História 15:30. [The Man] - Capítulo único.

Eu me lembro como se fosse hoje. Tudo bem que passaram-se anos desde que eu pude ver aquele homem sentado no banco do passageiro, em um trem tão grande. Nunca pude descobrir o seu verdadeiro nome, pois as pessoas que o acompanhavam, sempre lhe chamava de ‘’senhor’’, como se este fosse extremamente velho. O homem de feições másculas trajava sempre um sobretudo marrom, sapatos gastos e pretos, e suas leituras eram acompanhadas por seu óculos de armação redonda, e, por incrível que pareça, todos aqueles mínimos detalhes me encantava. Estava sempre com um livro em suas mãos grandes, geralmente tratavam-se de filosofia, ou estava escrevendo poemas em seu bloco de notas amarelado por conta da velhice. Eu não duvidava que aquele homem era alguém extremamente sábio. Seus olhos eram negros como a noite, e o seu brilho eram como as estrelas; eu particularmente queria poder aprofundar-me naquela galáxia tão brilhante. Seus cabelos eram em um tom marrom claro e levemente ondulados. Porém, eu nunca tive coragem o suficiente para me aproximar daquele homem de cabelos ondulados, – para mim, ele era bonito e ocupado demais em seus poemas para me notar. – então eu apenas pegava o trem das 15:30, para vê-lo de longe, sentado no banco do passageiro, todos os dias.

Eu observava cada movimento de seu seu corpo, observava também as manchas avermelhadas que, de vez em quando, apareciam em seu pescoço. Meu coração aquecia ao observar cada um de seus detalhes; seus pequenos detalhes fazia-me entrar em outra dimensão, onde encontrava-se apenas ele. Ele certamente era um de meus devaneios, que eu usava para esquecer da vida entediante que possuía. Eu me lembro como se fosse hoje o dia em que uma mulher estava sentada ao seu lado, como uma verdadeira dama, enquanto conversava com o homem, este que permanecia concentrado em seus livros de filosofia.

E então ocorreu algo que eu nunca irei me esquecer: ele me olhou, pela primeira. E, pela primeira vez, eu pude ter a sensação de seus olhos de galáxia sobre mim, enquanto minha espinha arrepiava-se e tudo ao meu redor ficavam esquecidos por minha mente. Meu nome apagou-se de minha mente, e só pude apenas me concentrar em seu rosto tão perfeito. Passaram-se minutos nos encarando, então ele disse algo para mim em linguagem muda, que eu pude identificar como uma pergunta: ‘’Por que me olhas tanto?’’, e após isso, ele sorriu. Foi o bastante para as minhas bochechas queimarem e meu coração acelerar. Até hoje, eu realmente não consigo simplesmente explicar a sensação que tive com aquele pequeno contato. E desde então, eu nunca mais pude observar o seu rosto com clareza; eu nunca mais pude observar aquele par de olhos tão brilhantes, muito menos descobrir os seus segredos e apreciar os poemas que eram escritos no pequeno bloco de notas amarelado.

Tudo culpa da maldita insegurança que insistia em acompanhar-me em todos os lugares. Contudo, eu permanecia com esperança de encontrá-lo novamente, sentando no banco do passageiro, como de costume. Procurava-o em meio de tantas pessoas que faziam-se presentes no local. No final, eu nunca o achei novamente; havia perdido-o por minha insegurança.