– Esquece essa ideia maluca!
Manhã de segunda-feira, apenas queria me aprontar para o colégio e ir tomar café. Bang Chan acabou ligando, dizendo sobre uma viagem que o colégio dele faria, por causa que o time de vôlei – pasmem, com ele sendo o capitão – irá competir com um time da Inglaterra. A viagem já estava marcada antes mesmo do início das aulas e ele tinha o privilégio de ter um acompanhante, mas ele não tinha quem levar. Até agora – pasmem novamente, eu sou esse acompanhante. Ele nem ao menos fez a proposta, foi logo afirmando que eu vou.
– Isso são desculpas.
– Perder aulas são desculpas? Meus pais não irão concordar também.
– Você só irá perder as aulas de sexta e de segunda… e o colégio-
– Vai pagar tudo. Eu sei, eu sei… você já me disse isso mil vezes!
– Eu apenas queria que você viesse comigo – sua voz saiu melancólica.
– Às vezes nem tudo que queremos que aconteça sai como planejamos.
Como eu queria ir, uma viagem Internacional! Mas eu não podia aceitar sem pensar.
– Mas… e se nesse meio tempo o Hyunjin roubar você de mim?
"Ah, esse é o motivo real então?"
– Meio tempo? Irão ser apenas quatro dias. Você está querendo insinuar o que exatamente?
– C-i-ú-m-e-s. Sim, estou com ciúmes.
– Então toda vez que sentir ciúmes irá me levar a uma viagem para ficar longe do Hyunjin? Da próxima vez iremos à Tailândia?
– Não é apenas por isso. Como eu disse, queria ter você ao meu lado. Queria que assistisse o jogo ao vivo em cores, poder andar com você pelas ruas te agradando com presentes...
Os tênis no chão pareceram interessantes por alguns minutos. Respirei fundo, não queria lhe dar uma chama de esperança sobre algo incerto mas não era errado pensar na possibilidade de ir.
– Supondo que eu vá. Como será a respeito do visto? Eu tenho o passaporte.
Minha mãe disse uma vez que deveríamos estar preparados caso uma oportunidade de viagem Internacional aparecesse. Eu e meu pai sendo pessimistas, falamos que isso nunca aconteceria. O dinheiro gasto com os passaportes não pode ser mais denominado como inútil.
– Podemos resolver isso depois, mas você tem que me dar uma resposta até no máximo 16:00 horas.
– Tudo bem, irei f-
Elevei meu olhar quando de relance avistei alguém encostado na porta. Era Hyunjin, usava o uniforme do colégio. Ele veio até a cama e se sentou ao meu lado.
– Changbin?
– Assim que eu tiver uma resposta te aviso.
– É o Bang Chan? – Hyunjin perguntou e eu concordei. Aproximou seu rosto do celular. – Sabia que Changbin está atrasado por sua culpa?
– Hyunjin? Ele estava aí esse tempo todo?
– Ele acabou de chegar – respondi tedioso, eu sabia o que viria depois.
– Sempre estragando tudo como sempre…
– Aproveite seu dia sem o Changbin. Ele é meu hoje.
– Filho da mãe! Você quer arrumar briga?
– Tchau Chan, conversamos depois.
– Não mas-
Encerrei a chamada e olhei para Hyunjin. Estava feliz de ter conseguido provocar Chan.
– Agora sim meu dia começou.
– Não me use entre essa relação de ódio que vocês têm. – disse sério. Não queria ter nenhum envolvimento.
– Tudo bem, me desculpe.
– Por que vocês se odeiam tanto?
– No caminho eu te explico – disse se levantando.
– Como você sabia que eu ainda estava aqui?
– Olhei pela janela.
– Isso é outra forma de dizer que estava me observando? – brinquei.
– Pense como quiser.
Vesti o casaco do colégio, coloquei os tênis e apanhei minha bolsa. Tomei o café depressa e corremos para pegar o ônibus. O transporte estava quase saindo, mas conseguimos pegá-lo.
– Tentamos algumas vezes uma relação amigável entre nós, porém nunca deu certo – Hyunjin dizia, enquanto o ônibus andava rápido na medida do possível.
A troca de farpas acontece desde quando eram crianças. Intrigas bobas que foram elevando o nível à medida que os anos se passaram. Uma delas resultou em ossos quebrados, nunca mais se viram após essa tragédia. Em uma dessas visitas mensais que Hyunjin fazia antes de voltar ao Japão, conheceu as corridas clandestinas, a mesma que Chan participa. Se tornou um grande concorrente contra Chan, que não gostou nada disto. Agora que o Hwang está morando definitivamente na Coreia, para a infelicidade dos dois, irão se ver com frequência.
