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História We are Better Together - Eles também são meus filhos!


Escrita por: brunacezario

Notas do Autor


Chegou aquela que falou que só ia postar um capítulo por semana...

E eu ia mesmo, mas eu to tombada com vocês e os comentários no primeiro capítulo que tive que correr pra terminar esse capítulo. Eu fiquei com a barriga doendo de tanto rir de vocês em choque, o choque foi tanto que até a moita eu sacudi, fiquei bem besta. Melhores leitoras do mundo todinho mesmo vocês <3

Capítulo do tamanho normal esse sim e provavelmente com mais momentos que deixará todas vocês ué enquanto eu esboço muitas sorrisas.

Ótima leitura!

Capítulo 2 - Eles também são meus filhos!


Nicky estava certa quando falou que as crianças iam adorar a ideia de passar uma hora do final da manhã de sábado na Floresta Encantada.

Na hora do café da manhã, quando Alex contou para eles, a felicidade dos terremotos era comparada a quando ela dizia que eles poderiam comer pudim antes do jantar ou que poderiam almoçar batata frita.

A verdade era que as crianças amavam passar o dia na creche da empresa desde que Piper decidiu que estava mesmo na hora de voltar a trabalhar e que seus bebês viveriam algumas horas longe dela. Era como se fosse o complemento da escola e, infelizmente nos últimos meses eles não passavam tanto tempo mais na creche como costumavam. Tudo havia desandado desde a separação de suas mães e até agora eles não entendiam bem o motivo.

- Eu preciso de um sofá novo. – resmungou Nicky entrando na sala de Alex segurando uma caixa de donuts. – Até eu pedir o divórcio eu preciso de algo que não acabe com minhas costas. – abriu a caixa, mostrando donuts de tudo quanto é sabor e coberturas. – Talvez eu compre um sofá igual ao seu.

- Ou talvez você volte a dormir na sua cama ao lado da sua esposa. – mandou um sorriso irônico para a amiga enquanto pegava um donut com cobertura de creme. – A não ser que Jess não queria mais dividir a cama com você por se dar conta que casou com uma criança. – deu uma mordida no donut. – Porra! Eu só venho nessas reuniões de sábado por causa disso, sabia? – falou com a boca cheia.

- Eu não sou uma criança! – disse ignorando o comentário final da amiga sobre os donuts. Colocou a caixa em cima da imensa mesa de vidro usada para as reuniões. – Você acredita que eu disse que só ia voltar a dormir na nossa cama quando ela desistisse dessa ideia de ter filhos e ela deu de ombros de disso “tudo bem”. Quem fala uma coisa dessas? – o tom era de total indignação e Alex se divertia com cada palavra, tentando não transparecer seu divertimento para não dar ousadia, mesmo sabendo que não faria diferença nenhuma se transparecesse ou não.

- Sabe... – deu mais uma mordida em seu donut, se sentando na mesa de reunião. – Eu vivi para curtir o dia que você seria realmente a trouxa da relação. Seu casamento com a Jess me da motivos para ficar de bom humor o dia inteiro.

- Isso tudo só porque você não tem mais um casamento para ser a trouxa da relação? – a expressão debochada de Alex desapareceu ao fim daquela frase dando lugar a uma expressão fechada. – Desculpa. – ergueu as mãos em redenção. – Eu sei que não devo fazer piadas sobre isso. – fez uma pequena pausa, enquanto a amiga estava com os olhos vidrados na caixa de donuts, disfarçando a chateação pelo que havia acabado de ouvir. – Mesmo que já tenha passado mais de quatro meses e as piadas já deveriam ser liberadas.

- Você não esperou nem um mês para fazer piadas sobre isso Nicky. – o tom não era irritado e nem magoado pelo que a amiga acabara de dizer, na verdade ela já estava acostumada com os comentários de Nicky e até gostava deles. Pelo menos alguém ainda a tratava normal depois da separação. – E eu ainda não entendi o seu problema em ter um filho.

- Você e Piper tiverem filhos e olha só como vocês terminaram. – dessa vez ganhou um olhar de repreensão de Alex pelo comentário. – Desculpa! Não foi de propósito! – Alex balançou a cabeça em negativo. O que seria dela sem Nicky em sua vida? – E depois... Pra que eu vou querer um filho quando...

- Mãe...

Uma garota de seis anos, vestindo um vestido florido, com seus cabelos ruivos presos com uma presilha, parecendo que tinha acabado de sair de algum conto de fadas da Disney, puxou a blusa de Nicky com o intuito de chamar a atenção, como se a chamar de “mãe” já não fizesse automaticamente sua atenção ser voltada a ela, independente da conversa que estivesse tendo.

- A fita está escondida debaixo dos legos, salsicha. Vê se esconde depois que usarem porque se acharem essa fita dessa vez duvido que vocês vão conseguir entrar com outra lá. - balançou a cabeça em negativo, lembrando da última vez que tiveram problemas por causa da fita adesiva.

Alex foi obrigada a rir.

Ainda era uma grande surpresa a Nicky mãe.

Logo ela que teve problemas para aceitar que estava apaixonada. Teve problemas para seguir com seu relacionamento com Jessica e teve problemas até para dizer que a amava. Quem olhava essa Nicky esposa e mãe não acreditaria nunca que era a Nicky de Litchfield que foi presa por causa de seu vício em drogas.

Ela havia mudado.

Não interiormente. Continuava a mesma debochada, sarcástica, irônica e com o grande coração de sempre. Exemplo disso era a oportunidade que nunca perdia de fazer piadas sobre a separação de Alex e Piper. Ela dizia que já havia dado conselho e apoio o suficiente e que daria sempre que a amiga precisasse, mas depois de todos esses meses ela teria que fazer piadas sobre o assunto, mesmo que a crise que causou a separação em si, independente de quantos anos passasse, nunca teria uma boa hora para fazer piadas.

Entretanto, exteriormente, ela parecia outra pessoa. Parecia mais séria por causa das roupas sociais que usava para ir trabalhar durante a semana e por causa de seu cabelo desgrenhado que não fazia mais parte do seu visual do dia a dia.

 E nada disso era por causa de Jess como diziam por ai quando começaram a notar a mudança.

