História Vida Anormal - Quem é ele?

Se esconder é pros fracos, sei disso, mas não consigo evitar. Nem mesmo se eu quisesse conseguiria me mostrar pra escola inteira ver. Não sou nenhuma Priscila da vida que consegue tudo com um sorriso. Eu só queria poder ser uma estudante normal.

— Manuela Agnes.

NARRADORA POINT OF VIEW               

Manuela foi acordada pelo barulho estridente do despertador, que ela odiava, porque sempre mostrava que era um dia novo pra sobreviver na escola. Ela queria ser boa em respirar fundo e dizer para o reflexo no espelho que está tudo bem. Entrou em seu banheiro esfregando os olhos e relaxou um pouco tentando tirar todas as preocupações da cabeça e só se concentrar na água quentinha caindo em seu corpo. Talvez estivesse sendo um pouco dramática, ela sabia disso. É só uma escola, aulas, alunos... Mas tem que ter coragem, muita coragem pra entrar no meio deles e conversar, se relacionar. E ela não tinha isso. Talvez fosse um pouco mais fácil se sua irmã, Isabela, estivesse aqui. Maldita hora em que foi para o intercâmbio! Pensou. Diferente de Manuela, Isabela era forte e decidida. Educada e atrevida. Determinada e corajosa. Bem que Manu queria ser assim. Apesar de serem gêmeas, só se pareciam por fora. Deixou seus pensamentos de lado ao enrolar a toalha em seu corpo e ir em direção ao guarda-roupa. Não, Manuela não era nenhuma nerd de rabo de cavalo e óculos fundo de garrafa com roupas bregas. Nunca seria isso, sendo sua mãe, uma designer de moda. Só era um pouco tímida.

Apertou os olhos vasculhando aquele espaço ocupado por panos ricos e delicados. Puxou um cabide com um vestido branco de renda da cintura pra cima com um cinto preto cintilante. A saia era rodada e com algumas camadas. Era simples e bonito. Perfeito pra ela! Após vesti-lo soltou seus cabelos castanhos ondulado nas pontas e o bagunçou na frente o deixando pomposo. Um brilho labial rosa claro e perfume era suficiente por hoje. Pegou uma bolsa qualquer e desceu apressada, vendo que faltavam apenas meia hora para as aulas começarem.

— Bom dia — disse aos seus pais logo após sentar-se na mesa. Eles sorriram e reponderam Bom Dia juntos. Em casa ela era super extrovertida e animada. Pegou apenas um sanduíche e suco de laranja para café e se levantou.

— Tenha uma boa aula, meu amor — Rebeca se levantou e beijou a testa da filha.

— Sim, e eu e sua mãe iremos te buscar hoje na escola, está bem? — Otávio disse.

— Tudo bem, mas por quê? O Damião que sempre vai me buscar.

— Hoje queremos te levar na On Enterprise, só pra você escolher umas roupinhas pra mandarmos pra sua irmã. Você conhece o estilo dela melhor que nós — Rebeca respondeu.

— Okay, mas deixa eu ir antes que me atrase. Beijo, amo vocês — gritou já do lado de fora. Ouviu de resposta um nós também, e sorriu.

Damião já a esperava do lado do carro com os fones de ouvido balançando a cabeça para os lados, escutando música. 

— Bom dia! — Manuela o cumprimentou, mas ele não ouviu — Bom dia — repetiu um pouco mais alto. Nada. — Eu disse BOM DIA! — arrancou os fones de seu ouvido.

— Ah, Manu. Bom dia. Desculpa, sabe como é né... — riu nervoso.

— Sei... — balançou a cabeça e entrou no carro. Ele entrou em seguida e deu a partida.

Demorou uns quinze minutos para chegar na escola, mas lá estava ela. Respirou fundo e entrou. Nenhum olhar era direcionado a ela, mas em sua cabeça, tinha vários. E isso a incomodava. Parou em frente a seu armário e colocou a combinação o abrindo. Pegou o livro da primeira aula, que era de matemática. Matéria que ela mais odiava! Guardou dentro de sua bolsa e o fechou se assustando um pouco com Priscila que estava atrás dela.

— Qual é, não sou tão feia assim — ironizou abraçando Manuela e a guiando pelo pátio.

— Desculpa, eu só estava distraída. 

— Gostei do vestido — comentou apontando pra ele. Manu sorriu. Era raro receber elogios de Priscila. Ela era muito perfeccionista. Até demais. — Vamos logo pra sala?

Manuela assentiu e as duas começaram a caminhar, mas um barulho de livros caindo do lado delas as fizeram parar. Uma garota morena se abaixou para pegá-los ainda com o olhar levantado. As meninas seguiram seu olhar que os guiou até um garoto. Muito lindo por sinal. Tinha um topete um pouco bagunçado com um gorro vermelho e uma jaqueta de pano xadrez amarrada na cintura por cima de uma camisa azul clara e uma calça um pouco surrada nos joelhos. Além de lindo, estiloso. Estava há poucos metros das garotas, mas o cheiro de seu perfume delicioso inalou-se por todo o corredor. Enquanto as garotas babavam por ele, os garotos reviravam os olhos e voltavam a fazer o que fazia antes. Aquele pequeno transe para admirar a beleza do garoto foi interrompido pelo barulho do sinal que ecoou por toda a escola. E a correria de todos indo para suas salas começou, fazendo o novo gatinho da escola sumir das vistas de Priscila e Manuela que ainda estavam no mesmo lugar, paradas com cara de bobas, raciocinando o que acabou de acontecer.

— Uau. O que foi isso? — Priscila perguntou se abanando com as mãos. Manu riu.

— Um menino novo. Quem é ele? — perguntou, um pouco interessada nele, pela sua voz. Mais um para sua listinha de crushes.

— Não sei. Mas vou descobrir, e vou ficar com ele todinho pra mim. As periguetes que saiam de cima — diz Priscila fazendo Manuela começar a tirar ele da cabeça. Priscila era sua melhor amiga, e ela não era de se interessar por garotos de amigas. Mesmo que ele ainda não fosse dela... Era bem comum pra ela pensar nos outros antes de em si mesma.

***

Todos se sentaram em suas carteiras vendo o professor de matemática entrar na sala com uma apostila na mão cheia de papéis. Mais atividades... revirou os olhos os parando em uma certa pessoa.

Eles estavam na mesma sala?

Um arrepio percorreu seu corpo inteiro ao ver que ele também direcionou seu olhar pra ela. A mesma queria olhar pra outro lugar, mas não conseguiu. Era como se seus olhos estivessem presos nele. Engoliu em seco quando ele sorriu de lado pra ela. Aquele sorriso... tão fascinante. Finalmente conseguiu se mexer e olhou pra frente fixando seu olhar para a lousa, que estava sendo preenchida pelas letras do professor. Mas antes, olhou para o chão e sorriu pra si mesma.

Desculpa, Pri. Mas esse eu vou crushar, pensou.