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História Uma suposta facção de balé - Final Changements


Escrita por: ikus

Notas do Autor


Oi, oi, oi, faccionáriessss do meu coração! Como estão?

Uai, Mel, mas não é sábado!!! É que sábado estarei viajando, e não queria postar por celular porque o wattpad sempre desformata tudo. Enfim, por causa disso adiantei um tiquim a postagem!

Bem, esse é o último capítulo (mas vai ter um epilogo depois). Não sei se foi minha pausa ou o ritmo da história, mas tenho notado vocês mais desanimadinhes por aqui, com menos comentários, etc. Apesar disso, espero que o encerramento da história seja uma leitura boa e satisfatória! A ideia de USFDB sempre foi ser um cantinho de conforto para vocês, então espero que seja!

Boa leitura! E, claro, se quiserem comentem porque eu fico muito feliz!
#EstrelandoOCoadjuvante

Capítulo 39 - Final Changements


 A cabeça de Jungkook girava e seu ombro sentiu o peso da mão de Hoseok. Taehyung aproximou um passo de si; nada mais, nada menos. Não sabia o que significava Jimin estar com sua mãe. Até que ponto ele falara. Por que ele conversara com ela.

Enquanto seus pensamentos insistiam em perguntas que nunca seria capaz de responder sozinho, os dois chegavam mais perto. Exceto Hoseok e Taehyung, ninguém do grupo notara a aproximação e uma conversa amena era trocada. Tais amenidades soavam tão esquisitas a Jungkook, ninho de um pânico inenarrável, que ele só queria desaparecer.

Mas não tinha para onde ir. Precisava ficar lá depois de tanto vai-e-vem. Já fugira sua cota de vezes, e sua mãe ficara em silêncio na sua. Precisava ser firme se quisesse algo resolvido — talvez não resolvido, mas ao menos um ponto final. Até para seguir a vida sem a ajuda de seus pais, ele queria um "não" formal primeiro.

Restou-lhe observar em silêncio o resto do caminho de Jeon Danbi e Park Jimin — a dupla mais inesperada de todas — até seu lado. Ao passo que a expressão de sua mãe era indecifrável, a de Jimin era tensa e ansiosa. Aquilo não deixava Jungkook confiante.

— Oi, filho — sua mãe disse. De canto de olho, Jungkook viu Bongcha e Jina irem cumprimentá-la animadamente, mas Jimin os interrompeu. — Quer conversar?

Era óbvio que Jungkook não queria. Os sentimentos deliciosos de ter experimentado o palco defendiam sua soberania no peito de Jungkook contra aqueles invasores: medo, decepção e remorso.

— Acho que precisamos — Jungkook suspirou.

— Certo. Tem um restaurante bom aqui perto, quer fazer isso enquanto jantamos?

— O que for melhor para você.

Para Jungkook, seria muito difícil engolir algo com tanto nervosismo. Não existia um "melhor". Então, deixou ao menos que a mãe escolhesse o "melhor" dela.

— Vamos lá então.

— O.k.

Jungkook, tenso, despediu-se de todos com um mero acenar de mãos. Não teve coragem de olhar Jimin e checar qual expressão o namorado acinzentado carregava. Jungkook mesmo considerava suas atitudes insuficientes para pessoas preciosas que estavam ali apenas para vê-lo dançar, apenas para apoiar aquele sonho que antes parecia só seu. Queria dar abraços e beijos. Queria agir como o Jungkook normal. Esperava poder ressarci-los depois.

E, sob o olhar preocupado de todos aqueles que ofereceram uma despedida de volta, Jungkook acompanhou sua mãe para fora do teatro.

-��-

O restaurante era terrivelmente chique, e Jungkook, um peixe fora d'água. Remexeu-se contra a ponta do estofado coberto por veludo vermelho da cadeira, fingindo que não via os olhares direcionados a si — apesar de ter trocado o figurino do espetáculo para uma roupa de ginástica, nem a roupa de ginástica, nem sua maquiagem dramática cabiam no ambiente.

Seu corpo parecia pronto para fugir. Talvez pelo treino de uma vida inteira evitando olhares para que seus passos, mesmo que lânguidos, não chegassem aos ouvidos dos pais. Era ridículo, seu racional sabia que não precisava fugir porque sua mãe enfim sabia de tudo, mas o costume estava talhado em seus instintos mais básicos.

O caminho até o restaurante fora curto, mas inundado de desconforto. Nenhum dos dois sabia o que falar. Nenhum dos dois se conhecia o suficiente para oferecer um silêncio gostoso. Nenhum dos dois parecia querer estar ali.

Já haviam feito seus pedidos e a falta do que fazer ou dizer deixava a situação ainda pior. O silêncio continuou sendo protagonista até as refeições chegarem; foi coadjuvante enquanto o som dos talheres contra os pratos soavam; voltou ao seu posto como principal quando o jantar estava no fim.

Jungkook e Danbi estavam há quarenta minutos lado a lado e não trocaram nenhuma palavra além de um "saúde" após um espirro.

Danbi pigarreou. Jungkook levantou o olhar até ela.

Mas o silêncio continuou. Jungkook voltou a baixar o olhar.

Danbi pigarreou de novo e, daquela vez, o pigarro se misturou a uma frase, soando como uma tosse fora de lugar, muito destoante de sua aparência requintada:

— Filho, eu não concordo com a sua escolha de carreira.

