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História Vingança - Capítulo 3


Escrita por: amanur

Notas do Autor


Boa leitura!

Capítulo 3 - Capítulo 3


Vingança

by Amanur

...

Capítulo 3

...

 

Olhei novamente para Jack, que continuava a não me olhar. Ele parecia uma estátua de pedra, cheia de estoicismo com aquele queixo erguido. Não sei por que, mas uma onda de raiva tomou conta de mim, e não consegui sequer dizer mais nada. Virei o rosto, e fui caminhando para fora até o estacionamento, onde meu carro estava. Tirei as chaves da minha bolsa e destravei o carro com o controle que estava ligado ao chaveiro, mas antes de abrir a porta, Jack tomou as chaves da minha mão e, com as suas próprias mãos, me virou para entrar no banco de trás. Mas eu estava nervosa e alterada, estava estressada e confusa. Tentei me desvencilhar dele, dando um tapa em suas mãos para que não encostasse em mim, mas aquilo doeu em mim, por que esqueci que ele tinha uma braço metálico.

 

Gemi, massageando as duas mãos doloridas. E fiquei olhando para elas, percebendo que havia algo errado naquela cena. Foi então que me dei conta de que as duas mãos estavam machucadas. Olhei para ele, e puxei suas duas mãos para vê-las mais atentamente.

 

— Mas que merda você fez com seu outro braço, Jack?

 

Ele desviou o olhar, tirando suas mãos metálicas das minhas. O cretino não me respondeu, apenas abriu a porta do motorista e sentou no banco. Ligou o motor, e ficou ali, esperando que eu entrasse no carro. De muito mau agrado, me joguei no banco de trás e fechei a porta com força, irritada com tudo aquilo. Em seguida, ele deu a partida, e foi saindo do estacionamento. Ao passar pelos seguranças, ele entregou um cartão a um dos vigias da cancela que dava acesso ao local, e saiu cantando pneus pelas ruas.

 

— Aonde você pretende me levar? — perguntei.

— Ao seu apartamento.

— Você sabe o meu endereço?

 

Ele não respondeu, provavelmente por que era óbvio que soubesse. Era óbvio que a FOXHOUND soubesse tudo sobre mim, inclusive, sobre meu passado, minha infância e minha adolescência. Diabos, eles deveriam saber até do meu futuro!

 

E pensar nisso tudo me deixava extremamente inquieta. 

Jack tinha até cópias da chave do meu apartamento. Depois de o porteiro tê-lo deixado entrar com o carro, como se o conhecesse há muito tempo, nada mais me surpreenderia.

 

Joguei minha bolsa no meu sofá e olhei para ele, ali, parado na minha porta como aquela estátua, sem expressão facial, sem emoção alguma.

 

— Bom, estou entregue sã e salva. O que mais você tem que fazer? Dormir aqui? — indaguei, de maneira ríspida.

 

Ele suspirou, deixando um pouco aquela postura rígida que tinha adotado de lado, coçando a cabeça.

 

— Não, Rose...                               

— O que aconteceu com você, Jack?

— Não me chame mais por esse nome. Eles não podem saber que nos conhecíamos. Jack morreu. Meu nome agora é Raiden. — ele resmungou, fechando a porta atrás de si.

— Eu não gosto desse nome.

— Não importa se você gosta ou não.

— E o quê que realmente importa pra você, hein?

— Eu descobri quem matou meus pais, Rose. E o pior, descobri para que propósitos.

— Então tudo isso é para se vingar?

— E para me proteger.

— Por quê? Por que você tinha que se meter nisso? Você podia simplesmente fugir e viver uma vida normal, Jack. As coisas não precisavam ser desse jeito para você!

— Você não entende, Rose, eu já estava envolvido com a FOXHOUND antes mesmo de ter nascido. Eu não tinha como escapar, por mais que tentasse.

— Eu não estou entendendo.

— Você não precisa entender nada agora. Só te peço para que confie em mim.            

— Então me diga como posso confiar em alguém que não conheço, por que eu não sei como!

— É claro que me conhece. Eu não mudei quem sou, apenas meu nome mudou...

— Talvez você pense mesmo que não mudou, “Raiden”, mas você não é mais o mesmo. Definitivamente não é mais o mesmo...

