História Wolf's Bane - taekook - Prólogo: O veneno dos Lobos

❝Se plantares boas sementes colherão bons frutos, se porém plantarem maus frutos colheram maldição, quem planta joio jamais colherá trigo; e vice verso.❞

               — Silva. Luiz Franco

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[1737 d.e¹]

1737 anos após a Bênção Espiritual Lunar

 Há centenas — ou milhares — de anos, em um mundo onde os homens acreditavam que, por serem maiores e mais fortes possuíam o direito de subjugar os mais fracos para si, os Espíritos Ancestrais foram obrigados a intervir, agraciando-nos com a bênção lupina, a fim de evitar que outra guerra se iniciasse, salvando a raça humana em um momento de desespero.

Os lobos passaram a viver dentro dos homens, cessando as batalhas e restaurando a paz. Isso até descobrirem uma diferença entre seus lobos, e novamente, uma hierarquia foi construída. Desde então, os lobos fazem parte de quem somos e de quem devemos ser. Como uma regra, um mandamento do universo... Ou uma maldição.

Eu sou um ômega, e como tal tenho o dever de me casar, gerar filhotes e dar a meu pai — líder da aldeia na qual nasci — honra e poder. Contudo, isso não seria possível, porque eu não era um ômega comum e isso seria, eternamente, minha maldição.

À que me refiro? Simples, meu cheiro.

Cada ômega possui um aroma único e característico: doce, agradável e atraente para os alfas, mas eu não. Como eu descobri isso? Bem, não foi difícil...

 Jeon Jieun, minha mãe, teve muitas complicações durante sua gestação, mas no fim foi capaz de dar-me a luz. E no momento em que nasci, um odor característico preencheu os aposentos da ômega, levando todos os criados lupinos ao chão, enquanto se contorciam em dor e agonia. Meu pai, Jeon Jungwo ao ouvir os lamentos de sua esposa, correu em seu socorro e só não cedeu ao forte cheiro que emanava de minha pele devido a sua capacidade de resistência, por ser um alfa lúpus.

Jungwo então tomou-me dos braços de Jieun, e enrolou-me em um dos lençóis de seda que encontrara, banhando-me com todas as essências que encontrara nos frascos do aposento de sua esposa e correu em direção aos Montes, em busca do Velho Grande Sábio.

E os servos de Jungwo — aqueles que por serem apenas humanos, não foram afetados — tentaram conter os espasmos violentos de Jieun, enquanto imploravam aos Espíritos para que poupassem a vida da jovem ômega. Assim, Jungwo subiu ao monte comigo em seus braços, abraçando meu frágil e pequeno corpo com força enquanto tentava proteger-me da brisa fria de início de outono.

Não tardou em chegar á imensa cachoeira, onde apenas ele — por ser o líder de nosso povoado — sabia como encontrar o Velho Sábio, que estava sentado sobre as rochas lisas, atrás da imensa cascata de água, em uma pequena caverna.

Jungwo entregou-me aos braços do Sábio dos Montes, e pediu de joelhos para que minha vida fosse poupada, e notando que algo estava errado, o velho homem levou-me em direção a pequena fogueira e clamou aos Espíritos por respostas. 

Mas elas não vieram.

 Então, o Velho Sábio banhou-me com a água da cachoeira e limpou meu corpo com ervas e plantas que segundo Jungwo, não conhecia. E devolvendo-me ao alfa, explicou-lhe a situação.

Eu sou um ômega e nasci com o feromônio da flor de aconitum, também conhecida como wolfsbane, o veneno dos lobos.

Enfurecido, o alfa acusou os seus inimigos de amaldiçoar-me, mas o Sábio dos Montes negou, dizendo que os Espíritos poderiam estar enviando-lhe uma mensagem, por ser o líder da aldeia Bane. Nome este recebido devido às lendas sobre a flor venenosa que só pode florescer em nossos solos, e era verdade, embora ninguém além de nossa família tenha conhecimento de sua existência.

Entretanto, os líderes de Bane não mantinham a flor de acônito em segredo para evitar que fosse usada para o mal. Eles a mantinham em segredo para que apenas eles pudessem usá-las durante as guerras.

Motivo este, que fazia nosso lugarejo sempre retornar vitorioso, enquanto seus guerreiros iludiam-se com suas habilidades de combate e nossa aldeia recebia o título de "a invencível". 

Mas tal título apenas atraía mais desafiadores, aumentando as batalhas, iniciadas após a visita de Hyungsik, um dos reis do Conselho — composto por reis e rainhas de diversos países — que ordenou aos líderes das aldeias da Coréia do Sul, que um rei deveria ser proclamado, para que pudesse falar pelo povo e representar nossa nação internacionalmente, aumentando a ambição por poder entre os líderes ainda mais, iniciando uma guerra há três décadas que prevalece até hoje. 

