A chuva batia de maneira insistente na janela, me fazendo lembrar que havia uma casa logo atrás de mim e não apenas aquela tempestade do lado de fora que molhava minhas roupas. Contudo, isso não era relevante e nem o fato de que poderia ter uma febre, importava — naquele momento nada mais parecia me atingir, nem mesmo as gotas frias que beliscavam minha pele no toque brusco.
Não que eu estivesse me declarando dependente de alguém ou super-protetor, mas eu havia perdido um pedaço do meu passado e pseudo-presente naquela tarde, que como em um drama cinematográfico, decidira fechar suas nuvens para mim, assim como Jungkook fechara seu coração.
E eu sabia que ele não voltaria, pois diferente da chuva que poderia evaporar e ter sua segunda chance, eu perdera até mesmo a quinta — talvez devesse ter mostrado mais interesse às suas conquistas, dado mais atenção ao garoto manhoso que ele era e esperado sua cena favorita do filme chegar antes de cair no sono. — De fato, sequer podia odiá-lo pela escolha lógica que fez em largar a mão do idiota que eu estava sendo até então.
Agora já era tarde para acreditar que ele voltaria aquela esquina e aceitaria minhas lágrimas mescladas a chuva, como desculpa pelo tolo que fui. A chuva afinal já tinha sido suficiente em nossas memórias.
Fora a garoa de uma noite que nos aproximou, na frente daquela cafeteria mesmo — ele sendo o último cliente e eu fechando a loja quando me deparei com seu cenho franzido, indignado com a mudança de clima. Talvez acreditasse que iria se molhar por completo uma vez que eu estivesse fechando o único estabelecimento aberto àquela hora. — Porém eu abri meu guarda-chuva para si, oferecendo-lhe meu lado direito e tendo sua resposta quando se aninhou para perto.
Vi em seus traços, tranquilidade, uma juventude perdida que queria ser encontrada; olhos que eram escuros como chocolate derretido, igual àquele chocolate quente que sempre pedia ao se sentar no mesmo lugar; mas seu sorriso, que surgiu mudo em agradecimento, me derreteu mais que neve no verão. E desde então ele também ocupara o lado direito de meu coração.
Todavia, como tudo começava calmo, como uma garoa, terminou-se em uma tempestade com direito a granizo — que impediu-me de entender suas últimas palavras e compreender seus reais motivos por ter me dado as costas enquanto era banhado pelas primeiras gotas da chuva. — Sequer consegui me manifestar em meio todas as sinceridades que me deu em bandeja de prata banhada a angústia. Ele me poupou do adeus e abriu seu guarda-chuva.
E eu ficara ali, olhando todos fecharem as janelas ou pedalarem mais rápido para casa; acompanhara quando a chuva aumentou e mais nuvens escuras se acumularam no mesmo espaço; quando minhas roupas grudaram no corpo e a primeira lágrima desceu.
Ele havia se retirado do meu coração junto com as memórias, momentos e meu único guarda-chuva para estações chuvosas.
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