História Voluntary | Harry Styles - Capítulo 07

- Querida... - a voz de minha mãe soa atrás de nós suavemente e eu me viro para olhá-la, observando de relance a conversa animada entre Harry e Marie, os quais olhavam pela janela para o lado de fora.

- Sim - respondo simplesmente, aproximando-me dela enquanto ela estende as mãos para mim, puxando-me levemente um pouco mais para longe.

- Eu tenho uma ótima notícia - ela abre um sorriso e eu retribuo, animada - A diretora do hospital permitiu que você continue vendo Harry, visto os acontecimentos de hoje e que sua presença é crucial para a melhora dele - ela continua e eu simplesmente não posso conter o sorriso que se forma em meus lábios, indo em sua direção e a abraçando subitamente.

- Mamãe! Muito obrigada! - eu repito sem parar enquanto mantenho-me abraçada a ela - Eu estou tão feliz! - nos afastamos e eu a encaro, ainda sorridente.

- Eu sei que sim, querida - ela passa a mão suavemente por minha bochecha esquerda, depositando um beijo em minha testa - Só vim para avisá-la, meu bem... Preciso voltar ao trabalho - eu assenti de leve e ela se vira para sair do quarto, mas antes que ela fosse, eu seguro seu braço - Sim?!

- Mamãe... Acha que eu posso levá-lo para fora? - indago duvidosa, com medo de sua negação - Quero dizer... Um passeio pelo parque ou algo assim - ela sorri.

- Apenas tome cuidado, Rose - retribuo seu sorriso, sentindo meu peito aquecer-se com tanta alegria - E não esqueça das crianças! - ela diz por fim.

- Claro que não! - respondo prontamente, olhando novamente em direção à Harry e Marie, e quando me viro para frente mais uma vez, minha mãe já não estava.

Eu não poderia esquecer aquelas crianças. Estar ali, com cada uma delas, também com Marie, tem feito meus dias melhores. Vê-las tão contentes e radiantes, mesmo passando por coisas tão difíceis, me dava força e a certeza de que eu havia escolhido a profissão certa - por mais que não tenha escolhido essa especialização. E saber que estando ali, apenas conversando e lendo um pouco para elas, diminuía sua dor e tornava as coisas mais fáceis era gratificante.

Caminho em direção aos dois, com um enorme sorriso estampado em meu rosto, sentindo algo muito bom ao vê-los tão tranquilos e divertidos. Dessa vez, eu queria me certificar de que manteria minha promessa à Harry e de que não o decepcionaria de novo.

- Quem quer tomar um sorvete? - questiono animada, abaixando-me perto deles, os quais estavam sentados na cama próxima à janela, vendo os olhos de ambos brilharem com minha pergunta. Passo um dos braços pelo ombro de Harry e, com a mão livre, faço cócegas na barriga de Marie, vendo-a rir abertamente.

- Eu! - os dois respondem em uníssono e eu rio com tal ato, pegando Marie em meus braços e embalando-a enquanto passo a mão em seus cabelos macios.

- Vá pedir permissão para seus pais, pequena! - eu a digo e ela balança a cabeça freneticamente enquanto eu a coloco no chão e a vejo correr em disparada para fora do quarto.

- Você também vai me levar? - Harry me olha esperançoso e eu me aproximo dele, sorrindo.

- Claro que sim! - respondo rapidamente e ele me demonstra suas covinhas - Você quer ir? - me certifico.

- Quero muito! - diz animado enquanto passa os braços em volta de mim e me aperta em um abraço.

- Dessa vez eu vou cumprir minha promessa, Harry - seguro seu rosto entre minhas mãos, encarando-o - Me desculpe, tá bem?!... Por não ter estado aqui como prometi - eu sentia a necessidade de lhe dizer novamente, de me retratar. Meu peito pesava apenas ao lembrar de que havia o decepcionado.

Ele balança a cabeça levemente e volta a me abraçar, repousando a cabeça sobre o meu ombro enquanto afago seus cabelos encaracolados.

- Obrigado... Por estar aqui agora... Por ter voltado. Obrigada - ele murmura e eu sorrio, mesmo ele não podendo ver.

- Sempre estarei aqui - pronuncio convicta.

