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História Trapaças do Destino - O dia seguinte


Escrita por: HunterPriRosen

Notas do Autor


Olás!

Desculpem pela demora, chuchus! Mas antes tarde do que mais tarde, né?

Obrigada aos novos leitores, favoritos, pelos comentários no capítulo anterior, pelos votos de parabéns, por tudinho mesmo.

Boa leitura e não me matem.

Capítulo 34 - O dia seguinte


O mundo dá voltas. É o que dizem. Mas se alguém me dissesse que o meu mundo daria tantas voltas, em tão pouco tempo, e que eu acabaria nua em uma cama com Loki, certamente eu discordaria com um sonoro e resoluto nem a pau, Juvenal!

E no entanto, aqui estou eu. Em Asgard, no palácio, em meu quarto, sobre uma cama desarrumada que só pelas barbas do profeta não veio abaixo durante esta madrugada.

Ela deve ser bem resistente, por sinal...

A propósito, eu devo ter desmaiado de exaustão em algum momento porque não me lembro quando o trapaceiro irresistível e eu finalmente paramos com as estripulias, travessuras e saliências. Lê-se: com a pegação nervosa.

Tampouco me lembro de quando exatamente peguei no sono. Todavia, nada disso importa agora. A única coisa que importa realmente é que esta noite foi real e mágica ao mesmo tempo. Ah! E claro, muito proveitosa. Se é que vocês me entendem. Rá!

Um riso baixo escapa da minha garganta ao pensar nisso, me despertando por completo, embora eu ainda esteja mantendo os meus olhos fechados por pura preguiça.

Depois de me esticar um pouco e sorrir, rolo na cama à procura do gafanhoto safadinho e insaciável que me deu uma senhora canseira esta noite, mas tudo o que minhas mãos espalmam é um lugar vazio ao meu lado.

Confusa, abro os meus olhos e dou uma boa examinada na cama só por garantia, mas o gafanhoto asgardiano realmente não está aqui.

Sento-me, depois de me enrolar com o lençol, e dou uma olhada pelo quarto. Nem sinal do deus trapaceiro.

Com isso, uma pontinha de frustração surge em minha mente, mas logo me convenço de que Loki deve ter acordado antes de mim e saído por algum motivo qualquer.

Talvez ele queira me dar um pouco de privacidade. Talvez precise de um tempo sozinho, afinal, por mais que tenha decidido deixar as coisas acontecerem entre nós, isso ainda deve ser difícil para o dito cujo. Ou talvez... Loki tenha se arrependido.

Fecho os olhos e balanço a cabeça negativamente, afastando este último pensamento. Repito para mim mesma que estou sendo paranoica, que o gafanhoto não se arrependeu coisa nenhuma e que está tudo bem.

Entretanto, sabendo que só vou me convencer disso quando falar com o traste, abro os olhos e me levanto da cama rapidamente.

Obrigo-me a tomar um banho antes e coloco um vestido asgardiano amarelinho e super fofo, pois não quero parecer uma mulherzinha desesperada por atenção, correndo pelo palácio, enrolada em um lençol, procurando pelo seu boy magia.

Não quero estragar tudo. Mesmo porque, desta vez, é diferente. Desta vez, é real. Desta vez, eu realmente encontrei a tampa da minha panelinha.

Não é a tampa ideal, é verdade. Não é a tampa perfeita com a qual eu sonhei, mas é a minha tampa. E a única tampa que eu quero.

Sorrio ao refletir sobre isso, tranquilizo o meu coraçãozinho midgardiano e suspiro inevitavelmente, antes de deixar o quarto para trás e alcançar o corredor.

Caminho lentamente por ele, tentando conter certa ansiedade dentro de mim. Cumprimento alguns guardas do palácio durante o percurso, numa tentativa de relaxar um pouco, me distrair com alguma coisa e controlar o ímpeto de fazer aquilo que realmente quero fazer.

O que seria isso? Correr até o quarto de Loki como uma gazela saltitante, óbvio.

Contudo, como eu mencionei antes, não quero parecer uma desesperada.

Por mais que eu e o trapaceiro irresistível tenhamos dado um passo importante esta noite, não quero dar esse gostinho a ele. O dito cujo não precisa saber que mexe tanto assim comigo, a ponto de me fazer agir como uma adolescente apaixonada e impulsiva.

