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História Vibrações Da Sua Voz - Insípido


Escrita por: tomorrowday

Notas do Autor


Adivinha quem não consegue escrever capítulos pequenos!! O/

É oficial, chegamos no meio da fic! Mas calma lá, ainda tem cinco capítulos gigantes (como sempre) pra vir, então fiquem tranquilos! E bem, nesse cap vocês vão conhecer um tanto da história do Tae e tudo mais!

Antes de tudo, eu queria muito agradecer por todo o carinho de vocês, meu Deus estou chorosa! Foi cada comentário lindinho que eu chega me tremi toda, socorro! Eu amo vocês demais, minha gente <3

Agora cá estou eu com um novo cap! Não tenho nenhuma playlist não, mas betei o cap ouvindo "bts chill playlist but you're in a car and it's raining" e não me arrependo! By the way, sobre a betagem, sou eu mesma que sempre faço então não tenham muita fé não, eu sempre acabo deixando um errinho ou outro passar :')

Bem, boa leitura! View em Waste it one Me, Taekook namora e até lá embaixo!

Capítulo 5 - Insípido


Jeongguk não estava feliz. Não mesmo. E provavelmente qualquer um que prestasse atenção em si notaria aquilo – mesmo que estivesse usando máscara, capuz e estivesse extra agasalhado por conta da recente chegada do Inverno – por conta da maneira que encarava a mesa não muito longe de si, claramente incomodado.

– Saeng, se você encarar um pouco mais aqueles dois, vai acabar queimando um buraco na cabeça de Hoseok – Yoongi disse calmamente, dando um gole de seu café puro.

Oras, quem culpá-lo-ia?! Havia chegado no Alice Table aquela manhã e lá estava ele, Hoseok, sentado na sua mesa, no seu lugar, conversando animadamente com Taehyung por língua de sinais! Certo que não teria motivos para estar com raiva caso aquela tivesse sido a primeira vez, afinal, Hoseok era um grande amigo de Taehyung que morava longe e obviamente o loiro estava com saudades. Mas aquilo vinha acontecendo desde que o ruivo chegara em Seoul! Toda vez que Jeongguk estava conversando com Taehyung vinha Hoseok para perto, começando a puxar assuntos com o loiro em KSL, roubando seu tempo com ele e tirando toda a atenção dele de si!

Droga, não queria ser egoísta. Não queria ser aquele maníaco por atenção, não perto de Taehyung!

Mas Deus, não poderia estar mais incomodado!

– Você não está com ciúmes, hyung? – perguntou, incrédulo, virando-se para Yoongi, que permanecia calmo bebendo de seu café. – Digo, ele também é muito amigo de Jimin e está tirando muito do seu tempo perto dele!

– Não, não estou – o Min respondeu simples, dando levando a xícara branca mais uma vez aos lábios antes de continuar. – Pelo que me parece, é você quem está com ciúmes, dongsaeng.

– Eu não estou com ciúmes, não tenho nenhum direito de ter, afinal, Taehyung é meu amigo – revirou os olhos. – Só estou um pouco triste que ele não esteja passando tanto tempo comigo, sabe? Mas eu não posso e nem quero monopolizá-lo, afinal, ele tem todo o direito de ter as amizades dele. Talvez eu só esteja com um pouco de inveja de Hoseok por ter tanta intimidade com Taehyung, só isso.

Observou Yoongi suspirar e deixar a xícara de café na mesa, ajeitando os óculos redondos e então olhando para si.

– Você acabou de descrever ciúmes, dongsaeng. E eu não te culpo, não é algo que você possa escolher sentir ou não, você simplesmente sente. O problema é o jeito que as pessoas lidam com ele – ele disse, apoiando os braços na mesa ao se inclinar um pouco em sua direção. – Você tem todo o direito de se sentir magoado, mas não desconte isso em Taehyung, afinal, a culpa não é dele.

– É claro que não vou descontar nele! – disse, indignado. Afinal, não poderia descontar nunca suas inseguranças em alguém que claramente não tinha culpa nenhuma, afinal, Taehyung realmente não era nada seu para estar se sentindo daquele jeito, por mais que o pensamento não lhe agradasse nada. – Apenas queria não me sentir assim, sabe? Como você faz, hyung? Como não sente ciúmes?

– Meu caso é diferente do seu, dongsaeng – Yoongi respondeu, pegando mais uma vez a xícara. – A relação que eu tenho com Jimin é diferente da relação que você tem com Taehyung, queira você ou não.

Jeongguk franziu as sobrancelhas. "Queira você ou não"?

– Jiminie me disse que ele e Hoseok são grandes amigos, e eu confio nele – o Min continuou, apoiando as costas mais uma vez na cadeira confortável. – Se é isso que ele me diz, eu acredito. E ele sempre faz questão de demonstrar para mim que sou eu quem ele namora, mais ninguém. Mas, já no seu caso, você e Taehyung não namoram, então ele não deve qualquer satisfação a você.

Droga, Yoongi estava certo. Ele sempre estava certo!

Podia ficar incomodado o quanto fosse, Taehyung não poderia lhe assegurar de que ele e Hoseok não tinham nada, até porque eles poderiam muito bem ter algo e não seria da sua conta de qualquer maneira! Não estava na posição de exigir algo – nem queria fazê-lo, afinal, Taehyung era livre para fazer o que quisesse –, nem mesmo na posição de estar com ciúmes!

Deus, nem mesmo sabia o porquê de estar tão incomodado! Não era como se quisesse que Taehyung fosse algo seu, era?

Suspirou, subindo o olhar para mesa que costumava sentar com Taehyung, para o seu lugar ocupado por Hoseok, vendo os dois rindo de algo que não entendia, conversando por KSL, parecendo tão próximos, tão íntimos...

Será que Taehyung gostava de Hoseok?

– Ah, hyung, isso é tudo muito complicado! – afundou mais na própria cadeira, puxando o capuz até que cobrisse todo o seu rosto.

– O que é complicado? – ouviu a característica voz melodiosa de Jimin ecoar enquanto ele se aproximava, deixando algo em cima da mesa, talvez o cappuccino que pedira e a torta de limão de Yoongi, mas não podia ver por conta da face coberta.

– Jeongguk está com ciúmes – Yoongi respondeu simplesmente, então ouviu o barulho do selinho que ele deu no rosado como agradecimento, logo o som de talheres.

– Ah, é isso? – o Paerk falou, divertido, e tudo que Jeongguk fez foi resmungar algo que nem mesmo sabia traduzir, talvez só um murmúrio descontente.

– Não estou com ciúmes – falou de forma abafada, tanto pela máscara que cobria sua boca quanto pelo capuz que por sua vez cobria o rosto inteiro. – Só queria conversar com Taehyung, só isso.

– Bem, agora é sua chance, dongsaeng – Yoongi falou e em seguida Jeongguk ouviu o sininho da porta da cafeteria ecoar, indicando que alguém havia ou entrado, ou saído. – Porque Hoseok acabou de ir embora.

No mesmo instante tirou o capuz do rosto, virando o olhar para uma das janelas do Alice Table e vendo de relance a cabeleira vermelha passar por lá, desaparecendo rapidamente. Então voltou os olhos para a mesa de Taehyung, vendo que o mesmo estava agora sozinho, bebericando de sua caneca azul que tinha certeza ter chocolate quente – qual descobrira ser a bebida favorita do loiro, o que era bem óbvio.

Com a saída de Hoseok, que antes sentava de frente para Taehyung, consequentemente cobrindo sua visão do mesmo, pôde finalmente parar para observá-lo. Ele tomava de seu chocolate enquanto parecia distraído, olhando fixamente para a capa marrom do sketchbook fechado, no qual um estojo belo e cheio repousava em cima, um completamente diferente do simples que normalmente usava – e Jeongguk até estranhou aquilo, mas resolveu deixar para lá por agora.

Hoje o Kim usava um largo moletom lilás, tão largo que, devido ao seu físico esguio, deixava seu colo e clavícula bronzeados a mostra. Claro que Jeongguk não conseguiu deixar de admirar, prendendo a respiração por alguns segundos enquanto mantinha o olhar preso nele — não ouvindo as risadinhas cúmplices de Jimin e Yoongi por estar tão entretido na visão.

– Eu vou lá falar com ele – declarou, levantando-se de sua cadeira.

Pegou o bloquinho que havia trazido com o exato propósito de conversar com o Kim e a caneta amarela com cheiro artificial de abacaxi que achou em casa – parando para pensar, talvez aquela caixinha cheia de canetinhas com cheiro de frutas houvesse sido um presente de alguma fã em um fansign –, então começou a andar em direção à mesa do outro. Normalmente ficaria um tanto intimidado, afinal, não costumava puxar conversas, e sim as pessoas ao seu redor que faziam questão de falar consigo. Ah, mas era Taehyung. Era diferente.  Fazia questão de ir falar com ele.

O loiro, antes distraído, pareceu notar a movimentação perto de si, ergueu a cabeça e finalmente lhe viu, então lhe lançou aquele largo sorriso retangular. E claro que o coração de Jeongguk pulou um pouquinho com a recepção calorosa, embora não soubesse realmente o porquê. Porém foi impossível não sorrir junto, mesmo que por trás da máscara.

Ah, gostava mesmo do sorriso de Taehyung.

Finalmente alcançou a mesa dele, acenando timidamente e logo se sentando na sua cadeira antes ocupada por Hoseok, então tratou de abrir o bloquinho na página em que pararam e de tirar a tampa da caneta amarela vibrante, começando a escrever.

"Oi!"

"Oi, Ggukie!"

Ah, Jeongguk tinha sentido falta de ser chamado de Ggukie por Taehyung. Bem, não é como se ele não tivesse lhe chamado assim no dia anterior, chamara sim, mas ele estava ocupado conversando com Hoseok, então foi quase como se não estivesse ali. Ou talvez apenas estivesse fazendo drama, afinal, a culpa não era de Taehyung, era sempre Hoseok que insistia em chamá-lo e interromper suas conversas.

"Comprou um novo estojo?", escreveu, afinal, agora vendo de perto, o estojo era realmente grande e cheio de lápis, tanto de cor quanto grafites de qualidade e borrachas profissionais.

"Ah, não, eu não costumo comprar coisas assim. Hobi trouxe para mim de presente."

Ao ler aquilo, mordeu o lábio inferior. Havia dado uma borracha para Taehyung. Enquanto Hoseok deu um estojo de materiais de artes, deu apenas uma simples borracha...

"Ah, que ótimo! Você estava precisando, não é?", foi o que escreveu, forçando um sorriso, porém sentindo algo em seu interior se remexer. E talvez aquilo tivesse lhe magoado mais do que deveria.

Talvez não pudesse mesmo competir com Hoseok.

"Oh, por falar em Hobi, você chegou agora?", leu na letra desajeitada de Taehyung, se interrompendo apenas para baixar a máscara – embora ainda mantivesse o capuz, todo cuidado era pouco. "Ele acabou de sair. Se você tivesse vindo um pouquinho mais cedo, talvez tivesse o visto."

Jeongguk se esforçou para não fazer uma careta, levando a língua até a parte interna da bochecha e a pressionando ali. Hoseok mais uma vez. Bem, não é como se Taehyung soubesse da rivalidade infantil e unilateral que criou com o ruivo em sua cabeça, afinal, sempre era o mais amigável possível com o outro, assim como ele era consigo – não iria tratá-lo mal por coisas fúteis como aquela, aquilo era infantil demais até mesmo para si.

