História What was born to be - O grande dia

Eu me sentia completamente nervoso, nervoso como nunca antes na minha vida. 

Era pouco menos de oito da manhã, eu havia acabado de acordar e já me encontrava sozinho na cama. Suspirei, lembrando da noite anterior e soltando uma pequena risada. 

— Jeon Jeongguk! Obedeça à sua mãe! — minha omma Hyuna bradou, revoltada como não a via desde que eu era apenas uma criança arteira que corria pela casa.  A ômega estava completamente irredutível em sua decisão, seu rosto estava vermelho pela desconcordância que eu estava tendo com ela — Você e Jimin irão dormir separados hoje e ponto! 

— Mãe, eu não sou mais uma criança. — disse, um sorriso indignado no rosto. — Você não pode decidir isso por mim e por Jimin. — disse, arqueando as sobrancelhas. 

— Mas isso não está certo! Jiyoon, diga a ele que deve me obedecer! — ela se virou então para a esposa, a procura de apoio, e a mulher deu de ombros. 

— Sinto muito amor, mas dessa vez eu terei que concordar com nosso filho. Eu me lembro bem da véspera do nosso casamento quando você se recusou a dormir na mesma cama que eu. — então a alfa fez uma careta, a expressão mostrava o desgosto com àquela decisão da esposa. — Até hoje eu não entendo o sentido disso. 

Minha mãe suspirou, completamente indignada com a falta de apoio que estava tendo. Jimin olhava a conversa em silêncio, parecia não saber se deveria ou não dizer alguma coisa, mas eu sentia pela marca que o ômega estava se divertindo, de certa forma, com a pequena discussão. Yoongi comia como se nada estivesse acontecendo, parecendo completamente desinteressado com o assunto em  questão. 

— Eu estou só pensando no bem estar deles, ok?! Jimin precisa descansar essa noite, pois amanhã terá muita coisa para fazer antes do casamento começar. Não quero que o pobrezinho esteja dolorido ou cansado por ter dormido pouco, porque eu bem conheço o filho que tenho. Não vai querer dar uma folga para ele! — Hyuna completou, apontando para mim uma colher de forma ameaçadora enquanto estreitava os olhinhos doces em minha direção. 

Jimin, no momento que entendeu do que minha omma Hyuna estava falando, corou no mesmo instante, abaixando o olhar com certo constrangimento. 

Arqueei as sobrancelhas em resposta a minha omma, me sentindo levemente ofendido com a sugestão de minha progenitora. Jiyoon segurou o riso enquanto dava mais um gole em sua taça de vinho. Notei Min segurando a risada também, o que me fez perceber o quão discreto o alfa poderia ser; estava atento ao assunto mesmo que não demonstrasse.

— Omma. — disse, num tom calmo, não querendo realmente prolongar o assunto sobre minha vida sexual com Jimin na hora do jantar.  — Jimin e eu vamos dormir juntos essa noite. A não ser que ele queira, por conta própria, dormir separado de mim. — disse, tentando manter o tom sério, por que Hyuna claramente estava falando sério sobre aquilo. — Você quer dormir em um quarto separado hoje, meu bem? — perguntei, me virando dessa vez para o Park e segurando em suas mãos.

O ômega levantou o olhar até o meu, seu rosto já em sua coloração rosada normal, e então ele sorriu, fazendo seus olhinhos transformarem-se em apenas dois risquinhos. 

— Na verdade… Vou me sentir melhor se dormirmos juntos do que separados. — comentou e se virou para a Hyuna, que murchou a pose, não tendo outra coisa a fazer a não ser aceitar nossa decisão. 

Quando nos deitamos na noite passada, eu realmente ia deixar Jimin descansar o máximo que pudesse, as palavras de minha omma ressoando em minha cabeça, apesar de tudo. Mas fora Jimin quem subiu em cima de mim e iniciou um beijo quente e cheio de desejos. 

E, bem, que alfa seria eu se negasse alguma coisa para meu ômega? 

