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História Two Broken Boys - Único


Escrita por: Sweetmoon

Notas do Autor


Oi, pessoas. Como estão?
Essa é a minha primeira fic Ontae [espero que de muitas, tbh] e estou bem feliz com ela, sinceramente.
-
Normalmente, costumo pesquisar antes de escrever uma fic e tudo mais, mas essa veio de impulso -escrevi em 48h-, ou seja, fica aqui um pequeno disclaimer que provavelmente tem alguma coisa técnica errada e, por isso mesmo, não citei qualquer doença.
-
Foi betada por mim, então se virem qualquer erro me avisem please ;-;
-
Espero que gostem e boa leitura <3

Capítulo 1 - Único


Two Broken Boys

Although I'm broken my heart's untamed still

And I'll be gone, gone tonight

Estava muito frio e só por isso Lee TaeMin ainda estava na escola. Em dias assim tinha que esperar seus pais pegá-lo. Pela porta de vidro conseguia ver o vento furioso brincar com as folhas das árvores que tinham ali na frente. Flocos brancos e minúsculos caiam e juntavam-se ao infinito branco do chão. Ele usava um casaco, mas não por causa do tempo, e sim porque sempre o fazia. Os corredores estavam vazios e isso fazia com que se sentisse um pouco mais a vontade. Gostava da solidão e muitas vezes quando estava cercado por muitas pessoas tinha vontade de escapar daquilo. Por isso as mangas.

Fitou o relógio e notou que seus pais ainda demorariam de chegar. Cogitou ir a biblioteca, mas, ao contrário do que seus colegas imaginavam, não gostava tanto de estudar. Apenas o fazia para manter a mente ocupada. E suas notas estavam boas, não que alguém se importasse. Sua mãe não acreditava nisso que dizia ser “uma forma retrograda de educação” e seu pai estava satisfeito se não tivesse que pagar recuperação. Às vezes se questionava como eles conseguiam viver casados e se amando tendo interesses tão claramente diferentes.  Quando pensava em casamento, e raramente o fazia, cogitava se queria algo como o que eles tinham. Mas logo deixava essas ideias de lado.

Decidido a não ficar parado encarando a neve, saiu andando por dentro da escola sem se preocupar com o ritmo de seus passos. Olhou algumas salas, mexeu em mesas, leu coisas esquecidas nas gavetas, desenhou besteiras em janelas embaçadas e finalmente chegou à biblioteca. E só então descobriu que não estava sozinho.

O garoto sentado em uma das mesas estava completamente sozinho. Havia uma pilha de livros na cadeira ao seu lado e outros espalhados pela mesa. Todos abertos em paginas que não conseguia ver de longe. Sabia quem ele era, óbvio. A maior nota da escola. Lee JinKi. Por motivos de “todo mundo sabia que ele era louco” não se surpreendeu com a cena.

Passou direto para o meio das prateleiras e soube que não tinha sido notado. Andou por ali, leu o titulo de todos os livros, pegou alguns e desistiu, e então se sentou em uma das mesas, os braços sobre elas e a cabeça descansando neles. Quando abriu os olhos com o celular tocando, estava sozinho. Levantou pegando a própria mochila, olhou a outra mesa para ver se Lee tinha esquecido algo –nada- e saiu.

Estava fazendo seu caminho para a saída quando viu. Parado na porta do banheiro masculino, costas contra ela, cabeça inclinada para trás e olhos fechados: Lee JinKi. Sua mochila estava no chão junto com outros livros. Tinha tirado o casaco e esse jazia caído em frente aos seus pés.

TaeMin não falava com pessoas, por isso apenas ia se virar quando ouviu.

-  Não conte a ninguém.

Franziu a testa, mas apenas colocou as mãos em seus bolsos, vendo o mais velho respirar fundo. Lee JinKi era sênior, estava começando seu último ano agora e todos sabiam disso.

- Não conte a ninguém –repetiu- mas preciso de um favor.

Esperou algum tipo de resposta, quando não a recebeu, riu de forma amarga.

- Vou interpretar você estar aqui como um “sim, claro”, certo? – Mais nenhuma resposta- ótimo. Preciso que me bata.

TaeMin definitivamente não estava esperando aquilo. Sua expressão deve ter sido de surpresa, pois o outro se desencostou da porta e deu alguns passos até parar a sua frente.

- Sei quem você é – falou lentamente- Lee TaeMin, o garoto que a mãe sempre briga nas reuniões e palestras falando alguma coisa sobre “valores errados” – o mais novo corou um pouco, mas continuou calado- sei que não se importa o suficiente com ninguém aqui ou com qualquer reputação para espalhar fofoca. A maior parte das pessoas nem sabe que você existe.

- Você é bem astuto –  Lee finalmente falou.

- Não estou o tempo todo olhando os livros – JinKi abriu os braços – preciso que me dê um soco no rosto, forte o suficiente para deixar uma marca e que não pergunte porque. Tentei fazer sozinho, mas sou ridículo e covarde.

TaeMin largou a mochila no chão e fez sinal para que o outro desse alguns passos para trás.

- Só não quebre meu nariz ou nada parecido – o mais velho alertou- isso me obrigaria a ir para o hospital e não tenho uma boa história.

Assentindo de leve, o menino sentiu seu telefone tocar novamente, mas ignorou. Fechou uma das mãos em punho e mirou nas bochechas do outro. O soco foi forte e fez JinKi cair para trás.

- Não foi forte o suficiente – falou como se não tivesse acabado de apanhar- por favor, mais forte e no mesmo lugar.

O segundo soco fez o mais velho gemer alto de dor, levando uma das mãos ao rosto e lagrimas involuntárias  chegaram aos olhos.

- Creio que seja o suficiente. Talvez um terceiro para garantir.

O terceiro foi mais forte e JinKi ficou deitado por alguns minutos depois. TaeMin achou que tinha o matado –o que era ridículo, afinal não era tão forte-, mas logo o viu se sentar.

- Obrigado.