"Ah, que pena! Se eu tivesse vindo um pouquinho mais cedo...", mentiu, afinal, estava ali já haviam uns bons trinta minutos. Mas Taehyung não precisava saber daquilo. E outra, não culpava o loiro por não tê-lo visto, afinal, a cabeleira ruiva de Hoseok cobrira toda a visão que ele poderia ter sua.

"Não se preocupe, Ggukie, haverão mais oportunidades", Taehyung tentou lhe consolar, sorrindo gentil, e Jeongguk retribuiu o sorriso, embora não estivesse nem um pouco afim que essas 'oportunidades' chegassem.

"Mas bem, mudando de assunto, tinha algo que eu queria te perguntar...", começou a escrever, um tanto sem-jeito. "Talvez amanhã, não sei, você tem algum tempo livre? É que abriu uma loja de cheesecake nova aqui no distrito e, bem, não é nada divertido comer cheesecakes sozinho."

Taehyung sorriu, feliz, pegando animadamente o bloquinho para responder, lhe deixando animado, afinal, aquela era a reação de quem estava feliz com o convite e iria aceitar.

Porém, assim que o loiro ia começar a escrever, já encostando a caneta no papel, ele pareceu lembrar-se de algo, fazendo com que o sorriso animado morresse em seu rosto, e assim o de Jeongguk.

"Ah, eu ia adorar sair com você! Porém eu tenho faculdade e já prometi para Hobi que depois dela iria sair com ele."

Jeongguk teve de se esforçar para esconder a própria decepção. Mais uma vez Hoseok.

Ah, se apenas tivesse convidado Taehyung antes dele, mas não, ele provavelmente havia o convidado por língua de sinais enquanto interrompia alguma das suas conversas!

"Ah, claro, não tem problema", escreveu, tentando disfarçar ao máximo que estava inquieto, lançando para o outro um sorriso pequeno.

"Você poderia ir conosco! Eu ia amar e tenho certeza que Hobi não se importaria, afinal, ele é um grande fã seu", Taehyung escreveu, sorrindo.

Ah, Jeongguk gostaria mesmo de ir. Mas e se Taehyung apenas estivesse lhe convidando por educação? Talvez fosse melhor deixá-lo sozinho com Hobi, afinal, eles provavelmente queriam sair um com o outro. Apenas os dois. Sozinhos.

Ah, Deus, ia enlouquecer!

"Ah, não acho que seria uma boa ideia, eu chamo atenção demais e sou facilmente reconhecido, ia estragar o passeio de vocês...", escreveu, sem-jeito. "E outra, talvez fosse acabar atrapalhando vocês dois, afinal, ele te chamou para sair, provavelmente não iria me querer por perto."

Taehyung leu a sua frase e Jeongguk pôde jurar ver os ombros dele caírem. Então ele olhou para si com um olhar um pouco desanimado, suspirando, porém logo tentou lhe lançar um sorriso.

"Não ia atrapalhar, Gguk, eu gosto de sua companhia, e tenho certeza que Hobi também deve gostar, mas se você não quiser ir, não tem problema, afinal, não quero te forçar a nada", leu, interrompendo-se apenas para pensar se Taehyung não tinha entendido errado. Será que pensara que não queria sair com ele? Deus, queria sair com ele sim, mas apenas com ele! E como podia explicar aquilo? "Mas você vai ter que prometer ir comigo comer um cheesecake depois, viu? Afinal, comer um sozinho realmente não é nada divertido."

Suspirou aliviado com a frase descontraída, sorrindo logo em seguida.

"Oras, você não ficaria sozinho de qualquer maneira, teria Hoseok", escreveu de brincadeira, mesmo que as palavras tivessem um fundo de verdade.

"Estou chamando você para ir, Ggukie!"

Aquilo sim arrancou um sorriso genuíno seu.

"Não é justo, eu chamei primeiro!", brincou, sorrindo, vendo o outro revirar os olhos , mesmo que ele mantivesse o sorriso divertido nos lábios.

"Então estamos quites!", leu, não conseguindo conter o sorriso largo. "Apenas não conte para Hobi, ou ele iria insistir para ir junto. A última vez que ele comeu cheesecake não deu muito certo..."

Ah, Jeongguk não ia mesmo mencionar. E não era por causa dos problemas de Hoseok com o cheesecake.

Mas aí estava o nome do ruivo sendo mencionado mais uma vez. A língua foi parar novamente na parte interna da bochecha, mesmo que involuntariamente.

Querendo ou não, Taehyung e Hoseok tinham história. E ah, era nesses momentos que Jeongguk odiava seu lado extremamente competitivo, mesmo que se aquilo fosse, de fato, uma competição — mesmo que aquele fosse um pensamento idiota para se ter —, estaria perdendo feio.

"Você nunca me disse como foi que você e Hoseok se conheceram", falou com um sorriso, tentando descontrair. Não que realmente se interessasse naquele assunto em especial, mas tinha saber com o quê estava lidando ali, qual era a dimensão da relação dos dois. Embora sua vontade mesmo fosse de levar Taehyung naquele exato momento para comer um cheesecake de morango e mandar Hoseok ir se ferrar.

Mordeu o lábio inferior. Droga, não devia ter aqueles pensamentos, o garoto era legal! E talvez exatamente por isso ficasse tão inseguro, afinal, e se Taehyung preferisse a companhia dele ao invés da sua?

Mas ele não pareceu notar seu incômodo, sorrindo feliz ao ver sua curiosidade.

"Oh, já faz bastante tempo! Eu ainda morava em Daegu!"

Jeongguk ergueu as sobrancelhas.

"Você é de Daegu?"

Taehyung sorriu.

"Sim! Nasci e passei a maior parte da vida por lá!"

"E você conheceu Hoseok na infância?", perguntou, confuso. "Mas ele não é de Gwangju, ou é Gwacheon?"

"Sim, ele é de Gwangju", ele escreveu e Jeongguk apenas interrompeu sua leitura para olhá-lo, confuso. Ele riu e fez um gesto para que continuasse a ler, então assim fez. "Eu nasci em Daegu e sempre morei lá com meus avós, então quando eu tinha uns quatro anos, acho, um novo vizinho se mudou para a casa ao lado da minha. Esse era Jimin, ele veio de Busan com a família para morar definitivamente por lá."

"Mas como você e Jimin se conheceram? Quer dizer, vocês não podiam falar um com o outro, presumindo que um Jimin de quatro anos não sabia falar por sinais", escreveu, curioso, e logo viu Taehyung rir ao se lembrar.

"Ah, foi engraçado! Assim que chegou, Jimin ficou sabendo que tinha um vizinho da idade dele e já ficou louco para fazer amizade! Então, quando eu estava brincando de bola no quintal, ele veio correndo e perguntou se podia brincar comigo, mas é claro que eu não entendi."

"E aí? O que aconteceu?"

"Ah, ele começou a chorar", Taehyung escreveu e Jeongguk riu, divertido. "É claro que na hora eu me desesperei e tentei fazê-lo parar, então eu o abracei por alguns segundos e logo ofereci a bola que eu estava brincando para ele. No fim, acabamos brincando de bola juntos mesmo sem conseguir falar um com o outro, e quando a minha avó chegou em casa só faltou morrer de surpresa ao ver que eu tinha feito amizade, mesmo que ainda não soubesse o nome dele."

Jeongguk sorriu imaginando a cena. Um Taehyung pequenininho com um Jimin menor ainda — mesmo sendo mais velho — brincando de bola. Era decerto adorável.

"Então a minha avó explicou com calma para ele que eu era surdo, dizendo que eu não conseguiria conversar com ele", Taehyung continuou. "Eu fiquei bem triste, pensando que perderia o meu primeiro amigo, mas ao contrário do que eu pensei, Jimin simplesmente ficou ainda mais animado com aquilo e pediu para minha avó ensiná-lo KSL. Você devia ver a cara orgulhosa dos pais deles quando eles chegaram para buscá-lo e ele falou tudo sobre mim! Mas bem, por um tempinho era minha avó quem traduzia as nossas conversas, e, como crianças aprendem rápido, logo ele estava conseguindo manter uma conversa comigo sem problemas. Não demorou muito para que nos tornássemos melhores amigos."

"E Hoseok?", escreveu, curioso. "Como ele se encaixa aí?"

"Ele se mudou para Daegu quando eu e Jimin tínhamos nossos doze anos, acho. A família dele estava sempre se mudando, e bem, assim que ele chegou em Daegu, Jimin já fez amizade com ele, como ele sempre gostou de fazer as pessoas novas se sentirem confortáveis. Não é à toa que ele sempre foi muito querido no colégio."

"E como você era no colégio?", perguntou, de repente ficando um tanto nervoso. Parecia uma pergunta simples, mas Deus, não queria que Taehyung tivesse sofrido. Crianças podem ser más quando querem, especialmente com pessoas que não se encaixam em seus padrões.

"Ah, eu estudei em uma escola especial até o ensino médio", ele escreveu e Jeongguk suspirou, de certa forma aliviado. "Hobi era mais velho que nós dois, mas havia entrado no mesmo colégio que Jiminie, então não demorou muito para que ele o levasse até minha casa e me apresentasse a ele. Hoseok estava bem animado em me conhecer, como Jimin já havia falado de mim antes, e não demorou muito para que nos tornássemos amigos também, mesmo com Jimin sempre traduzindo para nós dois o que cada um dizia. Com o tempo ele também aprendeu a falar por sinais, mas não precisávamos realmente de palavras para nos divertir! Ele é um ótimo hyung, divertido, atencioso e cuidadoso, sempre foi."

Jeongguk apoiou o rosto na mão, suspirando. Sentiu inveja de Hoseok. Segundo Taehyung, ele era divertido, atencioso e cuidadoso. Com treze anos lá estavam os três, fazendo amizade e se divertindo, enquanto o pequeno e tímido Jeon estava se mudando para Seoul para seguir a carreira dos sonhos. Parecia uma realidade diferente.

"No Ensino Médio eu entrei na escola dos dois, ficando na sala de Jimin, como temos a mesma idade, afinal, ele só é meu hyung por alguns meses", Taehyung continuou a escrever. "E não demorou muito para o tempo passar e Hobi se formar, seguindo o sonho dele e fazendo faculdade de dança lá em Daegu. Mas os pais dele tiveram que se mudar mais uma vez, transferidos por conta do trabalho para Gwacheon, então ele foi junto e terminou a faculdade por lá. Depois de um tempo ele resolveu voltar para Gwangju, a cidade natal dele, e alugar um apartamento com o dinheiro que tinha enquanto planejava em abrir uma academia de dança."

"Mas como vocês mantiveram o contato? Digo, por telefone não foi", escreveu, confuso, e Taehyung riu fraquinho.

"Ele sempre arranjava um jeito de nos visitar de vez em quando e falar com Jimin pelo telefone e comigo por Skype pelo o computador da mãe dele, aí dava para falar por sinais. Às vezes a imagem travava, o que complicava tudo, mas num geral dava certo."

"E como você e Jimin acabaram em Seoul?", perguntou, curioso.

"Jimin achou que fazer faculdade de Gastronomia aqui seria melhor, como dava mais oportunidades, até porque o sonho dele era abrir um restaurante aqui em Seoul. E eu também queria fazer Artes Visuais por aqui, então resolvemos vir juntos. Meus avós resolveram vir conosco, como tinham certo medo de me deixar sozinho do jeito que sou, então, por um tempo, eu e Jimin moramos com eles até conseguirmos juntar dinheiro suficiente para alugar a nossa casa, Jimin com os empregos dele em restaurantes e cafés e eu trabalhando para o meu avô na oficina dele."

