História Uncool Kid - Trust Issues

— Eu não acredito que você ainda está irritado comigo por causa de ontem!

 

— Por que acha que eu faria isso?

 

— Está me ignorando.

 

— Na verdade, só estou preferindo não escutar noventa por cento das coisas que fala, assim como faço sempre.

 

E o dia mal tinha começado.

 

Sequer tinham chegado à escola ainda, mas Minseok já não suportava Baekhyun que parecia fazer questão de não calar a boca.

 

O Kim estar com um péssimo humor não era nenhuma novidade, mas desta vez não estava fazendo de propósito. Estava ansioso, e o fato de estar assim por algo que já tinha passado, o irritava.

 

O dia anterior realmente tinha o afetado, de um modo ruim. E mesmo que torcesse pelo contrário, não conseguia deixar de pensar em todas as possibilidades, do que poderia vir a acontecer no dia de hoje. Por um rápido momento pensou em mentir que estava doente e ficar em casa, mas não, não deixaria que a ansiedade lhe atrapalhasse assim, principalmente por um motivo ridículo. Estava acostumado, podia lidar com ela.

 

— Não te conheci hoje, sei que está... Angustiado. — Continuou a falar, tentando soar um pouco mais cauteloso desta vez.

 

Como se ele fosse admitir.

 

— Estou ótimo, esqueça isso.

 

Estava mais irritado consigo mesmo por estar assim do que com o próprio Baekhyun. Não custava nada tentar relevar um pouco.

 

Já que o Byun tinha ficado em silêncio depois de sua última resposta, se pronunciou novamente:

 

— Mas apenas imagino o que a Mimi diria se soubesse que você dá informações tão facilmente em troca de chocolate. — Sorriu de canto ao fim da frase, vendo a tranquilidade desaparecer um pouco da face alheia.

 

Kim Mihyun, ou Mimi, era a namorada de Baekhyun. Infelizmente, ou felizmente dependendo da situação, ela estudava em outra escola. Duas perguntas sobre a relação deles continuava sem resposta: Como diabos Byun tinha uma namorada? E qual era o problema de Mihyun?

 

Permanece o mistério.

 

— Ela provavelmente iria ficar do seu lado. E me bater. — Respondeu, rindo após, mas de nervoso.

 

— Merecidamente.

 

Embora mais nenhuma palavra sobre o assunto tivesse sido pronunciada, ambos sabiam que estava tudo bem. Sempre ficava.

 

O restante do caminho até à escola foi bem tranquilo, talvez quando chegasse lá pudesse se afundar em algum de seus livros e ter um pouco de paz.

 

Errou profundamente.

 

Ao chegar lá, seu primeiro pensamento foi “Isso só pode ser o cúmulo do azar”, pois lá na entrada, conversando com mais duas pessoas que não fazia ideia de quem eram, encontrava-se Luhan. E era impossível passar por ali sem que ele notasse sua presença.

 

Certo, era muito tarde para desistir e simplesmente voltar para casa? Não, não podia fazer isso.

 

Sem ao menos perceber, Minseok tinha parado de andar. Baekhyun só notou que o outro tinha ficado para trás alguns segundos depois.

 

— O que foi? — perguntou, soando confuso. Seguiu o olhar do amigo e imediatamente entendeu o que se passava. — Ih alá. — Podia muito bem fazer algum tipo de piada sobre o assunto, mas era melhor não arriscar.

 

— Você vai andar ao meu lado sem dizer uma única palavra e vamos caminhar o mais aceitavelmente rápido possível.

 

— Ok então. Mas não vai resolver nada, tá? Você não vai passar despercebido do mesmo jeito. — Era visível que ele estava tentando não rir e o Kim o empurrou de leve.

 

— Só cala a boca e faz o que eu disse! — Permaneceu de cabeça baixa e voltou a andar, desejando ter pelo menos um pouco de sorte, só um pouquinho, não custava nada.

 

Não deu certo.

 

Ao atravessar os grandes portões da escola, quase começou a relaxar. Quase.

 

Antes que pudesse sequer assimilar que tinha conseguido e que estava tudo bem...

 

— Minseok-ah!

 

Parou de andar e suspirou. Olhou para o céu, que continuava bonito apesar de conter algumas nuvens, pensando “Universo, o que tens contra a minha pessoa?”.

 

— Eu te avisei. — Byun lhe lembrou e com certeza era a última coisa que precisava no momento.

 

Que escolhesse então a única opção favorável no momento. Ignorar e continuar andando. Até tentou acelerar seus passos, mas era inútil, totalmente inútil.

