Com as malas prontas e todos uniformizados, os alunos da 1-A estavam reunidos perto do ônibus que os levaria ao acampamento na floresta. O clima era de expectativa e animação — pelo menos até a chegada da turma 1-B.
— Ora, ora… então até quem desmaiou na prova veio? — disse Monoma com um sorriso debochado, cruzando os braços e encarando Sasuke. — Deve ser reconfortante saber que mesmo fracassando, ainda deixam você ir, não é?
— E eu achando que só a gente fazia vista grossa pra incompetência — acrescentou outro aluno da 1-B com um risinho.
Ashido já bufava, Kirishima revirava os olhos, e Kaminari começou a murmurar alguma coisa sobre “respirar fundo”. Midoriya apenas tentava ignorar, mas Sasuke, como sempre, ficou em silêncio — até que Monoma se aproximou um pouco mais.
— Me pergunto o que vão fazer quando perceberem que a 1-A está cheia de heróis de papel…
Foi quando Bakugou explodiu (literalmente, com uma pequena faísca na mão):
— Fala mais uma vez, seu idiota reciclado, e eu te faço engolir a matrícula da 1-B inteira!
A confusão foi interrompida pela chegada de Aizawa, com seu olhar cansado e fala arrastada:
— Se vocês ainda têm energia pra brigar, talvez eu peça pro ônibus dar a volta e deixar todos vocês aqui mesmo.
Todos ficaram em silêncio.
Menos Monoma, que ainda sussurrou algo… e então foi puxado pra trás por Kendo, sua colega de classe e autoconsiderada “babá oficial”.
— Me desculpem… ele ainda não aprendeu a ficar quieto — disse ela, suspirando.
A viagem mal tinha começado… e o caos já estava no ar.
..
..
Sasuke estava recostado próximo à janela do ônibus, ouvindo a música baixa que saía dos fones de Kyoka, que estava ao seu lado. Mas algo à frente chamou sua atenção. A voz de Midoriya — tensa e baixa — chegava até ele, principalmente por conta da maneira contida e séria com que falava.
— Uraraka… eu tenho que te contar algo. Aconteceu no shopping… — disse Midoriya, olhando para os lados, como se não quisesse que ninguém mais ouvisse. — Aquele cara… o vilão… o Shigaraki. Ele apareceu.
Ochako arregalou os olhos. — O quê? Como assim apareceu? Você o enfrentou?
— Não. Ele só… falou comigo. Sentou do meu lado como se fosse só mais alguém… e começou a falar sobre como os heróis não eram diferentes dos vilões. Disse que a sociedade é um jogo quebrado, onde os mais fracos sempre são esmagados. Foi… perturbador.
Sasuke franziu o cenho levemente. Fingia olhar para a estrada, mas captava cada palavra. Ele já havia cruzado com pessoas que carregavam essa visão distorcida da justiça… e agora ouvia aquilo vindo direto da boca do líder da Liga dos Vilões.
— Por que ele falaria com você? — perguntou Ochako, preocupada.
— Eu… eu não sei. Mas ele parecia certo de uma coisa: vai agir em breve. Disse que o mundo precisa de um "despertar".
Sasuke fechou os olhos por um segundo, refletindo. Aquilo não era só provocação. Era um aviso. Shigaraki estava se mexendo, e se achava que o caos era pouco… estava apenas começando.
Sem virar, ele comentou baixo, mais pra si mesmo do que para os outros:
— Então ele já começou a se mover…
Kyoka observava Sasuke com atenção. Ele estava quieto, mais do que o normal — o olhar perdido pela janela do ônibus, como se estivesse longe dali, em algum lugar distante que só ele conseguia enxergar. Ela hesitou por alguns segundos, mas então quebrou o silêncio entre eles.
— Você parece… distante ultimamente — disse, a voz baixa, mas carregada de sentimento. — Tipo… mais do que o normal.
Sasuke não respondeu de imediato. Apenas desviou os olhos da janela, encarando a paisagem por mais um segundo antes de voltar o olhar para ela. Seu rosto mantinha a costumeira neutralidade, mas havia um cansaço escondido ali, algo que Kyoka começava a perceber com facilidade.
— Algo aconteceu? — ela insistiu, um pouco mais gentil. — Ou você só tá… se fechando de novo?
Sasuke suspirou suavemente e voltou a olhar pela janela, como se estivesse escolhendo as palavras.
— Só estou pensando. Coisas demais acontecendo ao mesmo tempo. — Ele virou o rosto de volta para ela, mais sério. — Mas não estou me fechando com você.
Kyoka sorriu, mesmo que só um pouquinho. Aquilo… já era alguma coisa.
Kaminari surgiu como um raio — literalmente, quase pulando na cadeira atrás de Sasuke com aquela energia inconfundível.
— Ei, ei, ei! — exclamou, com um sorriso largo enquanto se apoiava no encosto da poltrona do Uchiha. — Por que você não foi com a gente no shopping, hein, Uchiha?
Sasuke virou o rosto lentamente, sem o menor traço de empolgação.
— Porque eu não queria.
Kaminari fez uma careta, como se tivesse levado um choque (dessa vez, figurativamente).
— Ah, qual é, cara! Foi mó divertido! A gente viu umas paradas iradas, Tsuyu quase fez o Lida pagar um chapéu ridículo, e Kyoka ficou uns bons minutos parada encarando uma loja de instrumentos — ele disse, lançando um olhar sugestivo para a garota ao lado, que imediatamente desviou o olhar, envergonhada.
