História Tomorrow - Assunção

 Hoseok estava sentado à mesa tomando seu tradicional café da manhã: Qualquer coisa que estivesse dentro do armário. Já fazia algum tempo desde que JungKook havia sido liberado do hospital e Hoseok estava feliz por finalmente poder passar algum tempo em casa, também estava feliz pois percebia como Yoongi e JungKook estavam cada vez mais próximos. Para ele, aquilo era adorável, algo que ele já previa desde o primeiro olhar que o mais velho dirigira ao garoto. A única coisa lhe surpreendeu foi a demora para que os dois se tornassem daquele jeito.

 Suspirou frustrado e largou o prato vazio na pia. Com certeza estava feliz pelos dois – mesmo que não houvessem assumido nada oficialmente –, sua mente parecia tão vazia... Fazia tempo que não tinha uma companhia tão longa e presente em sua casa. Yoongi era um grande amigo, tê-lo por perto por tanto tempo era revigorante; já JungKook, era um garoto pelo qual tomara grande apreço. Por mais que no começo Hoseok houvesse errado, a amizade que desenvolvera pelo mais novo havia se tornado algo incrível.

 Porém fazia tempo que ele não parava para refletir sobre si mesmo. Sentia-se incompleto, fazia tempo desde a última vez em que namorara alguém seriamente.

 – Ah... Bom dia... – Virou-se ao ouvir a voz de JungKook que acabara de adentrar na cozinha.

 O garoto ainda usava seu pijama branco – que era emprestado do próprio Hoseok, uma regata e uma bermuda largos, ambos de algodão – e seus cabelos negros estavam bagunçados enquanto a franja caía sobre seus olhos. Sua voz soou sonolenta e ele bocejou logo após sua fala. Ao ouvir Hoseok também bocejar em seguida, Jeon arrumou sua franja para o lado, afastou os fios de seus olhos e sorriu amigável.

 – Bom dia dongsaeng! Dormiu bem? – O mais velho o cumprimentou aproximando-se para bagunçar seus fios – Onde está o hyung? – Olhou em volta referindo-se à Yoongi.

 – Sim, apenas estou um pouco cansado. E... Ele ainda está no quarto dormindo.

 – Vocês dormiram a noite toda juntos, hm? – Hoseok sorriu malicioso e o mais novo ficou vermelho.

 – H-Hyung! N-Nós...

 – Sim, dormimos. – Yoongi disse calmo aparecendo na entrada e passando o braço por cima dos ombros de JungKook.

 – Bom dia hyung. – Jungkook sorriu para Yoongi.

 – Bom dia Jeon... – afagou os cabelos do mais novo e virou-se para o dono da casa – Bom dia Hoseok.

 – Muito bom dia ao casal do ano.

 – Dá um tempo Hoseok. – Yoongi reclamou e riu logo depois.

 Depois de algum tempo de conversa e algumas risadas, JungKook resolveu ir até a área de serviço para lavar as roupas que já transbordavam dos cestos. Hoseok resolveu permanecer na cozinha para lavar a louça e Yoongi decidiu ajudar o mais novo nas tarefas, já que as roupas eram muitas.

 Conforme aproximava-se da lavanderia, estranhou o silêncio substituindo o que deveria ser o barulho estrondoso da máquina de lavar. Surpreendeu-se com a imagem do moreno de pé, imóvel, com os olhos fixos numa folha de papel levemente amassada que segurava em frente ao seu próprio rosto.

 Não importava quanto mais se aproximava, o olhar do garoto permanecia inalterado. Apenas após chamar seu nome algumas vezes, conseguiu sua atenção. Yoongi observou os olhos do mais novo, algo estava diferente do de alguns minutos antes, parecia abalado, e aquilo fez o coração do ruivo doer.

 – JungKook? ...O que aconteceu? – Perguntou o mais velho preocupado aproximando-se – O que é isso? – Analisou com os olhos o papel e tocou as mãos do garoto com receio.

 – Minha mãe... – A voz de Jeon estava era rouca e baixa, ele desviou o olhar novamente para a folha – É esta a carta dela... Leia.

 Yoongi hesitou mas quando JungKook lhe estendeu a carta, não teve outra opção senão lê-la. Os parágrafos eram longos e a caligrafia pobre, como se fosse algo escrito com pressa. Não ficou chocado com o que leu. Sabia de todas as atrocidades que Park era capaz de fazer, mas aquilo não significava que aquela carta não havia lhe despertado nenhum sentimento.

 A angústia e o sofrimento eram expressamente perceptíveis em cada palavra, em cada frase. Por um momento pôs-se no lugar de Jeon. Imaginou a dor de saber que tudo aquilo eram relatos da mulher que lhe dera a vida, parte de seu passado desconhecido, desvendado da forma mais cruel. A verdade que fora esfregada em sua cara sem um pingo de piedade.