Jeongguk arregalou os olhos.

"Uma oficina?", escreveu, surpreso, e observou Taehyung sorrir com sua incredulidade.

"É, ele é mecânico, me ensinou tudo que sabe. E mesmo que eu goste mais de artes, eu até que levo jeito!", ele escreveu e Jeongguk se interrompeu apenas para dar uma risada, observando o sorriso convencido e brincalhão do loiro. "Tive que parar de trabalhar lá para dar mais tempo à faculdade, mas como Jimin abriu o Alice Table, estamos bem estáveis."

Jeongguk sorriu, pensativo. Para si, falta de dinheiro nunca foi realmente um problema desde que começou a fazer sucesso – antes seu apartamento mal tinha espaço para si. Achou divertido saber que Taehyung recebia por trabalhar em uma oficina de todos os lugares, afinal, realmente não imaginava que ele soubesse mexer naquele tipo de coisa – embora não negasse que a imagem de um Taehyung suado e sujo de graxa havia sido muito bem-vinda em sua mente, sem sombra de dúvidas.

Droga, pare de pensar nesse tipo de coisa, Jeongguk!

Balançou a cabeça, afastando o pensamento, então vendo que o loiro mais uma vez lhe estendia o bloquinho com algo novo escrito.

"Por falar em faculdade, acho que tenho de ir, Ggukie."

No mesmo momento Jeongguk soltou um muxoxo de desaprovação. Não havia sido ouvido pelo outro, mas não é como se tivesse feito questão de esconder o biquinho que formou-se em seus lábios.

"Ah, mas já?", lamentou, vendo Taehyung sorrir enquanto lia.

"Infelizmente sim. A professora de hoje faz a chamada no início da aula, e digamos que eu não sou mestre no quesito de ouvi-la chamando meu nome, entende? É todo um processo para fazê-la marcar minha presença, tenho que aparecer bem na frente dela no início da aula para ser notado", riu ao ler o que o outro escrevera. Devia mesmo ser complicado para ele, Jeongguk até já havia perguntado como ele assistia aulas, e teve como resposta que ele estava lá mais pela parte prática, estudando a teórica pelo relatório da aula que recebia no final e pelos livros – e mesmo assim, ser surdo não o impediria de estudar, coisa Jeongguk admirava muito.

"Eu espero que tenhamos tempo para nos ver amanhã", escreveu, sincero, e observou um sorriso doce crescer nos lábios avermelhados do loiro.

"Eu também, Ggukie."

Taehyung deu um último gole em seu chocolate quente – agora já morno –, terminando com o mesmo, então soltou um suspiro, deixando a caneca na mesa. Ele ergueu-se da cadeira, pegando o casaco branco antes em seu colo e o colocando, cobrindo o moletom lilás.

É claro que a imagem toda fez Jeongguk suspirar, mesmo que sem perceber.

Se Yoongi e Jimin estivessem lhe observando, definitivamente estariam soltando risadinhas discretas com seus sorrisos bobos, suspiros e seu óbvio ciúme – que ainda negava ser ciúme.

Taehyung, aconchegando-se no próprio cachecol e colocando luvas de lã – afinal, com a chegada de Dezembro, trazendo o Inverno consigo, tinha de de agasalhar mais –, finalmente pegou a bolsa marrom e grande – que provavelmente carregava materiais da faculdade – e a apoiou no ombro, virando-se uma última vez para si e sorrindo, então acenando em despedida.

Ele andou, parou para falar algo em linguagem de sinais para Jimin – provavelmente um tchau e mais algo que o Jeon não fazia ideia do que poderia ser – e chegou até a porta, a abrindo. Deu uma olhada para si uma última vez, sorrindo largamente, e finalmente saiu, fazendo com que o suave sininho tilintasse enquanto a porta voltava a se fechar.

Jeongguk sorriu pequeno. Havia aprendido mais sobre Taehyung naquele dia.

Talvez não pudessem se ver no dia seguinte, lembrou ao apoiar o rosto em uma das mãos, suspirando. Bem, não era como se fosse algo tão drástico, era só um dia, não sabia por que estava fazendo tanta questão!

Mas Taehyung estaria com Hoseok.

Mordeu o lábio inferior, franzindo as sobrancelhas. Deus, por que aquele pensamento lhe abalava tanto? Pensar que Taehyung pudesse gostar romanticamente de Hoseok lhe deixava inquieto, nervoso, e não estava nem em posição de ficar daquele jeito! Afinal, nem se conheciam há tanto tempo assim!

Droga, queria levar Taehyung para comer um cheesecake consigo. Na verdade, apenas vê-lo, isso já bastava. Mas como faria aquilo?

De repente, uma ideia surgiu em sua cabeça, fazendo com que arregalasse levemente os olhos. Era uma ideia louca e que tinha muita chance de não dar certo, mas ainda assim fez com que sorrisse.

Talvez não precisasse esperar tanto para vê-lo, afinal.

 

***

 

Louco. Só poderia estar louco. Ao menos era o que pensava estando às onze e quarenta da noite estacionando na frente da casa de Taehyung.

Certo que era uma ideia maluca, afinal, não sabia como o outro reagiria, e qualquer um que o visse no momento definitivamente pensaria que era um ladrão pronto para invadir uma moradia, com seu casaco grande de preto por cima de sua blusa de gola alta, cobrindo a cabeça com o capuz e o rosto com a máscara. Felizmente o bairro repleto de velhinhos, que já não era movimentado, estava completamente deserto, como provavelmente todos os idosos de lá já estavam dormindo.

Já havia se certificado de que Jimin dormiria no apartamento de Yoongi – como havia virado um certo costume desde que o hyung de óculos descobrira que não precisava de remédios para dormir quando estava junto ao rosado –, então não teria problemas. Mas é claro, não estava com a chave de Jigglypuff e nem pretendia entrar assim, sem avisar nem nada.

Ainda assim, seu plano não era muito melhor que aquilo.

– Jeongguk, eu já disse que preciso falar com você pessoalmente! – a voz em seu ouvido, vinda de seu celular, o tirou de seu transe. – Onde você se enfiou, garoto?! Não importa quantas mensagens eu mande, você simplesmente me ignora! O que aconteceu com o respeito aos mais velhos?

– Sejin hyung, não tem como ligar outra hora? Já disse que estou ocupado! – falou ainda olhando o bangalô pela janela, respondendo seu manager sem realmente dar muita importância, como resultado o ouvindo suspirar cansado.

– Que outra hora, Jeon? Já estou tentando falar com você há um bom tempo e você não escuta! Com o que anda tão ocupado? Festas? – a voz do manager, Sejin, ecoou mais uma vez, porém ele logo se cortou, impaciente. – Quer saber? Eu não me importo, apenas, por favor, venha me encontrar, é importante. Estamos entendidos?

– Certo, certo – falou desinteressado, ainda com o olhar preso na pequena construção.

– Jeongguk? Estamos entendidos?

– Tchau, hyung.

– Jeong-!

E Jeongguk desligou o celular, o guardando em seu bolso. Não tinha tempo para aquilo agora.

Saindo do carro e pegando a sacola que trouxera consigo com dois pedaços de cheesecake dentro, sentiu o frio do início do Inverno atingi-lo na pequena parte exposta do rosto, estremecendo da cabeça aos pés e se perguntando pela milésima vez naquele dia se aquilo era mesmo uma boa ideia. E, como em todas as vezes, a resposta foi um belo de um não.

Pena que se perguntou se era uma boa ideia, não se realmente deveria fazer aquilo.

Travou o carro e atravessou a rua fazia, enfiando uma das mãos no bolso do casaco grosso e com a outra segurando a sacola, chegando em frente ao bangalô – ou seja o que fosse – e parando por um segundo apenas para olhá-lo.

Não foi até a porta da frente, nada disso, afinal, de nada adiantaria bater se o loiro não podia escutar. Na verdade, começou a rodear a pequena moradia de madeira, olhando para cima e procurando algo. Ah, há! Lá estava o que queria! Não fora muito difícil de achar, afinal, era a única janela do segundo andar, como o mesmo era constituído de apenas um quarto.

O quarto de Taehyung.

Ainda bem que Jeongguk era atlético – viciado em exercícios, do jeito que era –, por isso não foi difícil chegar ao parapeito da janela do segundo andar que, mesmo que não fosse muito alta, era sim relativamente longe do chão, e uma queda poderia ser um tanto feia. Usou uma pequena árvore de apoio – um pé de laranjas ou de limão que julgou ser de Jimin e que teve um galho quebrado pelo pé do Jeon, que provavelmente culparia o vento depois – e as telhas da casa, que eram acessíveis para si como o quarto de Taehyung era praticamente no telhado. E chegou em segurança ao parapeito da janela, mesmo que provavelmente os cheesecakes na sacola não tivessem ficado tão intactos.

Olhou ao redor, vendo que o parapeito era bem espaçoso, e pensou que Taehyung provavelmente gostava de ficar sentado ali, desenhando. Sorriu, e até pensaria mais no assunto – como no mesmo enrolado em um edredom enquanto desenhava e olhava as árvores agora secas nas ruas – se não estivesse com frio em plena noite de Inverno, mesmo que ainda em seus estágios iniciais.

Aproximou-se da janela, ajoelhando-se e olhando pela mesma, tendo segundos pensamentos sobre estar ali. Parando para pensar, agora que estava ali, na frente da janela do outro, aquilo parecia dez vezes mais estranho. Deus, esperava mesmo que Taehyung não o achasse um esquisitão assustador depois daquilo. Tentou deixar o pensamento de lado, balançando a cabeça e voltando a olhar pelo vidro.

Felizmente Taehyung não mantivera suas cortinas fechadas, dando a Jeongguk a visão de seu quarto escuro – como o abajur de estrelas estava desligado –, iluminado apenas pela luz da lua. E a iluminação precária era o suficiente para que o Jeon pudesse ter a visão da cama grande não muito longe, com um Taehyung adormecido e completamente empacotado de cobertores nela, felizmente com o rosto virado para a janela – mesmo que coberto até o nariz.

Agora era só chamar a atenção dele.

Bater no vidro não iria funcionar, é claro, e não queria invadir o quarto do outro e tornar aquilo ainda mais suspeito que já estava sendo. Então, feliz que o rosto do mesmo estava virado em sua direção, tirou seu celular do bolso traseiro e o desbloqueou, logo ligando a lanterna. Felizmente já havia pensado no que fazer previamente e arranjado outras ideias caso aquela não funcionasse, e felizmente parecia que não precisaria utilizá-las.

Apontou a lanterna para o vidro, mais especificamente para Taehyung, e então começou a desligá-la e ligá-la rapidamente, vendo se com a iluminação o outro acordava. E não demorou muito para ver as sobrancelhas grossas franzirem e os olhos já fechado apertarem, para então finalmente abrirem devagar, piscando confuso com a luz e erguendo o torso na cama, desnorteado.

Jeongguk sorriu e desligou a lanterna, guardando o celular mais uma vez no bolso e dando dois toques pequenos no vidro. E então observou Taehyung apoiar uma mão na cama, apoiando o torso, e com a outra esfregar o rosto sonolento, tentando focar no que estava acontecendo. E, ao olhar por alguns segundos fixamente para a figura em sua janela, confuso, arregalou os olhos, amedrontado.

Ah é, ainda estava usando máscara e capuz.

Arregalou os olhos e rapidamente esticou a mão livre para frente, mostrando as palmas em um gesto que tentasse acalmar Taehyung, e então, com pressa, tirou o capuz e desceu a máscara, voltando a ligar a lanterna do celular e a apontando para si mesmo, mostrando que era ele ali e não um ladrão.

