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História Trapaças do Destino - Big Brother Midgard


Escrita por: HunterPriRosen

Capítulo 9 - Big Brother Midgard


Caminho com passos firmes e certa pressa rumo ao endereço que o Gavião Arqueiro me informou através daquela flecha que invadiu o meu quarto. E quando finalmente chego ao local indicado, olho tudo em volta com confusão, já que não há ninguém ali.

Imediatamente, olho para os prédios em volta, esperando que o Gavião Arqueiro esteja no terraço de algum deles, mas também não o vejo.

Estou prestes a desistir e voltar para o meu cafofo, quando giro nos calcanhares e percebo que entre o restaurante chinês à minha direita e uma lavandaria à minha esquerda existe um beco que dá para os fundos dos dois estabelecimentos, ambos fechados à essa hora da manhã.

E é então que o meu coração para por um instante, quando vejo quatro pares de olhos curiosos olhando para mim, como se me chamassem em silêncio. Não é preciso qualquer esforço para que eu reconheça os heróis que me aguardam no beco. Estou a poucos metros de Bruce Banner, Thor, Viúva Negra e Gavião Arqueiro.

Tomada pela surpresa e pela emoção de ver aqueles quatro juntinhos, tudo o que consigo dizer é:

— Mama Mia!

Mesmo à certa distância, noto que seus olhares se estreitam em minha direção, como se os heróis se perguntassem por que eu ainda estou paralisada ali como uma estátua de Michelangelo. Bato em minha própria testa, me dando conta de que deve ser exatamente isso que o quarteto de Vingadores está pensando.

Então, olho tudo em volta para me certificar de que não há ninguém me vendo e, fazendo um esforço para que minhas pernas me obedeçam, entro no beco.

Claro que primeiro eu tropeço em um objeto não identificado no chão — acredito que seja uma caixa de papelão descartada pelo restaurante chinês — e meu corpo é lançado um pouco para a frente. Quando me recomponho, sinto que tenho que mostrar para os meus mais novos amigos que estou bem. Então, sorrio largamente e aceno para os quatro, movimentando minha mão rapidamente no ar.

Os heróis se entreolham por um instante e, em seguida, retribuem o meu aceno de uma forma mais contida. Apresso o meu passo e penso com os meus botões que para aquilo ser perfeito só está faltando duas pessoinhas: o divo do Homem de Ferro e o gostoso do Capitão América. Pronto, falei.

Infelizmente, não os vejo em parte alguma, mas tenho fé em Nossa Senhora Protetora dos Vingadores que, muito em breve, eu vou conhecer o meu futuro chefinho e o meu futuro marido.

Não consigo conter um suspiro ao pensar neste último, mas em seguida volto a minha atenção para os Vingadores a alguns metros de mim. Continuo caminhando e constato que com exceção do Thor, todos estão vestidos com roupas comuns. Mesmo assim, consigo ver a aljava cheia de flechas do Gavião Arqueiro em suas costas, junto com um arco super discreto e lindo, que tenho vontade de roubar, assim como tive vontade de afanar o martelo do Thor, quando o conheci. Me julguem.

Paro de pensar nisso, quando finalmente me posiciono diante do Gavião Arqueiro e da Viúva Negra. A emoção simplesmente toma conta de mim e sinto meus olhinhos de noite serena ficarem marejados, quando digo empolgada:

— Ai meu Deus! Como vocês são fofos juntos! Que coisa mais linda do universo!

O casal troca um olhar cúmplice e confuso, até que o Gavião Arqueiro se volta para mim, me estende a sua mão e diz:

— É uma honra conhecê-la, Srta. Mills. Clint Barton.

Imediatamente, seguro a sua mão e, enquanto a sacudo compulsivamente, respondo:

— Bitch, please! Me chame de Olivia. E a honra é toda minha. — quando finalmente lembro de largar a mão do coitado, me volto para a sua alma gêmea, a pego de surpresa com um abraço apertado e digo: — O mesmo vale para você, sua linda!