- Eu sei... - sussurra em resposta - É verdade, me sinto seguro com ela aqui... - ele começa a falar com as vozes novamente e eu apenas permaneço com ele entre meus braços. Pobre Harry, eu farei de tudo para livrar você dessa tortura.

- Harry... - eu o chamo e ele eleva a cabeça, afastando-se um pouco de mim - Quem foi que te deu aquela faca? - questiono receosa, temendo que ele tivesse uma crise e ele balança a cabeça negativamente - Quem veio te ver? - insisto, eu precisava saber. Porém ele coloca as mãos na cabeça, fechando os olhos firmemente.

- Não posso... Não quero me lembrar! Quero que ela me deixe em paz - ele começa a murmurar, andando de um lado a outro no quarto. Eu vou até ele e seguro seus braços e ele abre os olhos, fitando-me fixamente - Diga para ela me deixar em paz...

- Harry, eu preciso que você me diga quem veio... Quem é ela?... Só assim eu posso te ajudar e te proteger - continuo e ele volta a fechar os olhos, tentando se desvencilhar de minhas mãos.

- Vão embora! - murmura e respira fundo, voltando a me olhar - Ela é...

- Deixou! - a voz de Marie interrompe a frase de Harry enquanto ela corre de volta em nossa direção e abraça minhas pernas.

Me viro para Harry novamente, passando as mãos pelos seus braços e sorrindo levemente.

- Tudo bem, fique tranquilo... Quando você estiver mais calmo, ou quando preferir, voltamos a falar disso - digo vencida, eu precisava ter paciência, mas aquela agonia estava me matando. Quem quer que seja "ela", voltou, e eu preciso proteger Harry a todo custo - Se estão prontos, então vamos! - digo para ambos, dando um beijo na bochecha de cada um enquanto caminhamos juntos até a saída do hospital.

Quando estamos do lado de fora, posso jurar que meu coração vai saltar para fora de tanta alegria. Ver a expressão no rosto de Harry, um misto de fascínio e contentamento, era impagável. Marie também estava que não podia se conter e seu sorriso enorme transbordava uma boa energia que eu não sentia fazia muito tempo. Andamos juntos até o parque que fica a apenas uma quadra do hospital e nos sentamos em um banco de pedra próximo à sombra de uma árvore, sentindo a grama fresca em nossos pés. Me viro para Harry e, apesar da alegria evidente, percebo que ele também está agitado. Seus olhos rolam incontrolavelmente de um lado a outro e sua respiração é pesada.

- Tudo bem?! - arqueio a sobrancelha, preocupada - Se quiser, podemos voltar -  ele nega.

- Vozes, barulho... Eles me dizem que não é seguro... Estou com medo - ele diz rapidamente, atropelando as palavras e eu quase não pude compreendê-lo.

- Não se preocupe, eu estou aqui - tento acalmá-lo - Vamos fazer o seguinte... Segure bem forte no meu braço, se você sentir medo, pode apertar... E tente se concentrar apenas em nós três, apenas você, eu e Marie nesse parque verde em um dia ensolarado - sorrio e ele retribui, balançando a cabeça enquanto encaixa a mão em meu braço, apertando de leve.

- Sorvete! - Marie anuncia alto enquanto eu olho na direção em que ela apontava com o dedo indicador. Seus olhos pendem até mim com seu sorriso permanente e eu aceno levemente.

- Vamos... - me levanto puxando Harry e segurando a mão de Marie enquanto ela nos arrasta até o carrinho que vende sorvete.

O homem nos atende com um sorriso no rosto, provavelmente contagiado pela animação dos meus dois companheiros de passeio, e eu não posso deixar de rir quando ambos pedem sorvete de baunilha ao mesmo tempo. Com suas casquinhas em mãos, eu pago e voltamos a nos sentar naquele mesmo banco. Ambos tomam seus sorvetes deliciados enquanto conversam alegres. Eu, na verdade, não ouço o que eles dizem. Minha atenção e meus pensamentos estão longe e em tantas coisas que não posso definir uma pauta principal. A mulher desconhecida a qual fez tanto mal a Harry que ele ficou doente dessa forma, o encontro de Sharon e Mat, minha mãe e meus estudos. Fecho os olhos por um instante, sentindo o sol bater contra minha pele branca, aquecendo-a agradavelmente. Quando os abro novamente, vejo Marie pular do banco e correr em disparada. Eu arregalo meus olhos, pulando do banco também,  assustando Harry

- Marie! - eu a chamo enquanto puxo Harry na direção em que a pequena menina levada está indo - Aonde vai, Marie? Volte aqui - eu continuo indo atrás dela enquanto Harry aperta meu braço e acompanha meus passos desajeitadamente.