OT

A neve não parou de cair em uma semana. Todos os dias TaeMin teve que ficar esperando seus pais, mas só encontrou JinKi novamente três dias depois dos socos. Estava usando o banheiro quando alguém entrou, murmurando alguma coisa sozinho com uma voz chorosa. Conseguia ver, pelo espaço entre a porta da cabine e o chão, os pés indo e voltado pelo banheiro. Ouviu algumas pancadas, e um pouco de choro e então um barulho um pouco mais alto e resolveu sair dali, ou poderia ser acusado de alguma coisa.

JinKi estava socando a parede do banheiro. Sua mão estava vermelha e os nódulos sangrentos.

- Acho que você precisa de formas mais eficientes de se machucar sem ir para o hospital.

TaeMin falou antes que pudesse se controlar. Por algum motivo, algo no mais velho fazia com que se sentisse compelido a dizer alguma coisa. Talvez a identificação. JinKi virou-se para fita-lo, as lagrimas caindo livremente por seu rosto, e então ele sorriu um pouco.

- Talvez ir para o hospital seja uma boa ideia hoje.

E então socou novamente. O mais novo ficou ali parado, vendo a cena se desenrolar. Não conversaram, não tinha o que ser dito. Quando saíram, a parede banda estava manchada de sangue. Partiram caminho na saída, onde ele ficou e Lee foi andando sozinho na neve, gotas rubras caindo de seu casaco, mas ele parecia bem.

OT

- Quais seriam as formas mais eficientes de se machucar sem ir para o hospital?

Lee TaeMin se assustou quando notou alguém perto de si. Gostava daquele local – uma mesa escondida no refeitório da escola – justamente porque as pessoas pareciam ter preguiça de chegar até ela. Até mesmo os excluídos sociais preferiam sentar em outros lugares que ali. Ou talvez fosse só a sua presença.

 

JinKi estava com a mão enfaixada, e ainda conseguia ver uma sombra dos machucados que tinha deixado em seu rosto dias atrás, coisa que não tinha notado no dia anterior. Cogitou ignorá-lo, mas não conseguia.

- Depende, qual o seu objetivo se machucando?

- Poder ficar na cama à noite.

- Quer dizer, enquanto todos os adolescentes do mundo querem ficar acordados até de madrugado vendo pornografia no computador, você quer ir dormir cedo?

O mais velho se mexeu desconfortavelmente na cadeira.

- Podemos dizer assim.

- Pedir aos seus pais não funciona?

Lee parecia tentando a falar alguma coisa, mas ele apenas negou com a cabeça, os cabelos caindo sobre seus olhos com o ato.

- Certo. Então precisa de machucados que não sejam preocupantes o suficiente, pois ir para o hospital todo dia ia fazer seus pais serem denunciados e provavelmente perderem sua guarda, e não queremos isso – deu uma pausa- ou queremos?

- Acho que não.

- Bom, se um dia quiser já sabe o que fazer – o mais novo fez um gesto com uma das mãos e então puxou o casaco quando este desceu um pouco, expondo seu pulso – creio que ficar doente seja mais eficiente que se machucar.

O mais velho pareceu cogitar um pouco, e então franziu a testa.

- E como eu ficaria doente? Isso é algo que simplesmente acontece.

- Bom, você apenas precisa vomitar uma duas vezes, gemer falando ‘tudo dói’ e então está livre pra dormir. Tomar laxante. Coisas assim.

- Isso não seria bulimia?

- Não se você apenas faz uma vez por dia para ir dormir mais cedo, eu acho.

O mais velho pareceu cogitar a ideia.

OT

TaeMin estava tremulo quando correu para o banheiro. Detestava quando perdia o controle na frente dos outros, mas os olhos presos em si lhe incomodavam. Pessoas o julgando, fazendo piadas baixo o suficiente para não entender todas as palavras, porém alto o suficiente para saber de quem falavam. De repente, sentia-se todo errado. Estressado demais para continuar vivendo. Não chorava, pois não tinha mais lagrimas. Seu desespero era interno, sufocante, como ser enterrado vivo. Não tinha saída. Não tinha para que lado cavar.

Olhou envolta, queria algo afiado. Qualquer coisa pontiaguda. Frustrado que não tinha nada ali, sentou-se no chão. Nada para lhe ajudar naquele momento.

Não conseguia saber quanto tempo ficou ali, até que alguém entrou no banheiro e parou a sua frente. Na verdade, conseguia apostar que outras pessoas tinham passado por ali, mas que elas não se importavam o suficiente para falar com ele. Assim como TaeMin não se importava o suficiente para lembrar delas.

- Você está uma merda.

JinKi o fitava com a testa franzida. O mais novo ainda sentia falta de ar, estava largado contra a parede, os olhos meio fechados e meio abertos.

- Eu me sinto uma merda – falou baixo – preciso de sua ajuda.

- Quer que eu te soque?

- Quero que pegue a minha mochila na quadra.

O mais velho não questionou, saiu com passos rápidos e logo estava de volta, a mochila foi jogada ao lado do garoto no chão. JinKi não foi embora, encostou-se na pia e o fitou. Talvez estivesse espero que tirasse um remédio controlado, daqueles tarja preta, ou algo parecido. Mas o que saiu foi uma caixinha relativamente pequena, parecia uma daquelas bolsinhas que as meninas levavam na bolsa com mil maquiagens, e de dentro saiu uma lamina afiada. Sem se preocupar com o olhar do mais velho, apenas conferiu se estavam sozinhos ali e então puxou a manga da blusa até o cotovelo.

O braço exposto estava cheio de band-aids pequenos. TaeMin pegou a ponta da lamina e pressionou perto do pulso até que um pouco de sangue jorrasse. Fechou os olhos, sentindo o alivio que vinha daquela ação. Era quase prazeroso. A dor profunda o lembrava de seu lugar, e que havia coisas piores que ali. Ou melhores.

JinKi não disse nada, apenas ofereceu a mão para que pudesse levantar fácil quando acabou.

OT

- Obrigado – JinKi disse no outro dia, enquanto sentava ao lado de TaeMin sem ser convidado. Aparentemente, aquilo tinha virado alguma espécie de rotina.

