1. Spirit Fanfics >
  2. Wolf's Bane - taekook >
  3. Audacioso

História Wolf's Bane - taekook - Audacioso


Escrita por: taemutuals

Notas do Autor


Enfim, voltei com mais um capítulo \o/
Sentiram minha falta? Eu senti muita a de vocês, sério.
Esse capítulo está uma delícia e enorme (26.5k de palavras), então… Eu mereço alguns mimos, né?
Por isso, comentem bastante, favoritem que isso ajuda muito a fanfic a crescer e se puderem, usem a tag #WolfsBaneTK no twitter >.<
Estou postando esse capítulo um dia antes do ENEM, então espero que ele sirva de distração para a cabecinha de vocês, mas, se você estiver lendo depois, saiba que independente de qual seja a nota, vocês são incríveis e não será ela que irá definir o valor de vocês como pessoas, o.k?
Boa sorte, lobinhes!
Então… Bora para os recadinhos?
1- Esse capítulo foi betado pela @taegikookit e @piedpiperhi , então deixem seus agradecimentos aqui, não deve ter sido fácil.
2- O banner desse capítulo é uma fanart feita pela @lalicoart, ficou incrível, né? Eu amei demais os detalhes! Obrigada, querida.
3- Esse capítulo contém: violência e palavras de baixo calão, então, caso se sintam desconfortáveis, suspendam a leitura.
Ele também está super recheado de conteúdos para as teorias de vocês, então leiam com atenção, hein.
4- A próxima atualização ocorrerá dia 06/02 às 18:00, então agendem se acharem que vale a pena… Eu espero que sim.
5- As músicas indicadas para leitura são: I Can't Help Falling In Love (LIGHT) - Tommee Profitt, Broke/ Ending Scene - Jungkook Cover IU/ 26 - Younha (basta colocar para tocar quando eu deixar o começo de algum parágrafo em negrito)
Ah, por favor, leiam as notas finais, é importante.
Boa leitura ~~

Capítulo 26 - Audacioso


Fanfic / Fanfiction Wolf's Bane - taekook - Audacioso

❝Neste mundo, sempre que houver uma luz, haverá também sombras. Enquanto o conceito de vencedores existir também deve haver perdedores. O desejo egoísta de querer manter a paz provoca guerras e o ódio nasce para proteger o amor.❞

— Madara Uchiha

 

Ω

 

[1741 d.e]

Agosto, Vigésima Terceira lua do mês, Verão


 

Um silêncio perturbador nos envolveu após me apresentar à alfa, sustentando seu olhar, em uma batalha interna para ver quem recuaria primeiro.

Lalisa certamente era poderosa e, muito provavelmente, seria aquela que poderia arruinar meus planos ou guiá-los ao sucesso. Seja lá qual fosse o resultado, precisava mantê-la por perto, as chances de me deparar com uma alfa mulher e general de um esquadrão novamente estavam reduzidas a zero.

— Como conseguiram entrar em nossos territórios sem que fossem detectados? — a mulher questionou, desmontando do cavalo no qual estava, caminhando a passos lentos em minha direção, apoiando a mão sobre a bainha de sua espada.

Ela vestia um uniforme com as cores de Ume, no entanto, diferente dos demais soldados a nossa volta, a alfa sustentava ombreiras de metal, envoltas por um manto de pele e uma cinta do mesmo material. 

Sorri de canto, camuflando minhas emoções. Ela me assustava, sua aura dominante preenchia o local, exalando o cheiro forte de seu feromônio: limão, orvalho e talvez… algodão? De qualquer forma, não podia demonstrar que estava intimidado.

— Eu tenho alguns truques — respondi, simples, fazendo-a me encarar desconfiada.

— Jeon Jeongguk… O futuro líder… — ela riu, avaliando-me dos pés a cabeça — Você é o ômega da qual todos falam, não é? Que trará igualdade àqueles que não têm voz?

Por algum motivo, sinto que está decepcionada com o quê vê e preciso de todo meu autocontrole para não ceder aos seus julgamentos silenciosos.

— Todos deveriam ter o direito de fazer o que desejam — respondo, atraindo sua atenção para meus olhos novamente. Sua inspeção parecia ter acabado — Você é general, deve entender o que estou dizendo…

— De fato, sou a general dessa guarda, porque meu pai é o mestre de Ume — declara e arregalo os olhos, sequer tinha desconfiado. Não sabia que Jeonghan tinha uma filha, Heechul não me contara e noto que ele também parece surpreso — e também porque sou uma alfa. Mas você… Tsc — balançou a cabeça — Disseram-me tanto que luta por igualdade, mas não vejo uma única mulher entre seus soldados.

Sinto meu rosto enrubescer, pego de surpresa com sua crítica. Haviam boatos demais a meu respeito e aparentemente este era um deles, no entanto, não imaginei que as pessoas fossem esperar algo de mim. 

— Mudanças são lentas e as mulheres de minha aldeia ainda não estão prontas para uma viagem perigosa como essa — respondi, perdendo a confiança que tentei sustentar desde que a encontrei. Mas Lalisa parece ser o tipo de pessoa que extrai tal fator de qualquer um que desejar. 

— Típico… Por que não estou surpresa em escutar algo assim? — riu, dando-me as costas. — Receio que não poderão retornar a Bane mais, agora que sei que possuem conhecimento para adentrar nosso território sem serem vistos, não é seguro que retornem com vida — gesticulou brevemente e arregalei os olhos quando seus soldados nos cercaram, apontando suas espadas.

Taehyung e Heechul colocaram-se à minha volta, atentos, e meus demais companheiros fizeram o mesmo, alcançando suas armas.

— Cuidado! Cuidado! — Teteco, que não estava conosco minutos atrás gritou dos céus, voando em minha direção, atraindo a atenção da alfa para si ao pousar em meus ombros.

Acariciei-o suavemente, tentando acalmá-lo. Felizmente, ele não disse nada que pudesse nos prejudicar.

— Não podem fazer isso, seu pai me deu sua palavra de que voltaríamos em segurança — lembrei-a, sério.

— Sim… Mas ele acreditou que encontraria um futuro líder com olhos para a mudança e o futuro — respondeu, as orbes escuras fixas em mim — O que eu vejo? Um ômega privilegiado que ergue sua voz para os tolos.

— Você não pode falar pelo seu Mestre — retruquei, notando o lampejo que dominou sua íris brevemente.

— Pois bem… Porém, saiba que pensamos da mesma maneira e, se os boatos a seu respeito são verdadeiros, mostre-nos. Traga uma mulher aqui.

— Não temos tempo para retornar — “E nem estou disposto a fazê-lo”, penso. 

Nossa viagem até aqui foi perigosa e arriscada, não jogarei tudo pelos ares apenas porque ela deseja comprovar alguns boatos.

— Eu posso fazer isso — Hoseok sussurrou atrás de mim e desviei o olhar para o alfa — Namjoon irá comigo.

Neguei depressa. Isso sequer deveria ser uma opção. Lalisa provavelmente deseja nos separar, diminuir ainda mais a quantidade de homens que trouxe e provavelmente mataria os dois ao retornar ou os seguiria para descobrir a rota que usamos.

— Façam isso e permitiremos que voltem para sua aldeia — a mesma se aproximou, avaliando-nos com divertimento — Enquanto aguardamos o retorno de seus companheiros, o jovem mestre poderá conversar com meu pai sobre… Seus planos — propôs.

Franzi o cenho, desconfiado. “Quais suas intenções, afinal?”

Espiei Heechul com o canto dos olhos, esperando por uma sugestão do que deveria fazer e como sempre o Kim não disse nada, deixando a decisão em minhas mãos.

— Prometa pelos Espíritos que não permitirá que seus soldados sigam eles e nem tentará matá-los de alguma forma — pedi. Não conseguia pensar em alternativa melhor.

Sequer pretendo esperar tantas luas para que Hoseok e Namjoon retornem a Bane e tragam uma mulher consigo. Iremos embora antes. Ao menos poderei livrar o Jung do perigo caso algo ocorra, ele ainda é filho do Mestre de Ídea.

A alfa sorriu largo e concordou, erguendo as mãos, fazendo o juramento na minha frente e de seus soldados.

— Os Espíritos ouviram sua promessa — Jimin-ssi murmurou e contive um sorriso cínico. É claro que ouviram, e se algo ocorresse, Lalisa seria punida.

Ter o Sábio dos Montes ao meu lado me deixava menos temeroso.

— Pois bem, tragam uma mulher aqui, estou cansada de lidar com marmanjos como vocês — declarou, sinalizando para seus homens baixarem as armas.

A segui até à entrada do castelo, olhando ao redor cauteloso, em busca de qualquer rota de fuga. Taehyung aparenta fazer o mesmo, mas sei que está contando quantos guardas haviam no local, calculando seus inimigos e — possivelmente, vítimas, — caso a situação saia do controle.

— Precisamos descansar um pouco e os cavalos também — Hoseok falou, ignorando o olhar alarmado de seu escudeiro — Não se preocupe, Namjoon, sozinhos poderemos viajar mais rapidamente, em quatro luas estaremos de volta.

Quatro luas… É o tempo que tenho para conseguir firmar um acordo de paz com Jeonghan e partir.

— Providenciem cavalos e mantimentos aos nossos… Companheiros — a general ordenou aos dois homens que a acompanhavam e entreolhando-se contrariados — O quê?! Não queremos que nossa trégua seja rompida, façam isso! — repetiu, usando sua voz de alfa, impaciente, fazendo os betas recuarem, concordando temerosos.

— P-Por aqui — indicaram o caminho ao Jung, que os seguiu tranquilamente junto de Namjoon-ssi. Teteco voou em direção à dupla, sobrevoando-os.

Lalisa não parece ter qualquer apreço ou respeito pelos soldados que trabalham consigo, bem como uma certa intolerância comigo. Por isso, mais do que nunca, queria lhe mostrar que estava errada, que não sou o ômega privilegiado que pensa.

— Entrem e, bem… Sejam bem vindos ao castelo do Mestre Yoon — declarou, entediada, caminhando a passos rápidos pelo corredor.

Segurei o braço de Heechul e a segui, sem deixar de observar o lugar com atenção. O piso de mármore brilhante era capaz de refletir minha imagem e reduzi meus passos temendo escorregar. As paredes estavam repletas de quadros bonitos com paisagens e pinturas de um homem com cabelos longos que julguei ser Jeonghan, ao seu lado, havia outro homem de fios mais escuros e lábios rosados. Seu esposo, talvez?

Atravessamos uma escadaria circular e entramos em outro cômodo, igualmente amplo, possivelmente maior que meu jardim. Em frente a duas janelas compridas com vista para a floresta jazia uma poltrona de pedra, cascalho e supostamente, ouro, talhada com imagens semelhantes às montanhas na qual quase havíamos morrido.

"Todos os líderes são assim?", pensei, encarando o trono, "consideram-se reis antes mesmo de vencerem a guerra?"

Outra porta se abriu e estremeci quando os dois homens das pinturas se aproximaram. O de cabelos longos, tinha a aparência mais delicada e um porte totalmente diferente do qual estou habituado, porém, o cheiro forte que emanava de sua pele comprovava ser um alfa.

O dito sentou-se no trono, gesticulando para seu esposo fazer o mesmo, em seu colo, e desviei o olhar brevemente, envergonhado.

Se Jeonghan não possuía as características de um alfa, o ômega sobre si as tinha de sobra. Feição marcada, olhar sombrio, ombros largos e corpo esguio. No entanto, o feromônio doce estava presente em si.

Sei que não sou muito diferente, que tenho o corpo forte e músculos que muitos ômegas estão longe de possuir. Porém, tudo isso foi ganho com exercícios e muito treinamento. O marido de Jeonghan é diferente, seu físico é genético.

Me curvo educado quando noto que estive observando-os por tempo demais, Heechul e meus amigos fazem o mesmo, em completo silêncio.

— Você é o ômega do qual tanto ouvi falar? — Jeonghan abre um sorriso largo, gentil — Preciso admitir… Excede minhas expectativas.

Pisco confuso, tentando descobrir quais seriam elas. Antes que pudesse lhe perguntar, ele prosseguiu:

— Aproxime-me, jovem mestre e mostre-me os presentes que trouxera como gratidão por essa visita — pediu e franzi o cenho.

Isso só poderia ser um truque. Se tivesse que lhe trazer algum presente, minha ómoni teria dito. Certamente está nos testando, ou buscando algum argumento para acabar com nossa trégua. Talvez… planeje fingir que o ofendemos ao não lhe presentear?

— Mestre Yoon — me curvei novamente, calculando minhas palavras — Com uma aldeia majestosa e repleta de riquezas como Ume, fui incapaz de trazer algo que não possuísse.

O alfa semicerrou os olhos e engoli em seco.

— Está sugerindo, jovem mestre, que por possuir tudo, não mereço mais?

“Ah, maldição…”

— D-De forma alguma, eu... — respirei fundo, erguendo o olhar, buscando outra alternativa que não o desagradasse — Apenas escolhi lhe dar algo melhor que um mero bem material e que… Hum… Não afetasse nosso deslocamento durante a viagem.

“Pelos Espíritos, o que estou dizendo?”

— E o que seria isso? — endireitou-se, interessado.

“Vamos, Jeongguk… Faça o que Jieun lhe ensinou… Barganhe."

— Sou conhecido por possuir uma bela voz, possivelmente a mais graciosa entre todos os ômegas do sul — contei-lhe, sustentando seu olhar. 

Tenho que fazê-lo acreditar que sou importante e que lhe darei algo de valor inestimável. Minha ómoni me disse certa vez, durante nossos treinos, que os nortistas são vaidosos, se os bajularmos com cuidado, mesmo que nossas palavras não sejam verdadeiras, eles farão com que se tornem apenas para sustentar as aparências.

— Por isso, decidi lhe presentear com uma canção. Sendo um Mestre de inestimável bom gosto, como pude comprovar ao adentrar em seu castelo, sei que uma bela canção tem muito mais valor que um presente que pode ser facilmente comprado com algumas moedas de ouro — disse, sorrindo docemente para si, notando o olhar curioso que dominou suas orbes castanhas. E não fui o único, pois seu marido segurou sua mão e intensificou o próprio cheiro.

Pelos Espíritos, ele pensou que estou tentando seduzi-lo? Sequer tenho poder para fazer tal coisa.

— Uma canção? — Jeonghan umedeceu os lábios com a língua e concordei mais uma vez, sentindo seu olhar malicioso sobre mim.

"Oh… Talvez, eu tenha sim poder para isso."

— Nenhuma outra pessoa além de minha família teve a honra de ser presenteado com uma canção — prossegui, suavizando meu tom — Minha voz, Mestre… Será capaz de levá-lo aos Céus — falei, atrevendo-me a umedecer os lábios também, retribuindo seu olhar, contendo uma careta, incomodado com o cheiro doce que seu marido exalava.

Jeonghan riu soprado, circulando a cintura de seu ômega, embora não desviasse os olhos dos meus, parecendo se divertir com a situação.

— Estou honrado, de fato, jovem mestre — o alfa murmurou, sorrindo cínico — Porém, com sua chegada inesperada, creio que precisaremos adiar seu presente para a próxima noite, durante o jantar, onde poderei desfrutar de sua bela voz adequadamente. Concorda?

Meneei a cabeça afirmativamente. 

— Deixemos este assunto para o jantar, então. Precisamos preparar algo grandioso para receber o futuro líder de Bane… — comentou, desviando o olhar para meus companheiros — Agora, diga-me, estou curioso para saber como chegaram em Ume em pouco tempo, com poucos homens.

— Nossos cavalos são rápidos — desconversei.

— É claro que sim… Confesso que estou um pouco decepcionado, ansiava por reencontrar seus pais, em especial, sua mãe.

Pisquei atônito. “O que ele queria dizer com isso? Jieun conhecia Jeonghan? Por isso meu abeoji se enfureceu luas atrás?”

— Não seria seguro viajarmos em grande número — respondi, livrando-me dessas dúvidas, por hora — Há muitos mercenários à minha procura e mesmo que este grupo seja pequeno, todos os soldados que me acompanharam são plenamente capazes de me proteger.

— Mesmo? Interessante… Apresente-os — pediu, desviando sua atenção de mim para meus companheiros.

Taehyung deu um passo à frente, mantendo a postura ereta habitual. Suas feições evidenciavam que não simpatizava com Jeonghan.

— Eu sou o general Kim — mentiu e contive minha expressão confusa — Este é o comandante Park e os demais, são os soldados de minha alcatéia.

Por que ele está fazendo tal coisa, não sei ao certo, mas Jimin-ssi não parece contrariado. Até mesmo Yoongi foi apresentado como seu soldado e novamente me lembrei das palavras de Jieun, alertando-me de que ninguém poderia saber que o Min é meu melhor amigo, ou ele se tornaria um alvo para ser usado contra mim.

— Fui informado de que há outros dois soldados em meus estábulos… E, um papagaio — comentou e Taehyung concordou.

— A general exigiu que uma mulher de nossa aldeia fosse buscada, então, dois de meus homens retornarão para que seja cumprida sua vontade — Taehyung falava tranquilamente, como se tal pedido não o aborrecesse — Quanto ao pássaro… Pertence ao jovem mestre.

Jeonghan riu baixinho, desviando o olhar para a alfa que estava na entrada da sala, ao lado da porta.

— Minha filha é alguém muito rigorosa, mas fico contente que seu desejo será acatado, — Lalisa sequer expressou alguma reação ao ser citada pelo pai — também estou interessado em receber a futura companheira de vocês.

Por que eles insistem tanto que façamos isso? Acreditam que Jieun virá pessoalmente? Existe outra mulher que aceitaria viajar para o Norte e seja importante como minha ómoni? 

Meu abeoji não permitiria… Então, Hoseok teria que trazer outra pessoa. Quem?

— Ordenei que preparassem alguns aposentos para você e seus companheiros, jovem mestre — Jeonghan voltou sua atenção a mim — Infelizmente, Alguns ficarão vazios.

— Lhe daremos menos trabalho, ao menos — sorri cordial. Já estava me cansando de sustentar essa expressão.

— Certamente… Quanto a você, Heechul, se soubesse que o garoto de anos atrás se tornaria o noivo do futuro líder de Bane, teria sido mais gentil com sua família — comentou, descontraído, levantando-se junto de seu marido — Como seu pai está?

— Bem, Mestre Yoon — o alfa se curvou — Após nos mudarmos para Ídea, fomos capazes de viver sem grandes problemas.

— Me alegra saber disso — Jeonghan respondeu, circulando a cintura de seu esposo, que permanecera em silêncio durante todo esse tempo e o alfa sequer se deu ao trabalho de apresentá-lo  — Imagino que não tenha sido fácil desposar o jovem mestre… Trazê-lo aqui foi uma das condições?

— De certa forma, sim… Mas Jeongguk tem planos que também podem ser de seu interesse.

O alfa me avaliou uma última vez, dando de ombros.

— Talvez sejam. Como não desejo afetar negativamente seu noivado, pois possuo grande estima por seu pai, aceitarei escutar sua proposta, jovem mestre — declarou e sorri largo, aliviado — Em outra ocasião, está tarde e vocês precisam repousar.

— Obrigado, Mestre Yoon — me curvei novamente, satisfeito com o rumo de nossa conversa. 

O alfa sorriu condescendente e se retirou, ordenando que seus servos nos acompanhassem até os aposentos, então os seguimos.

Tentei me concentrar no caminho, memorizar os corredores para não me perder, porém os cochichos de Jimin-ssi e Taehyung me distraiam com facilidade, enquanto discutiam a melhor estratégia para manter a vigília de meus aposentos e do restante do grupo.

— O Mestre ordenou que os noivos ficassem em quartos separados — a mulher, uma beta com rosto pequeno e sorriso gentil, falou, indicando o cômodo.

— É o adequado — Heechul concordou, entrando no quarto, se despedindo brevemente ao me dar um beijo casto na testa e corei com os olhares.

A serva indicou outro quarto, onde meus companheiros deveriam ficar, todos juntos, o que era de certa forma reconfortante. Assim, teríamos que nos preocupar em vigiar poucos cômodos.

Continuei caminhando até chegarmos em uma porta revestida em ouro e prata, e prendi a respiração quando a serva abriu e vislumbrei o espaço amplo.

Um soldado de Ume que nos seguiu desde que pisamos no castelo a mando de Lalisa, fez menção de entrar no quarto, porém Taehyung se colocou entre ele, alerta.

— Eu posso fazer isso — meu alfa se prontificou, gesticulando para que esperasse enquanto inspecionava o cômodo atentamente, retornando alguns minutos depois — Está seguro, pode entrar, jovem mestre.

Contive uma risadinha e o obedeci. Sua preocupação era adorável aos meus olhos, embora os servos parecessem assustados com a expressão ameaçadora que sustentava, eu sei que ele só quer me proteger, além de estar cumprindo seu papel como "general".

O quarto era bonito, pouco maior que o meu e invejei o dossel que ornamentava a cama repleta de travesseiros e cobertores peludos.

Depois de luas dormindo em uma cabana, precisava urgentemente me deitar nesta cama. 

Uma mulher se aproximou de mim e Taehyung mais uma vez colocou-se entre nós como uma muralha.

— General, ficarei responsável em auxiliar o jovem mestre durante suas acomodações. Irei ajudá-lo durante o banho e-

— Eu posso fazer isso sozinho — tentei soar educado. Não posso arriscar que me vissem usar as ervas e os óleos durante o banho.

