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História Umbrella High School - Fraquezas Expostas


Escrita por: PJ_Redfield

Notas do Autor


Alguém aí querendo Colegial???
E olha só, mais uma narradora nova! Algo me diz que muitaaaaaasss tretaaaaass estão se formando por aqui.
E hoje: Drama! Romance! Revelações!
Espero que gosteeeeemm ^^
BORAAAAAAAAA!!!
Boa leitura...

Capítulo 35 - Fraquezas Expostas


Fanfic / Fanfiction Umbrella High School - Fraquezas Expostas

* * * Jill * * *

É claro que meu coração se espreme no peito e meus olhos marejam quando vejo o Chris de graça com uma garota bonita e atraente no corredor... Apesar de ainda ontem eu tê-lo visto com olhos tristes, hoje parece outra pessoa. Mal falou comigo quando o chamei e agora está que é só sorriso com a garota.

Mas ele nota meu olhar.

E a Claire, a Sherry e a Rebecca notam a troca de olhar.

Ele é solteiro, que faça o que quiser com quem quiser.

Não me importo... Não posso me importar.

-- Vou procurar o Carlos, vejo vocês depois.

Saio depressa daquele corredor, sentindo os olhos delas me seguirem e pior: sentindo a dor daqueles dois ainda de chamego nos armários. Minha vista embaça e sinto as lágrimas, mas me xingo mentalmente e esfrego meu rosto antes que eu caísse de novo.

CHRIS REDFIELD APENAS ESTÁ SENDO CHRIS REDFIELD!!!

Viu só como ele é de verdade? Entenda e aceite!

Meu coração se parte no peito, mas ignoro... Ele é livre, não me deve nada. Talvez o vendo perto de outras, o que eu sinto, morra. Vai doer, vou chorar, vou sofrer, mas talvez seja melhor dessa forma, não é... Não é!?

Balanço a cabeça procurando pelo Carlos e o vejo na parte mais distante da arquibancada. Respiro fundo antes de ir para lá, não querendo demonstrar pela décima vez fraqueza por causa de alguém que ele me alertou desde o início... Por que não o ouvi? Ele me disse, previu tudo, me avisou. Mas fui burra, ignorei e me apaixonei. Mereço sofrer agora.

-- Carlos?

Quando o chamo, ele salta do banco pegando as coisas e se afasta apressado dali como se quisesse fugir de mim. Me assusto com seu jeito e rio, achando graça, então me apresso para segui-lo mesmo vendo que não parava.

O que é que deu nele?

Eu fiz alguma coisa?

-- Carlos!?

Por que ele está fugindo de mim?

Quando se afasta mais, corro até ele e me enfio na sua frente podendo ver a razão dele fugir de mim estampada no olho roxo que ele carregava. Ele para, desvia e encara o outro lado da arquibancada, parecendo impaciente.

-- Carlos...

-- Não começa, Jill.

-- Carlos, meu Deus...

-- Estou bem, não é nada, fica tranquila.

-- “Nada”? Chama isso de “nada”?

-- Só quero ler... Pode me deixar sozinho?

-- Não! Quantas aulas está perdendo? Vai reprovar de ano!

-- Dane-se, não quero que todos fiquem me encarando...

-- Carlos...

-- Jill, não esquenta.

MALDITO, ALBERT!!!

-- Foi ele?

-- Esquece isso, por favor.

-- É o Albert, não é?

-- Esqueça isso.

-- Não dá! Cada vez você aparece pior, Carlos!

-- Isso não tem nada a ver com você, Jill, não se meta!

-- Eu me meto sim, sou a sua amiga! Quero o seu bem!

-- Então, simples: PARE DE SER MINHA AMIGA! E NÃO SE META MAIS!

Ele me olha feio e se afasta dali pisando firme.

Ótimo... Um amigo a menos para “completar” minha vida?

É tão ruim assim eu querer ajudá-lo?

Mas que droga... Não quer ser mais meu amigo? DANE-SE!

O sino bate dando início a primeira aula e olho novamente para ele que volta para arquibancada, sem nem ao menos me olhar. Me apresso para ir para sala, mesmo sabendo que chegar atrasada na aula do Professor Luis não era necessariamente um problema, mas vou para lá sem olhar para ninguém, apenas sentando no meu lugar e puxando meu caderno.

Olho para a cadeira ao lado, vazia.

Será que ele realmente falou sério sobre não sermos mais amigos?

Ah, dane-se... Não vou mais implorar por companhia de ninguém.

Abro meu penal e pego uma caneta, colocando a data de hoje na folha, mas quando o Chris entra na sala com o cabelo bagunçado e a jaqueta desengonçada, o frio toma conta do meu estômago... Ele passa por mim como se não me enxergasse e vai para o fundão da sala.

Ele estava com aquela garota?

Aquela que vi jogando charme com ele?

-- EI, EI, EI, OLHA ESSA BAGUNÇA!

O Professor entra na sala dando uma bronca no pessoal do time, mas ignoro.

-- Animados para hoje?

-- VAMOS FAZER UMA FESTA, PROFESSOR! ESTÁ CONVIDADO!!!

O Chris grita lá de trás e todos ao redor comemoram, mas não consigo nem ao menos esboçar um sorriso depois de como vi ele entrar... Estava com ela. Só pode ser isso, estava com ela. Mas quando outra pessoa entra na sala e encara o fundão da sala com um olhar malicioso e um sorriso de canto, sinto de vez meu coração se estraçalhar.

Não... Ele não estava com aquela garota.

Estava com ela. Com a Jéssica.

-- Que ótimo, galera, mas alguém tem que trabalhar!

-- QUAL É, PROFESSOR! BORA TOMAR UMAS COM A GENTE!!!

-- Quem sabe... Marquem a data e conversamos!

O Professor responde animado os meninos lá de trás e por mais que eu sinta meu coração partido e meu subconsciente me puna por ter deixado acontecer, respiro fundo e me viro para fingir pegar algo em minha mala, notando lá atrás aquela garota bonita com quem o Chris se engraçava mais cedo.

Eu não a vi entrar na sala, então já estava aqui.

E ele entra dez segundos antes da Jéssica por “coincidência”?