A aula já havia se iniciado quando chegamos, recebemos uma leve advertência da professora. Kihyun tentou falar comigo, disse que depois conversamos. As aulas da Sra. Jung sempre são silenciosas, dizer algo não sendo sobre a matéria de química é algo que ninguém nunca tentou arriscar e eu não quero ser o primeiro.
…
Durante o intervalo, Kihyun me contou sobre como foi se despedir de Changkyun. Comentou que ele estava triste, se arrependeu da nossa pequena briga, porém a vergonha falou mais alto e por isso não me contatou. Como eu disse antes, ele nunca irá deixar de ser meu melhor amigo. Vou mandar uma mensagem para ele depois perguntando se os garotos poloneses são bonitos.
Estávamos tão entretidos conversando que não notamos um grupo de garotos se aproximando. Era Jooheon e seus amigos. De imediato fiquei tenso, Kihyun olhou para mim com os olhos arregalados, Hyunjin era o único que estava indiferente com a situação. Estaria calmo também, se não fosse pelos garotos mal falados do colégio estarem sentados na nossa mesa.
– Chan me contou bastante sobre você – Jooheon disse na minha direção, fiquei calado. – Você nunca está com ele quando saímos então pelo visto a única forma de conversar com você é pelo colégio.
Ótimo, havia esquecido que Chan é amigo deles. Talvez eles não sejam tão perigosos da forma que as pessoas falam, mas o Bang também não é uma boa influência assim. Bem, Changkyun também não era. Kihyun e Hyunjin? Estão no meio termo.
"Pelo jeito, eu atraio más influências."
– Ele nunca me disse sobre vocês ou me chamou para sair com vocês.
Nem seus pais pude conhecer ainda quem dera seus amigos. Quando revertida essa situação, vejo que as únicas pessoas que ele não conheceu, foram Changkyun e Kihyun. Mas tudo bem, ainda há tempo, não precisamos fazer isso como uma obrigação.
– Aconteceu alguma coisa com Changkyun? Faz tempo que não vejo ele. – Felix perguntou.
– Ele foi mandado para a Polônia. A rebeldia extrema dele foi o motivo – Kihyun respondeu.
– Depois de dois anos… até que demorou para algo assim acontecer – Jisung disse, se me lembro bem esse é o seu nome.
– Você vai hoje? – Jooheon perguntou para Hyunjin, ele pareceu entender sobre o que Jooheon se referia e concordou com a cabeça.
Ótimo, Hyunjin é amigo deles também.
– Vocês se conhecem? – Kihyun perguntou surpreso.
– Não faz muito tempo.
O sinal para voltarmos para a sala tocou e nós levantamos. As pessoas nos olhavam e trocavam cochichos. O grupo misterioso sendo visto com alunos totalmente oposto a eles, claro que ficariam curiosos.
– Estamos em algum escândalo e não estou sabendo? – Hyunjin perguntou.
– Pelo simples fato do Jooheon e seus amigos serem vistos com nós, isso é um escândalo – respondi. – A fama deles aqui não é boa.
– Não sei o que dizem, mas são mentiras. Eles são legais, parecidos com Changkyun entendem?
– Que bela comparação – disse me sentando no meu lugar.
– Vamos sair mais tarde, se vocês quiserem vir irão poder conhecê-los melhor. – ele olhou em volta antes de continuar – Irei correr hoje – disse em um susurro.
– Corrida? – Kihyun perguntou confuso.
– É melhor falarmos sobre isso depois.
– Você está envolvido? Só foi o Changkyun ir embora que se rebelou.
– Cala a boca.
O professor entrou na sala minutos depois e se desculpou pela demora. Mandou abrirmos na página 82 e começamos a ler sobre as Guerras do Ópio.
…
– Eu não vou conseguir ir, fica para a próxima. – Kihyun se despediu e voltou a concentração na conversa com sua mãe pelo celular.
– Você não tem medo? Chan me disse que a polícia havia encontrado o local – comentei enquanto íamos para o ponto de ônibus.
– Eu gosto dessa sensação de estar participando de algo ilegal.
– Quando você me chamou para sair naquela noite, ia me levar para essas corridas?
– Sim, sorte que você recusou. Evitou uma briga que provavelmente aconteceria entre eu e Chan e tinha a possibilidade de ser pego pela polícia.