 

— Minseok! — Ouviu mais uma vez e infelizmente sua voz soava bem mais próxima. Então não se surpreendeu ao tê-lo a seu lado pouco tempo depois. — Oi, bom dia!

 

O que mais faria além de agir naturalmente? Ou ao menos tentar?

 

— Bom dia, Luhan. — Respondeu sem ao menos olhá-lo diretamente.

 

— Luhan! Quanto tempo! — Baekhyun disse, como se os dois fossem amigos há vários anos. Às vezes ele praticamente implorava para ser odiado por Minseok, não é possível. — Ih, olha o Kyungsoo ali. — olhou para trás, como se tivesse avistado o garoto. — Preciso resolver umas coisas com ele, vejo vocês dois depois!

 

Minseok não acreditava que Byun podia ser tão cara de pau desse modo. Tinha quase certeza que Kyungsoo sequer havia chegado ainda, e como se não bastasse isso, ele sequer gostava dele tanto assim. Se essa era uma tentativa de deixá-los sozinhos discretamente, não funcionou nem um pouco.

 

— Baekhyun é patético. — Falou baixinho consigo mesmo, quase se esquecendo da existência do outro ao seu lado.

 

— Na verdade, eu o acho bem útil.

 

— Você presta atenção em tudo que eu digo ou o quê?

 

Minseok às vezes acabava soando um pouco mais rude do que pretendia.

 

— Ação involuntária. — deu de ombros. — Enfim, como está? Parece meio cansado e... Não está com seus óculos hoje. — fez uma expressão meio tristonha. — Realmente tinha gostado deles.

 

— Não dormi bem ontem à noite e te disse que não costumo usá-los.

 

Na verdade, ele passou bons segundos encarando os óculos e as lentes de contato, como se estivesse decidindo qual usar. Obviamente optou pelas lentes, pois não aguentaria mais nenhum comentário vindo por parte dele.

 

— Por que não? Insônia?

 

O Kim sorriu, sem realmente achar graça alguma. “Ah, só ansiedade causada por eventos do dia anterior, adivinha de quem é a culpa?”

 

— Nada com que deva se preocupar.

 

— Bem, eu realmente espero que durma melhor esta noite. De qualquer forma, ainda é bem cedo, você comeu alguma coisa? Tomou café para ficar menos sonolento? Oh, sim! Você gosta de café? E caso não tenha comido nada, posso arranjar algo pra ti bem rápido e...

 

— Você sempre fala tanto assim de manhã? Quantas perguntas. — Minseok interrompeu o monólogo alheio, parando de andar abruptamente. Luhan fez o mesmo, sorrindo meio envergonhado.

 

— Isso também é uma pergunta... E eu perguntei primeiro.

 

O Kim suspirou. Realmente, não tinha como se esquivar.

 

O caminho até a sala pareceu bem mais longo que o normal, e Minseok continuava a responder Han quando necessário, na maior parte do tempo deixando o mesmo falando sozinho. E estranhamente, ele não parecia se importar.

 

Porém ao chegar lá, nunca se sentiu tão aliviado na vida, seria a sala de aula seu novo refúgio? Esconderijo não podia ser mas era seguro. Quase.

 

Não queria pensar em todas aquelas pessoas lhe encarando por ter Luhan ao seu lado, não queria pensar em todas aquelas vozes cochichando baixinho e provavelmente falando coisas sobre si.

 

Mas tinha certeza que queria tirar aquele sorriso do rosto de Jongdae com um tapa. No momento ele era o único presente, já que Baekhyun provavelmente estava passando o tempo em qualquer outro lugar, querendo evitar Minseok.

 

— Aparentemente você tem que ir. — Disse, notando como era impossível falar tal coisa sem que parecesse uma expulsão.

 

— Sim, mas tudo bem, lhe deixo seguro e em boas mãos. — Ele se referia à Jongdae, o que fez o Kim revirar os olhos. — Brincadeira, não é como se você precisasse de alguém quando tem um caderno na mochila.

 

Jongdae, que não tinha medo algum da morte, riu alto. Minseok sentiu as bochechas corarem e não sabia se era de vergonha ou raiva.

 

— Já chega, pode ir, vai logo! — Disse rapidamente, dando-lhe às costas e indo até seu lugar, pronto pra ignorar tudo e todos. Principalmente aqueles que estavam prestando a tão temida atenção em si.

 

Han foi para a própria sala sem pressa alguma e no caminho até lá, só teve mais certeza sobre o que era óbvio.