Puxo um livro da minha bolsa e meus malditos olhos se guiam até onde ele estava, desviando rapidamente quando noto que me olhava. Volto a me ajeitar na cadeira, sentindo uma tristeza esmagadora em vê-lo sorridente e animado com a festa que planejavam... A garota do corredor, a Jéssica e quantas mais ele quiser. Ele é lindo, sedutor e tem bom papo, pode ter quem quiser.

Até mesmo uma idiota como eu...

Por que tive que me apaixonar? Podia ter ficado e esquecido, pronto.

Mas não, eu, a imbecil da história tive que me apaixonar.

Escuto os meninos de lá fazerem bagunça e o Professor começa a anotar coisas no quadro, me fazendo tentar me concentrar na aula. Mas a voz dele vindo lá de trás era como um golpe forte no meu estômago... Droga.

Se concentra... Pensa em outra coisa.

O médico! Sim, o médico, preciso falar com o médico da minha mãe.

Com tantas aulas, trabalhos, o teatro, as falas e agora as aulas extras de Química, é difícil ficar muito em casa. Sempre que posso, fico com minha mãe ou ao menos permaneço na cozinha fazendo meus trabalhos, para ver como ela está... Mas sempre pareceu tão bem.

Eu jurava que estava melhor, nunca a vi tossir na minha frente.

Claro, uma vez ou outra, mas nada demais... E quando o Chr-quando soube ontem que ela tossiu sangue, nem consegui dormir. Esperei ela deitar e fui vasculhar tudo, vendo vários lenços no lixo, sujos de sangue. Meu coração estremeceu no peito e só consegui decidir ir falar com o médico hoje depois da aula.

Sim, tenho horário extra de Química...

Mas nada é mais importante que minha mãe, converso com o Professor depois.

-- Isso mesmo, Chris Redfield está de volta ao que era antes!

Ouço sua voz lá atrás e os outros comemoram, até que o professor joga um maço de giz de quadro e escuto resmungos das meninas que ele deve ter acertado pelo caminho. Começo a copiar a matéria, sem ligar mais... Preciso aprender a não olhar. A não procurar. A me esquecer.

Melhor começar o quanto antes.

Chris Redfield voltou a ser Chris Redfield... Ótimo.

Ver ele se galinhar vai me ajudar a ter certeza de que fiz o certo.

Quando alguém bate na porta, o Professor se ajeita e faz um sinal para turminha lá de trás fingir que se comportam. Eu foco no quadro e planejo a conversa com o médico da minha mãe, jurando a mim mesma que não sairia do consultório até saber exatamente como minha mãe estava.

Sangue... Não pode ser bom.

-- Jill?

Quando ouço meu nome, noto o Professor me olhando preocupado.

-- Pode vir aqui um instante, querida?

O quê? Eu? O que aconteceu?

Droga, o que me aprontaram dessa vez?

Largo a caneta e levanto, notando o silêncio que a sala adotou de uma hora para outra e a curiosidade que se espalhou. Mas quando saio da sala, o Professor fecha a porta para ninguém ouvir, me fazendo dar de cara com o inspetor.

-- O que foi?

-- Jill, o diretor está fora com o carro da escola...

E eu com isso?

Espero ele falar, mas desvia nervoso.

-- Não posso te liberar sem ele por aqui, mas... Recebi uma ligação.

Não...

-- Q-Que ligação?

Ele me olha com cautela e fala devagar.

-- Sua mãe... Ela passou muito mal e foi levada ao hospital.

Não... Mãe, não...

-- O que aconteceu?

-- Não me explicaram direito, mas é grave.

Não, não, não... MÃE, NÃO!!!

Me afasto deles sentindo meu coração chegar a garganta.

Mãe... Mamãe...

-- Quando o diretor voltar, te levo até lá, fique calma.

-- Jill, fique calma, vamos te levar lá...

O Professor fala e os encaro sentindo as lágrimas chegarem.

-- Estão loucos? Não posso esperar, é a minha mãe!

Dou as costas a eles e entro na sala fazendo um barulho alto, tacando um dane-se em todos que me olhavam e nas malditas lágrimas que tentavam me atrapalhar na hora de enfiar tudo na mochila para sair correndo dali.

Mãe... Meu Deus, por favor, não.

Corro para fora dali vendo o inspetor sem reação, mas não querendo me impedir de ir até o hospital no centro da cidade. Eu corro como louca pelas escadas e quando chego lá embaixo, corro pela rua...

Mãe... Minha mãe...

Por favor, que não seja nada demais.

As lágrimas caem e quero desabar, mas continuo correndo.

Preciso correr, não posso parar... Mãe... Por favor.

* * * Chris * * *

-- Será que está muito encrencada?

-- Acho que ela estava chorando...

-- Ela chora por qualquer coisa!

Os cochichos aumentaram, mas meu coração tremeu no peito.

-- O que será que aconteceu?

O Piers pergunta ao meu lado e congelo, apenas me lembrando da imagem dela com uma expressão assustada e olhos marejados. A sala toda cochichava e o professor ficou em silêncio, caminhando entre nós até chegar a última janela... Ele encara o lugar lá fora e coça a cabeça, preocupado.

Jill... O que vieram te dizer?

Para ela ter ficado assim, só pode ter sido algo sobre sua mãe.

E para ela estar com os olhos marejados...

Levanto da cadeira e vou até o Professor notando olhares curiosos, mas não ligo. Ele me olha de canto, sem o mínimo resquício de sorriso e desvia.

-- O que aconteceu, Professor?

-- Não posso falar, Chris... É assunto particular dela.

-- É a mãe dela, não é? O que aconteceu? Vão levar ela até o hospital?

Ele balança a cabeça e bufa alto.

-- O diretor está fora com o carro da escola, o inspetor não pode tirar uma aluna daqui no carro particular ou sem permissão do diretor... Então ela foi sozinha.

O QUÊ???

SOZINHA ATÉ O HOSPITAL???

-- O quê? Como assim?

-- Não é longe, logo ela chega lá.

Não posso deixar ela correr até o hospital...

Ela não vai ficar sozinha nessa hora, não vou deixar.

-- Eu vou de atrás dela, Professor.

Me viro, mas ele segura meu braço.