Foi interessante ver a mudança de expressões no rosto de Taehyung. Passou de susto para alívio, de alívio para dúvida e de dúvida para incredulidade. Ele arregalou mais uma vez os olhos riscados e, mesmo no escuro, pôde vê-lo piscando algumas vezes, provavelmente repleto de dúvidas.

Pensou que se ele pudesse falar, estaria dizendo "Ggukie?!".

Observou Taehyung, finalmente se dando conta de que estava mesmo ali, afastar o edredom das pernas e correr apressado até a janela, debruçando-se sobre a escrivaninha e alcançando a tranca do vidro, finalmente a abrindo e tendo a brisa fria bagunçando seus cabelos loiros já desarrumados.

Não precisaram de palavras, afinal, os olhares diziam tudo. O de Taehyung expressava completa confusão e incredulidade, já o de Jeongguk praticamente dizia, junto a um sorriso sem-jeito, um "posso entrar?". E logo o Kim piscou algumas vezes, afastando-se da janela desajeitadamente e gesticulando com as mãos para que fosse em frente.

Agradeceu com um sorriso pequeno, esgueirando-se para dentro do quarto e usando a escrivaninha como apoio – com cuidado para não pisar em nenhum papel de Taehyung e naquele mesmo estojo bonito dado por Hoseok, que automaticamente fez com que contivesse uma careta –, então ajeitou as próprias vestes, mesmo que essas já estivessem arrumadas, enquanto observava Taehyung mais uma vez debruçar-se sobre o móvel e fechar as janelas, fazendo com que o frio cessasse e ele fosse atingido por um suave calor confortável de um provável aquecedor. Olhou ao redor enquanto o loiro estava ocupado, observando o quarto iluminado pela luz que vinha da lua do lado de fora, o mesmo ambiente confortável do outro dia.

Respirou fundo, sorrindo, então virando-se para o outro, que havia conseguido trancar a janela e agora virava-se para si.

Por alguns instantes, apenas se encararam, inevitavelmente silenciosos. E logo Taehyung pareceu lembrar que, para falar consigo, precisaria de um caderno e iluminação. Então Jeongguk o observou andar rapidamente até a cômoda do lado da cama e ligar seu abajur, fazendo com que finalmente pudesse ver as sombras das estrelas pelo quarto, e alcançou seu sketchbook e correu de volta para si.

Taehyung abriu o caderno e alcançou um lápis simples que estava ao lado do estojo bonito dado por Hoseok – coisa que achou um tanto confuso, como via que dentro do mesmo haviam lápis melhores, mas ainda assim o loiro pegou o mais simples que costumava usar para desenhar no Alice Table –, então começou a escrever.

Jeongguk aproveitou o momento em que Taehyung tentava começar a escrever algo e parava, levando a pontinha do lápis até os lábios, pensativo – tentando formular alguma pergunta, supôs –, para analisá-lo. Ele usava uma blusa branca simples, nem muito larga nem justa, e uma calça moletom xadrez vermelha que chegava até mais ou menos os tornozelos como pijamas. Seus cabelos loiros estavam uma bagunça e seus olhos levemente inchados pelo sono recente, a iluminação amarelada do abajur de estrelas causava algumas sombras em seu rosto e em sua pele amorenada e o deixavam deslumbrante.

Deus, até depois de acordar Taehyung era bonito! Como?!

Foi tirado de seus pensamentos quando Taehyug suspirou, desistindo de formular uma pergunta, então escreveu algo rapidamente e lhe estendeu o sketchbook.

"Ggukie?", leu, sorrindo ao ver que Taehyung sequer sabia o que escrever.

Deixou a sacola em cima da escrivaninha e logo começou a deslizar o lápis pelo papel do caderno.

"Desculpe por vir sem avisar", escreveu, sem-jeito. "E por ter te acordado..."

"Não, não se preocupe com isso! Eu apenas fui dormir por estar com tédio!", foi o que Taehyung escreveu, lhe assegurando – coisa que arrancou um sorriso seu. "Me surpreendeu, é claro, mas fico feliz que seja você!"

"Ao menos é melhor que um ladrão", escreveu sorrindo, arrancando uma risada silenciosa de Taehyung.

"Bem melhor. Mas você me deixou curioso, Ggukie. Por que me presenteou com sua ilustre presença no meio da noite, entrando pela minha janela?"

Riu com aquilo, observando o sorriso divertido que crescera nos lábios de Taehyung. Então pegou o lápis e passou a se explicar, mesmo que um tanto tímido de admitir aquilo para o outro. 

"Como você disse que amanhã estaria ocupado, pensei em fazer uma surpresa", escreveu um tanto tímido. "E bem, se você não pode ir até o cheesecake, trouxe o cheesecake até você."

Deu o caderno para Taehyung e quando ele terminou de ler e ergueu os olhos para si, pegou a sacola e a indicou com um pequeno sorriso. Pôde jurar ver os olhos castanhos de Taehyung brilharem junto ao sorriso largo que ele abriu em seus lábios.

"Realmente, você não se cansa de me surpreender, Jeon Jeongguk!"

E Jeongguk sorriu. Talvez aquela fosse a primeira vez em muito tempo que ouvia alguém se referir a si como Jeon Jeongguk e não se lembrava de seu eu artístico. Apenas o simples Jeon Jeongguk.

"É minha especialidade", escreveu, e quando o loiro terminou de ler e olhou para si, soltou-lhe uma piscadela brincalhona, arrancando uma risada divertida dele.

"Bem, eu já acordei mesmo, então nada melhor que um filme para acompanhar o cheesecake, certo? Legendado, claro, ou eu não vou entender nada."

Sorriu ao ler as palavras de Taehyung. Ficara com medo de oferecer a ele para verem algum filme, afinal, era completamente novo naquilo, não sabia se Taehyung gostava de assistir filmes não podendo ouvi-los. Ficou feliz pelo mesmo gostar, sim, de vê-los, e mais feliz ainda por ele ter feito o pedido.

"Acredite, se for um filme americano, nós dois vamos depender de legendas para entender alguma coisa", brincou, afinal, era mesmo uma negação no inglês.

Taehyung sorriu, divertindo-se, e não precisou escrever uma resposta. Ele colocou o sketchbook debaixo de um dos braços e cobriu sua destra com a própria – como a canhota apressou-se em pegar a sacola –, assim como no dia em que visitara o pequeno bangalô pela primeira vez, então lhe puxou calmamente com ele escada abaixo.

O toque aqueceu Jeongguk de uma maneira confortável, e não foi considerando que estava no frio de pleno início de Inverno do lado de fora agora há pouco.

Era estranho porque estava escuro e, ao mesmo tempo, não estava. Certo, o andar de baixo estava escuro tirando pela iluminação da lua – e talvez dos postes de luz da rua – vinda da janela. Mas, como o andar de cima, quarto de Taehyung, não tinha realmente uma divisão de paredes, podiam ser vistas as sombras em formato de estrela no teto da casa, iluminando vagamente seu interior. Jeongguk gostou, dava ao ambiente um aspecto ainda mais aconchegante do que já tinha.

Taehyung soltou sua mão quando chegaram na sala de estar, aproximando-se de um dos dois sofás verde-pastel e indicando com um sorriso – e apontando, claro – que sentasse no mesmo. E assim fez, deixando-se descansar em um dos espaços do móvel não muito grande, porém confortável, dando um suspiro relaxado e retirando o próprio casaco enquanto Taehyung escrevia algo no sketchbook, ajoelhado no chão e usando a mesinha de centro de apoio.

"Tem algum pedido especial de filme? Posso vasculhar nas gavetas e ver se acho!"

Jeongguk até estranharia o mesmo ir procurar DVDs em vez de simplesmente usar o Netflix, mas sequer estava surpreso. E outra, talvez para Jimin e Taehyung, pagar o aplicativo todo mês pudesse aumentar as despesas, então preferia daquele jeito, na verdade.

"Na verdade, posso escolher?", escreveu ao deixar o próprio casaco de lado, sorrindo travesso para si mesmo ao ter uma ideia. "Quero fazer uma surpresa!"

Taehyung lhe olhou com uma das sobrancelhas erguidas e estreitando os olhos, claramente suspeitando de si – o que arrancou um sorriso seu. E então logo o loiro suspirou e voltou a curvar-se sobre o caderno, escrevendo.

"Estão no armário debaixo da TV."

E Jeongguk sorriu largamente ao ler aquilo, levantando-se animado e correndo até o armário mencionado, ajoelhando-se na frente do mesmo e o abrindo, começando a vasculhar pelos filmes ali de dentro enquanto o loiro ia até a cozinha, provavelmente para pegar dois garfos para que pudessem comer o cheesecake.

Sorriu ao constatar que havia bem o que procurava.

Terror.

Se tudo desse certo como planejava, terminaria o filme bem juntinho de Taehyung naquele sofá verde-pistache.

Não que aquilo significasse algo a mais, é claro, mas era um pensamento bastante tentador. Resolveu não pensar muito no assunto.

Ergueu-se, fechando os armários, e virou-se para o Kim – que aproximava-se do sofá segurando os dois garfos, como previu – com um sorriso inocente que gritava culpado, escondendo o filme atrás das costas. E no mesmo instante o loiro olhou para si com aquele mesmo olhar cheio de suspeitas, cruzando os braços quase como se dissesse "o que você está aprontando, Ggukie?".

Tratou de ir até o antigo DVD player que ficava ao lado da TV e agarrou o controle remoto, ligando a televisão e em seguida colocando o filme dentro do aparelho. Correu até Taehyung, puxando o pulso dele ao sentar no sofá, o trazendo consigo, e então indicou a televisão com a cabeça para que ele olhasse o menu principal que já aparecia na tela.

Observou atentamente as reações de Taehyung com seu sorriso travesso, vendo o exato momento que ele ergueu as sobrancelhas e olhou para si com um sorriso de canto, logo trazendo o sketchbook da mesinha para o colo e passando a escrever no mesmo.

"Terror? Sério, Ggukie?"

"Sério!", escreveu ao ter o caderno passado para o seu colo, sorrindo satisfeito. O ato arrancou uma risada curta de Taehyung.

"Você que sabe."

Com o controle habilitou as legendas no filme e logo deu play no mesmo, curvando-se no sofá e esticando-se para alcançar a sacola com o cheesecake. Taehyung sorriu animado ao lhe ver voltar a aconchegar-se no sofá segurando o doce, então ajeitou a coluna e deixou o sketchbook de lado.

– Voilà – foi o que disse ao tirar o pote da sacola e o abrir, mesmo que Taehyung não pudesse de fato lhe ouvir.

Eles estavam um pouco esfarelados e haviam caído com sua movimentação toda – depois de todo aquele sobe e desce, não poderia estar intacto –, porém aquilo não fez o sorriso do Kim diminuir. E logo ele ergueu os dois garfos que trouxera, estendendo um para si e esperando para que tirassem um pedaço do mesmo juntos.

E não pôde deixar de suspirar ao ver o sorriso satisfeito que ele soltou ao provar do doce. Taehyung não podia falar nada, mas Jeongguk entendeu perfeitamente que ele havia gostado.

Virou-se novamente para frente e passou a prestar atenção no filme que já se dava início, mesmo que estivesse mais interessado nas expressões que o mais velho viria a mostrar. E logo ambos assistiam ao filme enquanto tiravam pedaços do doce, mais uma vez não precisando de palavras.