E ali estava eu, na manhã seguinte, deitado sozinho naquela grande cama, apenas o cheiro fraquinho de Jimin ao meu lado na cama, como de alguém que havia saído dali a um bom tempo já. Suspirei, desejando que pudesse, ao menos, vê-lo no café da manhã.

Foi esse pensamento que me fez levantar da cama num pulo, seguindo até o banheiro para tomar um banho rápido antes de descer para o café da manhã, com a expectativa de conseguir ver meu ômega, ao menos um pouquinho, antes do casamento propriamente dito.

Foi inevitável minha expressão de desapontamento quando cheguei na cozinha e encontrei apenas Jiyoon e Yoongi sentados, começando a servir seus pratos. 

— Parece que teremos um café da manhã de alfas, afinal. — disse Jiyoon, parecendo um pouco rabugenta. Me sentei ao seu lado, ainda me sentindo decepcionado. 

— Omma Hyuna está com Jimin? — perguntei, mesmo que já soubesse a resposta, começando a me servir de suco e algumas torradas. 

— Ela levantou cedo para acompanhar Jimin com sabe-se-lá o que. — a mais velha resmungou, enquanto abria seu jornal. — Sabe, depois de vinte e cinco anos casada, eu não sei mais o que é dormir sem sua mãe. No momento em que ela sai da cama, eu acordo. — ela fez uma careta e me olhou, mas logo voltou sua atenção para o jornal. 

— Certo. — respondi, meio incerto se ela esperava alguma resposta ou não. Yoongi comia seu café da manhã em silêncio, enquanto também lia um jornal. 

Naquele momento, me senti levemente deslocado. Franzi o cenho. 

— Bom, os preparativos lá fora já começaram, a beta que irá te ajudar a se vestir já está para chegar e, bom,  é o seu dia de noivo, meu filho! Aproveite. — Jiyoon então olhou para mim novamente, dessa vez carregava uma expressão completamente satisfeita e feliz. — O casamento finalmente irá acontecer! — disse, feliz. 

Soltei uma pequena risada, concordando com a mais velha. Meu mau humor instantaneamente indo embora enquanto eu sentia minhas entranhas se revirando pela ansiedade. Finalmente o casamento ia acontecer, e aquilo era uma loucura, eu nem podia acreditar! 

Alguns meses atrás eu tentava arrumar qualquer solução para acabar com isso e agora, veja bem…! Eu estava mais feliz do que nunca antes. 

Passei as próximas horas do meu dia, ansioso, não vendo a hora da cerimônia começar para que eu pudesse finalmente ter Jimin em meus braços. Parecia que eu não o via a, não sei, anos! Estava completamente ansioso para vê-lo entrando no altar e não soltá-lo nunca mais. 

Durante o dia, tive alguns tratamentos especiais — massagens, banhos relaxantes, um ajuste no corte de cabelo; essas coisas. 

Em determinada hora da tarde, para a  minha sorte, acabei esbarrando com Jimin pelos corredores, enquanto ele seguia para o cômodo em que iria começar a se arrumar. Estava acompanhado de minha mãe Hyuna e mais algumas ômegas, e no momento em que nossos olhares cruzaram, corri em sua direção, o abraçando forte no mesmo momento, ignorando os protestos de minha mãe e ouvindo as risadinhas das outras mulheres que acompanhavam. 

Jimin me abraçou apertado, pude sentir seu coração acelerado assim como o meu, e o alívio e felicidade que sentiu por aquele breve momento que tínhamos ganhado. 

O olhei nos olhos, completamente encantado, minha destra subindo até seu rosto, onde fiz uma pequena carícia e por fim, juntei nossas bocas em um beijo calmo e apaixonado. 

Senti as mãos de minha mãe em meu braço, tentando nos afastar, enquanto dizia alguma coisa sobre horários. 

Afastei lentamente meu rosto do de Jimin, observando seus olhos brilhando com admiração, sussurrando um “eu amo você”  antes de me afastar, vendo minha mãe logo ir ao lado de Jimin e o puxar gentilmente para onde ele iria se arrumar. 

Jimin mantinha os olhos em mim, o sorriso nos lábios enquanto sussurrou de volta um “eu também amo você” enquanto se afastava pelo corredor. Era nítido a felicidade em sua expressão e em sua aura, era quase como se ele brilhasse de tamanha felicidade. 

