1. Spirit Fanfics >
  2. Trust >
  3. Suas dores

História Trust - Suas dores


Escrita por: Deux

Notas do Autor


Boa leitura.

Capítulo 3 - Suas dores


 

O homem de olhos negros caminhava despreocupado pela calçada enquanto o vento brincava com seus cabelos. Eu tenho um serviço pra você. As palavras de Kai ecoavam em sua mente, e isso não era nada bom.

Não quando aquelas palavras vinham de um traficante de armas e drogas.

Olhou atentamente para os lados enquanto entrava no local, sentindo o cheiro de mofo incomodar suas narinas. Aquilo era horrível.

Reconheceu de longe a silhueta encostada em um pilar de concreto e aproximou-se dele com as mãos no bolso enquanto via o mesmo jogar o cigarro no chão e pisar em cima dele.

— Está atrasado, Aoi.

— Perdão, você sabe que minha mãe está doente e precisa de cuidados. – respondeu colocando-se de frente para o outro.

— Isso não é da minha conta. – ditou ríspido. — Vem comigo. – chamou e o moreno o seguiu, entrando em um corredor estreito e abrindo uma pequena porta que levava a um quarto muito bem cuidado, diferente do resto do galpão. — Quero que faça uma coisa pra mim.

— E o que seria?

— Os filhos do Takashima. – Aoi franziu o cenho e Kai continuou: — Pegue-os pra mim.

— Quer que eu sequestre crianças? – perguntou sorrindo sem graça. — Você sabe que eu não mexo com crianças.

— Eu não quero saber se você mexe ou não com crianças... Quero que os sequestre. – interrompeu Kai. Aoi o olhou por alguns segundos e balançou a cabeça, respirando fundo em seguida.

— Hum, tudo bem então. E quando quer que eu faça isso?

— Daqui a uma semana.

— Certo. Quantos são?

— Um garoto e uma garota, aqui está a foto deles. – Kai estendeu o celular para o moreno, que olhou a foto e sorriu.

— São bonitinhos. Gêmeos?

— Tudo indica que sim... – Kai retirou um papel amassado do bolso e estendeu para o outro. — Esse é o endereço de onde eles estudam. Será um pouco difícil, já que os dois não vão embora juntos... Mas dê seu jeito.

— Entendi. Semana que vem então.

Kai sorriu e saiu do quarto, deixando Aoi com os olhos pregados no pedaço de papel e lembrando-se do rosto dos dois.

Principalmente do de Kouyou.

(...)

— Já é a terceira vez que te vejo limpar esse quarto... Vá tomar um banho e desça para comer alguma coisa.

— Sim mãe.

O loiro respondeu sem tirar os olhos da mesa onde ficava seu computador, passando a flanela novamente ali. Seu pai havia dito que queria falar com todos durante o jantar, Kanami disse que iria apresentar seu namorado naquela noite, e isso deixou Kouyou nervoso e fez com que ele sentisse desesperadamente vontade de limpar tudo.

Havia começado com a sala, depois a cozinha e agora limpava seu quarto.

Estava neurótico e o suor já escorria por sua testa.

— Droga! – correu para o banheiro e tirou as roupas, colocando-as no cesto e entrou no box, ligando o chuveiro enquanto sentia a água quente descer por suas costas alvas e indo direto para o ralo junto com a sujeira de seu corpo.

Espalmou as mãos na parede e abaixou a cabeça, fechando os olhos enquanto a imagem do misterioso homem que apareceu em seu sonho vinha à tona, dessa vez, mais nítida.

Seu corpo estremeceu quando pôde ver a imagem completa, e soltou o ar de seus pulmões, sorrindo logo em seguida.

Havia o visto.

Agora sabia que era completamente capaz de concluir o desenho.

Como de costume, saiu do banheiro com uma toalha enrolada na cintura e outra nos cabelos, enxugando freneticamente os pés antes de voltar para o quarto, onde se vestiu e passou álcool em gel nas mãos, sem tirar a toalha da cabeça.

No canto de seu quarto, o cavalete estava encostado na parede e ao lado do mesmo uma tela branca.

Talvez, desenhá-lo ali não seria uma má ideia...

Com pressa, foi até a cômoda e abriu as gavetas, retirando de lá várias tintas e pincéis.

Colocou uma tela impecavelmente branca no cavalete e despejou alguns tons diferentes de tintas na paleta e respirou fundo, sorrindo enquanto misturava algumas cores até chegar ao tom certo.

Seria fácil.

Ele parecia estar ali, parado bem à sua frente para com que Kouyou pudesse finalmente pintá-lo e trazê-lo à vida.

E sinceramente, era isso o que ele queria.

(ZzZzzZzZ seus desejos parecem estar mais perto do que imagina...)