— Não penso o contrário, mas seu noivo me pediu pessoalmente que cuidasse de seu bem estar, jovem mestre — curvou-se mais uma vez e pisquei em compreensão ao avaliar seu rosto. Ela é a esposa do primo de Heechul, me lembro de tê-la visto na taberna.

— Tudo bem, Tae- general — Pigarreei. É estranho chamá-lo dessa forma — ela pode me ajudar — cutuquei sua cintura para que se afastasse e ele o fez, ainda observando-a desconfiado, saindo e fechando a porta do quarto, ficando parado em frente a porta. 

Com a ajuda da serva, que descobri se chamar Eunbi, me banhei, mentindo sobre meus óleos e perfumes, embora ela não tenha demonstrado tanto interesse — o que era bom — e vesti um pijama de algodão que a mesma trouxera consigo.

Deitei na cama macia e me encolhi debaixo dos cobertores, desconfortável por não haver um único cheiro familiar nos tecidos, demorando para adormecer.

Queria que Taehyung estivesse comigo, em vez de ficar vigiando a porta do quarto. Mas, é mais seguro dessa maneira e não podemos arriscar que descubram sobre nós.

Ao menos, espero que ele aceite trocar de turno mais tarde para descansar, ou terei que lhe dar uma bronca…

— Boa noite, lobinho — sussurrei, sabendo que ele me escutaria com seus sentidos de alfa.

 

Ω

 

Agosto, Vigésima Quarta lua do mês, Verão


 

Rolo na cama macia ao escutar batidas na porta, espreguiçando-me sonolento, sorrindo de canto ao avisar o rosto de Minjae na fresta da porta.

— A serva veio prepará-lo para o café da manhã, jovem mestre — informou, dando passagem para Eunbi entrar.

— Obrigado, Minjae-ssi — agradeci, notando o rubor em suas bochechas. Creio que esta situação seja estranha para ele tanto quanto é para mim.

Porém, se ele está vigiando meus aposentos, isso significa que em algum momento durante a madrugada Taehyung aceitou trocar de turno para descansar.

— A água está quente, jovem mestre — Eunbi avisou, então sai da cama e fui até o banheiro, despindo-me atrás do biombo — Deseja se banhar sozinho essa manhã ou posso ajudá-lo?

— Eu gostaria de fazê-lo sozinho, obrigado — fingi estar constrangido com sua presença, é a melhor alternativa para não criar suspeitas com minha recusa. Mesmo que Heechul a tenha solicitado, não posso confiar facilmente na mulher.

Entro na banheira quente após despejar as ervas especiais de meu banho, junto dos óleos perfumados e me lavo brevemente, tomando meus supressores após sair.

Minha cabeça estava doendo um pouco, mas talvez se deva ao álcool que ingeri noite passada. De qualquer forma, estou em território inimigo, entrar em meu cio não é uma opção.

Visto as peças de roupa que Eunbi deixou sobre o baú pois perdemos nossos pertences durante o ataque noturno e escondo meu medalhão por dentro do suéter branco.

Por precaução, faço o mesmo com meus pertences pessoais, escondendo-os no forro da cama.

Ao sair do quarto, percebo que apenas Heechul está vestindo roupas comuns como eu. Minjae-ssi, Jackson, Yoongi e Jimin-ssi estão usando um uniforme da guarda de Ume.

— Onde está Mingyu-ssi? — pergunto ao Kim, que me oferece o braço para caminharmos até a sala de jantar.

— Pedi que cuidasse de algumas coisas para mim — respondeu e observei meus companheiros uma última vez. Taehyung não estava presente e sei que Baekhyun e Chanyeol estão infiltrados como servos na cozinha do castelo, então provavelmente não os verei pelos corredores — Vejo que está usando o anel que lhe dei, enquanto estivermos aqui, não o tire — pediu e concordei, pensativo.

— Preciso encontrar aquela mulher da qual me contou… Acha que conseguimos sair? — perguntei, lembrando-me de uma das razões de estar aqui.

Heechul não respondeu de imediato, provavelmente pensando em alguma alternativa para realizar meu desejo.

— Tenho um plano em mente. Então, não durma essa noite, está bem? Irei aos seus aposentos — falou e concordei, aliviado. Se não conseguir firmar um acordo com Jeonghan, ao menos quero descobrir quem era a mulher que lhe contou sobre mim e que parece saber mais do futuro que Jimin-ssi, o Sábio dos Montes.

Ao chegarmos na sala de jantar, me curvei educado, cumprimentando Jeonghan e seu esposo brevemente, sentindo o olhar de Lalisa sobre mim.

— Sirva-se, jovem mestre — o alfa líder indicou a comida e me sentei ao lado de Heechul, em uma distância segura de Lalisa e seus talheres pontudos.

Um servo me ofereceu uma xícara de chá e antes que pudesse tomar, Jimin-ssi segurou meu pulso, pegando-a de minhas mãos, levando o líquido aos lábios.

Desviei o olhar angustiado. Compreendo suas ações, mas não me agrada vê-lo se arriscar dessa maneira como se minha vida valesse mais que à sua.

— Não parece acostumado com esse tipo de comportamento, jovem mestre — Jeonghan comenta quando Jimin devolve a xícara momentos depois e decido comer o mesmo que Heechul, assim ele não teria que repetir o processo.

— Nunca estive em uma aldeia inimiga antes, Mestre Yoon — respondo-lhe, sorrindo falsamente.

— Então, devo assumir que confia em suas aldeias aliadas? — ergueu as sobrancelhas, apoiando o queixo na palma da mão, observando-me atentamente, estudando meus movimentos.

Semicerro os olhos, tentando desvendar suas reais insinuações. Estaria sugerindo que nossos aliados não são dignos de confiança? Ou… Talvez seja apenas uma artimanha para nos colocar um contra o outro?

— Confiança é o princípio básico em nossas alianças — respondi, sério. Não vou cair em seus joguinhos.

Jeonghan sorriu de canto, encostando-se na cadeira.

— Onde está seu general, jovem mestre? — questionou de repente e seu tom de voz soou mais que uma simples indagação.

“Está descansando”, gostaria de dizer, mas agora, não tenho tanta certeza. 

Antes que pudesse cogitar em uma resposta mais adequada, as portas se abriram e meu alfa entrou, curvando-se brevemente para o líder de Ume, aproximando-se de mim tranquilamente.

Arfei, maravilhado com a roupa que lhe deram — provavelmente por ser o "general". 

O Kim trajava o uniforme da guarda de Ume, composta por um longo manto de pele, calças e casaco de couro, um cinto com duas adagas presas, luvas e bota cano alto. Os fios de cabelo estavam ondulados nas pontas e recaiam suavemente sobre seus olhos amendoados.

Sempre gostei de vê-lo usando o uniforme de patrulha, mas este… O deixava absurdamente sedutor, transpirando dominância em cada passo que dava em minha direção. 

“Em minha direção?!”

Sinto um calafrio na barriga quando Taehyung se inclina para perto de mim, próximo a minha orelha e preciso conter um suspiro ao escutar sua voz rouca.

— Hoseok e Namjoon partiram pouco antes do amanhecer — diz e pisco surpreso, imaginei que fossem se despedir — Quanto ao pássaro… Ele desapareceu.

— O quê?! Como assim? — me afastei minimamente, fitando-o assustado, sentindo os olhares de nossos anfitriões, observando-nos.

Taehyung não parecia preocupado, sei que Teteco é apenas um pássaro qualquer para si, mas é meu amigo e o alfa sabe disso. Então… Por que não parece se importar?

Se ele não julgava que a notícia fosse importante, não interromperia o café da manhã para me contar isso. Ah não ser que-

“Ah! Entendi”, semicerrei os olhos, compreendendo suas intenções. 

Olho por sobre meus ombros, notando que Jeonghan está nos observando curioso, provavelmente escutou nossa conversa com seus sentidos de alfa.

Taehyung se endireitou, mas antes que se afastasse segurei seu pulso. 

— Encontre meu pássaro, general — ditei, soando o mais convincente possível ao lhe dar tal "ordem". 

Eles precisam acreditar que o sumiço de Teteco seja uma preocupação para mim.

— O que aconteceu, jovem mestre? — o marido do alfa parece morder a isca.

— Seungie, creio que isso não diz respeito a nós — Jeonghan murmurou, tranquilo, embora parecesse igualmente interessado.

— Está enganado, Mestre Yoon — digo, sorrindo para seu esposo — Meu pássaro desapareceu, creio que essa informação lhe diz respeito. 

O alfa franze o cenho, parecendo confuso com a informação.

— Talvez esteja voando e retorne em breve — deu de ombros, demonstrando o que já suspeitava: ele não faz ideia de como isso aconteceu.

— Teteco tem medo de lugares desconhecidos, deveria estar comigo ou meus companheiros — respondi, sério.

— Está sugerindo que capturamos seu pássaro, jovem mestre? — questiona, impaciente, evidentemente ofendido.

— De forma alguma, Mestre Yoon. Talvez ele tenha se assustado e se escondido em algum lugar, por isso, peço sua autorização para procurá-lo nos arredores do castelo.

É a oportunidade perfeita para conhecer o local sem causar suspeitas.

Mas, Taehyung teve que usar justamente Teteco para isso? Espero que ele esteja bem…

"Alfa sem noção!"

Um silêncio angustiante preencheu o cômodo enquanto o líder cogitava se e deveria permitir ou não que andasse livremente em seu castelo.

— Está bem. Mas, minha filha irá acompanhá-lo, assim evitaremos que se perca — sorriu minimamente e concordei.

— Tenho trabalho a fazer — Lalisa recusou-se, contrariada.

— Então, sugiro que comecem a procurar logo para que possam encontrar o pássaro o quanto antes — respondeu, ignorando o olhar aborrecido da filha — O comandante Eun poderá assumir o comando da guarda por hoje.

— É claro… — a alfa resmungou e estremeci quando enfiou o talher em sua comida com raiva nítida — Está dando a ele outra oportunidade de conquistar meu cargo.

Ela estaria se referindo ao alfa que encontramos na taberna? Se fosse, compreendia sua irritação, também me sentiria dessa forma se fosse obrigado a conviver com alguém como ele.

Terminamos o restante do café da manhã em silêncio absoluto, o que para mim não era um problema, mas a expressão de Lalisa indicava o contrário.

— Preciso resolver alguns assuntos, por isso estarei me retirando — Jeonghan foi o primeiro a se levantar, segurando a mão de seu marido — Espero que encontre o pássaro rapidamente, jovem mestre, pois desejo ouvi-lo cantar no jantar desta noite.

— Não se preocupe e garanto que será de seu agrado — me curvei para si — Peço-lhe também que preparem um piano, um dos soldados do meu general tem ótimas habilidades com o instrumento.

— Ordenarei que façam isso — O alfa se afastou com um aceno e suspirei. Não era fácil manter a expressão neutra em sua presença, Jeonghan mostrou-se observador demais.

— Podemos começar a procura pelo jardim do castelo — Lalisa se aproxima aborrecida, analisando meus companheiros sem disfarçar. Ela não parece gostar de vê-los usar o uniforme de seus soldados.

— Está bem — digo, seguindo-a, acompanhado de Taehyung e Heechul, enquanto os demais mantinham uma distância maior para nos dar privacidade, colocando-se a postos em lugares estratégicos do lugar.

— Vista isso — Lalisa se virou, entregando-me um casaco de couro, botas de inverno e um manto de pele semelhante ao de Taehyung — Com estas vestes não suportará o frio por muito tempo.

Pisquei em compreensão, me lembrando que estamos no Norte. O castelo é bem aquecido, por isso não dei por falta de agasalhos mais quentes.

Coloquei as peças de roupa com cuidado, sorrindo sem graça quando a alfa revirou os olhos e me ajudou a afivelar o casaco de couro, grande o bastante para ser confundido com um vestido de combate — se é que existem. Logo em seguida, prendeu o manto de pele em meus ombros e abriu a porta para o jardim.

Respirei o ar frio lentamente, rindo ao sentir alguns flocos de neve tocar meu rosto e estiquei o braço, tentando capturá-los.

— Por aqui — a alfa indicou o caminho, impaciente.

O jardim do castelo era, sem dúvidas, o lugar mais belo que já vi desde que cheguei ao Norte. Extendia-se por longos metros à frente, com muros de grama que nos guiava até uma fonte de água congelada. Todo o local assemelhava-se a um bosque de inverno, não havia um único resquício de cor além do branco da neve.

Observei a general em silêncio, que olhava as árvores e quaisquer outros locais onde um papagaio poderia estar escondido, focada em completar a tarefa para cuidar de assuntos mais importantes.

Precisava agarrar essa oportunidade para tentar me aproximar dela. Jeonghan não parece disposto a confiar em mim, então, tenho que conquistar a confiança de outra pessoa importante na aldeia e Lalisa parece ser a melhor opção no momento.

Entreabro os lábios, prestes a fazer algum comentário que atraia sua atenção, porém, uma fileira de soldados passam correndo por nós, afoitos, gritando que precisam de toda ajuda necessária na área norte da aldeia.

“Estão sendo atacados? Por quem?”, penso, intrigado, seguindo seus movimentos com o olhar. 

— Irei ajudá-los! — Lalisa corre até um portão na lateral do jardim com passagem para a entrada do castelo, onde uma dezena de soldados estão se organizando no que imagino ser um alojamento.

— Não precisa se preocupar, estou no comando neste momento.— Me encolho instintivamente quando o alfa que encontramos na taberna aparece, impedindo-a de se aproximar. 

Seus olhos escuros recaem sobre mim e sinto meu estômago embrulhar enojado quando o mesmo abre um sorriso largo, analisando-me sem pudores, parecendo gostar do que vê.

— Os boatos são verdadeiros, afinal — murmura e recuo um passo, notando a movimentação de Taehyung logo atrás de mim. Se não estivéssemos em território inimigo, o Kim já teria o matado, colorindo a neve com sangue. — É um prazer tê-lo aqui, jovem mestre — curvou-se, educado, e contive uma careta devido ao seu tom de voz.

— Agradeço a hospitalidade — sorri falsamente, incomodado, sentindo um bolo se formar em minha garganta quando ele tentou se aproximar novamente. Recuei.

Corrigindo-me: se estivéssemos em Bane, eu mesmo cuidaria desse alfa.

— Deixe-o em paz, Eun — Lalisa resmungou, empurrando seu ombro — O jovem mestre está noivo, se ousar seduzi-lo, não hesitarei em prendê-lo a mando de meu pai.

— E onde está seu noivo, jovem mestre? — questionou.

— Bem aqui — desviei o olhar para o Kim, sorrindo minimamente ao vê-lo parado ao lado de Taehyung, que como imaginei, está encarando Eun com o cenho franzido.

Heechul colocou-se ao meu lado, estendendo a mão ao comandante da guarda, cumprimentando-o brevemente.

— Não sou adepto a apresentações informais com membros triviais da guarda — alfinetou —, por isso, creio que seja adequado que continuemos com nossa procura, general — sorriu educado para Lalisa, que piscou surpresa, concordando com a cabeça.

Contive uma risadinha ao notar a expressão enfurecida que dominou a face do alfa. Heechul tinha acabado de desdenhar de sua posição sem desmanchar a postura elegante que possuía.

— Tem razão, Lalisa precisa cumprir seu papel como filha e mostrar o jardim ao seu hóspede, enquanto membros triviais da guarda como eu cuidarão da segurança desta aldeia — respondeu e cerrei os punhos. Tentar rebaixá-la só mostrava o quão patético Eun podia ser. 

Sua conversa é com Heechul, se não têm capacidade de respondê-lo à altura, então deveria manter-se calado.

Lalisa estava prestes a lhe responder quando o alfa se virou, partindo sem se despedir.

— O que está acontecendo? — referia-me aos soldados alarmados que se preparavam para partir.

A garota deu de ombros, voltando a caminhar pelo jardim, perdida em pensamentos. Sua expressão comumente ranzinza evaporou-se logo após as palavras de Eun e, mesmo sem conhecê-la, compreendia que tipo de sentimento poderia estar lhe afligindo nesse momento.

— Recentemente ocorreu uma avalanche ao norte de Ume, a neve soterrou muitas casas e feriu grande parte dos aldeões — explicou preocupada e arfei, angustiado.

A natureza não estava a seu favor, aparentemente.

— Vocês fizeram os rituais aos Espíritos? — questionei e Lalisa piscou desperta, negando com a cabeça, voltando sua atenção a mim.

— Não conseguimos, nossa anciã está… Doente.

Anciã? Quem poderia ser? Não tínhamos ninguém assim em Bane além do Sábio dos Montes, porém, sua identidade e existência não passam de lendas para os aldeões.

— Eu estava enganado — comento, atraindo seu olhar — Pensei que você fosse diferente das mulheres de Bane, mas não é bem assim… — finjo estar decepcionado, observando uma árvore qualquer, evitando olhá-la nos olhos.

— Como é?! — indagou e sorri de canto.

— Mesmo sendo uma general, ninguém aqui parece lhe dar valor.

— Isso não é verdade, eles me respeitam — contrapõe e nego com a cabeça, encontrando seu olhar.

— Respeitam você ou seu título? — ergo as sobrancelhas, desafiador, desmanchando sua postura confiante.

"Ah… Como imaginei… Não é difícil atravessar suas barreiras quando as conheço tão bem, afinal, já estive nessa situação."

— Eu entendo você — digo — As pessoas costumam — "ou costumavam", penso —  Definir meu valor com base no sobrenome que carrego e não por quem demonstro ser.

Lalisa riu descrente, cruzando os braços sobre o peito.

— Está mentindo. Todos os homens neste jardim morreria por você, pude ver em seus olhos no instante em que chegou a este castelo — sequer preciso encontrar meus companheiros para saber que se refere a eles e sinto meu coração acelerar com seu comentário — Mas, também sei que eles jamais morreriam pelo herdeiro e futuro líder de Bane.

Prendo a respiração, pego de surpresa por suas palavras. Talvez ela esteja certa, mas nem sempre foi assim, precisei lutar e provar a cada um deles que sou digno de tamanho sacrifício. 

E, sinceramente, não me alegrava imaginar que eles estariam de fato dispostos a isso. Não quero o sangue de meus amigos em minhas mãos.

Volto minha atenção a ela.

— De fato, mas antes de começarem a me olhar dessa maneira, precisei suportar o julgamento de cada um deles — respondi, sério e a alfa me analisou curiosa — Você é general por ser a filha do Mestre desta aldeia, mas assim como eu, precisa trilhar um caminho árduo para que todos a vejam como a pessoa que realmente é, além dessa fachada de superioridade que carrega, sei que existe alguém que deseja ser aceita e respeitada.

Lalisa não me responde e continuamos caminhando pelo jardim. 

Estou quase certo de que pode existir um pequeno labirinto entre esses muros de neve e grama, é assim que se parece, por ser grande dessa forma, me perderia facilmente. 

Continuo procurando falsamente por Teteco, conhecendo o local com cuidado, buscando uma rota de fuga ou saída do castelo. 

— Quando seu pai se for, quem se tornará o Mestre desta aldeia? Você ou seu marido? — sussurrei, arriscando-me a trazer este assunto à tona. Preciso usar seu silêncio a meu favor, o que disse minutos atrás a deixou pensativa.

As sobrancelhas da alfa se unem e permito que reflita um pouco antes de me responder. Sei que está achando minha atitude suspeita, mas não tenho tempo a perder.

— Meu marido — respondeu — Mas, nada me impede de cortar a garganta dele durante o sono — sorriu, sádica e contive uma risadinha, compartilhando de suas intenções, me lembrando de como me sentia luas atrás antes de conhecer Heechul, com tantos alfas e pretendentes horrendos.

— Se cometer um crime como este, o povo se voltará contra você — a lembrei, notando discretamente uma portinha por entre as árvores do fundo do jardim, com passagem para uma floresta de pinheiros.

— Onde quer chegar?

— Estou dizendo que, se nossa aldeia formar uma aliança ou uma trégua, com o fim desta guerra os líderes não terão que se preocupar com poder, bem como serão incapazes de criar desculpas para recusar que uma mulher esteja na liderança — comentei, tranquilamente. Tudo que preciso fazer é colocar a dúvida em sua mente — Aos poucos todas as mulheres conseguirão conquistar o que desejam, e assim, você poderá se tornar a líder desta aldeia. Para isso, basta convencer seu pai a aceitar se juntar a esta mudança. 

— O que te faz pensar que prefiro trair Hyuna, uma mulher alfa como eu, para me unir a um homem, como você? — perguntou e mordi o lábio inferior, pensativo.

— Porque sou um ômega antes de ser um homem, é desta forma que a sociedade me vê, por isso, sei como se sente… Ao menos um pouco.

A alfa voltou a caminhar com certa pressa e tentei acompanhá-la, gesticulando sutilmente a porta que avistei para Heechul. Notei uma fumaça no céu, o que indica que há alguma casa naquela direção.

Talvez pudéssemos sair pelo jardim para encontrar a mulher que o ajudou no passado e se meus instintos estiverem corretos, a anciã da qual Lalisa se referiu é a que estamos procurando.

— Você não entende — a general suspirou, curvando os ombros, melancólica — Este nome não me pertence, assim como eu não pertenço a este lugar. 

— C-Como...  — sussurro, tentando desvendar a dor que dominou seu olhar.

