Capítulo 16
Hades
Uma semana depois, a criação de Macária teve início nos aposentos do rei e da rainha do submundo, onde Perséfone e Hades uniram suas energias divinas em uma única, trazendo a existência da deusa da morte serena;
Nasceu uma criança com a beleza tão estonteante quando a de sua mãe e com o poder obscuro tanto o quanto o de seu pai, a aparência de Macária se consistia em uma bela criança com corpo pequeno e aparentemente frágil, cabelos tão negros quanto as águas do rio Estige e a pele tão clara quanto as pétalas de uma rosa branca, a aura tão sombria e reconfortante quanto a mistura da luz e das trevas, dotada de enormes asas negras, Macária alçou seu primeiro voou pelo céu eternamente escuro e frio de Helheim, era o grito de seu nascimento; após planar por vários minutos em seu novo lar, a deusa da morte serena retornou aos braços de Perséfone, abraçando a mãe calorosamente grata;
- Obrigada mãe, por ter me concedido a vida, também agradeço ao meu pai. - Macária sabia ler, escrever e expressar seus sentimentos perfeitamente, conceder um filho era diferente entre os deuses, somente o pensamento e o desejo de ter uma criança, já lhe concediam a habilidade explendida de gerar uma vida a partir do zero com seus poderes divinos; não havendo a necessidade de passar pelo mesmo processo que os mortais passavam, gerar uma vida lentamente durante o período longo de nove meses;
Desde que Hades e Perséfone ansiaram pela existência de Macária, a deusa foi destinada a nascer para se tornar a princesa do submundo;
Hades nunca esteve tão feliz e completo diante da presença de sua primeira filha, no entanto, toda essa felicidade foi marcada pela ansiedade do deus do submundo em ver a total recuperação de Adamanto;
Belzebu faria sua última visita ao submundo para verificar o bem estar do deus da conquista, era o último dia do prazo para finalmente Adamanto despertar de seu repouso absoluto;
Até mesmo Macária que acabara de nascer queria ver o deus da conquista acordado em breve; Perséfone contou a filha sobre o estado de Adamanto;
- Filha, você é tão linda quanto sua mãe. - Hades segurou a pequena garota em seu colo, admirando suas belas asas negras e o rosto tão belo quanto o de Perséfone;
- Você também é bonito pai. - Macária foi gentil na resposta, beijando o rosto de Hades que nunca receberá tanto carinho e amor como receberia agora de sua esposa e filha;
- Sim, isso tenho que concordar com você filha. - um sorriso brincou nos lábios de Perséfone admirando a conexão imediata entre pai e filha; - Vamos ver o seu tio, ele deve está acordado, esperando por nós. - Perséfone olhou para Hades com um olhar calmo e dócil; o imperador engoliu em seco, lembrando que hoje seria o último dia, o dia que Adamanto acordaria do seu descanso;
- Tio Adamanto. - sussurrou Macária ainda no colo de Hades ao se deparar com o deus de aspecto verde, o imperador e a imperatriz já estavam no quarto especialmente destinado a Adamanto, encontrando o deus da conquista acordado na companhia de Belzebu que retirava os cubos regenerativos do corpo do deus da conquista , aonde havia sido gravemente cortado pelo tridente de Poseidon; partindo o deus ao meio; no entanto, agora o corpo de Adamanto estava completamente recuperado;
- Ah, o que está acontecendo? Tio Adamanto? Quem é essa pirralha no seu colo Hades? Que diabos está acontecendo? - Adamanto tentou se levantar, mas arrependeu-se no mesmo instante ao sentir seu estômago queimar por dentro com sua tentativa frustrada de sair daquela cama; mesmo com a cura divina de Belzebu, o deus da conquista não estava totalmente recuperado;
- Calma, você não pode sair assim Adamas, ou vai piorar ainda mais seus ferimentos internos, por pouco não foi morto por Poseidon. - disse Belzebu sem esboçar reação, dando assistência a Adamanto para colocá-lo de volta na cama;
- Aquele miserável desgraçado, quero matá-lo com minhas próprias mãos! - Vociferou o deus socando a parede próxima a cama, lhe inflingindo mais dores pelo corpo ao fazer tal estupidez;
- Irmão, chega de tolices, você mesmo provocou isso, estou sabendo de sua traição contra Zeus, não piore mais as coisas, estamos tentando apaziguar a situação com Poseidon que te quer morto, tanto que ele retirou seu nome das histórias, eliminou toda a sua existência como um deus. - Hades deixou Macária no chão cuidadosamente, indo até a cama, sentando ao lado de Adamanto; que mordia o lábio contendo sua frustração ao saber que Poseidon destruiu sua vida; - Você não faz mais parte dos pilares do Olimpo, não é mais um dos treze deuses do panteão.