 

Ele não disse nada demais depois daquilo, mas percebi que ficou afetado pelas minhas palavras. Em seu silêncio, desviou o olhar, me deu boa noite, e saiu porta a fora.

 

Jack passou o primeiro mês do seu serviço me acompanhando para lá e para cá,  sem pronunciar muita coisa. E toda vez que eu entrava no carro, no banco traseiro, e olhava para suas costas largas e solitárias, não podia deixar de imaginar o que se passava na cabeça daquela pessoa — tão familiar, mas ao mesmo tempo tão estranha. Mas ele insistia em manter aquela distância, e não seria eu a exterminá-la. Afinal, eu também andava estressada com tudo isso, estava brava, por alguma razão, pelo que ele havia feito consigo mesmo, e ainda tinha o doutor Campbell me enchendo o saco o tempo inteiro. Minha cabeça estava cheia de tudo! O único momento do dia em que eu realmente ficava feliz era quando deitava a cabeça em meu travesseiro, e ainda assim, não me sentia plenamente satisfeita.

 

Minha vida já era um caos, regido pelo meu emprego, e após aquela promoção de cargo, as coisas apenas pioraram. Foi como se todo o meu teto começasse a ruir, de uma hora para outra. Eram telefonemas a toda hora, reuniões longas e exaustivas quase todos os dias, mais horas de pesquisa, e a pressão que Campbell começava a fazer. Descobri coisas que não queria ter descoberto, e isso fez com que tudo chegasse a proporções indesejadas. O atrito entre nós já era tão evidente, que sequer fazíamos questão de esconder nossa antipatia, um pelo outro.

 

Num outro dia, aquele velho manco me pegou no corredor do segundo andar, depois do almoço. Eu aguardava o elevador, com uma xícara de café quente nas mãos, quando ele me puxou para um canto, dentro da sala das escadas de emergência.

 

— Você está ganhando mais, Rosemary, portanto, me dou ao direito de lhe pressionar mais. Lá em cima, as coisas funcionam de outra maneira, caso não tenhas percebido. O governo exige medidas rápidas, com resultados eficientes. Aqui, não há oportunidades para erros ou atrasos. Sua incompetência não será tolerada.

— Já temos dois malditos robôs prontos, Campbell! Estão no armário, apenas aguardando para serem produzidos em série. E como você mesmo me disse, não sou paga para me preocupar com a parte burocrática. Creio que esse serviço seja seu!

— Eu sei perfeitamente que os malditos robôs estão prontos. Mas não é isso que estou pedindo. Temos soldados fazendo fila para as modificações, e é isso o que queremos! Um exército de ciborgues, Rosemary. É disso o que estou falando.

— Mas os testes em cérebros humanos ainda não foram concluídos, Campbell! Você ficou louco? Recém conseguimos os primeiros resultados com a medula óssea! E em mais de noventa por cento das cobaias testadas morreram. Isso seria assassinato!

— Eu não me importo com o que acontecerá, apenas comece a usar os soldados. O governo irá enviar uma dúzia deles para serem os primeiros homens modificados.

— E se eu me recusar a fazer isso? — mesmo que aqueles soldados tenham se voluntariado para os testes, eu duvidava muito que todos os riscos que eles poderiam sofrer tivessem sido esclarecidos pela FOXHOUND. E, obviamente, eu não queria ser responsável pela catástrofe que certamente aconteceria àqueles homens.

 

Mas apesar de estar velho, Campbell ainda tinha a mesma agilidade e força que costumava desfrutar quando era soldado. Talvez fosse resultado de todo o treinamento pelo qual passou para chegar a ser comandante de um pequeno exercito que fosse. Mas a questão que importa aqui, é que ele agarrou meu pescoço, me empurrando com força total contra a parede, machucando minhas costas. Derrubei a xícara no chão, que se estatelou em vários pedaços. Ele ainda se aproximou do meu rosto com aquele olhar ameaçador, chegou tão perto que eu conseguia sentir o cheiro de tabaco do seu hálito.

 

— Estou de saco cheio de suas perguntas impertinentes, Rosemary. Você é apenas mais uma pequena peça dentro dessa companhia, e espero que não se esqueça disso. Você pode ter trazido grandes avanços para a FOXHOUND, mas descartá-la ou substituí-la não seria problema algum.