Estou repetindo isso para mim mesma, tentando ouvir apenas a voz da razão, mas em dado momento não consigo mais. O coração fala mais alto e eu sorrio antes de começar a correr em disparada rumo ao quarto do Deus da Trapaça. Me julguem!

Alcanço o corredor que leva aos seus aposentos, mas esbarro em uma... Muralha, eu acho, solto um grito de susto, me desequilibro e, quando dou por mim, já caí de bunda no chão.

— Ai! Quem se atreve a atropelar Olivia Mills? — reclamo com um gemido, enquanto me certifico de que meus ossinhos estão em seus devidos lugares.

— Olivia! — a muralha... Digo, Thor exclama, visivelmente sem graça. — Desculpe, eu não vi você se aproximando — lamenta, dando um passo em minha direção e me estendendo sua mão que eu seguro prontamente. — Está tudo bem? Eu te machuquei? — indaga preocupado, enquanto eu me levanto.

— Eu estou bem, não foi nada — o tranquilizo, embora a minha vontade seja de perguntar se ele não olha por onde anda e pisar no seu pé com bastante força, como forma de revanche.

Mas isso seria bem infantil da minha parte, então me controlo, solto a sua mão e me recomponho.

— Por que você estava correndo? — o top model asgardiano questiona em seguida.

Engulo em seco imediatamente, endireito o corpo, olho para os lados, procurando uma forma de me explicar, mas no fim das contas, resolvo desconversar:

— Correndo? Eu? Quem disse que eu estava correndo, cara pálida?

Thor franze o cenho, visivelmente incrédulo, me analisa por alguns instantes e insiste:

— Você não estava? Porque foi o que me pareceu, vendo deste ângulo.

Balanço a cabeça negativamente e faço uma cara de desentendida, até que o Deus do Trovão parece se dar por vencido e muda de assunto:

— Ah... Por acaso, você viu Loki por aí?

É inevitável, meu rosto enrubesce ao ouvir tal pergunta, afinal respondê-la afirmativamente levaria Thor a fazer mais perguntas, unir os pontos e deduzir o que aconteceu entre mim e o trapaceiro.

Não tenho nada a esconder. Mais cedo ou mais tarde, nossa impensada relação não será segredo para ninguém mesmo. Entretanto, por ora, quero me preservar e, por isso, me faço de desentendida:

 — Que Loki?

Thor franze o cenho e eu me xingo mentalmente por subestimar a sua inteligência desta forma e soar tão culpada. É claro que eu não posso fingir que não sei de quem ele está falando. Tal postura só me entrega ainda mais.

Sendo assim, solto uma risada leve, deixando claro que eu só estava brincando, pigarreio para conter certo nervosismo e replico:

— Não, eu não vi nenhum cosplay de gafanhoto por aí. Por quê?

Thor desvia do meu olhar e fica pensativo por alguns instantes. Logo depois, ele murmura para si mesmo:

— Você era a minha última esperança, mas se você não sabe onde Loki está, então é mesmo verdade...

Sinto certo aperto em meu peito e uma pontinha de preocupação surge em um lugar remoto de minha mente. Procuro disfarçar o quanto fiquei mexida e pergunto fingindo indiferença:

— O que o infeliz aprontou desta vez?

O Deus do Trovão volta a me fitar e parece confuso quando explica:

— Meu irmão não está no quarto dele. Nem em parte alguma do palácio ou de Asgard. Você não o viu, ninguém o viu nas últimas horas, então...

Horas? Por quanto tempo será que eu dormi, minha gente? Devo ter apagado por um dia inteiro, pelo visto. O que é totalmente compreensível, considerando o fato de que o ritmo daquele tarado insaciável me deixou morta e jogada na Bifröst.

Estou pensando nisso, quando me atento à informação principal implícita nas palavras do top model asgardiano e sibilo hesitante:

— Loki... Desapareceu? — E quando noto algo estranho nos olhinhos azuis do deus trovejante, refaço a pergunta um tanto surpresa e incrédula: — Você acha que ele foi... Embora?

— Não — Thor assegura com firmeza, para em seguida ficar pensativo de novo e acrescentar: — Não para sempre, pelo menos. Mas, definitivamente, Loki não está em Asgard no momento. Ele saiu por algum motivo. Para onde foi é um grande mistério.

