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História A Arte de (Não) lidar com um Yokai - O Yokai, o Cafuné e um Apartamento Muito Pequeno


Escrita por: notyuqi

Notas do Autor


Há histórias sobre yokais que presenteiam humanos com sorte, sabedoria ou poder. Minho parece especializado em entregar olheiras, contas altas e um gato que nunca, jamais, vai sair do seu colo quando você precisar se levantar.

(Hyunjin insiste que isso não conta como "presente". Jisung já está muito cansado para discutir.)

Capítulo 3 - O Yokai, o Cafuné e um Apartamento Muito Pequeno


Três dias se passaram desde que Minho apareceu na vida de Jisung, e uma coisa ficou clara:

 

Yokais não entendiam (ou simplesmente ignoravam) o conceito de privacidade.

 

— POR QUE VOCÊ TÁ ME SEGUINDO NO BANHEIRO? — Jisung gritou, segurando a porta do box enquanto Minho, em forma humana, tentava espiar por cima do ombro dele.

 

— Curiosidade. — Minho encolheu os ombros, como se fosse a coisa mais normal do mundo. — Nunca vi um humano tomar banho antes.

 

— ISSO É ASSUSTADOR, MINHO.

 

— Relaxa. — Ele deu um tapinha na cabeça de Jisung. — Eu já vi muitos gatos se lamberem. Isso é pior.

 

Jisung decidiu ignorar essa imagem mental perturbadora e se concentrou em uma questão mais urgente:

— Quando você vai embora?

 

Minho parou, inclinando a cabeça.

 

— Quando você não me quiser mais.

 

— E como isso acontece?

 

— Boa pergunta. — Minho sorriu, como se estivesse se divertindo com a situação. — Normalmente, quando o desejo é cumprido.

 

— MAS EU NÃO TENHO UM DESEJO!

 

— Claro que tem. — Minho cruzou os braços. — Você queria alguém melhor que os caras que conhecia. Então aqui estou eu.

 

Jisung ficou vermelho.

 

— Isso não foi um desejo formal!

 

— Foi o suficiente para me chamar.

 

Jisung estava prestes a responder quando a porta do banheiro se abriu violentamente.

 

Hyunjin, com olhos lacrimejantes e um lenço na mão, olhou para os dois com horror.

 

— POR QUE VOCÊS DOIS ESTÃO NO BANHEIRO JUNTOS?

 

— NÃO É O QUE PARECE! — Jisung gritou.

 

Minho apenas bocejou.

 

— Humanos. Tão dramáticos.

 

Recapitulando, três dias se passaram desde que Minho aparecera na vida de Jisung, e duas coisas ficaram claras:

 

Minho não ia embora.

 

Hyunjin estava a um espirro de pedir asilo político em outro planeta.

 

— Eu não aguento mais! — Hyunjin esfregou o nariz vermelho, jogando mais um lenço usado no lixo. — Ele sabia que eu era alérgico e ainda decidiu ficar na forma de gato ontem de propósito!

 

Jisung, deitado no chão da sala com um pacote de biscoitos de chocolate, olhou para o teto.

 

— Ele disse que foi "pra ver se você desenvolvia imunidade".

 

— NÃO É ASSIM QUE ALERGIAS FUNCIONAM!

 

Minho, que estava convenientemente em forma humana naquele momento, apareceu na bancada da cozinha com uma torrada na boca.

 

— Você nunca sabe até tentar.

 

— EU VOU TE PROCESSAR! — Hyunjin pegou um travesseiro e jogou em Minho, que desviou com facilidade, mastigando a torrada com ar de superioridade.

 

Jisung suspirou.

 

— Pelo menos ele não está miando no seu ouvido às 3 da manhã.

 

— Ah, é sobre isso? — Minho sorriu, malicioso. — Eu posso voltar a fazer.

 

— NÃO.

 

— Você fez isso de propósito! Eu quase morri! — Hyunjin apontou para ele, como se estivesse prestes a lançar uma maldição.

 

Minho piscou devagar, como um gato satisfeito.