-- Está louco? Não posso deixar um aluno sair debaixo da minha vista!

-- Professor, ela não pode ir correndo sozinha até o hospital!

Ele me solta e olha de canto para sala, me dando as costas.

-- Que fique claro: não posso deixar que ninguém saia... Debaixo da minha VISTA.

Quando vira para me olhar e pisca de canto, volta a me dar as costas e não olhar para mim e nem para porta... Sorrio com seu meio “consentimento” e saio correndo dali sem pegar mala e nem ao menos dizer uma palavra. Não posso encrencá-lo, que os materiais fiquem por aqui mesmo, só tenho que desviar do inspetor.

Saio da sala e corro para as escadas, vendo que ele seguia para o outro lado do prédio. Então corro até o estacionamento e ligo o carro, pisando firme no acelerador indo em direção ao hospital... Ela tem que ter vindo por aqui. Passo duas quadras e nada dela, então acelero. Quando chego na reta, vejo alguém correndo distante dali e acelero, reconhecendo minha boneq... Ela.

A ultrapasso alguns metros e paro o carro abrindo a porta.

-- JILL? ENTRA AQUI!

Ela me olha chorosa e exausta e sem discutir, entra no carro.

Acelero em direção ao hospital, mas ao ouvi-la chorar do meu lado, toda aquela marra que eu tinha criado mais cedo disse adeus dando espaço apenas a velha preocupação e necessidade excessiva de ver a Jill bem.

Jill... Minha bonequinha.

-- Como ela está?

-- N-Não s-sei...

-- O que disseram para você?

-- Q-Que el-la-a pas-ssou m-mal... N-Não sei como est-tá...

Ela soluça ao falar e se entrega as lágrimas, escondendo o rosto, mas meu coração se parte em mil pedaços. Acelero o carro, mas aquele caminho parece não ter fim.

-- Ela vai ficar bem, Jill... Vai ficar bem.

-- Eu dev-via t-ter cuidad-do melhor del-la... É minha culp-pa...

-- Não fala isso! Não é sua culpa! Ela vai ficar bem!

Ela chora...

Chora desesperada...

Acelero mais o carro já vendo o hospital. Mal freio diante dele e a Jill abre a porta saindo correndo de lá, me fazendo acompanhá-la rapidamente, apenas fechando a porta e entrando de atrás dela. Ela corre pelos corredores como se soubesse aonde ir, mas quando chega em um balcão, a secretária a olha assustada.

-- Aurora Valentine! Sou filha dela! Onde está?

-- Só um minuto...

A mulher consulta o computador e nos olha preocupada.

-- Ela entrou na sala de cirurgia há dez minutos...

Cirurgia? Oh-ow...

-- Cirurgia? Como assim? Como ela está?

-- Não posso informá-la, peço apenas que aguarde.

-- É MINHA MÃE! COMO NÃO PODE ME DIZER COMO ELA ESTÁ?

-- Se acalme, logo o médico vem falar com você sobre sua mãe.

-- Jill, calma...

Ela se afasta dali parecendo sem saber o que fazer e se apoia na parede, colocando as mãos na cabeça e respirando forte. Me aproximo dela, sem saber direito o que dizer e como agir... Mas quando vejo seu rosto, noto o quão desesperada estava.

Jill... Minha Jill.

O que eu faço?

O que eu digo para ela?

Observo seus olhos nervosos, olhando para toda parte, sua respiração rápida e suas mãos tremendo... Ela não deve saber nem o que pensar agora. E eu, um idiota inútil agora nem sei como agir para ajudá-la.

-- Jill, el...

Eu paro, mas ela olha para mim.

Seus olhos repletos de lágrimas e uma tristeza que cortou meu coração ainda mais, então sem me importar, tacando um dane-se em tudo que ela pudesse dizer ou em todas as formas que poderia me expulsar dali, me aproximo dela e a puxo para mim.

-- Vem cá...

Eu passo meus braços ao redor dela e ela me abraça forte, se entregando de vez as lágrimas. A puxo para mais perto, fazendo carinho em seu cabelo e tentando de alguma forma passar alguma força a ela, mas ela chorava muito... Chorava como se soubesse o estado da mãe dela.

É culpa minha... EU DEVIA TÊ-LA TRAZIDO ONTEM MESMO!

VOCÊ VIU, CHRIS, AQUELE SANGUE NÃO ERA UM BOM SINAL!

DEVIA TER TRAZIDO A MÃE DELA PARA CÁ!

-- Me desculpe... Eu devia ter trazido a sua mãe para cá assim que vi o sangue no lenço, Jill, me perdoa, é minha culpa.

Ela chora e balança a cabeça soluçando mais que antes.

-- N-N-Nã-ão é s-sua... Culp-p...

-- Fique calma, Jill, tente ficar calma, por favor.

-- M-Minha mã-ã-ãe, C-Chris...

-- Ela vai ficar bem, eu juro, vai ficar bem.

Ela chora... Chora muito.

Eu a abraço mais forte e ela me aperta mais, desesperada.

Jill, minha Jill... Jamais poderia te deixar sozinha agora, por NADA no mundo vou te deixar sozinha. Pode me enxotar daqui depois, mas agora, vou ficar aqui, do seu lado. Do seu lado. Sempre ao seu lado.

-- Vai ficar tudo bem...

Me encosto na parede e a puxo junto, deixando que ficasse com a cabeça escondida em meu peito, ainda perdida em lágrimas. Não sei o que dizer e nem mais o que fazer, mas acho que um abraço sincero sempre pode ajudar... Não vou deixá-la sozinha.

Olho para a secretária que nos observava calada.

Noto o relógio na parede fazendo os minutos passarem.

Sinto a Jill parar de chorar, mas a respiração forte continuava, mostrando que ainda estava extremamente nervosa. Eu queria perguntar como se sentia para poder ver seu rosto, mas de nada adiantava se eu já tinha a resposta... Então a deixei ali, calada, apenas afundada em meu peito enquanto o tempo passava.

Onde está esse médico?

Que cirurgia é essa?

-- Ela já chegou?

-- Sim, está ali...