O mais novo não sabia por que o outro estava agradecendo, mas decidiu que não se importava o suficiente para perguntar, então optou por apenas continuar comendo. Até que algo entrou em seu campo se visão, se afastou um pouco para perceber que o outro estava lhe estendendo uma caixa de band-aids.

- Eu tenho.

- São pequenos demais – ele deu de ombros- aposto que a parte da cola fica por cima dos cortes.

Cuidadosamente, TaeMin pegou a caixa e olhou. Os band-aids tinham desenhos do Homem-Aranha.

- Não vai ter um discurso sobre o quão errado é fazer coisas assim? – Perguntou, soando tão cansado quanto realmente estava – aqueles trechos de livros de autoajuda sobre se amar o suficiente para não sair enfiando giletes no braço?

O mais velho parecia levemente divertido, apenas negou com um gesto displicente começando a comer.

- Você não fez um discurso sobre isso quando te pedi para me socar, fez? – A pergunta só veio depois que ele tinha engolido metade de seu lanche- porque deveria te dizer esse tipo de coisas se eu mesmo não sigo?

TaeMin se forçou  a pensar para não se prender no quão lógico era aquilo. Não sabia os motivos de JinKi, mas ele claramente entendia a situação o suficiente para não o julgar.

Ao invés de levantar quando acabou –e sempre o fazia primeiro que o outro- esperou e andaram juntos em silencio para suas salas. Quando seus caminhos se partiram, ambos sentiram um frio inexplicável e o vazio da solidão. Ambos estavam acostumados com aquilo.

OT

- Ele é tão estranho.

Foi o sussurro que chegou as ouvidos de TaeMin enquanto abria o próprio caderno. Conte-me algo que não sei, pensou amargurado. Sabia quem estava falando aquilo, conhecia muito bem as vozes de todos os seus colegas de classe. Sabia suas caras, todas as fofocas, e quem não falava dele por pena.

- Será que ele tem algum defeito nos braços? – A menina riu baixo para outra.

- Deve ter, está sempre usando esses casacos feios.

- Ele é feio –a outra rebateu – a roupa tem que combinar.

E então riram como se fosse extremamente engraçado.

O costume é estranho, teoricamente deveria ser quando uma pessoa passa tanto por determinada situação que para de reagir a ela. Então porque TaeMin continuava sentindo aquilo?

Conseguia apreciar a cara de pau das pessoas de falarem tudo aquilo bem atrás dele. Claro, Lee nunca reagia, então o que havia a temer? Cogitou esperar a aula terminar, mas sabia que depois os banheiros estariam cheios. Ignorou o olhar reprovador da professora quando o liberou –“é assunto da prova, Sr. Lee” – e saiu correndo com a caixa escondida por trás da blusa.

Por algum motivo, quando colocou o band-aid do Homem-Aranha sentiu uma sensação aquecida correr por seu corpo. Como um abraço carinhoso em um dia frio.

OT

- Porque me agradeceu no outro dia?

JinKi parecia pego de surpresa, raramente o mais novo começava conversas. Estavam sentados na mesa de lanche habitual, o mais velho comia com um livro de matemática aberto ao lado. TaeMin apenas tinha um prato a sua frente, mas não mexia em nada.

- Que dia?

- No dia que me deu a caixa de band-aids.

O outro sorriu, os olhos dele presos nos antebraços cobertos pelo casaco.

- Por me deixar ver – respirou fundo, emburrando o lanche para longe e puxando o livro para sua frente- sei que o que faz –apontou para os braços- é algo pessoal e seu e mesmo assim me deixou presenciar.

- Sei que não contaria a ninguém, porque não falei dos socos.

Era a lógica, mas aparentemente o outro estava satisfeito mesmo assim, pois o sorriso não vacilou de seu rosto nem por um minuto.

- Mas foi especial mesmo assim.

OT

O sol já tinha derretido toda a neve. TaeMin continuava usando casacos e band-aids do Homem-Aranha e JinKi continuava sentando ao seu lado na hora do lanche. Não conversavam muito, mas não se incomodavam com a companhia do outro.  Às vezes, o mais novo tinha que dar três socos no rosto do outro, e ainda assim nunca tinha perguntado que desculpa ele dava em casa. Mas notou que seus pais não deveriam se importar tanto, afinal nunca tinham ido tirar satisfações na escola. As notas de JinKi ainda eram as mais altas entre todas, mesmo que tivesse trocado as leituras dos intervalos para ficar ali ao seu lado. Talvez só fosse mesmo muito inteligente, mas não sabia, pois não falavam sobre isso.

- Isso é bom?

O mais velho perguntou certo dia, estavam em silêncio há quase meia hora. TaeMin não respondeu, apenas o fitou com a testa franzida. JinKi apontou para seu antebraço coberto pelo casaco.

- É relaxante.

- Se eu te pedisse para fazer em mim...

- Isso não te faria ir dormir cedo –cortou friamente.

- Mas faria tudo melhor, não? – Havia um leve tom esperançoso ali – minha mãe disse que se eu vomitar mais uma noite, vão me levar ao hospital.

TaeMin quase quis gritar “DEPOIS DE TRÊS MESES, SÓ AGORA?”, porém se conteve. E então fez algo impensado: fitou o outro diretamente nos olhos e perguntou com curiosidade sincera:

- Porque você não pode simplesmente dormir tarde?

Isso era novo. Um novo degrau no relacionamento deles. Nunca tinham se preocupado o suficiente para perguntar motivações, só sabiam que suas vidas eram uma merda. JinKi pareceu levemente pego de surpresa e então encolheu os ombros.

- Tenho que ficar lendo direto até meia noite – murmurou – é a meta: dois livros inteiros por dia.

O outro piscou, pego de surpresa.

- Como pode ter livros inteiros em um dia? Ainda mais dois!

- Preciso ter as notas mais altas da escola – respondeu simplesmente- preciso fazer todas as atividades, estudar todas as matérias por pelo menos uma hora e então ler dois livros.

- Você leu o sete livros de Harry Potter em 4 dias, então?

O mais velho riu amargamente.