— Eu fui comprada por Jeonghan, anos atrás, de um mercador na Tailândia — contou e arregalei os olhos, horrorizado — Na época, não era muito difícil que órfãos fossem feitos de escravos. Meus pais morreram quando nasci e desde que me lembro, cresci com malditas correntes de ferro em meus pulsos e calcanhares.

"Mas, SeungCheol me encontrou e convenceu Jeonghan a me comprar. Ele sempre desejou ser pai e por ser um ômega macho, infértil, nunca teve a chance. Por isso, eles me trouxeram para Ume e me tornei filha deles.

Os aldeões não gostaram de saber que a herdeira não possuía o sangue de seus líderes, na época estavam exigindo que Jeonghan engravidasse uma de suas servas para gerar um herdeiro, mas ele se recusou a deitar-se com outro ômega que não fosse seu marido. 

Para os aldeões, qualquer pessoa que não possua o sangue de um Mestre, não deve se tornar um."

Engoli em seco, sem saber exatamente o que lhe dizer. Lalisa estava me contando algo extremamente delicado sobre sua vida. Preciso mostrá-la que sou digno da confiança que depositou em mim ao contar-me seu passado. 

— Eu sinto muito que tenha passado por algo tão cruel — confesso, sentindo as lágrimas se formarem em meus olhos ao imaginá-la acorrentada como um animal e ao julgar sua expressão, ela parece surpresa com minha atitude. Poucos devem ter se compadecido com sua história — Mas, eles estão sendo hipócritas! Os aldeões, todos eles! — vociferei, cerrando os punhos — É hipocrisia aceitarem que o homem com quem se casar se torne o Mestre de Ume, quando ele também não possuirá o sangue de Jeonghan. Então, que diferença faz ser você? Sendo filha adotiva ou não, você é a herdeira de Ume.

Lalisa desvia o olhar, claramente incomodada com o que acabei de lhe dizer. Contenho um sorriso, sabendo que consegui plantar a dúvida em sua mente.

Isso é o bastante, se continuar insistindo, ela poderá achar minha atitude mais suspeita do que parece e não posso arriscar ser preso por conspiração.

— Teteco não está aqui — comento, sorrindo de canto, impedindo-a de pensar demais no momento. Quero que a alfa reflita sobre a questão o máximo que puder quando estiver sozinha — Quais outros lugares poderemos procurar?

Lalisa ergueu o olhar, endireitando-se, indicando as portas para o salão.

— Talvez ele esteja em algum lugar dentro do castelo — respondeu e a segui em silêncio, deixando-a sozinha com seus pensamentos.

Continuamos procurando pelo papagaio durante toda a tarde, graças a isso consegui conhecer o lugar devidamente. E, notando que haviam alguns cômodos e corredores que Lalisa recusou-se a olhar, cheguei a decisão de que preciso entrar em cada um deles. 

 

Ω

 

Fecho os olhos e suspiro de prazer ao sentir os dedos firmes de Eunbi em meus ombros, massageando a região com destreza.

Estou dentro da banheira, imerso na água quente com minhas ervas e óleos de banho que despejei e misturei antes que ela pudesse notar, apreciando sua ajuda antes do jantar desta noite.

Eunbi é uma omega bastante tagarela, o que felizmente a torna uma fonte agradável de notícias para mim, embora fossem a maioria fofocas sobre os servos e soldados do castelo.

MiCha e SunHee amariam conhecê-la.

— A senhorita Lalisa falou sobre você enquanto a ajudava minutos atrás com o banho, sabia, jovem mestre? — comentou e abri os olhos, curioso. 

Quase me esqueci que a mesma era uma das servas da alfa e por ser esposa do primo de Heechul, alguém de confiança.

— O que ela falou?

— Que o jovem mestre é uma pessoa intrigante — contou e formei um bico, pensativo. Espero que isso seja bom.

— Noona, se a senhorita Lalisa perguntar, diga que eu adorei sua companhia esta manhã no jardim e que gostei muito dela! — sorri largo, existem grandes chances de o que eu disser chegar aos ouvidos da alfa, não posso perder a oportunidade.

Ficamos boas horas caminhando pelo castelo e só quando consegui conhecer o lugar com detalhes, encontramos Teteco, em meus aposentos.

A alfa resmungou por bons minutos sobre o ocorrido, retirando-se apressada para cuidar de seus afazeres e não pude deixar de sorrir com sua atitude. 

Foi um plano inusitado e bobo por parte de Taehyung, mas funcionou para que pudéssemos caminhar pelo castelo sem intervenções e agora Heechul, assim como Jimin-ssi e meu alfa, poderiam encontrar maneiras de sairmos sem sermos vistos.

— És adorável, jovem mestre — Eunbi me elogia — agora consigo compreender porque Heechul o pediu em noivado — comenta e sinto meu rosto esquentar.

— A-Ah… Obrigado… — ainda é difícil manter a farsa sobre nossa relação. 

Para mim, Heechul não passa de um grande amigo e confidente. Sei que sou especial de muitas formas para ele, porém, sermos vistos como algo mais por outras pessoas me deixa angustiado, não gosto de pensar que de alguma maneira estou magoando-o por não ser capaz de estar consigo de forma romântica.

— Notei que ama usar estes perfumes, jovem mestre — continua e sou arrancado de meus devaneios no mesmo instante — O que acha de usar um que seja do agrado de seu noivo? — ela sorri, largo.

Encolho os ombros, desconfortável. Não quero fazer nada que confunda Heechul ou acabe magoando Taehyung. Mesmo que ambos tenham conhecimento sobre nossas situações, existem limites que não desejo ultrapassar e usar um perfume para agradar um alfa que não é o meu soa absurdo para mim.

— E-Eu prefiro continuar com o de morango — respondo, sorrindo minimamente — é o meu preferido.

Eunbi sorri em resposta.

— Como desejar, sei que seu noivo amará este também.

— É…

Arregalo os olhos quando Yoongi Hyung entra no banheiro subitamente, assustando-nos.

— Aigoo! Bata na porta! — reclamei, intercalando o olhar entre ele e a serva.

Yoongi piscou em compreensão. Não podíamos agir como se fossemos melhores amigos na frente dos nortistas, acabaria colocando-o em perigo.

— Eu apenas vim trazer suas vestes, jovem mestre, para o jantar. É um presente de seu… Noivo — murmurou, entediado. 

O beta sequer conseguia falar formalmente comigo, chegava a ser cômico.

— Eunbi, este é Yoongi, meu conselheiro e soldado de Bane. Não se assuste com sua entrada indiscreta, faz parte de sua personalidade… Por isso, não é um problema que ele entre aqui — sequer sei o que dizer para tornar a situação menos suspeita.

— Entendo — ela murmurou, sem demonstrar qualquer interesse no Min.

Yoongi revirou os olhos, jogando as peças de roupa sobre o baú sem qualquer delicadeza, cruzando os braços sobre o peito.

— Então… Que música pretende cantar para o Mestre Jeonghan? — questionou e dei de ombros, não tinha pensado muito sobre isso, tenho uma em mente, que escutei alguns anos atrás em Lótus, mas não sei como eles irão interpretar a canção — Imagino que precisará de minha ajuda.

— Irei — concordei — e também, ficarei grato se me der alguma sugestão.

— Claro, posso pensar em algo, — Yoongi deu de ombros — mas antes, preciso conversar com você.

Os olhos do Min recaíram sobre a serva e, compreendendo suas intenções, Eunbi se levantou, curvando-se brevemente.

— Eu… Irei buscar o perfume, jovem mestre, caso mude de ideia… — falou e concordei com um aceno, observando-a sair do banheiro, escutando seus passos e a porta do meu quarto sendo aberta, fechando logo em seguida. Com Taehyung de vigia, ela sequer ousaria nos espiar.

— O que foi, Hyung? 

— Não confio em ninguém aqui — ralhou, sentando-se no banquinho próximo a mim onde Eunbi estava segundos atrás — A avalanche que Lalisa lhe contou? É mentira! Chanyeol e Baekhyun ouviram os servos comentarem e descobriram que isso ocorreu luas atrás. Os soldados que você viu? Estão sendo deslocados para as montanhas, de fato, mas com ordens para que fiquem de vigia naquela região — explicou e franzi o cenho, tentando absorver todas essas informações — E sabe por quê?

— Porque é a rota que usamos para entrar na aldeia e também será a de nossa saída — sussurrei, aflito. Não é muito difícil de imaginar quais são as intenções dos nortistas — E Hoseok e Namjoon-ssi?!

— Ah! Eles saíram sem serem seguidos, aparentemente. Recebi um pássaro essa manhã de Hoseok dizendo que assim que estiverem no sul, próximos a Bane, nos enviará outra mensagem — informou e suspirei aliviado — por hora, não tenho certeza se estão seguros.

Ergui os olhos para o teto bem decorado, pensativo. Tudo que podemos fazer é aguardar por uma carta da dupla, enquanto clamamos aos Espíritos por sua proteção. Jimin-ssi provavelmente já deve estar cuidando dessa última questão.

— Acha que eles estão… Nos prendendo aqui? E se tentarmos ir embora, não permitirão? — sussurrei, mordendo o lábio inferior e Yoongi concordou, me deixando mais assustado ao confirmar minhas suspeitas.

— Sim. E nossa melhor alternativa é firmar uma aliança ou uma trégua com Jeonghan — comentou, compartilhando meus sentimentos — Por isso, deve fazer tudo que puder para agradá-lo neste jantar, conquiste ele ou qualquer outra pessoa que seja capaz de nos livrar de um combate. Não podemos lutar contra eles — sequer precisou enfatizar que usar meu veneno seria tolice, mesmo que consigamos fugir da aldeia, meu segredo seria revelado e estaríamos em perigo — Conclua seu plano o quanto antes para irmos embora. 

— Não posso, Hyung… Preciso encontrar aquela mulher, se lembra? Que encontrou Heechul e-

— Fale baixo — ele resmungou, olhando para a porta —, faça isso logo, então — concordei, me lembrando que essa madrugada Heechul me fará uma visita.

O beta se levantou, caminhando até a penteadeira, relaxando a postura. Mesmo que ele esteja preocupado, mantém a tranquilidade habitual e imagino que esteja desta forma porque estamos na companhia de Jimin-ssi. Meu amigo pode não saber quem ele é, mas tem conhecimento de que o Park é mais forte do que parece.

Não ficaria surpreso se ele fosse o responsável pela avalanche de neve, ou… Os Espíritos.

— Agora… Vamos falar de algo mais importante — pegou uma tesoura e franzi o cenho — seu cabelo. Já está na hora de cortar — brincou, mudando de assunto da pior forma possível.

Arregalei os olhos.

— O quê?! Não! De jeito nenhum! — neguei, me esquivando da tesoura, fazendo a água da banheira cair sobre o piso junto do sabão, rindo quando Yoongi tropeçou — Ele está bonito assim! Ahri cortou as pontas!

O Min revirou os olhos, ameaçando cortar os fios novamente e gargalhei quando enfim caiu de bunda no chão molhado.

— Bem feito, seu- Ah! Sai! — gritei surpreso quando Yoongi jogou a tesoura em mim levemente — Aigoo! Eu que vou te-

Me calei no instante em que a porta se abriu e Taehyung entrou apressado, me fazendo encolher dentro da banheira ao lembrar de minha situação, grato pelo sabão esconder meu corpo.

— É sério mesmo? — Yoongi se levantou, pegando uma toalha, secando-se — Pensou que eu fosse uma ameaça ao meu melhor amigo?!

Taehyung o observa aborrecido, relaxando a postura. Eu entendo sua atitude, estamos em um território inimigo, qualquer suspeita de perigo o faria agir.

— Apronte-se, Min. O jantar irá começar em breve — respondeu.

— Seu alfa é um chato quanto está trabalhando, sabia? — Yoongi reclamou, olhando para Taehyung.

— Ele só está tentando me proteger… — sorri de canto para o Kim.

— Pois saiba que você é um protetor chato! Chato! — Meu Hyung lhe mostrou a língua, saindo do banheiro logo em seguida.

“Ele está magoado ou… Ofendido?", penso, "por Taehyung ter cogitado a hipótese de que poderia me causar algum mal." O ocorrido com as Sombras ainda o atormentavam e Yoongi Hyung não queria de forma alguma que isso se tornasse uma opção na mente das pessoas. 

— Peça desculpas a ele depois, amor — digo e Taehyung suspira, concordando com a cabeça, finalmente desviando sua atenção para mim e sinto meu corpo esquentar quando seus olhos escuros vagueiam por cada centímetro de pele exposta que consegue ver.

Céus… Só agora notei que estamos sozinhos. "O que deveria dizer? Talvez-"

— Precisa de ajuda, gracinha? — pergunta, sorrindo largo e coro no mesmo instante, prendendo a respiração quando ele dá alguns passos em minha direção.

— Ajuda, não… — sussurro, apoiando o braço no encosto da banheira, sorrindo de canto para si, gostando da forma como ele está me olhando — Companhia? Talvez…

Taehyung riu baixinho, coçando a nuca e abri um sorriso largo ao notar o rubor em suas bochechas.

— Te deixei acanhado, lobinho? — provoquei, ficando de joelhos, deixando meu peitoral exposto, enquanto a água e o sabão cobrem o restante de meu corpo. 

Eu quero que ele veja tudo que terá o prazer de tocar quando tivermos a chance de avançar em nossa relação.

Taehyung sorri ladino, abrindo os lábios levemente, serpenteando a língua entre os dentes, divertindo-se com minha ousadia. E esse gesto, por mais simples e costumeiro que seja, faz os pelos de minha nuca eriçar.

— Às vezes você me surpreende, gracinha… — sussurrou, curvando-se em minha direção e mais uma vez, senti uma pontada onde não deveria devido ao tom rouco de sua voz — Diga-me: onde está o ômega tímido e inseguro que conheci?

— Ele ficou em Bane — respondo depressa, ansioso, esperando que faça alguma coisa, que me toque em qualquer lugar, desde que me permita senti-lo.

Que sensação era essa? Ia além de desejo carnal ou curiosidade, meu ômega, mais do que nunca, ansiava pelo momento em que poderia se unir ao alfa, senti-lo da forma mais íntima possível. Queria se entregar a ele.

Taehyung sorri de canto e noto o leve brilho escarlate que atravessa suas orbes por uma fração de segundos. Ele também está sentindo e assim como eu, seu lobo está clamando pelo meu.

— Você é lindo, gracinha… — Taehyung sussurra, observando-me maravilhado — Queria tanto que soubesse disso… Que compreendesse o poder que tem em mãos. Pode fazer o que quiser comigo, Jeongguk, e eu continuarei suspirando, completamente apaixonado e rendido por você.

“E se você soubesse como me sinto sempre que me diz coisas bonitas assim…", penso, atordoado com suas palavras.

Ele acaricia meu rosto suavemente, tocando minha bochecha com a ponta dos dedos, deslizando-os até meus lábios, entreabrindo-os suavemente e respiro fundo quando se curva em minha direção.

“Ah, finalmente!” Fecho os olhos com força.

No entanto, sinto-o beijar minha testa com delicadeza, afastando-se logo em seguida.

— E-Ei! Isso não é justo! — reclamo, um tanto manhoso, segurando a manga de seu casaco, formando um bico com os lábios — Você deveria me beijar, amor…

Taehyung ergue as sobrancelhas, contendo um riso divertido, se curvando em minha direção novamente.

— Você é um manipuladorzinho muito abusado, sabia, gracinha? — sussurra e concordo com um sorriso, fechando os olhos, fazendo um biquinho para que ele faça logo o que eu quero.

Suspiro satisfeito quando sinto seus lábios contra os meus, enquanto suas mãos acariciam meu rosto com ternura, enviando um calafrio em meu baixo ventre.

Ergo as mãos e alcanço o fio de seus cabelos, afundando os dedos nas mechas, puxando-as levemente, molhando seu uniforme um pouco, deslizando minha boca contra a sua, esperando que ele tome uma atitude, que me segure com firmeza, que faça mais do que isso…

“P-Pelos Espíritos… Eu preciso de mais… Quero que você seja bruto, alfa…”

Não tenho tempo de verbalizar pois Taehyung se afasta antes que eu possa aprofundar o beijo, negando com a cabeça, mordendo minha bochecha levemente e solto um chiado baixinho.

— Não tomei o antídoto e não estamos em um lugar adequado — diz e pisco em compreensão, me lembrando da maldita cicatriz, notando que crescera o bastante para ultrapassar seu curativo. Taehyung não conseguirá escondê-la por muito tempo.

Acabei me excedendo novamente e se Taehyung não soubesse a hora certa de se afastar, teríamos problemas. Mas, é inevitável, cada dia que passa tem sido mais difícil controlar os desejos de meu ômega e adiar meu cio só está deixando-o mais impaciente.

O Kim sorri de canto, observando-me descontraído, tentando diminuir minha inquietação com seu olhar tranquilo, afastando-se por fim.

— Irei esperá-lo lá fora — declara, me dando um beijo rápido na bochecha —  Arrume-se e conquiste a admiração e confiança de todos nesse jantar, dono da mais bela voz do sul — brincou e revirei os olhos, constrangido.

Taehyung saiu, me deixando sozinho na banheira com o corpo quente e os pensamentos agitados.

Com essa cicatriz, não sei se teremos mesmo a chance de avançar em nossa relação de fato. O antídoto só atrasa a progressão e mesmo assim ela continua crescendo, lembrando-nos que cada beijo pode ser o último.  

 

Ω

 

Todas as cadeiras da mesa de jantar estão ocupadas esta noite, pois além de convidar meus companheiros, Jeonghan teve o desprazer em estender o pedido ao comandante Eun, que neste momento, me lançava olhares indiscretos.

Não sei dizer exatamente porque está interessado em mim, embora imagine que tenha me achado atraente. Não gosto de seus olhares e o alfa parece ser o tipo de pessoa que se tiver a oportunidade, avança sem o consentimento da outra pessoa.

Limpo os lábios com o lenço e ergo o olhar, notando que Jeonghan está me observando com um sorriso de canto.

— Agora que estamos todos satisfeitos, creio que esteja na hora de receber meu presente, jovem mestre — murmura, erguendo as sobrancelhas, indicando o piano que havia sido colocado no canto da sala de jantar.

— É claro… — me levanto, bebendo o restante do vinho, molhando minha garganta, gesticulando sutilmente para Yoongi Hyung que se levanta e caminha em direção ao instrumento.

— Hum… Eu vou cantar uma canção que escutei há alguns anos… — digo-lhe, tentando me lembrar da ocasião. 

A memória não se passava de um borrão em minha mente, mas a voz… Ómoni que estava cantando, após uma cerimônia em Lótus e por algum motivo, nunca me esqueci da letra.

— Como quiser — o alfa líder apoiou o rosto na palma da mão, fitando-me com expectativa.

Desviei o olhar para Yoongi Hyung, havia lhe dito qual era a canção pouco antes do jantar e o beta facilmente se lembrou, afinal, cantamos algumas vezes juntos quando éramos crianças.

As notas suaves do piano preencheram o cômodo amplo, envolvendo-nos como um cobertor durante o inverno, quente… Acolhedor.

Sentei na beira do instrumento e fechei os olhos, respirando fundo, balançando as pernas um tanto ansioso. Preciso agradar Jeonghan e conquistar a admiração da senhorita Lalisa… Eu tenho que ser perfeito.

— "Olá, faz um longo tempo…"— sussurrei, audível o bastante para que todos me escutassem e continuei cantando — 'É o que você é, como se fosse uma regra…" — abri os olhos lentamente, encontrando Lalisa entre os demais, fitando-me com fascínio.

Sorri de canto, sabendo quem seria a pessoa que se renderia nesse momento. A alfa tem um bom coração, será capaz de compreender e sentir a mensagem que esta canção carrega.

— "Eu realmente quero dizer isso…” — tomei fôlego, escutando as notas suaves do piano acompanharem cada palavra minha com delicadeza — “Você tem o direito de ser mais feliz.”

Por uma fração de segundos, consigo ver seu lobo, surgindo na profundeza de suas orbes castanhas, que adquirem um intenso brilho esverdeado.

Sorri de canto e continuei cantando, intensificando meu tom de voz, sem desviar o olhar dos seus, tentando atravessar as barreiras que ela criou para sobreviver neste mundo repleto de maldade.

Minhas palavras fluem naturalmente, preenchendo o cômodo com delicadeza, arrancando alguns arfares das pessoas presentes e com o canto dos olhos, noto um grupinho de servos me espiando atrás da porta.

Faço uma pausa para tomar o fôlego, enquanto Yoongi permanece tocando o piano, acalmando meus pensamentos por alguns instantes com a delicadeza de suas notas.

— "Hum…" — murmuro, deixando-me envolver pela melodia — “Por mais que esteja sozinha… Eu espero que você conheça alguém..." — canto em um sussurro, lentamente, desviando meu olhar para Heechul pela primeira vez, notando que ele, assim como os demais está me olhando encantado — “Que te amará mais do que você mesmo…” — sorrio mínimo, lembrando-me de nossa conversa no navio e seu olhar distante, vazio — “Me desculpe por não ser eu… Não é fácil entregar meu coração.”

Meus olhos encontraram Taehyung brevemente e preciso me conter para não sorrir em sua direção, quando tiver a oportunidade, cantarei algo só para ele, o que Taehyung desejar.

Volto minha atenção à alfa.