A própria Nicky disse que como a empresa estava crescendo, ela teria que crescer junto com a Floresta Encantada e parar de ir vestida de pijama - como ela foi algumas vezes e se deparou com autores importantes no saguão. Até um tom sério para algumas reuniões ela havia adotado, tendo em vista que nem todos os autores eram como o Devon.

A mudança do cabelo foi por causa da maternidade. Teve um tempo que sua filha disse que queria que seus cabelos ficassem que nem o dela, portanto ela não o pentearia e muito menos o lavaria. Nada convencia a garotinha de que o cabelo de Nicky não era daquele jeito por que ela não o levava. Por mais que a loira fizesse com que a filha cheirasse seu cabelo ou mostrasse o cabelo molhado, como prova de que ele estava limpo, nada a convencia.

O resultado foi que os cabelos ruivos da salsicha ficaram com piolhos passando para todas as meninas de sua sala de aula, incluindo a filha de Alex.

Nesse dia as duas lavaram a cabeça juntas e arrumaram seus cabelos, após isso Nicky nunca mais deixou seus cabelos desgrenhados.

Mesmo com toda a surpresa, Alex ficava feliz por ver que a amiga havia mesmo formado uma linda família, e que mesmo com suas histórias de que pediria o divórcio, se tinha alguém que prezava por aquele casamento era a loira e não tinha nada mais importante para ela do que sua família, ainda mais que a própria Nicky ainda se surpreendia em como estava se saindo bem nessa história de ser mãe e esposa. Sempre pensou que seria uma tragédia nas duas coisas. Mas sabia que o maior mérito disso era que sua esposa e a mãe de sua filha era Jess, se não fosse a morena a pessoa com quem ela estivesse constituindo uma família, com toda certeza já teria estragado as coisas há muito tempo.

- Não mãe. - a garota soltou um longo suspiro, mostrando sua impaciência por Nicky não entender o motivo de tê-la chamado. - Nós já achamos a fita. Queremos saber onde que ta a corda.

- Corda? Desde quando você tem uma...

- Amy, achei! - avisou a filha de Alex segurando uma corda de aproximadamente uns dois metros na mão. - E achei isso aqui também. - mostrou um rolo de fita adesiva maior do que o rolo que Nicky e Alex sabiam que eles tinham.

- Quem vai cuidar delas hoje? - perguntou Alex observando as crianças entrando todas contentes na creche. Como se a corda e as fitas que estavam em mãos fosse uma bola nova. - E não fui eu que comprei essa corda para eles.

- Eu também não comprei. - balançou levemente a cabeça enquanto observava o filho de Alex pegando uma cadeira. - E eu acho que é a Maritza que vai cuidar deles. – deu de ombros. – Pra que a Jess quer outro filhos quando nós já temos a tsunami?

- Desculpa o atraso. - disse Flaca parando no meio das duas e olhando a frente para ver o que as duas tanto olhavam. - Eu avisei a Maritza sobre eles, mesmo que ela já saiba do que eles são capazes, mas eu acho que ela não me levou a sério.

As três deram de ombros e entraram na sala para mais uma reunião.

Alex poderia reclamar sempre que tinha que trabalhar no sábado, mas quando ela estava sentada naquela mesa de reuniões ouvindo as ideias de sua equipe ou apreciando mais um trabalho - como foi na reunião daquele sábado sobre as capas do livro de Red que Flaca havia feito – desfrutando de alguns donuts, ela esquecia até do motivo das reclamações.

Ela amava as reuniões. Especialmente quando não estava em seus melhores dias. Conseguia se desligar do mundo e ser somente a editora da Floresta Encantada. Sua equipe fazia um ótimo trabalho em fazê-la se sentir assim. Todos eram apaixonados pelo que faziam e não existia uma única reunião que não era sinônimo de divertimento. Sempre compostas por piadas, risadas e momentos divertidos. Todos ali eram extremamente unidos e  todos tinham uma parcela pelo sucesso da editora. Depois do discurso de Alex, anos atrás, cada um fazia mesmo o seu trabalho, sem interferências desnecessárias, e como resultado, todos os autores queriam migrar para a Floresta Encantada, mas nem todos eram escolhidos, ainda mais que a prioridade sempre foi buscar novos autores.

Estavam no mês Encantado. Um "evento" que acontecia duas vezes por ano aonde a editora mostrava o que estava por vir divulgando capa dos próximos livros, sinopses, novos autores e até mesmo o trecho do livro que sempre finalizava o mês Encantado com o seu lançamento. Tudo isso seguido de alguma promoção e todos os leitores podiam acompanhar no site e nas redes sociais da Floresta Encantada todas as novidades.

O mês Encantado foi criado pela Nicky no intuito de mostrar para a concorrência que a Floresta Encantada não estava na pior quando boatos surgiram. O resultado foi mais um recorde de vendas e matérias sobre como as pessoas realmente haviam voltado a comprar livros depois que a Floresta Encantada surgiu.

Com isso resolveram tornar o mês Encantado parte do cronograma da editora.

Lembravam-se como se tivesse acontecido recentemente as reclamações de Flaca sobre não conseguir terminar as capas no prazo estipulado, ainda mais que os autores não estavam ajudando devido a suas indecisões e ela não se achava experiente o suficiente. A latina disse que aquele foi o mês mais cheio de adrenalina de sua vida por causa de toda a pressão.

No fim do mês Encantado, Nicky a presenteou com uma cesta de maquiagens com um cartão:

"Você falhou com os góticos! O mês Encantado deixou muitas pessoas esboçando sorrisos. Eu disse que você era foda!"

Como tradição, todo ano, ao fim do mês Encantado, Nicky lhe dava uma cesta de maquiagens e todo o resto da equipe ganhava alguma cesta que Alex a ajudava escolher também com os devidos agradecimentos.

- Bom dia! - um Devon todo sorridente desejou parado na porta de vidro da sala de Alex.

- Não é "bom dia" nem em Londres, cidade que você estará indo hoje a noite e ao invés de estar aqui na editoraria deveria estar em casa arrumando as malas. - disse Alex com um sorrisinho debochado no rosto.