Sinto o corpo da Viúva Negra um tanto tenso, mas por fim, a ruiva linda, maravilhosa e poderosa dá um leve tapinha nas minhas costas e fala:

— Natasha Romanoff. Muito prazer.

— Olivia Mills. — digo como se fosse mesmo necessário me apresentar. Em seguida, me afasto, olho para ela e para Clint e questiono com um sorriso: — E este casório? Sai ou não sai?

Automaticamente, Natasha olha para Thor e para Bruce como se perguntasse aos dois, que me conhecem há mais tempo, do que diabos eu estou falando. Então, os poupando de tal trabalho, me volto para Clint e questiono em tom divertido e indignado ao mesmo tempo:

— O que diabos você está esperando para pedir a mão da Lady Marian, Robin Hood? — o casal troca um olhar confuso novamente e antes que eles sequer pensem no que responder, eu digo: — Olha, eu já vou avisando que quero ser a madrinha, hein? E o Capitão América pode ser o meu par. — subitamente, uma ideia maravilhosa surge em minha mente e eu não resisto: — Melhor! Nós podíamos fazer um casamento duplo! Se vocês não se importarem em dividir as atenções e a festança, é claro.

Percebo que o Gavião Arqueiro luta para conter um riso e vejo a Viúva Negra arqueando as sobrancelhas quando fala:

— Engraçado... O Steve não me disse que tinha ficado noivo.

— É porque ele ainda não sabe disso, bobinha. — esclareço aos risos, mas então percebo que Natasha estava sendo irônica porque, obviamente, eu e o Capitão Gato América ainda não temos nada um com o outro. Ainda. Então, depois de pigarrear, eu explico seriamente: — Eu vou conquistar aquele velhote sarado. Vocês vão ver. Ele não vai resistir ao charme avassalador de Olivia Mills!

Vejo um leve e contido sorriso surgindo no rosto de Romanoff, quando ela olha para o seu amigo verdejante e fala:

— Bruce, você não estava mentindo quando disse que a Olivia era bem... Espirituosa.

Olho na direção do Incrível Hulk e só então percebo que ele também está sorrindo de uma forma contida, tentando controlar a vontade de rir. Ao olhar para o Deus do Trovão, vejo que ele está na mesma situação.

Honestamente, eu não sei o que foi que eu falei de tão engraçado para os Vingadores ali presentes estarem contorcendo seus pâncreas daquele jeito, afinal eu e o Capitão América somos mesmo perfeitos um para o outro e só sendo muito cego para não perceber algo tão óbvio. Sendo assim, decido não ficar magoada com a reação dos meus amigos. Ao invés disso, me aproximo do Bruce, dou um leve soco no seu ombro e exponho profundamente agradecida:

— Ai que bonitinho! Você falou bem de mim para a sua amiga, foi? Bruce Banner, está para nascer criatura mais fofa neste planeta do que você. — porém, ao me lembrar de uma coisa importante e que me deixou intrigada, acrescento um pouco ressentida: — Mas não pense que eu me esqueci de ontem à noite não, viu? Onde diabos você se meteu? Por um momento, eu cheguei a pensar que você só fosse aparecer no meu velório.

Minha crítica surte efeito imediato, já que Bruce assume uma postura mais séria e finalmente explica o chá de sumiço da noite anterior:

— Eu estava por perto, Olivia, como prometi que estaria, mas... Bem, eu achei melhor deixar que o Clint e a Natasha acompanhassem a situação mais de perto, enquanto eu fiquei vigiando tudo do lado de fora.

— Mas por quê? Por acaso, você não achou o Inferno divertido? — essas perguntas praticamente escapam da minha garganta sem que eu pense muito bem em como a última soou esquisita e engraçada.

Bruce parece ter achado o mesmo que eu, mas depois de entender que eu me referi ao nome da boate, ele responde um tanto hesitante:

— Bem, é que se o... Outro cara precisasse vir à tona naquele ambiente fechado e cheio de pessoas... Poderia ser desastroso.