O filme começava a progredir e logo a sacola com o pote do cheesecake – agora vazio – repousava na mesinha de centro. Porém, enquanto o filme seguia seu curso e Jeongguk mantinha o olhar na tela, começou a ficar um tanto nervoso.

Quanto tempo fazia que não assistia filmes de terror? Bem, talvez tivesse algum tempo mesmo, por isso estava começando a ficar tenso, nada demais.

Olhou para o lado de canto, procurando ver se a expressão do outro havia mudado. Continuava calma e serena, observando o filme sem qualquer nervosismo. Não era aquilo que havia previsto, e talvez a sua intenção fosse, de fato, oferecer para um Taehyung amedrontado sua companhia, assim poderiam ficar juntinhos.

Não que visasse algo a mais, claro, mas deveria ser um pensamento normal querer tê-lo perto de si, certo? Bem, quem não ia querer?

Mas seu plano parecia não ter dado certo, como o loiro se mostrava inabalável. Talvez Taehyung visse frequentemente filmes de terror, ao contrário de si, que provavelmente apenas estava tenso por não ver um faz tempo. É, isso.

Encolheu-se um pouco no sofá quando uma cena assustadora do filme começou, tensionando os músculos sem sequer perceber. Era só por não ter assistido um filme de terror recentemente, só isso.

Claro que engoliu em seco ao lembrar que o exato motivo para não assistir um filme assustador há tempos era o fato de morrer de medo deles.

– Ah! – exclamou assustado quando o primeiro susto do filme aconteceu, pulando no sofá.

Taehyung não ouvira sua voz ridiculamente fina ao quase gritar, mas definitivamente vira seu pulo e sua expressão assustada, e agora mantinha um sorriso largo em seu rosto.

"Com medo, Ggukie?", foi o que leu quando o loiro passou o sketchbook para o seu colo.

Um biquinho se formou em seus lábios.

"Eu não estou com medo, só levei um sustinho, apenas", escreveu no caderno em seu colo, sendo observado pelo Kim que podia ler de onde estava, porém, quando estava prestes a terminar sua frase, mais um susto aconteceu naquele filme, fazendo com que borrasse a própria letra em um pulo assustado.

Claro que arrancou uma risada silenciosa de Taehyung, que fechou os olhos e jogou a cabeça para trás, divertindo-se.

"Certo, talvez eu esteja com um pouco de medo", admitiu nada satisfeito no papel, passando o sketchbook para o lado.

"Se for pesado demais para você nós podemos mudar de filme, Ggukie", foi o que Taehyung escreveu, passando o caderno para si.

Pesado demais para si? Franziu as sobrancelhas e subiu o olhar para o loiro, desconfiado. Poderia até parecer uma frase normal, mas ao olhar para o sorrisinho de Taehyung, soube na mesma hora que as palavras não eram tão inocentes assim.

Ah, ele estava lhe provocando!

"Nada disso, senhor, eu consigo muito bem ver esse filme, obrigada!", escreveu, orgulhoso, e devolveu o caderno para o Kim, que sorriu largamente.

"Você que sabe, Ggukie."

Não bastou nem um minuto para que outro susto ocorresse e Jeongguk pulasse em seu lugar, soltando mais um gritinho fino demais para o seu gosto que felizmente o outro não poderia ouvir. E é claro que Taehyung jogou a cabeça para trás mais uma vez ao rir o que seria uma risada alta, caso fosse possível.

"Não é justo, hyung, para mim o filme tem som, isso o torna dez vezes mais assustador!", escreveu com um biquinho e arrancou outra risada silenciosa de Taehyung ao passar o caderno para o colo dele.

"Ah, é?", Taehyung escreveu com seu sorrisinho aparentemente inocente, porém, para Jeongguk, extremamente provocativo. Ele estava sendo sarcástico!

"Com certeza! Se estivesse sem som, eu não estaria nem com um pingo de medo! Se quer que eu prove, por que não coloca no mudo?", escreveu com um sorrisinho convencido. Certo que Taehyung não havia pedido para que provasse isso a ele nem nada, mas oras, era orgulhoso!

O Kim sorriu para si, erguendo uma das sobrancelhas grossas. Então deu ombros, quase como se dissesse "você que sabe", e esticou-se para alcançar o controle da televisão, apertando no mudo. Assim Jeongguk voltou a olhar para a tela com um sorrisinho orgulhoso, vendo as imagens se passarem, porém agora sem qualquer som.

Queria ver ficar com medo agora!

O filme continuou a se passar, dessa vez mudo, porém Jeongguk se viu pouco a pouco tensionando os ombros, engolindo em seco. Olhou de canto para o loiro, levemente nervoso, e viu que ele continuava inabalável, olhando para o filme com atenção, então logo voltou seus olhos levemente arregalados para a televisão, assustado.

Parecia que agora que o filme estava mudo, ele não dava apenas sustos, mas estava dando medo. Jeongguk não sabia o que esperar, como não havia a música tensa para prever qualquer tipo de susto ou momento assustador, e aquilo o deixava completamente inquieto.

"Hyung", escreveu no sketchbook que repousava no colo do loiro, chamando a atenção do mesmo.

"Sim, Ggukie? Não me diga que está tentando tirar a própria atenção do filme por estar com medo?", ele escreveu com um sorrisinho, quase provocando um engasgo seu.

"Que ultraje!", escreveu, fingindo falsa indignação.

Embora fosse exatamente aquilo que estava fazendo.

"Eu apenas queria perguntar...", continuou a escrever, tentando conter o sorriso ao ver Taehyung jogar a cabeça para trás em uma risada por conta de sua reação. "Bem, por que estamos usando esse lápis? Digo, Hoseok não lhe deu um estojo novinho? Porém continua usando esse quase acabado..."

Aquela era sim uma dúvida real. Não queria ser ele a trazer o nome de Hoseok à tona e estragar – ao menos em sua visão – o momento, mas teve de perguntar. Afinal, cá estavam usando um simples lápis, pequeno de tão apontado que fora e um tanto mordido na ponta.

"Oh, isso...", Taehyung começou a escrever, mordendo o lábio inferior e parecendo pensar. "Acho que não estou acostumado, sabe? Materiais chiques e caros, tenho medo de quebrar, ou coisa do tipo. Estou acostumado com meu bom e velho companheiro lápis-mordido."

Taehyung parecia um tanto incerto de sua resposta, Jeongguk notou. Mas estava ocupado demais invejando mais uma vez Hoseok para dar muita importância.

É claro. Era um presente de Hoseok, era óbvio que Taehyung ia tratá-lo com carinho e não usá-lo em coisas triviais – como, por exemplo, conversar consigo.

Tentou esconder a careta que fez ao pensar naquilo. Droga, Hoseok mais uma vez um passo à frente.

"Mas não se preocupe com isso, Ggukie, eu gosto do meu lápis", Taehyung continuou a escrever. "Agora volte a prestar atenção ao filme! Não pense que acreditei na sua desculpa esfarrapada, ouviu mocinho?"

Sorriu um pouco, tentando deixar Hoseok de lado. Ao menos por agora. Aquela era sua noite com Taehyung, não iria estragá-la tendo pensamentos paranoicos e pessimistas.

"Alto e claro, hyung", brincou, voltando a olhar pra o filme.

E de volta à sessão de tortura, pensou.

Talvez tivesse mesmo se arrependido da decisão de deixar a televisão no mudo, sentindo calafrios correrem de sua cabeça até os dedos dos pés quando o filme parecia estar em uma cena tensa, mas não fazia ideia do que esperar, como não havia a música para lhe dar uma luz.

E Taehyung não estava com medo! Não tinha qualquer desculpa para dar, agora que estava ouvindo e vendo exatamente do modo que o loiro estava. Na verdade, o medo apenas aumentou!

Deus, Taehyung sempre tinha que ver filmes daquele jeito? Como ele não tinha medo?!

Foi interrompido de seus pensamentos por mais um susto do filme, este que o pegou de jeito – tanto que soltou um grito vergonhosamente fino. Com o monstro – espírito, assombração ou sabe-se lá o que, o que quer que fosse não era de Deus – aparecendo na tela e perseguindo a mocinha, deu um pulo em seu lugar e inconscientemente aproximou-se de Taehyung e encostando ambos os ombros. O loiro não pareceu se importar, arfando em uma risada e jogando a cabeça para trás.

Talvez sua estratégia inicial não tivesse funcionado perfeitamente, mas bem, acabara juntinho do outro de qualquer forma, mesmo que não intencionalmente. E talvez todo o seu medo do filme desaparecera quando simplesmente não conseguiu voltar a focar sua atenção no mesmo, entorpecido pela fragrância suave de Taehyung que lhe atingiu em cheio.

Ah, sim, aquilo era muito melhor do que aquele filme!

Sentiu-se estranhamente relaxado. A presença de Taehyung e o toque sutil de seus ombros juntos o relaxava. Fechou os olhos e aspirou suavemente, esperando que o loiro entretido no filme não notasse.

Deus, que homem cheiroso.

Agora que estava relaxado e com os batimentos calmos, notou o quão sonolento estava. Talvez antes, com todos aqueles sustos e tensão do filme, não tivesse percebido, mas agora ficava claro o quanto seus olhos pesavam. Não era para menos, como estava acordando cedo praticamente todos os dias para encontrar-se na Alice Table com o Kim – não que estivesse reclamando.

Tentou, porém não conseguiu conter seu bocejo.

"Com sono?", observou Taehyung escrever no caderno em seu colo, o olhando de canto.

Como resposta apenas balançou a cabeça negativamente, apenas arrancando uma risadinha nasal do loiro com o ato.

"Se você diz", foi simplesmente o que ele escreveu, voltando a prestar atenção no filme.

Não estava enganando ninguém. E se pensava que estava, botou tudo a perder quando bocejou, cansado, e deixou a cabeça cair para o lado, no ombro de Taehyung. Talvez não tivesse coragem para aquilo normalmente, porém estava com sono, então não pensava bem nas consequências de suas decisões.

"Pensei que não estivesse cansado", o loiro escreveu, divertido, no caderno em seu colo com o súbito movimento de Jeongguk, não precisando mover o caderno para que ele conseguisse ler dali mesmo, apenas baixando os olhos.

Jeongguk riu fracamente, pegando o lápis e estendendo preguiçosamente a mão até o caderno, não se preocupando em tirá-lo do colo do outro.

"Você não está?"

"Desde que um certo alguém me acordou, não, não estou", leu o que o outro escreveu, sorrindo ao constatar que ele estava com seu sorriso brincalhão. E logo ele continuou. "Mas sei que daqui a pouco vou ficar se os sustos desse filme não melhorarem."

"Ah, eu prefiro dormir mesmo, assim me poupo de acabar soltando mais gritinhos finos", escreveu, sentindo o ombro do outro se mover à medida que ele ria silenciosamente. "E desculpe por isso."

"Por ter me acordado?"

"Não, disso eu não me arrependo", o Kim mais uma vez riu com sua frase, arrancando um sorrisinho seu. "Por ter deitado em seu ombro. Não o faria, mas o sono foi mais forte."

"Não tem problema nenhum, Ggukie. Mas você não está desconfortável? Não acho que meu ombro seja o lugar mais confortável para dormir, sabe?"

Jeongguk sorriu.

"De jeito nenhum, você é confortável, hyung", e outra, daquele jeito podia sentir a fragrância gostosa dele sem problema algum, mas ainda não estava com sono o suficiente para revelar aquilo.

"Espere, eu tive uma ideia melhor."