- Alex, por favor. - o tom era de suplica. Os olhos castanhos do autor tinha a expressão de cachorro que caiu da mudança. - Eu não vou conseguir me focar na viagem se você não aprovar o enredo do meu livro novo. - estendeu o Ipad para a morena. - Pior! Vou entrar em block criativo, eu sinto!

- Será que você ainda não percebeu que ela não quer muita conversa por causa da revolta das produtoras que você anda causando? - Nicky passou seu braço pelos ombros de Devon. - Se eu fosse sua editora também estaria muito puta. - deu um soquinho no peito dele.

- Qual é! Vocês viram as propostas absurdas que eu estava recebendo. Meus livros não vão virar filmes.

- Você é a única pessoa no mundo que não quer ver o livro virando filme. - disse Nicky. - Seus leitores todos querem, ainda mais aquelas fãs loucas.

- Se quiserem que meu livro vire um filme igual o da Camilla, por mim tudo bem. - deu de ombros. - Nunca tive um flop pra chamar de meu mesmo.

- Devon... - Alex sentou-se em sua poltrona, levando o óculos até o topo da cabeça, procurando paciência para responder aquilo. Sorrisos discretos nos lábios tanto de Devon quanto de Nicky se formaram. - Não lembre da Camilla. Nunca vou entender como alguém deixou um livro tão delicado se tornar aquilo.

- Olhe pelo lado bom... As vendas aumentaram depois do flop do filme porque ninguém acreditava que o livro poderia ser mesmo infinitamente superior. - disse Nicky em provocação. Sabia como Alex odiava lembrar daquilo. A morena a encarou com uma expressão de tédio. - Se algum dos livros de Devon ficar um flop daquele será o flop de mais sucesso.

- Você não me faça passar por aquilo. - disse Alex com firmeza para Devon. - Caso contrário eu quebro o nosso contrato. Não ligo das produtoras me importunando. Aqueles roteiros são mesmo uma merda.

- Reclama tanto que ainda queria fechar com o King. - Nicky fez um negativo com a cabeça. - Ainda acho que podemos fechar com o Sparks. Os livros são péssimos, mas até que da uns bons filmes. - Alex e Devon a encararam como se não levassem a sério o que Nicky estava dizendo. - O que? A Jess gosta! Os primeiros beijos sempre são idênticos, mas né... - deu de ombros.

- Acho que vocês deveriam abrir a produtora Floresta Encantada. Seríamos a maior concorrência com a Disney.

- Seríamos não por que eu não te quero como sócio, já me basta a Nicky. - a loira fez uma careta com o comentário. - E nós não podemos ser concorrência da Disney quando ela será nossa... Puta que pariu você vai pedir a Danny em casamento com esse livro? - o tom de Alex era de total surpresa.

- Como é que é? - Nicky tomou o Ipad da mão da amiga. - Como assim?

- Está tão óbvio assim? - perguntou em tom desanimado. - Acho que é isso. Cheguei em uma fase da minha vida em que nunca mais vou escrever nada que presta.

- Eu sou sua editora tem 8 anos. - levantou-se da poltrona. - Seu eu não souber suas intenções por trás da escrita pode mudar de editora. - mandou um sorrisinho. - A premissa do livro é ótima. Espero que saiba desenvolver e não me faça passar vergonha. - o sorriso agora era debochado.

- Essa personagem é inspirada na Danny? Faz ela bissexual e me inclui na história.

- Pra você chamá-la de Jess na hora do sexo já que não conseguiu fazer isso na vida real? - Alex perguntou em tom debochado. Em resposta Nicky lhe mostrou o dedo do meio. - E Jess vai adorar saber que você fica pedindo para os outros escreverem cena de sexo sua com a Danny.

- Será que vocês podem parar de falar sobre Nicky fazer sexo com a minha namorada?

- Vai falar que você nunca fantasiou sua namorada fazendo sexo com outra mulher? - Nicky perguntou em tom descrente, cruzando os braços.

- Se eu fantasiei com toda certeza não foi com você. - fez uma careta. - Minha namorada não merece essa falta de respeito da minha parte. - mandou um sorrisinho cínico.

- Vai se foder!

- Devon pode fazer essa parada no caminho de Londres. - passou pela porta da sala. – Enquanto eu vou almoçar com os meus filhos... - parou no meio do caminho, vendo pelo vidro da creche Maritza amarrada na cadeira, com o rosto todo pintado e a boca fechada com fita adesiva. - Mas antes melhor eu soltar minha assistente. - voltou sua atenção para Devon. - Curta Londres, não volte com sotaque que nem da última vez e na quinta-feira meu dia é todo seu.

- Da última vez que você disse que seu dia era todo meu, eu fui para o clube do livro da Beth e da Kat, falei em como os roteirista de 2 Broke Girls apelavam algumas vezes com as piadas de sexo, que ninguém aguentava mais as piadas, e uma das roteiristas, responsáveis pelas piadas estava presente.

- Eu não tenho culpa que sua falta de senso as vezes ganha da falta de senso da Nicky. - a loira a encarou com uma careta devido ao comentário. - Prometo que não é nada disso. - mandou uma piscadela para Devon.

- Te mando nudes, Nicky.

- Como se tivesse alguma coisa para ver nas suas nudes. - respondeu olhando para a calça de Devon e em seguida voltando a olhar para ele com um sorriso debochado.

Devon disse sem emitir som um "vai se foder".

Os três soltaram uma risada e o autor entrou no elevador.

 - Desastres naturais o que eu já falei sobre vocês amarrarem as pessoas que se disponibilizam a cuidar de vocês quando mais ninguém quer? - perguntou Alex puxando a fita adesiva da boca de Maritza. - O que eu já falei sobre não sentar em uma cadeira quando eles pedirem? Eles não são chamados de terremoto, tsunami e tornado, que não está aqui hoje, a toa.

- Essas crianças são possuídas pelo demônio!

- Nós só estávamos brincando de super-herói. - disse a filha de Alex em tom manhoso - Ela era a índia das trevas.

-  Na história ela roubou todas as maquiagens da Flaca, então a gente tinha que impedir ela de roubar mais. - completou Amelia.