Quando escutamos as vozes, a Jill me solta rapidamente e se vira para o balcão onde vemos um médico jovem, com um olhar extremamente preocupado. Ela corre até ele que a olha com pena e me aproximo, vendo que a coisa não seria nada boa.

-- Doutor! Como ela está? Como minha mãe está? Me diga, por favor!

-- Jill...

Ele para e ela espera nervosa.

-- Ela não está nada bem.

A Jill volta a chorar colocando as mãos na boca, mas o médico se aproxima dela, colocando as mãos em seu ombro com carinho ao consolá-la. Ele olha de canto para mim e espero ele continuar, então respira fundo e fala.

-- Sabe que sempre ajudei sua mãe, ainda mais agora que o câncer voltou... Parecia tudo controlado, mas do nada notamos que ele se espalhou. Ela parou de vir nas consultas e eu ia te procurar, só que infelizmente não deu tempo.

-- El... Ela p-parou d-de vir?

-- Sim, não veio nas últimas semanas... E então ficou fora do controle. Ela teve medo de ter que passar por tudo aquilo de novo, mas tentei ligar para sua casa e conversar com ela. Mas ela desligava. Então fui até sua casa para conversar e a encontrei desmaiada no chão, com sangue nas mãos e na boca.

Meu Deus...

Isso não é NADA bom.

-- D-Doutor...

A Jill gagueja e ele respira fundo.

-- A levei para cirurgia e vi que a situação dela é muito crítica, precisa de uma nova cirurgia o quanto antes para tentarmos retirar o possível, mas...

Ele para e ela espera.

-- Isso não depende só de mim... As consultas eu fazia de graça para ajudar vocês, mas, Jill, essa cirurgia depende do hospital todo, dos enfermeiros, das máquinas, não posso arcar com isso. E ela PRECISA dessa cirurgia.

Oh-ow...

-- P-Precisa?

-- Sim, ela precisa ou... Ela vai morrer.

-- D-Dout-tor...

A Jill volta a chorar e me aproximo dela pegando em sua mão e a acariciando carinhosamente, sentindo ela apertar forte e tremer ainda mais do que antes. Ela não podia passar por algo assim, nem ela e nem sua mãe... Pessoas tão boas. Não mereciam algo assim.

Uma cirurgia ou ela morre?

Pelo jeito que falou, é muito cara... Quanto será?

-- Ela PRECISA dessa cirurgia para continuar VIVA, Jill...

-- D-Dout-t-tor... M-Mas...

-- Não posso realizar algo assim sozinho, me desculpe.

Ela abaixa a cabeça e passo o outro braço ao redor dela, com o médico me olhando preocupado. Noto como a Jill treme e chora, mas quando levanta a cabeça outra vez com o rosto completamente inchado e desesperado, eu espero.

-- Quant... Quanto é essa cirurgia?

Ele a olha como se soubesse o que aconteceria a seguir.

Não pode ser muito cara, não é? Não é?

Se precisar, sei lá, tenho algumas economias, posso ajudar, dou tudo o que tenho e conseguimos mais de alguma forma, não pode ser tão difícil... Se a vida da mãe da Jill está em jogo, podemos conseguir o quanto for.

-- Trinta e sete mil.

O QUÊ???

-- O q-quê?

A Jill pergunta assustada e se afasta de nós com as mãos no rosto, chorando desesperada como se tivesse perdido completamente as esperanças. Ela chora e vejo que cambaleia chorando, então me apresso até ela e a pego antes de cair... Ela chora descontrolada, os soluços altos pela sala e o desespero muito evidente.

-- Jill, eu... Se acalma, por favor...

ESTÁ MESMO PEDINDO PARA ELA SE ACALMAR???

É A MÃE DELA, CHRIS, FALE ALGO MAIS COERENTE E ÚTIL!!!

Droga... O que eu faço? O QUE EU FAÇO???

-- Jill, eu sinto muito, mas... Não tem como conseguir isso?

O médico pergunta nervoso.

-- NÃO! C-Como v-v-ou cons-seg-guir is-sso?

-- Jill, eu...

-- M-MINHA MÃ-ÃE, DOUT-TOR! M-M-MINH-HA M-M-MÃE!!!

Ela chora desesperada e a puxo para mim, sentindo que ela estava agoniada, completamente desesperada sem saber o que fazer. Meu coração se contorce no peito e vejo o médico desviar parecendo realmente triste com a situação.

-- M-Minha m-m-mãe...

-- Vocês têm algo guardado, Jill?

Pergunto e ela balança a cabeça em negação.

-- Nem p-perto d-disso...

-- Tem que ter um jeito, doutor, para quando ela precisa da cirurgia?

-- Para o quanto antes e o hospital não vai liberar sem o pagamento.

-- M-Minha m-mãe n-n-não p-pod-de morr-rr-rer...

-- Ela não vai, Jill, vamos dar um jeito.

Levanto seu rosto em minha direção, mas ela chorava muito, seu rosto estava completamente encharcado e meu coração no peito a mil em vê-la naquele estado. Acaricio sua bochecha e aproximo meu rosto para ela olhar para mim.

-- Vamos dar um jeito, eu prometo...

-- C-Como? N-N-Não p-posso pag-gar iss-ss-sso, C-Chris...

Ela me olha desconsolada e tento pensar em alguma solução.

Pense, Chris, pense... Eu não tenho esse dinheiro.

Mas... Conheço quem tem.

-- M-Minha m-m-mãe, C-Chris... Min-nha m-mãe...

Droga, será que eu consigo?

Ainda mais depois daquela briga... Será que consigo?

Preciso tentar, é minha única opção.

Levanto o rosto dela novamente e dou um beijo leve em sua testa, ainda ouvindo ela chorar... Não queria deixá-la sozinha, mas tenho que tentar conseguir esse dinheiro de qualquer forma, PRECISO, PRECISO DISSO!!!

-- Jill, eu vou conseguir esse dinheiro.

Ela me olha confusa e sem fôlego.

-- C-Como?

-- Confia em mim?

Ela me olha confusa, mas concorda com a cabeça. Dou mais um beijo leve em sua testa e viro para o médico, que nos olhava apreensivo pela situação.

-- Pode começar a preparar tudo, vou conseguir o dinheiro.

-- Tem certeza?

Não... Mas PRECISO.