 

Realmente, se aproximar dele não seria fácil.

 

**

 

Aquela semana extremamente estranha logo chegou ao fim. E a próxima também passou em um piscar de olhos.

   

Por acaso Luhan teria deixado Minseok em paz? É claro que não. Mas pelo menos as piadas envolvendo cadernos e arremesso de outros objetos chegaram ao fim.

 

Não podia dizer que tinha se acostumado com a presença de Luhan, mas ainda podia dizer que não a apreciava nem um pouco. Minseok, que antes não tinha problema algum em levantar cedo e ir para a escola, agora considerava tal tarefa quase um sacrifício. Ir para a escola significava ter que lidar com Han, e ter que lidar com Han significava estresse.

 

Ele sempre estava lá, quando chegava ao colégio, nos pequenos intervalos entre uma aula e outra e até após as aulas. O horário de almoço era o único momento fora das aulas que Han não estaria lá para incomodá-lo. Lembrando que ambos viviam praticamente em mundos diferentes, principalmente o do chinês, que mais parecia uma bolha inquebrável e intocável. Então podia ficar em paz.

 

Pelo menos até alguns dias atrás.

 

Minseok nunca costumava prestar atenção na cool table, mas se tivesse o feito desta vez, talvez tivesse conseguido fugir.

 

“Olha quem tá vindo pra cá”, Jongdae disse e sinceramente, Luhan era a última pessoa que teria passado pela cabeça do Kim. Quase engasgou com o próprio suco, mas passou bem.

 

Uma pessoa em circunstâncias normais não teria achado a situação ruim. Baekhyun e Jongdae eram a prova disso, já que não demorou para que eles e o outro começassem a conversar animadamente, como se já se conhecessem faz tempo.

 

Se seus amigos não tinham problema algum com a presença de Luhan, por que Minseok se incomodava tanto? Ele não parecia uma má pessoa, pelo contrário.

 

Ao contrário até demais.

 

O Kim não confiava nele, nem um pouquinho. Não fazia sentido algum. Não via motivos para que ele fosse tão “simpático” consigo e seus amigos, não eram “ninguém”, então por quê?

 

Ele só podia estar querendo alguma coisa, ou procurando algum modo de lhe prejudicar. Não seria a primeira vez, pra falar a verdade.

 

Infelizmente, Minseok não era o único que não aprovava toda aquela aproximação repentina e confusa. Boa parte dos amigos de Han, cool kids, estavam bem descontentes com seu comportamento ultimamente. Parecia que mal o viam, e o fato de estar passando a maior parte do tempo com quem era “irrelevante” tornava a situação ainda mais irritante para eles. Porém eles ainda não tinham tocado no assunto com Luhan, pelo menos, por hora.

 

Minseok não sabia se Taemin havia notado algo ou coisa assim, mas ele também estava no mínimo umas cinco vezes mais insuportável que o normal. Porém, apenas durante as aulas. Já que fora delas sempre tinha Han lhe perturbando. Parecia que ele evitava se aproximar do Kim quando o chinês estava por perto, talvez pelo mesmo ter certa influência, e se soubesse o quanto o Lee incomodava Minseok, provavelmente faria algo a respeito. Mas não era o que queria, na verdade, acreditava que tornaria as coisas piores.

 

E mesmo que ter Luhan a seu redor afastasse Lee Taemin de si, continuava a não o querer por perto.

 

Minseok às vezes se achava um pouco paranoico e ansioso demais. Estaria mentindo se dissesse que nunca escutou “Nem todas as pessoas que se aproximam de ti tem a intenção de te machucar”. Mas não é assim que funciona. Era como se tivesse um sistema de proteção que não parava de funcionar em momento algum, mesmo que não fosse o mais eficiente, fazia o que podia. Talvez sua ansiedade e toda aquela desconfiança fossem efeitos colaterais disso e de tudo que já tinha passado anteriormente em todos os malditos anos escolares de sua vida.

 

Luhan não era burro, ele claramente via que Minseok não era nada receptivo, mas isso não o incomodava. Também tinha noção de que o outro claramente não gostava de tê-lo por perto, mas tentava não se incomodar com isso também. Tinha um resquício de esperança dentro de si que com o tempo, talvez, ele e o Kim pudessem se tornar bons amigos. Não entendia bem seu interesse súbito pelo outro também, só sabia que... Sei lá, tinha alguma coisa nele que capturava sua atenção.

