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História Utopia - Cama, mesa e banho


Escrita por: caulaty

Capítulo 7 - Cama, mesa e banho


 Kyle não imaginou que seria tão fácil apenas dar a mangueira do quintal ao Toupeira para ele relaxar. Foi a coisa mais próxima de um banho que conseguiu fazer com que ele tomasse, mas foi suficiente. Ele só molhou o cabelo com água, mas usou o sabão devidamente em todas as partes importantes. Estava completamente nu no quintal como se nada houvesse, sentado no piso de pedra com a mangueira correndo água no topo de sua cabeça como se fosse agradável. A nudez não constrangia Kyle; até porque, de longe, não conseguia ver nada além do que já fora exposto (visto que aquele homem só andava sem camisa). Telefonou para Kenny pedindo que ele trouxesse roupa limpa, julgando que o tamanho dos dois fosse mais ou menos o mesmo. Kenny era relativamente mais magro, os braços menos grossos, mas não estava disposto a pedir nada ao Cartman. Stan nem sequer atenderia o telefone. Estava enfurnado no escritório como de costume, fora do horário de trabalho, ocupado demais analisando documentos.

O Toupeira jogava água no rosto e se sacudia exatamente como um cachorro, apertando os olhos e tudo. O ruivo observava da janela da cozinha, imaginando como seria deliciosa a sensação da água corrente tocando a pele depois de sabe-se lá quanto tempo. Isso certamente o deixaria muito mais confortável.

Kenny chegou com duas sacolas grandes de roupas, muito mais do que Kyle havia pedido. O loiro era desse tipo de pessoa que, caso alguém elogie a camisa dele, ele tiraria e entregaria à pessoa como presente. Não tinha um osso de egoísmo no corpo, especialmente no que dizia respeito a qualquer coisa material.

Largou as coisas na sala, foi até a cozinha e pegou uma maçã da fruteira como se estivesse em casa. Apoiou-se no balcão, em frente à pia, e mastigou sem pressa. Quando viu a cena do Toupeira tomando banho no quintal, também pela janela, começou a rir.

-O que ele tá fazendo?

-O que parece que ele tá fazendo? Se limpando, ora. - Kyle respondeu enquanto ralava uma cenoura na tábua.

-Não parece que ele tá se limpando, parece que ele tá brincando com a água.

Kyle chegou por trás dele para espiar por cima do seu ombro, colocando-se na ponta dos pés. De fato, agora o homem só estava com a cabeça caída para trás e os olhos fechados, a boca entreaberta, com a mangueira jorrando água diretamente no rosto. Cuspia a água acumulada de vez em quando.

-Você também faria isso se estivesse há anos sem banho.

-Por que você não colocou ele na banheira? - O loiro perguntou, mastigando, brincando com a maçã nos dedos.

-Eu tentei. Agora, tô começando a achar que ele só não gosta de fazer nada que eu peça. Eu acho que ele entende, mas não quer só porque eu pedi. Isso faz sentido?

-Não muito. - Kenny disse distraído, sem prestar muita atenção. Virou-se de frente para ele, aproveitando que o outro estava pertinho, e passou o braço livre em torno da cintura dele. - Escuta, como é que foi com a Nichole?

-Acho que vai dar certo.

-Ótimo. - Agora ele tentava acariciar o cabelo ruivo encaracolado com a mão que segurava a maçã quase inteiramente comida; mas não deu muito certo. Kyle afastou um pouco o rosto pela mão melecada dele. Kenny fez uma careta imitando a expressão irritada do outro, aproximando o rosto até roçar o nariz pela bochecha macia dele, beijando o seu maxilar até encontrar os lábios. Não conseguiu mais o que um selinho, mas pelo menos o fez rir. Kyle o empurrou para se desenroscar do seu braço. - Por que você foge de mim?

A bengala estava encostada na bancada, logo ao lado, e quase caiu no chão. Kenny a segurou a tempo. Apoiou-se nela para se afastar, jogou a maçã no lixo e lambeu os dedos.

-Eu não fujo de você. - Kyle disse com um sorriso sacana, voltando a ralar a cenoura.

-Ele tem se comportado direito? - Uma pausa. - Aliás, por que caralhos ele tá pelado?

Ele precisou rir, simplesmente porque havia se esquecido disso.