 

A mão dele era pesada, e estava me sufocando. Fui tomada pelo medo, e a única coisa que eu poderia fazer ali era concordar com qualquer coisa que ele me dissesse. E foi o que fiz.

 

Ele me soltou, ajeitou o terno sobre seu corpo, e me deu as costas, enquanto eu tentava me recompor.  De repente, me senti abalada, minhas pernas tremiam, e aquela vontade absurda de chorar me pegou de surpresa. Eu não queria voltar a trabalhar, não depois disso, então, simplesmente dei a meia volta, desci pelas escadas até o saguão, e fui me dirigindo até o meu carro.

 

Jack estava ali, encostado ao meu automóvel, olhando para o céu com as mãos nos bolsos.  Ele não percebeu meu nervosismo de primeira, apenas entrou no carro e o ligou, em movimentos quase automáticos.

 

— Para onde? — perguntou, quando fechei a minha porta.

— Minha casa.

 

Ele não disse nada. Apenas foi dirigindo pelas ruas. Somente no meio do caminho, olhando pelo espelho retrovisor, foi que percebeu que eu estava em prantos.

 

— Rose, o que aconteceu? — perguntou.

— Nada.

— Nenhuma mulher chora por nada.

— Continue dirigindo, Jack.

 

Desta vez fui eu quem não respondeu. Tudo o que eu queria era chegar em casa o quanto antes e esquecer aquele dia, esquecer a minha vida.

 

Ele não fez mais nenhuma pergunta. No dia seguinte, Jack me levou para o centro e me seguiu pelo saguão, até o elevador.  Ele ainda entrou comigo, e passou pelos corredores logo atrás de mim. Até então, eu fingia que ele não existia, mas quando o vi puxar uma cadeira na minha sala,  para ficar me vigiando feito um cão, me irritei.

 

— O que pensa que está fazendo?

— Eu prometi que lhe protegeria, e é isso o que farei.

— Estou segura aqui dentro, Jack.

— Então por que estava chorando ontem? — recuei alguns passos, olhando em volta. Como ainda era cedo, não havia mais ninguém ali — Enquanto não me disser o que houve, não sairei daqui.

— Digamos que eu apenas estou começando a descobrir como as coisas funcionam por aqui, ok?

 

Assim mesmo ele não saiu de perto, e no fundo, acho que me senti agradecida. Naquele mesmo dia, Campbell chamou minha equipe para uma breve reunião, nos solicitando que organizasse a sala de experimentos, pois o governo traria alguns dos seus soldados voluntários para a implantação das partes mecânicas. Para isso, a FOXHOUND havia contratado mais alguns médicos cirurgiões de renome e confiança para trabalharem na equipe. E enquanto ele discursava, seus olhos estavam sempre em mim, me vigiando, me analisando.

 

O que mais eu poderia ter feito, se não concordar com toda e qualquer maldita palavra que saía daquela boca podre que ele tinha?

 

Então, no meio da semana, eles vieram. Seis soldados jovens, entre vinte e trinta anos, de porte físico atlético, resistentes. Eles pareciam perfeitos para os testes.

 

Os soltados tiveram que assinar mais alguns termos de consentimento, antes de iniciarmos os procedimentos, e em seguida entraram na sala de cirurgia. Eu não acompanhei tudo de perto, estive mais ligada ao pós operatório para verificar e analisar as reações que cada um deles teria. Todas as cirurgias, a principio, tinham sido bem sucedidas. Os membros mecânicos, em si, não eram problema. O risco estava na parte elétrica que era conectada à medula óssea, responsável por levar uma boa quantia de carga elétrica para o cérebro através de micro placas implantadas na parte traseira do cérebro e ao longo da medula. E era aí que morava o perigo.

 

Dois dias após a cirurgia, tivemos o primeiro paciente com reação adversa. O rapaz começou a ter convulsões, e logo tivemos certeza de que ele não sobreviveria. Então, veio a febre alta, os delírios, a atitude agressiva, até começar a vomitar sangue e ter morte múltipla dos órgãos internos.