 Os olhos de JungKook expressavam toda a dor que ele não mostrava com palavras, não tinham um foco ou direção. O seu sofrimento não tinha mais fim, e a cada dia as coisas só pioravam. Ele não aguentava mais ficar em pé, suas pernas fraquejavam e seu coração tinha um ritmo lento, tudo passava em câmera lenta diante dos seus olhos quase encharcados, até o ato inusitado de Yoongi, que o abraçou e afagou seus cabelos. O ruivo não sabia como aquele garoto tão novo aguentava tudo aquilo, como ele era tão forte...

 – Essa agora é a única lembrança que eu tenho dela. – Murmurou Jeon.

 – Sinto muito...

 – Obrigado, Hyung... Mas não sou mais uma criança.

 Yoongi afastou-se para encarar seriamente a expressão do moreno. Ele aparentava tristeza nos olhos, mas seu rosto era sem expressão. Uma expressão vazia. Era a primeira vez que Yoongi havia visto JungKook daquela maneira, e ele certamente não havia gostado daquilo. O que lhe atingiu não era exatamente pena, porém uma sensação de desconforto, era como se sentisse o que JungKook sentia. Havia algo entalado em sua garganta, e ele precisava colocar para fora.

 – JungKook, eu... – Suspirou e observou o garoto pensativo. Como diria aquilo? – E se eu dissesse que posso lhe dar mais uma lembrança dela?

 O mais novo arregalou os olhos, mas permaneceu em silêncio. Estava confuso, e também curioso. Yoongi não parecia confortável com aquilo, tavez seus olhos atentos o pressionassem. Talvez.

 – Eu sei onde sua mãe está enterrada.

 – O quê? – O garoto se assustou – Como? Nem eu sei onde está o corpo dela! Jimin me disse que a polícia havia levado...

 – Park organizou um enterro simples e discreto com a ajuda de seus empregados, contou apenas para nós e para Jimin... Seu irmão não te falou nada porque obviamente não podia... Eu sinto muito por não ter contado antes, Jeon, mas...

 Yoongi podia ver a decepção nos olhos do mais novo. Tentou pôr a mão em seu rosto, mas o garoto recuou em um passo, desviando de seu toque. Seu peito doeu, não aguentava ser tratado daquela forma, já temia por aquela reação e por isso havia hesitado em contar.

 – Você mentiu pra mim... – JungKook murmurou com a voz embargada.

 – Não, não é isso! Jeon!

 – Você mentiu pra mim! Por quê? Por que escondeu de mim o direito de saber pelo menos onde está o corpo de minha mãe?? ...Você não faz ideia do quanto eu sofri achando que nunca mais eu teria algum sinal dela? – Seus olhos estavam marejados e ele encarava o ruivo com indignação. Grunhiu e desviou o olhar, caminhando em passos apressados e nervosos até a saída da lavanderia.

 Yoongi, por sua vez, não deixaria que o garoto saísse sem receber as devidas explicações. Não toleraria aquele tipo de coisa. A visão de Jeon indo embora era algo horrível, eracomo se machucasse sua alma. Para impedir a saída do garoto, segurou seu braço e o puxou para si. Envolveu seu corpo com os braços e aproximou o rosto de sua orelha, enquanto Jeon tentava resistir.

 – JungKook, me escute, eu posso explicar tudo... – Sussurrou calmamente e apertou o garoto com  mais força.

 – O-O que... O que me garante que você não matou minha mãe também?

 – Eu não matei a sua mãe...

 – Como posso acreditar em você?

 – Apenas acredite. – Afastou o rosto para observá-lo – Eu quero levar você lá... Eu acho que você tem o direito de "ver" sua mãe pelo menos uma última vez... Despedir-se dela de verdade. Confie em mim.

***

 Como imaginado, Jeon cedeu. Equilibrando-se sobre os trilhos enferrujados daquela velha ferrovia, caminhava com a mão sobre o ombro do mais velho. Talvez devesse apresentar um semblante sério, mas não era esse o caso. Era estranho, mas não conseguia deixar de estar feliz por sair de casa, ainda mais com Yoongi, algo que parecia impossível em suas atuais condições de "fugitivos". Era divertido e revigorante.

 – Está muito longe? Meus pés doem. – Reclamou o moreno.

 – Não sei... Esses trilhos fazem o caminho mais rápido, agradeço profundamente por estarem desativados para trens. – Olhou para os pés do garoto trêmulos sobre o ferro enferrujado e suspirou – Aish, para com isso.

 – Por quê? – Perguntou antes que seu corpo quase pendesse para o lado. Segurou com força no ombro do outro e o encarou com um sorriso sem graça.

