Três dias se passaram desde que Minho apareceu na vida de Jisung, e uma coisa ficou clara:
Yokais não entendiam (ou simplesmente ignoravam) o conceito de privacidade.
— POR QUE VOCÊ TÁ ME SEGUINDO NO BANHEIRO? — Jisung gritou, segurando a porta do box enquanto Minho, em forma humana, tentava espiar por cima do ombro dele.
— Curiosidade. — Minho encolheu os ombros, como se fosse a coisa mais normal do mundo. — Nunca vi um humano tomar banho antes.
— ISSO É ASSUSTADOR, MINHO.
— Relaxa. — Ele deu um tapinha na cabeça de Jisung. — Eu já vi muitos gatos se lamberem. Isso é pior.
Jisung decidiu ignorar essa imagem mental perturbadora e se concentrou em uma questão mais urgente:
— Quando você vai embora?
Minho parou, inclinando a cabeça.
— Quando você não me quiser mais.
— E como isso acontece?
— Boa pergunta. — Minho sorriu, como se estivesse se divertindo com a situação. — Normalmente, quando o desejo é cumprido.
— MAS EU NÃO TENHO UM DESEJO!
— Claro que tem. — Minho cruzou os braços. — Você queria alguém melhor que os caras que conhecia. Então aqui estou eu.
Jisung ficou vermelho.
— Isso não foi um desejo formal!
— Foi o suficiente para me chamar.
Jisung estava prestes a responder quando a porta do banheiro se abriu violentamente.
Hyunjin, com olhos lacrimejantes e um lenço na mão, olhou para os dois com horror.
— POR QUE VOCÊS DOIS ESTÃO NO BANHEIRO JUNTOS?
— NÃO É O QUE PARECE! — Jisung gritou.
Minho apenas bocejou.
— Humanos. Tão dramáticos.
Recapitulando, três dias se passaram desde que Minho aparecera na vida de Jisung, e duas coisas ficaram claras:
Minho não ia embora.
Hyunjin estava a um espirro de pedir asilo político em outro planeta.
— Eu não aguento mais! — Hyunjin esfregou o nariz vermelho, jogando mais um lenço usado no lixo. — Ele sabia que eu era alérgico e ainda decidiu ficar na forma de gato ontem de propósito!
Jisung, deitado no chão da sala com um pacote de biscoitos de chocolate, olhou para o teto.
— Ele disse que foi "pra ver se você desenvolvia imunidade".
— NÃO É ASSIM QUE ALERGIAS FUNCIONAM!
Minho, que estava convenientemente em forma humana naquele momento, apareceu na bancada da cozinha com uma torrada na boca.
— Você nunca sabe até tentar.
— EU VOU TE PROCESSAR! — Hyunjin pegou um travesseiro e jogou em Minho, que desviou com facilidade, mastigando a torrada com ar de superioridade.
Jisung suspirou.
— Pelo menos ele não está miando no seu ouvido às 3 da manhã.
— Ah, é sobre isso? — Minho sorriu, malicioso. — Eu posso voltar a fazer.
— NÃO.
— Você fez isso de propósito! Eu quase morri! — Hyunjin apontou para ele, como se estivesse prestes a lançar uma maldição.
Minho piscou devagar, como um gato satisfeito.
— Quase não conta.
Jisung suspirou, sentando-se no sofá.
— Minho, por favor, não torture o Hyunjin. Ele já sofre o suficiente com a vida.
— Tudo bem. — Minho deu de ombros e, num piscar de olhos, transformou-se em um gato novamente, pulando no colo de Jisung.
Hyunjin gritou.
— NÃÃÃÃO!
Mas, para surpresa de todos... nada aconteceu.
Hyunjin parou, nariz tremendo, olhos arregalados.
— ...Eu não espirrei.
Minho, agora um gato laranja, olhou para ele com ar de superioridade.
— Eu desliguei minha aura alérgica.
— ISSO EXISTE?!
— Claro. — Minho virou-se, enterrando as patinhas no colo de Jisung. — Mas eu só faço isso quando quero.
Hyunjin olhou para Jisung, desesperado.
— Ele está mentindo. Ele tem que estar mentindo.