 

— Quase não conta.

 

Jisung suspirou, sentando-se no sofá.

 

— Minho, por favor, não torture o Hyunjin. Ele já sofre o suficiente com a vida.

 

— Tudo bem. — Minho deu de ombros e, num piscar de olhos, transformou-se em um gato novamente, pulando no colo de Jisung.

 

Hyunjin gritou.

 

— NÃÃÃÃO!

 

Mas, para surpresa de todos... nada aconteceu.

 

Hyunjin parou, nariz tremendo, olhos arregalados.

 

— ...Eu não espirrei.

 

Minho, agora um gato laranja, olhou para ele com ar de superioridade.

 

— Eu desliguei minha aura alérgica.

 

— ISSO EXISTE?!

 

— Claro. — Minho virou-se, enterrando as patinhas no colo de Jisung. — Mas eu só faço isso quando quero.

 

Hyunjin olhou para Jisung, desesperado.

 

— Ele está mentindo. Ele tem que estar mentindo.

 

 Hyunjin olhou para as próprias mãos, como se elas pudessem explicar o absurdo da situação.

 

— Por que diabos eu tô mais perturbado com a alergia do que com o fato de você ser um gato falante??

 

Minho, ainda deitado no colo de Jisung, abriu um olho dourado.

 

— Porque humanos são ruins em prioridades. Tipo você ter 7 tênis iguais.

 

— ELES SÃO DIFERENTES!

 

— Um tem o cadarço azul, — Minho bocejou, — o outro tem um risco na sola. Revolucionário.

 

Jisung, por outro lado, estava absolutamente distraído pelo fato de que Minho, o gato, estava ronronando no seu colo.

 

— Ah, meu Deus, você ronrona. — Ele murmurou, acariciando a cabeça do yokai sem pensar.

 

Minho fechou os olhos, relaxando.

 

— Não comenta.

 

Hyunjin olhou para os dois, horrorizado.

 

— Vocês são estranhos. Eu vou para o quarto.

 

Assim que ele saiu, Jisung percebeu que estava acariciando um yokai que, tecnicamente, era um homem.

 

Ele parou bruscamente.

 

— Isso é estranho.

 

Minho abriu um olho.

 

— Por quê?

 

— Porque você não é um gato de verdade! Você só parece um!

 

— Eu sou um gato quando quero. — Minho esticou-se, mostrando a barriga fofa. — E agora eu quero que você me faça cafuné.

 

Jisung hesitou.

 

— Isso é algum tipo de fetiche?

 

Minho deu uma patada leve na mão dele.

 

— É um pedido de um yokai. Não questione.

 

Jisung, resignado, voltou a acariciá-lo.

 

— Você é insuportável.

 

Ainda naquela tarde, Jisung decidiu que precisava de um tempo longe do caos que seu apartamento havia se tornado.

 

Ele foi até a cafeteria favorita do campus, respirando fundo ao sentir o cheiro de café fresco. Finalmente, paz.

 

Claro, ele deveria saber que paz era um conceito relativo quando se tinha um yokai te perseguindo.

 

— Esse lugar é pequeno.

 

Jisung quase derrubou o café.

 

— MINHO?!

 

O yokai, agora em forma humana e usando um suéter largo que fazia ele parecer incrivelmente normal (e incrivelmente atraente, mas Jisung não ia admitir isso), puxou a cadeira ao lado dele e sentou como se pertencesse ali.

 

— Você poderia avisar antes de aparecer!

 

— E onde está a graça nisso?

 

Jisung olhou em volta, desesperado, para ver se alguém estava estranhando a situação, mas aparentemente ninguém notara que Minho simplesmente aparecera do nada.

 

— Como você me encontrou aqui?

 

— Eu te sigo.

 

— ISSO É ASSUSTADOR!

 

— Só um pouco. — Minho pegou o copo de Jisung e tomou um gole, fazendo uma careta. — Por que humanos gostam de coisas amargas?

 

— Devolve meu café!

 

Minho ignorou e tomou outro gole, como se estivesse testando sua paciência.