— Acho que deu pra perceber já. — Jungkook suspirou de volta. Nem sabia se deveria ficar decepcionado. No final, o nervosismo foi trocado por um grande vazio, como se escancarasse seu peito para qualquer merda que viesse.

— Ser artista é algo muito arriscado, sabe?

— Sei, sim.

— Não há nenhuma garantia de sucesso, nem mínimo. Em profissões mais clássicas, mesmo que você não se dê tão bem assim, ainda consegue alcançar o "mínimo" sem tanto esforço.

— Pois é.

— Acho que vai ser bem complicado para você conseguir se sustentar apenas com dança.

— Acho que vai ser complicado mesmo.

Danbi voltou ao silêncio. E Jungkook, de novo com o olhar baixo por ser obrigado a concordar com coisas que já sabia e que já abraçara, voltou a encará-la. Ela mordia os lábios.

E ela voltou a falar:

— Eu não concordo, mas acho que não sou eu quem tem que concordar...

— Quê?! — Jungkook arregalou os olhos e quase perdeu o ar. Porém, logo se recompôs. Por mais inesperado que fosse, a frase ainda não significava nada.

— Eu liguei para os pais daquele menino que você disse que ia visitar, o Hoseok. Queria falar com ele e entender um pouco mais de você, mas acabou que um outro amigo seu veio falar comigo também, o Jimin... Eles me contaram um pouco do quanto você se dedicou por todo esse tempo, e também do medo que você tinha de eu e seu pai descobrirmos.

Jungkook engoliu em seco, as mãos seguravam as bordas da cadeira com força. Danbi continuou:

— Parece que essa coisa da dança é realmente importante para você. E, mesmo eu não concordando, já não sei dizer se meus conselhos servem de algo... — Ela fez uma pausa e respirou fundo. Jungkook notou os olhos milimetricamente maquiados marejando. — Já não sei se uma profissão mais "clássica" foi uma escolha tão inteligente assim. Eu sou tão infeliz.

Jungkook a assistia em silêncio, com os olhos arregalados. Não sabia como reagir ou o que falar. Pela primeira vez, realmente quis oferecer um abraço à mãe.

— Desculpa, filho, pode esperar lá fora, por favor? — ela pediu, usando as costas das mãos para conter algumas lágrimas. — Só vou ao banheiro e pago a conta.

Ele acenou positivamente com a cabeça com cuidado, como se qualquer movimento brusco pudesse estilhaçar a mãe. Ela tentou dar um sorriso consolador, mas saiu torto; seu último ato antes de ir ao banheiro.

Jungkook esperou do lado de fora, com o peito fervilhando uma esperança que não sabia se podia agarrar. Tentou se distrair observando o movimento pequeno de carros na rua estreita, percebendo o jeito do vento fresco arrefecer as bochechas ardendo.

Após alguns minutos com ar de pequena eternidade, o sino da porta do restaurante soou — e era tão mais requintado do que o da loja de conveniências —, anunciando sua mãe. O cabelo não estava tão arrumado, a maquiagem tinha derretido um pouco e seus olhos e expressão, em vez de parecerem a de um boneco de cera, vibravam com emoções humanas demais. Jungkook até deu um passo para trás, assustado. Talvez incrédulo.

Sua mãe deu alguns passos em sua direção, e ele fez o seu melhor para permanecer firme. Ela estendeu a mão para tocar seu ombro, e ele não fugiu. O calor do toque era tímido, quase inexistente, assim como a relação dos dois. Ela encarou a própria mão no ombro do filho e os olhos marejaram ainda mais. Jungkook sentiu um aperto. No ombro e no coração. Era tudo tão estranho, mas não parecia artificial. Pela primeira vez, ela parecia uma pessoa.

Ela se aproximou mais alguns passos. Levantou o outro braço, mas hesitava em cada ação, como se não soubesse lidar com nada que não fosse um processo jurídico. Jungkook, entendendo o que ela queria fazer, segurou o braço alheio e o apoiou em seu ombro.

Abraçou-a.

Pela primeira vez, foi um pedaço do Jungkook que era de verdade com algum dos pais.

Nos segundos iniciais entre seus braços, a mulher tinha uma rigidez de pedra. Depois, amaciou tanto que parecia prestes a derreter para fora do toque. Confuso, Jungkook continuou na mesma posição, só analisando a reação da mãe. Ela agarrou seus ombros como se tentasse impedi-lo de fugir e apoiou a testa em seu peito. Foi a primeira vez que Jungkook notou ser tão mais alto.

— Eu... — ela soluçou. — Eu quero te apoiar na dança, filho... Na verdade, nem sei se posso te chamar de filho, desculpa. Desculpa usar essa palavra sem merecer, é porque eu quero tanto que você seja meu filho. Na verdade, eu quero tanto poder ser sua mãe, mesmo que tarde. Eu quero te ajudar a não ser infeliz assim.

Jungkook a apertou com mais força entre os braços, mas nada disse. Ela ainda parecia ter algo a falar, e ele ainda queria que ela falasse mais algo. Foram dezoito anos. Ele tinha se tornado um adulto enquanto esperava por aquelas palavras.

— Obrigada por me chamar para a apresentação de dança, acho que finalmente eu te conheci um pouquinho. Finalmente sei quem meu filho é.

Ela estremeceu em seus braços e se acomodou melhor em seus ombros. Jungkook a pressionou mais contra o próprio corpo, mas não muito. Porque não era o suficiente. Porque por mais que a mãe tenha visto um grande pedaço de si através da dança, ele ainda... Ainda...