 

O mesmo aconteceu a todos os outros soldados. Foi um desastre total, e todos nos sentimos péssimos por suas mortes em vão. Menos Campbell, que só pensava em obter sucesso naquele projeto.

 

Ter que carregar a morte em minhas mãos nunca tinha feito parte dos meus planos naquela companhia, e eu estava no limite da sanidade. Então, tentei falar novamente com o Campbell.

 

— Eu desisto! — lhe disse, em sua sala — Eu me demito, Campbell. Não foi para assassinar inocentes que me candidatei a esse cargo! Eu não quero continuar com isso. Eu não vou conseguir...

 

Admito que não tenha sido uma boa ideia ter feito aquilo, mas eu realmente não agüentava mais chegar em casa, e não conseguir pensar nem na cor do esmalte que eu poderia pintar minhas unhas, algo tão banal e trivial e corriqueiro na vida de qualquer mulher, algo que deveria acontecer de forma natural, por que tudo o que eu conseguir pensar era naquela maldita FOXHOUND.

 

Ainda mais por que Campbell estava num péssimo dia de trabalho, com todo aquele fracasso. Mas, calmamente, ele sorriu, se levantou de sua mesa, e veio caminhando em minha direção, com um falso sorriso, como se concordasse comigo.

 

— Eu entendo perfeitamente que você esteja sofrendo as conseqüências da pressão que é trabalhar aqui. Acredito, não há ninguém aqui dentro que te entenda melhor do que eu, Rosemary. Mas você só pode ser uma vaca estúpida se acha que vou lhe conceder alguma liberdade! — e, então, ele me deu um forte e ruidoso tapa no rosto, que quase me derrubou no chão.

 

Nesse instante, Jack, que me acompanhava como uma sombra, e me aguardava do lado de fora, entrou na sala sem ao menos bater na porta.

 

—Está tudo bem por aqui, senhor? — indagou.

— Ah, Rainden! Que bom vê-lo. — Campbell resmungou, enquanto Jack me olhava — Faz alguns dias que notei sua presença aqui dentro do prédio, até mais do que gostaria... O  que diabos você está fazendo aqui dentro? Seu lugar é na rua!

— Estou tentando manter a promessa que fiz de proteger a doutora Rosemary. Suspeito de que ela precise de minha proteção mesmo aqui dentro... Senhor Campbell. — e então, ele olhou para o velho, estreitando os olhos.

 

Mas Campbell apenas sorriu, em sarcasmo.

 

— Saiam da minha sala. E, senhorita Rosemary, não se esqueça de nossa conversa.

 

Jack me acompanhou até o elevador, sem dizer nada. Quando entramos, ele se virou de frente para mim, cheio de aflição.

 

— O que foi que aquele filho da puta fez com você, Rosemary? Diga, e voltarei agora mesmo para quebrar o pescoço daquele bastardo!

 

Mas eu não estava pensando em mais nada. Não ouvia mais nada, não enxergava mais nada, não dizia mais nada.

 

Os últimos dias daquela semana foram péssimos. Precisei correr ao banheiro para vomitar algumas vezes, e não agüentava mais olhar para a cara ninguém naquele centro. A doutora Naomi Hunt, que não mais era minha superiora, mas um colega de trabalho, disse que eu deveria tirar alguns dias de folga. Do jeito que eu estava lidando com as coisas, o projeto não andaria para frente, e, por isso, eu deveria descansar mais, para voltar com novas idéias, enquanto ela cuidava na minha parte na pesquisa.

 

Eu sabia que nada daquilo adiantaria. Eu não descansaria em casa, sabendo que ainda estava relacionada àquele lugar horrível, mas, de qualquer forma, aceitei a proposta de me afastar por quinze dias. Afinal, havia anos que não tirava férias. Além disso, achei que pudesse me livrar da cola do Jack, mas ele não me deixou às sós por um dia sequer. Ela não fez nenhuma pergunta, mas eu tinha a sensação de que ela soubesse o que estava acontecendo.

                                                                                                                                                    

Então, tirei aqueles dias de folga. Da janela do meu apartamento, eu via Jack zanzando pelo estacionamento, pelo jardim, pela calçada, sempre em volta do meu prédio, vigilante e atento a qualquer movimento meu. Quando ele olhava para cima, e eu estava na sacada, ele me olhava com aquele olhar que parecia querer dizer algo, mas que por algum motivo não conseguia. Então, eu lhe dava as costas, aborrecida.