Franziu as sobrancelhas, confuso, quando o loiro fechou o sketchbook e o tirou de seu colo, o deixando de lado. Então Jeongguk se afastou levemente do ombro do mesmo, o olhando com curiosidade enquanto ele se ajeitava e virava por fim o rosto para si, sorrindo e logo dando dois tapinhas fracos no próprio colo.

Jeongguk arregalou os olhos ao entender. Taehyung queria que deitasse a cabeça no colo dele.

Ergueu ligeiramente as sobrancelhas, quase como se dissesse um alto e claro "posso?!", e viu o loiro rir, mostrando sua arcada dentária bonita naquele formato retangular. E então ele assentiu com a cabeça, lhe dando permissão.

Jeongguk agradeceu que a única luz que os iluminava era a da TV, na qual se passava o filme de terror mudo já negligenciado por si, assim Taehyung não veria o tom rosado de suas bochechas. Porém não perderia uma chance daquelas nem em um milhão de anos. Então, timidamente, ajeitou-se no sofá e começou a deitar-se lentamente, engolindo em seco e finalmente sentindo a cabeça encostar nas coxas do outro.

Seu corpo estava tenso, duro, e aquilo arrancou uma risada de Taehyung. Olhou para cima, vendo o outro dirigir um sorriso divertido para si, quase como se dissesse um "relaxe!". E, engolindo em seco, assim fez, soltando a respiração que nem havia percebido estar presa em sua garganta.

Deixou seu corpo relaxar e apreciar a posição, sentindo-se suspirar em alívio, feliz. E, sorrindo fracamente, sentiu a canhota de Taehyung alcançar seus fios de cabelo lentamente, começando a lhe fazer um cafuné.

Ah, sim, agora Jeongguk estava no céu.

A mão de Taehyung era grande, até maior que a sua, mas notou enquanto o carinho se intensificava e o outro massageava suavemente seu couro cabeludo que ele era ótimo no cafuné. Já havia recebido outros antes, mesmo que não muitos e em ocasiões que não se lembrava – ou simplesmente não se dava o trabalho –, mas definitivamente aquele era de longe o melhor. Talvez por estar sendo feito por Taehyung.

Bem, daquele ali definitivamente não esqueceria.

Soltou um baixo suspiro relaxado e se deixou finalmente fechar os olhos, afinal, não conseguiria mantê-los abertos por muito tempo com o sono se apossando de si. Talvez algum dia fizesse o mesmo com Taehyung? Bem, gostaria de acariciar os cabelos loiros dele e tê-lo deitado com a cabeça em seu colo. Gostaria mesmo. Seus pensamentos já estavam começando a rodar sem filtros por sua mente com o sono que o pegava aos poucos, mas não é como se não gostasse dos mesmos.

Deixou seus problemas de lado, deixou seu manager de lado, deixou Hoseok de lado.

Focou apenas em Taehyung.

Então, apoiando a cabeça no colo do loiro e tendo o mesmo acariciando seus cabelos, finalmente adormeceu.

 

***

 

Jeongguk demorou um tempo para lembrar de onde estava ao abrir os olhos.

A claridade não lhe cegava, era até agradável do jeito que estava, vindo da janela parcialmente coberta pelas cortinas creme da casa de Taehyung.

Casa de Taehyung.

Sorriu levemente ao lembrar-se da noite passada. Havia acabado adormecendo com a cabeça no colo dele! Não era à toa que havia dormido maravilhosamente bem!

Espera, por pensar no mesmo, onde Taehyung estava?

Ergueu o torso, notando estar coberto por um edredom que o Kim provavelmente havia deixado em si – claramente dele, pela fragrância suave e gostosa que fez Jeongguk presumir logo que foi mais um dos motivos de ter dormido tão bem –, então olhou em volta, ainda um tanto desnorteado pelo sono recente. Não encontrou o loiro, porém notou algo diferente na mesinha de centro.

Era uma caneca com algo dentro e, logo embaixo da mesma, um papel. Franziu as sobrancelhas e sentou-se preguiçosamente no sofá, esticando o braço e pegando primeiro o que parecia ser uma carta escrita na característica letra desengonçada de Taehyung.

 

"Ggukie, eu tive que ir para a faculdade um pouco mais cedo hoje, mas não irei demorar  só tenho a primeira aula! Caso você acorde antes que eu chegue, deixei para você uma caneca de chocolate quente caso esteja com fome (eu até ia fazer café, mas nunca sei se está bom ou não, como não gosto)! Talvez ele tenha ficado doce demais, não sou o melhor na cozinha, e talvez sequer esteja mais quente, como não sei quando você acordará, mas realmente espero que goste!

 Tae."

 

Sorriu francamente com a carta e tratou logo de pegar a caneca com o chocolate quente e dar um gole da mesma, feliz. De fato, estava mais doce do que deveria estar, e talvez não fosse mais chocolate quente, mas sim chocolate frio. Bem, não se importava, estava gostoso. E Taehyung fizera para si.

Sorriu.

Talvez devesse ir ao Alice Table e comprar um pedaço de bolo de morango, o favorito de Taehyung, apenas para surpreendê-lo. Ele havia feito aquele chocolate quente para si, certo? Então que mal havia em retribuir?

Deixou o edredom de lado e levantou-se em um pulo, animado, enfiando-se dentro do casaco e penteando os cabelos desarrumados com a mão, escrevendo rapidamente um bilhete avisando que sairia e logo estaria de volta, apenas para o caso do Kim chegar antes que voltasse e não lhe achasse ali. Aproximou-se da porta e viu que Taehyung havia deixado ali a chave com chaveiro de Jigglypuff para si, então sorriu e a agarrou, destrancando a porta e saindo pela mesma, feliz, enquanto colocava a máscara negra e começava a caminhar contente em direção ao café.

Não era uma caminhada longa, Taehyung sempre fazia aquele caminho pela manhã, então também não demorou muito para que avistasse a construção aconchegante do Alice Table. Aproximou-se, feliz, e logo abriu a porta de madeira, ouvindo aquele mesmo característico sininho bem em cima dela, indicando sua entrada.

Claro que seu sorriso também não demorou a morrer ao notar Hoseok sentado na mesma mesa em que costumava sentar diariamente com Taehyung.

Havia esquecido dele.

Tentou ser discreto, jurou que tentou, procurando Yoongi com os olhos para enfiar-se na mesa dele – o que não funcionou, dado que ele sequer estava ali, como não era o turno de Jimin. Porém antes mesmo que pudesse tentar esconder-se em algum lugar, o ruivo lhe avistou e abriu um largo sorriso em formato se coração, contente.

– Jeongguk-ssi! – ele chamou, acenando com o braço levantado. No mesmo segundo Jeongguk puxou o capuz para se cobrir mais e olhou discretamente para os lados, receoso.

Deus, ele não sabia que caso lhe chamasse daquela maneira, poderia ser reconhecido?!

Felizmente, nenhum dos fregueses pareceu suspeitar de algo, talvez a única coisa que os chamou atenção tenha sido o ruivo vibrante usando roupas coloridas demais ao ver do Jeon, acenando com o braço para o alto e sorrindo em sua direção. Decidiu ir até ele antes que o mesmo resolvesse chamar seu nome mais uma vez e acabasse delatando sua presença.

Aproximou-se do ruivo com as mãos nos bolsos e a cabeça abaixada, vendo que ele sorriu ainda mais largamente para si, aquele sorriso de coração com duas pequenas covinhas, e logo apontou para a cadeira em frente a si mesmo.

– Sente-se comigo, Jeongguk-ssi!

Contrariado e sem qualquer vontade, Jeongguk puxou a cadeira e afundou-se nela, ajeitando a máscara em seu rosto apenas para não correr o risco de ser reconhecido – e do ruivo ver seu biquinho nada contente.

– Nossa, eu estou sentado na mesma mesa que Jeon Jeongguk... isso ainda é surreal! – o ruivo falou baixo, talvez até mais para si mesmo que para o Jeon, e riu consigo próprio, animado.

Certo, Jeongguk sentiu um pouquinho de peso na consciência. Afinal, os motivos que tinha para desgostar do Jung eram frutos de sua própria infantilidade.

– Você quer alguma coisa? – Hoseok voltou-se mais uma  vez para si, erguendo as sobrancelhas enquanto sorria. – Digo, deve ter vindo aqui pegar algo. Eu posso pedir, se quiser, para você não ser reconhecido e tal.

Droga, sua consciência estava ainda mais pesada! Hoseok era legal, legal até demais, e talvez exatamente por isso desgostasse tanto dele.

Porque não tinha chance alguma contra ele!

– Pode pedir um pedaço de bolo de morango para viagem, por favor? – pediu em uma voz baixa, limitando-se a falar apenas o que seu orgulho permitia. Hoseok não pareceu se abalar, sorrindo largamente com a resposta e logo chamando um dos poucos garçons dali contratados por Jimin.

– Um pedaço de bolo de morango e dois cappuccinos, por favor! – Hoseok pediu, arrancando uma careta confusa sua. Porém, antes que pudesse perguntar qualquer coisa sobre a bebida em dobro, Hoseok sorriu para si e continuou. – É por minha conta. É o mínimo que posso fazer por estar sendo um amigo tão bom para o meu TaeTae.

Meu TaeTae.

Jeongguk mordeu o lábio inferior por detrás da máscara, franzindo as sobrancelhas e olhando direto para a mesa.

É, claro, amigo. Para o "TaeTae" de Hoseok.

– Obrigado – falou, sem ânimo até para recusar.

Droga, não deveria estar insatisfeito! Mas por que aquilo insistia em lhe incomodar tanto?!

Os cappuccinos chegaram primeiro, como o bolo ainda seria cortado e embalado para viagem, e logo se viu pegando a xícara em sua frente e abaixando a própria máscara para dar um gole. Não que fizesse alguma diferença tomar dele, pois, além de não ter sido feito por Jimin – o que significava que não estava tão bom assim, como o rosado era mesmo especialista em fazê-lo –, o gosto doce do chocolate quente ainda estava em sua boca, fazendo com que não conseguisse sentir o sabor da bebida.

– Ah, eu adoro cappuccino! – Hoseok divagou, contente, enquanto tomava um gole de sua própria bebida, não sendo respondido por Jeongguk, que encontrava-se perdido em seus próprios pensamentos.

Provando aquele cappuccino oferecido por Hoseok após tomar o chocolate quente excessivamente doce feito por Taehyung, Jeongguk simplesmente achou-o sem gosto. Insípido. Imaginou que talvez sua rotina antes fosse como aquele cappuccino. Costumava gostar e achar que era a melhor coisa do mundo, mas, após provar do doce que era Taehyung, tentar viver como antes não tinha mais tanta graça.

Era insípido.

E sabia que poderia voltar a ser insípido a qualquer momento, afinal, não tinha chances contra Hoseok.

Não era inseguro ou algo do tipo, costumava ser bastante confiante até, mas sabia que, comparado a alguém que tinha história com Taehyung, que o conhecia desde sempre e provavelmente já tinha o conquistado, não tinha qualquer chance.

Mesmo que, de fato, ainda não entendesse muito bem o porquê de fazer tanta questão daquilo. Entendia até agora que gostava até demais da companhia de Taehyung, que sentia-se bem com ele, e era aquilo que importava.

Mas teria aquilo privado de si.

Enquanto esperavam o bolo, um silêncio incômodo e constrangedor se fez. Bem, ao menos da sua parte, mas não queria conversa com Hoseok. Olhava para todos os cantos menos para os olhos do mais velho, fitando fixamente a mesa, a xícara pela metade do Jung, as luzinhas espalhadas pelas paredes do café, tudo.

