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História Wonderwall - Release me


Escrita por: Kirilov

Notas do Autor


Olá 🙃.

Então, acabei de escrever esse capítulo nesse instante, ou seja, zero revisão, mas né? Fé nos deuses que não vai tá tão ruim assim. Talvez apareçam aí umas vigas no lugar de vida e umas sacanagens do meu corretor, normal...

Também aproveito esse momento para dizer que essa história tá conquistando mais pessoas do que imaginei. Sério mesmo. Obrigada a todos que estão acompanhando!! Às vezes demoro um pouco para responder todos os comentários, e peço desculpas por isso, mas sempre o faço com muito carinho e um sorriso ♥️😊

Capítulo 16 - Release me


Nas últimas semanas, Sakura era a primeira coisa em que eu pensava ao acordar. Antes mesmo de levantar da cama, tateava o móvel de cabeceira a procura do celular, para ver se recebera alguma mensagem dela. Geralmente não tinha nada. Então lhe mandava “Bom dia, princesa”.

Naquele domingo não foi diferente. Eu havia visto o horário que ela saiu pela manhã, Sakura tinha um almoço com os pais e apenas me encontraria no teatro à noite. Mesmo assim, não hesitei em desejar bom dia novamente. 

A resposta veio uns 50 minutos depois, quando já havia saído de casa, almoçado na padaria e estava na rua, prestes a entrar na farmácia. Abri a conversa para vê-la me criticando por ser preguiçoso e levantar tão tarde. Eram 13:30. 

“Se você não acabasse comigo com aquela sentada na madrugada, talvez eu tivesse acordado cedo. Preciso dormir bem para repor as energias.” Foi a minha resposta. 

“Madrugada? Eu saí às 8. E foi você quem me puxou de volta para cama. Aliás…” 

Aguardei as próximas palavras ansioso, pelo que me pareceram 2 infindáveis minutos.

Ela me mandou uma selfie. Estava sozinha em uma poltrona preta de uma sala luxuosa, os quadros na parede não negavam isso. Quanto ao foco em si, dava pra ver claramente os dedos femininos puxando um pouco do lenço psicodélico em seu pescocinho bonito para mostrar uma marca roxa de chupão.

“Precisa parar com essa mania de me marcar, não é nada legal usar lenço nesse calor.”

Sorri, analisando satisfeito minha obra de arte. 

“Precisa ver minha bunda”

“Eu adoraria”

“Cretino. Estou falando do estado deplorável dela. Você bate forte. Precisa mesmo parar com isso”

Quase como uma maldição, a imagem da noite passada veio à cabeça. Foi inevitável sentir os lábios secarem e a fisgada de excitação. 

“Já se viu de 4? É uma tentação. Não consigo resistir. E pensando bem, não lembro de te ouvir reclamar. Você estava gemendo gostoso, na verdade”

“Deve ser porque na hora é bom…” Logo abaixo, uma carinha safada. “Mas fico marcada depois. Inclusive, ardeu quando tomei banho”. 

“À noite posso beijar para sarar. Beijos curam tudo. Depois, quem sabe, também passo uma pomadinha...”

“Sei bem a pomadinha que você quer passar…”

Ela com certeza sabia. Digitei rápido:

“Bem quentinha e feita na hora só para você.” 

“Safado!” 

Olhei a conversa por alguns minutos, sorrindo abobalhado; no fim diria que minhas costas também ficavam marcadas das unhas dela, e nunca reclamei. Porém, fui distraído pela figura de coques na cabeça e avental que passou por mim cantarolando em tom animado.

—  Imagine me and you, I do! I think about you day and night... It's only right! 

Bloqueei o celular finalmente, reconhecendo a maluquinha da farmácia parada na minha frente. 

— Quem diria. Com essa camiseta do Metallica, todo de preto, várias tatuagens horripilantes e uma cara de quem mastiga morcego, na verdade seus fones estão tocando algo tão alegrinho? Tudo bem, The Turtles é legal; mas Happy Together, sério? 

Era sério. Ouvia a playlist de Sakura no Spotify. E quis perguntar a Tenten o que ela tinha com isso, mas apenas pausei a música e tirei os fones do ouvido, dispondo-me a ignorar a intromissão. Afinal, não deveria despertar a antipatia dela. 

— Preciso da sua ajuda. 

— Novidade… — Ela revirou os olhos. — Já percebeu que toda vez que você vem aqui está precisando de ajuda? 

Tenten até esperou uma resposta, mas como eu não disse nada, deu-me as costas, indo em direção ao balcão para pegar uma caixa cheia de sabonetes. Peguei para ela, dispondo-me enfim a segui-la pelo corredor, até às prateleiras vazias. Ela se ajoelhou no chão, passando a repor os produtos. Esperei pacientemente. 

— Ok... Já que eu vou te ajudar de novo, então pelo menos preciso saber qual o seu nome. 

— Morte. 

— Isso não é nome. 

— Não. Mas que diferença faz? 

— Sei lá… Mas tipo, você nunca dá o CPF para ter os descontos, fico me perguntando se não sabe de cabeça mesmo, ou apenas é um assassino foragido. 

— Não seria a primeira a pensar isso. 

— Ou seja, faz todo sentido. E aí? 