 – Por causa disso... – Yoongi riu sarcástico e focou-se na grande placa que sinalizava o final da ferrovia – Olha. – Apontou para uma área plana totalmente coberta pro grama verde perfeitamente cortada. Não demorou muito para que os olhares dos dois garotos concentrassem-se no grande portão de cor metálica cercado por um muro branco.

  – É ali? – JungKook perguntou sem desviar o olhar da construção.

 Yoongi apenas assentiu com um aceno de cabeça e segurou o pulso do garoto sem muita força. O puxou com cuidado, guiando seu caminho até a entrada do cemitério bem preservado. O moreno não resisitiu, afinal, estava realmente muito ansioso para reencontrar sua mãe.

 Entraram e começaram a caminhar em passos lentos. Yoongi ia na frente com o olhar fixo no caminho de pedras que havia no centro e JungKook atrás, observando em volta, analisando com deleite cada lápide, cada estátua, cada nome e falecido. Era estranho como poderia considerar aquilo belo.

 Em sua mente era uma bela paisagem, o campo gramado com as lápides de pedra cravadas e enfeitadas. Eram belos os enfeites e flores depositadas carinhosamente sobre cada sepultura. Eram belas, até mesmo, algumas pessoas ajoelhadas sobre onde jaziam os falecidos, murmurando palavras, para si, inaudíveis.

 Esse sentimento de deslumbre tornou-se um nervosismo violento enquanto via Yoongi virar a esquerda e caminhar entre o espaço que havia entre as lápides. Seguiu o mais velho sem hesitar, apertou o passo para poder alcançá-lo e caminhar ao seu lado. A ansiedade que acelerava seu coração estava lhe destruindo.

 – Ei. – A voz serena de Yoongi o tirou de seu estado de insegurança e o trouxe para o cenário atual. O garoto deu-se de cara com o nome "Jeon Seo Hee" escrito no mármore frio.

 JungKook sacudiu a cabeça levemente e manteve a calma, espantou os pensamentos estranhos e dirigiu um olhar indefinido para Yoongi, que retribuiu com um compreensivo e afastou-se minimamente enquanto cruzava os braços.

 O garoto ajoelhou-se sobre a grama e tirou de dentro do casaco alguns lírios. Depositou as flores no chão e permaneceu algum tempo em silêncio fitando a sepultura da mãe. A mente ocupava-se apenas com pensamentos.

 Talvez seja meio tarde...

 Um sorriso pequeno brotou e desapareceu rapidamente em seu rosto enquanto fechava os olhos.

 Mas eu cheguei, mãe. Eu vim ver você.

 – Eu sinto sua falta. – JungKook murmurou com a voz trêmula e respirou fundo.

 Seu coração batia muito forte e suas mãos suavam, mas o vento frio batia em seu rosto e lhe dava quietude, calmaria ao lembrar-se do abraço carinhoso da mulher.

 Obrigado por tudo.

 Após mais alguns sussurros e diálogos imaginários, não pôde evitar que algumas lágrimas começassem a escorrer por seu rosto. Talvez parecesse banal, mas suas emoções naquele momento estavam à flor da pele. Limpou o rosto com a manga do casaco, despediu-se devidamente de sua mãe e levantou-se, dirigindo os olhos ao ruivo que lhe encarava.

 Ele tinha uma expressão seca, mas JungKook sabia que não era o que Yoongi tinha dentro de seu coração. O que se passava dentro da mente do rapaz pálido ia muito além de aparências.

 Mesmo chorando, forçou um sorriso verdadeiro.

 – Você está bem? – Preocupado, Yoongi aproximou-se. Assustou-se com o gesto doce em meio às lágrimas.

 – Sim, estou... Vamos sair daqui, ok? – O moreno pediu e o ruivo assentiu.

 – Quer ir para casa? – Yoongi perguntou enquanto passava a mão sobre o rosto de Jeon, delicadamente, para secá-lo. O viu balançar a cabeça levemente em sinal de negação e continuou – Para onde quer ir?

 O moreno cruzou os braços e bateu os dedos sobre a pele branca de seu esquerdo, em sinal de que estava pensativo. Levantou a cabeça e olhou em volta o céu levemente acinzentado e teve uma ideia, então voltou o olhar para o mais velho decidido.

 – Eu sei um lugar... Mas você vai ter que me ajudar a encontrá-lo.

 E assim, Yoongi concordou e segurou a mão do garoto. Saíram de lá juntos, como se fossem só os dois. Sozinhos.

 ***

 Incrédulo, corria rápido e para longe, corria com todas as suas forças. Com o rosto vermelho, banhado em lágrimas e os cabelos negros agitados pelo vento que neles batiam; seu estado provavelmente estava arrasado, mas não mais que seu coração.