— “Por favor, seja honesta comigo…” — cantei, diminuindo meu tom de voz lentamente, até se dissipar — “Exatamente como você disse… Será que algum dia receberei amor de alguém como eu?"

Suspirei, apreciando os acordes finais do piano, desmanchando-se no ar até sermos envolvidos novamente pelo vazio.

Porém, ele não durou muito, bastou Yoongi Hyung afastar as mãos das teclas do instrumento para os aplausos preencherem o salão, me fazendo sorrir constrangido, descendo do piano, me curvando em agradecimento junto do Min.

— Não poderia desejar um presente melhor do que este, jovem mestre — Jeonghan se levanta, caminhando em minha direção com um sorriso largo — os Espíritos lhe abençoaram com uma bela voz.

— Obrigado, Mestre Yoon — sorri aliviado, ao menos essa questão estava resolvida e a julgar por sua expressão maravilhada, sei que ele parece mais interessado em mim, o que é bom, minhas chances de conseguir uma trégua estão cada vez maiores.

— Nunca escutei nada tão belo antes, agradeço-lhe por isso — seu marido, SeungCheol, diz, me estendendo a mão em um cumprimento tímido.

— Estou de bom humor! — Jeonghan declara, envolvendo a cintura de seu ômega — O que acham de uma dança? — sugere, desviando o olhar para Yoongi Hyung que prontamente começa a tocar outra música, atendendo seu pedido silencioso.

O casal se afasta e dou uma risadinha quando Heechul se aproxima, me estendendo a mão, galanteador.

— Enfim terei a honra de tirá-lo para uma dança — diz e seguro sua mão, permitindo que apoie a outra em minha cintura e faço o mesmo em seu ombro.

Me lembro de nosso primeiro encontro, quando Jieun tentou fazer com que ele dançasse comigo no aniversário de Somi, porém estava exausto de tudo que tinha acontecido naquela noite.

— Desculpe… — sussurro, sem jeito, deixando que me guie pelo salão — E-Eu não estava me sentindo muito bem aquela noite e-

— Está tudo bem, eu me lembro — ele riu, aproximando-se um pouco mais e desviei o olhar brevemente para Taehyung, felizmente meu alfa não parecia incomodado, sorrindo levemente, vez ou outra encarando Eun que também me observava, mudando sua expressão quase imediatamente.

— Eu gosto de você, Heechul-ssi — falei, rindo quando ele pisou em meu pé — Por isso… Quero fazer-lhe um pedido egoísta.

— O que desejar, jov- Jeongguk — pigarreou.

— Viva sua vida para você e não para mim — ditei, sorrindo mínimo, sentindo seus dedos segurar minha cintura com um pouco mais de força — Não quero transformar esse pedido em uma ordem, mas… Se precisar, então farei isso.

O alfa negou rapidamente, claramente apavorado com a hipótese e antes que pudesse contestar meu pedido, Lalisa se colocou ao nosso lado e paramos de dançar.

— Perdão, Kim, mas posso tomar seu noivo por alguns minutos? — sorriu e ri baixinho, me afastando dele, segurando a cintura da alfa para que pudéssemos dançar juntos.

Heechul se afastou e seu semblante era o bastante para saber que minhas palavras o afetaram.

— É a segunda vez que uma mulher me chama para dançar — comento, me lembrando de quando Hwasa o fez anos atrás.

— Mesmo? Pois saiba que a primeira a fazer isso tem meu respeito, não me agrada esperar que homens tomem uma atitude — responde e a giro lentamente, guiando nossa dança, apreciando a forma como seu vestido longo se balança.

A alfa está belíssima essa noite, trajando o tecido grosso de mangas longas cinzento delineando sua cintura fina, caindo suavemente, cobrindo-lhe as pernas totalmente.

Os cabelos escuros estão soltos, a altura de seus ombros, sem qualquer tipo de acessório, e sinceramente, ela não precisa.

— Imagino que não seja muito divertido esperar que eles tomem a atitude — digo, tentando manter nossa conversa confortável.

— Não tenho tempo para diversão, jovem mestre — responde e paro de dançar, fitando-a perplexo.

— Não pode estar falando sério! Você mora em um castelo! Tem que existir algo que lhe divirta por aqui — insisto e a alfa dá de ombros, indiferente.

— Bem, eu gosto da biblioteca.

— Fale baixo — me aproximo dela — Yoongi adora ler, se ele souber que vocês tem uma biblioteca estarão em apuros — brinco e consigo arrancar um sorrisinho mínimo seu.

— Ele tem bom gosto — comentou e concordei.

— Mas, estou falando sério, o que você costumava fazer quando era criança? 

Seu sorriso se foi rapidamente e me xinguei mentalmente ao me lembrar do que me dissera no jardim.

— Eu costumava lavar, limpar ou… Carregar algumas coisas e- — Ergui as mãos, pedindo para que parasse de falar. Não quero que ela volte a pensar em tempos ruins como esses.

— Sinto muito, eu me deixei levar e acabei tocando em um assunto delicado — digo e Lalisa parece surpresa com minha reação novamente. 

Não é possível que outras pessoas não tenham demonstrado qualquer tipo de tristeza ao saber de sua história, ignorando seus sentimentos dessa forma. Era?

— Tudo bem… — ela desvia o olhar para Yoongi, que parou de tocar — O que você fazia quando era criança?

— Ah! Eu amava brincar com meu avô pelo jardim, e escalar árvores ou… — ri constrangido — Sabe, se eu vivesse em um lugar como esse, com certeza amaria brincar na neve, fazer bonecos gigantescos, guerra ou até mesmo deslizar em… Como vocês chamam?

— Trenó? — sugeriu e concordei rapidamente. Seria divertido.

— Você nunca fez isso? — a alfa negou e fiz uma careta — Quer experimentar?

— O q-quê? — recuou um passo, negando rapidamente — Não somos mais crianças.

— Quem se importa? — respondi, segurando sua mão — Venha.

Jeonghan e SeungCheol trocavam carícias próximos à lareira do salão e me curvei brevemente para o alfa ao me aproximar, notando quando Lalisa encolheu os ombros, pela primeira vez parecendo insegura.

Creio que mesmo sendo filha do casal, por ter sido adotada exista alguma trava dentro de si, que a impede de agir com um pouco mais de ousadia, provavelmente temendo que eles a rejeitem de alguma forma.

— Mestre Yoon, peço sua permissão para caminhar pelo jardim junto de sua filha — digo, tentando soar o mais educado possível.

— Não precisam da minha permissão para isso — responde, observando a alfa com ternura — divirtam-se. Fico contente, aliás, assim poderei me retirar para me divertir com meu marido — Corei ao compreender sua insinuação e desviei o olhar. 

Jeonghan segurou a mão do ômega, retirando-se do salão após nos alertar sobre o frio da noite.

Troquei olhares breves com Lalisa que tratou de dispensar Eun rapidamente, ignorando seus protestos e a segui até o jardim, escutando os passos de meus companheiros atrás de nós.

Coloquei as mesmas vestes quentes que usei essa manhã e esperei que meus amigos fizessem o mesmo, bem como a alfa, vestindo um manto cinzento com gorro de pele e botas cano alto.

Estremeci ao ser atingido pelo ar frio ao sairmos do salão, seguindo-a até o jardim, arfando maravilhado ao ver as lamparinas do local acesas, iluminando o caminho.

— Está bem… Vamos começar pelo boneco — disse empolgado, porém Taehyung se colocou à minha frente e senti meu rosto esquentar quando segurou minha mão, retirando as próprias luvas, colocando em mim.

Tinha me esquecido.

— E-Eu… Hum… Obrigado, lob- general — sorri de canto quando ele se afastou sem dizer nada, entrando no castelo provavelmente para buscar outro par para si.

— E então? — Lalisa questionou, observando-me com atenção.

— A-Ahn… Vamos fazer duas bolas de neve beeem grandes — gesticulei com os braços, abaixando para reunir a neve — Heechul-ssi, venha nos ajudar e… Yoongi Hyung! — chamei meu amigo, — nos ajude também.

Mesmo relutantes, ambos vieram em nossa direção e ficamos bons minutos montando o boneco. 

Ri contagiado quando Lalisa gargalhou, comemorando como uma criança ao colocar seu próprio cachecol nele.

— Temos que lhe dar um nome — ela falou e arregalei os olhos, surpreso com sua sugestão, poucas pessoas faziam isso. Tínhamos algo em comum!  — Faça as honras, jovem mestre — gesticulou e formei um bico, pensativo, observando-o com atenção.

— Senhor Flocos — disse, encaixando um galho em seu corpinho para ser o braço — O que acha?

— Combina perfeitamente — concordou e sorri largo, satisfeito, encaixando outro galho no corpo do Senhor Flocos.

— Ele precisa de um esposo — digo, reunindo mais neve, notando que Yoongi estava fazendo algo com Heechul alguns metros a frente.

— Ou uma esposa — Lalisa me ajudou a fazer o outro boneco de neve, colocando algumas folhas congeladas em sua cabeça para o cabelo. “Que nome darei a ela?” — Sabe… Acho que estava enganada, você não é como imaginei — sussurrou, tragando minha atenção e desviei o olhar para seu rosto.

— E o que pensou a meu respeito?

— Que fosse um homem egocêntrico que acredita que pode mudar o mundo sozinho — confessou, encontrando meu olhar, sorrindo constrangida — Desculpe.

Neguei com a cabeça. Já ouvi coisas piores a meu respeito.

— O mundo é muito grande — digo-lhe, soprando minha franja, observando Minjae e Jackson parados em frente à porta de entrada para o castelo, atentos aos arredores, assegurando minha proteção — É melhor mudarmos as pessoas, não acha? 

— Creio que tenha razão — a alfa mordeu o lábio inferior e pelo seu cheiro, pude notar que estava insegura, talvez… Assustada.

— Mudanças são lentas, mas se tivermos paciência, acontecerão — disse, pegando um punhado de neve — Por isso vim aqui, preciso que vocês, nortistas, estejam dispostos a isso, então… Pensa rápido! — gritei, jogando a bola de neve em sua direção, pegando-a de surpresa.

Lalisa se levantou exasperada, fuzilando-me com o olhar.

— O que é isso?!

— Uma bola de neve? — pendi a cabeça para o lado, formando outra lentamente — Você tem que se esquivar dela, é assim que a brincadeira funciona — expliquei e Lalisa semicerrou os olhos, desconfiada — O que foi? Está com medo, general?

Em resposta, a alfa se abaixou e reuniu um punhado de neve, jogando em minha direção, porém desviei a tempo, rindo alto quando Heechul foi atingido bem na cabeça.

— Perdoe-me, Kim — a garota se curvou rapidamente.

— Não se preocupe, você fez meu noivo rir, então lhe desculpo — respondeu, gentil. Senti meu rosto esquentar.

— Sendo assim… Toma essa! — ditei, jogando a bola de neve no alfa que atento se esquivou por um triz, erguendo as sobrancelhas provocador. — E-Er…

— Bem feito, bobão — Yoongi Hyung, que estava fazendo um anjo de neve me mostrou a língua, rindo de meu erro e revirei os olhos.

— Agora você terá dois rivais, jovem mestre — Lalisa declarou, abaixando-se para reunir a neve e arregalei os olhos quando Heechul fez o mesmo.

— Ei! Isso não é justo! — falei, recuando alguns passos, pensando em como fugir de seus ataques.

— Escolha bem seus aliados, foi uma das lições de meu pai — a alfa sorriu de canto e sem pensar duas vezes, girei nos calcanhares e comecei a correr, me esquivando da bola de neve de Heechul, rindo ao notar sua expressão derrotada.

Porém, Lalisa era rápida e correu em minha direção, mirando perfeitamente em mim, jogando a bola de neve que atingiu minha barriga.

— Aigoo! Você tem uma mira boa — reclamei, me abaixando para reunir a neve, correndo e me escondendo atrás do boneco — Se atirar novamente irá machucar o Senhor Flocos!

Lalisa hesitou por míseros segundos e aproveitando-me da situação joguei a bola em si, atingindo-a em cheio.

— Que estratégia deplorável, jovem mestre, usando inocentes como reféns… — ela provocou e fiz uma careta, notando que Heechul estava com uma bola de neve em mãos pronto para me atingir.

Olhei para trás sobre os ombros, avistando Taehyung ao lado de Jimin-ssi, observando-nos tranquilamente, embora o Park estivesse com sua atenção concentrada em Yoongi. 

Sem muitas opções, evitando colocar o Senhor Flocos em perigo, corri em direção ao Kim, escutando os passos da dupla logo atrás de mim.

— Alfa! Me proteja! — gritei, fechando os olhos com força quando Lalisa e Heechul jogaram a bola de neve em minha direção, porém, Taehyung se colocou entre eles, erguendo o manto de pele sobre nós, evitando o ataque.

Encontrei seu olhar e contive uma risadinha ao notar que ele também sorria.

— Me proteja? — sussurrou, erguendo as sobrancelhas, cínico, entretendo-se com minha ordem descabida.

— A-Ahn… — “Deveria tê-lo chamado de general? Será que Lalisa irá suspeitar?”

Me afastei rapidamente, engolindo em seco, espiando a alfa que felizmente parecia indiferente ao que acabara de acontecer.

Corri em sua direção e joguei outra bola de neve, pegando-a de surpresa, fazendo-a tropeçar e cair no chão macio, rindo de si mesma. 

Heechul se afastou para conversar com Yoongi e espiei a garota novamente, notando que o clima entre nós parecia mais leve.

É a hora perfeita para dizer o que venho planejando.

— Você quer ter filhos, general? — perguntei, mantendo o tom de voz tranquilo.

— Você quer? — ela retrucou, sentando-se.

— Eu perguntei primeiro — brinquei, tentando desviar o foco de mim. 

— Bem… Sim — deu de ombros, mas pude notar que estava sendo sincera, embora tentasse fingir o contrário.

— E o que deseja para seus filhos? Que tenham uma infância como a sua ou… Que possam viver dessa maneira? — indiquei o jardim e o Senhor Flocos, observando sua reação atônita, se deixando levar mais uma vez pelo que lhe disse.

Agora consigo compreender como Jieun me machucava com suas palavras sempre que desejava. Quando conhecemos o coração de uma pessoa, ou, a essência de quem ela realmente é, não é difícil alcançar suas inseguranças e descobrir formas de usá-las ao nosso favor. 

Porém, diferente de minha ómoni, não desejo fazer isso com más intenções, Lalisa tem se mostrado uma alfa digna de respeito e afeto, por isso… Mais que apenas uma trégua, eu quero tê-la ao meu lado. Não desejo somente uma aliança, quero ser seu amigo.

Me sento à sua frente e estendo a mão, sorrindo de canto, um tanto trêmulo.

— Paz — digo, prendendo a respiração quando suas orbes antes castanhas assumiram tons intensos de verde — Não para você ou para mim, mas, para os que virão depois de nós, para as pessoas que amamos e desejamos proteger — declarei, fitando-a com seriedade, tentando demonstrar que sou digno de sua confiança — Paz. E, se estiver pedindo muito neste momento, trégua.

"Convença seu pai a aceitar minha proposta, quando esta guerra acabar e for sua vez de governar, manteremos a paz. Eu lhe dou minha palavra, de que o Sul jamais se voltará contra o Norte."

O olhar da alfa recai sobre minha mão, incerta e não digo nada. Já falei tudo que precisava, se insistir apenas farei com que recue, desconfiada.

— Acredita mesmo que tenho tamanha influência sobre as decisões de meus pais? — questiona e concordo, convicto de que se a tiver ao meu lado, as chances de concluir meus planos serão maiores.

— Eles a adotaram conhecendo todos os riscos. Vi como a olharam quando pedi para virmos para o jardim — comentei, tentando lhe passar confiança — eles a amam.

A alfa engole em seco e suspiro aliviado quando segura minha mão, apertando levemente, firmando um acordo silencioso de paz.

— Farei o que puder para convencê-los — declara e sorrio largo, abraçando-a com força, sem pensar direito. 

— D-Desculpe — me afastei no mesmo instante, corando quando Lalisa riu de minha atitude.

A alfa se levanta e faço o mesmo, espirrando logo em seguida, fungando baixinho.

— O frio irá adoecê-lo, jovem mestre — Taehyung diz, aproximando-se junto dos demais — Acredito que seja adequado retornar aos seus aposentos.

— Seu general tem razão — Lalisa concordou e a segui, cabisbaixo, espirrando novamente, acenando para o Senhor Flocos.

Após me despedir da alfa, voltei para meu quarto acompanhado dos demais e deitei na cama depois de vestir um pijama, me encolhendo debaixo dos cobertores quentes.

— Eu es-estou bem… — reclamei quando o Kim tocou meu rosto novamente, checando minha temperatura.

— Não parece — respondeu, observando-me preocupado — não deveriam ter ficado tanto tempo na neve, se eu tivesse pego um gorro para você ou…

— Não é sua culpa, amor — sussurrei, abraçando um travesseiro, sorrindo quando suas bochechas enrubesceram. Ele sempre ficava desconcertado quando o chamava desta forma. Se pudesse, faria isso sempre.

Desviei o olhar do seu ao escutar batidas na porta, avistando Jimin-ssi na entrada.

— Ficarei de vigia esta noite, Taehy — declarou — aproveite e descanse um pouco. 

Neguei com a cabeça, me sentando na cama.

— Não vá agora — pedi, sentindo uma estranha necessidade de mantê-lo por perto — Heechul disse que viria ao meu quarto para conversarmos sobre aquela mulher. 

Taehyung crispou os lábios, pensativo.

— Não sei se é uma boa ideia, gracinha…

— A serva não irá voltar, Jimin-ssi ficará de guarda, ninguém saberá que está aqui comigo — insisti, contendo os ânimos de meu lobo. O ômega estava desesperado para mantê-lo por perto — Por favor, lobinho… Eu prometo ficar quietinho.

Taehyung riu soprado, desviando sua atenção de mim para o melhor amigo e suspirei aliviado quando Jimin-ssi meneou a cabeça em concordância, permitindo que ele ficasse, fechando a porta logo em seguida.

O Kim fechou as cortinas e retirou os sapatos lentamente, então me ajeitei na cama espaçosa, jogando alguns travesseiros no chão, sentindo meu coração disparar quando ele retirou o restante do uniforme da guarda, ficando apenas com uma camiseta de regata simples e a calça larga.

"Vocês só irão dormir, Jeongguk", disse a mim mesmo, umedecendo os lábios, respirando fundo, sentindo o cheiro de cacau e grama molhada dominar meus sentidos quando Taehyung deitou-se ao meu lado. Então, abracei sua cintura, repousando a cabeça em seu peitoral, escutando seus batimentos cardíacos.

“Pelos Espíritos!” Não sabia que precisava tanto de um momento como esse, mas ter Taehyung junto a mim é a melhor forma de me deixar mais calmo.

— Estou com medo — confesso, fechando os olhos, apreciando suas carícias em meu cabelo — De encontrar essa mulher e descobrir algo de ruim sobre nós.

— Não fará diferença — respondeu, deslizando os dedos até o lóbulo de minha orelha, acariciando a região e senti um friozinho gostoso na barriga — Ficaremos juntos. Apenas saberemos a verdade e ela nos ajudará a compreender o que temos, nada mais.

Concordei em silêncio, erguendo o olhar, apoiando o queixo na palma de minha mão, apreciando cada detalhe de seu rosto bonito.

Os fios de seu cabelo estão mais longos, levemente ondulado nas pontas e noto que uma barba rala — quase imperceptível — está nascendo em seu queixo. 

Taehyung permanece em silêncio, analisando-me da mesma forma. Seu olhar recai sobre meus lábios e sinto um calafrio percorrer minha espinha quando suas mãos invadem minha camiseta, tocando minha pele sem qualquer barreira, envolvendo minha cintura.

— A-Alfa… — minha voz soa como um suspiro e Taehyung sorri de canto, apertando-me contra si — O q-quê…?

— Eu queria poder marcá-lo, sabia? — sussurrou, a voz grave gerando um arrepio em cada região de meu corpo — Nunca desejei tanto fazê-lo como hoje. Desde o momento em que pisou neste castelo e Jeonghan o olhou como se pudesse reivindicá-lo, meu alfa tem estado agitado, quase… Desesperado, para mostrar a todos que você me pertence.

Não sei o que responder, então permaneço em silêncio, incapaz de desviar o olhar dos seus.

— Não quero que pense que o vejo como um objeto de posse, gracinha… — apressou-se em dizer, temendo que interpretasse sua atitude como algo ruim — E-Eu só… — engoliu em seco.

— Eu sei, amor — o interrompi, segurando seu rosto com delicadeza — Eu entendo. Também gostaria que fizesse isso, que pudesse mostrar a todos que tenho um alfa, mas precisamos aguentar um pouco mais.

Taehyung concordou, beijando minha bochecha, deslizando os lábios até meu pescoço, na exata região onde era feita a marca de um alfa, criando uma ligação que já tínhamos e poderia se tornar mais forte.

A questão é: realmente precisamos de uma?

— Eu amo você… — arfei ao senti-lo chupar a região, me obrigando a conter um gemido surpreso, segurando o tecido de sua camiseta com força.

— E-Eu também, Taehyung… — virei o rosto, buscando por sua boca, fechando os olhos ao tocar seu nariz com o meu sutilmente, passando uma perna por seu quadril.

Porém, antes que pudéssemos nos beijar ou fazer qualquer outra coisa, Heechul entrou no quarto, fazendo Taehyung se afastar rapidamente.