-- Sim.

Viro para Jill que me olha sem entender e sorrio.

-- Espere por mim, volto logo.

Saio apressado dali, correndo de volta pelos corredores até chegar no meu carro e acelerar outra vez, para direção contrária. Eu tentava pensar em alguma boa desculpa, mas a única coisa que vinha em minha cabeça, era o choro desesperado da Jill e os olhos completamente sem consolo da minha bonequinha.

Céus, preciso conseguir...

Por favor, que ele esteja de bom humor.

Faço qualquer coisa, qualquer coisa, mas preciso desse dinheiro.

Quando estaciono na frente do prédio imenso, saio correndo do carro e opto pelas escadas, vendo que o elevador nem ao menos estava livre para mim. Não há tempo, preciso conseguir isso o mais rápido possível... Então corro. Corro até subir nó último andar daquele lugar que jurei me manter o mais afastado possível.

Salas... Escritórios... Uma verdadeira prisão.

Mas não importa, preciso do dinheiro, custe o que custar.

-- Sr. Redfield? Um minuto, vou anunciá-lo...

-- Eu mesmo me anuncio, pode deixar.

-- Sr. Redfield, espere!

A secretária corre de atrás de mim, mas abro a porta do escritório rapidamente vendo meu pai me olhar surpreso do outro lado da mesa. Ele faz um sinal para secretária sair e levanta, me olhando preocupado.

-- O que foi, Chris? Você está bem?

-- Pai, eu... Preciso de um favor.

-- Aconteceu alguma coisa?

Droga... Jurei nunca fazer isso.

Mas é a Jill, minha Jill, minha bonequinha. Ela precisa de mim.

-- Ainda quer que eu trabalhe aqui com você?

Ele arregala os olhos surpreso e ri, sorrindo como bobo.

-- Isso é um sonho? Ou uma piada mesmo?

-- Pai, eu... Preciso de um dinheiro emprestado.

Ele perde o sorriso e me olha desconfiado.

-- “Emprestado”?

-- Sim, é uma quantia alta, mas vou devolver, eu prometo.

-- Se eu emprestar, vai trabalhar comigo?

-- Sim, eu trabalho, faço o que quiser, mas preciso desse dinheiro...

Seus olhos me observam, parecendo já esconder um mar de perguntas e críticas, mas não há tempo para discussão, eu preciso... Preciso desse dinheiro. A Jill não tem como conseguir, então só resta a mim. Faço qualquer coisa.

-- Em que confusão se meteu, filho?

-- Pai, não é nada de ruim, pelo contrário...

-- Para o que precisa?

-- Não posso falar...

Conheço ele, se eu contar, vai apedrejar a Jill.

Falará que é artimanha, que é interesse e blá blá blá... Não posso com isso agora. Não quero discutir e nem posso, o tempo não está a meu favor. Eu só preciso desse dinheiro, custe o que custar.

-- Vai me emprestar?

Ele respira fundo e se afasta, pegando a carteira.

É, ele vai surtar...

-- De quanto precisa?

-- Trinta e sete mil.

Seus olhos levantam para me encarar e por um minuto parecem congelar, então ele ri parecendo achar graça, mas quando nota que continuo sério, esperando pela sua resposta, parece notar que falo sério.

-- Para que quer uma quantia dessas?

-- Não posso contar, pai...

-- E acha que vou te dar isso do nada sem uma explicação?

-- Eu vou devolver, eu juro! Começo a trabalhar quando quiser, mas, por favor, EU PRECISO DESSE DINHEIRO, PRECISO DELE!!!

-- Tudo bem, se acalme...

Ele desvia parecendo estressado agora e pensativo, então me olha de canto e se afasta, puxando o talão de cheques. Me aproximo não acreditando no que eu estava vendo, mas quando destaca a folha e me estende, estico o braço, mas ele o afasta falando cautelosamente.

-- Espero que a pessoa por quem está fazendo isso, realmente mereça.

É, ela merece, mais do que qualquer um...

-- É bom que eu não saiba que gastou isso em algo inútil.

-- Eu vou devolver, eu prometo...

-- Ótimo, falamos sobre seu horário a noite.

-- Não sei se volto para casa hoje, mas eu aceito qualquer horário, tudo bem?

Ele me olha desconfiado e por incrível que pareça, apenas concorda.

-- Tudo bem... Não perca isso por aí.

-- Obrigado, pai... Obrigado.

Com um meio sorriso dele, saio dali segurando firme o cheque ao sair da sala, mas antes de começar a correr, vejo um panfleto sobre a mesa da sala de espera. Observo aquilo e sem mais tempo, enfio no bolso saindo correndo dali com a secretária me olhando curiosa.

EU CONSEGUI, CONSEGUI!!!

ELA VAI SOBREVIVER, PRECISA SOBREVIVER!!!

Corro até o carro e acelero de volta ao hospital, correndo novamente até onde a Jill estava a encontrando apoiada na parede enquanto o médico falava com a secretária sobre alguma coisa. Mas quando me vê, o médico parece esperançoso e entrego o cheque a ele.

-- Faça.

Ele olha o cheque e sorri concordando.

-- Farei o possível, eu prometo... Vai levar algumas horas, cuide dela.

Concordo e ele entrega o cheque a secretária que me olha curiosa, mas quando respiro fundo aliviado, me viro e vejo a Jill encarar o cheque nas mãos da mulher e depois me encarar séria.

-- Como conseguiu esse dinheiro?

-- Dei um jeito...

Os olhos dela ainda estavam inchados, mas ela me olhava curiosa.

-- Como conseguiu, Chris?

-- Eu... Peguei emprestado, não pense nisso agora.

Ela se afasta voltando a chorar e me aproximo, mas ela balança a cabeça.

-- Eu nunc-ca vou poder te devolver isso, Chris! É m-muito dinheiro!

-- Não vou te cobrar, estou dando a você! Sua mãe precisa disso!

-- Mas, eu... N-Não posso simplesmente aceit-tar uma quantia dessas!

-- Claro que pode, é a vida da sua mãe!

Ela se afasta ainda em lágrimas e me olha de um jeito estranho, tento me aproximar, mas ela se afasta, então espero. Espero que diga para eu sair dali, mas as palavras que usa doem mais do que imagino.