Sasuke apenas fechou os olhos e apoiou o cotovelo na janela.
— Vocês se divertiram. Já valeu a pena.
Kaminari o encarou por um segundo… depois sorriu de lado.
— Você é estranho, sabia? Mas acho que é por isso que a Kyoka te acha interessante.
— KAMINARI!! — gritou Kyoka, batendo com o cotovelo nele, vermelha até a raiz do cabelo.
— Ai, ai! Tá bom, tá bom! — ele riu, se encolhendo. — Só tentando puxar assunto, juro!
O ônibus seguia tranquilo pela estrada cercada de árvores, rumo ao acampamento na floresta. Alguns alunos conversavam, outros cochilavam, mas o silêncio foi rompido de forma abrupta:
— Ei, Uchiha! — a voz de Bakugou cortou o ar como uma explosão. — Não vai falar nada sobre aquele cara com a foice na praia?
Todos viraram o rosto na mesma hora, inclusive Kyoka, que arregalou os olhos, surpresa. Sasuke abriu os olhos devagar, encarando Bakugou com uma expressão fria.
— Como você sabe disso?
Bakugou cruzou os braços e apoiou o pé no banco da frente, sem se importar com o olhar irritado de Iida.
— Tava de passagem. Vi de longe vocês dois sentados e aquela foice nojenta na areia. A aura daquele cara era uma merda. Vai mesmo fingir que nada aconteceu?
Sasuke desviou o olhar para a janela por um instante, depois voltou a encará-lo.
— Eu percebi que ele não estava ali por acaso… mas ele também não atacou. Pelo menos não ainda.
— "Ainda", hein? — Bakugou respondeu com um meio sorriso debochado. — Se ele aparecer de novo, é melhor não segurar tudo sozinho.
Sasuke não disse nada, mas pela primeira vez, olhou para Bakugou de forma quase… respeitosa.
Aizawa, que até então apenas dirigia com seu olhar cansado fixo na estrada à frente, suspirou fundo e falou com sua voz arrastada, mas firme:
— Uchiha... se esse homem representa algum tipo de ameaça, você é obrigado a relatar. Não estamos em passeio turístico.
O silêncio caiu no ônibus. Sasuke manteve os olhos na janela por mais alguns segundos, antes de finalmente falar, mesmo sem desviar o olhar.
— Ele se apresentou como um andarilho… disse venerar algo chamado Jashin. Carregava uma foice vermelha, manchada com sangue seco. Eu não senti intenção de ataque, mas ele falava com desprezo sobre a sociedade e os heróis.
— Um lunático com uma arma, ótimo — comentou Aizawa, o tom irônico mas atento. — E você decidiu manter isso pra você?
Sasuke fechou os olhos por um breve momento.
— Se ele quisesse matar alguém, teria feito. Eu não baixei a guarda... só estava tentando entender.
Aizawa ficou em silêncio por alguns segundos. O único som era o motor do ônibus. Então, ele disse:
— A próxima vez que você se deparar com algo assim, me avise. Não estamos em posição de subestimar ninguém. Entendido?
Sasuke apenas assentiu com a cabeça, sem emoção. Kyoka olhava pra ele com certa preocupação, enquanto Bakugou murmurava:
— Idiota durão...
A viagem seguiu, mas a presença do tal "andarilho" agora rondava a mente de todos.
— Tá muito quieto isso aqui... — reclamou Kirishima, se espreguiçando no banco.
— Até o Bakugou tá calado, que horror — completou Kaminari, arrancando um olhar mortal do loiro explosivo.
— A viagem tá monótona demais... — comentou Mina, esticando os braços por cima da cabeça. — Kyokaaa, canta alguma coisa! Vai, vai!
— Isso, anima a gente! — juntou-se Ochako, empolgada.
— Eu? N-não! Nem pensar! — Kyoka levantou as mãos, rindo nervosamente. — Não mesmo, gente!
— Ah, vai sim! — insistiu Sero, rindo. — Vai ser bom, e a gente já ouviu você cantar antes, manda bem demais!
— Já disse que não! — ela respondeu mais firme, o rosto ficando um pouco corado.
— Kyoka, canta. — a voz foi baixa, mas direta. Sasuke havia falado.
Todos se viraram para ele, surpresos. Kyoka travou na hora, os olhos arregalados.
— Eu... — ela gaguejou, corando ainda mais. — Só porque... você pediu... tá bom?
Kaminari fez uma expressão exagerada de surpresa, como se tivesse presenciado um milagre. Kirishima o cutucou, rindo baixinho, enquanto Kyoka pegava discretamente seus fones para usar suas jacks e conectar o som ao sistema do ônibus.
Com os primeiros acordes soando, a voz suave e poderosa de Kyoka preencheu o ambiente, trazendo um clima diferente. Os alunos se calaram, absorvidos pela melodia.
Sasuke olhava pela janela, mas um leve levantar de canto de boca denunciava que ele estava ouvindo com atenção.
A melodia suave se espalhava pelo ônibus, e Kyoka cantava com a voz baixa no início, mas cada vez mais firme. A letra falava sobre solidão — sobre como, às vezes, tudo parece silencioso demais, distante demais, como se ninguém pudesse entender o que se passa dentro da gente.
Mas aos poucos, a música mudava de tom. A letra dizia que, mesmo quando tudo parece escuro, sempre há alguém ali. Mesmo que em silêncio. Mesmo que só observando. Ninguém está realmente sozinho.