"Pelos Espíritos!”, me escondi debaixo do cobertor, sem saber como reagir à sua entrada inesperada, envergonhado.

Taehyung deveria ter escutado!

— Perdão — o Kim se curvou e espiei sobre o cobertor, notando seu desconforto — Posso retornar mais tarde quando-

— N-Não! — me sentei depressa, franzindo o cenho quando Taehyung saiu da cama — Só estávamos conversando…

Heechul intercalou o olhar sobre nós, descrente, porém não disse nada apoiando o corpo na parede, cruzando os braços. Taehyung enfiou as mãos nos bolsos da calça, parecendo incerto sobre o que fazer.

“Ele não vai embora, certo?”

— Há uma passagem pelo jardim que nos levará a casa daquela mulher — Heechul declarou, findando a tensão que dominou meus aposentos e arregalei os olhos. Minhas suspeitas estavam certas! — Temos que ser rápidos, então peguem seus casacos, precisamos voltar antes que os guardas notem que há algo de errado.

Concordei depressa, me levantando, sentindo minha cabeça latejar devido a dor, mas não tenho tempo para me preocupar com isso e pego o primeiro casaco que encontro.

No entanto, Taehyung paralisa e toma o tecido de minhas mãos, recolhendo suas roupas e o uniforme da guarda, gesticulando rapidamente para Heechul e ambos correm para o banheiro, fechando a porta com cuidado e não preciso me esforçar muito para notar que ele provavelmente escutou os passos de alguém.

Volto para a cama, jogando o cobertor com o cheiro de Taehyung debaixo da mesma, ficando apenas com um, sorrindo falsamente quando Jimin-ssi abriu a porta.

— A senhorita Lalisa veio visitá-lo, jovem mestre — declarou e o agradeci brevemente, observando-a entrar com uma bandeja em mãos, onde duas xícaras com um líquido quente estavam.

— Desculpe por aparecer sem avisá-lo, mas lembrei-me de que esta bebida ajuda a evitar que fique gripado — explicou, sentando-se na beira da cama, me entregando a xícara e esperei que ela bebesse a própria para fazer o mesmo com a minha. Tinha um gosto bom.

— Agradeço a preocupação, mas não fico doente com facilidade — digo, notando que bastou Taehyung deitar ao meu lado para meus espirros cessarem. Sua temperatura corporal me ajudou mais do que imaginei.

A alfa fica em silêncio por longos minutos e noto que parece ansiosa.

— O que houve? — arrisco perguntar.

— Case comigo! — diz rapidamente e arregalo os olhos, pego de surpresa com seu pedido inesperado.

— O q-quê?!

— Podemos aumentar nossas chances ao casar-se comigo, será uma aliança de verdade, em vez de uma trégua temporária — explicou e senti minha cabeça doer ainda mais — Heechul entenderá se romper o noivado para se unir à filha de um líder.

— E-Eu não…

“Pelos Espíritos, não acredito que estou em uma situação como essa novamente!”

— Você não pode engravidar, certo? Ômegas machos são incapazes de gerar vida, então imagino que esteja enfrentando alguns problemas em sua aldeia, por ser o futuro líder — prosseguiu, afoita e lembrei de minha conversa com Heechul luas atrás, sobre todos os ômegas machos do Norte nascerem inférteis — Se nos casarmos, posso lhe dar um filho. Não me importo com essa baboseira sobre o orgulho de um alfa, farei isso pelo bem de nossas aldeias.

— Desculpe — a interrompi, angustiado — Mas, eu já tenho um alfa e… Eu o amo — Sei que ela pensará que estou falando de Heechul e no momento é melhor que acredite nisso — Por isso, não posso me casar com você.

— Oh… Entendo — Lalisa desvia o olhar para sua caneca vazia, claramente envergonhada por ter agido por impulso — Desculpe, jovem mestre.

— Jeongguk — sorri mínimo, segurando sua mão — Não somos desconhecidos mais e mesmo que não possa me casar com você, espero que sejamos amigos.

A alfa concorda em silêncio, pegando minha xícara também vazia, colocando na bandeja, se levantando depressa, fugindo da situação na qual se colocou.

— Conversarei com meu pai amanhã — afastou-se um tanto atrapalhada e concordei em silêncio, acenando para si quando saiu do quarto.

Soltei a respiração que sequer notei que havia prendido, deitando na cama exausto, observando Taehyung e Heechul saírem do banheiro minutos depois, trocando olhares óbvios.

Se Lalisa tivesse aparecido alguns minutos mais tarde, saberia que escapamos para o jardim em busca da anciã de sua aldeia e toda a confiança que lutei para conquistar seria descartada.

Porém, não conseguia pensar em nada além do fato de que mais uma vez recusei um noivado vantajoso. A alfa, mesmo que não fizesse parte de meus planos, tornou-se uma pretendente em potencial, no entanto, tenho que continuar noivo de Heechul enquanto avanço lentamente em direção ao destino que os Espíritos escreveram para mim.

— Iremos ao encontro da anciã na próxima noite — Heechul declarou e concordamos — Será mais prudente se evitarmos sair no momento… 

— Certo…

— Irei me retirar, tenham uma boa noite — curvou-se brevemente, deixando meus aposentos.

Taehyung estava prestes a sair quando me levantei, segurando sua camisa.

— Você disse que ficaria — o lembrei, ansioso. Agora, mais do que nunca, preciso de meu alfa perto de mim — Por favor, lobinho…

O Kim parece receoso, provavelmente temendo outra visita inesperada e sei que também deveria estar, mas não consigo evitar.

— Está bem… — cedeu e sorri largo, deitando novamente consigo, lhe entregando meu antigo inibidor para evitar que seu cheiro me marcasse, abraçando-o.

Taehyung permaneceu em silêncio, acariciando minhas costas por baixo do tecido do pijama e rapidamente adormeci em seus braços, exausto, tendo sua respiração como melodia para meus sonhos.

 

Ω

 

Agosto, Vigésima Quinta Lua do mês, Verão


 

Faço uma careta desanimado ao acordar e notar que Taehyung não está mais na cama, porém entendo que ele não poderia ficar comigo por tanto tempo, seria arriscado.

Me levanto e tomo um banho cuidadoso sozinho, grato por Eunbi estar ocupada costurando as roupas que trouxe para mim, que estão grandes demais.

Após me vestir confortavelmente, aprovando a escolha da mulher, saio de meus aposentos, cumprimentando Jackson e Minjae-ssi, que ficaram responsáveis pela vigia, parados à porta. Jimin-ssi e Taehyung provavelmente estão descansando nesse momento.

— Recebemos uma carta de Hoseok esta manhã — Minjae comenta enquanto caminho em direção a sala de jantar — Ele e seu escudeiro já estão em Lótus e devem chegar em Bane na manhã seguinte — informou.

— Precisamos voltar o quanto antes — digo, aliviado por saber que o Jung e Namu-ssi estão bem — Não é seguro ficarmos aqui por tanto tempo, enquanto a aldeia está desprotegida.

Mesmo que meu abeoji e grande parte da alcatéia de Taehyung esteja na aldeia, o simples fato de o Sábio dos Montes não estar presente os deixam vulneráveis, afinal, Jimin-ssi é o responsável por evitar grande parte das invasões com suas sugestões durante a patrulha, que sempre levavam Taehyung diretamente aos inimigos que ousavam entrar em Bane.

— Entendido — o beta responde, sem olhar em meus olhos e o observo confuso. Ele está estranho.

— Tudo bem, Minjae-ssi? — pergunto, preocupado com seu bem estar — Se estiverem cansados, basta me dizer, sei que exigi muito de vocês dois durante essa viagem.

— Estou perfeitamente bem — Jackson sorri descontraído, respondendo no lugar de Minjae-ssi, que apenas concorda com a cabeça, evitando me encarar e antes que possa insistir na questão, Lalisa surge no corredor, me chamando para o café da manhã.

Heechul já está na mesa e me sento ao seu lado, sorrindo sem graça quando Yoongi — que também já estava no cômodo à minha espera — se dispõe a provar minha comida antes que o fizesse, gesticulando para que continuasse minutos mais tarde, assumindo seu lugar ao lado de nossos companheiros.

Definitivamente, jamais me acostumarei com isso.

— Jovem mestre — Jeonghan chama minha atenção e ergo o olhar em expectativa — Minha filha conversou comigo esta manhã e, mesmo relutante, estou disposto a ouvir sua proposta.

Quase engasgo com o bolinho de arroz, fitando a alfa perplexo. Ela tinha sido rápida, não imaginei que o faria tão cedo.

— E-Eu… — bebi o chá rapidamente, calculando minhas palavras. 

Tive a chance de conhecer Jeonghan ao menos um pouco e consigo imaginar quais são seus interesses nesta guerra, por isso, tenho que lhe propor algo vantajoso.

— Esta guerra levará anos para acabar se continuarmos batalhando uns contra os outros e, assim, nosso povo perecerá — falei, sem desviar o olhar dos seus — Por isso… Se não quer lutar contra Hyuna, se declarar sua aliança com Bane for um risco muito grande a se correr, ao menos considere uma trégua. Cesse os ataques à Bane e prometo que não cultivaremos raiva ou ressentimento contra seu povo. 

"Permaneça aliado de Hyuna, se desejar, mas não se envolva nos conflitos de Bane com Aloysia. Assim, quando a aldeia que vencer esta guerra solicitar, você deverá se unir a ela para ajudá-la em seus objetivos."

Jeonghan sorriu de canto, pendendo a cabeça para o lado, trocando olhares com seu marido.

— Confesso que não imaginei que fosse muito inteligente, jovem mestre — desdenha, apoiando o queixo na palma das mãos, fitando-me com seriedade — Porém, parece que todos nesta família se enganaram. Então… Diga-me, que garantia terei de que Bane não tentará nos atacar, sabendo que você e seus companheiros sabem como entrar em meu território sem serem detectados? — Abri a boca para lhe responder, mas o alfa líder prosseguiu: — Se Bane vencer esta guerra, como poderei saber que seu pai não se nomeará rei deste país? 

— Minha palavra é tudo que posso lhe oferecer — respondi, sincero — E, se desejar, juro diante de ti e dos Espíritos que cumpriremos o prometido. Quanto ao rei… O Conselho ou o povo pode decidir aquele que irá usar a coroa, meu abeoji entenderá que as vidas dessas pessoas valem mais que um mero trono.

O alfa me analisa minuciosamente, pensativo e prendo a respiração quando seu marido se curva em sua direção, sussurrando algo para si.

— Pois bem… — Jeonghan se endireitou e retesei, ansioso — A partir do dia de hoje, prometo a ti e diante dos Espíritos que não ordenarei que meus homens ataquem sua aldeia e, quando essa guerra acabar, quero uma cadeira no Conselho, para votar naquele que se tornará o rei deste país.

Arfei, pego de surpresa com suas palavras, incrédulo de que tinha conseguido.

Me levantei, curvando-me em sua direção, grato por aceitar minha proposta.

— Obrigado, Mestre Yoon, garanto-lhe que não se arrependerá — sorri, me sentando novamente quando o alfa gesticulou para que o fizesse.

— Não por isso, garoto… Não por isso…

— Então… Poderemos partir em segurança? — perguntei, ansioso para voltar para casa, só preciso encontrar a anciã antes.

Jeonghan concordou, sorrindo gentil.

— É claro… Eu prometi a Heechul, não foi? De que poderiam nos visitar e retornar em segurança e sou um homem de palavra.

— Ordenarei que preparem os cavalos e suprimentos para a viagem de vocês — Lalisa interveio e lhe agradeci com o olhar, notando que sua postura parecia mais relaxada agora que seu pai estava, de certa forma, ao nosso lado.

Voltamos a comer tranquilamente e fui incapaz de conter o sorriso durante todo esse tempo. Eu tinha mesmo conseguido, não era uma aliança, mas, ao menos uma trégua foi formada e teremos que nos preocupar apenas com Hyuna nesse momento.

Após o café da manhã, segui Lalisa até o jardim do castelo, o lugar se tornou nosso espaço em pouco tempo.

Minjae e Jackson acompanharam-nos um pouco distantes e caminho em direção a dupla quando o comandante Eun se aproxima para conversar com a general, me certificando de ficar o mais longe possível do crápula.

— Você está mesmo bem, Minjae-ssi? — questiono, notando seu semblante aéreo.

— Estou… Jeon- jovem mestre, não seria melhor retornarmos a Bane hoje? — sugere e nego brevemente.

— Não seria seguro e temos que nos preparar, faremos isso amanhã — sorri de canto. 

Também acredito que seria melhor irmos embora agora, porém, não consegui encontrar a velha mulher que falou com Heechul anos atrás e preciso descobrir o que mais ela sabe sobre mim.

— Relaxa, você ouviu o que o Mestre deles falou, né? — Jackson lhe deu um empurrãozinho — Vamos voltar em segurança e Bane não será mais atacada!

— S-Sim… — Minjae cerra os punhos, mantendo os olhos voltados ao chão, inquieto com alguma coisa.

Talvez esteja cansado, com saudades de Bane ou… Assustado. Afinal, Minjae esteve presente em nossa última viagem e uma das servas de minha família morreu durante um ataque.

— Encontrei você — Heechul se coloca ao meu lado e pulo assustado, pego de surpresa com sua aproximação — Os preparativos para a viagem já estão em andamento e como estamos algumas luas a frente do planejado, pensei que pudéssemos fazer um desvio durante a viagem.

Pisquei confuso, tentando decifrar sua expressão empolgada.

— Que tipo de desvio? 

— Já ouviu falar em Rodolita? — questiona e me esforço ao máximo para conseguir alguma informação, porém nego com a cabeça — Foi o que pensei. É um vilarejo próximo à Ume, que fica escondido depois das montanhas de gelo, entre o mar a Oeste e Lótus.

Ergui as sobrancelhas em compreensão, me lembrando de ver um nome parecido com este luas atrás durante o planejamento da viagem. É um vilarejo grande, ao que parece.

— O que têm lá? — questiono, ainda sem saber o motivo pelo qual Heechul quer atrasar nossa viagem visitando um lugar praticamente desconhecido.

O alfa sorriu de canto e prendi a respiração quando se curvou em minha direção, sussurrando rente ao meu ouvido para que Minjae nem Jackson pudessem escutá-lo.

— Seu exército, jovem mestre.

 

Ω

 

O jantar ocorreu tranquilamente e tive a oportunidade de conhecer Lalisa um pouco mais e fiquei satisfeito ao constatar que a alfa também desejava manter contato quando partisse. Inesperadamente, tinha feito uma grande amiga.

Logo após retornar aos meus aposentos, tomei todo o cuidado necessário ao vestir roupas de frio e um manto de pele com gorro, aguardando junto de Taehyung e Jimin-ssi por Heechul, que nos levaria a anciã, que segundos nossas suspeitas, era a mulher que o encontrou anos atrás.

Yoongi Hyung e Mingyu-ssi — que retornou após cumprir as ordens do Kim referente a viagem e ao desvio que deveríamos fazer para que eu pudesse visitar Rodolita — ficaram de guarda em frente aos meus aposentos, enquanto Jackson e Minjae-ssi vigiavam os corredores, e se fosse necessário, o beta viria ao nosso encontro para nos alertar.

Então, neste momento, estou seguindo Heechul que está segurando uma tocha por uma passagem estreita e mal iluminada que os servos do castelo costumam usar em direção ao jardim, que possui uma saída segura para a floresta que se estende atrás do castelo, onde a suposta anciã vive.

— É mesmo seguro fazermos isso? — perguntei, aflito, tropeçando em um dos degraus. Jeonghan nos colocou em um dos andares mais altos do castelo e neste momento suponho que seja por este exato motivo.

— Seremos rápidos, então não há nada com o que se preocupar — o Park murmurou enquanto Taehyung ajudava Heechul a apagar a tocha, olhando ao redor antes de avançarmos pelo jardim, correndo contra o vento congelante.

Suspirei aliviado quando Heechul abriu a pequena portinha para passarmos com uma chave que Chanyeol e Baekhyun conseguiram escondidos por estarem infiltrados entre os servos e seguimos adiante pela única trilha que havia na floresta.

Por sorte — ou graças aos Espíritos — Jimin-ssi nos guiou pela floresta como se conhecesse o local e conseguimos chegar a um pequeno casebre envelhecido, envolto por gramas que se prendiam aos muros e até mesmo a porta de madeira, onde tímidas flores roxas tentavam desabrochar.

Fumaça saia da chaminé, o que indicava que não estava abandonada. 

Segurei a mão de Taehyung em busca de algum conforto e os segui até a entrada, estremecendo quando Heechul bateu levemente na madeira.

Alguns segundos se passaram e quando o alfa fez menção de repetir o ato, uma garota baixinha abriu a porta bruscamente, olhando-nos desconfiada.

— O que querem aqui?! — ralhou e Heechul não se deixou abalar com seu olhar intimidador.

Ela usava um avental maltrapilho por cima do vestido longo, estava descalça, apenas de meias e olhei curioso para o corte inusitado de seu cabelo loiro.

— Estamos à procura da anciã, viemos falar com ela — Heechul declarou, tranquilo e a garota franziu o cenho, avaliando-nos dos pés à cabeça.

— Ela não fala com ninguém há muitas luas, meu caro — respondeu, pouco se importando com o próprio tom de voz diante de alguém possivelmente mais velho que si — Vão embora. 

— Como assim? — atrevo-me a perguntar, curioso com sua resposta.

— Eu gaguejei por acaso, criança? — resmungou, cruzando os braços e entreabri os lábios, perplexo com sua falta de modos. 

Ela estava mesmo me chamando de criança? Se tivesse que deduzir, diria que teria a mesma idade que Somi, embora suas vestes e feições indicassem que fosse mais velha. Talvez tenha presenciado muitos tormentos a ponto de sustentar essa expressão.

— Halmeoni não diz uma única palavra há muitas luas, — prosseguiu, alheia à minha inspeção — parece... Que sua alma abandonou seu corpo — explicou e prendi a respiração, atormentado com suas palavras.

Não… Não viemos aqui para voltar atrás!

— Po-Podemos tentar? — insisti, abaixando o capuz, fitando-a determinado.

A garota semicerrou os olhos, desconfiada, mas nos cedeu passagem e espirrei baixinho ao sentir o cheiro forte de poeira. Taehyung fez menção de evitar que entrasse no casebre e sussurrei que estava tudo bem. Ele se preocupa demais.

A casa é pequena e úmida, com apenas dois cômodos além do que suponho ser um banheiro minúsculo. Velas estão espalhadas pelo local, iluminando-o minimamente e sinto uma energia abrasadora me dominar quando entro no quartinho indicado pela garotinha, avistando uma velha mulher sentada em uma cadeira de balanço, observando as cortinas das janelas como se pudesse enxergar a paisagem além delas.

— Eu vou fazer um pouco de chá… Vocês aceitam? — a garota pergunta e Taehyung concorda educadamente.

— Eu lhe agradeço, senhorita… — Jimin sorri educado e isso parece convencê-la de que somos amigos.

— Evelyn, apenas Evelyn.

“Apenas?”, franzi o cenho, curioso “Ela não tem um sobrenome?"

Balanço a cabeça e volto minha atenção à velha mulher, que sequer reagiu a nossa presença, mantendo os olhos fixos nas cortinas.

A garota se curva brevemente e Taehyung se mantém próximo a porta, esperando que a mesma saia para ficarmos a sós com a mulher.

— É… É ela? — pergunto e Heechul concorda lentamente, encarando-a abismado, sem saber como reagir diante do que vê — O que houve?

— Eu… Não sei, jovem mestre. Só a vi uma vez em toda minha vida e… Ela estava mais jovem e… Cheia de energia.

Mordi o lábio inferior e me aproximei da anciã, segurando sua mão com cuidado.

— Hum… Olá, halmeoni — "posso chamá-la dessa forma?” — E-Eu sou Jeon Jeongguk, o ômega que você disse que Heechul-ssi precisava encontrar e-

— Isso é tolice, ela não irá responder — Jimin-ssi me interrompeu, encarando a velhota com o semblante endurecido. Seus olhos cor de mel estavam opacos, sem qualquer resquício de interesse, completamente diferentes de quando lhe contei sobre ela na cachoeira. "O que mudou? Ele está sentindo algo? Ou… Os Espíritos?"

— Basta tentar de outra forma… — Taehyung sugeriu, incerto, ainda apoiado sobre o batente da porta, vigiando para o caso da garota – provavelmente sua neta – retornar.

O Park negou com a cabeça. Parecia… Decepcionado. 

Jimin-ssi cultivou esperanças durante a viagem, talvez de que encontraria alguém como ele, outro Sábio, outra pessoa escolhida pelos Espíritos. Mas esta mulher era apenas… Uma humana com descendência lupina comum, sem qualquer indício de poder. De fato, era como se a sua alma tivesse abandonado o corpo.

— Vamos embora, — ditou, dando-lhe as costas — não conseguiremos nada aqui e- 

— Entre todos neste quarto, você deveria ser o mais paciente, não acha? — prendi a respiração quando o olhar da velhota recaiu sobre Jimin-ssi que se encontrava paralisado próximo a porta.

Arregalo os olhos, atônito, sem saber o que lhe dizer. Porém, a atenção da velha mulher está concentrada em Heechul que está parado atrás de mim e me afasto um pouco para que ele segure sua outra mão.