-- O que quer em troca desse dinheiro, então?

O q... Como?

O que el... Espera, o quê?

Eu quem me afasto dessa vez pelas palavras dela.

-- É isso que pensa de mim, Jill?

Ela acha que eu cobraria algo?

Que pediria algo desse tipo em troca?

-- O que você pensa que eu sou? Que ia me aproveitar disso?

Ela desvia o olhar e desvio dela, me sentindo um lixo humano por chegar ao ponto de fazê-la pensar tão mal de mim. Sinto uma dor funda no meu peito com as palavras e o olhar acusativo dela martelando em minha mente, mas me mantenho ali... Firme. Abaixo a cabeça e me sinto um completo nada, mas continuo ali.

-- Me desculpe, eu...

Quando a escuto falar, continuo cabisbaixo.

-- Me d-desculpe, Chris, eu...

Sinto a mão dela sobre a minha e ela surge em minha frente, me olhando nos olhos dessa vez, parecendo nervosa. Seus olhos ainda inchados pelo choro, seu rosto ainda marcado pelo desespero, mas agora parecia estar preocupada comigo.

-- Me desculpe, n-não quis pensar mal de você.

-- Mas pensou... Jill, eu...

-- Eu sei, eu sei, me perdoe.

-- Eu jamais me aproveitaria de uma situação dessas!

-- Eu sei, me perdoe, por favor... Me desculpe.

Tudo bem... Sim, tudo bem.

A cabeça dela está um completo nó, não posso dar as costas agora.

-- Me desculpe, eu... Eu... Não tenho como te pagar isso.

-- Já falei para não se preocupar, esse dinheiro é seu, estou dando a você.

Me aproximo dela colocando as mãos em seu rosto e ela desvia voltando a chorar, mas quando olha para mim daquele jeitinho, me sinto ainda mais triste por ela. Sinto como se a sua dor, fosse a minha dor.

-- Obrigada...

Sorrio com suas palavras, mas ela chora.

-- Ob-brigada, Chris...

-- Não está sozinha nisso, Jill... Estou com você.

Ela desvia limpando as lágrimas, mas elas continuavam a rolar.

-- Por que está aqui? Por que está me ajudando?

Sorrio afastando uma mecha do seu cabelo e por mais tentado que eu estivesse em respondê-la através de um beijo, me seguro, mantendo a palavra de que jamais poderia me aproveitar dela numa situação dessas.

-- Preciso mesmo responder, bonequinha?

Ela sorri entre as lágrimas, mas a tristeza parece maior, fazendo ela olhar para o corredor onde o médico tinha sumindo e voltar a chorar. Meu coração se parte em tantos pedaços que não consigo mais nem ao menos senti-lo, mas puxo novamente a Jill para os meus braços e ela me abraça.

Chora... Mas me abraça.

-- Ela vai ficar bem...

-- Você acha?

-- Sim. Sim, tenho certeza.

Eu espero...

A mãe dela PRECISA ficar bem.

A Jill vai sofrer demais se algo acontecer, não pode.

E a Sra. Valentine é tão boa, merece ficar bem, merece ficar viva.

E embora eu quisesse arrancar essa dor da minha bonequinha ou fazer tudo correr mais rápido, nada mais estava em minhas mãos. Consegui o dinheiro, mas agora só nos resta esperar... E não sairei do lado dela.

Eu juro, não sairei daqui.

Não vou te deixar sozinha, Jill... Nunca.

* * * Helena * * *

-- Deborah, fala sério, sai desse banheiro!

-- Não enche, Helena!

-- Preciso sair, anda logo!

-- Eu também preciso sair, NÃO ENCHE!

Ela bate na porta fechada e a encaro feio mesmo sem poder me ver... Às vezes confesso: queria ter sido filha única. A Deborah está INSUPORTÁVEL desde que entrou para aquela porcaria do grupinho de líderes de torcida.

Antes nos dávamos tão bem...

Ela era ótima, uma irmã maravilhosa.

Mas agora? NÃO TEM QUEM AGUENTE!

Desde que ganhou aquele uniforme curtérrimo e começou a desfilar pela escola se achando a rainha de alguma coisa por estar na mesa do time de futebol, ela mal conversa comigo. Só sabe me encarar de forma negativa e revirar os olhos... Sei o que falam do grupo do teatro. E não é nada bom. Mas não pensei que a Deborah ia se deixar influenciar e muito menos falar mal junto.

Só que agora... Não duvido de nada.

-- Deborah, anda logo, preciso sair...

-- NÃO ENCHE, HELENA!

Quer saber? DANE-SE!

Saio bufando dali e pego minha mochila para fazer o trabalho na casa do Leon, meu atual parceiro de Química. Quem diria que eu cairia justamente com ele, parece que o Professor escolheu a dedo algumas duplas na sala... E para piorar, colocou a Ada com o Krauser, fazendo meu parceiro surtar.

Mas... Quando ele viu os dois juntos...

Eu pude ver a mágoa tremenda que ele sentiu.

Aquela vaca da Ada não precisava fazer isso com ele!

Sim, sim, confesso: estou gostando dele. Apesar do jeito entojado e do jeito “sou gostoso e sei disso”, ele é um garoto legal. Jamais imaginei me dar bem com alguém do time de futebol, ainda mais depois que levaram a Deborah para o lado negro da força... Ainda mais depois daquela briga com aquela vadia da Ada... Ainda mais depois de eu jurar nunca me aproximar de nenhum deles!

AH, QUE RAIVAAAAAA!!!

Tudo culpa do professor Birkin que me colocou com o Leon.

Mas, tudo bem... Ele é legal. Dá para viver.

Caminho pela rua em direção ao apartamento dele, sem pressa para chegar, já que eu não estava nem um pouco a fim de fazer o exercício de Química e sei que ele desfruta da mesma “animação”. Mas tentamos, pelo menos isso tira a culpa na hora de receber a nota baixa da prova.

EU SOU BOA EM LITERATURA!!! ARTES!!! TEATRO!!!

Qual é, sou de humanas, só sei ler, interpretar e recitar, pronto.

