História Yuri Dormitory - Um novo amigo?

A escola parecia um pouco chata sem Miyami. Já estava na segunda aula após o primeiro intervalo. Essa coisa de mais de um intervalo me surpreendeu, mesmo sendo uma escola de período integral, achei que teríamos apenas um intervalo entre as nove aulas do dia, mas durante a apresentação no dia anterior o diretor mencionou sobre os intervalos, sendo um de vinte minutos após as três primeiras aulas, e outro um pouco mais longo, trinta minutos após a sétima aula. O que era bom, já que nos dava tempo para relaxar um pouco e comer algo entre as aulas. Aulas que eram extremamente bem lecionadas, por professores excepcionais que realmente se dedicavam a ensinar os alunos e o faziam muito bem.

Não fui totalmente anti-social apenas pelo fato de Miyami não estar comigo, como era tecnicamente o primeiro dia de aula, era obvio que nem todos na classe se conheciam então era fácil puxar assunto com alguém de forma natural, mas não durante a aula, dois garotos que tentaram conversar durante a primeira aula foram retirados da sala pela professora de matemática, a senhorita Okada, uma jovem professora, recém formada, mas que já parece ter muito anos de experiência.

As aulas se passaram até mais rápido que o normal, parece que quando realmente se aprende durante a aula, as coisas ficam mais divertidas e interessantes e não percebemos o tempo passar. E logo, o sino da ultima aula tocou, exatamente as 4:00h. Dessa hora em diante era permitido que os alunos fossem embora ou ficassem na escola para as atividades de clubes extracurriculares, como ainda não faço parte de nenhum, decidi ir embora.

O caminho até a estação é um pouco longo, uma garota da classe se sujeitou a me acompanhar até parte dele, Karin, é o nome dela, mora próximo a escola e cuida de seus irmãos menores, uma garota legal e gentil que puxou conversa comigo durante o segundo intervalo.

- Bem, eu vou por aqui agora. – Ela disse quando chegamos a uma esquina, a algumas quadras da estação. – Tenho que passar no mercado ainda, comprar algumas coisas que minha mãe deixou anotado.

- Tudo bem, até amanhã. – Eu sorri e acenei enquanto ela fazia o mesmo e andava em outra direção.

Após essa despedia eu segui meu caminho, senti meu celular vibrar no bolso, então o peguei. Uma mensagem da Mai estava em uma das notificações na tela inicial.

“Aye, você poderia trazer algo pra gente comer hoje a noite? A Kaya ...” – Tinha mais, mas não mostrava no curto espaço de notificações, então desbloqueei o celular para ver o resto. Enquanto deslizava meus dedos pela tela para destravar o celular e abrir o aplicativo, esbarrei em algo e deixei o celular cair.

- Ow! Olha por onde anda ... – Ouvi a voz de um garoto, e por algum motivo, ela parecia familiar.

- Desculpa, eu só... – Olhei para ver a pessoa em quem eu tinha esbarrado e ...

“- VOCÊ!!” – Eu e o garoto exclamamos ao mesmo tempo, assim que nosso olhares se encontraram.

- Você é o garoto que invadiu o – Ele tampou minha boca com uma das mãos, impedindo-me de continuar.

- Sh! Não precisa sair gritando isso pra todo mundo não. – Ele disse enquanto ainda me impedia de falar.

Tentei empurrá-lo, mas ele reagiu mais rápido e recuou um passo.

- Ei, ei. Calma. – O garoto disse levantando um pouco os braços.

- O que você...! Por que você...! – Eu não sabia bem o que falar, estava curiosa para saber os motivos dele para ter invadido o dormitório, e momentaneamente irritada. – Você é um pervertido.

- Ow, você nem me conhece e já esta me julgando? – Ele pareceu ofendido, mas de alguma forma parecia estar se divertindo com a situação.   

- Você invadiu um alojamento para garotas. – Eu disse fria e diretamente.

- Tá, e só por isso eu sou um pervertido? – Ele levantou uma das sobrancelhas e sorriu de forma irônica.

- Sim. – “Na lata” de novo.