Demoro alguns instantes para entender o que ele quis dizer com "o outro cara" e quando finalmente percebo que Bruce chama a sua versão verde e jumbo size deste jeito, me sinto péssima por ter sugerido que ele fosse naquela boate claustrofóbica.

— Desculpe, eu nem pensei por este lado. — lamento cheia de culpa e me sentindo um ser humano horrível.

— Está tudo bem. — Bruce me tranquiliza com um sorriso gentil e um olhar apaziguador.

Fofo! Fofo! Fofo! Tenho vontade de colocar este verdadeiro gentleman no meu colinho e fazer cafuné nele até o fim dos tempos!

Mas, como sei que isso seria um pouco constrangedor e inapropriado da minha parte, — afinal estou praticamente casada com o Capitão América — apenas lhe lanço um sorriso bem meigo e agradeço com um meneio de cabeça.

Em seguida, caminho na direção do Deus do Trovão, dou um leve soco no ombro dele também e finalmente o cumprimento empolgada:

— Poderoso Thor! Você pelas bandas deste Reino de novo! Quanta honra!

— Olivia. É muito bom rever você. — ele retribui o cumprimento prontamente e sorri de um jeito... Lindo.

Como resistir ao sorriso do Thor, minha gente? Não tem como, me desculpem.

E meu futuro marido que me desculpe também, mas eu preciso tirar uma casquinha deste bofe estelar. Sem segundas intenções, é claro. Só na amizade e na inocência. Juro juradinho.

Pensando assim, pergunto na maior cara de pau:

— Levando em consideração que o seu irmão está bem instalado no meu cafofo e que eu e você viramos praticamente Best Friends Forever por causa daquele estrupício, será que eu posso te dar um abraço?

Sinto que peguei o top model asgardiano de surpresa e, com medo de ser deixada no vácuo, faço a minha melhor carinha do Gato de Botas, lançando um olhar meigo e pedinte em sua direção.

O resultado é quase imediato. A hesitação dá lugar a um largo — e lindo — sorriso e o Deus do Trovão abre seus braços... Musculosos, fortes e viris.

Sem pensar duas vezes, me lanço em seu corpinho e o abraço calorosamente. Mas na amizade e na inocência, é claro.

Enquanto o apalpo — na amizade e na inocência, só reforçando — uma observação escapa do meu ser:

— Meu Deus! Como você é fortinho! Jane Foster está bem servida, hein?

— Ãn... Obrigado, eu acho. — Thor agradece e noto que consegui deixá-lo sem graça.

Me sentindo culpada e uma verdadeira vaca, me desvencilho do seu abraço e sorrio para dissipar o constrangimento que agora é mútuo. Na sequência, sentindo que tenho que dizer alguma coisa rapidamente, olho para os quatro heróis e recomeço:

— Então, a que devo a honra de poder me reunir com personalidades tão ilustres em um beco tão aconchegante?

Depois de levar alguns segundos para processar a minha elaborada e rebuscada pergunta, Clint volta a se manifestar:

— Em primeiro lugar, nós queríamos dizer que você se saiu muito bem ontem à noite com o Loki.

Na sequência, Thor acrescenta:

— E que tem se saído muito bem em sua missão como um todo.

Fico um tanto surpresa com tal reconhecimento, mas profundamente agradecida, afinal, do meu jeitinho, eu tenho me esforçado bastante para ajudá-los naquela missão impossível, principalmente para ajudar o Deus do Trovão que é o maior interessado nessa história e que me colocou nesta furada.

— E em segundo lugar...? — eu os incentivo tomada pela curiosidade.

Os quatro se entreolham novamente, até que Thor, visivelmente intrigado, pergunta:

— Você consegue mesmo ver o Loki como ele é? Eu quero dizer, apesar do bracelete dizer que você não deveria?