Sentindo-me meio zonza com tais palavras, pisco algumas vezes, tento controlar certa frustação dentro de mim e retomo:

— Espera... Supondo que o gafanhoto tenha saído por algum motivo, o Rádio Patroa não teria o visto? Não teria que abrir a Bifröst para ele?

— Não necessariamente — Thor responde, me deixando confusa. E ao perceber que eu estou boiando, ele explica melhor: — O meu irmão conhece outros caminhos e atalhos para sair de Asgard. Além disso, graças a sua origem Jotun, ele consegue ficar oculto aos olhos e ouvidos de Heimdall quando quer. É impossível rastreá-lo quando Loki faz isso.

Mais confusa do que nunca, deixo uma pergunta sair de minha garganta:

— Mas por que ele sairia de Asgard assim às escondidas?

— É o que eu estou tentando entender — o top model asgardiano admite, visivelmente preocupado e intrigado ao mesmo tempo. — Tem certeza que você não o viu nas últimas horas?

Engulo em seco e sinto o meu rosto ruborizar novamente. Percebo que Thor entende isso como uma resposta, já que fica um pouco sem graça, mas decide insistir:

— Olivia, eu não quero invadir a sua privacidade, mas isso é muito importante. Então, se você esteve com o meu irmão, se ele te disse alguma coisa, por favor...

Resolvo interromper o Deus do Trovão e solto a primeira coisa que me vem à cabeça:

— Ele não me disse nada!

Não sinto o meu rosto corar de novo, sinto-o queimar e derreter tamanho é o meu constrangimento ao admitir em voz alta que estive com Loki.

Não que eu esteja arrependida disso, mas não posso negar que fiquei abalada pelo trapaceiro irresistível ter ido sumido assim, logo depois de passar a noite comigo, usando e abusando do meu corpinho. E vice-versa, só para constar. Não vou me fazer de santa.

Tenho certeza que Thor entendeu o que minhas palavras significam, pois no mesmo instante, ele desvia do meu olhar, pigarreia um pouco e retoma:

— Você tem certeza que Loki não deu nenhuma pista de para onde iria?

Tal pergunta ressoa em minha mente por algum tempo, enquanto a frustração cresce dentro de mim à medida que começo a chegar a uma conclusão sobre a misteriosa partida do Deus da Trapaça. E não demora muito para que um gosto amargo surja em minha boca junto com uma decepção profunda que deixa o meu coração apertado.

E é inevitável, não me sinto apenas usada, mas extremamente burra também, afinal como eu pude me deixar levar esta noite? Como eu pude me entregar para alguém que, pelo visto, continua em negação? Como eu pude acreditar que Loki estava mesmo comigo? De corpo e alma? Como eu pude achar que ele não fugiria na primeira oportunidade?

É óbvio que Loki continua em negação. É óbvio que é difícil, ou melhor, impossível para ele aceitar o que sente por mim e permitir-se viver esse sentimento.

Tomada pela decepção, me lembro das outras vezes em que o mequetrefe trapaceiro fugiu de mim. Quando voltou para Asgard ao final da minha famigerada missão e depois de ter me agarrado em um beco escuro em Nova York.

Então, o que me levou a pensar que Loki não faria isso de novo? Parece ser a sua marca registrada, afinal.

Burra! Burra! Burra! Tenho vontade de me estapear loucamente por ter sido tão burra, tapada, anta e sentimental! Como eu pude?

— Olivia? — a voz mansa de Thor me desperta de tais pensamentos, mas não afasta a decepção que sinto. — O que aconteceu? — ele pergunta de um jeito gentil e preocupado.

Entretanto, isso apenas me lembra o que Loki aprontou, fazendo uma onda de raiva surgir dentro de mim e se alastrar junto com a decepção.

Sentindo minha visão meio embaçada, pisco algumas vezes, respiro fundo, me recomponho e digo:

— Obrigada pela sua hospitalidade, Thor, mas eu acho que a minha estadia em Asgard chegou ao fim. Agradeça ao Pai de Todos por mim, tudo bem? Eu preciso ir.

Sem esperar resposta, passo por ele e caminho em direção a uma escada que me levará até a saída do palácio.