 

Do tipo que quanto mais ele tentava afastá-lo, mais tentado a se aproximar ele ficava.

 

Um de seus amigos mais próximos, Yixing, já tinha até feito piada sobre “Quando você vai chamá-lo pra sair? Tá perdendo tempo, hm?”. Luhan riu, é claro. As coisas com Minseok não eram assim, não nesse sentido.

 

Ou será que poderiam ser?

 

Nah. Tornaria tudo ainda mais difícil do que já é. Gostava da companhia dele, era isso. Talvez porque o Kim fosse incontáveis vezes mais diferente das pessoas que costumava conviver. Diferente em um sentido bom, muito bom, inclusive. Gostava muito de seus amigos, mas estaria mentindo se dissesse que concordava com algumas de suas ações e até opiniões sobre vários assuntos e pessoas. Era meio irritante, então era agradável passar um tempo com quem não era assim.

 

**

 

Era segunda-feira e Minseok estava um pouco mais tenso que o habitual.

 

Fez um maldito teste de matemática, que acreditava não ter estudado o suficiente por estar com problemas em se concentrar. Toda aquela preocupação constante não o deixava focar nas coisas que realmente eram importantes. Podia ficar umas boas horas deitado olhando para o teto sem fazer absolutamente nada, sentindo que não tinha motivação alguma.

 

Mas enfim, fez o teste e acreditava fortemente que teria um desempenho abaixo do normal, o que já havia arruinado seu humor.

 

Como se não fosse o suficiente, Lee Taemin era o último problema que precisava no momento.

 

O teste de matemática lhe preocupou tanto que não foi almoçar, preferiu usar tal horário para estudar na biblioteca e aproveitar que a mesma estaria completamente vazia. Foi bom, pacífico, apesar de fazê-lo desejar ter oportunidade de refazer o maldito teste.

 

Estava se preparando para ir embora e voltar à sala de aula, mas decidiu procurar um livro que o ajudasse a estudar mais tarde em casa. A biblioteca era grande, então vez ou outra acabava se distraindo entre os corredores por conta da quantidade de livros que havia ali.

 

Ao virar e entrar no corredor que precisava, realmente não esperar encontrar Taemin, provavelmente procurando alguma coisa também. Seria azar demais? Não é possível. Não tinha nem como voltar atrás, é óbvio que ele havia notado sua presença. E o sorriso de canto que ele deu não era nada bom.

 

— Olha, vejam só. — riu. — Kim Minseok na biblioteca uma hora dessas? Sozinho. — Deu ênfase na última palavra, fazendo com que ficasse ainda mais tenso.

 

— Eu só vim estudar. — Respondeu, tentando não soar nervoso.

 

— É claro que veio, você faz algo além disso? Sua vidinha patética se baseia em alguma outra coisa? — Ele riu novamente, dando alguns passos, aproximando-se dele e automaticamente o fazendo andar para trás.

 

— Por favor, não começa, eu só quero pegar um livro e ir embora. — Por mais que ainda tentasse parecer calmo, o Lee já o conhecia bem o suficiente para saber que era pura encenação.

 

— Ah, por que a pressa? Nós não nos vemos tem um bom tempo, não?

 

— Nos vemos todos os dias na aula.

 

— Fora dela, eu quero dizer. Afinal, você anda tão... Ocupado. — ele estreitou os olhos e Minseok sabia bem o que queria dizer. — Não tem tanta graça nas aulas.

 

Claro, já que lá não podia lhe ofender ou ameaçar tão abertamente, não é mesmo?

 

Ele passou a se aproximar ainda mais de si, por um momento ficando sem reação, sem saber o que fazer. Por fim, decidiu dar às costas e sair o mais rápido possível. Pelo menos, foi o que tentou. Mais rápido do que imaginava ser possível, ele lhe puxou pelo braço e o empurrou com força contra uma das grandes estantes repletas de livros, fazendo com que o ar faltasse por um instante e causando dor em suas costas.

 

Quando a situação chegava a esse ponto, sabia que já não havia mais nada que pudesse fazer. Pelo menos, era o que pensava. Como dito anteriormente, já fazia um bom tempo que o Kim acreditava que não valia a pena se defender. Não faria diferença alguma.

 

— O que você quer...? — Perguntou em um sussurro, como se fosse ajudar em algo.

 

— Nada, só me divertir um pouco contigo. Não se importa em voltar para casa com alguns hematomas, certo?

 

Minseok fechou os olhos com força. Era isso, mais uma vez. Apenas podia esperar que ele acabasse e fingir que nada aconteceu, mais uma vez.