— Sasuke. E posso estar mentindo, então, não faz diferença. 

— Faz toda diferença. Olha só, te vi no bar outro dia. Você toca bem. Na verdade, só estou afim de te seguir nas redes. — Tirou o celular do bolso. Abriu o aplicativo do Instagram. — Sasuke o quê? 

— Uchiha. Mas não tenho redes. Você não vai encontrar nada aí. 

— Sério? 

— É. 

— Droga… — Um longo suspiro. — Não estou dando em cima de você, ok? 

— Ok. — Não é como se tivesse suposto algo assim. Estava calado, e com nenhuma intenção de entender o que acontecia dentro daquela cabecinha. A garota era pirada de verdade. 

— Até porque sua cara de idiota olhando o celular já era suficiente para eu saber que estava conversando com a garota dos absorventes. E com certeza, quer ajuda com ela de novo. Minhas dicas para passar pela TPM deram certo, né? — Dessa vez não me esperou responder. — Eu vi que a sua banda vai tocar no festival de rock, sabe, eu só queria fazer uma amizade no insta antes de você ficar famoso, vai que alavanco minha carreira de blogueira. 

— Escuta, você vai me ajudar? — Era o que importava no fim. Estava começando a ficar impaciente. 

— Estou certa, é com a namorada que não é namorada? 

— Sim. 

— O que vou ganhar te ajudando? 

— Um gato. — Foi a primeira coisa que me veio à cabeça. Tenten franziu a sobrancelha. 

Peguei o celular novamente, abrindo a foto dos filhotes que havia tirado antes de sair de casa. Mostrei o gatinho preto terrível que mordia a manta da cesta, enquanto os irmãos dormiam tranquilamente. 

— Han Solo.

— Obrigada. Não tô afim. 

— Por que não? Ele é fofinho. — Sakura falava assim. Talvez isso amolecesse o coração de uma mulher. 

— Porque na verdade você está me pedindo dois favores. Me dá um gato para criar não é exatamente um ganho em troca da minha ajuda. Não abuse de minha boa vontade e não insulte minha inteligência. 

Ela então levantou e saiu andando sem me dar atenção. Guardou a caixa de papelão e por fim apoiou-se no balcão com os cotovelos e o rosto encaixado na mão direita. O cara do setor dos remédios nos olhava intrigado, ainda assim, fui atrás dela. 

— Hoje faz um mês que estamos juntos — eu disse, na crença de que isso pudesse fazê-la ceder. — Quero surpreendê-la.  Fazer algo que uma mulher goste.

— Não tenho nada a ver com seus problemas. 

— Pretendo pedi-la em namoro. Talvez ela não aceite, mas quero fazê-la pensar sobre. Sabe, tem outro na parada, e preciso ser melhor que ele. Mas, porra, não sei como demonstrar que posso ser um lance sério também… Ela gosta de caras fofinhos. Mas não sei ser fofinho. Quando fiz o que você me disse, ela gostou. Gostou mesmo... 

— Tá! Só porque você parece apaixonado de verdade. E eu sou uma romântica incurável. 

— O que faço, então? 

— Esse lance de vocês é tipo sexo sem compromisso? 

— Não. — Havia um compromisso, uma promessa. Não dormíamos com outras pessoas, éramos um do outro, na cama e no coração; pelo menos, eu pensava assim. Porém, não tínhamos algo certo, existia o noivo. E, mesmo se não fosse o desgraçado, não tinha certeza se Sakura assumiria algo comigo. — Sei lá. Acho que sim. 

— Precisa revelar como se sente. Deixe muito claro que não é só sexo. 

— Já falei isso. 

— Ah é? Por acaso falou dos seus sentimentos? Às vezes ela sabe que não é só isso, porém não tem certeza sobre o que acontece entre vocês. Considerá-la uma garota legal e tudo mais, não é o mesmo que estar apaixonado, entende? 

Apesar de nunca falar com todas as letras; na minha cabeça, havia deixado entendido para Sakura como me sentia, como desejava ter algo mais. Mesmo assim, percebia que na compreensão dela o importante para mim era manter o sexo, também não é como se eu tentasse reverter tal impressão, na verdade acho que reafirmava essa ideia. Porém, não era pela boa foda que eu atendia todos seus pedidos; porque, mesmo se Sakura fosse o tipo de garota que só transa após o casamento,  eu iria querê-la e esperar. 

Percebi, então, que tinha medo das palavras cruas. Eu te amo é assustador, principalmente se dito por um cara com quem você sai há tão pouco tempo. Ela se tomaria de novo como uma nova obsessão minha, e talvez fosse isso, embora tudo parecesse tão diferente em meu coração; estava perdido em sensações desconhecidas e demasiadamente graves. Sakura era especial para mim, mas era preferível deixar subtendido. Se até eu tinha medo de como me sentia em relação a ela, de qual forma não a faria fugir? 

— Não quero assustá-la. Existe a possibilidade de eu dizer que estou apaixonado e ela preferir acabar por não sentir o mesmo. 

— Mas é isso ou nada, certo? Sei que não é tão simples. Porém, bem… Escreva tudo antes, quem sabe fica mais fácil na hora de falar. Você pode levá-la para jantar em um lugar legal, tipo à luz de velas, e no fim se declarar. 