E Hoseok, que não parara de encarar Jeongguk por um segundo, havia percebido aquilo.

A sua atenção foi tomada por um breve suspiro do Jung, então finalmente tomou coragem e olhou para ele. Surpreendeu-se ao não encontrar o sorriso alegre de normalmente, porém um mais calmo, talvez um tanto melancólico.

– Você não gosta de mim, não é, Jeongguk-ssi? – Hoseok falou finalmente, ainda com seu sorriso calmo, e Jeongguk quase, quase se engasgou, arregalando os olhos.

– O que?! – perguntou incrédulo, quase gaguejando. Era tão óbvio assim? – Do que está faland-

Porém foi cortado por um simples e calmo gesto de mão do outro, que indicou que parasse.

– Não precisa mentir, Jeongguk-ssi – Hoseok disse, sorrindo de forma compreensiva. – Não precisa se preocupar, eu não posso fazer todos gostarem de mim, de qualquer forma.

Ah, agora sim Jeongguk estava se sentindo mal. Hoseok não tinha feito nada de errado, e pior, ainda era um fã seu, apreciava seu trabalho! Sempre se mostrou uma ótima pessoa, mas por conta dos seus ciúmes bobos – que nem estava em posição de ter –, agora estava triste, provavelmente pensando no motivo do ídolo não gostar de si!

Deus, era mesmo um idiota!

– Não, eu... – Jeongguk disse, interrompendo-se apenas para suspirar e apoiar a testa nas mãos. – Não é culpa sua, Hoseok-ssi, de jeito nenhum.

Hoseok franziu as sobrancelhas, aparentemente confuso.

– Não?

– Não... – admitiu, suspirando, então afundou na própria cadeira mais uma vez, fechando os olhos para não ter que encarar o Jung em toda sua vergonha. – A culpa é minha. Apenas minha.

Dessa vez o ruivo arregalou os olhos, tão confuso quanto antes, talvez até mais.

– Sua culpa?

– É, eu sou um egoísta – falou desgostoso, sentindo o gosto doce do chocolate quente ser substituído pelo insípido do cappuccino gradativamente em sua boca. Não era uma sensação boa. – Eu acho que fiquei com ciúmes, sabe? Não queria admitir, mas ver Taehyung tão próximo de você, tão íntimo, me incomodou demais... Deus, eu sou tão infantil que criei essa rivalidade com você em minha cabeça, e o pior é que eu sempre perco!

Hoseok arregalou os olhos, piscando surpreso.

– Espera... – ele falou, incrédulo, tentando assimilar tudo. – Você ficou com ciúmes? Do TaeTae?

Jeongguk afundou o rosto nas próprias mãos, envergonhado.

– Eu sei, é patético – falou, ajeitando-se na cadeira e olhando fixamente para a mesa, magoado. – Ciúmes são só manifestações estúpidas das nossas inseguranças, e merda, eu me sinto tão inseguro com você perto, mesmo que seja idiotice sentir algo assim!

Interrompeu-se apenas para suspirar, magoado, enquanto tudo que Hoseok fazia era lhe encarar, surpreso.

– Mas é claro que eu me sinto inseguro por um motivo. Se você não fosse tão mais íntimo de Taehyung que eu, não precisaria me sentir assim – continuou, encarando agora fixamente a própria xícara com o cappuccino sem gosto. – Digo, ele provavelmente gosta de você de qualquer maneira, então não posso fazer nada...

Por alguns segundos que mais pareceram horas, apenas o silêncio se fez presente enquanto Jeongguk encarava fixamente a própria xícara.

Bem, isso, é claro, até começar a ouvir a risada do Jung.

Franziu as sobrancelhas, confuso, e olhou para cima, na direção do ruivo. Surpreendeu-se ao ver que o mesmo ria alto, fechando os olhos e gargalhando.

Jeongguk estava confuso.

– Espera... – Hoseok disse, tentando recuperar-se da risada. – O Taehyung gosta de mim?

– Bem... – Jeongguk começou, incerto – acho que sim?

E mais uma vez Hoseok riu, deixando Jeongguk desnorteado e mais confuso impossível.

O que estava acontecendo ali?

– Não se preocupe, Jeongguk-ssi – Hoseok disse agora mais recuperado, ainda sorrindo para si. – Eu nunca gostaria do Taehyung desse jeito.

– E por que não? – perguntou, confuso, enquanto franzia a testa.

E então Hoseok ergueu as sobrancelhas para si, quase como se fosse claro para todos ali. Para todos menos si, naquele caso.

– Bem... – ele começou finalmente, num tom que praticamente tentava ressaltar o óbvio. – Taehyung é surdo.

E, naquele momento, Jeongguk travou, incrédulo.

Hoseok havia mesmo dito aquilo?

Havia mesmo dito que não poderia gostar nunca de Taehyung pelo fato dele ser surdo?

– O q-que? – perguntou em um tom de voz baixo, os olhos arregalados.

– Oras, você não concorda comigo? – Hoseok perguntou, soltando uma risadinha. – Como eu poderia gostar de alguém surdo, Jeongguk-ssi?

O coração de Jeongguk batia rápido, e não era uma sensação boa.

Aos poucos, suas sobrancelhas tão negras quanto o próprio cabelo foram franzindo-se, acompanhando seu humor.

– M-Mas – gaguejou – eu pensei que ele fosse seu amigo!

– E ele é, Jeongguk-ssi, mas ser um amigo é completamente diferente de ser um namorado – Hoseok deu ombros, tratando aquilo tudo com uma naturalidade fora do comum. – Como amigo eu posso manter a distância que quiser e só voltar para visitar de vez em quando, sem precisar carregar esse fardo. Você realmente ia querer se manter preso a alguém surdo, Jeongguk-ssi?

Fardo?!

Deus, o que diabos estava acontecendo?

Taehyung confiava em Hoseok!

Taehyung o considerava um dos seus melhores amigos, senão algo mais!

E aquele filho da puta ia quebrar o coração dele assim?!

– Não me leve a mal, Jeongguk-ssi, ele é muito bonito, porém... bem, é incompleto. E, se eu fosse você, faria o mesmo que eu estou fazendo agora – Hoseok falou calmamente, dando um gole em seu cappuccino. – Agora aquele seu amigo Yoongi é outra história. Digo, Jimin não precisaria ficar sabendo, se é que me entende!

O que?!

Deus, tanto Taehyung quanto Jimin consideravam Hoseok como um de seus melhores amigos! E cá estava ele, falando que nunca poderia amar o loiro por conta de sua surdez e que queria pegar o namorado do rosado sem ele saber!

Ah, não.

Aquela foi a gota d'água.

– Escuta aqui! – Jeongguk não se exaltava muitas vezes, mas aquela foi sim uma delas. Apenas sibilou, raivoso, mas quando bateu as mãos com força na mesa, balançando as bebidas nas xícaras, com certeza chamou a atenção o Jung, que lhe olhou surpreso. – Quem você pensa que é?!

O Jung apenas lhe encarou com os olhos arregalados, parecendo não saber o que fazer. Bem, não é como se Jeongguk fosse lhe dar a chance de fazer algo.

– Taehyung é seu amigo! Seu amigo! Eu saio com ele e não vejo ele se referir a ninguém além de Jimin e você assim! – sibilou, erguendo-se da própria cadeira e apoiando as mãos em cima da mesa, inclinando-se ameaçadoramente em direção ao ruivo, que lhe olhava de forma incrédula. – Qual o problema de Taehyung ser surdo, hm? Ele é "incompleto"?

Hoseok encarava seus olhos sem sequer se mexer, parecendo amedrontado. Isso não impediu Jeongguk de continuar, apenas lhe incentivou.

– Pois saiba que Taehyung é alguém incrível, maravilhoso e uma das melhores e mais amáveis pessoas que já conheci, Hoseok, e você deveria se considerar sortudo por alguém como ele confiar em alguém como você – praticamente sussurrou com uma carranca ameaçadora, agora apontando o dedo no rosto do ruivo, que já se inclinava para trás por puro impulso. – E saiba que ele não é "incompleto", Hoseok. Na verdade, ele é muito mais completo que você já foi ou um dia será!

Finalmente afastou-se do outro, levantando a própria máscara e buscando a própria carteira no bolso, tirando de lá o dinheiro do cappuccino e o deixando bruscamente em cima da mesa. Recusava-se a deixar aquele homem pagar algo para si.

– Taehyung merece alguém bem melhor que você, alguém que o ame por quem ele é – falou por fim, sério. – E eu não vou deixar você quebrar o coração dele.

Então virou-se para ir embora sem sequer esperar pelo bolo – compensaria Taehyung com alguma outra coisa –, se colocando a andar para longe dali de uma vez.

Isso, é claro, até ouvir a risada alta de Hoseok ecoar mais uma vez.

Virou-se para ele, as sobrancelhas franzidas em uma expressão raivosa. Aquele desgraçado ainda ousava rir?! Ah, estava puto!

– Do que está rindo, filho da puta?! – esbravejou ao aproximar-se mais uma vez do mesmo em passos pesados, sentindo raiva apenas de ver o sorriso largo dele.

– Calma, Jeongguk-ssi, calma! – ele falou com um sorriso alegre, gesticulando com as mãos para que se mantivesse calmo. – Eu estava apenas brincando!

– Como é?! – esbravejou, batendo mais uma vez as mãos na mesa, dessa vez fazendo um pouco do cappuccino de sua xícara derramar. Não pareceu abalar o Jung.

– Não era sério, Jeongguk-ssi, não é por esse motivo que não ficaria com o Tae – ele disse, sereno, e mais uma vez indicou a cadeira para Jeongguk, que sentou a contragosto.

Hoseok esperava mesmo que acreditasse naquilo?

– Ah, é? Eu adoraria saber o motivo real, Hoseok-ssi! – falou acirrado, sarcástico, mas o outro não parecia ser afetado por suas reações, apenas continuava sorrindo.

– O TaeTae é como um irmãozinho para mim. Ele e o Jimin. Eu nunca pensaria essas coisas de nenhum deles – ele explicou, vendo que Jeongguk ainda o olhava completamente desconfiado. – E, além disso, eu tenho namorado!

Dessa vez Jeongguk ergueu uma sobrancelha, observando enquanto Hoseok pegava o próprio celular do bolso da calça e o desbloqueava, então o esticava para si e mostrava o papel de parede, que era a imagem dele beijando a bochecha de um garoto bonito que sorria largamente com os lábios grossos na foto, genuinamente feliz.

Jeon pôde ouvir o ruivo suspirar apenas de observar a imagem, sorrindo bobo ao olhar para o tal garoto.

– O nome dele é Kim Seokjin – ele falou enquanto admirava um pouco mais a foto, logo bloqueando o celular e voltando a guardá-lo. – Pode apostar que o Tae também não me vê com sentimentos românticos, Jeongguk-ssi, ele adora meu relacionamento com o Jin, até o chama de cunhado!

– Mas por que, Hoseok?! – perguntou, olhando para ele com a expressão conflitada, atraindo o olhar confuso do mesmo. – Por que falou todas aquelas coisas? Por que diabos eu deveria acreditar em você depois do que disse?!

E Hoseok lhe encarou seriamente, agora sem o sorrisinho de antes e sem qualquer resquício de brincadeira no rosto.

– Porque eu estava te testando, Jeongguk-ssi.

Franziu as sobrancelhas em confusão.

– Me testando?

– É – o ruivo respondeu, simplista. – Te testando para ver se você é bom o suficiente para o Tae.