Alguns alunos ficaram com os olhos baixos, tocados. Midoriya apertou os punhos sobre os joelhos, pensativo. Ochako mordeu o lábio, emocionada. Kaminari, por mais brincalhão que fosse, parecia hipnotizado.
Sasuke continuava olhando pela janela, mas era impossível ignorar como os olhos dele suavizaram levemente, como se aquelas palavras tivessem atravessado camadas de silêncio dentro dele.
Quando Kyoka terminou, o ônibus ficou em silêncio por alguns segundos.
— Isso foi… lindo — sussurrou Momo, sorrindo com doçura.
— Valeu a pena insistir — disse Kirishima, quebrando o silêncio com um sorriso largo.
Kyoka apenas abaixou a cabeça, envergonhada, o rosto vermelho. Mas no fundo… ela sabia que aquela música tinha sido especialmente para alguém.
As mãos de Kyoka estavam pousadas sobre os joelhos, os dedos levemente trêmulos e entrelaçados, como se tentassem esconder o nervosismo que ainda pulsava em seu peito após cantar. A cabeça baixa, os fios escuros escondendo parcialmente o rosto corado, deixavam claro que ela ainda se sentia vulnerável.
Foi então que ela sentiu.
Uma mão.
Por cima da sua.
Quente, firme… e inesperadamente suave.
Ela ergueu os olhos devagar, surpresa, e seus olhos encontraram os de Sasuke. Ele não disse nada — como de costume — mas o gesto falava por si só. Não havia provocação ali, nem obrigação. Apenas… presença.
Kyoka sentiu seu coração acelerar, os olhos levemente arregalados e a respiração falhando por um segundo. Mas não puxou a mão. Nem sequer pensou em fazer isso.
Talvez… ela não estivesse tão sozinha quanto imaginava.
..
..
O ônibus finalmente estacionou com um leve tranco, e todos os alunos começaram a se levantar, espreguiçando os braços após a longa viagem. A porta se abriu e o ar da montanha invadiu o veículo, fresco e carregado de pinho. Ainda estavam no estacionamento do local, mas a paisagem já deixava claro que aquela viagem seria tudo, menos tranquila.
— AAAAAH, EU PRECISO MIJAR! — reclamou Mineta, praticamente pulando da escada do ônibus e correndo em círculos como um lunático. — Eu vou explodir, sério!
— Então explode logo, ninguém vai notar a diferença — murmurou Bakugou, revirando os olhos.
Antes que alguém pudesse provocar mais, uma voz energética ecoou próxima ao ponto onde o grupo desceu.
— BEM-VINDOS, CALOUROS!
Todos se viraram ao mesmo tempo.
Ali estavam quatro figuras com roupas vibrantes e expressões animadas: as Pussy Cats.
— Nós somos as heroínas que vocês verão bastante por aqui! — disse Mandalay, sorrindo com entusiasmo. — E sim, essa floresta é o campo de treino de vocês!
— Mal posso esperar pra ver o quanto vão chorar! — brincou Pixie-Bob, pulando empolgada.
— Pff, ótimo… — comentou Sasuke em voz baixa, ajeitando sua mochila nas costas.
E ali, na entrada daquela floresta densa, a nova etapa do treinamento estava prestes a começar.
Enquanto os alunos ainda se espreguiçavam e pegavam suas mochilas, Mandalay apontou para o horizonte, com um sorriso maroto no rosto.
— Estão vendo aquela colina no meio da floresta? — disse, esticando o braço. — Pois é, o acampamento de vocês está lá!
Todos olharam para o local indicado, surpresos com a distância. Era longe. Muito longe. Árvores densas cobriam a maior parte do trajeto, e só de pensar em atravessar tudo aquilo com mochila nas costas já dava preguiça.
— Espera aí… — Ojirou franziu o cenho, confuso. — Se o acampamento era ali, por que fomos deixados tão longe?
Antes que pudesse terminar a pergunta, Pixie-Bob bateu as mãos no chão com animação e gritou:
— Porque o treinamento já começou, docinhos!
O chão estremeceu subitamente, formando ondas de terra que se ergueram como serpentes gigantes. Sem nem terem tempo de reagir, todos os alunos foram lançados colina abaixo com força, gritos ecoando pela floresta.
— Vocês têm três horas pra chegar no acampamento! — disse Pixie-Bob, acenando com uma das mãos enquanto ria. — Boa sorte! Não se atrasem!
Sasuke caiu em pé, deslizando entre as árvores com facilidade, mas ao seu redor só se ouvia gritos e reclamações.
— ISSO É LOUCURA! — gritou Kaminari, batendo contra um arbusto.
— Vamos morrer antes de chegar! — berrou Mineta, agarrado a uma raiz.
— Hmpf… bem-vindos ao inferno — murmurou Bakugou, já começando a correr floresta adentro.
E assim, o verdadeiro treinamento havia começado.
..
..
Assim que os alunos conseguiram se estabilizar após o “pouso forçado”, não houve nem tempo para respirar. À frente deles, saindo de trás das árvores, colinas de terra e até de buracos no chão, surgiram diversas criaturas monstruosas feitas de terra e lama, com garras afiadas, olhos brilhando em vermelho e um rugido gutural que ecoava pela floresta.
— O que é isso?! — gritou Kaminari, dando um passo para trás.
— São monstros criados com a individualidade da Pixie-Bob! — disse Midoriya, já assumindo uma postura de combate. — Ela deve ter moldado eles pra testarmos nossas habilidades em campo real.