Pensei muitas vezes se ir era uma boa ideia. Não é o tipo de lugar que costumo frequentar, me sentiria deslocado.
– Então, você vai? – Hyunjin perguntou quando paramos em frente à minha casa.
– Acho que não, desculpe.
– Tudo bem, mas se eu ganhar a corrida, vamos para uma lanchonete depois. – ele semicerrou os olhos. – Ninguém recusa um passeio envolvendo comida.
– Realmente, eu não posso recusar – sorri. – Espero que você ganhe para nos vermos mais tarde.
– Já está com saudades?
– Você entendeu. – dei um leve soco em seu ombro e entrei em casa.
Mandei uma extensa mensagem aos meus pais explicando sobre a viagem. Meu pai respondeu primeiro após uma hora, eles conversaram bastante e chegaram a conclusão de que eu poderia ir. De imediato pulei de alegria e entrei em um estado de choque, estaria fazendo minha primeira viagem Internacional daqui poucos dias!
– Chan, Chan, Chan eles deixaram! – disse eufórico quando atendeu a chamada.
– O que? – perguntou confuso.
– Sobre a viagem… meus pais deixaram – minha voz foi perdendo o ânimo, estava envergonhado.
– Fico feliz de ver que está bem animado. – riu baixinho. – Vou passar na sua casa para resolvermos a questão do visto. Separe todos seus documentos e o passaporte, daqui a pouco estou aí.
Peguei o necessário e deixei sobre a bancada da cozinha. Almocei e tomei um banho. Liguei para Kihyun e ficamos conversando sobre a viagem desde sua desastrosa ida ao dentista. Ele não estava nem um pouco contente de saber que iria ter que colocar aparelho.
A campainha tocou, verifiquei a casa e conferi se não estava esquecendo de nada antes de sair. Bang Chan sorriu ao me ver e entramos no carro.
– Para o colégio, por favor. – Chan disse ao motorista – Meu professor e o diretor estão nos esperando, de lá vamos resolver toda a burocracia.
– Pelo jeito vai ser complicado.
– Não muito, o diretor é uma pessoa bem influente em várias questões. Isso acaba nos ajudando.
O silêncio era reconfortante, porém, havia momentos que a mão de Chan roçava na minha ou ele segurava meus dedos e soltava logo em seguida. Impaciente, eu entrelacei minha mão com a sua. Ele me olhou envergonhado e sorriu de canto.
– Desde de quando os papéis inverteram? Se você queria segurar minha mão era só ter falado.
– Eu… depois do que você me disse sobre estar indo rápido demais. Fiquei com medo de fazer algo que te incomode.
Não achei que ele ainda estivesse pensando nesse assunto.
– Me desculpa. Eu gosto dos seus… gosto do seu jeito, mesmo você sendo às vezes um pouco depravado. Eu apenas estava confuso.
– Não precisa se desculpar e depravado? Poderia ter sido mais delicado – disse fingindo estar ofendido.
– Pervertido, indecente… tem vários sinônimos é só você escolher um.
– Eu prefiro te calar com um beijo mesmo.
Seus dedos tocaram meu queixo, nossos rostos ficaram próximos e em breve segundos o espaço entre nós não existia mais. O ósculo se tornou agressivo, coloquei as mãos em seu ombro para afastá-lo.
– Você não se contenta com um beijo simples né.
– Acho que indecente combina com ele.
– Sério isso?
Chan olhou indignado para o motorista, que devolveu com um sorriso debochado antes de voltar a concentração nas ruas. O braço de Chan passou por volta do meu pescoço e aconcheguei a cabeça sobre seu peito.
– Te aguentar por quatro dias até que pode ser divertido.
– Cinco, vai dormir na minha casa de quinta para sexta. Assim vamos para o aeroporto juntos.
– Eu iria discordar mas fica mais fácil dessa forma. Que horas é o voo?
– De madrugada. Sabe, foi difícil não falar sobre você com os meus amigos.
Eu havia pensando em tudo menos nas pessoas novas que iria conhecer, são de um modo de vida oposto ao meu. Espero que isso não seja um empecilho.
– Espero que eles gostem de mim.
– Claro que vão gostar, impossível não resistir a você – disse apertando minha bochecha.
As palavras de Jooheon vieram em mente, decidi não dizer nada. Era um assunto para outro momento e poderia levar ele para o passeio mais tarde caso Hyunjin vença a corrida e se não tiver nenhum compromisso também. Eu não vou obrigar uma amizade entre eles, mas estarem sob o mesmo teto sem arrumar intrigas já seria um bom começo.
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