 

Sentia-se tão inútil, fraco, impotente. De quem era a culpa? Apenas sua. Se Taemin implicava tanto consigo, talvez fosse porque merecia.

 

Óbvio que nada disso é verdade, mas é como o Kim pensava.

 

Esperou pelo primeiro soco ou chute, mas ele não veio graças ao sinal tocando, indicando que o horário de almoço havia chegado ao fim. Todos deveriam voltar para a sala e a biblioteca obviamente ficaria mais cheia.

 

— Mas que merda. — Taemin reclamou, suspirando impacientemente. Minseok abriu os olhos, querendo saber o que ele faria. O Lee olhou fixamente para si, a raiva visível em sua expressão. Levou uma das mãos até os cabelos do outro, segurando-os com força e o fazendo gemer de dor. — Não pense que se livrou assim tão fácil. E ah! Esqueci de falar antes. Em momento algum ache que ter um namoradinho popular vai te ajudar em algo ou te salvar de alguma coisa. É bom que fique de bico fechado, se eu souber que você tentou me foder, eu vou te foder de volta. E não disse em qual sentido, Minnie. — Sorriu, deixando-o mais assustado do que já estava. Como se para provar o que estava falando, puxou seus cabelos com um pouco mais de força antes de soltá-lo por completo e simplesmente sair dali.

 

Deixando sozinho um Minseok trêmulo, assustado e com a respiração acelerada, sentindo que podia desabar ali mesmo.

 

**

 

 

Se pudesse, Minseok teria ido para casa sem nem pensar duas vezes. Não queria voltar, assistir mais aulas e suportar a presença de Taemin no mesmo ambiente que si. Estava nervoso e assustado, tudo que queria era se trancar em seu quarto e só sair no dia seguinte.

 

Mas não, tinha que fingir que nada disso o afetava. Por mais que usasse sua tão habitual máscara de indiferença, ela não fazia efeito em Taemin. O Lee sabia bem o que fazer para afetá-lo e quando o outro fingia estar bem.

 

Minseok não contava pra ninguém a maior parte das coisas que aconteciam entre ele e Taemin, nem para seus amigos mais próximos. Não queria preocupar ninguém, nem fazê-los acreditar que precisava de algum tipo de ajuda. Já disse, há dias bons e ruins e aprendeu a lidar com ambos.

 

Mal prestou atenção em todas as explicações dadas pelo professor nas últimas aulas, seu único foco era ignorar Taemin e poder ir embora o mais rápido possível.

 

Quando a aula finalmente chegou ao fim, Taemin passou por si com seus amigos, não lhe dando um pingo de atenção, deixando-o aliviado instantaneamente. Mesmo que já estivesse livre para ir pra casa, não conseguia tirar de sua cabeça tudo que havia lhe dito. Agora tinha plena noção de que ter Luhan por perto não era bom, o prejudicava até demais.

 

Teria que voltar para casa sozinho hoje, já que Baekhyun lhe informou que iria direto pra casa de Mihyun e não sabia que horas voltaria. Ótimo, ficar sozinho era o que mais precisava.

 

E o que menos precisava?

 

A resposta começa com Lu e termina com Han.

 

Antes que pudesse sair da escola, é óbvio que ele o encontrou.

 

“Minseok-ah!”

 

Era a voz mais irritantemente reconhecível que podia existir.

 

Mas não ficou irritado, apreensivo seria uma descrição melhor. Do tipo que o fazia olhar ao redor, como se alguém estivesse observando o fato de ter Han ao seu lado.

 

— Oi. — Respondeu secamente, inconscientemente caminhando mais rápido.

 

— Oi, onde você estava? Sumiu hoje! Eu até tentei te procurar, mas sinceramente, te achar é algo bem complicado, viu? — riu, não recebendo nenhuma reação alheia em resposta. Estranho. — Bem, tenho um palpite e chuto que você estava estudando, não é, Minnie?

 

Minnie.

 

Flashbacks nada agradáveis passaram por sua mente, fazendo com que estremecesse e simplesmente não aguentasse mais.

 

— Tá, já chega. — parou de andar subitamente, deixando Han confuso. — Já pode parar com isso, eu cansei.

 

— Como assim?

 

— Não se faça de estúpido! Qual é a sua? O que você quer de mim? Por que não me deixa em paz? Qual o motivo por trás disso tudo? Cansei de te ver bancando o bonzinho e simpático comigo quando sei que é tudo mentira!