— Não rola. Tem que ser na minha casa. Não podemos ser vistos juntos. 

— Entendi… O outro na parada, na verdade é o namorado dela, e ela o trai com você? 

— Mais ou menos. 

— Sasuke, então acorda: Essa garota é uma safada!

— Não. Não é como está pensando. Ela só não pode deixá-lo agora. 

— Ele está doente? Morrendo? Alguma coisa assim?

Neguei.

— Bem, nesse caso, você está sendo feito de trouxa. Quando alguém quer acabar, simplesmente acaba. Se a safada ainda não deu um fim, é porque não tem intenção de fazer, e por isso não te assume, só está enrolando. Vai ver só, daqui uns dias ela vai te dar um pé, e ficar linda lá com o boy dela. Você é tipo o amor de pau, entende? E isso acaba uma hora. Ele é o amor pra casar, ter filho, essas coisas...

Não esperei para ouvir até o fim. Aquelas palavras me machucaram de uma forma que eu não esperava. Cerrei os punhos e o maxilar, mas não ficara apenas irritado, antes fosse só isso. Veio-me uma agonia estranha, o velho aperto no peito, a raiva ferina. Talvez, a reação nada mais fosse pelo reconhecimento de existir alguma verdade em tudo aquilo. Uma verdade que eu me negaria a enxergar. Fechar os olhos para viver a ilusão se tornara mais agradável.  

— Deus, você está mais iludido do que imaginei. Um homem quando se apaixona é pior que mulher, fica completamente cego. 

— Para de falar, porra! — Esbravejei, embora tenha me arrependido no mesmo instante. Minhas mãos tremiam, e vi que o cara dos remédios vinha em minha direção. Apressei-me a sair logo dali, antes que o filho da puta me dissesse alguma coisa e a situação acabasse da pior forma possível. Qualquer palavra dele seria suficiente para aplacar minha vontade de descontar a raiva de alguma forma. 

— Ok. Desculpa. Esqueça o que eu disse. Ei… — Ela veio atrás.  — Não quer minha ajuda?

— Já me ajudou bastante hoje. Ouvi o suficiente. 

— Faça um jantar romântico, compre flores, rosas vermelhas. Espalhe pétalas pela casa, principalmente na cama, tipo coisa de dia dos namorados. Tem uma floricultura na outra rua, eles vendem pacotes de pétalas, nem terá o trabalho de puxar uma a uma. 

— Valeu. — Foi minha resposta, embora não tivesse dando atenção de verdade. Estava puto o suficiente para desistir da ideia patética de tentar mostrar ser algo que não era. Sakura nunca deixaria o noivo, Tenten tinha razão. Eu só estava sendo um brinquedo idiota. Não continuaria com meus planos patéticos, daria um jeito de tirar aquela mulher da minha cabeça, e não ficaria ferrado quando ela me chutasse finalmente. — Mas não serei tão otário quanto já estou sendo. 

— Ei, Sasuke, é sério. — Segurou-me o braço, impedindo-me de seguir. — Não estrague as coisas só porque falo coisas sem pensar. 

— Quer me ver quebrar a cara, é isso? — Virei-me para olhá-la de novo. 

— Não. Você é um cara legal. E se depois de hoje, essa garota não ver o que estou vendo; então chute o balde. Mas, faça o que eu disse, ok? Compre as flores. E cozinhe alguma coisa especial.

— Não sei cozinhar. 

— É o menor dos problemas. Já comeu o Espaguete al formaggio do restaurante novo perto do bar? Eles fazem entrega, uma caixa com todos ingredientes separadinhos para finalizar em casa. É sensacional, melhor coisa que já comi na vida. 

— Mais alguma coisa? — Fui irônico, pouco disposto a seguir com aquela idiotice. 

— Toque para ela. Você é músico afinal. Certeza que irá fazê-la se derreter. Devem ter uma música de casal, certo? Todo mundo tem. 

— Não. Não temos porra de música nenhuma. Como percebeu, não somos um casalzinho. — A simples ação de puxar o braço foi suficiente para me livrar do sutil agarre dela. 

Fui embora tirando a carteira do bolso e acendendo o velho cigarro amassado, era uma reserva que ninguém precisava saber. A primeira tragada veio com intenso e confortante alívio, embora soubesse que aquilo realmente fazia mal ao meu pulmão. 

Foda-se, murmurei

Mas a verdade é que, apesar de fodido da cabeça e sair pisando duro pelas ruas, subitamente me veio Wonderwall ao pensamento. Se eu e Sakura tínhamos uma música, certamente era essa. 


*

Embora não soubesse exatamente onde procurar, não tardei a encontrar a mulher de cabelo cor-de-rosa em um dos camarotes do mezanino superior do teatro. 

Ela acenou discretamente. Estava linda. Incrivelmente linda. 

Usava um vestido elegante, sobretudo azul e batom vermelho. Ao seu lado estava a loira, Ino. Sakura vez ou outra murmurava algo no ouvido da amiga e as duas sorriam. Mas quando a apresentação começou, seus olhos se fixaram em mim e não mais desviaram. Toda vez que abria os meus, encontrava os dela. Olhos verdes no meio da multidão, tudo se tornava negro para apenas eles brilharem para mim.  