— Como você sabe disso? — rebato tomada pela surpresa, porém acabo deduzindo a resposta no instante seguinte: — Oh! Certo, a rádio patroa! Foi o fofoqueiro do Heimdall que te contou tudo, não foi? — percebo certa confusão no rostinho angelical do Thor e conserto imediatamente: — Eu quero dizer... O sentinela asgardiano super profissional e prestativo que tem vigiado a mim e ao gafanhoto nos últimos dias. — antes que o Deus do Trovão confirme o meu palpite, exponho surpresa: — Quer dizer que além de ver tudo o que se passa nos Nove Reinos, o Heimdall tem ouvidos bem apurados também? Ele ouviu a minha conversa com o Loki na boate? Meu Deus... Eu estou me sentindo em um reality show. Big Brother Midgard. — Thor abre a boca para se manifestar, porém mais uma vez eu não lhe dou chance de dizer nada e indago um tanto incomodada: — Ei! Por acaso o tarado do Heimdall não fica me espiando quando eu estou tomando banho não, né? — Thor franze o cenho, visivelmente surpreso com o meu questionamento. — O que foi? Ele me espiona até no banheiro?! — insisto temerosa e roendo as unhas.

Como se me pedisse gentilmente para eu calar a boca por alguns instantes, Thor ergue suas mãos na altura do peito e finalmente consegue se pronunciar:

— O Heimdall é capaz de ouvir até mesmo a grama que cresce em Asgard, então sim, ele ouviu a sua conversa com o Loki na boate. Mas não, ele não te espiona quando você está tomando banho, Olivia. Não se preocupe.

Respiro aliviada, relaxo imediatamente e chego a uma conclusão surpreendente. Eu estava mais preocupada com a possibilidade do fofoqueiro asgardiano ter me visto tomando meu antidepressivo aquela manhã, do que por ele ter me visto como eu vim ao mundo. Não quero que ele e, consequentemente, os Vingadores descubram que eu tenho certos problemas com os quais não consigo lidar sozinha.

Enquanto penso nisso, Thor retoma o assunto:

— Então você vê mesmo a verdadeira aparência do Loki?

Sem entender qual é a importância daquilo encaro o Deus do Trovão e, na sequência, olho para os outros heróis ali. Então percebo pelas suas expressões intrigadas que eles acham que tem alguma coisa errada comigo.

Incomodada com aquela situação, me dirijo aos quatro:

— Vocês não conseguem ver o gafanhoto como ele é?

— Apenas o Thor consegue. — Bruce responde, enquanto os outros assimilam o apelido carinhoso que dei para o Loki.

Em seguida, o Deus do Trovão explica melhor:

— O Heimdall me contou sobre a mensagem que a minha mãe deixou através do bracelete. E ela foi bem clara, Olivia. Midgardianos não deveriam ver a verdadeira aparência do Loki. A não ser que ele tente enganar alguém deste Reino, é claro. E o meu irmão pode ser um grande trapaceiro, mas até agora, ele tem se mostrado sincero com você.

Tenho que dar o braço a torcer e concordar com a coisa fofa do Thor. Também sinto que o gafanhoto tem mesmo sido sincero comigo. Principalmente, em suas inúmeras demonstrações de desprezo. Loki não faz a mínima questão de esconder o quanto está insatisfeito com esta situação e com a minha companhia. Além disso, nesta manhã, ele me contou tudo sobre a sua vida. E eu também senti que ele foi sincero nesta parte. Ele manteve certo distanciamento, é claro, mas pareceu honesto em seu relato megalomaníaco.

O fato de eu conseguir enxergar a sua verdadeira aparência também me deixa intrigada, mas não acho que seja algo que requer tanta atenção assim. Ou é?

Não, não é. Principalmente se pensarmos que talvez Frigga tenha aberto uma exceção para aqueles que se dispuserem a ajudar o seu filho. E como eu sou a única pessoa maluca que se habilitou, talvez eu possa vê-lo com sua aparência asgardiana por causa disso.