Hyunjin olhou para as próprias mãos, como se elas pudessem explicar o absurdo da situação.
— Por que diabos eu tô mais perturbado com a alergia do que com o fato de você ser um gato falante??
Minho, ainda deitado no colo de Jisung, abriu um olho dourado.
— Porque humanos são ruins em prioridades. Tipo você ter 7 tênis iguais.
— ELES SÃO DIFERENTES!
— Um tem o cadarço azul, — Minho bocejou, — o outro tem um risco na sola. Revolucionário.
Jisung, por outro lado, estava absolutamente distraído pelo fato de que Minho, o gato, estava ronronando no seu colo.
— Ah, meu Deus, você ronrona. — Ele murmurou, acariciando a cabeça do yokai sem pensar.
Minho fechou os olhos, relaxando.
— Não comenta.
Hyunjin olhou para os dois, horrorizado.
— Vocês são estranhos. Eu vou para o quarto.
Assim que ele saiu, Jisung percebeu que estava acariciando um yokai que, tecnicamente, era um homem.
Ele parou bruscamente.
— Isso é estranho.
Minho abriu um olho.
— Por quê?
— Porque você não é um gato de verdade! Você só parece um!
— Eu sou um gato quando quero. — Minho esticou-se, mostrando a barriga fofa. — E agora eu quero que você me faça cafuné.
Jisung hesitou.
— Isso é algum tipo de fetiche?
Minho deu uma patada leve na mão dele.
— É um pedido de um yokai. Não questione.
Jisung, resignado, voltou a acariciá-lo.
— Você é insuportável.
Ainda naquela tarde, Jisung decidiu que precisava de um tempo longe do caos que seu apartamento havia se tornado.
Ele foi até a cafeteria favorita do campus, respirando fundo ao sentir o cheiro de café fresco. Finalmente, paz.
Claro, ele deveria saber que paz era um conceito relativo quando se tinha um yokai te perseguindo.
— Esse lugar é pequeno.
Jisung quase derrubou o café.
— MINHO?!
O yokai, agora em forma humana e usando um suéter largo que fazia ele parecer incrivelmente normal (e incrivelmente atraente, mas Jisung não ia admitir isso), puxou a cadeira ao lado dele e sentou como se pertencesse ali.
— Você poderia avisar antes de aparecer!
— E onde está a graça nisso?
Jisung olhou em volta, desesperado, para ver se alguém estava estranhando a situação, mas aparentemente ninguém notara que Minho simplesmente aparecera do nada.
— Como você me encontrou aqui?
— Eu te sigo.
— ISSO É ASSUSTADOR!
— Só um pouco. — Minho pegou o copo de Jisung e tomou um gole, fazendo uma careta. — Por que humanos gostam de coisas amargas?
— Devolve meu café!
Minho ignorou e tomou outro gole, como se estivesse testando sua paciência.
— Agora, me mostra por que humanos gostam tanto desse lugar. E me compra um café doce, porque o seu é horrível.
Jisung não sabia se queria gritar, fugir ou…
Ou se, no fundo, ele estava começando a gostar daquilo.
De volta ao apartamento, Jisung suspirou, afundando no sofá com o laptop aberto. Minho, ainda em forma humana, estava deitado no chão, assistindo a um vídeo de gatos no celular de Hyunjin (que protestava veementemente contra o "sequestro de propriedade").
— Se você é um yokai, então deve ter regras — Jisung murmurou, digitando furiosamente no Google. "Como se livrar de um gato yokai".
Minho rolou para o lado, apoiando o queixo no braço do sofá para ler a tela. — Isso é fofo. Você acha que o Google sabe mais que eu?
— Aqui diz que gatos yokais fazem bolas de fogo! — Jisung ergueu o laptop, mostrando uma ilustração duvidosa de um gato demoníaco cuspindo bolas flamejantes.
— Isso é folclore de turista. — Minho bocejou, esticando-se como um gato. — Eu só solto faíscas quando como pimenta.
Hyunjin, que observava a cena com um pacote de sal escondido atrás das costas, aproveitou o momento para jogar o conteúdo inteiro em cima de Minho.
— HA!
O sal cobriu o yokai como uma nevasca improvisada. Minho espirrou exageradamente (só para zoar), sacudindo os grãos do cabelo.