- Obrigado por cuidar da gente, Maritza! – o agradecimento foi feito pelo filho de Alex, mas as três crianças abraçaram a latina, que já estava completamente solta, em complemento do que o garoto disse.

 Maritza não deixou de ficar completamente derretida. Eles poderiam ter apelidos de desastres naturais, mas tinham um coração puro. Só inventavam brincadeiras diferentes - e aparentemente mais divertidas - do que as brincadeiras das outras crianças.

***

- Espero que tenha feito o meu pedido. – Jessica se inclinou atrás de Nicky, entrelaçando seus braços em volta de seu pescoço, com aquele largo e doce sorriso que só ela tinha. Mandou uma piscadela para Alex que já estava segurando o riso pela expressão contrariada de Nicky por ter a esposa ali no restaurante com elas e deu um beijo na bochecha da loira. – Eu estou morrendo de fome! – sentou na cadeira ao lado de Nicky na mesa.

- Por que você a chamou para almoçar com a gente? – indagou, tentando passar irritação em seu tom de voz. - Não se pode mais nem almoçar em paz?

- Todo dia eu espero a policia bater em meu apartamento para me prender, pois eu casei com uma criança! – Jess e Alex deram um high-five assim que viram a careta de Nicky pelo comentário. – Amy o que eu já falei sobre tentar tomar milk-shake pelo nariz? – perguntou a médica sem tirar sua atenção da mesa da frente em que estavam os desastres naturais já com seus almoços que mais parecia um lanche da tarde de tanta besteira que tinha.

- Chegou a chata! – a garota empurrou o copo com o líquido para o meio da mesa revirando os olhos.

- Salsicha! – repreendeu Nicky. A garota só ergueu os ombros. Ela sabia que não devia responder a mãe daquele jeito.

- O que você andou dizendo para ela? – Jessica semicerrou os olhos, cruzando os braços, mostrando que, independente do que Nicky respondesse, seria pouco provável que acreditaria nela. – Diferente de você, ela não pode pedir o divórcio, eu sou a mãe dela, vai ter que me aguentar pelo resto da vida.

- Quem aqui está falando em divórcio? – perguntou com falsa ofensa. – E eu não disse nada para ela! Passei a manhã trancada em uma sala de reuniões escolhendo capas com foto de galinhas para o livro da Red.

- Eu vou poder ir na segunda-feira para ajudar na escolha da capa, não vou? – o tom da pergunta parecia o de uma criança quando perguntava se podia brincar mais um pouco com seu melhor amigo e a expressão de seus olhos verdes também não fazia com que fosse diferente. – A galinha vai mesmo estar presente na reunião segunda?

Alex soltou uma gargalhada com a pergunta. O garçom que havia chegado com os pedidos levou até um susto. Não conseguiu nem se desculpar por aquilo, pois se lembrava perfeitamente do dia que Nicky inventou essa mentira e prometeu que não falaria nada até o dia que Jess perguntasse sobre. Em segundos sua gargalhada juntou-se com a de Nicky que não conseguiu se segurar ao ver a expressão confusa da esposa.

- Nossa como vocês são engraçadas! – ironizou ao perceber que havia sido enganada. – Não sei como ainda não escreveram um livro de humor juntas para a Floresta Encantada publicar.

- A galinha está com a agenda lotada. – debochou Alex. – Talvez ela compareça no lançamento do livro.

- Que bom saber que você está bem, Alex. – disse sarcasticamente. - Está fazendo até piadas.

- Nunca disse que não estava bem. – Jess a encarou com uma expressão de tédio. Não acreditava naquilo nem por um segundo. – Já tem mais de quatro meses, e finalmente eu estou passando um tempo com os meus filhos, não tem motivo para eu não estar bem.

- Ela te ama.

- É... – soltou um suspiro, jogando suas costas no encosto da cadeira. – Amor nunca foi realmente o nosso problema. – balançou a cabeça em negativo. Ainda não acreditava na explosão que as levaram até aquele momento. – Se eu soubesse nunca tinha sugerido a porra daquela terapia de casal. Sempre achei que terapia de casal fosse pra unir os casais, não separá-los.

- Eu falei para você tirar Grey’s Anatomy da vida da Chapman enquanto ainda era tempo. – levou um pouco de sua salada até a boca. – Aquela série enquanto continuar destruindo vidas dentro e fora da televisão nunca vai acabar.

- Eu tentei conversar com ela, mas você sabe como minha irmã é quando coloca alguma coisa na cabeça.

- Jess... – Alex encarou a médica por alguns segundos. Jess a encarou de volta, esperando que ela continuasse.

Sem conseguir prosseguir, e tentando parecer séria, ela só fez um negativo com a cabeça, voltando a comer seu almoço. Nunca iria se acostumar com aquilo, além de sempre ter vontade de rir, pois lembrava da expressão contrariada de Piper. Só que nos últimos meses, lembrar de qualquer um desses momentos, fazia com que sua vontade de rir desaparecesse completamente. Poderia tentar se enganar, mas sabia que não estava bem e só ficaria quando tivesse a esposa de volta.

***

- Amy desde quando o meio da casa é lugar de deixar sapato? – perguntou Jess parada na frente da sapatilha azul que estava no meio do caminho entre a cozinha e a sala. A garota que estava no sofá assistindo televisão nem se moveu, fingindo não escutar absolutamente nada do que a mãe acabara de dizer. Nicky que estava na cozinha pegando um iogurte, se encostou na bancada, observando até aonde aquilo ia. – E esse monte de legos espalhados? Você está querendo que alguém se machuque?

- Se está tão incomodada assim o cesto está ali. - apontou para o canto da sala. - Pode começar a recolher.

Nicky segurou a colher que tomava o iogurte entre os dentes se segurando para não rir. Não aprovava quando a filha era malcriada, sempre que via tal cena a repreendia, mas não deixava de se divertir com a expressão de espanto que Jess fazia sempre que Amy a respondia.

Se conseguisse ler pensamentos, com toda certeza o cérebro da esposa estaria berrando "Quem é você e o que você fez com a minha filha?".

Aquele não era mesmo um comportamento habitual de Amelia. A garota fazia birra e manha como qualquer criança de sua idade, mas dificilmente costumava responder Jessica ou Nicky e, quando isso acontecia, imediatamente ela procurava se desculpar. Sabia que aquela não era a educação que suas mães haviam lhe dado.