Acho que foi a melhor apresentação que fiz na vida. A história abstrata contada pela orquestra naquela noite de assemelhava a minha própria, de forma que pude senti-la sem muitos esforços e me tornar parte das sinfonias. Apreciei cada nota como se ocorressem dentro de mim, fluindo por minha corrente sanguínea e conquistando a liberdade por meio de minhas mãos. 

As melhores coisas acontecem quando estamos de olhos fechados: os sonhos, em geral. Mas, fora isso, há aquelas situações em que, reconhecendo a perfeição, reage-se de imediato com a abdicação da visão. Porque essas coisas boas, excluindo a apreciação da beleza, seja num quadro, escultura, natureza ou em carne e osso, são sentidas. A extensão dos braços do espírito livre ao se submeter a força do vento, o punho fechado do vencedor, o beijo apaixonado, a dança interpretada, a música... Quando se fecha os olhos, todos os sentidos estão a favor da emoção. 

Costumava fechar os olhos ao tocar Cello porque a minha música vinha de mim, nascia com a inquietação do espírito, dos sentimentos mais profundos. Era sentida em meu âmago e ultrapassava o ser através dos movimentos, uma extensão de minha alma, de quem sou no instante em que ocorro... E não importava as partituras, ou o tempo, ela era eu. E se estivesse triste, transformaria a alegria das notas em drama; apaixonado, tudo se tornaria um ode à mulher amada. Meu primeiro professor de música com certeza repudiava esse pensamento, porém acontecia assim para mim. 

Foi meu melhor concerto porque dessa vez não existia somente o mundo abaixo das pálpebras e a paixão pela música, havia Sakura em todo rápido vislumbre do público, sentimentos palpáveis em nossa troca de olhares. Algo além dos sonhos, do sentimento abstrato. Havia o extasio e sorriso encantado no rosto dela, a frenesi ao bater palmas mesmo nos momentos inoportunos; meu coração acelerado e a satisfação por cativá-la. 

Não foi possível encontrá-la no intervalo, mas no fim arrumei minhas coisas apressado e, sem despedir-me de ninguém, segui em direção ao salão de entrada. Encontrei-a no café, de costas para a porta, dividindo uma mesa com a loira. Aliás, a amiga notou minha aproximação, mas não falou nada. Quando abracei Sakura por trás, sentindo seu perfume delicioso, ela praticamente pulou assustada. 

— Sasuke! 

— Olá, princesa

— Por que não me mata logo? 

— Assustei você? 

— Claro. 

— Sou tão terrível? — Sorri, provocando-a. 

— Querido? Terrível? — A loira me olhou de cima à baixo. — Você está é bem gostoso. Pode me pegar assim se quiser. 

— Ino! 

— O quê? Meu bem, se você assusta com um homem desse, então por favor, deixa pra mim que eu sei o que fazer. Aliás, senhor porteiro, caramba! — A mulher estava de novo olhando para mim, falando comigo. E isso foi estranho. — Eu achava que Sakura estava fazendo a namorada babona ao falar dos seus talentos, mas uau, você é bom mesmo. 

— Valeu. 

— E nossa, sério, já é bom de badboy, mas tá uma coisa nesse terno; estou chorando só de olhar, e como pode perceber, não é pelos olhos. 

Não sei se Ino Yamanaka duvidava da minha inteligência e capacidade de compreender o que estava falando, se estava zoando ou se só era doida mesmo. Mas bem, ela tinha se referido a Sakura como minha namorada, e isso já foi meio caminho para não chamá-la de maluca verbalmente. 

— Ino, por favor, menos. Não fale essas coisas para o meu badboy. Posso ficar bem ciumenta. — Ela tocou minha mão discretamente. Olhou-me, mordendo os lábios de forma sutil. Algo não planejado, acredito. Mas tive certeza que se não fosse a possibilidade de ser rechaçado, nada me impediria de eu mesmo morder aqueles lábios vermelhinhos. — Foi incrível, vida. Estava maravilhoso.

— Espera. Deixa eu ver se entendi. Você acabou de chamar o boy de vida

Sim.

Sakura estava mesmo me chamando assim. E sinceramente? Eu gostava.

.

.

Havia se tornado costume dela começar a me beijar enquanto eu ainda abria a porta do apartamento. Porém dessa vez tive de acalmá-la e pedir para esperar alguns minutos, enquanto entrava sozinho. Precisava me certificar que os gatos ainda estavam na varanda e a decoração não fora destruída. 

É… Passei a tarde inteira ocupado justamente fazendo o que Tenten me aconselhou. Depois da raiva, veio a imensa necessidade de fazer as coisas darem certo. Não queria ser um idiota com Sakura e deixar nosso primeiro mês juntos passar em branco, não quando sabia perfeitamente que o ex esquecia até da data do aniversário dela. E todas as verdades para quais provavelmente fechava os olhos, pretendia trazê-las à tona, mas não de forma a estragar nosso clima conquistado depois de tantos desentendimentos. 

Estava tudo perfeito. O apartamento até cheirava a flores. Tomei meu lugar no sofá, com o cello entre as pernas, respirei fundo. 