Alguns alunos ficaram visivelmente nervosos. Mineta tremia atrás de uma árvore. Aoyama piscava desesperadamente seu laser, sem saber onde mirar. Até Iida teve um leve tremor na mão ao ver a quantidade de inimigos se aproximando.
Mas então…
O quarteto maravilha entrou em ação.
Sasuke foi o primeiro. Com o olhar afiado, desapareceu com sua individualidade, surgindo atrás de uma das criaturas e a destruindo com um chute certeiro amplificado por sua velocidade absurda.
— Concentrem-se — disse ele, sério, para os outros.
Bakugou riu alto, já arremessando explosões com os dois braços.
— É disso que eu tô falando! Vamos fritar essas aberrações!
Todoroki deu um passo à frente, liberando gelo pelo lado esquerdo do corpo e criando uma barreira que segurou várias criaturas de uma só vez.
— Cuidem da retaguarda — avisou ele, enquanto congelava mais dois monstros com facilidade.
Midoriya, já com o One for All ativado, pulou no ar e desceu com um poderoso Delaware Smash sobre uma criatura maior que as outras.
— Vamos em frente! Se ficarmos aqui, não vamos chegar ao acampamento a tempo!
A energia do grupo era contagiante. Liderados pelo quarteto maravilha, os demais alunos começaram a recobrar a coragem. Kyoka ativou seus amplificadores de som, Momo começou a criar armas para quem não tinha, Kirishima endureceu seus punhos, e assim, a 1-A avançava floresta adentro… enfrentando seus primeiros desafios.
Sasuke segurou firmemente o bastão metálico recém-criado por Momo, girando-o com maestria entre os dedos antes de apoiar a base no chão. O brilho frio do bastão refletia a seriedade em seu olhar.
— Obrigado, Yaoyorozu — disse ele, sem tirar os olhos da floresta à frente. — Esse bastão vai ser útil.
Momo acenou com a cabeça, um pouco surpresa com o agradecimento direto, mas satisfeita por ter contribuído.
Sasuke então deu um passo à frente, sua postura naturalmente assumindo o comando da situação. Ele girou o bastão mais uma vez, firme e decidido, e sua voz cortou o ar:
— Eu já sei muito bem o que fazer.
Todos se calaram por um instante, focando nele.
— Midoriya, Kyoka e Kirishima comigo pela frente. Bakugou, cobre o flanco esquerdo. Todoroki, direita. Lida, leve os que estão com dificuldade pela trilha que abrirmos. Quem tiver suporte ou mobilidade limitada, fique na retaguarda e deem cobertura. Não parem de se mover. — Ele ergueu o bastão. — Não estamos aqui só pra treinar. Estamos aqui pra mostrar que merecemos estar nesse acampamento.
O grupo assentiu com determinação. Sasuke virou-se e deu o primeiro passo em direção ao desconhecido — e todos o seguiram.
A floresta tremia com os sons das batalhas. Árvores rachavam, o solo estremecia, e os rugidos das criaturas eram abafados por explosões, rajadas e ataques sincronizados.
No centro de tudo, Sasuke mantinha os olhos atentos em cada movimento do grupo.
— Kaminari, eletricidade pela retaguarda! — ele gritou. — Mantenha a distância, Ashido, espalhe ácido na linha de frente! Midoriya, na esquerda comigo! Bakugou, destrói tudo que tentar nos cercar!
— JÁ TÔ FAZENDO ISSO! — berrou Bakugou com um sorriso selvagem, explodindo três monstros com um único movimento.
— Uraraka, levita os troncos caídos! Lida, acelera e arremessa eles como projéteis! — ordenou Sasuke.
— Entendido! — gritaram os dois em uníssono.
Kyoka usava seus cabos auriculares com precisão cirúrgica, ampliando ondas sonoras em pontos estratégicos, fazendo os monstros recuarem confusos. Momo criava armas e armadilhas em tempo recorde para os colegas, e Todoroki congelava os que tentavam se aproximar demais.
— Perfeito, mantenham o ritmo! — Sasuke gritou, girando o bastão que Momo lhe dera e derrubando uma criatura com um único golpe preciso.
Cada aluno da 1-A seguia suas ordens como um verdadeiro esquadrão tático, e a sinergia era impressionante. Combinando suas individualidades e estratégias, eles aniquilavam as criaturas com tanta eficiência que até as Pussy Cats, assistindo de longe, estavam surpresas.
— Incrível... eles estão destruindo tudo sem perder o ritmo — comentou Mandalay, impressionada.
— E aquele ali tá liderando como se fosse veterano — disse Pixie-Bob, apontando para Sasuke.
Com uma última sequência coordenada, onde Kirishima endureceu o corpo para servir de escudo e Todoroki congelou o chão, Bakugou finalizou o grupo restante de monstros com uma explosão monumental.
Silêncio. Apenas a poeira se assentando.
A classe 1-A, mesmo ofegante e suada, estava intacta. E vitoriosa.
— Bom trabalho — disse Sasuke, ainda firme. — Mas a parte difícil só começou. Vamos seguir.
Ninguém questionou. Eles apenas seguiram em frente, confiando plenamente no líder que escolheram naquele momento.
..
..
A caminhada pela floresta havia se tornado mais calma após a intensa batalha. O sol filtrava-se por entre as folhas, iluminando o caminho de terra com pequenos feixes dourados. Alguns alunos conversavam entre si, rindo das situações que enfrentaram minutos atrás, outros apenas aproveitavam o raro momento de tranquilidade.