Quando a garota se comportava desse jeito, Jess sabia que alguma coisa estava errada. A filha não falaria o que era, não imediatamente - coisa que ela tinha certeza que ela havia puxado de Nicky -, então ao invés de gritar com a filha ou deixá-la de castigo, Jess respirou fundo, pedindo para que aquilo fosse mesmo mais um dos momentos de que algo estava incomodando sua princesinha ruiva, caso contrário não iria saber lidar com sua filha chegando a "aborrecencia" aos seis anos de idade ou simplesmente ter resolvido se tornar aquelas crianças malcriadas que não respeitam os pais e começam a matar  aula para usar drogas, ficar bêbada e aparecer grávida sem nem ao menos saber quem é o pai...

Jess volta pra Terra!

A paranoia de Jess era algo que fazia com que Nicky observasse tudo de longe também. A esposa era uma ótima mãe, mas as vezes ela se superava.

A médica balançou a cabeça tentando afastar todos os seus pensamentos loucos. Se encaminhou até a sala e parou em frente a televisão.

Com o intuito de ignorar a mãe, Amy se moveu um pouco para o lado do sofá e estendeu um pouco pescoço, na tentativa de continuar o que é que fosse que estivesse assistindo através de Jess.

Se fosse outra pessoa, com toda certeza já teria explodido com a criança, mas não Jess. A paciência da médica havia se duplicado desde a maternidade. Poucas foram às vezes que Nicky viu a esposa realmente brigando com a filha. Jessica procurava criar a filha da mesma forma que foi criada – com a ajuda de Nicky, nunca dispensava ouvir o que a esposa tinha a dizer sobre a forma de educar a filha, mesmo que Nicky fosse a que mais mimasse a garota. -, sempre sentava e conversava, até mesmo nas vezes que Amy iria ficar de castigo por algum motivo.

Pegou o controle remoto em cima do sofá e desligou a televisão. Amelia bufou e se moveu mais para o lado, quase se fundindo com o abraço do sofá por Jessica ter sentado ao seu lado. Cruzou os braços e ficou de costas para a mãe, ainda tentando ignorar a sua presença.

- Amy o que aconteceu? Fala com a mamãe, filha.

O tom cheio de ternura de Jessica fez com que Amelia descruzasse dos braços, mas ainda assim não encarava a mãe. Jess tentou tocá-la, fazer com que a filha a olhasse, mas a garota se afastou do toque e quando finalmente decidiu olhar para a mãe, lágrimas escorriam de seus olhinhos verdes.

- Vocês não podem ter outro filho! – ela passou as mãos pelo rosto, tentando espantar as lágrimas, mas era em vão. Assim que falou “outro filho”, mais lágrimas passaram a cair. – Eu não quero que vocês me troquem por ele.

Jessica tentou se aproximar novamente da filha, com um olhar totalmente complacente. Odiava ver a filha chorando, a dor de ver sua pequena assim era parecida com um corte de bisturi.

Amelia se afastou mais uma vez dela.

- Ei salsicha. – Nicky sentou entre a filha e Jess no sofá. Também não era fã de ver a filha chorando. Sua pequena diversão sobre as duas mulheres de sua vida interagindo sempre acabava quando uma delas começava a chorar. – Por que você acha que vamos te trocar se tivermos outro bebê?

- Por que eu não sou filha de vocês.

As duas mães se entreolharam. Sabiam que por mais que a filha fosse inteligente, ela ainda era uma criança, e não deveriam ter contado a verdade – da melhor forma que encontraram – que ela era adotada tão cedo.

Quando as perguntas cessaram, depois de uma semana do questionamento da garota sobre Jessica não ter nenhuma foto grávida dela, pensaram que Amy estava convivendo melhor com tudo que ouviu, talvez estivessem se enganado. Agora teriam que encontrar outra forma de explicar para a filha que, independente de quantos filhos tivessem, ela não seria trocada.

Mesmo que Amelia ainda relutasse, Nicky conseguiu puxá-la para que sentasse em seu colo e enxugou algumas lágrimas que escorriam pelas suas bochechas que já estavam completamente vermelhas por causa do choro.

- Quem disse que você não é nossa filha? – Nicky perguntou no tom mais ameno que conseguiu. Odiou descobrir que depois de tudo que contaram a criança se sentia como se não fosse mais filha delas.

- Vocês. – escondeu seu rosto entre o pescoço e peito de Nicky. Gesto que costumava fazer desde bebê, independente do seu estado emocional.

- Nós nunca falamos isso. – respondeu Jess, passando as mãos pelos cabelos da filha. Mais um pouco conseguiria ouvir os pedaços de seu coração caindo no chão por ver sua princesinha ruiva daquele jeito. – Nós falamos que você não nasceu daqui. – levou a mão até sua barriga. – Mas isso não significa que você não é nossa filha.

- Mas eu ouvi vocês duas conversando. – seu olhar tristonho se voltou para Jess. A médica estava esperando o momento que a filha começaria a chorar novamente, e dessa vez não sabia se ia conseguir não chorar junto com ela. – Você disse que queria um bebê saindo daqui. – apontou para a barriga de Jess. – Ele vai ser seu filho, eu não.

- Isso quer dizer que ele não vai ser meu filho também? – perguntou Nicky, fazendo com que os olhinhos azuis a encarasse com confusão. – Por que ele não vai sair daqui – apontou para sua barriga – de mim. Assim como você não saiu, mas mesmo assim você é minha filha, não é?

Perceberam o olhar de confusão da garota. Não estavam sendo claras o suficiente para que uma criança de seis anos entendesse algo simples – para alguém mais velho – que para ela estava sendo uma confusão.

- Princesinha... – Jess fez um carinho na bochecha da filha, com um pequeno sorriso, tentando processar o que diria a seguir para não deixar a filha mais confusa do que já estava. – Sabe quais as três principais coisas que as mães fazem pelos seus filhos? – Amelia a encarava com os olhinhos curiosos esperando pro uma resposta. – Panquecas no café da manhã, contam histórias antes de dormir e dão muito amor. Nós fazemos isso por você, não fazemos? – a garota fez um positivo com a cabeça. – E existem muitas crianças que, assim como você, não nasceram daqui – apontou para sua barriga -, mas tem uma mãe que os ama bastante assim – esticou os braços, mostrando o tamanho do seu amor. – E você é muito mais especial porque tem três mães que te amam assim, pois mesmo que a terceira não esteja aqui, ela está te amando lá das estrelas.