 

Numa dessas noites, ele bateu na minha porta.

 

— O que foi?

— Posso usar o seu banheiro? O banheiro dos funcionários do condomínio está com problemas.

— Ah... — abrir mais a porta para ele entrar.

                                                                                                                       

Murmurando um “com licença” ele entrou no meu apartamento, e foi direto pelo corredor, até o toalete social, como se conhecesse perfeitamente a planta do meu apartamento. Quando voltou, eu estava sentada na poltrona, de frente para a sacada, olhando a vista que eu tinha dali. Eu queria poder voltar a conversar com ele, mas não sabia mais como me aproximar daquele homem, e esperei que ele desse o primeiro passo, mas acho que Jack era quem mais se sentia deslocado com tudo aquilo. Afinal, vivia sozinho, me seguindo sem conversar com ninguém. E por isso, ele já me dava as costas para voltar ao seu trabalho, quando o chamei de volta.

 

— Espere. — lhe disse, enquanto me levantei.

 

Fui correndo até meu quarto, e peguei um pacote que estava há muito tempo esquecido nos fundos do meu armário, e o levei até ele.

 

Ele olhou para aquela caixa sem entender.

 

— É o seu presente de dezoito anos. Eu o guardei por todo esse tempo, na esperança de poder vê-lo novamente... Eu acho.

                                                         

Surpreso, ele sentou no meu sofá, e abriu a caixa. Ficou um tempo olhando para aquela jaqueta, sem dizer nada, sem expressar nada.

 

— Provavelmente não deve mais servi-lo. Você parece maior do que era naquela época. — resmunguei — Eu só queria que você recebesse o presente.

 

Ainda sem dizer nada, ele se levantou, e foi tirando com cuidado seu terno. Ainda tirou a camisa social, ficando apenas com uma regata que vestia por baixo, e eu vi os dois braços mecânicos que ele usava. Eram modelos de braços novos, e me perguntei como eu não desconfiei de que ele fizesse parte de toda aquela loucura antes.

 

— Ainda serve. Não cresci tanto assim. — ele diz, se olhando no reflexo do vidro da minha janela, com a jaqueta no corpo.

— Jack, além dos braços, o que mais você trocou?

 

Ele me olhou surpreso.

 

— Minhas pernas. — ele puxou a barra da calça para me mostrar as pernas mecânicas.

 

Cai dura para trás, no meu sofá.

 

— O que diabos você pretende com isso, Jack? Se tornar num daqueles monstros robóticos do Campbell?

— Eu quero destruir a FOXHOUD.

— Você ficou louco?

— Eu não estou sozinho nisso, Rose. Há mais gente dentro daquele centro que odeia  a FOXHOUND tanto quanto eu. Mas não vou te dizer o que sei sobre eles, quero que você descubra tudo por si mesma, só assim entenderá meus motivos. E quando você descobrir, vai ser o momento em que estarei pronto para agir contra eles. Quando esse momento vier, quero que você vá para longe, e nunca mais volte.

— Do que está falando, Jack? Você está me assustando!

— Não se preocupe. Nada vai acontecer a você, eu prometo isso.

— Eu não sei o que pensar disso tudo... Sinto como se tudo, de repente, caísse sobre a minha cabeça, Jack. Tenho medo de não agüentar mais nada.

— Você é uma mulher forte. Eu soube disse no momento em que pus meus olhos em você, na sala do Snake.

 

Eu não disse mais nada, por que não havia mais nada a ser dito. Ele já sabia o que eu pensava sobre aquilo tudo. E talvez por isso mesmo ele pegou suas coisas e me deixou sozinha naquela sala. Mas eu me sentia como se estivesse prestes a enlouquecer naquele silencio, naquela escuridão.        

 

Quando voltei para a companhia, o caos parecia ainda maior. Campbell havia levado mais soldados para testes, todos sem sucesso algum, e os outros funcionários começaram a questionar as ações da FOXHOUND. Com isso, Campbell ia perdendo sua credibilidade perante seus subordinados, mas não perdeu a postura. Ele foi ficando cada vez mais exigente e rígido, chegando a perder a paciência e a compostura, a ponto de ninguém mais suportá-lo. Mas não importava o quanto reclamássemos, ele parecia já ter alcançado o topo da liderança do centro de pesquisa.