Sasuke caminhava um pouco à frente, ainda atento, mas mais relaxado agora. Foi quando Tsuyu se aproximou, saltando suavemente de um tronco caído para o lado dele.
— Uchiha-chan — disse ela com seu tom tranquilo, mas direto. — Posso te perguntar uma coisa de novo?
Ele olhou de canto, sem desacelerar.
— Hm?
— Por que você recusou o posto de representante da classe? — ela continuou, com os olhos fixos nele. — Quero dizer... você é um líder tão bom. Firme, direto, estrategista. Todos te escutam, mesmo quando fingem que não.
Houve um breve silêncio. O som dos passos no mato e o canto de alguns pássaros preenchia o ar.
— Porque eu não quero ser símbolo de nada — respondeu Sasuke, por fim, sem mudar o tom de voz. — Quem assume esse papel precisa representar mais do que apenas força... precisa ser alguém que acredita no sistema.
Ele virou o rosto um pouco mais para Tsuyu.
— Eu não acredito. Não completamente.
Ela piscou algumas vezes, absorvendo aquilo.
— Mesmo assim... acho que você inspira mais pessoas do que imagina.
Sasuke não respondeu. Apenas voltou a encarar o caminho à frente. Mas, por um segundo, a rãzinha jurava ter visto um leve sorriso no canto de sua boca.
Depois de muita caminhada e ação, os alunos da 1-A finalmente cruzaram a linha final de árvores que separava a floresta do acampamento. O céu estava mais aberto ali, com uma clareira espaçosa onde algumas barracas já estavam montadas e estruturas simples esperavam por eles.
— Finalmente... — disse Kaminari, caindo de joelhos no chão com um sorriso esgotado. — Achei que ia desmaiar antes disso...
— Foi só uma hora e meia — comentou Iida, ajustando os óculos, embora visivelmente suado. — Muito acima do esperado.
As "Pussy Cats" os esperavam logo na entrada do acampamento, com expressões surpresas e animadas.
— Uau! — disse Mandalay, cruzando os braços com um sorriso. — Vocês chegaram rápido demais!
— É, geralmente os grupos levam quase três horas — completou Pixie-Bob, erguendo os braços. — Alguém aí deu ordens bem firmes, hein?
Mandalay então olhou diretamente para Sasuke, que vinha um pouco mais atrás, com o bastão improvisado de Momo ainda preso nas costas. Seu olhar, como sempre, era calmo e atento.
— Você liderou, não foi? — perguntou ela.
Sasuke apenas assentiu, sem fazer muito caso.
— Impressionante — disse Pixie-Bob, rindo. — Um verdadeiro líder nato. Tá até dando vontade de jogar ele no nosso time de resgate.
— Continuem assim e talvez até o acampamento tenha que ser ajustado — completou Mandalay.
Alguns alunos riram, outros bateram palmas. Kyoka olhou discretamente para Sasuke, orgulhosa — e com aquele velho aperto estranho no peito. Ele, por sua vez, apenas encarava o acampamento à frente, como se já estivesse antecipando o próximo desafio.
Enquanto todos comemoravam a chegada ao acampamento, Midoriya caminhava um pouco mais afastado do grupo, observando os arredores com curiosidade. Foi então que seus olhos se fixaram em um garotinho, aparentemente com cerca de 7 ou 8 anos, sentado sobre uma pedra. Ele tinha um olhar sério e uma postura fechada, como se não quisesse contato com ninguém.
— Hm? Quem é ele...? — murmurou Midoriya, se aproximando com um sorriso gentil. — Oi! Você tá bem? Veio com as Pussy Cats?
Sem aviso, o garoto se levantou rapidamente e POW! acertou Midoriya com um soco direto nas partes baixas.
— AAAAAGH! — gritou Midoriya, se curvando, o rosto contorcido de dor. — P-por quê...?
O garotinho cruzou os braços, encarando-o de cima com um olhar sério.
— Herói, é? Achei que fossem mais atentos. Chegar assim, falando com qualquer um... nem sabe quem eu sou e já vem puxando conversa.
— M-mas... só tava tentando... ser gentil... — choramingou Midoriya, ainda tentando recuperar o fôlego.
— Gentileza não adianta nada se você não for forte. — O menino se virou, começando a se afastar. — Esse mundo não precisa de heróis sorridentes... precisa de quem saiba lutar de verdade.
Midoriya ficou ali, ajoelhado, sem entender muito bem o que acabara de acontecer — além da dor — enquanto atrás dele, Kaminari, Tokoyami e até Todoroki o observavam com expressões entre o choque e o riso contido.
— Uau... — disse Tokoyami. — Derrotado por um mini-mestre das trevas.
Sasuke observava tudo de longe, encostado em uma árvore com os braços cruzados. Ele viu Midoriya se aproximar do garotinho e, logo em seguida, ser nocauteado com um golpe direto nas partes baixas. O Uchiha franziu o cenho, descruzou os braços e começou a caminhar em direção ao garoto.
— Aí, moleque desgraçado... — disse Sasuke em voz firme, seu olhar penetrante cravado no pequeno. — Não é porque você teve um passado ruim que pode sair por aí agindo como quiser.
O garoto virou o rosto devagar, encarando Sasuke com um ar desafiador.
— E você quem é pra dizer isso?
Sasuke parou a poucos passos dele, a expressão dura como pedra.
