epistolaire

Somos fios emaranhados pelos dedos calejados do destino, fios que pingam as lágrimas salgadas e ácidas de nossas almas. Um mártir. Éramos o que éramos.

Aquela mulher, de cabelos loiros e selvagens, tinha perfume de tangerina, contudo, também trazia consigo um odor mortal que rastejava sob sua pele na forma de uma doença corrosiva. A loba a bisbilhotava como qualquer animal curioso, ainda que carregasse em seu coração um fardo odioso, que levou-a a dançar na beira daquele precipício de pés banhados pelas inquietas e brutas ondas do mar.

Como uma tatuagem, ela vestiu em sua alma uma esperança de tecido tão frágil quanto seu coração quebradiço. Quando o mar trouxe consigo aquele homem que catou cada um dos estilhaços dela, pensou que fosse seu salvador, um motivo para um sorriso, a razão de ainda caminhar sobre esta terra, de ter sido colocada nesta ilha esquecida pelo tempo e por Deus. Mergulhou em algo irreal, e ela, que nunca soube nadar, afogou-se.