- Não leio esse tipo de livro – falou calmamente- são livros teóricos de engenharia que preciso ler. Porque quando me formar, vou entrar para a Massachusetts Inst Tech e por isso preciso estar preparado.

TaeMin estava surpreso, para dizer no mínimo. Acreditava que seus pais nem ao menos tinham  esperança que entrasse em qualquer universidade, quem diria para uma internacional.

- Você gosta de engenharia?

- Nossa, não – respirou fundo- eu sei, claro. Mas se pudesse escolher, entraria para uma dessas empresas de musica.

O mais novo riu um pouco, claro que se o outro tomasse essa decisão, os pais provavelmente o expulsariam de casa. JinKi sorriu, como se soubesse exatamente o que o outro estava pensando.

- Porque você faz isso? –Apontou para o seu antibraço novamente.

TaeMin cogitou não responder, mas o outro tinha acabado de abrir uma parte de sua vida, então nada mais justo que fizesse o mesmo. Além disso, os band-aids do Homem-Aranha – que não era mais o mesmo que ele tinha lhe dado meses trás, mas sentia como se fosse- espalhava um calor suave por sua pele e sentia como se não pudesse negar nada ao mais velho.

- Acreditaria se lhe dissesse que o motivo se perdeu há muito  tempo na minha cabeça?

OT

Estavam sentados em um canto isolado do jardim da escola. Tinham combinado que TaeMin iria ajudá-lo a experimentar quando estivesse nervoso, que era definitivamente hoje: o dia em que tinha certeza que havia errado uma questão de história e isso significaria um castigo severo – provavelmente físico.

A pele de JinKi era macia, era a primeira vez que o tocava por mais que apenas alguns segundos ou que não era para socá-lo. Enfiou a gilete com mais delicadeza do que fazia com o próprio braço, vendo o fechar os olhos. A primeira vez realmente doía, mais que o esperado, mas depois vinha o costume.

- É assim normalmente? – JinKi perguntou, seus olhos presos ao sangue que saia do pequeno corte.

- Depende, como se sente?

- Dor, só.

TaeMin balançou a cabeça.

- Tem a dor e uma onda de prazer e calma – falou passando o dedo indicador no sangue- como se todos os seus problemas fossem levados pela dor.

O mais velho parecia não crer que isso seria possível, então TaeMin começou a pensar que não era algo que funcionava para todos. Muito mais carinhosamente do que pretendia, limpou o sangue e colocou um band-aid do Homem-Aranha. E então sorriu um pouco, pelo contraste com a pele clara do outro.

- Acho que vou precisar achar outra coisa para aliviar meu estresse.

Ele deitou no jardim, fechando os olhos, mas não tirou o braço de cima do outro. Que também não o empurrou, apenas deitou ao seu lado.

- Acho que você vai se sentir melhor se queimar todos os livros de engenharia que seus pais compraram.

- Isso definitivamente ajudaria – ele riu um pouco.

Um silêncio confortável caiu sobre eles. Observaram as nuvens se movimentando até que seus olhos começaram a doer por causa do sol e então se fitaram.

- Quando faz isso sua tristeza vai embora?

- Não.

- Mas achei que fosse o propósito disso.

O mais novo fechou os olhos. JinKi conseguia contar seus cílios de tão perto que estavam.

- Deveria ser, mas agora eu só estou triste o tempo todo.

OT

TaeMin foi se revelando aos poucos para JinKi. Em dado momento, o mais velho passou a entendê-lo  melhor que o próprio. Não que ele fizesse algum esforço para se compreender. Tinha desistido há muito de tentar explicar porque sua tristeza era algo tão intrínseco a sua existência. Como se tivesse sido injetada  aos seus ossos em alguma fase da sua vida e agora vivia cercado por essa cortina que deixava o mundo completamente opaco.

Todo o mundo, menos JinKi. Por algum motivo, o mais velho parecia ser imune, pois seu sorriso brilhava tanto que o cegava. TaeMin jamais falaria isso em voz alta, mas achava que o outro provavelmente tinha o sorriso mais bonito dentro todos que já vira, o seu incluído.

Era estranho, logo ele que havia corrido atrás de emoções quando mais novo, que tinha se deixado aberto por anos a procura de alguém que pudesse lhe fazer menos pior a cada dia e que jamais fora achado. Tinha desistido do mundo e se fechado. Agora se via dando sua chave nas mãos de alguém que nem percebia.

JinKi não tinha notado ainda, aparentemente. O outono já tinha chegado, as folhas caiam e ele ainda era obrigado a ler 2 livros por dia. E o fazia, pois não conseguia escapar sempre. Tinha tido que diminuir consideravelmente os dias de vomito, pois seus pais iriam levá-lo ao hospital. E aparentemente tinha sido o suficiente, pois nem ao menos tocaram mais no assunto. Como se soubesse que JinKi estava mentindo desde o inicio.

- Acho que ele está ainda mais magro – a menina falou baixo – é tão nojento.

TaeMin foi tirado de seus pensamentos, estava em pé perto da porta de saída esperando JinKi. Pelo visto, suas colegas de sala tinham tirado o dia para ficar na escola, pois estavam ali há quase meia hora falando coisas como se ele não pudesse ouvir.

- Tae!

O mais velho se aproximou com alguns livros na mão e a mochila. Parecia sobrecarregado, mas sempre se recusava a deixar o mais novo ajudar.

- Podemos ir, peguei o que deveria já.

O outro assentiu, e puxou a porta para que ele pudesse passar.

- Como JinKi oppa consegue se amigo dele? – A menina falou de forma venenosa, em um tom que deveria acreditar ser um sussurro para a outra – ele é tão lindo e inteligente! Deveria se misturar com pessoas melhores.

A outra riu. TaeMin começou  a bater um dos pés no chão esperando que o sênior passasse logo e então poderiam sair dali. Sabia que o mais velho era considerado estranho por muitas pessoas da escola, mas era diferente. Primeiro, pois ele tinha uma aparência extremamente agradável aos olhos. Com seu sorriso largo e rosto proporcional, as franjas negras que caiam sobre os olhos pequenos. Segundo, porque era inteligente e a maior nota da escola. Então, claro  que o tratamento dado a ele era diferente do dado a TaeMin, o estranho que usava casacos o tempo todo, não falava com ninguém e tinha uma aparência desagradável.