Sentiu os olhos marejaram sem permissão, porque seria mais difícil do que nos seus sonhos esperançosos e infantis.

— Mas, mãe... Eu não sei quem você é.

Danbi se desvencilhou do abraço para encarar os olhos tão cheios de lágrimas quanto os seus. Com cuidado, pousou a mão na bochecha quente do filho e respirou fundo, tomando coragem para terminar de destruir o principal projeto de sua vida: sua imagem.

— Eu também não sei, filho. Acho que passei tempo demais vivendo como alguém que não era eu, mas prometo que vou fazer meu melhor para conseguir te responder, pode ser?

Incapaz de responder em palavras, desnorteado, Jungkook assentiu com a cabeça. A mão da mãe em sua bochecha era inesperadamente quente, já que ela sempre parecera tão fria. Era tudo tão diferente e tão novo. Nem parecia ser realidade.

Danbi sorriu. Um sorriso fraco, como se não soubesse como esboçá-lo. Entretanto, era o sorriso mais sincero que Jungkook já havia visto no rosto dela. Ela ficou na ponta dos pés para deixar um beijo na testa do filho, que estremeceu com o carinho tão inédito. Era tão estranho, mas queria tanto acreditar. Quis acreditar ainda mais quando sua mãe prometeu:

— Vamos tentar fazer seu sonho funcionar.

Se Jungkook estivesse sonhando, ele não queria acordar.

-��-

A capital era um lugar curioso. Tinha mais gente, mais carro, mais prédio. Tinha um jeito distinto, mas talvez fosse só seu encantamento de menino interiorano. Um encantamento presente não apenas quando observara os arredores pela janela do carro durante a viagem, mas também ali, naquela sala de pé direito alto e cores branca e caramelo.

Talvez o encantamento não fosse apenas um fruto da capital, mas também de todo o protagonismo que sentia. Toda a situação o lembrava de Billy Elliot e, se Billy era o protagonista de sua história, Jungkook definitivamente era o da dele. Os olhares da banca avaliadora pesavam em sua pele, de todas as direções, pois vastos espelhos cobriam as paredes. O enorme brasão da KArts atrás deles fazia o momento ainda mais pomposo e decisivo.

— Você estava naquela competição de dança em Busan, não estava? — perguntou uma mulher com cabelos em coque enquanto anotava alguns papéis.

— Estava, sim — Jungkook disse e estranhou sua voz; ecoava tanto na enorme sala de dança. — Fiz uma releitura de A Morte do Cisne.

— Sim, eu me lembro de você — ela respondeu, sem acrescentar nada. Jungkook interpretou como algo positivo, então se viu contendo o sorriso prestes a tomar seus lábios.

— Há quanto tempo você dança? — questionou o homem ao lado dela, batendo a ponta de sua caneta no pobre papel abaixo. — Sua ficha diz que é pouco mais que meio ano. Foi preenchida errado?

— Não, foi preenchida certo. — Jungkook mordeu os lábios e engoliu em seco. — Se for contar treinos sozinhos, eu danço desde uns oito, nove anos, mas a ficha perguntava há quanto tempo eu fazia aulas de balé e só tive aulas formais e aprendi as técnicas certas recentemente mesmo...

Os três avaliadores cochicharam entre si. Jungkook quis muito entreouvir ao menos uma palavra, mas não conseguiu; o próprio coração batendo ensurdecedoramente não ajudava. Esforçou-se muito para continuar com a postura perfeita e não demonstrar tanto seu nervosismo. Queria tanto trocar seu peso de perna, mas continuaria como um perfeito bailarino até sair de lá.

— Obrigada pelo interesse e pela apresentação — concluiu a primeira mulher. — Fique atento à sua caixa de e-mails, enviaremos o resultado do teste prático e da prova de conhecimento específico por lá.

Jungkook agradeceu de volta e, após uma pequena reverência, caminhou para a saída tentando não parecer tão afoito. Ao passar pela porta, foi atingido pelo burburinho agitado das outras pessoas interessadas em fazer Dança na KArts que esperavam sua vez na prova prática. Muitas encararam Jungkook, tentando absorver alguma pista de como era lá dentro.

Mas Jungkook só teve olhos para duas figuras sentadas em um cantinho, que levantaram da cadeira com o mero som da porta abrindo. Jeon Danbi e Park Jimin.

Vê-los juntos ainda era surreal para Jungkook. Nos últimos meses, sempre achava que, se lhe beliscassem a pele, acordaria do sonho. Bem, na maior parte do tempo.

Quando sua mãe resolveu apoiá-lo na dança: sonho. Quando ele a acompanhou na hora de escolher um novo lugar para morar: sonho. Quando sentiram o peito reverberar e o Sol aquecer a pele através da janela ampla da sacada do apartamento que acabara virando o deles: sonho. Fazer a mudança, decorar seu quarto com ajuda da mãe e de Jimin: sonho.

Quando Jungkook enfim convenceu Jimin de que ele não precisava mudar sua aparência para visitá-lo no apartamento da mãe: realidade. Só a realidade para justificar a careta que sua mãe dera ao ver Jimin da forma mais bela possível — de cabelos cor-de-rosa à luz do Sol, com seu macaquinho de pelúcia rosa lhe cobrindo a pele. Ela, que tanto parecia gostar de Jimin, que o considerava uma boa influência, não conseguia mais lhe dirigir uma palavra sequer.