Prontamente, o top model asgardiano me segue. E enquanto eu luto para conter um nó incômodo em minha garganta, ele articula veementemente:

— Olivia, espere! Como assim, a sua estadia terminou? Você não pode ir embora assim, independentemente do que o meu irmão possa ter feito. Eu preciso da sua ajuda para entender o que aconteceu, para descobrir aonde ele foi, para encontrá-lo.

O sangue ferve em minhas veias e sinto que estou a ponto de explodir quando detenho o passo, me volto na direção do Deus do Trovão e relembro o quanto aquela primeira missão que ele incumbiu a mim me custou.

E eu não quero ser rude ou injusta com Thor, mas estou cansada de tentar ajudar alguém que não quer ser ajudado. Principalmente porque enquanto eu tentava ajudar Loki, me envolvi e me machuquei. De novo e de novo.

Sendo assim, e antes que não reste mais nada para ser partido dentro de mim, resolvo ser firme e virar essa página da minha vida de uma vez por todas:

— Aquele serzinho infeliz e desprezível não é mais problema meu, Thor! Nunca foi. Eu não sei onde eu estava com a minha cabeça quando aceitei aquela maldita missão ou quando vim para cá, mas eu não cometerei o mesmo erro de novo! É como a minha avó dizia, errar é humano, mas persistir no erro é burrice!

Para minha surpresa, o Deus do Trovão protesta com certa cautela:

— Você acha mesmo que tudo foi um erro, Olivia? Que foi burrice se apaixonar e se envolver com o meu irmão?

Rio sem humor diante da sua pergunta óbvia e respondo rispidamente:

— A julgar pelo o que eu estou sentindo agora, sim! Foi um erro! — Respiro fundo para retomar o fôlego e concluo um pouco mais calma, porém profundamente magoada e ferida: — Loki não está em perigo, Thor, ele foi embora porque quis. Porque é um covarde. E enquanto eu estiver aqui, ele continuará longe. Mas quando eu for embora, ele não terá nenhum motivo para não retornar a Asgard. No fim, eu só estou tentando te ajudar a recuperar o seu irmão, como você queria desde o começo.

Sentindo aquele nó em minha garganta novamente, dou as costas para o Deus do Trovão e me ponho em movimento imediatamente.

— Olivia! — ouço-o me chamar, porém ignoro e desço alguns degraus rumo à saída. — Eu sinto muito — ele lamenta e desta vez eu detenho o passo.

Convenço a mim mesma de que Thor não é o culpado desta história toda. Eu sou. Eu me deixei envolver, eu não resisti, eu me apaixonei por aquele traste trapaceiro e meti os pés pelas mãos. Enquanto isso, o Deus do Trovão estava apenas tentando salvar o seu irmão dele mesmo.

Thor pode ter sido imprudente ao me envolver naquela missão maluca, mas suas intenções eram nobres desde o começo. E na medida do possível, ele sempre tentou me proteger e me alertar para o perigo, junto com os demais Vingadores. Eu que fui burra e não dei ouvidos a ninguém.

Sendo assim, olho para trás, encaro o asgardiano loirinho por alguns instantes e encerro a conversa, dizendo simplesmente:

— Eu também.

Depois disso, termino de descer a escada e logo deixo o palácio para trás.

Encontro Sif e Jane durante o percurso até a Bifröst. As duas estavam conversando com alguns guardas — provavelmente buscando alguma pista sobre o paradeiro de Loki —, e quando percebem que eu estou de partida, se aproximam prontamente e tentam me convencer a ficar.

Tudo o que eu faço é abraçar as duas por alguns instantes e pedir para que elas não insistam. Jane e Sif parecem entender que não estou em um bom momento, pois não tentam me impedir de seguir em direção ao Rádio Patroa logo depois.

O Rádio Patroa... Tudo o que eu queria era ser capaz de fazer alguma piadinha neste momento para abalar a sua postura séria.

Contudo, não consigo. Apenas paro diante dele, esperando que, a essa altura do campeonato, o sentinela apenas abra o diacho da Bifröst para mim e me leve de volta ao meu cafofo.

Só quero esquecer tudo o que vivi neste lugar. Só quero esquecer tudo e recomeçar, no meu mundo, na minha cidade, como se Loki nunca tivesse aparecido em minha vida. Só quero esquecê-lo.