 

Numa tarde, enquanto eu saía da sala de experimentos e me encaminhava para a sala de pesquisa, Campbell passou por mim pelos corredores falando ao seu telefone celular. Ele parecia nervoso,  e desviou o olhar quando me viu, chegando até mesmo a baixar o volume de sua voz, como se dissesse algo secreto para a pessoa do outro lado da linha. E realmente não consegui ouvir muito, além de captar a palavra “crianças”. Isso me deixou intrigada durante o restante daquele dia. Fui para casa ainda com aquela sensação estranha de que ainda havia muito mais coisas sórdidas escondidas por baixo do tapete do Campbell.

 

Foi num outro dia, quando estava indo até o estacionamento para voltar para casa, ao ver Jack vestindo a jaqueta jeans que eu havia lhe dado, que tive um estalo na cabeça que me fez estremecer.

 

— Ah, esqueci uns documentos sobre a minha mesa, já volto. — eu lhe disse, lhe entregando minha bolsa.

 

Voltei correndo para dentro do prédio. Entrei no elevador sentindo as pernas bambas, mas apertei o botão do penúltimo andar, aquele que eu ainda não tinha acesso livre. Enquanto eu via os números do painel aumentar, ia me lembrando daquela vez em que Jack me levou para almoçar no jardim do ultimo andar. Lembrei do comentário que ele fez sobre usarem o jardim apenas durante a noite, quando, em teoria, o expediente de trabalho já deveria ter sido encerrado e, supostamente, apenas os seguranças acessavam o prédio. E lembrei também do quanto estranhei aquelas barras, pinos e  ganchos de ferro espalhados pelo local. Aquilo parecia suspeito, e comecei a sentir meu estomago revirar.

 

As portas se abriram, e dei de cara com a maldita catraca e uma porta de vidro temperado. Um segurança lia o jornal do dia, sentado num banco. Por sorte, ele já me conhecia de vista, pois os seguranças revezavam entre si de turno e local de vigília. Sorri meio nervosa para ele, mas resolvi arriscar a sorte antes de dizer qualquer coisa que pudesse me denunciar.

 

Tirei o meu cartão do bolso, e passei no leitor. No painel digital, dizia “Funcionário Identificado | Acesso Permitido”. O problema era a identificação da impressão ocular. Aproximei meu olho do painel, o scanner ofuscou minha visão, e negou meu acesso.

 

Respirei fundo algumas vezes, antes de chamar a atenção do rapaz que continuava lendo seu jornal.

 

— Com licença, acho que este aparelho está com defeito! — tentei fazer uma cena, fingindo estar irritada com aquilo, e acho que fui convincente o suficiente —  Não estou conseguindo acesso, e eu estou meio que com pressa. Preciso pegar uns documentos, urgentemente!

 

Ele se levantou num pulo, jogando o jornal sobre o banco, e passou seu próprio cartão, e ainda deixou sua impressão ocular na porta. É claro que elas abriram, e eu tratei de agradecê-lo rapidamente, entrando às pressas sem dizer mais nada, antes que ele tivesse tempo para se dar conta de que o aparelho não estava estragado. Eu sabia que os seguranças e demais funcionários já estavam acostumados a lidar com gente estressada, apressada e sem paciência ali dentro, pois era como todos viviam por ali.

 

Enfim, o que importa é que estava ali dentro. E, como esperava, o penúltimo andar era tão diferente quanto o jardim. Atrás daquelas portas, estava um longo e solitário corredor, cheio de portas para todos os lados. Enquanto eu caminhava, ouvia barulhos estranhos; parecia um monte de máquina trabalhando numa construção, além de vozes — alguns sussurros, alguns gritos, algumas risadas. Aquilo tudo estava me deixando ainda mais nervosa e tensa. Eu estava ciente das câmeras de vigilância espalhadas nos tetos, que pareciam seguir meus passos automaticamente. Era uma questão de tempo até que Campbell fosse acionado sobre a minha intrusão, mas eu não me importava mais com o que fosse acontecer comigo.


Notas Finais


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