E foi entre pinceladas rápidas e traços perfeitos que Kouyou finalmente viu a pintura tomar forma.

Era como se ele estivesse diante de seus olhos.

Foi como se ele tivesse criado vida.

Os olhos negros pareciam o encarar com intensidade e os lábios grossos eram tão...

Bonitos.

Pegou-se encarando aquele rosto que lhe apareceu em meio a um sonho que não conseguia classificar como bom ou ruim, mas a presença daquele homem deixava o clima menos pesado.

Uma, duas, três horas depois, quando o sol já cruzava a linha do horizonte e a imensidão negra tomava conta do céu, Kouyou afastou-se do cavalete e sorriu.

Sorriu abertamente ao ver finalmente sua obra finalizada.

(Toda obra precisa de um nome zZzZz)

Pegou um pincel mais fino e assinou no cantinho da tela, afastando-se mais uma vez para admirar seu trabalho.

Que de longe, era o melhor que havia feito até agora.

Mas faltava um nome... Um nome para ele.

Sentou-se na cama, encarando o rosto à sua frente.

Sentiu um calor estranho tomar conta de seu peito e sorriu, esperando que ele sorrisse de volta, esperando que ele saísse daquela tela e viesse até si.

Não sabia por que, e nem pra quê, mas queria desesperadamente que a presença dele fosse real, queria que ele fosse real!

Queria criar um universo paralelo onde apenas eles existissem.

Sentia-se estranhamente atraído por ele, e também sentia-se estúpido por isso.

Por estar sentindo-se tão estranho por uma droga de um homem que apareceu em seu sonho, e sequer existia.

Ouviu batidas na porta e então levantou-se com pressa, jogando um tecido branco por cima da tela assim que sua mãe entrou.

— Já é noite e você continua dentro desse quarto... Lave as mãos e desça para jantar. – ela ditou antes de sair, fazendo o loiro revirar os olhos e seguir para o banheiro, lavando bem as mãos antes de olhar mais uma vez para a tela e sair do quarto, descendo as escadas e caminhando até a cozinha, onde a mesa já estava posta e todos já se encontravam sentados.

Kouyou, como sempre, foi alvo dos olhares de seu pai.

Ele odeia isso.

— Agora que estamos todos aqui... – começou sua mãe com um sorriso largo no rosto. — O pai de vocês tem uma coisa pra dizer. – ela olhou para o marido, que respirou fundo e retirou os óculos que usava.

— Eu pensei um pouco e cheguei à conclusão de que será bom deixar que o Kouyou vá para a França.

Naquele momento, seu coração quase saiu pulando de sua caixa torácica, e seu sorriso era o maior e o mais verdadeiro que havia esboçado até agora.

— Mas... – o homem voltou a se pronunciar. — A Kanami vai junto.

— O quê? – ela esbravejou. — Sério?

— Sim. A Academia Real de Dança e o Louvre esperam por vocês.

Os dois trocaram sorrisos largos.

Sorrisos que sempre foram lindos.

Sua mãe falava sempre que seus sorrisos eram a representação a perfeição, assim como seus lábios.

—E quando vamos? – perguntou o loiro esbanjando ansiedade.

— Dentro de uma semana. Ficarão por mais ou menos três anos, mas eu e sua mãe iremos visitar vocês sempre que puder.

— Três anos? Mas...

— Kanami, seu namorado pode esperar, não pode? – sua mãe a interrompeu, já sabendo qual era a preocupação da garota. Ela fez que sim e sorriu fechado.

A campainha tocou e ela levantou-se com pressa.

— Deve ser ele! – ela disse saindo da cozinha.

Era engraçado ver ela assim.

Era seu primeiro namorado, e Kouyou estava achando graça das atitudes afobadas dela.

Mas Kouyou queria saber se isso aconteceria um dia com ele...

Se traria alguém em casa para apresentar aos pais, se algum dia iria gostar verdadeiramente de alguém, se criaria coragem para... beijar alguém.

Ele nem sabia o que sentia por Takeshi.

Podia ser atração, ou coisa de momento, mas... O homem do seu sonho estava o deixando louco.

(zZzzZz o seu medo é bobo, você é bobo.)

Segundos depois, Kanami volta para a cozinha, dessa vez, acompanhada por um garoto.

— Pai, mãe, Kou... Esse é o Takeshi, meu namorado.

— É um prazer conhecê-los. – disse ele fazendo Kouyou virar-se para olhá-lo.

E novamente, o loiro sentiu seu corpo tremer ao ver a figura ao lado da sua irmã.

— T-Takeshi? – murmurou ele já sentindo os olhos queimando.

Ali, de mãos dadas com sua irmã, estava o garoto que amava.

Ou achava que amava.

Por que aquilo tinha que doer tanto?


Notas Finais


Espero que tenham gostado!
Até o próximo ♥


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...