Reviro os olhos para mim mesma e subo as escadas do prédio, chegando até a porta de apartamento dele e batendo, já planejando as tentativas de resolução dos problemas.

Droga... Acho que vou levar bomba.

Quando abre a porta, me assusto ao vê-lo diante dela.

-- Helena? O que faz aqui?

-- Ah... Combinamos de terminar aquela lista, não lembra?

-- É mesmo? Tem que ser hoje?

-- É para amanhã...

Ele desvia concordando e vejo o estado dele... Olheiras, camisa amassada, cerveja na mão e cabelo todo bagunçado. SIM, CABELO BAGUNÇADO!

ALERTA VERMELHO! ALERTA VERMELHO!

Leon Scott Kennedy com o cabelo bagunçado, não é um bom sinal.

-- Beleza, entra aí...

Ele se afasta da porta e entro, vendo a bagunça que estava aquele lugar. Já notei que não era fã de organização e infelizmente na visita anterior, encontrei uma calcinha debaixo da almofada do sofá... É claro que era da Ada. Mas, hoje, parecia mil vezes pior e mais revirado.

Sem calcinhas desta vez, mas...

Cervejas vazias por todo lado e roupas dele por toda parte.

Acho que alguém tomou um porre e se esqueceu do resto da vida.

-- Ah, Leon...

-- Foi mal, esqueci que você vinha.

Ele vai até a mesa da cozinha onde costumávamos sentar para tentar estudar e empurra tudo para o chão. Roupas, garrafas vazias e um par de tênis sujo, sem ligar para nada... Então senta na cadeira e toma mais um gole da cerveja.

É, acho que não terá estudo hoje.

-- É por causa dela, não é?

-- Só queria tomar um porre, estou de boa.

-- Ah, sei... Então não tem nada a ver em ter visto a Ada com o Krauser?

Ele desvia bravo e levanta da cadeira respirando mais forte. O observo dar voltas no lugar, mas quando vira o restante da garrafa na boca e a faz voar contra a parede a quebrando, dou um salto assustada.

-- Todos, Helena, TODOS! Mas não ELE.

Certo... Garoto bonito precisando desabafar.

Isso não é bom. Quando alguém tão bonito e tão popular quanto o Leon surta precisando descascar seus pepinos, é porque não é nada bonito ou leve... É coisa ruim. E como já estou aqui e infelizmente me sentindo culpada, já que a Ada nos pegou aqui numa situação meio complicada, PRECISO ouvir. Pelo menos dar a chance dele falar.

-- Certo... Venha aqui.

Faço um sinal para ele que me olhar curioso.

-- Anda logo, não tenho a noite toda!

Vou até o sofá e empurro tudo que não pertencia a ele para fora, feliz em não encontrar nenhuma calcinha agora. Faço sinal novamente a ele que se aproxima e senta do meu lado, me olhando de canto, parecendo desconfiado.

-- Me conta.

-- Ele é um cretino...

-- Precisa colocar para fora, ande, pode falar.

-- Ele é um babaca! E o pior? ELA SABE DISSO!

-- Como assim?

-- Podia ser qualquer um, Helena, mas não o Krauser! Qualquer outro eu ainda teria morrido de ciúmes em ver com as mãos nela, mas ele... Vê-la com ELE... Me faz ter nojo! DOS DOIS!

-- Você conhece bem o Krauser?

-- Éramos amigos... Ou eu pensava que fôssemos.

-- “Amigos”? Você e o Krauser? Estamos falando da mesma pessoa?

Ele ri sem alegria e pega outra garrafa sobre a mesa, me oferendo a outra. Pego e dou um gole, tendo ainda mais certeza de que não haveria nenhum estudo hoje, sem condições... Acho que vamos entregar o trabalho pela metade mesmo.

-- Quando éramos crianças, éramos vizinhos... Nossos pais trabalhavam juntos, então nos dávamos super bem, apesar dele sempre gostar de quebrar todos os meus brinquedos.

Ele respira fundo e espero.

-- Certo... Tenho certeza de que isso vai além de brinquedos quebrados.

-- Vai bem além... Tudo bem. Depois de uns anos, acabou que o pai dele faliu, colocou a culpa no meu e a família dele perdeu tudo o que tinha. Eles se mudaram, o pai dele arrumou um emprego como pedreiro e nos afastamos por um tempo. Mas um dia, ainda antes do colegial, nos encontramos na rua e começamos a conversar. Eu o via como meu amigo, sempre o vi assim, mas eu via o quanto estava mudado... Roupas estranhas, tatuagens, brincos, completamente mudado. Ainda tinha o jeito rude, mas parecia mil vezes pior.

Certo... Essa história vem de tempo.

Mas o que aconteceu para essa desavença tão grande?

-- Então outro dia, combinamos de nos encontrar para conversar, era uma área de construção, estranhei ter me chamado para lá, mas eu fui, sem meus pais saberem... Éramos crianças ainda, mas para mim, 12 anos já carrega uma boa consciência de alguns atos.

-- O que aconteceu?

-- Ele me empurrou do segundo andar da obra e eu caí em cima de um ferro solto que atravessou meu corpo...

O quê?

Ele levanta a camisa e abaixa um pouco a lateral da calça, me mostrando uma cicatriz funda ali. Olho para aquilo horrorizada, sem nem ao menos saber o que dizer agora, já que não imaginava algo tão grave que podia ter acontecido entre eles... Ele tentou matar o Leon? Realmente 12 anos já tem tal consciência.

-- Meu Deus...

-- Dizem que foi coisa de “criança”... Raiva pelo pai dele ter falido e o meu não, mas eu não caí nessa. Não pela segunda vez, pelo menos. Eu podia ter morrido, porque me encontraram horas depois do ocorrido.

-- E não aconteceu nada com ele? E os pais dele?

-- Nada, meu pai preferiu não levar o processo adiante... Não queria que o pai dele se quebrasse mais ainda e além do mais, não parecia ser culpa deles, a artimanha foi do filho mesmo.

-- Mas eles deviam ter educado essa peste!

-- Pois é, mas não aconteceu nada... O tempo passou e nos reencontramos no colégio, mas ele sempre permaneceu do lado do Albert e eu do lado do time. Uma vez ele tentou entrar para o futebol, antes de conhecer o Albert, mas fracassou e desde então anda com o grupinho podre da escola.