Assumir sua bissexualidade e seu namoro com Jimin: pesadelo. Longos dias sem trocar uma palavra com Jeon Danbi, longos dias que precisou encontrar conforto na família Park e chorar, de novo, por causa de expectativas não cumpridas.

Assim como a dança, sua sexualidade e seu namoro com Jimin eram coisas essenciais para Jungkook, coisas que não continuaria escondendo, tendo apoio ou não.

Por longos dias, Jungkook jurou que não teria apoio e se agradeceu por continuar trabalhando na loja de conveniências. Até mesmo começou a procurar um quarto em alguma república para poder morar.

Não foi fácil aguardar o tempo da mãe. Aquele tempo se acumulava aos dezoito anos de negligência, criando uma pilha ainda maior de remorso e de um novo elemento: decepção. Só cedeu um pouco ao perceber que Jeon Danbi tentava.

Depois de uma semana fora de casa, Jungkook recebeu uma mensagem com um pedido para que acompanhasse a mãe na terapia. Apesar de suspeitar que ela fora ao psicólogo para "aprender a lidar com o filho gay", quando chegou ao consultório, o tema já era "como lidar com a homofobia" — sua mãe com a própria, Jungkook com a que sofria. Antes, Jungkook teve um momento com o psicólogo para que pudessem entender se ele queria participar do trabalho com a mãe. O resultado foi a recorrência semanal de três consultas: uma da mãe sozinha com o psicólogo, uma do Jungkook sozinho, e uma conjunta.

As primeiras vezes foram muito estranhas e esquisitas. Depois, Jungkook começou a gostar muito mesmo de ir ao psicólogo. Ainda mais quando sua consulta particular enfim saiu do monotema "bissexualidade", por mais que sua mãe ainda estivesse presa à homofobia.

Uma peça fundamental para o entendimento de Jeon Danbi foi, inusitadamente, a família Park. Conhecera Park Jina ao ser contratada para um caso da empresa em que ela trabalhava. Foi convidada para um jantar — apesar de Danbi não saber que Jina era mãe de Jimin, Jina sabia muito bem quem Danbi era — e, como uma das coisas em que estava trabalhando era a busca de novas amizades, por ter afastado todas por causa do ex-marido, aceitou.

Jimin foi avisado do tal jantar e resolveu participar dele. Usou seu melhor vestido e caprichou na maquiagem. Sua mãe, inclusive, prendeu algumas presilhas coloridas nos fios rosa e o apertou em um abraço encorajador. No fundo, Jina preferia que Jimin não fosse jantar, por não ser capaz de controlar a reação alheia.

Quando Danbi chegou à casa, a família Park ainda terminava de cozinhar o jantar. Os três. Depois do pequeno susto ao ser apresentada por Jina ao Jimin — como não conheceria o genro compulsório? —, os observou cozinhar com estranhamento. Não ofereceu ajuda, não saberia o que fazer.

Comeram, e o silêncio não foi total pela experiência vasta de Jina e de Bongcha em trocar amenidades. Danbi os acompanhou, mesmo com dificuldade. Quando Jimin tirou as louças dele, lavou-as, deu um beijo nos pais, cumprimentou Danbi e subiu para o quarto a fim de estudar, Danbi relaxou na mesa.

"Ele não vai te morder, sabe?" Jina resmungou, em um tom passivo agressivo. Bongcha a cutucou e ela fingiu uma risada. Danbi concordou, constrangida.

Apesar de o início não ter sido dos melhores, Danbi aproveitou já estar se sentindo humilhada para perguntar mais. Perguntas que carregavam vários traços de seu preconceito, mas que ainda não aprendera a reformular. Jina respirou fundo e Bongcha precisou assumir a conversa, mesmo que o plano tivesse sido todo da esposa.

Foi a primeira vez que Danbi absorveu que o entendimento sobre a bissexualidade de seu filho não era necessária. E que seria difícil demais. Ela não era bissexual, como entenderia? Enfim, começou a focar em aceitação — do próprio desconforto com algo que, realmente, era banal — e respeito. Ainda era complicado, mas parecia mais factível.

Como Jina estava de má vontade com a outra mulher, Bongcha foi quem convidou Danbi para mais jantares. E, apesar de não querer, ela aceitou. Achava aquela família esquisita, mas, ao contrário dela mesma, Jina e Bongcha pareciam satisfeitos com a própria vida e, não obstante, satisfeitos com o próprio filho — por mais que o segredo deste último ponto fosse simplesmente não esperar que o filho fosse ou fizesse algo específico para que o amassem.

Os jantares foram um bom começo. E, por mais que ainda não conseguisse olhar Jimin com os mesmos olhos de antes, Danbi tinha menos medo do que ele representava, apesar da cerimônia de formatura de Jimin e de Jungkook do ensino médio ter sido agridoce demais para ela.

Danbi reparou nos olhares que o resto da turma dirigia a Jimin enquanto ele ia ao palco do auditório receber uma medalha por ter sido o melhor aluno da turma. Pela primeira vez em tempos, Danbi quis abraçar Jimin, porque enxergava no peso e no julgamento daqueles olhos o mesmo tom degenerador de seu ex-marido. A mesma vontade de rebaixar.

Porém, ao mesmo tempo que sua empatia por Jimin crescia, ela teve ainda mais pavor por Jungkook. Não queria que o filho tivesse que lidar com o mesmo problema por causa de suas preferências, já bastava querer ser bailarino. Ao menos era bissexual, certo? Gostava de mulheres também. Por que não escolher mulheres? Pouparia-o de tanto.