- Pessoas melhores, você quer dizer, fofoqueiras como vocês? – JinKi disse em um tom frio – Deveriam cuidar da própria vida e não da nossa.

- JinKi Oppa – o rosto dela tinha uma expressão surpresa – você entendeu errado, nos preocupamos com você se metendo com esse tipo de gente.

- Sua preocupação não só é infundada como não desejada, - estreitou os olhos de forma ameaçadora – o deixem em paz.

JinKi não entendeu porque durante todo o caminho para a biblioteca pública – onde costumavam ir estudar juntos – TaeMin estava com o rosto vermelho.

OT

- Eu queria te fazer feliz.

JinKi disse certo dia, enquanto estavam deitados no jardim da escola. Era um dia frio de outono, ventava levemente e mais cedo tinha chovido levemente. Em algum momento, tinham decidido que aquele era o melhor lugar para ficar em dias estressantes, ou seja, todos eles. Ali, no mundo deles, TaeMin podia subir as mangas até os cotovelos expondo todos os band-aids do Homem-Aranha que enfeitavam seu braço. Cada dia a quantidade aumentava. O mais velho sempre notava, mas jamais falava a respeito.

- Não sei se isso é possível, JinKi.

Essa resposta o fez rir um pouco por algum motivo. O mais novo gostava que quando o outro o fazia, seus olhos viravam meia lua.

- Você nunca me chamou de hyung.

- Não achei que fosse necessário.

- Não é.

Os dois se fitaram com um sorriso fácil. Depois TaeMin voltou a acompanhar o movimento das nuvens. Gotinhas de chuva começaram a cair de novo, mas os dois estavam confortáveis demais pra levantar.

- Não é justo que esteja triste o tempo todo.

- Você não é feliz.

- Sou  em momentos selecionados –  disse o fitando de forma séria – mas você não é nunca.

- Não sei o que felicidade é, Jinki – falou sinceramente – acredito que já a senti, mas há muitos anos.

TaeMin pensou na cortina opaca que cobria o seu mundo, e como poderia explicar isso ao outro. Sentiu a pele do mais velho contra sua. A mão dele tocando em seu pulso de forma quase carinhosa. Os dedos procurando os seus.  Queria que isso fosse o suficiente, mas o tudo continuava opaco.

- Gosto de você, Tae.

O menino ia dizer alguma coisa, mas de repente uma ventania abriu as cortinas, o céu brilhou diante dos seus olhos e os lábios de JinKi estavam sobre os seus.

OT

Foi um habito que demorou de se firmar. Depois daquele primeiro beijo –de risos sem graça e rostos corados- demoraram quase um mês para repetirem o ato. TaeMin esperava por isso, desesperado para ter as cortinas abertas novamente. Ter um rápido vislumbre do mundo que lhe era negado constantemente, pois não o merecia.

Sabia que estava naquele ponto da vida, pois não merecia ocupar aquele lugar. O espaço que seria muito mais útil com outra pessoa, e era desperdiçado com ele.  Sentia-se ainda pior em achar que era digno de alguém como JinKi, seu egoísmo estava passando dos limites, mas ainda assim precisava dele.

- Você é tão lindo.

TaeMin não virou para JinKi quando o outro disse isso. Tinha acabado de colar band-aid do Homem-Aranha no corte mais recente, fruto de não saber a resposta quando a professora de história lhe perguntou e de ouvir sussurros sobre si vindos de todos os lados, mesclando-se aos seus pensamentos já altos demais.

- Sei que não acha isso – o  mais velho tocou seu rosto suavemente- mas é. Seria ainda mais se seus olhos não fossem tão tristes ou se sorrisse mais.

Sem perceber, o mais novo forçou um sorriso. Queria que o outro lhe achasse bonito, mesmo que não fosse. Notando o esforço, JinKi beijou seus lábios suavemente, murmurando algo sobre a beleza interior que ele não ligou, pois o mundo estava brilhante.

OT

Os beijos de JinKi eram como furacões. Era o único momento em que conseguia ver o mundo brilhar, mas raramente tinha os olhos abertos. A ideia de ter alguém como o mais velho para segurar sua mão em momentos tensos e beijá-lo até que esquecesse os problemas era no mínimo satisfatória. Mas a cortina ainda estava lá o resto do tempo. O desejo desesperado pela dor ainda estava lá e TaeMin duvidava que algum dia fosse embora.

Era quase triste como seus pais não notavam. Estava passando todas as tardes com JinKi, ajudando-o a estudar e a ler pelo menos um dos livros – tinha que escrever resumos- , normalmente trabalhavam em silêncio, mas o outro lhe roubava beijos em momentos inesperados. Suas notas estavam começando a aumentar lentamente, mas ninguém notava.

Até que um dia foi até a porta da sala de JinKi e ele não estava lá. Sentindo-se desesperado, abandonado sozinho em um mundo cinza, sentou na cadeira que o outro sempre ocupava e esperou. Quando começou a segunda aula,e os alunos começaram a entrar, um deles o fitou com a testa franzida.

- Achei que fosse de outro ano.

- Estou esperando JinKi.

Isso pareceu o pegar de surpresa. Todos sabiam da amizade – poucos dos beijos- dos dois, por isso o outro apenas tirou o celular do bolso e lhe mostrou. A mensagem era simples: “estou no hospital, avise aos professores”.  TaeMin quase correu para fora da sala, odiando não ter um celular.

Mesmo que quisesse ter ido antes, e que não tivesse conseguido prestar atenção em aula alguma, só pode ir vê-lo quando todas acabaram. Parou aquele menino de mais cedo e pediu que escrevesse o número do mais velho em sua mão.

- JinKi?

- Oi Tae.

A voz dele estava suave, nada como a de uma pessoa doente.

- Disseram que está no hospital, qual?