Sentindo que esta é uma explicação um pouco fraca e que os Vingadores ali parecem pensar outra coisa, murmuro confusa:

— Eu não estou entendendo... Onde vocês querem chegar com essa conversa?

Eles trocam um olhar cúmplice, até que Thor me encara e indaga seriamente:

— Olivia, o que você sabe sobre a sua família?

Fico tensa imediatamente já que o deus asgardiano acabou de tocar no assuntoproibido. Sinto meus pulmões se fecharem e é como se eu estivesse me afogando por um instante.

Em seguida, faço um esforço para que Thor não perceba que tocou no meu ponto fraco, finalmente entendo o que ele quis insinuar com aquela pergunta e respondo rapidamente:

— Que a minha avó é de Midgard. Eu tenho certeza.

— Mas e os seus pais? Onde eles estão? — o Deus do Trovão pergunta, talvez intrigado por eu ter resumido a minha família apenas à minha avó.

Respiro fundo enquanto o meu coração acelera devido às lembranças e sensações dolorosas que o assunto proibido me remete. Olho tudo em volta e o beco parece girar por alguns instantes. Engulo em seco e faço um esforço para conseguir responder:

— Mortos.

Silêncio. Olhares piedosos. Constrangimento. Dor. Me sinto sufocada.

— Eu sinto muito. — Thor lamenta com uma expressão triste e acolhedora. Tudo o que consigo fazer é assentir com um meneio de cabeça. — Mas eles também eram daqui, certo? — pergunta na sequência.

Se eu não estivesse tão tensa, com certeza estaria rindo do fato do Thor ter sugerido que eu posso ser alienígena, como ele e o Loki de fato são.

— Claro. — respondo incapaz de dizer mais do que isso.

Novo silêncio. Aterrador. Sufocante. O assunto proibido me consome. Lembranças dolorosas me consomem. Estou me afogando de novo.

— Olivia, você está bem? — ouço a voz de Bruce ao meu lado e sinto quando ele segura em meu braço gentilmente. — Você está pálida.

Tenho que fazer um grande esforço para enterrar certas lembranças dentro de mim e me recompor, e em dado momento, finalmente consigo.

Bruce parece perceber que estou melhor porque solta o meu braço lentamente. Mas, assim como os outros, continua me encarando como se eu fosse desmaiar a qualquer momento.

— Eu estou bem. Só não gosto de falar sobre... A minha família. — respondo meio engasgada com as palavras, enquanto procuro me estabilizar de vez. Consigo e rapidamente mudo de assunto: — Bem, honestamente eu também não sei explicar por que eu consigo ver o Loki exatamente como ele é, mas isso é realmente importante? — antes que qualquer um deles responda, eu me antecipo: — Não. Aliás, a única coisa que importa nesta história é o Loki. Ele é o problema a ser resolvido e não eu.

— Eu não quis dizer que você é um problema, Olivia. Ou que tem algum problema. — Thor afirma, visivelmente culpado por eu ter pensado algo assim. — Eu só achei... Curioso.

— Eu sei, eu sei. É bem curioso mesmo, mas é só isso. Só curioso. — digo às pressas, tentando encerrar o assunto de uma vez por todas. — Vocês querem me falar mais alguma coisa? — me dirijo aos quatro do jeito mais natural que consigo. — Porque eu tenho que fazer umas comprinhas antes de voltar para o meu cafofo, para despistar o Loki, então...

Novamente os heróis trocam um olhar cúmplice e, por fim, Thor se pronuncia:

— Não, era só isso.

Não quero que pareça que eu estou fugindo, mas ainda estou com medo que oassunto proibido venha à tona de novo. Por isso, antes de girar nos calcanhares e caminhar em direção à saída do beco, encerro rapidamente e com um sorriso forçado:

— Okay, então a gente se vê por aí, pessoal! Vão pela sombra e cuidado com os malfeitores e malfeitoras, hein?