— Enfim você voltou, rapaz… — sua voz soa tão baixa que se assemelha a um sussurro e os olhos cinzentos permanecem fixos em outra direção. Ela… Não podia enxergar — E você trouxe o garoto… — comenta, sorrindo de canto e retribuo, constrangido.

— Sim… — Heechul concorda, sorrindo largo, satisfeito consigo mesmo.

— Sempre soube que seu lobo não escolheria o alfa de Heechul — seu rosto se vira em minha direção, embora a íris sem cor permaneça perdida em qualquer outro ponto e engulo um punhado de saliva quando acaricia a palma de minha mão com doçura. Por algum motivo, mesmo que seja incapaz de nos ver, sinto que ela sabe onde estamos, quem somos… Como somos — Mas… Confesso que estou surpresa por ser você — diz, erguendo o olhar para onde Taehyung estava, parecendo... Curiosa.

— Halmeoni… A senhora sabe a verdade sobre mim? — pergunto, aflito — Sobre… Nós? — me refiro aos meus alfas, ávido por respostas que me tirassem do escuro e findassem todas as minhas dúvidas.

A anciã sorri de canto, gesticulando sutilmente para Taehyung se aproximar e ele o faz, ficando de joelhos em frente à sua cadeira junto de Heechul e eu.

— Eu deveria saber de algo sobre vocês?

— Bem… Halmeoni fala com os Espíritos, não é? — Perguntei, incerto.

Ela nega com a cabeça e sinto o ar escapar de meus pulmões. Se ela não é uma Sábia como Jimin-ssi… Então, como…?

— Eu apenas lhe contei o que me foi pedido, rapaz — responde, repousando os olhos cinzentos em Heechul.

— Como assim? — a observo confuso.

— Há muitos anos, quase fui morta por soldados de sua aldeia, jovem mestre — narra e arregalo os olhos, incrédulo — Eles queriam que nos rendessemos. Bane estava vencendo a guerra naquela época e o Norte se recusava a ceder, por isso invadiram Ume com o objetivo de sequestrar o jovem mestre Jeonghan, que deveria ter a sua idade, para chantagear o falecido líder. 

"Eu era aprendiz da antiga anciã desta aldeia e quase fui morta durante a invasão. No entanto, um homem me salvou, mas não por misericórdia… Ele disse que em algum momento precisaria de minha ajuda, que apenas eu seria capaz de salvar uma pessoa valiosa no futuro, que essa deveria ser minha forma de retribuição por poupar minha vida."

— Es-Está dizendo que Bane atacou Ume há muitos anos e tentaram raptar Jeonghan? — arfei, tentando absorver suas palavras. 

Nunca escutei essa história antes… Tudo que sei é que dezoito anos atrás Bane foi atacada por Ume e que o pai de Taehyung liderou um grupo de soldados em busca de vingança. Os Lee trouxeram Minho para casa nesta mesma época, o tomaram para si como seu filho, por perderem o próprio durante o ataque.

Entretanto, nunca soube que antes disso acontecer, Bane havia lhes atingido primeiro. Meu abeoji era o jovem mestre, o que significa que vovô foi o responsável por tal ordem.

"Por quê?"

— Essa pessoa que lhe salvou… Quem era? — perguntei, tentando encaixar as peças dessa história, porém muitas faltavam.

— Ele se parecia com você, criança… Digo, tinha a mesma energia — a anciã sorriu para Jimin-ssi, que permanecia afastado de si, escutando-a alarmado, confirmando suspeitas que não se deu ao trabalho de compartilhar comigo.

Então… O velhote a salvou anos atrás? O antigo Sábio foi ao seu encontro e lhe contou sobre mim, antes mesmo que eu tivesse nascido?

— Aquele homem revelou-me a existência de uma flor — sorriu enigmática e senti meu coração falhar uma batida quando seus olhos recaíram sobre mim — Exatamente, criança. Aquela flor.

Heechul franziu o cenho, tentando compreender de que flor ela estava falando. Mas eu sei, assim como Taehyung e Jimin-ssi, que ela se referia a wolfsbane, o veneno dos lobos.

— Por que ele… — engoli em seco, assustado com a hipótese de mais alguém saber de meu segredo. 

— Ele me contou sobre a flor e me ensinou a criar um antídoto para ela — explicou e me lembrei do caderno que Somi recebeu de Jaewon com informações a respeito da flor de acônito, que a ajudou a concluir seus estudos. Então, aquele caderno lhe pertencia… Mas, como chegou em suas mãos? — Eu não compreendia por que precisava estudar uma planta que não florescia em nossos solos, ou sobreviveria no frio de Ume. Mas, ele insistiu e disse-me que chegaria um momento em que seria importante ter tais conhecimentos e como eu lhe devia um favor, por salvar minha vida, segui suas orientações.

Logo após desenvolver um antídoto, ele retornou e contou-me sobre um garoto que nasceria em poucas luas e estaria atrelado a maldição desta flor, por esta razão, seria escolhido para cumprir o destino que eles planejaram…

No entanto, essa criança precisaria de ajuda, para lidar com os obstáculos que surgiriam à sua frente, então ele me encarregou de encontrar-lhe um alfa, alguém de bom coração e que fosse leal às pessoas que ama. E quando o visse, saberia que era o certo.

Então, você apareceu, Kim Heechul, lembra-se daquela noite?"

— Eu… Estava voltando dos treinos e encontrei a antiga anciã caída no chão — respondeu, engolindo em seco. Pela primeira vez desde que o conheci, seu semblante comumente tranquilo foi substituído pelo medo — Meus companheiros disseram que ela era louca e foram embora. Eu não conseguia ficar parado, então voltei e a carreguei nas costas até sua antiga morada.

— Ela estava morta, o frio afetou seu pulmão até que parasse de respirar — a anciã continuou o relato e arregalei os olhos — se tivessem ajudado-a antes, aquilo não teria acontecido… 

"Mas você, Heechul, ignorou o que seus companheiros diziam e a socorreu. Quando bateu em nossa porta e eu o vi, encolhido devido a tempestade de neve, sem seu casaco por tê-lo usado para cobrir um cadáver, eu soube, rapaz, que você era o alfa que estava destinado a ajudar o ômega que carrega consigo a maldição de uma flor e a bênção dos Espíritos, para que pudesse guiá-lo ao seu destino. 

Então, eu lhe contei sobre o ômega, seu destino e o que deveria fazer para ajudá-lo, exatamente como aquele homem me ordenou."

Ela riu baixinho, parecendo incrédula com a situação diante de si.

— Parece que ele estava certo… Sobre tudo… — referiu-se ao antigo Sábio e assim como ela, não conseguia acreditar que o velhote tinha calculado todos os nossos passos.

Isso só foi possível porque os Espíritos lhe disseram, cada acontecimento antes mesmo de meu nascimento ocorreu de acordo com seus planos. 

— Mas… E a flor? — questionei, um pouco perdido com tantas informações sendo despejadas sobre mim. 

— Ah… Eu a estudei, para criar um antídoto eficaz, capaz de conter os avanços do veneno e o usei, quando uma mulher com os mesmos olhos que os seus esteve aqui, em Ume. Ela estava muito doente, mas eu sabia como ajudá-la e desta forma, consegui pagar minha dívida com aquele homem.

Prendi a respiração inconscientemente. 

“Os mesmos… Olhos que os meus?"

— Qu-Quem era essa mulher? — perguntei, receoso, torcendo para estar enganado em minhas suspeitas.

A anciã ergueu as sobrancelhas, em claro sinal de deboche.

— Sua mãe, é claro — respondeu e neguei depressa. 

— Ela… Morreu?

— Oh! Não, não! Eu a ajudei, como lhe disse, tratei seus ferimentos enquanto esteve em cativeiro em nossa aldeia. Luas depois ela foi resgatada pelos soldados de seu pai — explicou rapidamente e soltei a respiração, aliviado — Isso ocorreu há muitos anos, quando esta guerra estava apenas começando. Ah… Aquela época foi muito, muito ruim, para todos nós. Tanta coisa aconteceu! — A maneira com a qual falava deixava evidente que se lembrava nitidamente dos acontecimentos e meus instintos gritam em meus ouvidos que sua cegueira foi consequência de um desses ocorridos.

Essa história não faz o menor sentido. Quando Jieun foi sequestrada? E meu Abeoji a salvou? Eu era muito jovem ou… Não tinha nascido ainda? Por que nunca me contaram nada? Nem mesmo Ahri comentou sobre o ocorrido comigo, durante todos esses anos…

Preciso descobrir.

— O que sabe sobre minha ómoni? Por que a sequestraram? Quando isso aconteceu e-

— Respire, criança — ela me interrompeu e crispei os lábios, ansioso — Lhe contei tudo que posso sobre isso, se deseja saber a verdade, questione seus progenitores.

"E eles me dirão a verdade?", pensei, cético. 

Desviei o olhar para Taehyung, recordando-me do real motivo que nos trouxe até aqui.

— E sobre nós? Taehyung e eu… Sabe algo sobre meu alfa?

A anciã ficou em silêncio por alguns minutos, com os olhos fixos na cortina e por um momento imaginei que sua alma tivesse abandonado o corpo novamente.

— Aproxime-se de mim, jovem mestre — pediu, gesticulando em minha direção e franzi o cenho, obedecendo-a, estremecendo quando tocou minha barriga suavemente, deslizando a palma pela região com atenção — De fato… Criança alguma sobreviveria em seu ventre — declarou e engoli em seco, desviando o olhar, incomodado.

— E-Eu… Como sabe disso, Halmeoni?

— Posso não ser uma Sábia, mas sou velha, criança — respondeu e paralisei, contendo meus impulsos de olhar para Jimin. 

Ela usou a palavra, ela tem conhecimento de que o velhote era o Sábio dos Montes e o Park também. Então… Por que ainda está viva?

— Desde minha juventude escutei histórias sobre a intervenção dos Espíritos e tudo que se sucedeu após os lobos habitarem dentro dos homens — murmurou e me endireitei, escutando-a com atenção — Quando os primeiros lobos surgiram, os homens comuns não compreenderam e com medo, passaram a caçar todos aqueles que recebiam a bênção lupina dos Espíritos. 

"Essa mudança não ocorreu em apenas uma noite, muitas luas se passaram para que existisse uma grande população de alfas, betas e ômegas. Devido a caça constante de licantropos, muitos foram mortos, impedindo que essa nova espécie se desenvolvesse. Por isso, os Espíritos permitiram que ômegas machos tivessem a capacidade de gerar vida, eles precisavam que a população com genes lupinos crescesse o bastante para que os homens comuns não tivessem meios de dizimá-los, no entanto, muitos não sobreviviam durante a gestação ou o parto, porque seus corpos não foram preparados para isso, apenas mulheres eram capazes de gerar uma vida e essa mudança desestabilizou o equilíbrio Espiritual. 

Mas já estava feito, não era possível voltar atrás e os Espíritos mantiveram essa bênção sobre os ômegas machos para que as guerras entre os homens cessassem quando seus instintos animais tomassem o controle.

A grande maioria dos ômegas machos continuaram morrendo e os Espíritos prometeram que um dia essa bênção, que se tornou um fardo e um martírio, abandonaria as próximas gerações.

Atualmente, grande parte dos ômegas machos no Norte são inférteis, e, lentamente, chegará o momento em que todos, do Norte ou Sul; Leste ou Oeste; em todos os países além desses oceanos sejam incapazes de gerar uma vida. Porque deixou de ser uma necessidade de sobrevivência. A evolução, jovem mestre, funciona desta maneira.¹"

Permaneci em silêncio, atônito, incapaz de verbalizar uma única palavra diante do que me contara.

Sempre pensei que tivesse a obrigação de engravidar, por ser um ômega, quando na verdade isso deixou de ser algo essencial no Norte, enquanto nós, do Sul, ainda estamos amarrados a essas regras antiquadas. Como suspeitava, se não fosse o futuro líder e tivesse a obrigação de dar um herdeiro ao meu povo, jamais seria cobrado dessa maneira, porque é um risco que deve ser evitado.

Espio Taehyung com o canto dos olhos e sei que ele está pensando o mesmo nesse momento. Se ele tivesse tamanha consciência sobre os riscos de um ômega macho gerar uma criança, seu processo de aceitação luas atrás teria sido mais fácil.

— Não compreendo onde quer chegar nos contando essa história — Jimin intervém, parecendo… Aborrecido, nem um pouco surpreso com o que a anciã relatou. É claro que ele sabia, duvido que haja algo que não tenha conhecimento. Então… O que ele espera que ela diga? — Não respondeu a pergunta de Jeongguk sobre Taehyung — pontuou e pisquei em compreensão. Tinha me esquecido.

A velha sorriu de canto, apoiando a cabeça no encosto de sua cadeira de balanço, respirando fundo, fechando os olhos. Parecia cansada.

— Conhece a história sobre o lobo negro, criança?

— S-Sim! Ele… Era o rei de uma dinastia, descendente dos primeiros lobos e por isso acreditava que era o mais poderoso entre todos. O escolhido pelos Espíritos — se não estiver enganado, foi isso que Jimin-ssi me contou luas atrás, na cachoeira — Quando seu povo adoeceu e os Sábios os curaram, o rei os invejou e os matou — sempre que me lembrava dessa história sentia meu estômago revirar. Aquele alfa… Era cruel, de formas inimagináveis — Dizem que por isso seus olhos são vermelhos, da cor do sangue de todos que eles mataram e que seu lado lupino sempre desejará mais.

Me calei, angustiado, sentindo que Taehyung estava desconfortável com a história, seu cheiro dominou o pequeno quarto, evidenciando seu incômodo.

A anciã meneou a cabeça em concordância, parecendo satisfeita com minha explicação, poupando-lhe esforços de ter que fazê-lo.

— Diga-me, então, jovem mestre… Sabe como esse rei morreu? — estava prestes a lhe responder, mas não o fiz, porque não faço ideia, Jimin-ssi não me contou o restante da história. Quando lhe pedi, ele disse que era cedo demais para saber...

— Não…

— A história desse rei é contada de diversas formas, porém, sempre acaba com a trágica morte de centenas de pessoas. Entretanto… Ninguém sabe porquê ele fez isso de verdade, ou melhor, por quem ele foi guiado… E, como morreu.

Pisquei alerta, curioso. Não conseguia encontrar justificavam plausíveis para ele cometer tamanha atrocidade.

— Não existe uma história — Heechul comentou, pensativo, buscando em suas memórias algo que soubesse que se encaixasse com a pergunta da anciã.

— De fato, rapaz. Mas, existe uma canção.

— O q-quê?! — questionei, incrédulo. Por que criariam uma canção sobre um rei hediondo?

Os Sábios mereciam canções! Suas memórias deveriam ser repassadas por todos os povos, para que jamais se esquecessem de quem foram, do que fizeram! Em vez de se esconderem, enquanto mantêm todos a salvo! 

Mas este rei… Que assassinou centenas de inocentes deveria ser lembrado?

A anciã direcionou sua atenção para Taehyung, que estava sentado sobre os próprios joelhos à sua frente e notei quando meu alfa estremeceu, temendo suas palavras.

— Qual sua função, rapaz?

— Eu… — ele me olhou brevemente, igualmente confuso — Sou o vice-general de Bane.

— E o que você faz, vice-general? — insistiu e a encarei desorientado, tentando compreender suas reais intenções com essas perguntas.

— Faço patrulhas na aldeia, protejo a floresta e-

— Ah… — ela riu, interrompendo-o — Aquele homem, estava dizendo a verdade, no fim das contas…

— Eu não entendo — digo, cansado de tentar juntar essas milhares de informações que permanecem embaralhadas na minha cabeça.

— Ele revelou-se a mim como o Sábio dos Montes e contou-me sua história — falou e prendi a respiração, atônito — Você a conhece, não é, jovem mestre? Acredito que o rapaz com a mesma energia que aquele homem tenha lhe contado…

— Eles… Foram mortos pelo rei, o lobo negro — digo, angustiado. Taehyung não pode descobrir a identidade de Jimin, tampouco Heechul.

O Kim mais velho levará um bom tempo para descobrir a verdade, mas Taehyung… Quantas vezes citei o Sábio dos Montes em nossas conversas, ele não precisa pensar muito para chegar a conclusão.

— Conte a eles, rapaz, o resto da história — ela pediu, fechando os olhos e encarei o Park.

Jimin-ssi suspirou pesado, jogando os fios de cabelo loiro para trás, inquieto, cruzando os braços sobre o peito.

— Após matar os Sábios e as pessoas que foram salvas por eles, o rei e seu povo não ficaram impunes, os Espíritos jamais permitiriam — explicou, evitando nos encarar — Como a anciã lhes contou, muitos homens caçavam e matavam aqueles que possuíam um lobo dentro de si. Naquela época, existia uma flor que os deixava mais fortes, com grandes capacidades curativas, capaz de cicatrizar uma ferida em poucas horas e tratar uma doença rapidamente, ajudando-os a sobreviver aos ataques recorrentes dos homens.

— Que flor é essa?! — perguntei, perplexo.

— Aconitum anthora, uma flor capaz de curar os lobos — falou e senti o ar escapar de meus pulmões. Jimin-ssi riu soprado — Irônico, não? 

— Existe algo assim? — Taehyung questionou, seus olhos brilhavam esperançosos e sei que estava cogitando a mesma possibilidade que eu. Infelizmente, Jimin-ssi negou, sorrindo entristecido.

— Existia. Agora, não mais… Quando o rei matou os Sábios cruelmente, por invejá-los e temê-los da mesma maneira que os homens estavam fazendo, os Espíritos o puniram, tornando essa flor venenosa para todos aqueles que possuíssem um lobo dentro de si.

"Muitos morreram por causa disso, ao usarem-na como medicamento, acabaram envenenando a si mesmos. E o ômega do rei, seu parceiro, que estava doente naquela época, foi uma das vítimas. Um castigo divino."

Arfei, buscando a mão de Taehyung inconscientemente, entrelaçando nossos dedos, necessitando de seu contato.

— Mas, a história não acaba dessa forma — o Park prosseguiu e segurei a mão de meu alfa com força — O que muitos não sabem, é que o lobo negro estava sobre a influência das Sombras quando matou os Sábios e os doentes curados, elas sussurraram em seus ouvidos e o induziram a crueldade.

Ao livrar-se dElas, já com sua dinastia em ruínas, o lobo negro jurou que jamais permitiria que outra pessoa usasse a flor de acônito. Fosse para o bem, acreditando que ela ainda possuía capacidades curativas, ou para o mal, com o intuito de causar a morte. Ele a manteve em segredo e segurança, protegendo-a dia após dia, isolando-se de todos, abandonando seu reino com este único objetivo.

Os Espíritos compadeceram-se com sua devoção e lhe garantiram que quaisquer pessoas que usassem a flor de acônito com más intenções, seria amaldiçoada, para que todo o esforço do rei não fosse em vão.

Grato, o lobo negro permaneceu ao lado da flor, tornando-se seu guardião enquanto podia. Porém, as Sombras, Espíritos imprevisíveis, tentaram ajudá-lo. À sua maneira.

Elas lhe contaram que seu falecido ômega havia se tornado aquela flor e que, se ele a ingerisse, poderia ser levado ao encontro de seu amado. Então, guiado novamente pelos sussurros das Sombras, ele tirou a própria vida."

— M-Mas… — neguei depressa com a cabeça, secando as lágrimas que deslizavam por minha bochecha. Não sei quando elas surgiram, mas não conseguia contê-las. — Por quê, Jimin-ssi? Se as Sombras não são Espíritos maus, por que fizeram isso?

— As Sombras são Espíritos que não se importam com o equilíbrio divino, são travessas e irracionais. E, entristecidas com a vida do rei, tentaram livrá-lo da solidão — respondeu.

O guardião da floresta… A canção favorita do vovô e eu sempre amei, era sobre o lobo negro.

Não conseguia aceitar essa história. Durante todo esse tempo, pensei que o rei era uma pessoa ruim, quando na verdade as Sombras o influenciaram a agir desta forma?

Ao mesmo tempo, me lembro das palavras de Yoongi Hyung, de que elas apenas afloravam seus pensamentos e os guiavam.

Então… O quão sanguinário aquele rei realmente era e o que não passou de influência das Sombras? 

O lobo de Taehyung… Ele sente prazer ao matar, seu alfa gosta de assumir o controle para agir dessa maneira. Sem a necessidade de Sombras sussurrando em seus ouvidos, ele simplesmente age. Com o Kim, tudo é mais intenso.

— E quanto a mim? — Taehyung fez a pergunta que não saia da minha cabeça, parecendo… Impaciente — Essa história… Que tipo de relação ela tem comigo?

— Deixe-o terminar — a anciã murmurou, gesticulando para Jimin-ssi continuar.

O Park respirou fundo e nesse momento, sei que ele deve estar igualmente aflito, pensando no que deveria fazer se Taehyung compreender quem ele realmente é.

Talvez, ele suspeite e espero que seja inteligente o bastante como Yoongi Hyung para não constatar a verdade.

— Os Espíritos, consumidos pela tristeza com a morte do rei, sentindo-se culpados pelo ocorrido, lhe fizeram uma promessa de que, quando o lobo negro reencarnasse, a flor de acônito seria incapaz de lhe matar e que seu amado jamais iria a machucá-lo.

Exclamei perplexo, encontrando o olhar de Taehyung que me encarava igualmente surpreendido. Por isso ao me beijar ele não morreu, o veneno dos lobos não pode matá-lo. A promessa da qual Jimin-ssi se referiu luas atrás foi feita pelos próprios Espíritos, ao antigo lobo negro.