 SeokJin não esperava aquilo. Não esperava ter que ver com seus próprios olhos o motivo de sua desgraça, e a razão não poderia ser nada mais nada menos que Jeon JungKook.

 Como rotina de todo final de semana, era manhã e ele ia ao cemitério depositar flores sobre a sepultura de seu falecido pai. Não esperava avistar o garoto moreno de nariz avantajado caminhando por entre as lápides, muito menos com seu olhar belo e majestoso, como se estivesse maravilhado com algo.

 Jin não sabia ao certo quanto tempo ficara sem ver o mais novo, apenas que vê-lo novamente acendeu algo dentro de seu peito. Algo inexplicável. Um sorriso satisfeito brotou em sua face, ele rapidamente pôs as flores no chão e chegou a dar alguns passos na direção do garoto, até ficar confuso ao vê-lo se abaixar.

 Até aí tudo bem, o problema foi quando ele levantou. Seus olhinhos e suas bochechas avermelhadas, ambos molhados de lágrimas, que foram secas pelas mãos de outro rapaz. JungKook foi rapidamente amparado pelo mesmo ruivo com quem SeokJin o havia flagrado da última vez que vira o garoto, perto do correio.

 No mesmo instante, seu sangue ferveu e seu coração acelerou. Estava com raiva e até mesmo ameaçara aproximar-se dos dois, mas desistiu. Quando viu como os olhos de Jeon brilhavam e e como seu olhar parecia extremamente feliz e adorável olhando para o ruivo, de um modo de Jin nunca havia visto e sabia que nunca seria olhado da mesma forma. Quando viu como os dois saíam de mãos dadas tranquilamente, em perfeita harmonia. Invejou aquilo tudo.

 Quando, finalmente, os dois deixaram o local de mãos dadas SeokJin não conseguiu mais segurar. Seu coração estava destroçado pois descobriu da pior forma que JungKook pertencia à outro agora. Tudo o que sentia era tristeza, dor e arrependimento. Ele se arrependia do dia em que conhecera aquele garotinho moreno com seu jeito adorável e imprevisível, se arrependia do dia em que começaram a ser amigos e do dia em que aquele garoto havia tomado sua mente.

 Mas era óbvio que arrependimento não faria todos aqueles sentimentos e lembranças desaparecerem, e por isso estava correndo. Corria o mais rápido que podia, na esperança de que o vento varresse para longe suas inseguranças e espantasse sua dor. Não importava o quanto desejasse, o quanto quisesse e o quanto chorasse, nunca estaria no lugar daquele maldito ruivo e nunca conseguiria andar de mãos dadas com JungKook, como o maldito ruivo fizera.

 Quanto mais corria mais seus pés doíam, porém ele não queria parar. Quando chegou à um ponto em que não mais aguentava, deixou seu corpo cair sentado na grama do campo e apoiou as costas em uma árvore. Contudo, as lágrimas não cessaram.

 Passou as mãos pelos olhos e as deslizou pelo cabelo em sinal de nervosismo. Continuaria ali, vendo aquela cena desesperadora repetir-se diante de seus olhos e relembrando-se de tudo o que havia perdido por não ser bom o suficiente.

 Me perdoa...

 Era tudo o que conseguia pensar enquanto seu choro tornava-se mais intenso e agoniante. E o pior de tudo era saber que ele merecia aquilo. SeokJin demoraria um pouco para voltar para casa.

 Afinal, sua loucura era maior que tudo.

***

 A areia sujava suas mãos, mas ele não via as tradicionais gaivotas voando pelo céu. O cheiro de maresia parecia mais doce que o normal, o contraste entre o mar e o céu acinzentado era lindo. Quanto tempo fazia que não vinha à praia? Ele se perguntava, especialmente aquela praia.

 Lembrava do tempo em que ia ali com seu irmão. Eles corriam de mãos dadas – Exigência do mais velho para que o caçula não se perdesse –, faziam castelos de areia e faziam desenhos abstratos nesta; catavam e colecionavam as conchinhas, faziam apostas bobas como as de quem conseguia nadar mais longe... Jimin sempre ganhava.

 Estava num antigo porto, sentado na estreita plataforma de madeira, com seus pés balançando sob ela e tocando levemente a água. Suspirava admirando o horizonte. O sol não podia mais ser visto atrás das nuvens e do céu nublado e chuvoso, mesmo assim a paisagem era esplêndida. As ondas leves vinham se formando de longe e desfaziam-se na espuma do litoral, seu som era agradável e reconfortante, sua brisa era como um calmante.