- Se nós tivermos outro bebê você não vai ser trocada. – completou Nicky. – Por que você vai ser a irmã mais velha. – passou uma mecha do cabelo da filha para trás da orelha, totalmente aliviada por ver que os olhinhos voltaram a brilhar por finalmente entender o que as mães estavam dizendo. - Irmãs mais velhas, se você não sabe, tem a missão de contar para o irmãozinho como eram as coisas aqui fora enquanto ele estava dentro da barriga da mamãe. Como trocar alguém com uma missão tão importante?

- O Finn teve essa missão quando o Ben nasceu?

- Claro que teve! – respondeu Jess, também aliviada por, aparentemente, ter conseguido acalmar a filha. – Eu queria ter tido uma irmã ou um irmão para ter essa missão também.

- Eu não... – Nicky fez um negativo com a cabeça, ganhando um olhar de confusão das duas. – Irmãos mais novos roubam os seus brinquedos e tinham certos ursinhos que eu não ia gostar que fossem roubados.

- Ele não precisa roubar. – respondeu em um tom quase que horrorizado por ouvir aquilo. - Só é pedir que eu empresto.

As suas se entreolharam, com um olhar cheio de amor e ao mesmo tempo orgulhoso, como se uma dissesse para a outra que estavam fazendo um ótimo trabalho, mesmo nas situações mais delicadas. Mesmo que o mérito disso fosse da própria filha que era uma das crianças mais fáceis do mundo de lidar.

- Nós te amamos, Amy. Te trocar não faz parte dos nossos planos. – garantiu Jess abraçando a filha e lhe dando um beijo na cabeça para ela ter certeza que a mãe estava falando sério.

- Eu também amo vocês.

Amelia passou um de seus braços pelo pescoço de Nicky e o outro pelo de Jessica, puxando as duas mães para um abraço. Foram obrigadas a apertar a filha naquele abraço e as duas a encheram de beijos. O som da gargalhada de Amy pelo gesto, fez com que o coração de ambas se aquecesse novamente. Só aquele ser ruivo para fazer com que, em questão de segundos, seus corações despedaçados voltassem a ficar inteiros. Amavam tanto aquela criança que se pudessem a colocariam em um potinho só para que ela nunca perdesse aquela inocência e fosse sempre o bebê delas.

- Vocês podem ter outro bebê. – disse a garota descendo do colo de Nicky. – Assim ele também pode me ajudar a pegar todos os brinquedos.

- E ainda diz que não é minha filha. – disse Nicky com um sorriso. – Esse seria o único motivo para eu querer ter um irmão, só que eu faria com que ele pegasse os brinquedos sozinhos. – mandou uma piscadela para a filha que respondeu aquilo com um sorriso sacana, o mesmo que Nicky tinha quando concordava ou pensava em coisas erradas. Jessica lhe deu um tapa no braço, a repreendendo por aquilo. – O que foi? Só estou dizendo a verdade!

- Então aproveitando esse momento verdade... Amy disse por que ela não quer ter um irmãozinho, mesmo que ela tenha mudado de ideia por achar que vai poder fazê-lo de escravo, mas você ainda não disse por que não quer ter outro filho.

- Você sabe que eu odeio não conseguir dormir a noite! – Jessica a encarou com uma expressão descrente. Nicky já foi muito melhor em inventar desculpas. – Pra quem não queria ter filhos, uma já está de bom tamanho. Não precisamos aumentar mais a família.

- Quando quiser voltar a dormir na cama é só me contar a verdade sobre o motivo de você não querer ter mais um filho, tudo bem? – levantou-se do sofá. - Só não invente de pedir o divórcio, pois não vai acontecer. – mandou um sorriso em provocação para a Nicky.

A loira, retribuindo o sorriso, a puxou pelo braço, fazendo com que a esposa caísse em cima dela e a beijou.

- Quem aqui falou alguma coisa de divórcio, sua louca?

Jessica fez uma careta divertida em resposta, arrancando risos de Nicky e em seguida a beijou. Com ou sem bebê novo, independente de quantas vezes fosse necessário, sempre escolheria Nicky como sua esposa, mãe de sua filha e a pessoa que lhe fazia feliz.

***

Com o intuito de acalmar os filhos e dizer que, mesmo depois da separação, eles ainda seriam uma parte importante de sua vida - para não dizer a mais importante - Alex colocou no canto da sala de seu apartamento uma mesinha toda colorida e nela um quebra-cabeça de 10 mil peças que eles sempre montavam um pouco cada vez que as crianças passavam um tempo com ela.

Foi o único jeito que Alex encontrou para dizer que eles se veriam novamente, caso contrário o quebra-cabeça permaneceria incompleto.

O que ela escondeu de seus filhos era que sempre que olhava para aquele quebra-cabeça sentia-se exatamente como ele: incompleta. Não era a mesma coisa chegar ao seu apartamento e não ouvir a risada das crianças ou o latido de seus cachorros, tanto que não conseguia chamar o seu apartamento de casa, pois tudo que ela amava morava na casa perfeita.

Resolveram usar o sábado a noite para montar mais um pouco do quebra-cabeça. Alex não deixava de abrir largos sorrisos e soltar gargalhadas com a felicidade dos filhos sempre que uma pequena parte da paisagem era completada. Até algumas dancinhas e comemorações com high five eles haviam inventado.

Sem duvidas, depois do Pica-Pau, montar o quebra-cabeça era algo só dos três, e nas horas que passavam sentados no chão, rindo, contando histórias ou somente se provocando enquanto encaixavam as peças em seus devidos lugares, parecia que nada havia mudado nos últimos meses.

Até a campainha tocar...

O sorriso que Alex tinha no rosto desapareceu quando viu que era Piper do outro lado da porta. Esperava poder ficar com as crianças até segunda-feira como foi o combinando quando a esposa disse que precisaria viajar com Polly em nome da PoPi.