O abracei com força, tocando minha testa a sua, sentindo seu cheiro me envolver.

— Ouviu isso, amor? Eu não posso matar você!

— Não se apresse — Jimin-ssi falou e me afastei do Kim minimamente, encontrando seu olhar aflito — Taehyung não pode morrer por causa dessa promessa, que garante que o veneno da flor não irá machucá-lo. Mas você, Jeongguk, seu veneno vai além dela, é mais forte. Por isso a cicatriz continua crescendo.

Fiz um biquinho emburrado.

Taehyung é uma grande exceção. Os Espíritos não podem matá-lo devido a promessa, mas ele não é totalmente imune porque a maldição da flor de acônito ainda prevalece, resultando na cicatriz. Ele ainda pode morrer.

Já entendemos as circunstâncias, mas deve existir uma forma de não matá-lo. Se não existe uma cura para o meu veneno, se é meu destino ser quem sou, tudo bem, mas os Espíritos podem ser benevolentes novamente, podem livrá-lo desse destino… Não é?

Desviei meu olhar para a anciã, que sustentava um sorriso mínimo no rosto.

— Há algo mais que aquele homem lhe disse? — questiono.

— O que vocês acabaram de fazer… — murmura, tocando os ponta do dedo na própria testa, me fazendo desconfiar novamente se era incapaz de nos enxergar de fato — Quando um alfa e um ômega se tocam dessa maneira, é um gesto inconsciente que significa: "eu o reconheço", seja como alfa ou ômega… — explicou e pisquei confuso — Acredito que não foi a primeira vez que fizeram isso. Então, saibam que, a partir do primeiro dia em que tocaram suas testas dessa forma, seus lobos se reconheceram, criando uma ligação entre vocês.

Arfei, desacreditado.

— M-Mas… Nossos cheiros… É preciso sentir o feromônio do parceiro para uma ligação como essa ser confirmada, além da marca — falei, me lembrando do dia em que fomos atacados e toquei minha testa ao do alfa para acalmá-lo. Antes disso, Taehyung foi capaz de sentir minha aflição na carruagem, não foi preciso nenhum tipo de gesto para que houvesse uma ligação entre nós. Ela sempre existiu.

— Isso é um mero detalhe — a anciã balançou as mãos, indiferente — quando seu alfa for capaz de sentir seu cheiro, a ligação de vocês se tornará maior, mas, desde o dia em que você, jovem mestre, sentiu o dele, inconscientemente seu lobo o reconheceu como seu. 

"Então, diga-me… Foi você, não foi? Que tocou sua testa à dele pela primeira vez? Porque sentiu que precisava fazer isso… Era seu ômega, reconhecendo o alfa como seu parceiro, tornando a ligação de vocês mais forte."

Taehyung e eu nos entreolhamos brevemente, pensativos. 

Fui capaz de sentir seu cio mesmo sem estarmos ligados de fato. Sem uma marca, sem que o alfa reconhecesse o meu ômega, porque eu o reconheci primeiro. Assim como Heechul havia dito, meu lobo escolheu o Kim, um lobo negro, capaz de sobreviver ao meu veneno devido a uma promessa dos Espíritos. Tinha que ser ele, não poderia estar destinado a outra alfa se não Taehyung.

Antes mesmo de nascer, ele estava destinado a ser meu alfa e eu, o seu ômega.

— Algum dia conseguirei? — Taehyung perguntou, afoito — Conseguirei sentir o verdadeiro perfume de Jeongguk? 

— É claro — ela sorriu, acariciando a palma de nossas mãos — para isso, basta que a maldição seja desfeita.

— M-Mas, eu pensei que não estivesse- — me calei ao sentir as mãos de Jimin-ssi em meus ombros, encontrando o olhar do Park, que sorria tranquilamente, me lembrando de suas palavras luas atrás, na caverna.

Existe uma maldição. Eu nasci para ser o veneno dos lobos, mas o meu cheiro não se passava de uma consequência, uma punição dos Espíritos por ser o filho do líder, que usou a flor de acônito durante a guerra.

Eu tenho o cheiro da flor de acônito por causa de meu abeoji, que a usou com más intenções como o lobo negro, por isso fui amaldiçoado com este odor venenoso. Mas, quem eu sou, dentro de mim, o veneno em si, se deve aos planos dos Espíritos. É apenas um veneno, mas pode ser visto de forma distinta, que fazem parte de mim por razões diferentes.

Jamais deixarei de ser o veneno dos lobos, como Jimin-ssi garantiu. Porém, meu perfume, pode deixar de ser venenoso, basta a flor de acônito voltar a ser boa para os lobos, basta essa maldição ser desfeita.

Mas… Como?

— O que eu preciso fazer, para acabar com essa maldição? — questiono, ávido, me levantando rapidamente, sentindo meu coração falhar com as suposições.

No entanto, antes que a anciã pudesse me responder Minjae-ssi entrou subitamente no quarto, assustando-nos.

— Desculpem-me — o beta se curvou, respirando ofegante e me aproximei angustiado. Se ele está aqui, significa que sabem que sai de meus aposentos — Ma-Mas… Eu não consigo suportar a culpa, jovem mestre. Me perdoe, por favor, eu não queria, eu-

— Do que está falando? — questionei, obrigando-o a se erguer e me olhar nos olhos, secando suas lágrimas com a ponta dos dedos — Minjae-ssi… O que aconteceu?

— Bane será atacada! — declarou.

— N-Não — neguei com a cabeça, trêmulo — Jeonghan me deu sua palavra de que não voltaria a nos atacar.

— De fato, mas ele disse "a partir de hoje" e este ataque foi ordenado luas atrás, quando deixamos a aldeia — explicou e logo Taehyung e Heechul já estavam de pé, arrastando-me para fora do casebre.

— Como você sabe disso? — pergunto, sentindo meu coração comprimir quando seus olhos se encheram de lágrimas novamente.

— E-Eu… Os ajudei — confessou e rapidamente Taehyung o empurrou contra a parede, os olhos castanhos brilhando enraivecidos e precisei segurar seu pulso, impedindo que pegasse a adaga em seu cinto — Mate-me, se quiser! Eu não tive escolha. Meu pai… Ele odeia os Jeon's, desde a morte de minha mãe, quando você nasceu, ele os odeia e enlouqueceu.

Recuei alguns passos, atordoado, sentindo minha garganta queimar com suas palavras. 

Taehyung soltou seu colarinho, mas manteve-se perto do beta, alerta. 

— Mas agora… — Minjae se ajoelhou à minha frente e desviei o olhar — Eu o conheço de verdade, sei que deseja ajudar Bane e está se sacrificando de muitas formas. Meu pai estava errado, e-eu estava errado — ele tentou segurar minhas mãos, mas Taehyung o impediu de dar um passo em minha direção, levando sua adaga em direção à garganta do beta — Por favor, deixe-me concertar meu erro… Se tiver que me matar por traí-lo, faça isso logo e saia desta aldeia. Se voltar agora, talvez cheguem a tempo, porque nesse momento, Bane está sob ataque.

— Feche os olhos, Jeongguk, serei rápido — Taehyung pediu, sem demonstrar qualquer tipo de pesar.

Neguei depressa, ansioso.

— E-Espere! Eu preciso saber… Os ataques, todos que ocorreram foi por causa de seu pai e você o ajudou? — questionei e o silêncio de Minjae foi o bastante para confirmar — E… Durante nossa viagem a Idea, meu sequestro e-

— Não! — negou depressa — Meu pai não tem qualquer relação com seu rapto, apenas os ataques à aldeia, cada um deles… Ele era o general anos atrás, conhece Bane melhor do que ninguém, sabe como as patrulhas são feitas, as vigias e as melhores formas de entrar.

— Pare — pedi, tentando lidar com sua confissão.

Confiei em Minjae, durante todo esse tempo o beta esteve entre os recrutas treinando, nos ajudando… Lutando ao meu lado durante o último ataque. Então, por que?

— Eu sinto muito… — sussurrou, sincero, mas Taehyung mantinha a lâmina de sua adaga próxima à sua garganta, ameaçando caso tentasse se mover — Jeongguk, por favor, faça o que precisar, mas saia daqui. Voltem o quanto antes, ainda há tempo de-

Cambaleei assustado quando o som de passos soaram pela floresta e consegui avistar o comandante Eun se aproximar acompanhado de uma dúzia de soldados, sorrindo vitorioso.

— Solte-o, Taehyung… — pedi, pensando em alguma desculpa convincente o bastante para estar aqui.

O Kim mordeu o lábio inferior hesitante, os olhos antes castanhos foram substituídos pelo brilho escarlate de seu alfa e, mesmo que estivesse contendo-o, sei que bastava qualquer deslize de Minjae para matá-lo. Ele estava furioso, com a traição de um companheiro, com os pensamentos e a preocupação do que poderia estar ocorrendo em Bane, por não ser capaz de ajudar nesse momento.

— Parados! Fiquem onde estão! — Eun sorriu largo, erguendo a espada em minha direção — Sua fuga do castelo pode ser considerada uma afronta ao Mestre, sabia, jovem mestre? — indagou e antes que pudesse lhe responder, prosseguiu: — Será um prazer levá-lo de volta para que seja devidamente punido. Jeonghan é um tolo, por acreditar que sulistas desprezíveis como vocês honrariam esta trégua.

Ergui as sobrancelhas, perplexo com sua ousadia. Ume quebrou nosso acordo de trégua no momento em que enviou seus homens para atacar Bane, durante todo esse tempo, Jeonghan nos manteve em sua aldeia para que fossemos incapazes de retornar a tempo. Agora, meu Abeoji terá que lidar com um ataque sem seu vice-general e o Sábio dos Montes.

Eun tentou se aproximar, mas Taehyung e Heechul se colocaram à minha frente, desafiando-o a avançar mais um passo.

— Saíam ou-

— Fique quieto, rapaz! — arfei, me virando depressa, vendo Evelyn ajudar a anciã a caminhar para fora do casebre, vestindo uma echarpe e casaco de pele, apoiada em uma bengala.

A garotinha parecia assustada, assim como Eun, ao ver a velhota caminhar e falar como se tivesse muitos anos pela frente. 

— Co-Como… — o alfa recuou, fitando a mulher estarrecido — Pensei que estivesse morta, senhora Choi.

"Choi…", pisquei em compreensão, me lembrando da assinatura no caderno que Somi encontrou. Choi Yoojin, era seu nome e provavelmente uma parente do Comandante Minho.

— Vocês adorariam que eu estivesse, não é? — ralhou, gesticulando para que saíssemos de sua frente — Pare de falar e nos leve a Jeonghan.

— M-Mas… — Eun franziu o cenho, ajudando-a subir em um dos cavalos, fazendo o soldado que o montava descer depressa. — Este ômega, preciso prendê-lo antes, ele fugiu do castelo e veio importuná-la-

— Não diga o que não sabe! — Yoojin reclamou, revirando os olhos — Deixe que os adultos resolvam essas situações. Agora, andem logo, leve-nos a Jeonghan e certifique-se de que o jovem mestre esteja em segurança — ordenou, impaciente.

Contive uma risadinha quando Eun e seus soldados se entreolharam atrapalhados, obedecendo-a no mesmo instante. 

Aparentemente, a anciã é alguém importante em Ume.

— Vamos, oppa — Evelyn trancou a porta e indicou a trilha à nossa frente — Se não chegarmos logo ela ficará muito brava, Halmeoni detesta esperar — saltitou, radiante com a melhora inesperada da mulher que luas atrás parecia que sua alma abandonara seu corpo.

Seja lá qual foi o motivo de sua "recuperação" me sentia grato.

Gesticulei para Jimin-ssi e Taehyung ficarem de olho em Minjae e caminhei apressadamente junto de Heechul atrás da garota. Terei que lidar com sua traição mais tarde, no momento, preciso apaziguar os ânimos dos nortistas para voltar para casa.

 

Assim que cheguei no castelo, respirei fundo e entrei no imenso salão onde ficava o trono de Jeonghan, notando que o clima do local mudará drasticamente.

O alfa líder estava sentado, com seu esposo em seu colo, tomando uma taça de vinho tranquilamente, alheio às expressões dos soldados ao nosso redor.

Lalisa permanecia de pé, ao seu lado, me encarando com um semblante entristecido e me senti péssimo por agir contra seu conhecimento. Não queria que se sentisse traída, mas compreenderei se estiver.

Yoongi e Jackson estavam parados na entrada do salão, observando-nos confusos e temerosos.

— Tragam-os — Jeonghan ordenou e desviei o olhar quando Baekhyun e Chanyeol entraram algemados, sendo arrastados pelos soldados de Ume. Seus rostos, encontravam-se repletos de machucados e pude notar alguns hematomas pelo corpo de ambos.

— O que você fez com eles?! — questionei, irritado, tentando me aproximar da dupla, mas outros homens se colocaram entre nós, mirando suas espadas em minha direção.

— Eu? — Jeonghan fingiu estar ofendido — Você, jovem mestre, entrou em meu castelo e infiltrou dois de seus homens para nos espionar. Confiança, foi o que me disse quando questionei a lealdade de seus aliados, então, diga-me, como poderei confiar em você sabendo que agiu dessa maneira?

Engoli em seco, contendo as lágrimas que ameaçaram escapar. Não irei chorar na frente dele, de jeito nenhum!

— Precaução! Vocês eram nossos inimigos, estamos em menor número e poderíamos ser atacados a qualquer momento! — respondi, erguendo o olhar — Eu ordenei que eles ficassem de vigia para garantir que não seríamos traídos enquanto estamos aqui, apenas isso. 

Jeonghan franziu o cenho, desconfiado e antes que pudesse questionar minha lealdade, continuei ou minha coragem se esvairia.

— E quando a você? Fui informado de que ordenou um ataque a Bane enquanto estamos aqui! Onde está sua palavra?! — vociferei, notando a expressão surpresa de Lalisa. Ela não sabia. Desvencilhei-me das mãos dos soldados que tentaram me segurar, me aproximando do alfa que gesticulou para que seus homens não reagissem. Me curvei em sua direção, apoiando a mão no braço de ferro do trono, fitando-o com seriedade — Não questione minha lealdade quando à sua existe apenas nos momentos que lhe convém.

Seus olhos brilharam em resposta, assumindo tons intensos de azul celeste enquanto seu cheiro dominava todo o salão. Ele sorriu, um sorriso sádico e zombeteiro, divertindo-se com a situação.

— Jurei que não atacaria Bane a partir do momento em que aceitei seu acordo de trégua — murmurou, mantendo a compostura — Ordenei que meus homens invadissem sua aldeia luas antes de sua chegada. Então… Sugiro que na próxima vez, seja mais claro em seus termos.

Cerrei os punhos, furioso com seu atrevimento.

Lalisa se aproximou, segurando-me pelos ombros, me afastando de seu pai.

— Ordene que seus homens recuem! — exigi, me afastando da garota.

— Como? Um pássaro não chegará a tempo — respondeu, indiferente — Mas seu povo irá resistir e sobreviver, não é? Isso sempre acontece… — desdenhou.

Respirei fundo, sentindo minha cabeça doer e minha vista embaçar, enquanto meu lobo se revirava agitado dentro de mim, tomado por um misto de sensações que tentei manter sob controle.

— E-Eu… — tropecei, caindo de joelhos no degrau, escutando os passos apressados de Taehyung em minha direção, porém Heechul foi mais rápido, ajudando-me a levantar.

— Você está bem? — questionou e neguei com a cabeça.

— Descanse, jovem mestre —Jeonghan se levantou, encerrando o assunto — E me agradeça por mantê-lo em nossos aposentos, pois sua fuga esta noite poderia resultar em-

Calou-se ao escutar as batidas leves da bengala da anciã contra o piso de mármore, fitando-a como se fosse um fantasma.

— Esta conversa ainda não terminou, Jeonghan — falou, mantendo os olhos cinzentos em outra direção que não fosse o alfa — Seus homens irão preparar cavalos e mantimentos para que o jovem mestre retorne a sua aldeia essa noite — declarou — E, antes que ouse dizer que ele fugiu, saiba que fui eu quem ordenei que o fizesse.

O alfa líder a encarou desconfiado, intercalando o olhar entre sua anciã e eu, porém me mantive calado, sentindo minha cabeça doer cada vez mais.

Taehyung, que estava parado a poucos metros me observava preocupado e a julgar por seu olhar, sei que terei que lidar com sermões quando constatar suas suspeitas. Os supressores estavam me afetando mais do que imaginei ser possível.

— Por que o chamou? Esteve isolada durante todo esse tempo, não compareceu aos rituais e não celebrou a Colheita luas atrás! — Jeonghan cuspiu as palavras. Seu tom de voz evidenciava sua mágoa, a ausência da mulher lhe afetará mais do que realmente desejava demonstrar, sem qualquer relação com seus compromissos.

Choi Yoojin sorriu de canto, avaliando o alfa e seu esposo, fazendo o mesmo com Lalisa e os guardas ao nosso redor.

— Você ficou bem sem mim, querido… Sei que conseguirá liderar Ume sem a ajuda de uma velha caquética — respondeu e pela primeira vez a postura de Jeonghan desarmou, revelando um rapaz jovem, com a idade de Heechul, que ainda estava aprendendo como sobreviver neste mundo.

Sua mente ardilosa, provavelmente foi a única alternativa que lhe restou. Se não fosse a pessoa que demonstrava ser, Ume estaria em grave risco.

— Jeongguk precisa retornar a Bane, faça isso, mantenha a trégua de vocês e deixe que o garoto trilhe seu destino, não cabe a nós interferir nos planos dos Espíritos — falou, sorrindo de canto, erguendo o olhar desfocado.

Jeonghan mordeu o lábio inferior, buscando apoio com seu esposo, porém SeungCheol apenas meneou a cabeça em concordância, apoiando a decisão da anciã.

Havia algo entre eles, uma cumplicidade que nem mesmo Taehyung e eu tínhamos, uma história que apenas os dois conhecia, não contada a mais ninguém. Um segredo que carregariam para o túmulo se este mundo não mudasse.

— O que os Espíritos planejam, afinal? — perguntou, avaliando-me com atenção.

— Paz, querido — ela respondeu — Então, deixe-o ir. 

— Espera que eu acredite em suas palavras facilmente? — retrucou, impassível. Embora sentisse que estava apenas fingindo, para que seus soldados não pensassem que nos libertaria facilmente.

— Posso ser cega, mas sou capaz de enxergar a verdade — a anciã ditou, séria — E este garoto, irá acabar com esta guerra.

Os soldados se entreolharam desacreditados, cochichando entre si meu nome ou o quão louca a velha ficou, mas Jeonghan… Ele acreditava nela, e isso é tudo que importa.

— Pois bem… — suspirou, gesticulando para que seus homens libertassem Chanyeol e Baekhyun — Nossa trégua será mantida, jovem mestre. Não ordenarei mais ataques à sua aldeia. Então… Pegue alguns cavalos e vá embora, antes que me arrependa desta decisão.

Concordei depressa, me deixando levar por Heechul, ignorando os protestos dos soldados de Ume, que se calaram após Lalisa usar sua voz de alfa.

Yoongi, Jimin e Jackson ficaram responsáveis por preparar os cavalos para a viagem, enquanto Chanyeol e Baekhyun vigiavam Minjae.

Subi aos aposentos e me sentei na cama exausto, pegando meus pertences que escondi, alheio aos olhares de Heechul e Taehyung.

— Há quanto tempo está tomando supressores? — meu alfa questionou e desviei o olhar — Jeongguk!

— Al-Algumas luas! — respondi, incapaz de encará-lo — Precisávamos fazer a viagem, não podia arriscar entrar em meu cio e-

— Mas podia ter adiado a viagem! — grunhiu, contendo o próprio tom de voz. Heechul saiu do quarto, nos deixando sozinhos — Essa merda vai acabar com você! 

— Não usarei por muito tempo… Só até retornarmos… Eu precisei, está bem? 

Taehyung negou, tomando a bolsa de minhas mãos, vasculhando-a em busca dos supressores, esquivando-se de minhas mãos, irritado.

— Taehyung! Me devolva!

— Essa viagem deveria ter sido adiada! Você poderia ter seu cio antes de fazer essa maldita viagem! Agora olhe para você — ralhou, pegando o pequeno espelho sobre a escrivaninha, erguendo-o a altura de meu rosto e ofeguei assustado ao notar as olheiras abaixo de meus olhos, além dos lábios ressecados. Não era apenas o mal estar e as dores, ele estava me afetando de todas as formas possíveis.

Recuei alguns passos, contendo as lágrimas.

— Não podia adiar a viagem… Precisamos dessa trégua para continuar com o plano e-

— Que se foda o plano! — queixou-se, segurando meu rosto com delicadeza — Você é mais importante, meu amor. Como acha que me senti? Vendo-o definhar sem que soubesse o motivo? Pensei que fosse minha culpa ou que o veneno estivesse machucando-o de alguma forma, eu-

— De-Desculpe — funguei, incapaz de conter as lágrimas — Eu não imaginei que seria tão ruim… Os efeitos colaterais não eram tão graves nos primeiros dias, pensei que pudesse lidar com isso. Não queria preocupá-lo, lobinho…

Taehyung suspirou, tocando sua testa a minha e pude sentir a preocupação em cada célula de seu corpo, a culpa por não ter me ajudado antes. 