Juro que posso sentir seus olhares me seguindo com certa preocupação e até piedade, mas me recuso a olhar para trás. Não quero que nenhum deles veja que os meus olhos estão relativamente úmidos e vermelhos. Não quero que sintam pena de mim e não quero falar sobre o maldito assunto proibido!

Sendo assim, continuo caminhando apressada e não olho para trás, nem mesmo quando Thor grita:

— Boa sorte com o meu irmão! E obrigado, Olivia!

Apenas aceno e continuo andando até que finalmente saio do beco, me apoio na parede do restaurante chinês e respiro fundo várias vezes.

A tensão ainda está presente em cada terminação nervosa do meu corpo e de minha mente, me sufocando e fazendo um vazio se alastrar dentro de mim, especialmente no meu peito que parece ficar mais apertado a cada instante.

Me obrigo a sair dali imediatamente, antes que algum dos Vingadores venha atrás de mim. Então eu sigo pela calçada com passos largos.

E eu odeio admitir isso, mas a única solução que encontro para me acalmar e parar de pensar no assunto proibido é pensando no Loki. Então, me concentro nele, no seu problema, na sua atual situação, na minha missão, nas doses diárias de aprendizado que ele precisa para se tornar um pouquinho menos maquiavélico e, aos poucos, vou me desligando dos meus próprios problemas e traumas.

Já nem estou pensando mais em mim — apenas no gafanhoto — quando paro em frente a uma loja de roupas masculinas. Imediatamente, meus olhos se concentram nas roupas elegantes de um dos manequins da vitrine e imagino o gafanhoto dentro delas.

Não é justo que só eu veja o Loki com sua fantasia de cosplay, enquanto todos à minha volta enxergam uma versão midgardiana desprezível do infeliz, não é mesmo?

Por isso, sorrio com a possibilidade de criar a minha própria versão do dito cujo. Ou várias, afinal, se o Loki vai passar algum tempo neste Reino, ele não pode ter só aquela roupa do manequim. Ele vai precisar de mais...

Fico ainda mais animada, quando percebo que renovar o guarda-roupa do Loki — hoje limitado àquela roupa esverdeada e cafona — vai me ajudar a ensinar mais uma lição para ele. Por tudo isso, respiro fundo, sorrio e entro na loja disposta a gastar horrores.

Algum tempo depois, saio carregada de sacolas, rindo de mim mesma porque até cueca maneira eu comprei para aquele ser desprezível.

E o pior não é isso, o pior é que antes de voltar para o meu cafofo, resolvo passar em uma farmácia e comprar alguns itens de higiene pessoal também. Afinal nem pensar que eu vou deixar aquele energúmeno usar o meu shampoo Johnson chega de lágrimas, muito menos a minha escova de dente.... Cruzes! Deus me livre de tal desgraça! Eca! Eca! Eca!

Sei que pode parecer loucura, afinal o gafanhoto não merece que eu gaste o meu dinheirinho com ele, mas tenho que admitir que fazer tais compras estão me ajudando a manter o assunto proibido bem enterrado em minha mente. Foi como eu pensei nesta manhã, a presença do Loki tem um lado positivo. A missão de ajudá-lo me distrai bastante. De alguma forma, aquele traste está me ajudando também.

Mais tarde...

Se arrependimento matasse, eu estaria morta, cremada e minhas cinzas estariam espalhadas pela praia de Acapulco neste exato momento.

A cara de desgosto do Deus da Trapaça enquanto examina, com desprezo, as roupas e outras coisinhas que eu — em um momento de insanidade — resolvi comprar para ele me deixa profundamente irritada.

Ah! E só para constar, adivinha quem não lavou a louça? O próprio.

Quando cheguei no meu cafofo há poucos minutos, encontrei o gafanhoto asgardiano bem esparramado no meu sofá, olhando para o teto e com os braços cruzados.

Pelo visto, o Loki vai dar mais trabalho do que eu havia imaginado. Mas, se ele pensa que se recusar a seguir as minhas orientações vai me fazer desistir, ele está muito enganado. Aquela louça será lavada hoje e por ele, ou eu não me chamo Olivia Mills!