Sabia ter pisado na bola quando, depois da cerimônia de formatura, sugeriu aquilo para Jungkook. Ele a olhou com completa descrença. Para Jungkook, era incompreensível sua mãe conhecer Jimin e, mesmo assim, imaginar um cenário em que não namoravam.

Jimin era encantador.

Jimin e ele tinham tanta história, tanto apoio um com o outro, era impossível apagá-la para se relacionar só com mulheres. Já não era questão de se atrair por qualquer gênero, e sim de amar Jimin. E, mesmo se namorasse mulheres, não seria menos bissexual; era o que tentou explicar para a mãe antes de ir embora, Danbi não sabia para onde. Só sabia que Jungkook não voltara ao apartamento deles naquela noite.

Foi necessária muita terapia e jantares com a família Park para Jungkook ver aquela cena da mãe e do namorado o esperando enquanto fazia o teste prático da KArts. Mas chegaram ali e, naquele momento, sim, era um sonho.

Era ainda mais doce saber que passeariam pela capital, voltariam para casa e Jimin ficaria com eles para cozinhar um jantar. Danbi era terrível na cozinha, mas aprendia aos poucos com a família Park, assim como Jungkook o fizera. A mulher não poderia negar, era divertido e gostava muito dos novos amigos, apesar de Jina ainda ser superprotetora e desconfiada quanto ao Jimin.

— Como foi? — Danbi perguntou, levantando apressada e derrubando sua bolsa ao estender uma toalha para Jungkook. Ele a aceitou e sorriu enquanto secava o suor.

— É difícil saber. Acho que me apresentei bem e eles lembraram de mim da competição lá de Busan — explicou e aceitou o sanduíche que Jimin oferecia; por estar nervoso demais, tinha comido pouco antes da prova prática. No momento, estava cheio de fome.

Jimin havia recolhido a bolsa caída da sogra, acomodado-a na cadeira e assistido ao abraço de parabenização com um sorriso no rosto. Apesar de ainda desconfiado devido algumas atitudes, ficava feliz em ver o namorado receber um dos apoios que sempre desejou. O pai... Bem, o pai dele era outra história, mas o homem era tratado como um delírio coletivo, e quase nunca era assunto de conversa.

Aguardou ansiosamente sua vez de abraçar Jungkook e, quando enfim encaixou o corpo forte, suado e imponente nos seus braços, não conseguiu conter as lágrimas. Era tão diferente do garoto magro, assustado e retraído que conhecera. O orgulho não cabia em si.

— É isso mesmo que tô vendo? — Jungkook assumiu um tom pomposo e dramático enquanto afastava o abraço e segurava o rosto do namorado. — Park Jimin, o homem de pedra, chorando?!

— Gracinha, não me provoque! — resmungou de volta Jimin, mas o choro não o deixava sustentar a pose brava. — É culpa sua!

— Minha? — O tom de Jungkook passou a ser doce ao passo que enxugava as lágrimas alheias com os polegares.

— Sim... Por ter crescido tanto. — A cada frase, a voz ficava cada vez mais baixa. — Estou tão orgulhoso de você... Obrigado por me deixar ver toda sua evolução.

Jungkook ficou quieto e encarou Jimin até que o olhar fosse recíproco. Apesar da vergonha e da timidez, viu refletido entre o delineado elaborado tanto, mas tanto amor e carinho que o próprio amor derreteu pelos olhos também.

— Mãe, olha pra outro lado! — pediu Jungkook afoito e, apesar de aleatório, foi obedecido.

Beijou Park Jimin como se sua vida dependesse disso. Provou do gosto salgado da boca dele e o misturou ao seu, o beijo de emocionados. Era impressionante — para não dizer outra coisa — o quão molengões eram um com o outro. Mas bem que Jimin gostava de dizer: alguma parte da vida precisava ser doce — apesar de às vezes misturado com o salgado das lágrimas.

O beijo foi interrompido por um sorriso que carregava aquela sensação diáfana e gostosa das coisas estarem no lugar certo. Talvez aquela fosse uma das únicas certezas da relação: quererem passar mais tempo juntos. E, apesar de apertar o coração de tanto amor, gostariam de senti-la para sempre.

Jimin correu para o banheiro por estar "apertado" — ou seja: precisando enxugar as lágrimas e se recompor. Jungkook voltou a conversar com a mãe e terminou de secar o suor para então vestir uma blusa por cima da roupa de balé, com preguiça demais de trocá-las por completo.

Logo, caminhavam em uma larga calçada da capital, rodeada por lojas suntuosas, muito estranhas para os dois garotos, apesar de Danbi não parecer impressionada — fazia muitas viagens a trabalho. Pararam em uma gelateria por sugestão da mulher e, apesar de envergonhado por ser algo tão caro, Jimin aceitou o gelato presenteado pela sogra. Sentaram-se os três em um banquinho da loja.

Jimin se distraiu olhando os transeuntes e notando que raramente era olhado de volta. Isso era raro e prazeroso — talvez de fato não fosse tão incomum em uma cidade grande. Pessoas diferentes passavam a cada momento e, apesar de gostar da sua cidade natal, tinha de confessar que queria experimentar mais daquela normalidade.

— Viu? — Jungkook sussurrou-lhe ao ouvido. — Não é à toa que seu canal tá crescendo tanto. Seu conteúdo é muito bom e você é lindo.