 Naquele momento desejou ter seu caderno de rascunhos, sentia falta do tempo em que sentava no gramado da escola para desenhar a paisagem, da voz de seu irmão lhe chamando para ir para casa e, até mesmo, o conforto de seu quarto. Mas a última opção, é claro, não era assim uma grande necessidade quando dormia no aconchego dos braços do rapaz que lhe acolhera.

 – Ei. – Pela segunda vez no dia, fora tirado de seus devaneios pela voz de Yoongi. Virou o rosto para encará-lo e sorriu enquanto ele se sentava ao seu lado.

 – Você demorou... Estava muito longe?

 – Apenas caminhando por aí. E você? Esteve aqui o tempo todo?

 – Sim, não sei se percebeu, mas eu adoro observar as paisagens... Olha, é bonito. – Disse JungKook apontando para o mar.

 – Hm... E você acha isso normal? – O ruivo perguntou em tom de deboche com um sorriso travesso, o mais novo o encarou levemente irritado e lhe desferiu um tapa fraco no braço, fazendo-o rir.

 – Eu não sou normal, você sabe. – Resmungou enquanto ria e se levantava devagar.

 – Certamente sei. – Yoongi acompanhou o mais novo e levantou-se rapidamente. Parou em frente ao mais novo e aproximou-se, vendo o garoto permanecer imóvel lhe encarando – O que houve com vo... – Nesse momento sua fala foi interrompida pelas mãos de Jeon em seu peito.

 Um impulso não muito forte lhe fez perder o equilíbrio e tombar para trás. Yoongi caiu na água com um grito assustado e falhado, seu coração acelerou quando a água gelada tomou seu corpo, mas acalmou-se quando seu rosto foi até a superfície do mar não tão profundo perto do porto. Um misto de confusão e nervosismo tomou sua mente enquanto sacudia a cabeça e tirava o cabelo molhado de frente do rosto para olhar melhor para JungKook. Seu rosto ficou vermelho quando viu que o garoto ria descontroladamente.

 – Jeon! ...Qual é o seu problema?! – Perguntou cerrando os dentes e aproximando-se mais do porto.

 – Eu não sou normal. – O moreno disse ironicamente e aproximou-se do mais velho com um sorriso – Desculpa!

 – Eu percebi! – Viu a mão de JungKook ser estendida lara lhe puxar para cima e grunhiu de raiva. Segurou a mão com força e o puxou para frente, ele gritou enquanto caía sem menores dificuldades.

 – Vingança. – Disse Yoongi com um sorriso enquanto via o mais novo emergir até a superfície desesperadamente.

 – Hyung! – Protestou enquanto tremia de frio – Isso não é legal...

 – Sério? – Yoongi perguntou retóricamente e revirou os olhos antes de sentir o mais novo lhe abraçar trêmulo.

 – Você fez isso comigo, agora estou com frio. Tome a responsabilidade... – Jeon murmurou  apertando o menor contra si.

 Yoongi estava prestes a reclamar, quando ambos foram supreendidos com gotículas de água caindo sobre eles. Uma, duas, três, quatro gotas e logo uma chuva fina se espalhava pelo mar e pela praia. Ele olhou em volta e ameaçou subir de volta para o porto, porém JungKook segurava seu pulso com força.

 O mais novo o puxou e fez com que ficassem frente a frente, criando uma troca de olhares confusa, porém intensa. O ruivo observou o rosto do menor que estava sério. Seu semblante belo com alguns fios colados na testa, a água escorrendo pela pele e o sorriso doce que brotara naquele instante, antes que Jeon levasse as mãos até sua nuca e o puxasse para beijá-lo.

 Se Yoongi já estava confuso, sua mente agora se tornara uma bagunça. Ter os lábios do outro nos seus e sentir suas respirações misturadas era simplesmente algo indescritível. O ruivo não precisou pedir passagem para que pudesse aprofundar aquele beijo e deslizar as mãos calmamente até as costas do garoto. Com isso, a intensidade daquele momento foi tornando-se maior e as batidas de seus corações se acelerando.

 A distância dos dois naquele momento era mínima e o contato entre os corpos era revigorante, incrível e desejável. O som da chuva era tudo o que podia ser ouvido, tornando-se cada vez mais forte e abafando alguns suspiros que vez ou outra escapavam entre seus lábios. Estavam perdendo o senso e a sanidade, até finalmente separarem-se do beijo.

 Yoongi encarou JungKook, que possuía as bochechas e os lábios avermelhados e a respiração descompassada, não muito diferente do ruivo. O mais novo pôs a mão em seu próprio peito enquanto abria e fechava a boca procurando palavras para descrever seu mar de emoções naquele momento.

 – Vamos embora daqui... – Yoongi sussurrou perto do ouvido do outro, que estremeceu e assentiu.