— Pode entrar agora — falei, em tom suficientemente alto. 

Bastou-me vê-la entrar, o olhar desconfiado sobre a sala, e iniciei a versão de Wonderwall ensaiada arduamente durante duas horas. 

A princípio Sakura sorriu de maneira descontrolada, e sustentou a expressão maravilhada por bons minutos, arriscando murmurar a letra no refrão; porém depois sentou no tapete e, como uma criança, começou a chorar. 

Parei de tocar quando os soluços se tornaram sonoros, pois não sabia se as lágrimas eram por gostar demais ou se eu havia feito uma besteira muito grande. 

Ajoelhei-me diante dela, abraçando com força; não sei a quem sinceramente confortava. Estava assustado. Apavorou-me a ideia de, justamente naquele momento, ao perceber todo meu esforço, ela dizer que não estava preparada para isso. Nesse caso, eu não deveria nem prosseguir. As palavras haviam sido ensaidas, porém, corriam o risco de nunca serem ditas. Morreriam em minha garganta.

— Seu coração está batendo forte  — ela sussurrou. 

— É por você. 

Um sorriso. Meu mundo foi reerguido. 

— Está sorrindo? 

— Estou. 

Deixei-a respirar com calma. Ela olhou novamente toda a sala. Levantou-se e caminhou para o quarto, fui atrás, sentando ao seu lado na cama. As mãos escorregaram pelos lençóis brancos, brincaram com as flores; observei cada uma dessas ações. A maquiagem borrada deixava o rosto dela engraçado. Eu quis rir, mas não consegui. O nervoso não permitia. 

— Passou o dia arrancando pétalas de rosas? 

— Na verdade eles vendem em pacotes. 

— Poderia mentir e me deixar mais impressionada. 

— Está impressionada? 

— É claro que estou. 

— Bom. — Respirei aliviado. O pulmão queimava. 

— Por quê? Acha que não? 

— Fiquei com medo. 

— Sasuke... — Ela segurou meu rosto, encostou os lábios nos meus. Foi um beijo terno. — Se o seu plano era me deixar mais apaixonada, conseguiu. 

Eu ri. As palavras dela tiraram um peso enorme do meu peito, fez tudo parecer simples. 

— Está apaixonada? 

— Muito… E você? 

— Perdidamente. 

Houve silêncio. Nossas testas estavam coladas, respirações sincronizadas, dedos entrelaçados. Ambos imersos no momento, apreciando o clima suave que a confissão sussurrada deixara no ar. Pela primeira vez nada era pesado ou assustador. 

— Sei que a sua oferta era me dar uma noite de sexo selvagem. 

Ela riu de novo. 

— Aham. 

— Mas não há nada que eu queira pedir, nada envolvendo sexo pelo menos. Nessa cama, já tenho tudo. Você é perfeita, Sakura, me deixa louco, de verdade; ninguém faz tão gostoso.

— Agradecida, querido

— Não há de quê.

Ignorando seu sorrisinho irônico, ergui o braço, repousei a mão sobre seu seio esquerdo.

— O quê eu quero pedir… Está sem sutiã? 

Ela acenou positivamente. 

— Ah, caralho… — Essa parte não estava no planejado. — Hm, esqueça, pretendo chupar esses seus peitos daqui a pouco, mas por enquanto estou falando do coração. 

— Ok. Do coração. Ele é seu, Sasuke. E os meus peitos também, para chupar quando quiser. 

Inclinei-me para beijá-la, aproveitando a posição de minha mão para também apertar-lhe o seio. Contudo, afastei-me logo, antes de estar suficientemente seduzido para esquecer do resto. 

— Tudo isso também é para dizer que não aguento mais essa situação. Você me pediu muitas coisas, e estou aceitando sem exigir nada em troca; eu mesmo disse que não faria isso. Mas agora é diferente. Não consigo continuar assim. Então, Sakura, só te peço para terminar com o seu noivo de uma vez por todas. Tudo bem se não aceitar ser minha namorada agora, até achar que mudei de verdade; mas, por favor, dê um fim nesse noivado.

— Eu vou.  

— Vai? 

— Sim. Hoje tomei a decisão de sair do apartamento que os meus pais me deram, não quero mais me ver tão presa e me sentir em dívida. Não quero continuar levando minha vida conforme as vontades deles. 

— Pode vir morar comigo. 

— Não. Isso não. Vamos com calma dessa vez, certo? Também, de todo modo, já falei com Ino, vamos procurar um apê para nós duas. Pretendo me mudar em breve. 

— E quando, exatamente, acabará com essa palhaçada de casamento? 

— Me dê dois meses. 

— Dois? 

Era muito. Eu não saberia lidar. O incidente mais cedo na farmácia havia deixado claro para mim que explodiria a qualquer momento. 

— No máximo. Pode ser menos. 

— Sakura…

— Iremos juntos ao festival, pense dessa forma. Até o festival tudo estará resolvido. Eu prometo. 

Não era perfeito. Mas era melhor do que nada. Sendo sincero, eu tinha mais a dizer; no entanto, na prática as coisas tendem a sair diferentes dos ensaios na frente do espelho. De forma geral, foi melhor do que esperava. 