Jimin deu uma risadinha com o final da frase, Jungkook era um bobo. Mas era verdade, seu canal ia muito melhor do que o esperado. Apesar de haver, sim, algumas pessoas que se aproveitavam do falso anonimato da internet para serem maldosas, a maioria ou não ligava para sua aparência — e amava o conteúdo — ou até gostava dela. Jimin tinha certeza de que ainda seria difícil, mas não era mais impossível.

— Meninos, um cliente meu que se mudou para cá ouviu que eu vinha e queria fazer uma reunião. Tem problema se eu me ausentar duas horinhas? — Danbi perguntou depois de vários minutos olhando agoniada o próprio celular.

— Claro que não! — Jungkook respondeu com um sorriso enorme, muito seduzido pela possibilidade de aproveitar um pouco da capital a sós com o namorado.

— Nem para fingir um pouco de relutância? — Danbi brincou. Ou tentou, seu tom ainda era um pouco insosso, mas a tensão se desvaneceu quando os outros dois riram. — Mas tranquilo. Me liguem qualquer coisa. Não saiam desse bairro, ele é tranquilo e outros podem ser perigosos. Devo voltar em umas duas horas, aí a gente janta alguma coisa e volta para Busan.

Quando a mulher os abandonou, Jungkook e Jimin trocaram um olhar cúmplice entre as bicadas no gelato. Não era um local completamente seguro, ainda mais por ser desconhecido, mas estariam lado a lado conversando sobre tudo. E amavam conversar sobre tudo.

Guardanapos no lixo, investigaram os arredores e seguiram em direção a um lugar que parecia ser arborizado. Descobriram ser de fato uma praça com alegria; o Sol resplandecia alto no céu e fazia do momento perfeito para sentar na grama.

— Me lembra o seu quintal — Jungkook murmurou.

— Sério que você vem a uma praça famosa da capital para dizer que parece um quintal no subúrbio de Busan? — Jimin caiu na gargalhada.

— O que posso fazer se as melhores coisas no seu quintal são as mesmas que aqui?

— Ah, é? Quais são essas coisas?

— O Sol, o cheiro de grama e a presença do meu docinho, claro! Na verdade, seu quintal é bem melhor, porque lá eu já taria te beijando muito.

Jimin suspirou. Apetecia-lhe um beijo.

— Que crueldade, deu vontade também.

— Talvez fosse a intenção!

Riram leve, uma leveza de cansaço, porque o dia fora longo. Jimin dormiu tarde devido à sua neurose de arrumar tudo o necessário para a viagem, e acordaram bem cedo para chegarem com antecedência na capital. E, tendo passado o teste prático, Jungkook sentia o corpo amolecer.

Observaram os transeuntes. Poucos. Deveriam esperar, porque era o meio da semana e horário comercial. Jungkook, então, cometeu a ousadia de deitar no colo do namorado. Mais uma vez, sentiu-se certo mesmo em um lugar tão estranho. Seu peito apertou.

— Será que eu passo na KArts?

— Difícil dizer sem ter o resultado em mãos, gracinha, mas as coisas parecem ao seu favor. Até lembraram da competição, e sabemos que sua apresentação foi muito boa.

— Se eu passar... vou ter que me mudar para cá.

— É verdade.

— Você vai continuar em Busan, né?

— Acho que sim. Eu queria ficar perto dos meus pais, mas...

— Mas?

— Hm... Preciso pensar melhor.

Como Jimin não deu mais explicações, Jungkook fez seu melhor para relaxar no colo dele. Equilibrava-se entre a euforia e a tristeza, e nem achava que deveria. Não fora aprovado na KArts ainda para pensar na sua mudança para capital — e na não-mudança de Jimin. Nem ele nem Jimin tinham um ponto final sobre o futuro para se agoniar sobre o que seria do relacionamento.

Era esquisito. Antes, a única coisa capaz de abalá-lo era a impossibilidade de dançar balé — algo que tinha garantido, independente se seria em uma instituição renomada ou não. No momento, várias coisas eram capazes de tocar seu coração.

Parou para refletir e deixou de achar ruim. Se várias coisas tocavam seu coração, é porque eram verdadeiras e preciosas, certo? Colecionava mais amores além do balé e, apesar de nunca ter sonhado com aqueles amores como fez com dança, sabia que os desejava silenciosamente. Talvez desejasse mais do que dançar, mas soava ainda mais impossível; não poderia amortecer aquele sentimento dançando sem técnica em uma sala de aula abandonada.

Puxou a mão de Jimin, repousada em seu peito, até sua boca. Deixou um beijo longo nela.

— Obrigado por me amar — murmurou contra a pele quente de Sol.

Jimin abriu a boca para retrucar não ser necessário agradecer, mas encarou os olhos brilhantes e expressivos de Jungkook e derreteu. Levou os dedos até as mechas negras que o encantaram desde o primeiro dia, penteando-as para trás com as unhas ao responder em um tom manso:

— Obrigado por me deixar te amar, gracinha.

— Sério! Já tô com vontade de chorar de novo!

— Culpa sua! — Riu Jimin. A risada minguou, e ele precisou desviar o olhar para sussurrar: — Obrigado por me amar.

— Obrigado por me deixar te amar, docinho.

Ambos voltaram a se encarar, notando os olhos marejados. Riram um pouco deles mesmos, por serem tão chorões, mas as palavras, apesar de simples, carregavam um peso descomunal. Um peso que as palavras, por si só, não demonstravam, mas o olhar completava a mensagem.