-Isso é o quê, ciúme? - Perguntou com uma voz provocativa, sabendo que havia poucas coisas na vida que Kenny levava a sério.

O loiro puxou uma cadeira da mesa e se sentou, batucando com os dedos na superfície de madeira, assobiando para desconversar.

-Lógico.

Kyle teve a sensação de que ele teria acrescentado mais alguma coisa após aquela palavra, mas segurou na garganta porque não havia forma de brincar com isso sem soar deliberadamente cruel. O ruivo ficou contente por ele ter tido a sanidade de se calar. Jogou todos os pedaços ralados de cenoura em uma vasilha e começou a picar uma cebola com habilidade. O cheiro tomou conta da cozinha. Havia algumas batatas separadas logo ao lado, esperando sua vez. Os tomates já estavam picados em uma vasilha redonda transparente e Kenny roubava um pedacinho ou outro de vez em quando.

-Tá fazendo o quê?

-Sopa.

A porta da cozinha que dava para o quintal se abriu de repente. O Toupeira pingava por toda parte, completamente nu e molhado, esfregando o próprio rosto para tirar água dos olhos. Ele estava de pé, para a surpresa de Kenny. Kyle já tinha uma toalha pendurada em uma cadeira, esperando por isso. O loiro observava com os cotovelos apoiados na mesa e abriu um sorriso largo e entretido pela forma com que Kyle entregava a toalha a ele com o rosto virado para o lado, as bochechas levemente coradas, não querendo encará-lo nos olhos e nem o seu corpo exposto. O Toupeira agarrou a toalha com certa desconfiança e entrou na cozinha sem pudor algum, deixando um rastro de água pelo piso da cozinha. Secou o rosto, apenas. Andava curvado, arrastando os pés, os lábios tensos e os olhos grandes. Encarou Kenny durante alguns segundos, parando de andar, como se só agora percebesse a presença dele. O loiro sorriu e acenou. Isso fez com que o Toupeira desviasse o olhar.

Realmente não parecia que aquele homem havia passado fome. Gregory provavelmente sabia alimentar os seus escravos para garantir que eles continuassem a fazer um trabalho devido. As tatuagens cobriam boa parte dos braços dele, dolorosamente coloridas. Vermelho, amarelo e preto se destacavam. Talvez a pele dele queimasse tão fácil porque viveu no subsolo por um bom tempo (a vida inteira, talvez) e não estava habituado. Era um tom de pele oliva que contrastava lindamente com as tatuagens, especialmente molhado assim. O cabelo também parecia mais escuro encharcado daquela forma. Tinha cicatrizes pelo corpo inteiro. Kenny compreendeu, então, que elas eram o motivo pelo qual Kyle não queria encarar o corpo nu do homem. Não era vergonha pelo pênis exposto. Era pelos hematomas, pelas marcas que ele carregava.

-Tem roupas limpas pra você na sala. Você pode se vestir se quiser.

O Toupeira virou para encará-lo por não mais de dois segundos. Só então, começou a se secar e foi para a sala, ainda pingando água gelada pelo chão.

Quando ele desapareceu pela porta, Kyle pegou um pano de chão seco, agachou-se e começou a secar o rastro que ele deixou.

-Quando ele anda molhado e pelado pela casa, você nem briga, né. - Kenny disse, tentando fazê-lo sorrir. Referia-se a todas as vezes que saiu do banho com Kyle e não quis se vestir. Mas Kyle não sorriu. Parecia perturbado. Kenny umedeceu os lábios, olhando para ele. - Ei.

-O quê?

-Não fica assim. Você não disse que deu tudo certo? Wendy vai resolver isso, logo ninguém mais vai viver desse jeito.

Kenny era sempre tão leve a respeito de qualquer coisa na vida, por mais obscura que fosse. Mesmo quando ele não fazia ideia do que estava prestes a acontecer, falava de forma que não havia como contestar. Até o tom de voz dele era tranquilizador. Kyle abaixou a cabeça concentrado, encolhendo os ombros como se nada houvesse.

-É, eu sei. Foi um dia pesado, só isso.