- Aquele maldito, como ele teve a ousadia de fazer isso comigo? - Adamanto fechou os olhos com fúria, rangendo os dentes como se fosse matar alguém a qualquer momento; principalmente se esse alguém fosse Poseidon;
- Você fez isso com você mesmo irmão, ao tentar nos trair. - Hades suspirou acariciando a têmpora, Adamanto o olhou pasmo, percebendo que até mesmo seu irmão mais velho parecia decepcionado com suas atitudes; - Apesar de sua traição, não estou com raiva de você, nem Zeus está, porém, não posso dizer o mesmo de Poseidon, você sabe como ele é, ele destesta motins, nosso irmão acha que você sujou a nossa imagem como deuses. - Hades colocou a mão sobre o ombro de Adamanto, tentando passar algum conforto ao deus da conquista que parecia inerte em seus pensamentos;
- Aquele moleque miserável me humilhou antes de quase me matar, mas pelo menos o maldito olhou pela primeira vez nos meus olhos. - Adamanto confessou amargo ao se lembrar da luta travada contra Poseidon, segundos antes de ser fatalmente atingido pelo tridente do irmão, o deus da conquista teve um pequeno vislumbre de seus olhares se encontrando pela primeira vez em milênios; algo que deixou uma grande marca em Adamanto, que por alguma razão, se sentia feliz, mesmo que isso quase o tivesse matado; pela primeira vez Hades presenciou um sorriso se formando nos lábios esverdeados do irmão;
- Você parece feliz com isso. - Hades cruzou os braços, olhando para Perséfone e depois para Macária, balançando a cabeça para que ambas se aproximassem da cama;
- Não estou nem um pouco! - Adamanto respondeu carrancudo, no entanto, seu semblante severo foi aos poucos mudando ao perceber uma pequena criatura de incríveis olhos lilás o encarando com um sorriso doce e ao seu lado estava Coré, o observando com um misto de alívio e felicidade por vê-lo recuperado; - Essa pirralha tem a sua cara Hades. - comentou apontando para Macária que sorriu novamente com a atitude do deus;
- Claro, é a minha filha Adamas, ela tem que parecer comigo. - O deus do submundo deu uma risada baixa, chamando Macária, fazendo a deusa da boa morte se sentar ao lado de Adamanto na cama;
- S-Sua filha? - Adamanto ficou perplexo com as palavras do irmão mais velho, voltando a encarar a pequena versão de Hades diante de si;
- Oi tio, estamos felizes que está recuperado, papai me falou muito sobre você quando eu nasci. - Macária segurou a mão esverdeada de Adamanto de forma atenciosa; - É bom finalmente conhecê-lo;
Adamanto ficou sem reação diante do carinho recebido por Macária, o deus da conquista não estava acostumado a receber tal atenção, sempre foi recluso e nenhum deus ousava chegar perto dele, Adamanto chegou até mesmo a pensar que sua aparência era a responsável por isso, era o único deus do panteão grego que tinha uma aparência diferenciada;
- Vocês exageram, estou muito bem como podem ver, Poseidon está perdendo sua força. - Adamanto respondeu de forma arrogante, no entanto, sua mão continuou unida a de Macária, o deus da conquista ficou um tanto constrangido, apesar de não ser acostumado a receber carinho, Adamanto permitiu que a pequena deusa ficasse próxima; - Não precisa se preocupar, vou viver por mais alguns milênios. - O deus da conquista colocou sua mão sobre a pequenina, retribuindo a gentileza de Macária de maneira sútil;
Perséfone e Hades se encararam com sorrisos ao ver a proximidade de ambos;
- Fico feliz tio, seja bem vindo ao nosso lar. - Macária se levantou, permitindo que Hades voltasse para perto do irmão;
- O que? Estamos em Helheim? - indagou o deus da conquista, finalmente se dando conta que não estava mais no Olimpo;
- Sim, estamos irmão, você ficará conosco a partir de agora. - Hades falou seriamente, olhando dessa vez para Belzebu que permaneceu calado no canto mais afastado do quarto;
- Não quero ter que juntar seus pedaços novamente. - disse Belzebu sem expressar reação, indiferente ao deus da conquista que lhe lançou um olhar severo;
- Você ficará no Elíseos, paraíso destinado a heróis e deuses, é um ambiente agradável. - Hades tentou apaziguar a fúria eminente do irmão, no entanto, Adamanto foi totalmente complacente com a decisão do imperador do submundo sob mantê-lo em Helheim;
- Está tudo bem, afinal. - Adamanto fez uma pausa breve refletindo sobre o que Hades disse anteriormente; - Não tenho mais nenhuma existência para qual devo retornar. - O deus da conquista olhou para Hades e depois para Macária e Perséfone, observando seus olhares cheios de preocupação;
Era a primeira vez que alguém, além de Hades se preocupava com ele, Adamanto se sentiu estranhamente em casa pela primeira vez;
- Pelo visto os rumores eram verdadeiros, você realmente transformou a Coré na imperatriz do submundo. - Adamanto olhou para Perséfone, notando a diferença em sua aura divina, agora a deusa da agricultura era semelhante ao seu irmão mais velho, quase compartilhando da mesma energia; como se tivessem se tornado um só, não existia mais luz e escuridão, existia uma mistura improvável de ambos; - Como foi ter que aturar esse velho Coré? - indagou o deus da conquista com um pouco de sarcasmo;