Naquele momento sua realidade voltou com tudo.

As coisas haviam mudado. O apartamento não era o lugar que ela chamava de casa. Seus filhos não moravam com ela. Seus cachorros não moravam com ela. O grande amor da sua vida não morava com ela. Ela estava mesmo separada de Piper.

O mais engraçado era que, mesmo com todo o choque de realidade, e sua expressão surpresa ao ver Piper parada em sua frente, seu coração não deixou de ficar feliz ao vê-la. Sabia que dentro de alguns minutos elas discutiriam, que seu coração continuaria se quebrando em pedaços por toda aquela situação, mas ela amava aquela mulher em sua frente.

Sempre que ficava em um mesmo ambiente que Piper, torcia para que a esposa dissesse que cometeu um grande erro e com o tempo que passaram separadas ela percebeu isso, assim poderia acariciar o rosto dela, admirando cada detalhe que denunciava que mesmo com o passar de todos esses anos a feição de Piper não tinha mudado absolutamente nada e a beijar com todo o amor que tinha dentro de si, mostrando que o amor delas era mais forte do que qualquer coisa e assim voltá-la a admirar novamente.

Desde que foi mãe parecia até que ela estava mais bonita. Os cabelos estavam mais longos. Resolveu não cortá-los enquanto estava grávida e depois que as crianças nasceram não se atreveu a cortá-los. Colocou em sua cabeça que o cabelo grande a deixava mais jovem e que quando seus filhos completassem 18 anos não diriam que ela era mãe deles.

Sentia falta disso. Sentia falta de Piper. Sentia falta de sua vida com Piper.

- O que você está fazendo aqui? – finalmente conseguiu perguntar sem nem ao menos tentar esconder sua surpresa. – Você disse que só ia voltar na segunda-feira.

- Eu ia me matar se eu tivesse que ir ao evento de amanhã e tenho certeza que Polly me acompanharia, então demos um jeito de nossa presença não ser necessária. – tentou olhar dentro do apartamento, ainda mais por Alex não ter feito menção de dar passagem para ela entrar. – Eles já estão dormindo?

- Não, mas eu pensei que nós...

Alex não conseguiu concluir.

Mesmo sem convidá-la para entrar, quando percebeu Piper já estava em sua sala, agachada na altura das crianças recebendo um abraço. Poderia ficar feliz com aquela cena, se não soubesse exatamente o que significava.

- Nós não vamos embora. – a garota se adiantou a dizer. – Mamãe vai levar a gente no zoológico amanhã. Ela prometeu!

- O zoológico vai ter que ficar para outro dia. Eu estou longe de vocês desde quinta-feira, mereço um dia com vocês, não mereço?

- Você vai ter o resto da semana com a gente. – o garoto respondeu em tom contrariado, mais uma palavra contra o zoológico que ele ouvisse saindo da boca da mãe era capaz dele começar a bater os pés no chão em revolta. – Todo mundo já foi ao zoológico, menos a gente.

- Eu prometo que vou marcar outro dia para nós três irmãos ao zoológico, tudo bem? – Alex tentou soar amena, mas também odiava o que Piper estava fazendo. – Vão pegar as coisas de vocês.

Os olhinhos verdes de ambos a olharam com tamanha tristeza antes de caminharem até o quarto. Aquilo a dilacerou completamente. Não podia dizer que entendia o que Piper estava fazendo, pois depois de todos esses meses, não fazia mais o menor sentido.

- Eles também são meus filhos! – explodiu entre dentes. Não queria que as crianças ouvissem mais uma das discussões das duas.

- Algum dia eu falei que eles não eram seus filhos?

- Você está me tratando como se eu fosse um pai ausente que só vê os filhos duas vezes por ano. Eu não sou! – passou a mão pelos cabelos, os jogando pra trás, procurando paciência para terminar aquela discussão, mesmo sabendo que mais uma vez não ganharia. – Você disse que essa separação seria a melhor coisa para essa família. Adivinha? Não está sendo! Pode me culpar até pela porra da seca no Brasil, Piper, mas para de colocá-los no meio disso. Eles não têm culpa. – Piper baixou os olhos. Queria responder, mas mesmo depois da separação, disseram que continuariam sendo sinceras uma com a outra. Alex soltou um riso, completamente incrédula. – Quando você vai parar de me culpar?

Foi salva da resposta com as crianças voltando para a sala, cada uma com uma mochila nas costas e os olhos vermelhos, mostrando que a qualquer momento começariam a chorar. O que não demorou muito, só foi o tempo de Alex ficar da altura deles e os apertarem em um abraço.

Não entendam errado. Piper não havia virado uma megera sem coração. Ver seus filhos chorando lhe destruía e tudo ficava pior por saber que ela era a culpada por eles estarem chorando. Só que ela não sabia como resolver aquela situação, e a opinião de Alex era a última coisa que ela queria na vida. Pensou que com o tempo que estavam separadas conseguiria clarear seus pensamentos e resolver as coisas dentro de si. Por um tempo pensou ter obtido algum sucesso, mas depois se deu conta que a situação era pior do que imaginava.

- Prometo que quando remarcarmos o zoológico vou dar um jeito de vocês escorregarem até no pescoço da girafa, ta bom? – limpou com os polegares as lágrimas que ainda caiam dos olhos dos filhos e deu um beijo na testa de cada um.

Não teve resposta positiva das crianças sobre a promessa, na verdade não teve resposta nenhuma, pois eles não acreditavam que essa seria uma promessa que a mãe cumpriria. Alex sabia disso e todas as partes de seu corpo doíam por saber que estava falhando com os filhos desse jeito.

- Espero que você esteja feliz. – disse ríspida em um tom que só Piper poderia ouvir enquanto os filhos se encaminhavam para fora do apartamento.

A loira só soltou um suspiro e seguiu os passos deles. Não estava nenhum pouco feliz e Alex deveria saber disso.

- Litch! Lolita! Vamos! - os cachorros que estavam deitados em cima do sofá nem se moveram ao ouvir a voz de Piper. – Sério? – Alex deu de ombros. Não obrigaria os cachorros a irem com ela também contra a vontade. – Leva eles para a Floresta Encantada na segunda.