*


O fato de Sakura ter levado algumas coisas para o meu apartamento acabou com a necessidade de ela levantar mais cedo para passar em casa antes do trabalho. 

Na segunda-feira não fui abandonado na cama, ficamos agarrados até estarmos atrasados o suficiente e se tornar inaceitável colocar a soneca do despertador mais uma vez. Tomamos banho juntos e o café foi rápido. Saímos do prédio às 8 e no metrô cheio eu a puxei para sentar em meu colo, tão logo um banco esvaziou numa estação intermediária. Ela ficou sem jeito, mas depois de olhar para os lados desconfiada e não reconhecer ninguém, acabou aceitando numa boa. 

Durante aqueles minutos fui cativo de uma felicidade ingênua, senti-me estranhamente satisfeito por não precisar esconder o quanto gostava de tê-la junto de mim; embora fôssemos apenas mais um casal estranho no meio de pessoas que nunca mais cruzariam nosso caminho. Alguns nos olharam pelo canto dos olhos, tenho certeza que se perguntavam o que uma garota bonita e tão bem vestida estava fazendo com um esquisitão como eu. E tudo bem, quando nos encaravam, eu puxava o rosto de Sakura para mim e lhe beijava a boca do modo mais pornográfico possível; isso era suficiente para escandalizar os curiosos. 

Na nossa estação inevitavelmente nos separamos para continuar mantendo as aparências, ela foi andando à frente, passou numa cafeteria e entrou sozinha na ONG, mas dessa vez havia o conforto de uma promessa. Apenas mais dois meses

No decorrer da manhã ela me chamou no prédio para me apresentar aos outros professores, mostrou-me a sala onde ocorreriam as aulas de matemática. Eu poderia começar na semana seguinte, a moça do rh já estava procurando alguém para me substituir na portaria. Quanto às aulas de música, careciam de um pouco mais de tempo para comprar os instrumentos. Bem, sobre isso, a tarde recebi uma mensagem no e-mail do Pirate Roberts.

Sakura escreveu contando a ideia das aulas, fez um breve orçamento dos custos previstos e falou do excelente currículo do professor, um violoncelista da Orquestra Municipal, guitarrista de uma banda em ascensão, compositor talentoso etc etc. Digamos que ela não mentiu, mas aumentou um pouco para conseguir o patrocínio. E o meu sorriso foi inevitável ao ler cada elogio. 

Fiz a transferência no mesmo momento. Ela respondeu com inúmeros agradecimentos, prometendo que deveríamos nos conhecer quando a turma estivesse evoluindo e fizesse a primeira apresentação. 

Fica por minha conta organizar o evento, provavelmente em alguns meses. Você deverá estar na primeira fila. Será muito bem recebido aqui” Foram as palavras dela. 

Com um sorriso, respondi “Posso aceitar o convite, desde que, na ocasião, use o presente que te enviei no seu aniversário.”

“Fico me perguntando se você é um devasso assediador ou se só está fazendo graça. Prefiro acreditar na segunda opção.” A conversa acabou assim, outra vez um fora educado. Fiquei satisfeito com isso, porque de todo modo, pelo menos não precisei ter ciúmes do cara que, na verdade, era eu. 

No fim do dia levei-a para o ponto de ônibus. Na terça não nos vimos, mas eu sabia por meio de mensagens trocadas que Sakura estava no centro, fechando a compra dos violoncelos com um fornecedor conhecido. Na quarta não nos falamos muito, ela continuava concentrada em sua nova causa, estava bastante envolvida e muito disposta a preparar a sala de música para dar início logo às aulas. 

Para mim também ia tudo bem, no mínimo acreditava estar lidando da melhor forma com a questão de abandonar meus vícios, afinal já estava nisso há um mês. Mas há coisas que acontecem de repente, elas vêm quando menos esperamos. Foi assim com a primeira crise forte de abstinência. Pensando bem, os sinais vinham se arrastando ao longo das semanas, não foi de repente, eu só não havia notado ainda como estava sendo afetado. 

Sakura tinha razão quando me acusava de viver de obsessões. Há um vazio dentro de mim, ele sempre existiu; um vazio que tento preencher a qualquer custo. É um aperto no peito, palavras sufocadas, ideias cruciantes… sensações e frustrações que, a cada dia, avançam um pouco mais em minha cabeça, tornando-me o que eu não gostaria de ser. E, no entanto, como escapar? 

Não me recordo de quando exatamente comecei a me perceber assim, mas tenho a impressão que essa sensação está comigo desde que meu pensamento se tornou lógico e fui capaz de entender a selva de pedra que é o mundo. Desde então, estava vivendo em círculos, numa busca incessante em preencher esse vazio, em me sentir menos esquisito. Minhas obsessões sempre foram uma forma de fugir da realidade, eu acho que sempre estive em outro mundo, embora gostasse de me considerar pé no chão.

Drogava-me para esquecer desse vazio, ou no mínimo conviver com ele; para me sentir bem por algum instante do dia, quando tudo ia mal e eu achava que a realidade era dura demais para ser encarada com serenidade. No fim, esses confortos momentâneos me levaram a problemas maiores. 