Jeongguk ia perguntar, porém o ruivo respondeu antes mesmo que fizesse sua pergunta, encostando-se na própria cadeira e cruzando as pernas.

– Taehyung nunca teve nenhuma experiência romântica e nem nada com ninguém – ele falou, fazendo com que piscasse os olhos algumas vezes, não exatamente surpreso, mas nunca havia realmente parado para pensar naquele fato. – Todas as pessoas que demonstravam interesse nele desistiam assim que tentavam falar com ele e viam que ele era surdo. Isso o deixava arrasado. Uma desilusão amorosa não ia fazer bem para ele, ele ia ficar acabado, e por isso eu tinha que ter certeza das suas intenções.

Jeongguk refletiu naquilo. Taehyung nunca tinha tido experiências românticas antes devido à surdez. Se perguntou quantas vezes Taehyung viu alguém tentar falar consigo mas desistir ao notar o porquê da sua falta de resposta.

Sentiu seu coração doer.

Ele deve ter se sentido completamente arrasado, culpado.

Mesmo que a culpa não fosse nem um pouco dele.

– O que falei para você, que não poderia ficar com ele por ele ser surdo, incompleto, foram palavras de pessoas reais, Jeongguk-ssi – Hoseok falou, agora olhando para baixo. Pela primeira vez, o ruivo mostrou-se abalado. – Pessoas que tentavam se aproximar do Tae, mas logo se afastavam sem nem pensar duas vezes ao ver que ele não podia respondê-las. E, quando eu me aproximava e perguntava o motivo, a única justificativa que eu recebia era "oras, ele é surdo!", como se isso fizesse dele uma aberração.

Jeongguk suspirou, abalado. Talvez ele e Hoseok estivessem com a mesma expressão naquele momento, ambos olhando para baixo, melancólicos.

Às vezes Jeongguk não pensava nas coisas que Taehyung já poderia ter passado por simplesmente ser diferente. A única coisa que lhe lembrava constantemente que o loiro tinha aquela condição era o bloquinho e a caneta que usavam para se comunicar, mas não é como se fosse algo ruim!

Taehyung mostrava ver o mundo de um jeito tão belo que fazia com que Jeongguk esquecesse que o mesmo na verdade é um lugar cruel.

– Você fez algo que eu não fiz, Jeongguk – Hoseok voltou a falar, atraindo seu olhar. Surpreendeu-se ao ver os olhos castanhos do mesmo lhe olhando com gentileza, um olhar feliz. – Quando confrontei essas pessoas e ouvi essas mesmas palavras, eu não fiz nada. Mas você me enfrentou. Você provou que se importa com Taehyung de verdade, que não está apenas brincando com os sentimentos dele.

E observou Hoseok suspirar, se recompondo, e ajeitar-se na cadeira, pegando sua xícara e tomando o resto do cappuccino em um gole só. Por fim, ele suspirou e abriu um sorriso largo em sua direção, mostrando as pequenas covinhas.

– É por isso que, com muito orgulho, digo que você passou no teste! – ele disse, já voltando a ficar animado. – Eu te aprovo para Taehyung, Jeongguk-ssi!

Arregalou os olhos. Ele lhe aprovava para Taehyung? Espera, era quase como se estivesse... Deus, pedindo a mão de Taehyung, ou coisa do tipo?!

Sequer havia notado que esse tempo todo o pensamento de "eu nunca trataria Taehyung dessa maneira" ecoava em sua mente, sendo que nem tinha certeza de seus sentimentos, ou pior, dos sentimentos de Taehyung!

Até ia falar algo, porém no mesmo momento o garçom de antes chegou, deixando o bolo devidamente embalado em cima da mesa e dizendo um "aqui está!", logo se afastando, lhe deixando perdido em seus próprios pensamentos.

Gostava de Taehyung?

E se Taehyung não gostasse de si?

Deus, aquele pensamento sim amargou sua boca.

Certo, talvez estivesse sentindo coisas que não deveria sentir por Taehyung.

– Não pense muito, Jeongguk-ssi, apenas sinta – Hoseok falou, quase como se lesse seus pensamentos confusos, e lhe lançou um sorriso gentil. – Não precisa dar nome ao que sente ainda. Apenas aproveite. Agora vá lá, sei que quer ver Taehyung!

Jeongguk, surpreso, teve seus lábios curvando-se em um sorriso. Até ia levantar, feliz, porém se contivera ao lembrar de algo.

– Mas espera, Hoseok-ssi, você não ia sair com Taehyung hoje? – perguntou, voltando a olhar o ruivo com as sobrancelhas erguidas.

O mais velho apenas sorriu, feliz.

– Oh, não se preocupe! Eu sei que você está louco para ficar com ele – falou por fim, fazendo uma careta engraçada. – Diga para ele que tive de fazer uma vídeo chamada com Jin, se não ele ia me matar! Bem, não deixa de ser verdade...

Jeongguk sorriu, verdadeiramente feliz. Levantou-se da cadeira e pegou a sacola com o pedaço de bolo, então virou-se mais uma vez para Hoseok, curvando-se em uma reverência.

– Obrigado, Hoseok-ssi! – falou, então virou-se para ir ao encontro de Taehyung.

Já ia começar a se afastar quando ouviu a voz de Hoseok chamar uma última vez:

– Jeongguk!

Virou-se para olhá-lo, curioso, e logo encontrou os olhos gentis porém um tanto receosos do Jung lhe encarando.

– Tome cuidado com TaeTae – foi o que ele pediu, e Jeongguk não soube dizer se era uma súplica ou um aviso. – Você se sentiu inseguro quando me viu junto a ele, certo? Os ciúmes fizeram com que você sentisse que não se comparava a mim? Bem, isso é mil vezes pior para ele. Ele está acostumado a "não ser bom o suficiente". Pense bem nisso.

Jeongguk assentiu com a cabeça, mesmo que as palavras do Jung tivessem lhe deixado um tanto confuso. Porém não tinha tempo a perder, queria ver Kim, então logo acenou para o garoto e saiu da cafeteria, não ficando nem mesmo para ouvir o sininho da porta tilintar ao indicar sua saída.

Os pensamentos inquietos lhe invadiram a mente enquanto andava apressado, segurando firmemente a sacola do bolo de morango.

Será que estava mesmo gostando de Taehyung?

Deus, se fosse ser racional, um relacionamento daqueles tinha tudo para dar errado! Será que Taehyung conseguiria acompanhar seu o ritmo corrido de idol? Será que ele próprio saberia conviver com Taehyung, que era surdo? E Deus, e se, só se, Taehyung gostasse mesmo de si, será que estaria disposto a passar pelo que passariam quando a mídia soubesse de seu relacionamento? Deus, as pessoas ainda nem mesmo sabiam que era homossexual, seria um escândalo!

Mas bem, não tinha tempo para pensar naquilo – e nem vontade. Queria ver Taehyung e aquilo era tudo que importava, seja qual fosse o motivo.

Avistou o pequeno bangalô com seu carro estacionado por perto assim que chegou na rua, apressando o passo e não demorando para chegar na porta e girar a chave com chaveiro de Pokémon na fechadura. Bastou entrar na casa para que ouvisse barulhos vindo do segundo andar, indicando que não estava sozinho.

Sorriu. Taehyung já havia chegado.

Fechou a porta atrás de si e correu escada acima, segurando firmemente a sacola, então assim que chegou no andar superior, parou e suspirou ao ver a imagem do loiro de costas para si, ainda com o casaco grande e marrom – indicando que havia acabado de chegar –, fazendo algo na escrivaninha que não conseguiu realmente identificar.

Não demorou para que o loiro suspirasse, satisfeito, e logo pegasse o que estava fazendo – que Jeongguk identificou como o sketchbook de capa marrom, um lápis e uma borracha – e se virasse, surpreendendo-se ao lhe ver ali parado.

E ele sorriu. Aquele largo e singular sorriso de formato retangular.

Observou enquanto suspirava Taehyung passar a folha do sketchbook para uma das finais, então usar o lápis que segurava para escrever algo e logo correr animadamente até si, lhe entregando o caderno.

"Oh, você voltou!"

Sorriu, pegando o lápis que o outro estendera para si e escrevendo sua resposta.

"E trouxe bolo de morango!"

O Kim sorriu, animado, então pegou o lápis e o sketchbook mais uma vez, começando a escrever. A letra saía mais desajeitada que o normal pela pressa e pela posição não muito própria para escrever, dado que estavam em pé – mas Jeongguk não se importava muito.

"Tenho algo para te mostrar! Eu estava apenas dando uns retoques finais, mas acho que você vai gostar!"

E, sem deixar que escrevesse sua resposta, Taehyung começou a voltar as páginas do sketchbook.

Ergueu as sobrancelhas, curioso, enquanto esperava. Ele tinha algo para lhe mostrar? Bem, foi quando o loiro finalmente chegou na página que queria e a estendeu para si que arregalou os olhos, estupefato.

Era um desenho de si.

Taehyung havia lhe desenhado!

Ergueu as sobrancelhas ligeiramente, incapaz de mover o olhar dali. No desenho estava dormindo, a bochecha comprimida contra no que quer que estivesse deitado, os lábios formando um biquinho infantil e os cabelos negros bagunçados caindo sobre o rosto. Até mesmo a pintinha de seu lábio inferior e a pequena cicatriz em sua bochecha.

Taehyung havia lhe desenhado enquanto dormia.

Não havia maquiagem, não havia sorriso falso, não havia câmeras, não havia o Jeon Jeongguk. Apenas havia Jeongguk, dormindo com toda sua simplicidade e talvez até com um pouco de baba no canto dos lábios.

Deus, havia adorado!

Buscou o olhar do loiro no mesmo segundo, maravilhado, então encontrou o sorriso terno do mesmo, cheio de felicidade e orgulho do próprio desenho. Então, antes que Jeongguk pudesse escrever algo em alguma outra página – mesmo que estivesse sem palavras –, Taehyung pegou o caderno de si mais uma vez, voltando para uma das folhas finais e pegando o pequeno lápis mordido, passando a escrever algo.

"Você é Jeon Jeongguk, mas isso não te torna menos humano, Ggukie. Seja num palco ou dormindo em um sofá, você não é duas pessoas diferentes, você é você, é o verdadeiro Jeongguk. E, sinceramente, eu acho o verdadeiro Jeongguk deslumbrante, esteja como estiver."

Seu coração bateu mais forte, acelerado. Buscou mais uma vez o olhar do mais velho, encontrando então o sorriso terno do mesmo, que lhe arrancou um suspiro.

O que era aquilo que estava sentindo? Aquele frio gostoso em seu estômago? Seriam as tão famigeradas borboletas? Por que parecia mais um trator, especialmente ao encarar mais o sorriso sereno e verdadeiro.

Bem, seja o que for, uma certeza veio à tona naquele momento:

É, estava caindo por Taehyung.


Notas Finais


Tapeei alguém? Hehe

Hoseok é um amor, não conseguiria fazer ele ser mal não, socorro! Fora isso, aaah momentos Taekook! Mais fluffy impossível <3 tava com essa cena do Gguk "invadindo" a casa do Tae e os dois terminarem assistindo filmes juntinhos desde antes de começar a propriamente escrever a fic, agora aqui estamos nós! Estou emocionada!

Se você chegou até aqui, muito obrigada <3<3 sério, só o seu view já me deixa muito feliz! Se quiser deixar um comentário eu seu favoritinho eu ia ficar muito feliz!

Acho que o próximo chega domingo ou próxima quarta! Até ele!


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