Ainda estou pensando nisso, quando aquele ser superior e insuportável ergue o seu olhar na minha direção e indaga:

— Por que você comprou todas essas... Porcarias para mim?

Se olhar matasse, o Deus da Trapaça estaria morto e enterrado neste exato momento.

— É uma ótima pergunta. — eu admito, arrependida por ter estourado o limite do meu cartão de crédito com aquela gentalha. — O fato é que eu comprei e agora você vai me agradecer por ter sido tão gentil. — digo na sequência, afinal não adianta chorar pelo leite derramado. O rombo no orçamento está feito e agora o mínimo que eu mereço é um "muito obrigado."

Loki ri. Gargalha e ainda está rindo, quando retruca:

— Eu admito, passar essa temporada em Midgard tem sido muito divertido. O seu senso de humor é... Surreal, midgardiana tola.

Lhe lanço um sorriso amarelo, enquanto sinto o meu sangue ferver, e replico de um jeito ameaçador:

— Acredite, se você não demonstrar um pouquinho que seja de gratidão, essa sua temporada em Midgard vai acabar virando algo permanente. Só que, neste caso, você terá que arranjar outra midgardiana com um senso de humor surreal para te dar abrigo.

Quase imediatamente, Loki para de rir e, aos poucos, ele vai ficando mais sério enquanto me encara de um jeito nada meigo.

Por fim, ele olha para as compras espalhadas no sofá, dá de ombros e argumenta:

— Eu não pedi nada disso.

— Exato. Você não pediu. Por isso, eu acho que você deveria me agradecer em dobro. Talvez até de joelhos por eu ter sido tão gentil e prestativa. — articulo, arqueando as sobrancelhas.

O deus trapaceiro volta a rir e responde com deboche:

— Vai sonhando. — e depois de pegar algumas cuecas no meio das compras, ele diz: — Você é tão imprestável que ainda por cima comprou errado.

Franzo o cenho surpresa e ofendida, e automaticamente questiono:

— Como assim eu comprei errado? Por acaso Vossa Majestade não gostou das cores que eu escolhi?

— Não, midgardiana insolente, o que acontece é que você errou o tamanho. — Loki explica, mas é como se tivesse falado grego comigo. — Vão ficar... Apertadas. — ele esclarece, talvez por ter percebido a minha confusão.

Apertadas? As cuecas maneiras que eu comprei para o gafanhoto vão ficar apertadas nele? Como assim?

Sinto o meu rosto ruborizando quando finalmente entendo o que aquilo significa. Sem querer, acabo direcionando o meu olhar para uma área específica do corpo do dito cujo e isso faz o meu rosto queimar ainda mais. Quando me obrigo a erguer a cabeça, encontro o seu olhar sobre mim e um sorriso displicente no canto de seus lábios.

— Agora você entendeu. — ele constata, me deixando ainda mais constrangida.

Espera aí! Por que eu estou tão constrangida mesmo? É do gafanhoto insuportável que nós estamos falando e ele ser bem dotado ou não, não muda absolutamente nada para mim. Preciso deixar isso bem claro e, sendo assim, resolvo levar a conversa na brincadeira:

— Humm... Quer dizer que a mãe natureza foi generosa com você, é?

Seu sorriso displicente se expande um pouco, quando ele me encara de um jeito... Indecifrável e rebate:

— Você não faz ideia do quanto.

Sinto o meu rosto ruborizando ainda mais e engulo em seco. Sem perceber, acabo olhando naquela maldita direção de novo. E quando percebo isso, fico ainda mais sem graça.

Rapidamente, pego as cuecas que Loki segurava até então, coloco tudo dentro de uma das sacolas e me afasto aos tropeços, dizendo:

— Tudo bem, eu vou trocar por um número maior.

Paro diante da porta e a abro, ainda sentindo o meu rosto queimar e um nervosismo inexplicável. Não tenho ideia do porquê estou me sentindo tão desconfortável com aquela situação boba, mas por algum motivo não consigo me controlar.