 

* * *

 

Alguns dias se passaram sem notícias de Wendy. Quando ela se trancava no laboratório para trabalhar, poderia-se esmurrar a porta o quanto quisesse que ela não interromperia o que estava fazendo. Não que nenhum deles tenha tentado fazer isso. Tentaram retomar algum nível de normalidade, trabalhando normalmente para não levantar qualquer suspeita. De vez em quando, Stan chamava Kyle para o seu cabinete e compartilhava alguma informação nova, especialmente sobre a expectativa nas terras debaixo.

-Esteja pronto para levar o Toupeira até eles a qualquer momento. - O Coronel disse, escrevendo algo em uma agenda, sentado na escrivaninha. - Os homens debaixo querem um relato direto da boca dele. Estão impacientes. Queriam que nós o levássemos imediatamente, foi uma dor de cabeça fazê-los entender que ele não está em condições. Eu comprei algum tempo.

Não era de hoje que os governantes debaixo, especialmente aqueles concentrados em Washington, tentavam encontrar uma maneira de penetrar Utopia e destruí-la por dentro. O interesse político da queda do império de Utopia tinha muito mais a ver com monopólio do que com exploração. Não havia revolta popular, mas as organizações partidárias estavam com as mãos atadas e a morte do Presidente pioraria ainda mais a situação. Utopia era intocável e tinha total autoridade sobre a nação.

-Stan... Talvez isso não dê certo, você sabe. Tirar a coleira não necessariamente significa que ele vá colaborar. Talvez ele nem lembre, como a Nichole. Ele pode estar aqui desde pequeno.

-Eu sei. Mas vamos dar algum tempo a ele, ganhar confiança.

Kyle confirmou com a cabeça, ansioso. Estava um tanto distraído, olhando o treinamento pela janela. Kenny estava entre os homens fazendo flexões, logo ao lado de Craig Tucker. Os dois eram extremamente próximos, mas Craig nunca gostou muito dos outros amigos de Kenny. Era um aviador exemplar, apesar de tudo.

-Eu preciso voltar. Vão dizer que o senhor me dá tratamento especial.

Stan chegou a sorrir, algo tão raro nos últimos dias. Aquilo aqueceu o coração de Kyle.

-Vá. Desculpe por interromper o seu treinamento.

Kyle estava agoniado para ir embora. Quando possível, sempre deixava o campo mais cedo porque era difícil pensar no Toupeira sozinho em casa o dia inteiro. Ele costumava passar a noite inteira acordado, mas não fazia barulho nenhum. De vez em quando, Kyle saía do quarto para ir ao banheiro ou beber água e o encontrava em algum canto, sentado no chão mexendo em algum objeto que catou de alguma estante ou prateleira, muitas vezes um livro. Não lia, apenas cheirava e sentia, buscando familiaridade. Kyle sempre fazia questão de dizer algumas palavras a ele, de tratá-lo como uma pessoa, esperando que em alguma dessas vezes ele respondesse. E mesmo que não, sentia que era bastante importante que ele se reacostumasse com alguma forma de convivência social. Kenny passava muito tempo “conversando” com ele toda vez que visitava, mesmo que não houvesse nenhuma reação. Às vezes, o Toupeira chegava a dormir encolhido no chão enquanto Kenny falava, mas o loiro não parecia incomodado. Pelo contrário. Dizia que era bom que o Toupeira se sentisse confortável para dormir perto dele, pois isso o colocava em uma posição de vulnerabilidade. Era uma forma de confiança.

Percebera pequenos traços de evolução ao longo daquela semana. Não era nada muito significativo, mas havia momentos em que Kyle estava trabalhando no computador e o Toupeira chegava perto, tão silenciosamente que ele só percebia quando o homem estava bem próximo. E ali ao lado, ele se sentava. Se Kyle começasse a falar com ele, o Toupeira saía como um gato, engatinhando, as costas nuas se curvando lindamente, os ombros erguidos. Mas por vez ou outra, Kyle deixava-o em paz e eles ficavam em silêncio ao lado um do outro durante mais de uma hora.

Ele andava mais sobre duas pernas do que no começo. Também começou a cobrir o tronco recentemente, pelo frio, e dormir envolto em uma manta que Kyle deixara dobrada sobre a cama para ele. Continuava dormindo no tapete em frente à cama, nunca subia em móvel algum, escorava-se pelo chão, mas parecia relativamente mais calmo. Conhecia o ambiente, gostava do quintal dos fundos.