- No começo foi difícil, ele consegue ser muito teimoso e controlador as vezes. - Perséfone respondeu com ironia, sorrindo para Adamanto que sorriu achando divertida a expressão no semblante de Hades; que parecia prestes a matá-lo; - Mas agora não ne vejo mais sem esse deus cabeça dura. - completou beijando o rosto de Hades que relaxou no mesmo instante sorrindo para a imperatriz;
- É a primeira vez que te vejo sorrir irmão. - Adamanto se sentou com cuidado na borda da cama com a ajuda de Belzebu que também notou uma certa mudança no humor do imperador do submundo; o que lhe fez lembrar de Lilith, a única deusa que amou em toda sua vida solitária;
O Amor trazia uma felicidade genuína aos deuses, no entanto, tal sentimento também trazia consigo um peso muito grande, deuses eram seres que amavam com mais intensidade que os humanos e com isso, tanto a alegria, quanto a tristeza que amor pode proporcionar são tão esmagadoras que chegam a serem insuportáveis para um deus;
Belzebu não era mais o mesmo desde que matou sua amada com as próprias mãos, tudo o que lhe restava agora era encontrar alguém que fosse capaz de matá-lo; desde então, o senhor das moscas via o amor como uma maldição; Belzebu lamentou silenciosamente que Hades também tenha sido arrebatado por tal sentimento;
- Isso é graças a minhas duas deusas. - Hades agarrou Perséfone pela cintura e acariciou o topo dos cabelos negros de Macária; - Adamas, você pode fazer o que quiser por aqui, mas não admito que crie confusão em Helheim, principalmente se isso afetar a segurança da minha família. - Hades ficou sério de repente, Adamanto apenas assentiu, concordando com as regras do seu irmão mais velho; o deus da conquista não tinha problemas com Hades e até mesmo já passaram um tempo juntos, jogando xadrez em seu castelo;
Adamanto só sustentava um pequeno desafeto por Zeus e principalmente por Poseidon, aos olhos do deus da conquista, Zeus era um tolo e não merecia o título de líder do panteão grego, então perdia a paciência frequentemente com o deus do cosmos, que sempre usava mais a força de seus músculos do que a sua capacidade intelectual, isso irritava Adamanto profundamente;
Agora a seu desafeto por Posêidon era mais intenso e até mesmo poderia matar o próprio irmão se pudesse, Adamanto era constantemente ignorado pelo deus dos mares, que sequer olhava em seus olhos, Poseidon não considerava Adamanto como um deus digno, o considerava um verme, assim como os humanos, tanto que não teve misericórdia em feri-lo brutalmente;
A relação com Hades era mais tranquila e amigável, Adamanto sempre considerou o deus do submundo um deus digno de admiração, Hades era centrado, obstinado, responsável e o único merecedor do título de o deus mais forte do Olimpo, poderia até mesmo facilmente substituir Zeus, o deus da conquista nunca teve nada contra seu irmão mais velho, pelo contrário, poderia dizer que até mesmo o amava; e que recebia a recíproca do irmão; mesmo sendo um deus de aparência esverdeada e estranha, Hades era o único que o encarava diretamente nos olhos e o tratava como igual; então Adamanto o respeitava e nunca alterava sua voz diante da presença do irmão mais velho;
- Está bem, na verdade não estou com vontade de voltar para aquela merda de Olimpo, se eu voltar, Poseidon e eu vamos acabar nos matando. - O deus da conquista voltou a se deitar, desistindo de sair da cama por está sentindo dores em todos as partes de seu corpo; - Acho que vou continuar descansando aqui por uns dias irmão. - Adamanto aconchegou-se sobre a almofada macia, olhando para a bela família que Hades construiu, algo que nunca passou pela sua cabeça; talvez isso não fosse para ele. - Obrigado por cuidarem de mim. - pela primeira vez o deus da conquista deixou seu orgulho de lado e mostrou gratidão;
- Agradeça a Belzebu, ele que te salvou irmão, eu apenas pedir que ele fizesse isso. - Hades olhou para o senhor das moscas que não mostrou nenhuma reação;
- Não precisa agradecer, só fiz o que fiz por ordens do imperador Hades. - A voz grave e sombria de Belzebu soou pelo quarto; - Agora deve repousar e evitar conflitos se quiser continuar vivo. - O senhor das Moscas tocou na barriga de Adamanto, apertando a pele recriada pelos cubos, admirado de sua própria criação;
- Hey maldito, peguei leve, ainda está dolorido aí! - praguejou
- Ah está muito bem, nenhum defeito, minha invenção deu certo. - Belzebu respondeu sem esboçar reação continuando a pressionar os dedos na região da barriga de Adamanto que socou o rosto do senhor das moscas; que não aparentou não sentir nada, cuspindo um pouco de sangue; - Pelo visto está bem melhor, já está até procurando briga. - Belzebu massageou o próprio rosto. - Quer lutar comigo? -
- Você se escuta falando seu sádico filho de uma...