Dessa forma, wolfsbane era nossa arma secreta, mas o líder, meu pai, não esperava que tal veneno surgisse em seu filho primogênito. Diante disso, incapaz de resolver esse problema, o Sábio dos Montes ordenou que o alfa aguardasse na caverna durante uma lua, enquanto suplicava aos Espíritos por sabedoria, criava óleos aromáticos, ervas e poções para suprir o odor da flor venenosa que emanava de minha pele.

Ao nascer do sol, quando as luzes douradas tocaram as folhas no topo das árvores, o Velho Sábio entregou ao alfa um amuleto que deveria estar sempre presente ao meu corpo — um inibidor — composto por plantas medicinais e ervas poderosas. Orientando ao líder de Bane os procedimentos necessários que deveriam ser feitos em meu corpo, todos os dias, para manter meu odor em segredo dos habitantes do vilarejo. 

Despedindo-se desgostoso do velho homem, Jungwo desceu o monte comigo em seus braços, crendo que, apenas com as orientações do Sábio, tudo ficaria bem. Mas anos se passaram e eu, Jeongguk, cresci aprendendo junto ao Grande Sábio — que passei a chamar de velhote — os procedimentos que deveriam ser feitos em meu corpo para manter meu segredo em... Bem, segredo. 

Desde então, alianças por força e poder começaram a ser formadas — esse era o plano de Jungwo, pelo menos.

O primeiro alfa a rejeitar-me foi Jung Jaewon e o motivo era considerável e aceitável, a meu ver: eu era um ômega macho e Jaewon não tinha interesse em casar-se com um ômega macho. 

Mas Jungwo enfureceu-se comigo, por ser um ômega e por ser homem. Para ele as coisas deveriam ser simples. Se eu fosse um alfa, deveria ser um homem e se fosse um ômega, uma mulher.

Desse modo, não teria muitas complicações em desposar-me, mesmo que preferências como esta não fossem muito comuns. Ômega macho ou não, a grande maioria dos alfas não pareciam se importar com isso, desde que pudéssemos satisfazer suas vontades.

E foi aí que o problema começou...

Os outros alfas que não se importavam com o fato de eu ser um ômega macho, não poupavam esforços em cortejar-me, no entanto, logo desistiam. 

Minha personalidade não os agradava. Eu não era dócil e obediente como eles queriam. Não era pequeno e delicado como desejavam e meu cheiro não era atraente como deveria ser. Mesmo que minhas criadas banhassem-me em óleos aromáticos e ervas, a falta de um odor natural os aborrecia e eu não era capaz de satisfazê-los como desejavam.

E sinceramente, eu não me importava. Eu não queria um alfa. Eu não precisava de um. Poderia viver plenamente com os betas que me desejassem ou apreciassem minha companhia, por ser quem sou de verdade. 

Pelo menos, era o que eu pensava. 

Foi em meu décimo quarto aniversário, ao cair da noite, após o jantar de celebração dado por Jungwo, atrás de uma carruagem, que dei meu primeiro beijo. Seu nome era Kim Yugyeom, um beta, filho do general de uma aldeia vizinha, que estava em busca de uma aliança com Bane.

Eu gostaria de fechar os olhos e lembrar-me daquele momento como o mais fantástico em minha vida, mas na verdade foi apavorante.

Assim que Yugyeom puxou-me para trás de uma das carruagens e acariciou a maçã de meu rosto com doçura, pedindo autorização para unir nossos lábios e então tocar a ponta de sua língua a minha, algo aconteceu e o beta amoleceu, indo de encontro ao chão, enquanto convulsionava como se uma cobra venenosa tivesse o picado.

Então gritei, atraindo a atenção dos demais, fazendo meus pais notarem que algo estava errado. Pegaram o jovem beta, levando-o a um de nossos aposentos, enquanto davam-lhe as ervas que o Velho Sábio usou em meu nascimento, salvando-o a tempo, dizendo ao general Kim Hyo, pai do beta, que o mesmo de fato tinha sido atacado por uma cobra. 

E após livrar-se de seus visitantes, Jungwo levou-me a cachoeira onde o Sábio dos Montes jazia e contou-lhe o que aconteceu. O velho homem o escutou com atenção e levantando-se, caminhou em minha direção com pesar, enquanto proferia a seguinte frase, esta que mudaria minha vida para sempre:

— Não é apenas o cheiro da flor de acônito que está impregnado em sua pele, Jeongguk — disse, a voz soando séria e pesada, quase profética. — O veneno dos lobos também vive, dentro de você.