 

Han realmente não estava entendendo nada. Isso lhe assustava um pouco, Minseok parecia realmente irritado e não tinha o visto assim até agora.

 

— Por que acha que é mentira? Não é nada disso, eu apenas quero ser seu amigo e...

 

— Ah tá! — lhe interrompeu. — É claro que não. As coisas não são assim, nunca é assim! Pelo menos, não comigo. Você está esperando pela primeira oportunidade de me humilhar na frente de todos, não está? Ninguém nunca tem boas intenções comigo, então eu vou poupar seu tempo e cortar toda essa merda logo.

 

Sendo sincero, Luhan estava realmente surpreso, porque nunca sequer cogitou a ideia do outro pensar tais coisas sobre si. Até porque nenhuma delas era verdade. Em momento algum quis causar algum mal a ele, longe disso.

 

— Min, eu juro que não é nada disso! Nunca faria mal algum a ti, garanto que me aproximei de ti buscando nada além de sua amizade.

 

— Como se eu já não tivesse ouvido essa mesma história antes. Não tem sentido, Luhan! Por que eu, eu, de todas as pessoas desta maldita escola chamaria sua atenção? Até parece. Não aja como se não soubesse que vivemos em mundos totalmente diferentes e eu nunca pertenceria ao seu. Fale a verdade, você fez uma aposta com algum de seus amigos? Ou só está querendo se divertir? Como se já não bastasse isso, adivinhe só? Tê-lo por perto não me traz benefício algum. Já passei por isso diversas vezes e não quero que aconteça de novo!

 

Por conta de tais palavras, foi inevitável que Han imaginasse todas as coisas ruins que já tinham feito a ele ao decorrer da vida e simplesmente não conseguia encontrar uma razão para isso. Como alguém tinha coragem de machucar ou magoar Minseok? Chegava a ser absurdo.

 

— Minseok... — falou mais baixo desta vez, até porque ainda tinha algumas pessoas passando ao redor vez ou outra. — Eu sei que realmente não faz sentido, mas lembre-se que te conheci em uma situação bem inusitada. Quem não quer ser amigo de alguém que pode te proteger dos perigos da vida usando um caderno? — riu. — Sei que pode ser bem difícil confiar em mim, mas eu juro com todas as minhas forças que minhas intenções contigo são as melhores que você pode imaginar. Nunca te faria mal e peço desculpas caso tenha dado a entender algo assim...

 

O Kim lhe encarou em silêncio por tortuosos e longos segundos. Realmente já tinha ouvido tais coisas outras vezes e tinha muito medo de acreditar mais uma vez e ser enganado novamente. E odiava admitir, mas ele parecia estar sendo sincero. Podia ver isso principalmente em seus olhos, que até então nunca tinha reparado o quanto eram bonitos.

 

Será mesmo que valia a pena acreditar? Mesmo com a mais recente ameaça feita por Taemin?

 

Infelizmente era preciso se arriscar para saber a resposta.

 

Luhan não era tão ruim assim, Minseok sabia disso. E detestava viver com medo, desconfiado. Por mais que fosse uma forma de proteger a si mesmo, com o tempo isso se tornava altamente cansativo. Às vezes até se entristecia pensando nisso, desejava ser uma pessoa comum igual a seus amigos. Que não precisavam passar a vida inteira construindo muros a seu redor para que não saíssem machucados pela milésima vez.

 

Deveria mesmo arriscar e confiar nele?

 

Por mais que isso lhe deixasse apreensivo e com o estômago embrulhado, decidiu que uma última vez não faria mal. E se fizesse, não é como se já não tivesse acontecido antes, conseguiria se reerguer, por mais difícil que fosse.

 

— Tudo bem, Han. — Suspirou, desviando o olhar. — Vou acreditar em ti. Mas, do fundo do meu ser, espero que não faça eu me arrepender.

 

— Não vou, pode ter certeza. — Ele sorriu e o Kim também um pouco mais tímido em resposta. Não lhe dando tempo para dizer mais nada, apenas lhe deu às costas e saiu andando.

 

Pensando bem, aquela foi uma das poucas ocasiões cujo fez Minseok sorrir. E de modo algum se importaria em fazê-lo sorrir mais vezes.

 

Enquanto o via se afastar ao longe, começou a pensar coisas que provavelmente não devia.

 

E se Yixing estivesse certo? Talvez devesse mesmo parar de perder tempo e chamá-lo para sair.

 

A probabilidade de ser uma péssima ideia era bem alta. Ou não, nunca se sabe.