eu avisei. – Jin soltou o mais velho e lhe lançou um sorriso.

 Yoongi estava parado encarando o garoto em silêncio, mas aquelas palavras não fizeram efeito em si, ele não cairia no jogo de SeokJin, o ruivo era mais ágil do que isso.

 – Quem sou eu para julgá-lo? – Perguntou em tom calmo e virou as costas para seguir o mais novo, deixando para trás um SeokJin totalmente confuso, mas também revoltado.

 Em silêncio os dois caminhavam pela calçada, o céu já tomava uma cor alaranjada, indicando que ia escurecer e eles apressaram o passo, pois à noite, seria muito mais perigoso para JungKook estar ali. O mais novo mantinha a cabeça baixa e as mãos nos bolsos do casaco, pensava seriamente em todos os acontecimentos daquele dia... SeokJin ter lhe ver visto era um problema, ter lhe visto com Yoongi então... Mas de tudo aquilo, a única coisa na qual conseguia focar era o beijo. Aquele beijo lhe pegou de surpresa, seus batimentos aceleravam só de pensar no porquê e em como o mais velho pôde ter feito aquilo, e o fato de ter correspondido automaticamente sem hesitar em nenhum segundo.

 Quando chegaram na casa, já estava escuro, Yoongi pensou que Hoseok já estaria lá quando chegassem, mas nenhum sinal do moreno.

 – Hyung, sobre o que aconteceu com o Jin...

 – Não, você não deve explicação nenhuma, aquele garoto era um idiota, eu apenas me arrependi de tê-lo levado lá porque no lugar dele poderia ter sido um dos "meus colegas"... Não se desculpe, o importante é que você está bem. – Desviou o olhar ao perceber que JungKook o observava – Eu vou tomar banho agora...

 O mais velho pegou uma toalha branca no armário. JungKook, ao vê-lo adentrar no banheiro, desabou na cama com todo o seu cansaço. O estranho era que se sentia, de certa forma, feliz pela declaração de Yoongi... O seu hyung não ligava se ele ou Jin haviam ou não tido algo, não ligava para as declarações daquele desgraçado, muito menos acreditava em tudo o que ele havia dito... Tudo o que importava era o fato de que nenhum dos caras de seu pai os havia encontrado... O importante era que JungKook estava bem, e apenas aquilo.

 E mais uma vez lhe veio a lembrança daquele beijo, o beijo que conseguiu parar suas lágrimas e acalmar seu coração, as mãos gentis acariciando seu cabelo de forma acolhedora, os lábios doces e macios que encontravam os seus em perfeita harmonia... Era tudo tão perfeito que Jeon pegou a si mesmo mas uma vez naqueles pensamentos estranhos, mal percebeu quando um sorriso bobo e involuntário tomou seu rosto pela primeira vez naquele dia.

 Ainda deitado, ele brincava com o chaveiro em suas mãos, estava entretido com o barulho agudo que as chaves faziam ao bater uma na outra, quando percebeu a porta do banheiro se abrir. Tomado pelo susto da ação repentina, saiu de sua posição e pôs-se sentado na cama para ver melhor o que estava acontecendo, ele mesmo não acreditava...

 Aqueles fios ruivos ainda úmidos caíam sobre seus olhos, algumas gotículas de água desciam por seu pescoço, traçavam todo o caminho daquele corpo perfeito e de pele pálida, desciam até seus braços e seu abdômen descoberto. Em outras palavras, Yoongi saía do banheiro apenas com uma toalha que envolvia sua cintura, JungKook tentou, ele realmente tentou não focar naquilo, mas era lindo, sua estrutura não era tão forte, mas também não era tão magro, alguns músculos ressaltavam-se em seu abdômen e em suas costas, nada muito definido, mas as coxas eram o pior, o ponto de seu corpo que mais atraía a atenção do mais novo de forma envolvente.

 Sentiu um arrepio lhe percorrer, estava em choque, e aquela cena lhe causou uma sensação inexplicável, encolheu-se conforme o mais velho se aproximava do quarto, procurando sem olhar em volta algo que pudesse esconder o que o mais velho lhe havia causado, o suor já começava a se formar em sua testa... 

 – Me desculpe, eu esqueci de levar a roupa para o banheiro, só vai demorar um pouco... – Yoongi já estava dentro do quarto mexendo no guarda roupas, e JungKook nervoso agarrando com força um travesseiro posicionado em seu colo enquanto mordia o lábio inferior.

 "Não, hyung, isso vai demorar mais do que possa imaginar..."


Notas Finais


Morta estou eu, nem acredito que escrevi tudo isso *respira* O QUE ACHARAM?? Este foi um capítulo repleto de tretas!! Até o próximo, bye bye!!


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