— Loki vai voltar — a voz mecânica e grave do Rádio Patroa me desperta de tais pensamentos e eu o encaro com a visão meio turva.

— Eu sei — assinto.

— E irá atrás de você novamente — Heimdall diz com firmeza.

O encaro com certo carinho, afinal não posso negar que gosto muito deste bisbilhoteiro alienígena e fã de dourado. Entretanto, sei que ele só está dizendo isso para me agradar ou para me fazer ver as coisas de outra forma, com otimismo talvez.

Mas como sei que otimismo não tem vez neste caso, retruco:

— Não, Loki não virá atrás de mim. Mas de qualquer forma, obrigada pelo apoio a... Lokivia. Eu acho.

Sinto-me uma idiota falando assim e balanço a cabeça negativamente. Em seguida, endireito o corpo, esperando que Heimdall finalmente me mande de volta. E estou quase batendo os calcanhares três vezes só para ver se a tática da Dorothy, de O Mágico de Oz, funcionaria comigo, quando o sentinela movimenta a enorme espada dourada junto ao chão e encerra de um jeito emblemático:

— Acredite em mim quando eu digo isso, Olivia Mills. Ele irá.

Franzo o cenho ao mesmo tempo em que luzes coloridas me envolvem e puxam o meu corpo para cima com uma força descomunal.

XXX

Instantes depois, estou de volta ao terraço do meu prédio. Uma manhã ensolarada se estende a minha volta e as palavras do Rádio Patroa ainda ecoam em meus ouvidos.

Não acredito que ele saiba de alguma coisa sobre o desaparecimento daquele traste, mas com certeza tem mais fé em mim e em Loki do que nós mesmos. E isso é estranho. Não esperava que o sentinela shippasse tanto assim. Vai entender...

Sentindo um vazio dentro de mim e aquele maldito nó na garganta, caminho até a porta do terraço e acesso as escadas. Logo estou no meu cafofo e, embora a minha vontade seja de me entregar ao pranto de uma vez, engulo a vontade de chorar e repito para mim mesma que Loki não merece uma lágrima sequer.

Queria poder dizer que é somente por orgulho que não vou chorar, mas a verdade é que, agora que a raiva e a decepção inicial passaram um pouco, começo a questionar minha decisão de voltar para a Terra assim, de repente, não mais que de repente.

Uma parte de mim se pergunta se, por acaso, eu não agi precipitadamente. E se eu estiver julgando mal o gafanhoto? E se ele teve um bom motivo para sair de Asgard sem avisar nada? E se ele estiver prestes a voltar para lá? Como vai reagir quando souber que eu fui embora? O que vai pensar? Será que eu estraguei tudo?

Fecho os olhos por um instante, balanço a cabeça negativamente, abro os olhos novamente e caminho até o meu quarto enquanto me convenço de que só estou tentando manter a esperança, quando eu deveria aceitar que Loki fugiu de mim de novo. É isso. Simples assim.

Deito-me em minha cama, abraço o travesseiro e fico pensando na morte da bezerra por algum tempo.

Mentira. Fico pensando em Loki mesmo. E com isso, a mágoa volta a se abater sobre mim.

Não acredito que fui tão burra. Não acredito que entreguei meu corpo e meu coração para aquele estrupício e ele simplesmente foi embora no dia seguinte.

— Burra! Burra! Burra! — me xingo, sentando na cama e dando uns bons tapas na minha cara. — Ai! — um deles doeu de verdade e eu massageio a região com cuidado.

Logo depois, tenho um sobressalto quando a campainha toca. Ótimo. Era só o que me faltava. Visita. Mal voltei e já vou ter que fazer sala para algum desocupado. Espero que não seja nenhuma testemunha de Jeová.

Meu mau humor passa um pouco e meu coração acelera assim que uma possibilidade surge em meu pensamento. Será que é o gafanhoto asgardiano? Será que ele voltou para Asgard, viu que eu não estava lá e então veio à minha procura? Tão rápido? Será que o Rádio Patroa estava certo, afinal?

Sorrio cheia de esperança, corro até a sala e abro a porta com um movimento rápido. Mas logo o meu sorriso se desmancha ao reconhecer Josh e Amy na soleira.

Não me levem a mal, eles são meus melhores amigos, mas não era quem eu queria ver neste momento.