— Alguém que entende melhor do que você o que é crescer na dor. Mas mesmo assim, nunca usei isso como desculpa pra humilhar quem não merece.
O garotinho não respondeu de imediato. Seu olhar vacilou por um instante, antes de virar o rosto com um resmungo.
Midoriya, ainda se recuperando no chão, sussurrou:
— Obrigado, Uchiha-san...
Sasuke apenas soltou um "tch" e se virou de volta, retornando ao grupo como se nada tivesse acontecido.
O refeitório do acampamento estava agitado e barulhento. A maioria dos alunos da 1-A devorava a comida com uma fome quase selvagem, depois do desafio na floresta. Kaminari e Kirishima disputavam quem comia mais rápido, enquanto Ashido ria alto com a boca cheia.
Mineta estava com lágrimas nos olhos, agradecendo aos céus por ainda estar vivo, enquanto Sugar Man comia como se fosse a última refeição da vida dele.
Midoriya e Uraraka dividiam uma bandeja, rindo dos momentos em que tropeçaram durante o trajeto. Todoroki comia de forma calma, mas não escondia que estava faminto. Já Bakugou, como sempre, comia resmungando, reclamando da quantidade de tempero.
Sasuke estava mais afastado, sentado ao lado de Kyoka. Ele comia devagar, em silêncio, mas seus olhos percorriam o salão inteiro, atento a tudo. Kyoka também não era do tipo que se empolgava com agito, mas parecia mais relaxada ao lado dele. Ela arriscou um leve sorriso ao ver o quanto os colegas estavam felizes — mesmo que estivessem completamente exaustos.
Era uma noite tranquila, como poucas tinham. E eles sabiam que, no dia seguinte, o verdadeiro treinamento começaria.
Enquanto Sasuke comia em silêncio, observando a algazarra dos colegas ao redor, sentiu o celular vibrar discretamente no bolso. Ele pegou o aparelho, desbloqueando a tela com um toque rápido.
Uma notificação: Mensagem de Mirko.
Ele arqueou uma sobrancelha, surpreso.
Mirko: "Soube que você desmaiou no exame. Está ficando mole, Uchiha?"
Sasuke soltou um leve suspiro, balançando a cabeça. Claro que ela saberia…
Enquanto os outros se empanturravam e riam alto, ele apenas encarava a mensagem por alguns segundos, antes de digitar uma resposta seca:
Sasuke: "Ainda ganhei. Mole é quem perde."
Ele bloqueou a tela e voltou a comer como se nada tivesse acontecido — mas, por dentro, já esperava outra provocação em breve. Mirko não era do tipo que deixava passar uma oportunidade de cutucar.
Enquanto todos ainda aproveitavam o jantar no refeitório improvisado, Kyoka estava sentada ao lado de Sasuke, mexendo na própria comida sem muito foco. Ela lançou um olhar curioso para ele, que comia em silêncio, como sempre.
— Sasuke… — ela começou, chamando sua atenção.
Ele ergueu levemente os olhos na direção dela, esperando que continuasse.
— Sempre quis te perguntar uma coisa — ela disse, apoiando os cotovelos na mesa e cruzando os dedos. — Você parece ser o tipo de pessoa que lutaria com uma espada… Tô errada?
Sasuke a observou por um momento, em silêncio, como se ponderasse a pergunta. Então, com um leve tom de ironia na voz, respondeu:
— Não está errada. Sempre achei que uma espada é direta… letal… precisa. Combina comigo.
Kyoka sorriu de canto, intrigada.
— Então por que nunca usa uma?
Sasuke desviou o olhar, voltando a encarar o prato.
— Ainda não encontrei a lâmina certa. — Ele pausou. — Mas… talvez um dia.
Kyoka continuou olhando pra ele, como se estivesse vendo algo além da resposta. Talvez, em silêncio, ela soubesse que aquele “um dia” não era só sobre uma espada.
..
..
Na ala de banho masculina, o ambiente era preenchido pelo vapor quente que saía das duchas e se misturava com as vozes animadas dos alunos da 1-A. Kaminari, com seu jeito espalhafatoso de sempre, reclamava da temperatura da água, enquanto Kirishima gargalhava e dizia que era perfeita pra “fortalecer os músculos”.
— Isso aqui sim é vida, hein! — disse Sero, ensaboando os cabelos. — Depois daquele treino, esse banho tá salvando minha alma.
— É… só faltava umas termas de verdade, aí fechava — comentou Ojiro, esfregando as costas com a toalha.
Sasuke estava mais afastado, embaixo de uma ducha no canto, completamente em silêncio. Higienizava-se de forma meticulosa e focada, sem entrar nas brincadeiras. Mesmo ali, parecia estar em alerta.
— Ei, Uchiha! — chamou Kaminari, rindo. — Tu parece mais tenso agora do que quando tava lutando com aqueles monstros!
— Relaxa, mano! — completou Kirishima, jogando um pouco de água em direção a ele. — Aqui é momento de paz!
Sasuke lançou apenas um olhar rápido e indiferente, enxaguando o cabelo.
— Higiene adequada também é parte do treinamento — ele respondeu seco, voltando sua atenção à ducha.
— Sempre tão sério — murmurou Tokoyami, do lado, com os olhos fechados sob a água quente.
Apesar das conversas e brincadeiras, todos se lavavam com cuidado, sabendo que os próximos dias no acampamento não seriam nada fáceis. Aquele banho, no fundo, era um raro momento de descanso.