Conheciam-se o bastante para saber que serem amados por quem eram tinha sido um desejo tão íntimo, mas tão gigante, que assustava. E aquela vontade oculta escapulia a cada interação, até estar daquela forma: escancarada. Ainda desejavam muito serem amados. E, enfim, eram-no.

Além de serem amados, descobriram no meio do caminho que a abertura dada para amar o outro era arriscada. Arriscada e preciosa. Era incrível se embrenhar por aquele espacinho, ocupar aquele lugar do peito de outrem. Era incrível estarem juntos. Era incrível compartilharem algo tão íntimo, como se a própria existência saísse do enclausuramento do próprio corpo, tão pequeno, e ocupasse um pouco da existência alheia.

Sem aguentar mais, Jungkook checou os arredores e se sentou. Puxou com delicadeza o rosto de Jimin em sua direção e depositou um beijo doce em seus lábios. Um beijo que fazia a pele vibrar de emoção e de vontade de mais.

Porque Jungkook, enfim, via-se mais protagonista do que nunca. Não só por correr atrás dos seus sonhos, mas também por ver um pedaço de si existindo no namorado. Por ter um pedaço do namorado existindo dentro de si. Era algo maior do que ele mesmo.

Ficaria tudo bem, porque eram protagonistas de si.

-��-

Taehyung se forçou a ficar mais dois minutos em silêncio. E nada. Findados esses, sacudiu os ombros do de cabelos rosa — não, não lhe daria o gosto de chamá-lo de amigo.

— Ei, Bratz purpurinada! — resmungou, sacudindo-o mais. Tinha que aproveitar tê-lo pego de surpresa, pois a represália de Jimin era mais forte. — Cê me chamou aqui só pra ficar te vendo com cara de cu?

Depois do susto, Jimin piscou os olhos e riu. Como compensação, foi comprar um pastel para o amigo antes de se acomodar nas raízes da árvore que virara a cativa deles. Além do pastel, tirou uma vitamina de morango da bolsa e a entregou ao gótico.

— Acho que você vai ter que aguentar um pouco a cara de cu, Danny Phantom Selvagem.

— Eu considero isso uma afronta à minha identidade! Quem faz cara de cu aqui sou eu! — chiou. — Mas vou fazer vista grossa hoje. O que rolou?

— Futuro mesmo.

— Vai precisar ser mais específico. A única coisa que tá garantida no nosso futuro é a morte, e acho que cê não tá pensando no seu plano funerário.

— Você é muito mórbido!

— Cê é muito vago!

Jimin caiu no riso e gostou de ser acompanhado por Taehyung. De fato, desde que encontrara o equilíbrio entre carinho e provocação, as conversas com ele sempre caminhavam bem. Até mesmo conseguiu convencê-lo a criar uma lojinha de personalização de roupas em meio a vários resmungos.

— Decidi que vou fazer faculdade de Pedagogia.

— Parabéns, futuro professor viadinho nº1. Cê tem notas altas, né? Entrar pro curso não deve ser problema.

— Não. Acho que o problema é justamente eu conseguir entrar em qualquer universidade com as minhas notas...

Taehyung soltou um resmungo sarcástico e rolou os olhos. Estufou as bochechas com mais pastel antes de, com a boca cheia, responder:

— Queria ter esse tipo de problema. Mas me conta então por que ser tão perfeito e inteligente tá te deixando com essa cara de cu.

— Então... Eu fiquei pesquisando sobre os cursos de pedagogia por aí... — Jimin começou a brincar com as unhas longas, nervoso. — Coisas básicas, sabe? Ementa, reconhecimento no mercado de trabalho, carreira dos ex-alunos, pontuação nas avaliações da qualidade de ensino.

— Uhum... E cê por acaso não consegue passar na que mais te agradou?

— Consigo... Mas ela é na capital.

— E qual o problema? O viadinho nº2 não tá indo pra lá também? Por acaso seus pais não querem que você saia de casa?

— Não! Eles querem muito, estão mais animados do que eu. Não que eles queiram que eu saia de casa, é só que eles apoiam muito eu estudar na faculdade que parece melhor para mim.

— Realmente, deve ser uma tortura ter pais que te apoiam.

— Desculpa! Não quis dizer nesse sentido!

— Eu sei. — Taehyung deu uma risadinha mais mansa. — Queria só te encher o saco mesmo. Mas o que tá te impedindo de ir então?

— Eu não queria ficar longe dos meus pais, na verdade. Eles são tudo para mim. Não sei o que é uma vida sem eles.

— Bratz, não é como se você estivesse indo pro outro lado do mundo se for pra capital. É três horas de carro. Você pode voltar, ou eles podem ir, sei lá.

— É, eles também falaram isso... Também falaram que faculdade é só por certo período de tempo e, se eu quiser, posso voltar depois de terminá-la.

— E eles tão certos, não tão?

— Sim. Mas mesmo assim, algo parece fora do lugar.

— Nem sei se eu sou a pessoa certa pra cê conversar sobre isso então. Não tô entendendo o cu doce. Não dá pra discutir com o outro viadinho ou o Hoseok? Escolheu a pessoa errada pra falar.

— Foi uma ótima escolha, sempre gosto de conversar com você.

— Larga de ser gay.

— Larga de ser hétero — retrucou e viu ter vencido o argumento ao analisar Taehyung amarrando a cara.