Em algum momento, passei a acreditar que não valia a pena viver como essa gente, essa gente de forma e padrões definidos, caminhando por aí como robôs. Talvez tenha sido a juventude, acho que no fundo todo jovem se sente assim: com imenso medo das obrigações da vida adulta, do peso da velhice. Não pretendia viver muito, não esperava passar dos 30. Se eu morresse, de tanto me drogar ou em mais uma briga de bar, não faria diferença. Era o que eu queria. Só desejava viver intensamente, na minha própria definição de intenso; fazer as coisas que desejava, sem me apegar ao limite entre bem e mal; mudar o mundo, mas sem ser a mudança. Como disse Dostoiévski em Notas do Subsolo “Viver após os 30 é ultrajante”. Sentia-me intensamente atraído por um personagem paradoxista a contar como não se tornou nem mesmo um inseto. 

Eu nunca quis ser, mas ao menos tempo, nunca quis não ser. A mediocridade, a ignorância... Essas coisas sempre me deram náusea.  Não era capaz de dormir assim, não era capaz de aquietar meus pensamentos, quando tudo que se colocava diante das minhas perspectivas era uma probabilidade de me tornar mais um transeunte na via movimentada: Homens de ternos e mulheres de salto indo de um lado para o outro, carregando suas maletas, andando com pressa sem olhar para o lado, sem ver o inferno ocorrendo aqui e agora. 

Chega a ser engraçado e triste como a cidade tem pressa. Eles têm pressa porque estão atrasados, atrasados para o trabalho robótico que começa às 8; estão atrasados porque acordaram um pouco mais tarde, e acordaram um pouco mais tarde porque foi necessário colocar mais alguns minutos no despertar; mais alguns minutos porque não têm ânimo para levantar, não são felizes no que fazem, dormiram tarde; dormiram tarde porque só fazem o que gostam quando sobra algum tempo livre, que geralmente é da meia-noite às seis; da meia-noite às seis porque o dia foi cheio, algumas horas extras foram necessárias para entregar o trabalho que não é possível ser feito nas 8 horas de expediente; não é possível porque as atividades são maiores que o tempo disponível; são maiores porque há menos gente do que deveria ter, há menos gente porque é preciso menos custo; menos custo porque é preciso ter lucro.

Lucro!

Dinheiro!

Tudo se resume a dinheiro. 

Não pretendia fazer parte desse círculo, meus minutos a mais no despertador só eram aceitáveis para ter mais tempo dormindo abraçado com a minha garota, e não para fugir de um trabalho detestável a sugar-me as forças. Eu não queria, e não quero, ser o pequeno hamster correndo desesperado sem nunca chegar ao fim. Isso era tudo que via no futuro: uma vida que não valia ser vivida. Às vezes preferia não ter nascido.

Até então caminhava no escuro. Sakura havia se tornado meu ponto colorido no fim do túnel. Pela primeira vez não me sentia vazio. Apesar das questões perturbadoras do nosso relacionamento, sentia-me inteiro, sentia que esse vazio fora preenchido. Ela me completava de uma forma esquisita, doentia talvez, porque eu sabia que tê-la era um remédio para minha loucura. Minha paixão e obsessão, calmaria e tempestade. Sei que era egoísmo meu. Mas com ela, não me sentia necessitado de me anestesiar do mundo, de sufocar a agonia da minha existência e imergir na solidão melancólica. Não sentia vontade de usar nada mais forte. 

No entanto, naquela noite de quarta-feira, enquanto escutava música em casa no completo breu, bateu-me uma necessidade intensa de dar mais um teco. Eu olhava constantemente para o armário de livros, onde sabia que, escondido atrás da minha coleção do Nietzsche, estava um pequeno saco de cocaína. Essa necessidade se transformou em inquietação, fez-me andar pela sala indo e voltando várias vezes, numa dúvida dilacerante sobre pegar ou não pegar; um julgamento em que eu era réu e juíz. A inquietação logo passou para dor, náusea, um mal estar crescente, minha testa suava, e eu queria muito ceder, queria muito dar um fim àquele tormento. Eu sabia como acabar com o sofrimento. Um fim passageiro. 

Embora em completo desespero e vítima de minha própria cabeça, uma parte sã dos meus pensamentos me pedia para continuar lutando contra, repetia que Sakura poderia me perdoar por fumar um cigarro durante um instante de estresse e no máximo ficaria insuportavelmente chateada ao descobrir que eu não estava cumprindo o acordo de apenas um baseado por semana, mas ela não me perdoaria por cheirar. O que me fazia apertar os punhos e retroceder estando a poucos centímetros do meu conforto, era a terrível possibilidade de Sakura descobrir tudo. 

Me bateu um medo absurdo de ter alguma câmera escondida dentro de casa. Se Sakura tivesse feito isso para me vigiar?

Tal qual um louco, passei a procurar. Procurei pelas câmeras nos armários; em baixo dos sofás e da cama; esfaqueei as almofadas, puxando todo algodão até não sobrar mais nada nas fronhas. Procurei ensandecidamente até perceber que, na verdade, não buscava nada, só tentava em desespero aplacar minha agonia destruindo a casa. 