 O moreno sorriu quase imperceptível quando o outro segurou sua mão e eles nadaram até a areia, para, então, começarem a correr para casa enquanto a chuva caía sobre suas cabeças.

***

 Assim que destrancaram a porta da frente, os dois constataram que não havia ninguém em casa, provavelmente Hoseok havia saído. Tiraram seus casacos e Yoongi os deixou na lavanderia. Quando saía do cômodo, acabou esbarrando com JungKook, que estava com sua blusa em mãos e o tórax desnudo. O moreno se envergonhou quando viu os olhos do outro lhe analisarem de cima a baixo, desviou o olhar para o chão e comentou:

 – A blusa estava muito molhada, a tirei para não pegar um resfriado... – Mordeu o lábio enquanto observava a blusa também molhada do mais velho.

 – Acha que devo tirar também? – Yoongi perguntou com um sorriso e tom de piada, viu o mais novo corar e riu enquanto bagunçava seus cabelos – Brincadeira ...Vou tomar um banho. – Disse baixo para o maior e sorriu amigável enquanto dava dois passos para trás.

 – Não, não vai... – Jeon segurou seu braço, impedindo-o de avançar – Lembra do que aconteceu da última vez em que você me deixou sozinho e foi tomar banho?

 Yoongi assumiu uma expressão pensativa enquanto fitava o semblante sério de JungKook. Soltou um "ah..." quando lembrou-se daquele acontecimento e do que quase haviam feito naquele dia, surpreendeu-se ao saber que o mais novo lembrava-se tão fortemente daquilo.

 – Aquilo aconteceu há bastante tempo, JungKook... As coisas estão diferentes agora e eu não posso fazer nada... – Deu uma pausa e continuou com um sorriso – Oh, você prefere tomar banho comigo?

 – Não! Apenas não vá tomar banho e me deixe aqui.

 – O que você quer, então? – Perguntou Yoongi calmo e sereno enquanto aproximava-se.

 – Não quero que me deixe sozinho... Você prometeu nunca me deixar sozinho novamente e está na hora e cumprir. – Estremeceu ao sentir a mão fria do menor tocando sua bochecha e o encarou.

 – Eu já entendi, ok? Não vou te deixar sozinho, apenas acalme-se...

 – Eu estou calmo... Aonde você vai? – Perguntou confuso enquanto via o mais velho caminhar até o corredor.

 – Tomar banho.

 JungKook resmungou e seguiu o mais velho enquanto pôde ouvi-lo rir e vê-lo entrar no quarto. Entrou logo após e parou observando-o revirar o armário. Sorriu ao vê-lo fechar as portas de madeira e coçar a nuca de forma descontraída, seus cabelos úmidos e avermelhados que começavam a secar, sua camisa branca ainda molhada, que colava ao corpo e permitia uma melhor visão de suas costas esbeltas. O moreno estava admirado, pois o corpo de Yoongi parecia algo perfeitamente desenhado, era encantador.

 Correu para abraçá-lo por trás e suspirou apoiando o queixo em seu ombro. Aquilo havia se tornado uma mania. Resmungou percebendo a falta de reação de Yoongi e mordeu uma madeixa de seu cabelo levemente, buscando atenção.

 – Não me ignore.

 – Pare de fazer isso, garoto. – Reclamou, rabujento.

 O mais novo resmungou mais uma vez e puxou o mais velho para mais longe do armário, mais perto de seu corpo. O apertou com força e fechou os olhos enquanto aproximava a respiração de seu pescoço e subia a boca até sua orelha. Sorriu levemente e sussurrou calmo:

 – E se eu não quiser parar? – Perguntou antes de sentir os pelos do mais velho se arrepiarem.

 – Droga... – Yoongi murmurou com a voz um pouco afetada e segurou os pulsos de Jeon antes de virar-se de frente para ele – Você faz de propósito?

 JungKook respondeu com um sorriso de canto e esticou-se para deixar um rápido selar sobre os lábios do mais velho. Yoongi, por sua vez, não permitiu que o garoto se afastasse muito e o puxou para morder seu lábio inferior, o empurrou contra a porta do armário, ouvindo-o gemer baixo.

 – Yoongi... – O moreno suspirou ao sentir seus pulsos contra a madeira onde se apoiava seu corpo. Fechou os olhos ao sentir os lábios do menor em sua mandíbula subirem até sua boca.

 O sabor do beijo do ruivo era incrivelmente, deliciosamente doce, seu corpo estava mais próximo do que nunca, o atrito entre os dois era constante e a vontade que ambos tinham era de nunca romper aquele contato.