— Parabéns. Agora eu pareço um bolo feito por você.
Jisung tossiu com a nuvem branca. — Aqui também diz que yokais deviam ser malignos. Por que você não é?
Minho pegou um grão de sal do chão e transformou-o em pipoca antes de responder:
— Porque maldade dá trabalho. Imagina ter que ficar possesso, assombrar casas, criar labirintos interdimensionais... — Ele bocejou. — Eu prefiro soneca... —Ele fez uma pausa. — Yokais viram malignos quando são odiados — Minho olhou para Jisung, um raro momento sério em seus olhos dourados. — Mas seu desabafo... tinha esperança escondida. Isso é raro.
— Sério?! — Hyunjin cruzou os braços. — Então você é só um yokai preguiçoso?
Minho voltou ao tom sarcástico:
— Sou um apreciador do caos. — Minho esticou-se no colo de Jisung. — Por que amaldiçoar humanos quando posso transformar o café amargo do Jisung em leite? É mais engraçado.
Jisung piscou. — Foi VOCÊ que fez isso ontem?!
— E você ficou tão confuso que esqueceu de reclamar da solidão por duas horas. — Minho esfregou a cabeça no braço dele. — Missão cumprida.
Hyunjin olhou para os dois com incredulidade. — Então você... literalmente só veio pra ser um gato chato?
Minho pensou por um segundo.
— Bem, eu poderia ter assombrado um templo ou algo épico... — Seus olhos dourados brilharam de divertimento. — Mas aí vocês dois apareceram. Um humano que conversa com geladeiras e outro que espirra ao vento. Como resistir?
Jisung sentiu um sorriso escapulir. — Você nos escolheu porque somos patéticos?
— Escolhi? — Minho ronronou, fechando os olhos. — Querido, você me invocou. Eu só decidi ficar porque... — Uma pausa dramática. — Seu sofá é incrivelmente confortável. Além disso, onde mais eu arrumaria um cafuné grátis?
Hyunjin jogou um travesseiro nele. — EU NÃO AGUENTO MAIS ESSE ENREDO! — O travesseiro foi atirado com a força de quem já havia aceitado seu destino como coadjuvante em um pesadelo sobrenatural. O objeto voou em câmera lenta, direto para a cabeça de Minho—
—Ploft.
O yokai pegou o travesseiro no ar com um reflexo felino, e antes que ele tocasse o chão, o algodão interno se reorganizou em um padrão geométrico perfeito, aquecendo-se até emitir um suave brilho cor de âmbar.
— Obrigado pelo presente — Minho esfregou o rosto na almofada, ronronando. — Hmm. Cheira a desespero humano e shampoo barato.
Jisung, que assistia à cena com a boca aberta, finalmente encontrou sua voz:
— Você… você acabou de transformar um travesseiro velho do Hyunjin em um produto de luxo?
— Claro. — Minho deitou-se sobre a almofada, agora flutuando a 30cm do chão. — É o mínimo que vocês merecem depois de me oferecerem… o que era mesmo? Ah, sim. Salgadinho velho e desespero.
Hyunjin, com os braços cruzados e os olhos estreitados:
— Eu quero meu travesseiro de volta.
— Tarde demais. — Minho bocejou. — Agora ele é meu. Mas se você pedir muito bem, talvez eu o empreste quando você estiver chorando por causa do seu drama das 3AM.
— EU NÃO CH—
— Chorou sim — Jisung interrompeu, apontando para o celular. — Na terça passada. "Por que eu sou tão solitário?" seguido de "Preciso de um abraço" e cinco emojis chorando.
Hyunjin emitiu um ruído agudo, entre um grito e um suspiro, antes de sair batendo a porta do banheiro com força suficiente para fazer o quadro da parede cair.
Minho, agora deitado de costas no ar, com a almofada aquecida flutuando sob ele:
— Três minutos até ele voltar pedindo comida. Aposto meu colar.
Jisung, já digitando no celular:
— Já tô pedindo pizza. Cebola extra só pra ver ele ficar possesso.
— Veja só — Minho virou-se para ele, sorrindo com todos os dentes afiados. — Você está aprendendo a ser um bom dono de yokai.
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