O mais velho suspirou antes de dizer o endereço. Era como se quisesse dizer “não precisa”, mas ao mesmo tempo sabia que o menino ia do mesmo jeito.

OT

Quando TaeMin entrou no quarto, os pais de JinKi não estavam lá. Se aproximou do mais velho com cuidado, mas ele parecia muito bem.

- Você não parece doente.

- Eu não estou –deu de ombros- apenas machuquei minha mão.

E então levantou a mão que estava escondida por debaixo do cobertor. Estava enfaixada até o pulso, e então o coração do mais novo parou por um segundo. Uma preocupação quase cega seguida de uma onda inesperada e infundada de culpa. Se estivesse mais tempo com o outro, jamais teria acontecido. Nunca deixaria ninguém tocar nele.

- Quando isso aconteceu?

JinKi não falou, como se tivesse dificuldade de lembrar como tinha machucado a própria mão a ponto de ir para o hospital, mas ambos sabiam que ele lembrava.

- Porque não quer me dizer?

- Não terminei dois livros ontem.

A resposta simples fez o mais novo fechar as próprias mãos em punhos. A culpa o atingiu novamente, mas dessa vez por um motivo diferente. Porque essas coisas aconteciam com JinKi e ele conseguia ter momentos de felicidade. Enquanto o mais novo tinha uma vida muito mais fácil e se via preso em um mundo opaco. Sentia-se errado, porque nem ao menos conseguia entender mais sua tristeza, apenas a sentia. Percebeu, mais uma vez, o quão sua existência ali era ocupar espaço.

- Isso não é justo.

- Falaram que não estou levando meu futuro a serio e que estou agindo como uma criança.

TaeMin abraçou o outro de forma desajeitada, quase caindo por cima dele na cama, os olhos fechados com força enquanto tentava passar todo o carinho que sentia para o outro e então sussurrou:

- Desista de tudo.

- Pare de se cortar.

O mais novo não respondeu, apenas ficaram ali juntos, entrelaçaram os dedos e conversaram sobre banalidades. TaeMin ficou a tarde toda e não chegou a encontrar os pais do outro.

OT

Os beijos iam se tornando cada dia mais comuns. Qualquer momento era apropriado, desde que estivessem sozinhos. Não falaram sobre o assunto, mas sabiam que tinham um relacionamento. Alguns chamariam de namoro, mas TaeMin sabia que as coisas eram muito mais intensas entre os dois.

Os sentimentos eram tão expressivos que não precisavam ser ditos. Eles apenas o sentiam e sabiam que o outro o fazia também. Ao mesmo tempo, como se fossem interligados por alguma força invisível. Junto com essa nova intimidade, o mais novo notou que aos poucos JinKi parecia mais preocupado com ele. Perguntando coisas como “você só vai comer isso?” ou “como está seus braços hoje?”. Sempre que TaeMin pegava a gilete, o mais velho lhe beijava. Em uma tentativa clara de pará-lo. Um grito mudo oferecendo ajuda.

Mas TaeMin sabia que não merecia isso. Todos os dias se questionava a respeito, tentando entender porque a vida era tão boa consigo. JinKi estava com ele, e o mais velho era a pessoa mais corajosa e bonita –de todas as formas que alguém conseguia ser bonito- que já tinha visto. Cada noite, a gilete ia um pouco mais fundo no braço alvo, o sangue escorria por um pouco mais de tempo, porque o mais novo precisava de punição. Os pensamentos ficavam altos demais, chamando-o de egoísta por manter o outro preso a si. Por estragar a vida dele com a sua presença negativa.

- Não faça mais isso.

JinKi disse certa vez, estavam deitados no lugar que agora era deles. Os dedos do mais velho traçavam delicadamente os band-aids do Homem-Aranha.

- Eu sei que para você melhora – falou suavemente- mas andei pesquisando e isso não é bom, Tae. Talvez devesse procurar alguém – sussurrou – que te ensine como ser feliz de novo.

O mais novo fitava  o céu com os olhos aguados.

- Não é justo que se machuque para ser feliz por segundos – ele continuou – e isso me mata.

O beijo foi no alto de sua bochecha e espalhou uma sensação agradável por todo o rosto magro, um rubor suave fazendo-o parecer mais saudável. Mais vivo.

- Não mereço você, JinKi.

Foi a resposta. Ele não parou de usar os band-aids do Homem-Aranha.

OT

O inverno veio junto com longos momentos passados juntos. Não lembravam quando os beijos ficaram tão demorados. Ou quando as mãos começaram a sair das cinturas e irem muito mais longe. Ou então quando não conseguiam mais ficar separados um do outro. Quando os momentos no jardim ficaram mais importantes que as aulas.

TaeMin sentia-se entorpecido quando não estava com o outro. Era como um viciado em drogas, precisava dele perto de si. De repente, os cortes não estavam só em seu antebraço, mas em suas pernas e coxas. Quando estava com o outro, sentia as cortinas abertas, o mundo brilhando branco diante de seus olhos e então ficava sozinho novamente. O mundo ficava negro. Pensamentos desesperados tomavam conta de si.

 O mais novo estava sempre pensando em como o outro era forte. Algo que tinha surgido naquele dia no hospital, e desde então não saira mais de sua mente. Era irônico, pois o garoto se odiava por se sentir triste o tempo todo, e isso o fazia cada vez mais distante e triste. Sentia que estava ocupado um espaço desnecessário ali.

Principalmente, um espaço desnecessário na vida de JinKi. Como alguém tão corajoso e forte poderia ter algo com alguém fraco como ele? Queria deixar o espaço livre para alguém melhor, mas era simplesmente muito egoísta. Vivia em um conflito diário, em que seus únicos momentos bons e calmos eram os beijos com JinKi.

Até que um dia explodiu.

Aconteceu quando as notas foram liberadas, um quadro enorme em uma das paredes principais da escola. E o nome de “Lee JinKi” em segundo lugar.

JinKi estava chorando quando o empurrou para dentro do banheiro. Não trocaram beijos, apenas se abraçaram.  Estavam trêmulos, e sentiam falta de ar juntos. O mais novo segurava a blusa do outro com tanta força que achou que ia rasgá-la.