Sinto raiva de mim mesma por ter cogitado a possibilidade do Deus da Trapaça ter vindo atrás de mim. E me odeio porque sei que estava pronta para aceitar qualquer desculpa que o infeliz me desse.

Burra! Burra! Burra!

Estou me xingando mentalmente, quando Amy dá um passo a frente, me surpreende com um abraço caloroso e diz aliviada:

— Graças a Cher! Você está bem? Nós ficamos preocupados, Liv. O porteiro nos ligou e disse que você não sai do apartamento há três dias!

— Três dias! — exclamo revoltada. — O porteiro esperou três longos e malditos dias para notar que eu não dei as caras? E se eu tivesse tido um piripaque? E se eu tivesse desmaiado e me afogado na banheira?!

Enquanto Amy me solta, Josh articula:

— Seria meio difícil já que você não tem banheira aqui, gata. — Em seguida, ele me abraça tão forte quanto a irmã e questiona: — O que aconteceu? Você quase nos matou de preocupação. Eu estava a ponto de concordar com o porteiro e chamar a polícia. Mas como você já ficou enclausurada por mais tempo do que isso, eu achei melhor checar antes. — Depois de me soltar, Josh me mede dos pés à cabeça, franze o cenho e completa: — Espera aí, que roupa maravilhosa é essa? É de grife?

— É uma longa história — desconverso. Entretanto, percebendo que meus amigos estão bem intrigados com o meu vestuário e meu comportamento suspeito, abro passagem para eles e anuncio: — Que eu vou contar com riqueza de detalhes, é claro.

Sim, é isso mesmo. Cansei de segredos e mentiras. Chegou a hora da verdade. Tudo acabou, a missão acabou, minha possível relação com Loki naufragou e está na hora de retomar o controle da minha vida de uma vez por todas.

Não quero nem saber se os Vingadores aprovariam o que eu estou prestes a fazer, não me importo nem um pouco. Além disso, eles perderam o direito de se intrometerem na minha vida há muito tempo.

Quero e preciso me abrir com alguém. Quero e preciso ser sincera com Josh e Amy. Me sinto péssima por ter mentido para os dois por tanto tempo. Não posso mais deixá-los à sombra da minha vida e dos últimos acontecimentos. Não é justo com eles e não é justo comigo.

Ponderando tudo isso, indico o sofá e oriento:

— Sentem que lá vem a história.

Depois de trocarem olhares um tanto confusos, os dois obedecem e se acomodam no sofá onde aquele estrupício espaçoso dormiu tantas vezes.

Ótima hora para pensar em Loki, Olivia... Ótima hora.

Afasto tal pensamento e pigarreio, tentando controlar certo nervosismo dentro de mim, afinal, por mais que eu esteja decidida a abrir o jogo, não é fácil colocar isso em prática. Ainda mais porque eu não sei como meus amigos irão reagir quando ouvirem tudo. Tim tim por tim tim.

Ai Jesus! Será que isso é uma boa ideia mesmo?

— Eu não sei por onde começar — sibilo mais para mim mesma do que para eles, enquanto ando de um lado para o outro diante dos dois.

— Que tal pelo vestido? — Amy sugere, e quando eu olho em sua direção, ela arqueia as sobrancelhas com um misto de curiosidade e confusão.

O vestido é um ótimo começo realmente. É o que penso, enquanto olho dela para Josh algumas vezes.

Ciente de que agora que eu toquei no assunto, terei que ir até o fim, respiro fundo, procuro uma boa dose de coragem dentro de mim, me agarro à ela, ordeno os meus pensamentos e disparo tão rápido que chego a perder o fôlego em alguns momentos:

— O vestido é asgardiano. Bem como o Tom que na verdade se chama Loki. Ah! E não, ele não é asgardiano de verdade, é um Jotun, mas isso não vem ao caso. Vocês já devem ter ouvido falar dele, já que o infeliz esteve aqui em Nova York, há uns três anos, tocando o terror com um bando de aliens horrorosos e baderneiros. Eu sei, é difícil entender como o dito cujo veio parar aqui de novo e entrou na minha vida, mas o fato é que Loki despencou na minha frente numa fatídica noite chuvosa. E vocês sabem como eu sou, não é? Não posso ver um animal abandonado que já quero pegar pra mim. Então, eu tive a infeliz ideia de trazê-lo para o meu cafofo. No dia seguinte, eu recebi a ilustre visita do irmão de criação dele, Thor, o Deus do Trovão, que vocês devem ter visto nos noticiários também, junto com os outros Vingadores que eu tive a honra de conhecer posteriormente. Ah! Eu briguei com alguns deles e beijei outros, mas isso também não vem ao caso no momento. O grande X da questão é que eu fui designada a ajudar o Deus da Trapaça, o tal Loki, a se tornar menos... Humm, menos ele. Mas, como eu sempre meto os pés pelas mãos, eu acabei, digamos... Nossa, como é difícil dizer isso para vocês assim, mas quem está na chuva é para se molhar, não é mesmo? Pois é, eu, Olivia Mills da Silva Sauro me apaixonei por aquela tranqueira. O que é bem difícil de compreender, afinal Loki nem tem um sotaque charmoso nem nada que chame muito a atenção. Seja como for, aparentemente, ele desenvolveu algum... Alguma coisa por mim também, já que se livrou de uma joia horrível que media o seu índice de dignidade e o mantinha na linha, e ganhou o direito de voltar para Asgard, que fica do outro lado do arco-íris... Bifröst, na verdade! E era lá que eu estava, em Asgard, depois de um mal entendido envolvendo um beijo e um beco escuro. Um sentinela que eu chamo, carinhosamente, de Rádio Patroa, mas que na verdade atende por Heimdall e gosta muito de dourado, abriu alas para eu passar. Mas agora eu voltei, porque Loki sumiu, me deixou a ver navios, partiu o meu coração, vocês sabem, o de sempre. Eu simplesmente não podia ficar lá, me julguem. Eu posso ter sido precipitada, mas é a vida. Humm... Acho que é isso. Fim da história, pessoal! Reviews?

Hesitante e retomando o fôlego, observo Josh e Amy boquiabertos e com expressões confusas e incrédulas enquanto me encaram.

Respiro fundo, relaxo o corpo e peço:

— Por favor, digam alguma coisa. Qualquer comentário é bem vindo.

Apesar do meu pedido, meus amigos continuam mudos e estáticos. Em choque, eu diria. Definitivamente, zonzos e confusos.

Começo a me perguntar se isso foi mesmo uma boa ideia, quando Josh finalmente se movimenta um pouco, levanta do sofá, troca um olhar rápido com a irmã, se volta para mim e pronuncia com certa cautela:

— Gata, para quando está marcada mesmo a primeira sessão com o seu novo terapeuta?

Estranho a pergunta — ainda mais depois de tudo o que confidenciei —, mas respondo mesmo assim:

— Eu estou meio perdida no tempo, por conta da diferença de fuso horário, mas acho que é na sexta-feira à tarde. Por quê?

Depois de trocar mais uma olhar cúmplice com Amy, Josh sugere:

— Será que existe a possibilidade dele abrir um espaço na agenda e te atender antes da data marcada? Tipo... Agora?

Suas palavras me atingem em cheio e me deixam completamente frustrada. Não acredito que gastei saliva à toa para, no fim, ser taxada de maluca. Ótimo! Só que não...

Inconformada, cruzo os braços contra o peito, estreito os olhos e me defendo:

— Eu posso provar. Eu tenho várias testemunhas. Os Vingadores, no caso.

— Terapeuta! — Amy diz, se levantando do sofá e me empurrando em direção ao quarto. — Por que você não troca o seu vestido bardiano antes, amore?

— É asgardiano — corrijo, mesmo sabendo que será em vão.

 


Notas Finais


Eu sei, eu separei o casal. Mas, em minha defesa, farei minhas as palavras do Lokito no capítulo anterior: confiem em mim.

Sobre a Olivia, lembrem-se que ela tem um histórico complicado em relacionamentos e lembrem-se que o gafanhoto já arregou algumas vezes, então a reação dela foi baseada em tudo isso.

Próximo capítulo será bem engraçado pois teremos a primeira sessão de terapia desta criatura kkkkkkkk E isso significa que teremos um personagem novo... O terapeuta da Olivia. Fiquem de olho no meu Twitter que em breve vou divulgar a carinha dele.

Bjs, bom Halloween e confiem em mim!

Reviews?

PS: Jogada na Bifröst é a versão da Olivia para jogada na BR kkkkkkkk


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