Kyle encheu a banheira pra ele e conseguiu convencê-lo a entrar. Ele parecia ter uma conexão forte com água, ficava sempre muito tranquilo em contato com ela. Ficou mais de uma hora na banheira da primeira vez. Não se ensaboava, ficava apenas com a cabeça relaxada quase totalmente imersa, apenas o rosto de fora, os olhos fechados. Não tinha qualquer pudor com nudez, exatamente como um bicho ou uma criança, então nunca se incomodava quando Kyle entrava no banheiro no meio do seu banho. Ele se vestia sozinho, mas não gostava muito de roupas.

Naquela noite, ao chegar em casa, encontrou o Toupeira sentado próximo à mesinha de centro, passando os dedos rapidamente pela pequena chama de uma vela acesa.

-Boa noite. - Cumprimentou, mas como era de costume, o Toupeira só levantou a cabeça para ele e depois continuou concentrado no que fazia.

Depois do jantar – o Toupeira ainda comia no chão, com as mãos, então Kyle nem lhe dava mais talheres -, Kyle foi preparar a banheira. Era um ritual que preservaram durante aquela semana, não era mais trabalhoso convidá-lo para o banheiro e convencê-lo a entrar, porque ele já sabia.

Os hematomas já não estavam mais tão roxos. Kyle nunca encarava diretamente quando ele tirava a roupa, mas já tinha alguma familiaridade com aquele peito largo, com a tatuagem circular que ele tinha do lado esquerdo do peitoral, o símbolo desconhecido em preto em suas costas, os pelos do abdômen dele que seguiam um caminho debaixo do umbigo até os pêlos pubianos. A barba crescia e o Toupeira não permitiu que Kyle a tocasse, quando o ruivo tentou sugerir que eles a aparassem pelo menos um pouco. Queria tentar cortar um pouco os cabelos dele também, que caíam sobre os olhos. Era um homem tão bonito. O nariz era um pouco torto, provavelmente devido a um ferimento mal curado no osso, mas combinava tão bem com o maxilar quadrado, a estrutura óssea forte dele.

Quando ele já estava na banheira, liberou o ar pelas narinas, relaxando aos poucos. Kyle umedeceu os lábios e deu um passo à frente.

-Eu posso lavar o seu cabelo?

O Toupeira o espiou de lado. Não chegou a mover a cabeça para olhá-lo propriamente. Kyle nunca conseguiu extrair dele nem mesmo um sinal com a cabeça. Ele simplesmente não respondia a nada, mas o ruivo acreditou que ele deixaria muito claro se não quisesse ser tocado quando o outro se aproximasse. Arregaçou as mangas do suéter e sentou-se no vaso sanitário para usá-lo como banquinho, esticando o braço para alcançar o vidro de shampoo que estava pela metade. O Toupeira fazia uma concha com as mãos e jogava água no próprio rosto. Não pareceu incomodado quando Kyle começou a massagear seu couro cabeludo com o líquido viscoso, produzindo uma espuma branca que caía pelos ombros.

Algo estranho aconteceu. O Toupeira passou o braço pelos olhos para tirar um bocado de espuma, ajeitou-se na banheira e recostou a cabeça contra a mão de Kyle primeiro, respirando profundamente. Depois, virou-se de frente e segurou na beirada de porcelana da banheira, erguendo-se um pouco para deitar a cabeça sobre as pernas de Kyle, tudo muito devagar. O ruivo parou com o movimento dos dedos por um instante, franzindo a testa.

-Você gosta disso?

Não foi exatamente uma resposta, mas o homem suspirou fundo e deixou escapar um gemido fraco conforme o ar deixava os seus pulmões. Kyle podia ver as costas molhadas dele, os músculos firmes dos braços, como tudo relaxava sob o toque das suas mãos. O Toupeira estava de olhos fechados, a bochecha repousada contra a coxa do ruivo. Kyle teve vontade de sorrir, mas estava um pouco assustado. Retomou o movimento com delicadeza, massageando com calma, passando as pontas dos dedos suavemente pelo escalpo dele e descendo um pouco até a nuca. Teve vontade de acariciar aquelas costas largas, mas ateve-se somente aos cabelos dele.