Sasuke desligou a ducha, passou a toalha rapidamente pelo cabelo e caminhou até onde havia deixado suas roupas — em cima de um banco de madeira, dobradas com precisão. Mas, ao chegar lá, encontrou apenas o espaço vazio.
Ele parou, olhou em volta devagar, franzindo o cenho. O vapor ainda tomava conta do local, mas era nítido que suas roupas simplesmente haviam desaparecido.
— Legal… cadê minhas roupas? — ele disse em voz alta, sem levantar o tom, mas claramente irritado.
Alguns dos garotos que ainda estavam se enxaguando viraram na hora, tentando conter o riso.
— Ihhhh… roubaram a cueca do Sasuke! — gritou Kaminari, segurando a barriga de tanto rir.
— Não fui eu! — disse Mineta de imediato, se encolhendo atrás de Tokoyami, com medo de levar um chute.
— Cara, isso vai dar ruim — sussurrou Kirishima, já sentindo a tensão no ar.
Sasuke cruzou os braços e inspirou fundo, sem paciência pra brincadeiras.
— Eu vou contar até três — ele disse, encarando todos. — Se até lá minhas roupas não aparecerem, eu vou descobrir quem foi… e aí a coisa muda de figura.
— Eu vi alguém carregando suas roupas pra fora — disse Todoroki do nada, com a maior naturalidade do mundo, enquanto passava a toalha pelo cabelo.
Sasuke virou lentamente na direção dele, o olhar levemente estreitado.
— Alguém? — ele repetiu.
Todoroki apenas deu de ombros, como se não fosse problema dele.
Sem falar mais nada, Sasuke soltou um leve suspiro, amarrou melhor a toalha na cintura e começou a andar em direção à porta da ala de banho, completamente despreocupado com a situação.
— Ele vai sair assim mesmo? — perguntou Kaminari, com os olhos arregalados.
— Uchiha não liga pra esse tipo de coisa, cara… — murmurou Midoriya, boquiaberto.
— Eu ligaria! — disse Mineta, encolhido atrás de um cesto de roupas.
Sasuke atravessou a porta com a tranquilidade de quem não via problema algum em sair praticamente nu, focado apenas em recuperar suas roupas — e, se possível, dar uma lição em quem teve essa brilhante ideia.
..
..
As garotas estavam conversando tranquilamente na sala comum do alojamento quando Yaoyorozu notou algo fora do lugar.
— Isso aqui não estava aqui antes? — ela perguntou, apontando para uma muda de roupas dobrada em cima do sofá.
Kyoka foi a primeira a se aproximar, franzindo o cenho. Ela pegou a camiseta preta de cima e a ergueu.
— Isso é… — ela começou, mas foi interrompida por Tsuyu.
— São as roupas do Sasuke.
— Como assim vocês sabem só de olhar? — perguntou Uraraka, meio surpresa. – E você está chamando ele pelo nome?
Kyoka deu uma leve fungada, só por instinto… e paralisou.
— Nossa… — ela soltou sem querer.
— O quê? — perguntou Mina, se aproximando com curiosidade.
— Isso aqui tá muito cheiroso! — disse Kyoka, agora corada, estendendo a camiseta para as outras verem.
Mina logo pegou a peça das mãos dela e fez o mesmo.
— Uau! Como alguém consegue lutar daquele jeito e ainda cheirar tão bem?
— Sabonete caro… com certeza — comentou Tsuyu, analisando a roupa com sua costumeira calma.
Enquanto todas começavam a rir ou cochichar curiosas, Kyoka permanecia olhando a camiseta em suas mãos, o rosto corado, tentando ignorar o fato de que estava segurando algo tão pessoal. Mas no fundo… não conseguia parar de pensar no dono daquelas roupas.
A porta da sala comum se abriu com um leve rangido.
— Legal — a voz de Sasuke ecoou no ambiente — achei minhas roupas.
Todas as garotas congelaram.
Sasuke estava parado na porta, com a toalha branca ainda presa na cintura, gotas de água escorrendo lentamente por seu peitoral definido. Seus cabelos ainda estavam úmidos e caíam parcialmente sobre os olhos. A expressão era a de sempre: neutra, levemente irritado… mas o que realmente chamou atenção delas não foi o rosto.
Foi o corpo.
E mais especificamente…
O certo volume na toalha.
— M-meu Deus… — Uraraka murmurou, desviando o olhar imediatamente, vermelha como um tomate.
— Isso é crime, né? Isso devia ser crime — sussurrou Mina, com as bochechas em chamas.
— Eu… acho que parei de respirar — comentou Tsuyu, com os olhos arregalados, sua língua quase escorregando para fora pela surpresa.
Kyoka estava paralisada, segurando ainda a camiseta dele. O olhar dela caiu por um segundo na toalha e voltou para o rosto dele tão rápido quanto um relâmpago — mas era tarde demais. Seu rosto já estava completamente vermelho.
Sasuke nem pareceu perceber o caos silencioso que causou. Apenas caminhou até o sofá, pegou sua camiseta das mãos de Kyoka sem cerimônia, vestindo-a com calma.
— Da próxima vez que aqueles desgraçados tentarem esconder minhas roupas — ele disse, ajustando a camisa no corpo com naturalidade — vão ver só.
Ele se virou e saiu da sala, deixando para trás um grupo de garotas em silêncio absoluto, todas coradas, com corações batendo rápido demais.
Kyoka ainda segurava a respiração. E mesmo depois que ele saiu… ainda parecia sentir o cheiro dele.