 Aos poucos Yoongi liberou os pulsos do mais novo e passou a acariciar a pele macia de seu peito, enquanto este deslizava a mão por sua nuca e segurava-lhe os cabelos com vontade. Romperam o beijo aos poucos e fitaram-se direta e intensamente por um tempo, sem proferir palavras, apenas sentido suas respirações descompassadas extremamente perto uma da outra.

 – Lembra daquela vez em que fizemos isso? – Yoongi perguntou baixo e rouco com a boca perto do pescoço do de Jeon – Eu não resisto mais a você... Como fiz da última vez... – Suspirou e inalou o cheiro do mais novo – Não quando você mexe com a minha cabeça desse jeito.

 – Então... Vamos continuar de onde paramos... – Jeon disse no mesmo tom e passou os braços em volta do pescoço do mais velho, estremeceu ao sentir as mãos descerem até sua cintura e o puxarem para mais perto do corpo alheio.

 A boca foi de encontro à pele sensível de seu pescoço, Jeon tentava conter seus suspiros enquanto sentia a pele do local ser marcada por beijos e mordidas leves. Seu coração acelerou quando seu corpo foi empurrado e jogado sobre a cama, onde Yoongi pôs-se por cima de si e engatinhou até tê-lo completamente por baixo.

 JungKook deslizou as mãos pelo peito do mais velho até que elas encontrassem o primeiro botão de sua camisa. Com as mãos trêmulas e sem quebrar o contato visual, começou a desabotoar lentamente, deleitando-se com a visão dos olhos escuros sobre si. Ao terminar, retirou a camisa rapidamente e pôde ver um sorriso formar-se nos lábios de Yoongi, antes que ele deitasse sobre o mais novo.

 Yoongi permitiu a fricção entre seus corpos enquanto, ora trilhava os lábios sobre a pele alheia, ora apenas parava para ouvir a voz doce em forma de suspiros e outras expressões que soavam como uma bela melodia. Levantou o rosto para observá-lo e deslizou uma mão até sua coxa, acariciando-a e avançando até o zíper da bermuda.

 Deslizou o zíper e, sem demora, a peça de roupa para baixo. Seu coração acelerou ao ver o volume que se formara abaixo do tecido escuro da cueca e suspirou beijando o abdômen do garoto, não pôde mais conter senão colar os peitos desnudos e direcionar uma de suas mãos ágeis até o membro do garoto, massageando-o devagar por baixo do pano. Sem dar-se conta de seus pensamentos incontroláveis e admirados, não deixou de sussurrar para o mais novo:

 – Você é perfeito.

 O barulho forte da chuva caindo na janela apenas servia para acompanhar o eco das duas vozes que escapavam quase que em perfeita sincronia, as respirações pesadas e o pulsar de seus corações. Jeon não deixou de tocar o mais velho da mesma forma com que era tocado, a diferença era que seus atos decidiram ser mais ousados naquele momento, quando a mão adentrou o tecido da roupa íntima de seu hyung.

 Num ritmo intenso, não demorou muito para que atingissem o clímax pela primeira vez naquela noite. Uniram seus lábios mais uma vez, confirmando o motivo de estarem ali, sem importarem-se com mais nada a não ser um ao outro, tudo o que importava era aquele momento e o carinho que trocavam. Yoongi sorriu levemente enquanto observava o rosto avermelhado de JungKook, que também esforçou-se para retribuir o gesto, deixando escapar um longo suspiro enquanto deixava a cabeça repousar no travesseiro.

 O ruivo se afastou para terminar de retirar totalmente as últimas peças de roupa que os dois usavam e passou o olhar mais uma vez pelo corpo escultural do mais novo. Os cabelos morenos bagunçados caindo sobre o rosto, a pele branca que já possuía várias marcas vermelhas e gotículas de suor, o peito que movimentava-se para cima e para baixo de acordo com sua respiração, a boca perfeitamente desenhada... Era perfeito, sem dúvidas.

 Voltou a aproximar-se e esgueirou-se por entre suas pernas, observando o mais novo afastando-as para que pudesse encaixar-se no meio delas. Observou mais uma vez o rosto do garoto, completamente corado e com o olhar fixo sobre si e sobre o que estava fazendo.

 Segurou as duas pernas, abaixando a cabeça para aproximar os lábios da parte inferior da coxa do moreno, beijando e chupando a pele. Ouviu o mais novo gemer e mordeu o local de forma provocante.

 – Y-Yoongi... Yoongi... – Jeon chamou o mais velho com dificuldade, recebendo um rápido "hmm" como resposta

 O ruivo parou e observou o garoto. Não que fosse grande surpresa, ele apenas não esperava que seu nome fosse sair de sua boca de forma tão sensual, era realmente adorável. Levantou o rosto e aproximou-o do rosto de Jeon, deixando um selar no canto de sua boca. Puxou suas pernas e fez com que envolvesse sua cintura com estas.