- Ah eles podem passar o fim de semana comigo? – perguntou debochadamente.

- Tchau, Alex.

Seu coração não estava mais feliz quando a porta fechou atrás de Piper. Ele estava frustrado. Sempre sabia exatamente como acabaria esse encontro das duas e mesmo assim não deixava de se frustrar.

Antes ficava aflita, se sentindo impotente quando Piper não conversava direito com ela, limitando-se a dizer frases curtas ou respostas monossilábicas. Agora ficava irritada e ainda sentia-se impotente porque mesmo que a esposa falasse frases completas, tudo que conseguia ouvir era o som de seu coração despedaçando por toda aquela situação.

Ainda amava aquela mulher. Sempre amaria. Planejava ter sua família de volta só que enquanto Piper estivesse a culpando ainda pelo que aconteceu, não sabia exatamente como faria isso. Tinha certeza absoluta que a esposa ainda levava muito a sério o que a terapeuta havia dito e isso as vezes era pior do que a separação em si.

***

As crianças foram o caminho inteiro de volta para casa em silêncio. Por mais que Piper tentasse soar animada com diversas perguntas sobre esses últimos dias mal conseguia um olhar dos filhos.

Pelo retrovisor do carro ela conseguia ver a expressão triste dos dois. Cada um sentado em uma ponta do carro, olhando pela janela e soltando alguns suspiros totalmente chateados e desacreditados.

Deveria estar uma bagunça dentro de seus terremotos por causa do giro de 360 graus que deu em suas vidas.

Uma hora eram uma família completa que acordavam fazendo cookies ouvindo algum CD das bandas de rocks favoritas de Alex. Na outra mal viam a mãe e viviam nessa guerra de quando que quando viam tinham os segundos contados com ela quando pensaram que nunca teriam, pois sempre ouviram que a mãe estaria sempre lá por eles.

Ao chegarem em casa o tratamento do silêncio continuou. Deixaram Piper falando sozinha no andar debaixo enquanto subiam para seus quartos. Sempre era uma briga para eles irem dormir logo no fim de semana. Não naquele dia. Depois de terem o final de um sábado que havia começado bem divertido estragado, o que restava para os dois era dormir.

Quando Piper subiu para ler a história e dar o beijo de boa noite, as crianças já dormiam - ou fingiam que dormiam só para não ter que lidar com ela.

Queria sorrir ao ver os dois dormindo juntos no quarto do garoto, mas sabia que eles não estavam dividindo o quarto por quererem ficar conversando até tarde achando que ela não perceberia, mas sim por estarem tristes.

Soltou um longo suspiro. Era errado continuar fazendo aquilo com eles. No final das contas Alex estava certa, independendo do que aconteceu, a culpa não era deles.

Após tomar um longo banho, desligando seus pensamentos da última hora, deitou-se em sua cama, deixando o corpo relaxar. Poderia passar a viagem inteira trabalhando em nome da PoPi, indo em eventos ou reuniões, mas nada lhe cansava mais do que aquela separação.

Poderia mentir para todo mundo ao seu redor, mas para si mesma não conseguia. Sentia falta de Alex, de seus beijos, de seus toques, de sua presença ao lado da cama, ainda mais quando tinha péssimos dias e a esposa começava uma conversa totalmente idiota com o intuito de fazê-la rir ou simplesmente ficava ali ao seu lado, em silêncio, a olhando como se tentasse memorizar cada milímetro de seu rosto.

Sempre que tinha péssimos dias olhava para o lado de Alex na cama e seu coração apertava. Poderiam estar separadas, mas isso não significava que não a amava. Mesmo que tenha pedido para Alex deixar a casa perfeita dizendo que aquele casamento havia acabado, cada palavra que falou naquele dia saiu como uma arranhada em sua garganta. Ela amava aquela mulher. Só que amor naquele momento não era o suficiente. Seu coração estava fingindo que não guardava seus sentimentos e só estava ali com a função de bombear o sangue mais nada.

Não existia amor que salvaria seu casamento naquela época e  acreditava que ainda não existia no momento atual e que elas eram melhores separadas.

Foi tirada de seus pensamentos com seu celular tocando. No visor encontrou uma chamada de video de Polly.

- Posso te mandar os documentos amanhã Pol? Eu estou...

- Vai tomar no cu, Piper. - despejou. Piper franziu as sobrancelhas, totalmente confusa. - Você disse que a porra dessa separação seria ótima para vocês e que seus filhos não ficariam no meio. - respirou fundo. Polly estava visivelmente irritada e não era teatro dessa vez. - Filha da puta mentirosa! Eu não ligo de você estar separada da Alex, não ligo mesmo. Você sabe o quanto eu não suporto aquela desgraçada, mas os seus filhos não tem nada a ver com isso. Eles só são crianças caralho! E amam as duas mães iguais e não merecem ser privados de passar um tempo com a outra mãe só por que você decidiu acabar com a porra desse casamento. Pode resolvendo esse caralho sua desgraçada, caso contrário, mesmo que a Alex não queira, vou mandar ela entrar na justiça pra resolver essa porra.

- Ela ligou para você?

- Claro que ligou! Ela é minha amiga, sua vadia. Ela está arrasada com você sendo filha da puta. E eu odeio vocês duas por me colocarem nessa situação, mas odeio mais ainda vocês colocarem as crianças nessa situação a ponto de fazê-las chorarem. - o tom já estava mais ameno, pois pela expressão de Piper ela sabia que a amiga já estava começando a entender. - Chegou aquela famosa hora de parar.

Piper só fez um positivo com a cabeça. Estava mesmo na hora de parar com aquilo.

Piper

Passa aqui pra nos pegar as 8:30?

Alex

Nos?

Piper

Você não achou mesmo que eu ia perder a primeira vez dos nossos filhos no zoológico, achou?

E nós precisamos conversar.

Alex

É... Precisamos.


Notas Finais


qq ta conteseno? Obrigada pelas ameaças gente. Guarda todas com muito carinho aqui dentro do meu coração <3

Próximo capítulo só daqui uma semana de verdade, verdadeira agora, eu acho, nunca se sabe.

Até lá <3


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