A culpa era insuportável de lidar. Porque os dois sabiam que se não tivessem fugido de aulas, o nome dele estaria em primeiro.

- Tae...

Ele não terminou, apenas beijou uma das bochechas dele com tanto carinho pegou ambos de surpresa.

- JinKi, eu- Desculpa.

O mais velho foi pego de surpresa, segurando o rosto bonito em suas mãos e fitando-o diretamente nos olhos.

- Não é sua culpa.

O menino não discutiu, pois sabia que era, apenas o abraçou fortemente de novo. E ficaram ali. Seus corpos pareciam feitos para ficarem juntos daquela forma. Seus cheiros se mesclavam formando o mais doce dos perfumes.

- Nunca fui o segundo antes.

- Está com medo?

Ele apenas assentiu, afundando o nariz mais ainda no pescoço magro.

- Mas estou feliz também – deu um beijo ali – porque isso é desculpa o suficiente para ficar abraçado com você agora.

Isso era perigoso, TaeMin pensou. Esse relacionamento estava passando dos limites. Tudo estava demais para ele. Não estava acostumado aquilo. A culpa ainda cercava, mas o calor de JinKi era o suficiente para mantê-la afastada. Aquilo era loucura por tantos motivos diferentes.

Porque JinKi ia provavelmente apanhar em casa.

Porque isso poderia significa que ele teria que ler três e não dois livros por dia.

Porque os pais dele fariam os professores o vigiarem a cada segundo.

E porque TaeMin também estava feliz.

OT

JinKi só apareceu na escola dois dias depois, um sorriso amigável nos lábios como se nada tivesse acontecido. Suas duas mãos estavam enfaixadas. Ninguém perguntou o que tinha acontecido. Os outros porque não se importavam, TaeMin porque sabia. Só se viram no intervalo, quando foram direto para o canto escondido no jardim, que começava a ficar branco por causa da neve – mas ainda era possível deitar ali- e se abraçaram calados.

- Eu te amo.

O sussurro foi o suficiente. Foi demais. Passou dos limites. Sentia uma felicidade estranha, que tinha misturada a tristeza e a culpa. Não conseguia mais distinguir seus sentimentos direito. TaeMin chorou no ombro de JinKi, segurando as mãos feridas contra o seu peito, mas não respondeu.

Naquela noite, a gilete foi mais profundamente em seus pulsos até que saísse mais sangue do que poderia suportar.

OT

A primeira coisa que TaeMin sentiu foi que seus pulsos estavam apertados. Um bipe irritante não parava e sua cabeça doía um pouco. Abrir os olhos foi cansativo, assim como foi virar o rosto. Estava no hospital, o quarto era simples e conseguia ver a neve caindo pela janela. Sua mãe estava sentada em uma cadeira, um livro aberto em seu colo enquanto dormia em uma posição que não poderia ser confortável.

- Tae! Que bom te ver acordado!

Seu pai estava lhe dando um sorriso triste, enquanto tocava um botão atrás da cama. O menino franziu a testa, tentou levantar as mãos, mas apenas a esquerda obedeceu, a direita estava presa. Olhou para ela, tinha fios por todos os lados. Seus pulsos estavam enfaixados como as mãos de JinKi.

- Você nos deu um susto, Tae.

Uma enfermeira entrou agora, e seu pai foi acordar sua mãe. A moça, seu crachá lia “Sra. Jung”, verificou algumas coisas nas maquinas, pegou uma ficha na sua cama e então sorriu para ele.

-Alguma coisa dói, querido?

- Minha cabeça.

- Certo, está difícil de mexer? Está cansado? Tontura?

TaeMin tentou assentir, mas tudo girou. Levou a mãos esquerda até a testa e gemeu.

- Ok, encararei isso como um sim. Sabe o que aconteceu?

- Não muito... A última coisa que me lembro é de estar no banheiro – e se calou.

- E de tentar se matar, não é querido? – Não havia pena, o tom dela era carinhoso e preocupado – cortou seus pulsos com gilete e perdeu tanto sangue que quase conseguiu. Mas agora já está tudo bem.

Sua mãe estava chorando abraçada ao seu pai, viu com a sua visão periférica, ela murmurava algo como “se tivéssemos visto antes” e era consolada.

- Além disso, achamos algumas feridas no seu corpo, ficamos preocupados – ela sorriu um pouco – um amigo seu veio aqui todos os dias.

- JinKi?

Ele quase sentou e tudo doeu. A enfermeira colocou um termômetro em sua boca, e continuou falando.

- Sim, Lee JinKi. Os meninos das mãos enfaixadas, veio aqui todos os três dias em que esteve adormecido.

Sentiu falta de ar ao imaginar o mais velho lhe vendo naquela situação. Não queria aquilo. Sabia que ele tinha os próprios problemas, e foi por isso que tentara: para acabar com um deles. Para deixar o espaço para alguém melhor. Mas agora estava mais uma vez atrapalhando, se metendo entre JinKi e o futuro. Tudo estava errado. Não viu quando a enfermeira saiu, mas sentiu o carinho delicado que sua mãe fazia em seus cabelos.

- Desculpa, meu amor, por não ter notado antes.

OT

JinKi só apareceu no outro dia. Trazendo consigo a mochila da escola, livros e barras de cereais. Antes de dizer qualquer coisa, beijou os lábios de TaeMin da forma mais carinhosa que podia.

- Eu ia trazer doces – falou apontando para as barras -  mas me falaram que você não pode comer agora, por causa da sua dieta para recuperar nutrientes.

- Quem lhe falou?

- Seus pais.

O menino sentiu-se envergonhado. Era tão ruim para o outro que ele tinha que falar com os pais dele sobre o que poderia ou não fazer. As mãos ainda estavam enfaixadas, mas quando ainda passavam aquela sensação quente e aconchegante.

- Porque, Tae? – O tom era doloroso. Como se cada palavra fosse uma tortura – Você ainda é triste o tempo todo?