Ocorreu-lhe então que esse homem provavelmente não experimentava toque de outro ser humano há muito tempo. Toque, pelo menos, que não envolvesse qualquer violência. Talvez fosse assim que ele se comunicasse. Palavras não funcionavam com ele, mas isso... Esse pequeno gesto de massagear sua cabeça com algum carinho dizia o suficiente. O coração de Kyle apertou. Sentiu-se tão íntimo daquele homem, como se o conhecesse a vida inteira. Foi tomado por um desejo muito forte de prolongar o momento o quanto fosse possível. O Toupeira estava desarmado, sem defesas, confiando plenamente nele.

-Eu sei que você quer ajudar. - Kyle sussurrou baixinho, curvando um pouco o tronco para aproximar o rosto. - Nós precisamos da sua ajuda. Você sabe disso, não sabe?

Teve receio de estar arruinando o momento, mas também sentiu que não haveria tão cedo um momento mais oportuno para falar. E pela primeira vez, o homem grunhiu baixinho e roçou a bochecha contra o tecido grosso da calça de Kyle, como se isso fosse a melhor resposta que poderia oferecer.

Kyle suspirou fundo, um pouco frustrado.

-Às vezes... - Prosseguiu, alisando atrás das orelhas dele com cuidado. Suas mãos percorriam entre o cabelo cheio de espuma, a palma alisando o couro cabeludo dele devagar, saboreando a sensação. O Toupeira chegava a gemer baixo. Respirava como um animal adormecido. - Parece que você nem entende o que eu estou dizendo.

De repente, parou. Suas mãos ficaram imóveis. Após alguns segundos, o Toupeira ergueu a cabeça, parecendo confuso. Encarou o outro com uma expressão vazia.

-Você... Você não entende nada do que eu digo, não é?

Tudo o que o outro fez foi mergulhar a cabeça, livrando-se de boa parte da espuma, sacudindo-a ao emergir.

-Você não fala a nossa língua. - Kyle disse, mais para si mesmo do que para o outro, levantando-se da privada. - Você não responde porque você não faz ideia do que nós estamos dizendo. Não é?

Não houve nada. O Toupeira passava as mãos pelo topo da cabeça, completamente molhado, escorrendo água. Cuspiu um pouco do que acumulou em sua boca. Encarava o outro com certa curiosidade, mas estava evidentemente mais interessado em seu banho.

Kyle nem se lembrou de enxaguar a espuma das mãos quando correu para fora do banheiro, quase escorregando no tapete do corredor, apressado para chegar ao telefone do escritório. Telefonou o número de Stan depressa, agitado, com a respiração alterada.

-Alô? - O Coronel atendeu com uma voz exausta.

-Stan. - Ele respondeu sem controle sobre o volume da própria voz. - E se ele for estrangeiro?

Houve uma longa pausa. Kyle pôde ouvir o som de algo sendo colocado sobre a superfície da mesa sem cuidado, de forma barulhenta.

-O quê? Do que você...?

Stan falava como se tivesse acabado de acordar, embora provavelmente ainda estivesse debruçado sobre documentos em seu escritório.

-E se o Toupeira for estrangeiro? E se ele literalmente não nos entende? E se ele não faz ideia de que nós estamos tentando ajudar porque ele não entende nada do que nós dizemos?

-Mas o Gregory não teria te contado isso?

-Eu não sei. Ele não me disse nada sobre ele, nem mesmo o nome verdadeiro. Mas quando eu falo com ele... É literalmente como se ele não entendesse nada. Nós pensamos que talvez ele tivesse alguma limitação, mas olhe bem pra ele. Eu não acho que ele seja americano.

Stan passou algum tempo em silêncio, somente sua respiração era audível. Kyle o conhecia tão bem que até podia ver – em sua mente – como ele estava pressionando o ponto entre as sobrancelhas, de olhos fechados, depois massageando as têmporas para aliviar a dor de cabeça.

-Pode ser. Olhe, eu já havia pedido ao Cartman para ver se ele consegue acessar onde o Gregory mantém os registros de escravos trazidos para Utopia. Vou pedir para ele ver se consegue descobrir algo mais, talvez o nome do Toupeira... Esse é um empecilho do qual nós não precisamos, mas seria fácil de resolver. Se nós descobríssemos que língua ele fala. Tente falar com ele de outras formas.

-Eu vou.



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