- Como você é exagerada. Eu moro ali perto ok? Sou praticamente um vizinho seu. E hoje de manhã a droga do gato da minha irmãzinha fugiu e ela disse que viu ele subindo em direção ao dormitório riza, então eu fui correndo para lá, pra buscar ele. – O garoto me explicou com calma, parecia até meio arrependido pelo que fez.

“Talvez eu o tenha julgado muito rápido...” – Pensei.

- Me desculpa... Eu não-

O som da risada abafada dele me interrompeu e eu parei de falar. Olhei para ele e ele estava cobrindo a boca com a mão, tentando conter seu riso.

- Eu não acredito... – Ele disse enquanto ria. – Você realmente caiu nessa... – E continuou a rir.

- Você estava mentido! Seu idiota! – Eu acertei um leve soco em seu peito, e acabei rindo junto com ele.

- Foi mal, é que eu tenho mania de testar a ingenuidade das pessoas, eu juro que não faço por mal.

- Bobo, e como vou saber que isso também não é mentira? – Aos poucos paramos de rir.

- Bom, ai você vai ter que confiar em mim. – Ele disse olhando para mim, com um breve sorriso, dessa vez ele parecia estar falando a verdade.

- E como eu vou confiar em alguém que nem conheço? – Perguntei para ele e cruzei os braços.

- Bom, seu melhor amigo ou amiga já foi apenas um estranho pra você um dia não foi?

- É, isso é verdade mas... É diferente.

- Ah é? Como? – O garoto jogou um olhar meio inquisitivo, mas com um tom de brincadeira em suas palavras.

- Sei lá, mas é diferente.

- Ok, que tal uma apresentação formal? Já melhoraria essa sua falta de confiança em mim?

- Talvez.

- Muito bem. – Ele fez uma falsa tosse, como quem vai começar um discurso, colocou as mãos no bolso da calça e disse. – Prazer eu sou Vayne.

- Meu nome é Aye. – Foi um comprimento meio forçado, mas o garoto fez parecer tão natural.

- Eae? Confia em mim agora? – O garoto me perguntou, curvando-se um pouco para frente, deixando seu rosto na mesma altura do meu.

- É... mais ou menos. – Eu disse meio indecisa e um pouco nervosa por ele ter chegado tão perto.

- “Mais ou menos”? Qual é? O que mais eu tenho que fazer? – Ele disse rindo. – Você é sempre tão desconfiada assim?

- Bom, não, mas você pediu por isso, mentiu logo de cara. – Respondi com um breve sorriso.

- Tá, e como eu posso reparar isso?

- Ei, esse uniforme é da mesma escola que a minha. – Eu disse surpreendia, mudando completamente o rumo da conversa.

- Ah... Sim? Só percebeu agora? – O garoto estava com o uniforme incompleto, apenas a calça escura e os sapatos, a camisa social branca com o broche característico dos alunos do segundo ano (um par de asas prateadas, colocada sobre o bolso do peito direito da camisa) e a gravata azul escura, também parte do uniforme dos alunos do segundo ano, só não estava usando a parte superior, mantinha ela pendurada em seu ombro esquerdo.

- Claro, não sabia tinha reparado antes. Em que ano você está.

- Segundo...

- Sério? Então você é mais velho que eu.

- Suponho que sim...

- De que classe você é?

- Ah... Bem, sobre isso...

- Ei! Vayne! – A voz de outro garoto surgiu, olhei para o lado de onde a voz veio e vi um grupo de três, não, quatro garotos, na frente de uma loja. – Vamos embora cara!

- Ah... foi mal, tenho que ir. - Ele disse e estendeu deu punho fechado para mim.

- Ok, até... – Me despedi, mas ele não saiu do lugar, ficou parado, com seu braço meio esticado em minha direção e com o punho ainda fechado.

Olhei para ele, nossos olhos se encontraram, e ele direcionou seus olhos para o punho dele e depois olhou pra mim de novo.

- Qual é... Vai me deixar no vácuo? – Ele agitou levemente sua mão.

- Ah! Foi mal.

Soquei a mão dele de leve, meio insegura, se era realmente isso que ele esperava, mas assim que nossos punhos se chocaram ele saiu correndo em direção aos amigos dele.