— Fingir ser hétero tá no papo agora que já tomei toco do tal do Seokjin. Isso que dá correr atrás de cara bonito e mais velho, é concorrido demais. — Lançou um olhar cortante para Jimin, que se inclinava em sua direção. — Não põe a mão em mim! Não quero abraço! Não tô triste! Nem conhecia o cara direito pra ficar triste!

— Se você diz... — Jimin ofereceu uma mexerica no lugar; Taehyung já devorara o pastel.

— Mas o.k., por que eu pra ter essa conversa de gente que liga pro futuro? — perguntou com uma sobrancelha arqueada, deixando claro que não queria falar do próprio futuro. Ou melhor, queria, mas não naquele momento. Já tinha jogado na roda que o assunto o preocupava de alguma forma; já tinha se esforçado demais.

— Bem, o Jungkook é parcial, aposto que ele quer que eu vá para ficarmos juntos, mas também acho que ficaria quieto sobre a opinião dele porque cabe a mim decidir. O Hobi está tão fodido quanto eu de decisão. Ele passou em uns bons cursos de Dança, em vários cantos, mas o Yoongi deve fazer Música aqui por perto enquanto trabalha como instrutor de piano no instituto de música deles para se sustentar.

— E deixa eu adivinhar: seus pais também falaram que a decisão é sua?

— Uhum.

— Então vai pra capital, ué.

— Mas e meus pais? Não sei se estou pronto para perder a rotina.

— Então fica por aqui.

— Mas aí eu perco a chance de ter um diploma muito bom e vou ter que namorar o Jungkook à distância.

— Viu? Eles estão certos. A decisão é sua.

— É verdade! — Jimin suspirou, derrotado. E se sentindo meio besta. — Que merda...

— Pensei que você fosse mais esperto que isso, Bratz.

— Em minha defesa, a espécie humana é geneticamente mais emocional do que racional, e não é estranho eu ter essa reação.

— Claro, claro. O que te deixar com a consciência limpa.

— Escroto.

— Pelo menos não tenho o cu doce igual o seu.

— Tem sim, mas você gosta de fingir que não, e não está pronto para essa conversa.

— E eu lá tenho medo de conversa?

— Vamos falar sobre seus sentimentos ao ter levado um fora do Seokjin então?

— Vou descolar mais um pastel, quer?

— Claro. Sabor "o que te deixar com a consciência limpa".

— Escroto.

— Sim, mas do mesmo saco de farinha que o seu. Isso que dá dois cabeças duras fingirem ter uma conversa.

— Ei, a gente tem conversa, mas ela é em códigos. Acontece.

— E diluída.

— Claro, em xingamentos.

— E o seu pastel? Por acaso está com dó de me deixar sozinho?

— Pelos deuses do metal, não vai achando que sou igual você e o outro viadinho.

Taehyung saiu batendo os pés, dramático que só. Apesar de a cada dia ambos reconhecerem melhor o "teatro" por trás de cada uma das ações, achavam mais engraçado do que constrangedor.

Jimin desviou o olhar do gótico na barraquinha de pastel para o topo da árvore em que estava apoiado. De um dos galhos, viu um pássaro voar, rápido, livre, por bons metros de imensidão de céu.

Não era um pássaro azul, e sim cinza com amarelo.

De qualquer forma, Bukowski voltou à sua mente, assim como toda aquela gama complexa de sensações em seu peito quando escreveu a carta de Jungkook: medo, expectativa, amor, orgulho e liberdade.

O pássaro pousou em uma raiz ao seu lado e o encarou com os olhinhos pretos, virando a cabeça algumas vezes daquela forma característica e engraçada das aves. Jimin não se moveu, não queria espantá-lo. Sabia que o animal não tinha nada a lhe dizer, mas talvez sua presença lhe desencavasse do peito algo que quisesse dizer a si.

Taehyung voltou quase correndo, afoito e o mais perto de alegre que sua expressão carrancuda permitia, espantando o pássaro. Esse bateu as asas e mais uma vez deu uma volta pelo parque antes de pousar no galho de antes. Jimin piscou os olhos em espanto.

— Tive uma ideia! — Taehyung arfou. — Sorteia sua decisão! Vai ser mó engraçado.

Jimin sorriu para o amigo, doce e alegre. De fato, a ideia não era de todo ruim baseado no quanto estava dividido entre as possibilidades. Porém, o cotidiano trouxera à tona a resposta guardada dentro de si.

— Que cara é essa? — Taehyung irritou-se.

Jimin deu uma risadinha e um olhar misterioso como resposta. Também deu de ombros, tão leves, sem nenhum peso neles. Tão leve, parecia prestes a voar, feito o passarinho cinza e amarelo.


Notas Finais


Muita coisa acontecendo, né? Mas finalmente darkness is over e é momento de mudanças! O que vocês acham que o Jimin resolveu?

Ah, não se esquece de deixar seu votinho! 💜

Qual foi sua cena favorita? Eu adoro a cena do Jungkook fazendo o teste prático na KArts! Meu pitiquinhooooo

E, já que estamos finalizando a fic (apesar do epílogo ser super importante), qual é seu detalhe favorito da história inteira? Eu gosto muito do relacionamento cúmplice que os jikook formaram, é muito gostoso mesmo escrevê-los! Além de ser mto rendida aos vminkook também!

Muito, muito, muito obrigada mesmo a todo mundo que leu, comentou, votou e deu tanto carinho pra mim e pra minha bebê!! MUITO OBRIGADA POR TER CHEGADO ATÉ AQUI!!!

Beijinhos de luz e até 25/03/2023 às 19:00 para o nosso epílogo!


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