Então me joguei no chão, imóvel por alguns minutos, escutando as notas da canção, a boca seca, uma ideia fixa de que eu iria morrer. Lembrava-me por alto, de chofre, que Sakura havia me dito para chamá-la, caso algo assim acontecesse. Lutei contra isso, contra a possibilidade de deixá-la ver quão fodido eu era, quão louco podia ficar. Mas no fim, tive certeza que se ela não estivesse ali, eu não conseguiria; se Sakura não aparecesse para me impedir, eu iria cheirar todo pó que encontrasse em casa. Quebraria a promessa. 

Eu liguei. Pedi que viesse, precisava dela. Em menos de 30 minutos a campainha estava tocando. E tão logo abri a porta, sem precisar explicar nada, puxei-a comigo de um lado a outro, revelando todos os esconderijos: o saquinho atrás dos livros, a grande quantidade de maconha no guarda-roupas, as caixas de cigarro na última gaveta da cômoda. Foi o verdadeiro ponto de partida para mim. A rendição definitiva. Da primeira vez, Sakura havia encontrado minhas coisas e jogado por conta própria; mas agora era eu quem estava pedindo por isso. 


*

Passei o dia tomando água, segundo as leituras de Sakura, isso ajudaria. Ela também estava confiante quanto a visita ao médico na sexta. Não tornei explícita minha opinião, porém não estava igualmente tão certo sobre a eficácia das consultas. Afinal, já havia passado por isso antes. De qualquer forma, mostrei-me positivo. Quem sabe a vontade de parar fosse tão importante quanto o processo em si. 

À noite, no ensaio com a banda, sentia-me bem. Há duas semanas Itachi havia decidido fechar o bar às quintas, para focarmos no show do festival, mas durante uma horinha, também passávamos as músicas para tocar no Led na sexta. 

Estava concentrado na guitarra, quando Itachi chutou minha perna enquanto prosseguia no seu Ooh, ooh, ooh, ooh. Eu tinha certeza que ele se considerava o próprio Eddie Vedder. Enfim, o chute nada mais foi que uma estratégia para me mostrar quem chegara.

Sakura estava ali, e me sorriu de volta quando sorri para ela.

Sem se preocupar com os caras e o fato de estar sozinha na pista, ela começou a dançar no ritmo da música, do seu jeito sexy pra caralho. Eu, é claro, tornei-me prisioneiro dos olhos; toquei como se somente houvesse nós dois, cada nota era para ela. Gostava de como minha gata interpretava a canção com seu corpo, movendo-se sensualmente mas, ao mesmo tempo, com o sentimento impregnado de cada palavra.

— Release me, release me, release me… — cantou junto a todos pulmões, fechando os olhos e com as mãos erguidas.

Não fui o único a sorrir da cena. Sakura tornou o ensaio mais divertido para todos nós. 

Com o fim da música, pulei do palco para beijá-la. Sabia do seu receio para me beijar na frente de Nagato e Kisame, sempre dispostos a uma gracinha, mas os dois estavam cientes: qualquer desrespeito, e se veriam comigo. De todo modo, foi apenas um encostar de lábios inocente. 

— Como você está? — perguntou num sussurro, tocando-me o rosto sutilmente. 

— Bem. 

— Verdade? 

— Sim, estou tomando água constantemente. Também comprei umas balinhas e tenho me mantido distraído.

— Saber disso me deixa aliviada. 

— Estava preocupada e por isso veio aqui?

— Tipo isso... Decidi aparecer de surpresa e te pegar no flagra.

— Me pegar no flagra? 

— É. Ou acha que não sei como as mulheres ficam agitadas com vocês?

— O bar está fechado. E como pode ver, a única mulher aqui é Konan.

— Bem, de qualquer forma,  estou cuidando do que é meu. 

— É mesmo? — aproximei o rosto novamente, beijando-a pelo queixo. 

— Aham. 

— Tá muito interessante essa melação, pombinhos. Mas precisamos continuar aqui. 

Beijei-a uma última vez e voltei para o palco. De fato não devia ficar me pegando com Sakura, quando até havíamos definido não deixar mais Izumi participar dos ensaios e, consequentemente, distrair o vocalista.

O pequeno instante de descanso foi suficiente para Pain acender uma ponta, e quando recusei uma tragada ao voltar para o meu posto, não escapei de ser zoado. 

— Ah, é verdade, lembrei: a mulher não deixa. 

— Também já comprou a coleirinha dele, hippie? — Kisame perguntou, claramente tirando uma com a minha cara. — Porque se comprar, certeza que ele usa. 

— Vocês são uns bobões — ela se defendeu. Chamar de bobão era o máximo que conseguia em sua lista limitada de xingamentos. — Não ligue para eles, Vida. Você não precisa dessas porcarias. 

Essas últimas palavras decretaram minha morte social e respeito diante dos caras. Ninguém perdoou o vida, nem mesmo Konan. Contudo, não reclamei, sorri para minha hippie, muito satisfeito pelo codinome carinhoso. 



Notas Finais


🙃

Coloquei a playlist no Instagram, mas vou deixar aqui também
https://open.spotify.com/playlist/2PZGsu1tismJROdd4owhzo?si=Lrf6VN3dQ2OaXVplP4uBQA

Espero que tenham gostado! Beijo 😘


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