Permaneci parado no meio do corredor por uns bons minutos, me sentindo completamente hipnotizado pela beleza do meu ômega. 

— Caramba, como eu sou um cara de sorte. — acabei deixando escapar, e a beta que me acompanhava riu, antes de me pedir para acompanhá-la. 

E aquela fora a última vez que eu veria Jimin antes da cerimônia, dali poucas horas. 

As próximas horas não passaram tão rápido como eu esperava. Eu terminei de me arrumar e logo fui para  fora, onde o jardim dos fundos havia sido todo preparado para o casamento. 

O lugar estava lindo. 

Era, claramente, uma cerimônia pequena e algo mais simples, mas estava completamente lindo. 

Um pequeno altar havia sido montado perto do jardim de rosas da minha mãe, com algumas vigas de madeira a sua frente que formavam como passagens, com um tecido branco sobre elas, deixando elegante. 

As cadeiras estavam dispostas em ambos os lados, viradas para o altar, onde Jimin e eu ficaríamos, formavam um corredor para nossa passagem, que tinha um pequeno tapete por toda a extensão numa cor de areia, simples. Ao início da pequena passarela montada tinha outra estrutura de madeira, formando uma “entrada”, também com um tecido branco por ele. Vasos com rosas brancas enfeitavam a lateral da passarela e também as vigas de madeiras com o tecido, e alguns convidados já estavam sentados.

Amigos da família, apenas os mais íntimos, conversavam animados entre si, esperando a cerimônia começar; todos vestiam-se de forma elegante. Uma música ambiente tocava não muito alta por todo o local, e percebi uma pequena banda disposta um pouco mais ao lado de onde seria o altar. 

Senti meu coração batendo a mil por hora. 

Um pouco afastado de onde estava montado o altar para a cerimônia tinham algumas mesas dispostas, onde seria servido a comida logo após o casamento acontecer. O pessoal da cozinha estava trabalhando em todo o vapor, para que tudo ocorresse como o planejado. 

Vi Taehyung seguindo até a área do altar, conversando algo com minha mãe Jiyoon antes de fazer uma pequena reverência e se afastar.  Seu olhar cruzou  com o meu no processo, e ele me abriu um pequeno sorriso, antes de desviar o olhar.

Naquele momento, senti como se tudo estivesse realmente perfeito. Taehyung e eu estávamos bem um com o outro. Tudo estava pronto. Eu veria Jimin em poucos minutos. 

Meu coração parecia que ia saltar por minha boca tamanha ansiedade. 

Estava tão distraído que não ouvi minha mãe Hyuna se aproximando e enlaçando seu braço no meu, me fazendo sobressaltar, assustado, olhando-a de olhos arregalados. 

Minha mãe riu. 

— Você está lindo, meu filho. — ela disse, se virando para mim e arrumando minha gravata borboleta, mesmo que esta estivesse perfeita. — Meu bebê está se casando, meu deus…!  — e então ela me abraçou forte, e retribui o abraço, aspirando o cheirinho suave da ômega, me fazendo acalmar um pouco. — Eu estou muito feliz por vocês. O Jimin está… Uau. Bom, você logo verá. — ela disse ao afastarmos, segurando em meu rosto e sorrindo. 

Pude ver seus olhos brilhando com as lágrimas, e sorri em seguida, sentindo meu coração apertado por vê-la chorar, mesmo que eu soubesse serem lágrimas de felicidade. 

— Eu amo você, mãe. Obrigado por tudo. — eu disse, antes de abraçá-la forte de novo, sentindo meus próprios olhos lacrimejando. 

— Ora, deixa disso! — ela disse, entre uma risada embargada, me afastando novamente. Passou as mãos por meus ombros, antes de secar uma lágrima fujona que escapou por meu olho. — Guarde essas lágrimas para Jimin, estou falando sério. Você não tem noção de como ele está lindo… — ela disse, e eu acreditei. 

Eu estava tão feliz que não cabia em mim. 

