Quando os raios solares invadiram minhas persianas, eu soube que era hora de acordar, passei a noite inteira sem dormir graças aos meus pensamentos em Harry. Sem vontade nenhuma, coloquei meus pés no chão frio e caminhei para dentro do banheiro.
Já vestida, desci as escadas em direção a cozinha, amarrando meus cabelos, agora curtos, em um coque frouxo. Minha mãe, como sempre, não havia dado sinal de vida, passando noites e mais noites no hospital. Peguei meu jaleco na secadora, visto que precisaria dele hoje, e saí de casa caminhando levemente até a universidade.
Quando cheguei ao grande portão de entrada, observei que o relógio em meu pulso marcava apenas 7:30, sendo que entro às 08:00. Suspiro, mantendo a calma, não suporto esperar. O porteiro abre para mim e eu sorrio dando um bom dia.
A universidade não está tão vazia, visto que alguns alunos adoram chegar depois da hora. Sento em um banquinho de madeira, o qual se encontrava do lado da coordenação. Tiro meus óculos da bolsa e os coloco, começando a reler meu livro onde eu parei esta madrugada.
Mal começo a ler um capítulo e sinto alguém sentar do meu lado, espio pelo canto de olho e reviro os olhos mentalmente. Era Mat.
— Chegando cedo? — pronúncia ele, tenho vontade de sair daqui e o deixar sozinho, mas uso minha total educação e assinto. — Você parece péssima, o que aconteceu? Passou a noite no hospital como sua mãe?
— Não! — respondo a contragosto, ele sempre diz que eu sou a cópia da minha mãe, ele tem problemas com isso e odeia a profissão que vou seguir. — Só estava fazendo alguns trabalhos daqui da universidade. — minto, não quero lhe dar satisfações.
— Você… — ele hesita, mas prossegue. — Você sabe que precisamos conversar, não é? — ele parece baixar a guarda, o olho e ele abaixa a cabeça, suspirando.
— Acho que não precisamos conversar nada, você me traiu e isso para mim não tem perdão. — digo ríspida. — Mat, você é um cara legal, mas não serve para ter um relacionamento sério. — desabafo verdadeiramente. — Seu extinto quer várias ao mesmo tempo e você não consegue se prender a uma só.
— Mas…
— Não há mas Mat, você precisa aprender a amadurecer e quando conseguir fazer isso volte a me procurar… — saio dali rapidamente em direção ao banheiro, querendo ou não ele ainda mexe comigo e estou confusa com meus sentimentos. Limpo meus olhos marejados e sigo fazendo pose de garota forte, indo para a aula assim que o sinal toca.
A aula correu bem, mas tenho que admitir que eu estava sentindo tédio, a minha conversa com Mat e minha proibição de ver Harry se juntaram num problema, só derrubaram meu ânimo. Não vi Rebecca, Sharon e nem Katie.
No intervalo, optei por ficar longe de todos, sentei na grama em baixo da pequena árvore que fornecia sombra, suspirei e comecei a ler meu livro totalmente concentrada.
Novamente, sou atrapalhada, e quando olho para cima vejo minhas companheiras, elas se juntam a mim fazendo uma rodinha alí e dividimos o espaço.
— Onde estavam? Não vi vocês a aula inteira. — digo.
— Então, a Sharon foi convidada para um encontro. — diz Rebecca animadamente, batendo palmas, enquanto Sharon e Katie riem. — Aí fomos até o shopping dar umas diquinhas de moda. — piscou. — Desculpe, mas se te chamássemos você não iria porque odeia perder aula.
— Com certeza! — afirmo. — Mas quem foi que te chamou para sair?
— Mat… — Katie responde e eu sinto um embrulho na barriga, toda nossa conversa foi por água baixo, ele realmente nunca irá mudar.
— Tudo bem para você, não é Rose? — Sharon pergunta. — Não sou esse tipo de pessoa que troca amizades por homens, se isso de alguma forma te incomodar eu cancelo e…
— Não! Está tudo bem Sharon. — a interrompo. — Mat já não significa nada para mim.
Fiz o mesmo caminho de sempre até o hospital que ficava a uma quadra de distância daqui, assim que virei a esquina a preocupação me atingiu, estavam paradas ambulâncias com suas sirenes ligadas, automaticamente pensei em Harry.
Atravessei a rua o mais rápido que pude, com certa dificuldade adentrei o lugar, onde pessoas estavam paradas misturando suas vozes em um tom agoniante, ignorei uns paramédicos alí presentes e caminhei até a recepção onde minha mãe estava, ela parecia apreensiva.
— Mãe? O que aconteceu? — pergunto curiosa.
— Um paciente perdeu o controle, quebrou o quarto inteiro e está aqui dentro caminhando com uma faca nas mãos.
O que?
— Quem? — pergunto. Ela suspira e move seus olhos para os meus.
— Harry! — assim que ela diz já não estou mais em mim e saio correndo lá para cima, ouço os repreendimentos da minha mãe, mas não dou a mínima atenção. Reviro este hospital de cabeça para baixo e o encontro em um quarto, ele está sentado com a cabeça enterrada nos joelhos enquanto chora baixinho.
Em passos leves, chego até ele e dobro os joelhos, agachando no chão, levo minhas mãos em seu cabelo e acarecio de leve, ele reage rapidamente e se levanta, me surpreendo com a faca em sua mão.
— Você… mentiu para mim. — está apontando a faca para mim, dou passos assustados para trás e engulo seco. — prometeu que ninguém iria me fazer mal.
— Harry, acalme-se — peço e ele nega enquanto mais lágrimas caem do seu rosto. — Largue a faca.
Sinto-me mais calma quando ele me obedece, chuto aquele objeto perigoso para fora de seu alcance, estou me perguntando como ele conseguiu uma faca.
Ele suspira e coloca as mãos na cabeça enquanto eu o observo, sou pega de surpresa quando ele cola seu corpo ao meu.
— Ela veio aqui hoje.— murmurou — Eu peguei a faca e… ela foi embora.
— Está tudo bem agora. — o asseguro, não interessa o que minha mãe pense, Harry precisa de ajuda e eu não vou o deixar sozinho.
Saímos de um quarto para o outro, entramos no de Marie, que logo gritou quando nos viu.
— Loco voltou, loco voltou. — ela abraça os pés de Harry e eu sorrio. Fico surpresa quando Harry pega ela no colo, desajeitado.
— Sabe, eu não gosto de crianças, mas de você eu estou começando a gostar…
Assim que Harry a bota no chão, ele observa o lugar, seus olhos vidrados param na grande janela, ele caminha até lá e fica olhando para fora por um tempo. Me aproximo e paro ao seu lado.
— A quanto tempo não sai lá fora? — pergunto.
— Desde que cheguei aqui. — suspira.
— Bom é muito tempo… — respondo. — Talvez eu te leve lá pra fora um dia.
— Sério? — ele diz animado e eu afirmo. — Promete?
— Prometo.
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