Meus olhos a acompanham de longe até que alguém a pega no colo e meu coração dispara. Elevo o olhar e percebo que foi Sharon quem a pegou. Harry aperta ainda mais forte meu braço e posso ouvir sua respiração descompassada enquanto nos aproximamos das duas.

- Eu vi que você estava correndo atrás dessa menininha - ela sorri enquanto Marie se debate em seu colo e ela me entrega a menina.

- Minha nossa... Muito obrigada! Eu não sabia o que faria se eu a perdesse ou algo acontecesse com ele - sorrio grata e ela retribui enquanto seu olhar pende para Harry e ela me lança um olhar confuso.

- Não há de quê! - diz simplesmente, estreitando o olhar novamente até Harry, mantendo um sorriso no rosto. Eu poderia jurar que ela estava se contendo para me perguntar sobre ele.

- Ai - contesto levemente ao apertão que Harry dá em meu braço - Eu preciso ir, Sharon, nos falamos mais tarde - sorrio levemente e me viro, caminhando de volta ao hospital - E você, senhorita Marie, jamais me faça isso de novo... Você quase me matou do coração -  eu digo enquanto a ajeito em meu colo e a vejo fazer um beiço, mostrando-me o lenço em suas mãos.

- Lixo! - ela diz simplesmente.

- Você deveria ter me pedido para colocar no lixo, não saído daquele jeito - eu a repreendo, mas logo meu coração se derrete.

- Desculpa - ela coloca a cabeça entre meus cabelos, ainda com um beiço.

- Tudo bem, querida... Só não faça isso de novo - digo e sorrio em seguida para ela enquanto atravessamos a rua e já estamos no hospital novamente.

Levamos Marie até seu quarto, para que ela pudesse se lavar da lambuza que havia feito, e abre um sorriso novamente, agradecendo pelo passeio e dizendo que o sorvete estava gostoso enquanto sua mãe, uma mulher baixinha e tão sorridente quanto ela, me agradece também e a acode, levando-a ao banheiro.

Eu e Harry continuamos juntos até a ala psiquiátrica, entrando em seu quarto. Só então ele solta meu braço e sorri para mim, se desfazendo em seguida quando seu olhar para onde sua mão antes repousava. Estava vermelho e talvez até ficasse roxo.

- Não se preocupe... Isso vai passar - sorrio e ele volta a me olhar - Você se saiu muito bem!... - começo a dizer.

- Não... Eu te machuquei - ele passa a mão sobre meu braço, interrompendo-me.

- Isso não foi nada... Logo vai passar. Mas de verdade, você foi ótimo!  Tenho certeza que vão continuar deixando que eu leve você para passear - sorrio, pegando sua mão e o levando até a cama - Eu disse que tudo correria bem... Como se sentiu? - ele apenas balança a cabeça, sem tirar seus olhos dos meus - Bom... Agora descanse, eu volto mais tarde para passar a noite - ele sorri e se deita, virando para a parede e eu saio de seu quarto.

Quando volto ao quarto de Marie, ela está deitada em sua cama, descansando serenamente e eu surpreendo sua mãe chorando silenciosamente na poltrona ao seu lado. Fecho a porta e me aproximo dela cautelosamente, preocupada por suas lágrimas. Abaixo-me ao seu lado, secando uma das gotas que escorriam por sua bochecha.

- Você pode ficar com ela esta noite também? - me pergunta e eu meneio afirmativamente, forçando um sorriso - Os médicos disseram que ela vai precisar voltar com a quimioterapia, apenas o remédio não está adiantando - ela continua - Eu tenho medo de perdê-la... - mais lágrimas escorrem de seus olhos claros.

Eu a abraço subitamente, sentindo minha camiseta molhar. Meu coração se aperta e eu sinto que poderia chorar junto com ela. Eu também não quero perdê-la.