- Hey, o que falei de confusões por aqui Adamas?
Perséfone tirou Macária do cômodo ao ver que as coisas começaram a tomar um rumo violento, Hades se colocou entre ambos, no entanto, ao ver a dor presente no rosto do irmão, percebeu que era somente um blefe de Adamanto;
- Calma, relaxa, não vou iniciar uma briga com esse cientista gótico maluco. - Adamanto voltou a se deitar, passando as mãos sobre a barriga lentamente;
- Creio que você seja fraco demais para me matar Adamanto, então seria só uma perda de tempo. - Belzebu respondeu friamente indo em direção a porta. - Agora que está tudo bem, adeus. - o senhor das moscas deu um leve aceno antes de sumir completamente porta agora;
- Que desgraçado! - praguejou o deus da conquista com um desejo intenso de se levantar da cama e enfrentar Belzebu, porém, a dor era tão intensa que cogitar tal ideia era algo absurdo;
- Você não deixa esse seu jeito estourado irmão, um dia isso vai acabar te matando. - Hades levou a mão até a têmpora, massageando vagarosamente; - Agora vou deixá-lo descansar, meus espectros vão servi-lo enquanto estiver no meu castelo, depois que estiver totalmente recuperado e disposto a sair da cama, poderá ir para o campo Elíseos, lá o clima é mais agradável e acolhedor que o meu castelo. - Hades caminhou até a porta, ouvindo um sonoro "obrigado" de Adamanto antes de sair; o que fez o deus do submundo sorrir;
Hades sentiu-se mais tranquilo após ver a disposição de Adamanto, ao caminhar pelos corredores, o imperador sentiu a presença de um certo alguém ao virar no corredor esquerdo que dava acesso aos aposentos da imperatriz;
- Achei que tivesse ido embora. - Hades cessou os passos ao se deparar com Belzebu encostado na parede, como se estivesse esperando pelo imperador;
- Não antes de falar uma coisa importante para você. - o senhor das moscas foi direção de Hades, ficando frente a frente com o deus do submundo; - Você está diferente desde a última vez que nos encontramos.
- Talvez eu realmente tenha mudado Belzebu. - Hades dentro dos olhos negros profundos do seu velho visitante, lembrando da batalha que travaram um contra o outro e do momento único de reflexão que tiveram e também do presente que deu ao senhor das moscas para que encontrasse aquilo que tanto desejava; - Ainda tem aquele cajado que te dei?
- Sim, sempre ando com ele. - Belzebu colocou as mãos nos bolsos, dessa vez encarando os próprios pés antes de falar finalmente aquilo que desejava a Hades. - Então, percebi que encontrou uma companheira, está feliz?
- Sim, mais que nunca, você é o único que entendia como eu me sentia. - Hades colocou as mãos na cintura, dando uma risada fraca ao lembrar da conversa franca que teve com o senhor das moscas; - Tanto eu, como você éramos solitários, mas agora não estou sozinho, acho que posso entender agora o que você teve com Lilith.
- Então deve entender também que quando um deus se presta ao amor, ele estará fadado a sofrer, pense nisso imperador Hades. - Belzebu fez uma pausa breve e longa antes de dizer tudo o que pensa. - Um amor de um deus é sempre trágico e imprevisível...- Belzebu se ergueu da parede indo na direção oposta, dessa vez indo realmente embora dos domínios de Hades sem esperar a resposta do deus do submundo que ficou inerte após ouvir Belzebu;
Afinal, o que o senhor dos moscas queria dizer com aquilo?
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