MelBronte

Elijah tem muitos problemas, mas é otimista e sempre foi apaixonado pela vida. Como tal, fez diversos planos para aproveitá-la ao máximo — mas está morrendo. Leopold nunca se importou muito com a própria vida, a ponto de abdicar de suas escolhas e permitir que outros guiassem seus atos. Exceto aquele. Aquela decisão, ninguém poderia tomar por ele.

Aquele era o início dos dois.
Aquele era o início do fim.

Reencontrar-se-iam, talvez, nas estrelas.

Via-se envelhecendo ao lado de Margot, os cabelos de ambas, que já exibiam fios brancos aqui e ali, tornando-se completamente grisalhos, a galeria de quadros e de títulos expandindo-se, os gatos, os livros, as plantas; tudo o que sempre foi presente e tudo o que ainda seria futuro.

Não havia remédio: Xue Yang tentara de tudo, de psiquiatras a videntes de reputação duvidosa, mas a aparição da garotinha jamais o deixava. Se não fosse a mãe, e o medo e invocar mais fantasmas, teria ido a extremos como brincar com copos, compassos, ou tábua ouija para invocar explicações.

O azar e o Além são forças que Benjamin conhece muito bem. Afinal, ao longo de sua vida, ele perdeu inúmeras pessoas importantes, ainda que ele não se lembre da existência de uma delas.

Alguns anos após ter servido em uma guerra que desprezou desde o princípio, Benjamin queria apenas aproveitar a rotina dos dias de paz.

Apenas não contava com o azar (e com o Além) interferindo em sua vida mais uma vez.

"Elijah riu. Leopold percebeu o brilho travesso nos olhos do noivo: ele estava prestes a aprontar-lhe alguma.

- Falta apenas um detalhe."

Um noivo nunca está pronto sem sua coroa de flores, afinal.

Sentia que enlouqueceria a qualquer momento, que a qualquer hora simplesmente desmontaria e deixaria ver o interior roto.

Não era exatamente isto? Estava desmoronando de dentro para fora, a ponto de tudo o que formava sua identidade pouco importar. Não poderia mais ser quem era antes.

Há existências que seguem conectadas mesmo quando não há mais vida. Algumas vidas passam em adagissimo, enquanto o ritmo de outras, tão breves, é o allegrissimo.

Às vezes, o mergulho para dentro, depois de uma perda, é feito no ritmo de um adagissimo: tão lento que é quase dissonante, e sempre pesado com as recordações.