O garoto soluçou, sem saber o que dizer. As lagrimas caiam pelo rosto de JinKi  e ele quis cortar os pulsos novamente. Porque aquilo era sua culpa. Nunca era suficientemente bom para fazer qualquer coisa.

- Eu deveria ter insistindo mais para você parar – JinKi disse quando percebeu que ele não ia dizer nada – cortar os braços não poderia ser algo normal! Deveria ter dito a alguém, mas eu sou terrível –segurava sua mão com tanta força que doía – te amo tanto e deixei algo assim acontecer.

Parecia que o mais novo queria dizer alguma coisa, mas quando abriu a boca, estava chorando demais para conseguir dizer algo. Não poderia dizer ao outro o que sentia, não poderia falar da culpa, não poderia deixar tudo assim.

- Eu te amo, JinKi.

E então o outro se aproximou para beijá-lo novamente. As cortinas se abriram, mas o mundo estava mais opaco. O sorriso do outro não o cegava, porque ele não brilhava como antes.

- Estamos nos matando, Tae.  – Murmurou – sei que se sente culpado por minha causa e isso não pode ser bom. Não estou te fazendo bem, e porque te amo, sei que devo me afastar agora.

- Você vai me deixar?

- Vou.

A resposta doeu muito mais que o esperado. A maquina que media seus batimentos cardíacos começou a apitar muito mais. Perguntou-se se alguém poderia morrer de amor. Por amar tanto alguém que está indo embora, pois sentiu o ar parar em seus pulmões.

- Você precisa se afastar de mim para melhorar, mas Tae – ele segurou o rosto entre suas mãos – o lugar ao meu lado é seu para sempre.

- Mas...

- As pessoas dizem que o que sentimos na adolescência não é duradouro, mas eu sei que isso é – falou com convicção – atualmente, a gente se faz muito mal. Eu passei os últimos dias chorando, e você não parou de se machucar.

- Mas eu te amo.

- Eu te amo tanto – JinKi lhe deu um suave beijo nos lábios antes de continuar – mas agora preciso deixar que você se cure, entende?  Sei que pode parecer loucura, mas eu aqui tiro o seu foco.

- Quando você não está comigo, sinto como se fosse parar de respirar – desabafou – tudo parece pior, não posso te deixar ir.

JinKi soluçou, tudo aquilo parecia ser muito doloroso para ele, assim como era para o mais novo.

- Respire por mim, Tae – beijou sua testa de forma carinhosa – o faça pelo amor que sentimos um pelo outro.

Ficaram em silêncio um pouco, aproveitando os momentos que tinham juntos. Até que TaeMin, um pouco mais acostumado com a ideia, murmurou para o outro:

- E então?

- Vou voltar para você se você ainda me quiser. Mas eu preciso que seja feliz, Tae – murmurou encostando suas testas – precisa de tratamento e eu te atrapalharia, além do mais, estou colocando minha vida nos eixos agora.

- Por causa da nota?

Ele riu um pouco, o fitando diretamente nos olhos.

- Saí da casa dos meus pais. Sou menor de idade ainda por alguns meses, mas posso denunciá-los por maus tratos. Estou morando com um tio.

TaeMin o fitou confuso. Queria que o outro tivesse tomado essa atitude antes, pois o  queria bem, mas agora sentia como se tivesse afastado o outro da família. A culpa continuava vindo em ondas grandes como  tsunamis e então percebeu que o outro estava certo. Mesmo que JinKi fosse o responsável por abrir suas cortinas, também era o que deixava a opacidade maior. Precisava se afastar para melhorar e então ser bom para ele.

- Você me fez perceber que eu estava deixando minha vida passar, Tae. – O beijou no rosto – vou arrumar a minha vida, arrume a sua e então nos encontraremos novamente.

- Como pode ter tanta certeza?

O outro sorriu e o beijou pela última vez.

OT

A primeira vez que se falaram foi uma carta, porque TaeMin não tinha e-mail. O menino tinha mudado de escola, por causa dos problemas que sofria com bullying na outra, então não via mais JinKi nos corredores. O envelope fora deixado na porta da sua casa, com uma letra bonita que dizia “para Tae” e nela tinham varias coisas escritas sobre o dia a dia do outro na nova casa. Eventualmente, mandavam-se e-mails todos os dias.

Controlavam-se para não correr até o encontro um do outro, mas sabiam que assim era melhor. Era o tipo de relacionamento que precisavam no momento. TaeMin sentia que falar com o outro, mas não vê-lo lhe impulsionava a ser melhor. A tentar mais, porque quando estivesse bom, poderia ter o mais velho consigo. Atualmente tinha palavras doces e sentimentos trocados, sem a pressão do físico. E estava tudo bem assim.

OT

3 anos depois

JinKi chegou a sua casa mais cedo. Estava cansado, mas satisfeito com suas ultimas aulas de piano. Era bom estudar algo que realmente gostava. Parou quando viu quem estava parado a sua porta.

Lee TaeMin não tinha mudado nada, continuava magro, seus cabelos continuavam negros e curtos. Tinha o mesmo rosto bonito, mas parecia mais velho.  As cartas tinham parado há alguns meses, algo que fora explicado como etapa do tratamento, mas mesmo assim doía. Tinha duvidado que algum dia voltaria a ver o outro. E se quando ele ficasse feliz, JinKi não fosse mais o suficiente?  Mas agora ele estava ali.

Quando o mais velho se aproximou, não disse nada –sabia que o outro não era muito de palavras- e  lhe entregou uma caixa que tinha um post-it amarelo colado nela. As letras bonitas diziam “não preciso mais deles agora”. Era uma caixa de band-aids do Homem-Aranha.

TaeMin estava usando blusas sem mangas, mesmo que fosse inverno. E o espaço dele ali ao lado de JinKi ainda estava garantido.

Fim


Notas Finais


Eu realmente espero que a passagem de tempo tenha ficado bem claro, caso contrário vai parecer que eles começaram a se amar em tipo dias (??) sendo que demora 1 ano todo essa história antes do final.

O trecho em inglês logo depois do título é de Story of My Life - 1D.

Comentários são amor e são respondidos <333
Obrigada quem leu e até a próxima


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