— Quando voltarmos, você vai jogar os supressores fora, entendeu? — sua ordem soava mais como um pedido, os olhos castanhos me encaravam com medo — Não pode suspender o uso agora, seria perigoso. Mas, assim que estivermos em Bane, pare de tomá-los. Me prometa.

— E-Eu prometo — concordei, prendendo a respiração ao sentir seus lábios tocarem os meus, em um selinho tímido — Desculpe…

— Pare de se desculpar. Eu só quero que me conte a verdade e não me esconda esse tipo de coisa — falou, secando minhas lágrimas com cuidado — Não precisa se preocupar com seu cio, está bem? Seu aniversário está chegando, eu vou cuidar de você, gracinha.

Estremeci, concordando com a cabeça timidamente, sentindo meu corpo esquentar em expectativas.

Como faríamos isso, sem que eu matasse Taehyung, ainda era um mistério. Mas saber que ele estaria comigo durante o cio me deixava ligeiramente mais calmo. Finalmente, pela primeira vez, não terei que lidar com a dor e a angústia sozinho.

— Vamos, temos que voltar para Bane o quanto antes — devolveu minha bolsa, saindo do quarto e o segui.

No momento, nossa maior preocupação não é o meu cio, mas a segurança do meu povo.

“Espíritos… Por favor, proteja-os."

 

Ω

 

Agosto, Vigésima Oitava Lua do mês, Verão

 

Assim que os cavalos ficaram preparados, despedi-me de Lalisa que se desculpou pela atitude de seu pai mais vezes do que fui capaz de contar e partimos de Ume.

Não fomos seguidos pelos soldados e tivemos sorte de Seokjin enviar um navio grande o bastante para transportar os animais após receber uma carta de emergência horas atrás. Não tínhamos tempo a perder.

Então, seguimos adiante após atravessarmos Lótus, cavalgando o mais rápido possível de volta para Bane. Mesmo que nossos corpos pedissem por descanso, paramos para acampar uma única vez durante essas três luas de viagem para que os animais pudessem retomar o fôlego. Sentia meu sangue pulsar em minhas veias a cada caminho percorrido, aflito, me deixando levar pelo pessimismo.

"Eles precisam estar bem…", pensava, tentando manter a calma durante o trajeto silencioso. Nem mesmo Jackson, que amava tagarelar ousou fazer comentários irônicos, a tensão prevaleceu. 

— Eles estão bem, não é, Jimin-ssi? — perguntei ao anoitecer do terceiro dia, quando paramos para que os cavalos pudessem beber um pouco de água.

Taehyung e sua alcatéia estavam preparando suas armas, contando as flechas, afiando as espadas, prontos para dilacerar o primeiro inimigo que vissem pela frente. O que de fato aconteceu, mas o trio estava tão concentrado em retornar para a aldeia que os matavam em frações de segundos, bastava um piscar para uma flecha atravessar seus peitorais ou uma espada rasgar suas gargantas. 

Perder tempo não era uma opção, cada atraso, cada segundo desperdiçado com mercenários ou saqueadores significava uma vida perdida de nosso povo. Homem, criança, mulheres… Não importava, o olhar do alfa evidenciava uma única certeza: aquele que ficasse em seu caminho, seria morto.

— Eu… Não tenho certeza — O Park respondeu, montando em seu cavalo logo em seguida, respirando fundo. Ele estava com medo, o que era incomum vindo do Sábio dos Montes, que sempre tinha conhecimento de tudo que iria acontecer.

E isso, foi o bastante para me deixar em pânico.

Se os Espíritos não alertaram seu escolhido, significava que, desta vez, não estavam ao lado de nossa aldeia, não podiam estar, afinal, são seres divinos e jamais escolheriam um lado nessa guerra. Em algum momento, suas forças se voltariam contra nós.

"O equilíbrio espiritual", a anciã dissera.

Cerrei os punhos, enfurecido, montando em meu cavalo depressa, gesticulando para continuarmos. Conseguiremos chegar essa noite, basta continuar.

 

Ω

 

Os portões estavam destruídos.

Destroços se amontoavam na entrada da aldeia, impedindo nossa passagem e precisamos afastar os escombros dos muros que não encontravam-se em condições melhores.

O ataque ocorreu diretamente, sem que precisassem entrar na aldeia às escondidas. O que indicava que a necessidade de um grupo pequeno para a invasão foi totalmente descartada. Eles foram brutais, abalando nossas defesas sem qualquer hesitação, forçando nossos homens a reagir.

Yoongi estava petrificado sobre seu cavalo, fitando os entulhos assustado e com o canto dos olhos, notei que Jackson e Minjae-ssi reagiam da mesma maneira.

"Não demonstre fraqueza", pensei, erguendo o olhar, tentando manter a compostura de Taehyung, embora o Kim parecesse mais ameaçador do que calmo. Definitivamente, o alfa não estava calmo e sinto que desta vez, serei incapaz de contê-lo.

— Vamos! — disse, entrando na aldeia.

Chegamos tarde demais.

Se existia algum soldado inimigo, deveria estar preso, morto ou fugiu horas atrás. Em vez de nortistas com sede de sangue, tudo que encontramos foram os aldeões, correndo de um lado para o outro, ajudando a carregar feridos para os curandeiros.

— General! Vice-general! — Minho correu em nossa direção, seu braço estava enfaixado e a metade da cabeça raspada, evidenciando um corte que havia sido costurado e tratado.

"Se estivéssemos aqui…”, engoli em seco, sentindo os olhares de alguns aldeões sobre nós.

— Como está a situação? — Jimin questionou, olhando ao redor, preocupado.

— Muito, muito ruim — comandante Choi respondeu e mordi o lábio inferior, avistando alguns de meus companheiros se aproximarem, visivelmente cansados — Fomos atacados por soldados de Ume e Aloysia, não tivemos tempo de reagir. Os homens de Hyuna montaram uma catapulta de dez metros em frente aos portões em poucos minutos, derrubando os portões com rochas sólidas e perdemos muitos dos nossos ao tentar evacuar os aldeões.

Arfei, incrédulo. Uma catapulta? Chegaram a esse nível?

— C-Como os aldeões estão? — perguntei, aflito.

Minho crispou os lábios, visivelmente abalado.

— As famílias que vivem longe dos portões tiveram tempo de evacuar em segurança, mas alguns que moram próximo aos muros foram pegos no fogo cruzado — respondeu e prendi a respiração, lembrando-me que a família de Taehyung vivia próximo aos portões e a julgar por sua postura, o Kim pensou o mesmo — Os feridos estão no templo, nossos curandeiros estão fazendo o que podem e-

— Os invasores, onde estão? — Taehyung o interrompeu, forçando o maxilar. Seu cheiro estava forte e encolhi os ombros por instinto ao sentir a presença ameaçadora do alfa.

Minho engoliu em seco, recuando alguns passos.

— Derrotados alguns, outros conseguiram fugir e um pequeno grupo se refugiou na floresta, estamos á procura deles para-

— Eu cuido disso — o Kim se virou, gesticulando para que Chanyeol e Baekhyun os acompanhassem.

No entanto, comandante Minho se colocou em frente ao cavalo, obrigando-o a parar.

— Vic- Taehyung… Vá ao templo, por favor — insistiu e notei quando o mesmo estremeceu — Seu irmão… Ele precisa de você.

Cobri os lábios rapidamente, contendo as lágrimas que imediatamente surgiram ao notar o pesar em sua voz.

Não… Seus irmãos não… São apenas crianças, eles não podem estar…

— Lob- Tae… — fiz menção de tocá-lo, mas recuei, angustiado — Vá. Jimin-ssi e eu cuidaremos disso. Pode ir.

E, sem dizer mais nada, o Kim avançou em direção ao templo, onde os feridos se encontravam.

Observei meus companheiros por breves segundos, notando que havia algo de errado em seus olhares.

— Em que região da floresta os invasores se refugiaram? — questionei ao comandante Minho, tentando manter meu tom de voz estável.

Os soldados trocaram olhares receosos e trinquei os dentes, impaciente.

— Pr-Próximo aos muros do leste, M-Mestre Jeon — Hueningkai, um dos recrutas, disse rapidamente, curvando-se de repente e senti o ar escapar de meus pulmões ao escutar suas palavras.

"Mestre?"

— O q-quê… — Não… Isso era demais. Um pesadelo, eu só poderia estar sonhando, não é possível que-

— Mestre Jungwo está vivo — Jeongin interviu, aproximando-se com o cenho franzido. Suas mãos, estavarram sujas de terra, bem como as roupas e o beta carregava uma pá — Não assuste-o dessa maneira, idiota!

— De-Desculpe-me — Hueningkai apressou-se em dizer, curvando-se novamente — Pensei que, como ele está gravemente ferido e incapaz de nos liderar, Jeong- digo, o jovem mestre assumiria sua posição.

Suspirei, aliviado. Meu abeoji jamais morreria em um ataque em sua própria aldeia, como Mestre e alfa líder, é seu dever proteger a todos, mas, sendo um lúpus, não se deixará vencer facilmente.

— Meu abeoji… Como ele está? — perguntei e tudo que Jeongin fez foi erguer o polegar, tentando me passar confiança, embora seu sorriso não alcançasse seus olhos.

"Vai ficar tudo bem, acalme-se, Jeongguk", disse a mim mesmo, respirando fundo, segurando as rédeas do cavalo com força.

— Não façam essa expressão desolada — falei, sério, fitando meus companheiros — Heechul e Mingyu, acompanhe o comandante Choi até meu abeoji e certifique-se de que minha família está bem. Chanyeol, Baekhyun, escolte Minjae até sua morada e tragam seu pai, o ex-general até mim — ordenei, ignorando os cochichos dos demais. "Não se desespere, mantenha a calma" — General Park e Yoongi Hyung. Vocês dois, venham comigo. 

Todos gritaram em uníssono e avancei em direção a floresta o mais rápido que podia. Precisamos encontrar os invasores e prendê-los, todos eles, bem como o pai de Minjae. Matá-los apenas nos deixará em desvantagem, se o homem tem contato com Hyuna, se os seus soldados conhecem formas de entrar em sua aldeia ou possuem informações valiosas, esse é o momento perfeito para obtê-las. A morte, nem sempre é a melhor opção e se não os encontrarmos antes de Taehyung, o alfa não pensará duas vezes em agir.

— General, você sabe, não é? — questionei ao adentrar a floresta, espiando o Park sobre os ombros — Onde eles estão?

Jimin não me respondeu, em vez disso, fechou os olhos, guiando seu cavalo mesmo sendo incapaz de enxergar o caminho à sua frente, concentrado. 

Yoongi o observava fascinado e curioso.

— Há cem metros! — gritou, indicando a direção. Seus orbes cor de mel, possuíam o mesmo brilho prateado enigmático que presenciei no templo, luas atrás — Avance sobre o rochedo, eles estão escondidos. O ex-general, está com eles.

Concordei com a cabeça, agarrando meu chicote, agindo as rédeas do cavalo.

Porém, o animal relinchou e se ergueu assustado quando um imenso lobo negro avançou em nossa direção, a caminho do local indicado por Jimin, rápido o bastante para derrubar Yoongi Hyung do cavalo.

"Maldição! Taehyung vai matá-los."

— General! — desviei o olhar para a alcatéia do Kim, que se aproximava logo atrás, acompanhados de Minseok e outros soldados, montados em seus cavalos, parecendo… Assustados — Taehyung está fora de controle e a senhora Jeon ordenou que trouxessemos um sobrevivente — Comandante Minho explicou, temeroso.

Como pensei, não podemos matá-los, precisamos arrancar informações de cada um deles, se Taehyung permitir que seu lobo assuma o controle nesse momento, será um desastre.

— Vamos! — gritei, assumindo a liderança. Sei que esperam que Jimin contenha o Kim e resolva a situação, por ser o general. Mas, Taehyung é o meu alfa e se há uma pessoa que pode impedi-lo nesse momento, sou eu.

Yoongi montou no cavalo e agitei as rédeas, galopando rapidamente em direção aos gritos que ecoaram pela floresta, revelando a localização do alfa.

“Não mate todos eles, Taehyung, não os mate."

Avistei o Kim em sua forma humana, vestindo uma calça rasgada, com o peitoral suado à mostra, banhado em sangue, descalço, segurando um pequeno machado, retirando-o brutalmente do que imagino ser o crânio de um dos soldados inimigos.

Cinco homens estavam caídos mortos ao seu redor, com as gargantas dilaceradas,  membros do corpo jogados sobre o chão, mortos da pior forma possível.

O pai de Minjae — os traços semelhantes meu indicavam que só poderia ser ele — está encolhido próximo ao alfa, trêmulo, implorando de joelhos para que o Kim tenha misericórdia e sinto um arrepio atravessar minha espinha quando Taehyung sorri de canto, deleitando-se com suas súplicas.

Ele estava… gostando.

— Vice-general, pare! — gritei, atraindo sua atenção brevemente e aproveitando-se da situação, o ex-general correu para longe — Taehyung!

O Kim hesitou por um momento, seu peitoral subia e descia rapidamente, respirando com dificuldade, em uma batalha interna com seu próprio lobo. O problema é que ambos, homem e animal, desejam a mesma coisa.

A alcatéia do Kim nos alcançou e desmontaram de seus cavalos rapidamente, cercando-o, não ousando dar um passo em sua direção, temendo se tornar o próximo cadáver. No fim, eu terei que resolver essa situação sozinho.

— Não pode matá-lo — disse, obrigando-o a desviar o olhar do homem para mim.

— Não posso? — riu com desdém, apontando a lâmina para o homem, ameaçando lançá-la em sua direção e conhecendo-o bem, sei que o atingiria com maestria — Este filho da puta aliou-se com Hyuna para que Bane fosse invadida! Por causa dele, meu irmão está- — gaguejou e sequei uma lágrima depressa, temendo por suas próximas palavras — B-Bogum está entre a vida e a m-morte!

— Ta-Taehyung, eu entendo que-

— Não! Você não entende, Jeo- jovem mestre — cuspiu as palavras — Não é Somi que está naquela maldita cama incapaz de se reerguer! É o meu irmão! Por causa dele e dos malditos soldados de Hyuna!

— Mas precisamos dele! — insisti, dando um passo em sua direção, sem saber o que lhe dizer. Se chamá-lo de amor, posso acalmá-lo, mas todas essas pessoas serão testemunha de nossa relação. Neste momento, não somos nada além de um um futuro líder e seu soldado — É uma ordem, vice-general. Afaste-se dele!

Taehyung mordeu os lábios com força, fazendo com que um filete de sangue deslizasse por seu queixo.

Eu compreendia sua ira, a vontade avassaladora que o dominava nesse momento. Aquele homem, permitiu que nossa aldeia fosse atacada, ele é um traidor e não foi apenas o irmão de Taehyung que se feriu. Meu abeoji também estava machucado e muitos outros aldeões e soldados encontravam-se na mesma situação.

Mas, se agirmos contra a razão nesse momento, se permitirmos que a raiva nos domine, faremos exatamente o que Hyuna deseja. Ela não espera que seus homens sejam capturados e usados como fonte de informação, porque Bane não faz prisioneiros. E é por este motivo que precisamos dele, está na hora de revidar à altura.

Taehyung me deu as costas, ignorando minha ordem e por impulso, gritei:

— Alfa! — o Kim paralisou e encolhi os ombros quando me encarou sobre os ombros. Seus olhos, brilhavam em tons vividos de escarlate. Não estava falando com Taehyung, mas o lobo, sedento por sangue, que habitava dentro de si como um Espirito maligno — Não dê mais um passo. Jungwo está ferido, então, neste momento, eu sou o seu líder, se voltar-se contra minhas palavras o mandarei ao Norte, para que se lembre-se a quem deve sua lealdade.

Taehyung pendeu a cabeça para o lado, abrindo um sorriso orgulhoso, serpenteando a língua entre os dentes, mantendo as orbes avermelhadas fixas em meu rosto.

Ele relaxou a postura, soltando o machado e suspirei aliviado quando afastou-se do ex-general, parando próximo a mim, curvando-se em direção à minha orelha.

— A você — sussurrou e prendi a respiração — o único que tem a minha lealdade, é você, Jeon Jeongguk. Não é o futuro líder, o Mestre ou o aquele que se tornará rei. Apenas você.

Sorri mínimo, meneando a cabeça em afirmação, satisfeito com sua resposta.

— Tsc — desviei o olhar para o pai de Minjae-ssi, que me encarava amargurado — Como se eu precisasse da benevolência de um maldito rameiro!— vociferou e engoli em seco, ofendido — Todos sabem como conquistou a aliança do príncipe, seu-

Suas palavras se perderam no ar no mesmo instante em que Taehyung assumiu sua forma lupina, guiado pelo ódio que tentou reprimir segundos atrás, avançando contra o homem.

Sem pensar direito, reagi por instinto, assumindo minha forma lupina, saltando em sua direção, tentando impedi-lo de atacar o ex-general, sendo atingido em seu lugar, rolando no chão devido à força do alfa, chocando-me contra o galho de uma das árvores, uivando de dor.

Taehyung paralisou, repousando os olhos escarlates sobre mim, recuando assustado por ter me machucado devido à minha intromissão repentina.

Tentei me levantar, mas minhas patas não conseguiam manter-se firmes o bastante para me reerguer e senti minha pele queimar, sentindo um filete de sangue deslizar por meu rosto, na exata região onde meu alfa atingiu.

Enfim, a marca da qual Heechul me contara havia sido feita, mas, nunca imaginei que Taehyung seria o responsável por esta cicatriz.


Notas Finais


LEIAM AS NOTAS FINAIS, É IMPORTANTE!

Socorro a cicatriz finalmente foi feita! E ai? Acertaram na teoria de vocês de como o Jeongguk ganharia ela?
Opondo-se contra seu alfa para salvar um traidor que ajudou durante os ataques a aldeia… Complicado… Mas ele precisava fazer isso.
Passem pano pro Taehyung, hein, foi acidente.
E quanto ao Minjae? Suspeitaram? O pai dele era o vilão "secreto" que eu falei no twitter e como já foi narrado algumas vezes, ele odeia os Jeon's pois sua esposa morreu no dia que o Jeongguk nasceu e quando ele descobriu a verdade (sobre o veneno) o tiraram do cargo de general e ele se revoltou (Resumão pra vocês).
Ah! Muitas coisas aconteceram nesse capítulo… Então espero que a a demora na atualização tenha valido a pena.
Não se esqueçam que a próxima será dia 06/02 às 18:00, hein.
Eu também queria panfletar minha futura fanfic fluffy, chamada "Dono de Todas as Minhas Primeiras Vezes", eu vou postar o prólogo dia 21/01 (meu aniversário) e ficaria muito feliz se vocês lessem e dessem uma chance a ela. Seria meu presentinho, sabe?
MAIS UMA COISINHA, MUITO IMPORTANTE! Eu coloquei um ¹ em um diálogo durante a história, na cena em que a anciã está explicando porque os ômegas machos foram "abençoados" com a capacidade de gerar vida e porque eles estão perdendo essa "bênção"
Então… Eu nunca gostei muito do gênero mpreg, porém, ele está presente na fanfic mesmo que esteja nítido que o Jeongguk não vai engravidar do Taehyung por causa do veneno, é impossível e eu também me aproveitei do veneno na época que desenvolvi o plot para fugir de qualquer possibilidade de rolar mpreg com os taekook.
E, depois de conversar com muitas pessoas, eu aprendi bastante e descobri que o gênero mpreg é visto como ofensivo e transfobico, afinal, um homem cis ter a capacidade de engravidar inválida e afasta toda a representatividade que eles poderiam ter. Entendem?
Eu, não sendo trans nunca pensei que fosse, mas, como não é meu lugar de fala, decidi e compreendi a situação quando conversei com pessoas que são.
Por isso, eu fiquei pensando muito sobre o fato de, mesmo que meus taekook não tenham um filho dessa forma (com o jk engravidando) o gênero mpreg ainda está impregnado na minha história porque eu queria desenvolver a questão da narrativa de que um casal pode ser uma família sem precisar de filhos, sabem? Fugindo do convencional e esperado, o que é bastante comum em wolfsbane.
Então, decidi que mesmo que exista mpreg no início da história, ele aos poucos deixará de existir. Por que? É como foi narrado ali, foi uma forma de os Espíritos aumentaram a população de licantropos e após isso, não há mais a necessidade de homens cis engravidar, então, aos poucos, essa "bênção" dos espíritos irá desaparecer e nenhum homem cis dentro do meu universo abo poderá engravidar.
Eu trabalhei muito na narrativa para que fizesse sentido ao enredo e estou bastante satisfeita com isso.
Não sei se precisava explicar isso aqui, afinal, não ia rolar mpreg de qualquer forma, mas o fato de existir o gênero indiretamente dentro do meu universo estava me deixando desconfortável e como eu queria resolver isso sem fugir do enredo de forma incoerente, desenvolvi a narrativa que vocês leram com a anciã.
Esse assunto é muito discutido, cada pessoa interpreta da sua própria maneira, mas eu resolvi escutar aqueles que têm lugar de fala e agi da melhor forma possível sem afetar o roteiro como um todo.
É isso… Obrigado por lerem minha explicação. E relaxem, os taekook podem ter filhos (adotando, por exemplo) se desejarem no futuro. Há muitas opções, eles estão felizes como casal

Amo vocês.
Não esqueçam de deixar seu purple heart.
Até a próxima ~~


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...