— Olivia.

É a primeira vez que ouço o Deus da Trapaça me chamando pelo meu nome e isso me deixa surpresa. Tão surpresa que o meu coração dispara de um jeito engraçado e meu corpo se arrepia.

Tento controlar uma nova onda de nervosismo, quando me viro e olho em sua direção, retribuindo:

— Loki?

Com um sorriso cretino nos lábios, ele insinua:

— Um número maior também não vai servir.

Engulo em seco novamente e deixo o apartamento para trás antes que meu olhar recaia sobre os "Países Baixos" do Loki novamente.

Pelas barbas do Profeta! O que diabos aconteceu comigo para ficar tão sem graça diante daquele gafanhoto prepotente?

Mas... Será que ele é bem dotado mesmo?

É o que me pergunto quando entro no elevador, aperto o botão do térreo e a porta se fecha diante dos meus olhos. Me apoio no fundo da cabine, fecho os olhos por um instante e sacudo a cabeça para afastar tal pensamento. Aos poucos, retomo a lucidez.

Então, me convenço de que o meu dia não está sendo muito fácil e que a conversa com os Vingadores abalou um pouco a minha sanidade. Muito, na verdade. Por isso estou agindo de um jeito mais insano do que o habitual.

Sendo assim, respiro fundo e resolvo esquecer a brincadeirinha sem graça do Deus da Trapaça.

A porta do elevador se abre e logo eu deixo o prédio.

 


Notas Finais


Pequenas ressalvinhas:

Heimdall, de acordo com a mitologia nórdica, possui não só uma visão hiper potente, mas também uma audição hiper aguçada. E, de acordo com uma HQ que uma amiga minha leu, o Thor menciona que o Heimdall é capaz de ouvir até a grama crescendo em Asgard. Por tudo isso, ele ganhou mais um apelido da Olivia: a rádio patroa kkkkkkkk

Sobre o termo "cueca maneira", eu me inspirei (pasmem) no casal Olavo (Wagner Moura) e Bebel (Camila Pitanga), da novela Paraíso Tropical. Era assim que a Bebel se referia as peças íntimas do Olavo. Eu adorava esta novela só por causa deste casal. Me julguem.

Como vocês devem ter percebido, a Olivia ficou beeeeeeeem desconcertada diante do Lokito bem dotado e anda pensando muito nele, para mascarar os próprios traumas.

Por falar em traumas, o assunto proibido está relacionado a família da moçoila. Mais explicações futuramente...

E esse lance do Loki chamar a moçoila pelo seu nome mesmo? Será que significa alguma coisa? Uma sútil mudança na forma como ele vê a Olivia? Ou uma simples provocação? As duas coisas? Maybe.

Sobre as referências do melhor seriado cômico do mundo (Chaves) que eu ando colocando na fic (como gentalha e Acapulco, por exemplo), me inspiro muito nesta fic: http://fanfiction.com.br/historia/455423/Ceticismo_e_Euforia/
Mas juro, juradinho, que não é plágio. É só uma fonte de inspiração mesmo.

Assim como eu me inspirei muito na personagem Jessica Wally, criada pela minha mishamiga Hunter Debora Jones (http://fanfiction.com.br/historia/556845/Perpetuas_Mudancas/) para criar a Olivia.

Well, gostaram do capítulo? Gostaram dos quatro Vingadores com a Olivia? Gostaram da Olivia tirando uma casquinha do Thor só na amizade e na inocência? Gostaram do Bruce fofo? Gostaram da participação maior da Viúva Negra e do Gavião Arqueiro? E dos apelidos que a Olivia deu para os dois? kkkkk

Well, eu amei e me diverti muito escrevendo essas coisas. Espero que tenham se divertido também.

Agora será que o Loki vai lavar a louça ou não? E ele vai agradecer as roupinhas que a Olivia comprou para ele? Humm... Aguardem os próximos capítulos!


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