-- Ele tem inveja de você.

-- É, ele tem... E agora está com a minha ex, não pode ficar pior.

-- A Ada sabe disso tudo?

-- Sim! Ela sabe!

Ele levanta as mãos e tenho vontade de bater em alguém.

Mas, sério... Quero MUITO bater em alguém!

MALDITA, ADA!!!

POR QUE FAZER ISSO???

ELE PODIA TER MATADO O LEON, SUA RETARDADA!!!

Respiro fundo guardando meus pensamentos e tomo mais da cerveja, vendo ele cabisbaixo com os pensamentos. Eu queria falar algo bom, mas conhecendo a Ada, realmente sei que está com o Krauser para pisar no Leon da forma mais escrota possível... Droga. Se não fosse aquela merda na festa, eu podia tentar falar com ela. Mas depois de se mostrar uma doida varrida e partir para cima de mim, sei que a merda será grande se eu me aproximar.

-- Quer que eu tente falar com ela?

-- Não, ela ia se fazer de desentendida e isso me deixaria com mais raiva...

-- Ela fez isso porque acha que estamos juntos.

-- Dane-se, que pense o que quiser. Nada justifica ELE... Nada.

É, ele está mal...

Ele vira a garrafa novamente e procura por outra, levantando do sofá, então vou até ele e o impeço de alcançar outra garrafa. Ele me olha feio e a afasto da mão dele, tentando encontrar palavras para ajudar naquilo.

-- Sinto muito...

-- Não ligo, que ela fique com quem quiser.

-- Sei que está sofrendo...

-- Eles se merecem!

Ele desvia bravo, mas me aproximo, tocando em seu peito e puxando os olhos dele em mim novamente. Meu coração acelera no peito e tento ignorar, mas o olhar dele em mim era tão forte que fazia minhas pernas bambearem.

Droga, Helena... Controle-se.

-- Sinto muito, Leon.

-- Fala para mim que mereço coisa melhor do que ela...

-- Sim, com certeza merece!

Ele ri sem alegria e me olha ainda mais intensamente.

-- Você sempre me detestou... Então agradeço pelas palavras, deve ser difícil mentir assim. Sei que sou uma droga, mereço coisa ainda pior do que a Ada!

Ele desvia parecendo bravo, mas puxo o rosto dele para me olhar de novo.

-- Não diga isso, não é verdade.

-- Você me despreza, Helena!

-- Eu nã... Olha, isso era antes, ok!? Mas agora não, isso mudou.

-- Mudou?

-- Sim.

-- Como?

Melhor eu não falar.

Agora, é uma boa hora de mentir.

-- Você... Se mostrou alguém não tão ruim quanto eu imaginava.

-- E isso é bom?

-- Sim!

Noto que ele me olha daquele jeito intenso de novo e minhas pernas voltam a tremer, mas quando vejo que desvia para minha boca, sinto um calafrio percorrer por toda a minha espinha fazendo minha alma abandonar meu corpo e voltar correndo outra vez para me lembrar de como desviar o olhar.

Droga... Ele é muito gato.

Como me proteger contra isso?

-- Não me acha mais um bosta?

-- Não... Não mais. Não muito.

Ele ri com minhas palavras e volto a olhá-lo, mas não devia ter feito isso, porque ele está mais perto. Sei que está bêbado, que só quer afundar a mágoa e que se eu deixar, a noite pode ter algo semelhante a “exercício de Química”, mas não dá... Não posso. Ele a ama e não servirei de consolo. Jamais.

-- Por que ainda está aqui, Helena?

-- Como assim?

-- Somos parceiros de aula, não precisa ficar aqui me aguentando na fossa.

-- Sei lá, acho que talvez sua fossa afete minha nota, então estou aqui.

Ele ri novamente e sinto o hálito quente dele tocar em meu rosto... O cheiro de cerveja não era dos melhores, mas o tremor que aquilo me causa, faz eu me afastar dele enquanto ainda havia tempo para sair dali com minha dignidade intacta.

-- Eu já vou...

-- Não, não me deixa sozinho.

Suas palavras soam tão rápidas e sinceras que viro novamente para ele. Seus olhos estavam avermelhados, sua expressão triste e desolada, mostrando que realmente poderia fazer alguma burrada se ficasse sozinho... Droga.

-- Tenho que ir, Leon.

-- Fique mais um pouco... Por favor.

Droga... Vou me arrepender disso.

Ele é lindo, sim, uma verdadeira tentação, eu confesso... Mas só. Só isso.

Só que mesmo sendo “só isso”, faz meu coração palpitar no peito.

-- Tudo bem... Só um pouco.

-- Obrigado.

Volto a sentar no sofá e ele me acompanha pegando outra garrafa de cerveja, mas a arranco da mão dele levando outra encarada feia e rio.

-- Sem mais bebida! Só eu posso agora...

-- Ei, isso não vale!

-- Vale sim, não estou bebendo por ninguém, só por mim...

Vejo que esconde um sorriso e eu rio, tomando um gole da bebida.

Desvio dele vendo que me observava, mas sabia do perigo se deixasse um novo contato visual acontecer... Então finjo que não noto. Só que quando desvia, eu começo a observá-lo de canto, não ficando feliz em vê-lo arrasado com a situação. Noto que coça os olhos, talvez evitando alguma lágrima e fico triste por ele.

Não, ele não merecia isso.

Largo a cerveja na mesa e me aproximo dele, o abraçando por trás e o ouvindo sorrir ao acariciar meu braço gentilmente. Ele respira fundo e o puxo para perto, o deixando deitar a cabeça no meu colo enquanto acaricio seus cabelos.

Seu olhar era fundo, triste... Mas ele se mantinha firme.

Sem lágrimas, sem mais palavras.

Apenas o silêncio da dor.


Notas Finais


Cheirinho de Valenfield...
Chris salvando vidas (literalmente)!
Será que a mãe da Jill vai ficar bem?
E o Leon contando as cacas do passado com o antigo "amigo"... E a Ada sabendo de tudo. Como ele fica agora? Ada? Helena?
Espero que tenham gostado!
Até a próxima *--*
Bjooon <3


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