Assim que a porta se fechou e o silêncio começou a se dissipar com alguns suspiros abafados, uma presença leve se aproximou de Kyoka por trás. Ela sentiu duas mãos tocarem seus ombros com firmeza.
— Ei… você vai aguentar tudo isso? — era a voz descontraída de Hagakure, a garota invisível, sussurrando próxima ao ouvido dela com um tom divertido.
Kyoka virou o rosto de lado, ainda com as bochechas queimando, os olhos arregalados.
— Q-quê? — ela gaguejou.
— Porque, olha — continuou Hagakure, rindo — se foi assim só com ele de toalha… imagina quando ele resolver tirar a camisa no meio de um-
— N-não fala essas coisas! — Kyoka balançou a cabeça, o rosto mais vermelho do que nunca. — Não tem nada disso, a gente é só… colegas. Companheiros de equipe!
— Ahã… colegas que trocam olhares, treinam juntos, quase morrem juntos, e agora compartilham roupas e calor — provocou Hagakure.
Kyoka afundou o rosto nas mãos, completamente sem saber o que responder. E, do lado, todas as outras garotas só observavam com sorrisos cúmplices.
Ashido cruzou os braços, ainda encarando a porta por onde Sasuke havia saído momentos atrás, apenas com a toalha enrolada na cintura. O ambiente estava tenso… ou melhor, carregado de suspiros e rostos vermelhos.
— Olha… — ela disse, quebrando o silêncio com sua voz despreocupada — a gente pode fingir que não viu, pode mudar de assunto, pode até tentar ignorar…
Ela virou-se para as outras garotas com um sorrisinho malicioso.
— Mas não dá pra negar que o desgraçado é um gostoso.
As garotas explodiram em risos — até mesmo Kyoka, apesar de tentar esconder o rosto com as mãos, não conseguiu evitar um riso nervoso escapar.
— A-Ashido! — Kyoka protestou, ainda envergonhada.
— Que foi? Só falei o que todo mundo pensou! — Ashido deu de ombros. — E o pior é que ele nem tenta. É só existir que ele já causa caos!
— E o volume na toalha… — Hagakure começou, mas Kyoka soltou um grito abafado.
— NINGUÉM MAIS FALA NADA, POR FAVOR!
O dormitório feminino virou um mar de risadas.
O céu ainda estava escuro quando o alarme estridente soou pelos dormitórios. Um a um, os alunos começaram a sair, cambaleando de sono, alguns ainda com o uniforme meio torto, outros bocejando como se suas almas estivessem escapando do corpo.
Às 5h30 da manhã, em ponto, toda a Classe 1-A e 1-B estava reunida do lado de fora, enfrentando o frio da manhã com olheiras profundas e expressões de puro desespero.
— Por que… a gente tá vivo? — Kaminari murmurou, apoiado em Kirishima, quase dormindo de pé.
Lá na frente, Aizawa estava com os braços cruzados, olhos semicerrados como sempre, ao lado das Pussy Cats e de mais alguns professores que observavam tudo com seriedade.
— Bom dia — disse Aizawa, com seu típico tom apático. — Se é que algum de vocês ainda tem energia pra dizer isso de volta.
— Isso devia ser ilegal… — resmungou Sero, esfregando os olhos.
— A partir de agora, o treinamento no acampamento começa de verdade — continuou Aizawa. — E se vocês acham que aquele caminho na floresta ontem foi difícil, saibam que aquilo foi só o aquecimento.
Pixie-Bob deu um passo à frente com um sorriso elétrico no rosto.
— Ebaaa! Hora de botar esses garotos pra suar! Vamos ver quem realmente tem potencial pra se tornar um Pro Hero!
— Isso é um pesadelo… — Mineta sussurrou, tremendo.
Enquanto isso, Sasuke apenas observava em silêncio, com os olhos fixos em Aizawa. Ele já estava de pé e pronto desde antes do alarme tocar.
Aizawa deu um passo à frente, os olhos ainda semicerrados, mas o tom de voz firme como uma rocha:
— O treinamento deste acampamento tem um objetivo principal — ele falou, com todos os alunos da Classe 1-A atentos, mesmo que quase dormindo em pé. — Vocês precisam amplificar suas individualidades.
Houve um leve burburinho entre os alunos. Kaminari franziu o cenho, Bakugou bufou com os braços cruzados, e Midoriya já estava quase arrancando um caderno imaginário para anotar mentalmente.
— Dominar a individualidade que vocês têm é só o começo — continuou Aizawa. — Um verdadeiro herói deve levá-la além dos limites. Isso é o que faremos aqui.
— Espera aí… amplificar? — perguntou Sero, confuso. — Tipo… deixar mais forte?
— Exatamente — respondeu Mandalay. — Vamos forçar seus corpos e mentes até que vocês se tornem mais fortes do que jamais foram. Isso inclui resistência, controle e potência.
— Ah não… — Mineta já tremia. — Eu só queria férias… com garotas… e piscina…
— Vocês terão pouco descanso — finalizou Aizawa. — E nenhum alívio. Se não estiverem dispostos a irem além, voltem agora pra casa.
Ninguém se mexeu. Nenhum aluno deu um passo para trás. Mesmo os mais assustados apertaram os punhos ou cerraram os dentes.
Sasuke, no fundo, apenas murmurou:
— Hmpf… era exatamente isso que eu esperava.
Próximo capítulo: Floresta pt2
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