Minha omma fez um aceno para Jiyoon, do outro lado da passarela, e minha mãe acenou para a banda. A música começou a tocar e as conversas pararam, todos se virando para mim, no início da passarela. Estava na hora. 

Hyuna cruzou seu braço junto ao meu, e me virei para frente, vendo todos os rostos familiares que fizeram parte da minha vida. Yoongi estava na primeira fila, sendo o único convidado de Jimin, já que seus pais não puderam comparecer. 

Eu e minha mãe começamos a caminhar em passos lentos pela passarela, a atenção de todos sobre nós, fotógrafos tirando fotos nossas. 

Hyuna estava tão deslumbrante quanto era de se esperar. Usava uma sandália de salto alto prateada, que combinava perfeitamente com o seu vestido, prateado. Era longo e justo, ressaltando seu belo corpo, mesmo que não tivesse mais seus vinte e cinco anos. Minha mãe era linda. Usava o cabelo preso, com apenas alguns fios soltos em pequenos cachos, um colar de brilhantes no pescoço.

Perto do altar, minha mãe Jiyoon nos esperava. Vestia um terninho feito sob medida, realçando seu corpo definido, juntamente de um sapato de salto. Usava luvas de seda e o cabelo preso em um rabo de cavalo baixo, inegavelmente linda. 

Naquele momento, ela olhava para a esposa. Era quase como se elas próprias estivessem casando, e não casando o filho. Se olhavam apaixonadas, isso era óbvio, e me imaginei naquela situação com Jimin, daqui vinte anos. Eu tinha certeza que o amaria da mesma forma que o amava hoje, se não mais. 

Hyuna me deixou no altar, me abraçando e deixando um pequeno selar em minhas bochechas. 

Segui até onde deveria ficar, o sorriso nunca saindo de meus lábios. Todos os convidados estavam em pé, me olhavam com sorrisos no rosto, e todos estávamos em expectativa para a entrada de Jimin. 

A música começou a tocar novamente, mas ele não apareceu. Tudo bem, era normal um pequeno atraso. A música continuou soando. 

Cinco  minutos se passaram. Dez minutos se passaram. 

Senti um frio na espinha me percorrer, o sorriso falhando no rosto. Os convidados começavam a ficar inquietos. 

Mais cinco minutos se passaram e eu olhei para minhas progenitoras, claramente confuso. 

Jiyoon acenou para Taehyung, que estava por perto, e este se aproximou. Ela sussurrou alguma coisa no ouvido dele, ele acenou e se afastou, voltando para dentro da casa. 

Engoli em seco. Preocupação começando a me percorrer. Não conseguia mais sustentar o sorriso em meu rosto. 

Mais cinco minutos haviam se passado e taehyung não havia voltado.

Alguma coisa estava errada. Jimin não iria me abandonar, disso eu tinha certeza. 

— Tá, chega, eu vou atrás dele. — disse quando meu lobo começou a se remexer, inquieto demais. Eu não conseguia sentir mais Jimin e o desespero tomou conta. 

— Meu filho, nã-! — minha omma começou a dizer, mas ela e Jiyoon me seguiam, com Yoongi em nosso encalço. 

— Alguma coisa aconteceu. — eu disse, já entrando em desespero, enquanto entrava para dentro da casa.

O cheiro de Jimin estava ali, quase como se ele estivesse no cômodo até poucos minutos. Minha intuição começou a apitar, em preocupação. 

Aumentei a velocidade de meus passos, seguindo até o segundo andar, para o cômodo em que ele estava se arrumando, a porta estava fechada e, quando eu a abri, eu senti meu coração falhar uma batida. 

O quarto estava todo bagunçado, o cheiro de Jimin presente no cômodo, junto com cheiros desconhecidos, claramente de alfas. O quarto estava inteiro revirado, como se alguma briga tivesse acontecido ali. O cheiro de Taehyung também estava presente. Tinha uma pequena poça de sangue perto da porta e meu estômago revirou. 

O cômodo estava vazio. 

Jimin não estava ali. Ele não estava em  lugar nenhum. Ele tinha sido sequestrado.