 JungKook olhou para baixo e envergonhou-se imediatamente, abraçou o mais velho com força e escondeu o rosto em seu pescoço, era ansiedade que tomava conta. A cada segundo que passava, ele ficava mais nervoso. Não estava exatamente com medo, confiava em Yoongi de todo o seu coração, era apenas um frio na barriga por estar naquela situação com aquela pessoa no que seria sua primeira vez.

 O mais velho percebeu o nervosismo e a tensão nos músculos do mais novo, continuou com carícias enquanto sussurrava palavras carinhosas na tentativa de acalmá-lo. Deslizou a mão até sua intimidade, provocando-o vagarosamente. movimentou a cintura lentamente, deixando que seu membro friccionasse contra a pele de sua nádega.

 O moreno suspirou perto do ouvido do ruivo e afundou uma mão em seus cabelos, acariciando-os e segurando firmemente quando voltava a ser provocado. Seu coração batia num ritmo constante e rápido, não aguentava mais aquele sentimento, queria avançar, queria entregar-se totalmente e concretizar aquele momento. Movimentou-se timidamente contra a intimidade alheia e pôde ouvir o mais velho gemer. Satisfeito, continuou.

 Não pôde deixar de arregalar os olhos quando viu Yoongi afastar-se e segurar firmemente suas coxas enquanto posicionava-se entre elas. Não desviaram o olhar sequer um segundo, naquele instante comunicavam-se sem palavras, respondiam com toques, demonstravam seus sentimentos. Mesmo sem que nenhum dos dois contasse, eles já sabiam que o que sentiam um pelo outro era forte, um laço construído e assumido naquele momento.

 Jeon respirou fundo e agarrou os lençóis com força enquanto, juntamente com um beijo ardente, Yoongi o preenchia de forma lenta e paciente. Era estranho, doía, era algo novo. Uma sensação diferente de qualquer outra, algo único e indescritível. Ao separar-se do beijo, gemidos roucos e sôfregos escapavam inevitavelmente de sua boca, enquanto ele podia ouvir o mesmo da parte do ruivo.

 Este levou uma mão aos cabelos do garoto e os acariciou com cuidado, abaixou o rosto para deixar um beijo sobre sua testa, logo depois de afastar alguns fios que grudavam na pele. Continuou com as carícias e beijos até que Jeon lhe dissesse baixinho que estava tudo bem, movimentando leve e timidamente o quadril em pedido para continuar.

 Os gemidos altos começaram a preencher o silêncio do quarto, ofuscando a, agora irrelevante, melodia da chuva. Sons extremamente excitantes contribuíam para o aumento da intensidade do momento; o choque entre os corpos, as respirações ofegantes e até mesmo alguns murmúrios desconexos acabavam por chegar aos ouvidos dos dois.

 JungKook foi, aos poucos, sentindo um prazer imensurável dominar seu corpo. Mantinha os braços em volta do corpo do mais velho, arranhando levemente suas costas com as unhas curtas e apertando-o com força contra si. Movimentava-se em busca de mais contato enquanto gemia e suspirava por cima do ombro alheio.

 Conforme os segundos passavam, aumentava o calor, a intensidade do momento e os movimentos tornavam-se mais fortes e prazerosos, até que o ruivo chegasse ao seu limite ainda no interior do maior, que depois de um tempo também atingira o ápice.

 Ambos continuaram trocando beijos e carícias, até Yoongi deixar que seu corpo tombasse para o lado, fechando os olhos e deitando a cabeça sobre o braço de Jeon. O mais novo o abraçou e suspirou enquanto passava a mão pelo rosto, tirando o suor acumulado e normalizando sua respiração.

 – Isso foi...

 – Intenso. – Completou JungKook enquanto virava-se para Yoongi.

 – Incrível. – Yoongi repetiu o ato do garoto até que estivessem de frente.

 – Eu...

 – Não diga nada, JungKook. – Levou uma mão até seu rosto e acariciou a pele macia.

 – Eu amo você. – Disse o moreno com serenidade e abraçou o menor com carinho. Este, por sua vez, estremeceu paralisado. JungKook sabia como mexer consigo mesmo sem perceber.

 – Eu... Eu também... Vai dormir, garoto. – Nervoso, Yoongi puxou o lençol para cobri-los e jurou poder ouvir uma risada abafada por parte do mais novo. Pôs a mão em seu cabelo e acariciou os fios com ternura. 

 E o único som restante naquele quarto foi o da chuva incessante. O sono foi chegando, até que adormeceram juntos. Desde o dia em que seus caminhos se cruzaram, dali em diante, o laço daqueles dois jovens seria inseparável.