 

— Agora, me mostra por que humanos gostam tanto desse lugar. E me compra um café doce, porque o seu é horrível.

 

Jisung não sabia se queria gritar, fugir ou…

 

Ou se, no fundo, ele estava começando a gostar daquilo.

 

De volta ao apartamento, Jisung suspirou, afundando no sofá com o laptop aberto. Minho, ainda em forma humana, estava deitado no chão, assistindo a um vídeo de gatos no celular de Hyunjin (que protestava veementemente contra o "sequestro de propriedade").

 

— Se você é um yokai, então deve ter regras — Jisung murmurou, digitando furiosamente no Google. "Como se livrar de um gato yokai".

 

Minho rolou para o lado, apoiando o queixo no braço do sofá para ler a tela. — Isso é fofo. Você acha que o Google sabe mais que eu?

 

— Aqui diz que gatos yokais fazem bolas de fogo! — Jisung ergueu o laptop, mostrando uma ilustração duvidosa de um gato demoníaco cuspindo bolas flamejantes.

 

— Isso é folclore de turista. — Minho bocejou, esticando-se como um gato. — Eu só solto faíscas quando como pimenta.

 

Hyunjin, que observava a cena com um pacote de sal escondido atrás das costas, aproveitou o momento para jogar o conteúdo inteiro em cima de Minho.

 

— HA!

 

 O sal cobriu o yokai como uma nevasca improvisada. Minho espirrou exageradamente (só para zoar), sacudindo os grãos do cabelo.

 

— Parabéns. Agora eu pareço um bolo feito por você.

 

Jisung tossiu com a nuvem branca. — Aqui também diz que yokais deviam ser malignos. Por que você não é?

 

Minho pegou um grão de sal do chão e transformou-o em pipoca antes de responder:

 — Porque maldade dá trabalho. Imagina ter que ficar possesso, assombrar casas, criar labirintos interdimensionais... — Ele bocejou. — Eu prefiro soneca... —Ele fez uma pausa. — Yokais viram malignos quando são odiados — Minho olhou para Jisung, um raro momento sério em seus olhos dourados. — Mas seu desabafo... tinha esperança escondida. Isso é raro.

 

— Sério?! — Hyunjin cruzou os braços. — Então você é só um yokai preguiçoso?

 

Minho voltou ao tom sarcástico:

 — Sou um apreciador do caos. — Minho esticou-se no colo de Jisung. — Por que amaldiçoar humanos quando posso transformar o café amargo do Jisung em leite? É mais engraçado.

 

Jisung piscou. — Foi VOCÊ que fez isso ontem?!

 

— E você ficou tão confuso que esqueceu de reclamar da solidão por duas horas. — Minho esfregou a cabeça no braço dele. — Missão cumprida.

 

Hyunjin olhou para os dois com incredulidade. — Então você... literalmente só veio pra ser um gato chato?

 

Minho pensou por um segundo.

 

— Bem, eu poderia ter assombrado um templo ou algo épico... — Seus olhos dourados brilharam de divertimento. — Mas aí vocês dois apareceram. Um humano que conversa com geladeiras e outro que espirra ao vento. Como resistir?

 

Jisung sentiu um sorriso escapulir. — Você nos escolheu porque somos patéticos?

 

— Escolhi? — Minho ronronou, fechando os olhos. — Querido, você me invocou. Eu só decidi ficar porque... — Uma pausa dramática. — Seu sofá é incrivelmente confortável. Além disso, onde mais eu arrumaria um cafuné grátis?

 

Hyunjin jogou um travesseiro nele. — EU NÃO AGUENTO MAIS ESSE ENREDO! — O travesseiro foi atirado com a força de quem já havia aceitado seu destino como coadjuvante em um pesadelo sobrenatural. O objeto voou em câmera lenta, direto para a cabeça de Minho—

 

—Ploft.

 

O yokai pegou o travesseiro no ar com um reflexo felino, e antes que ele tocasse o chão, o algodão interno se reorganizou em um padrão geométrico perfeito, aquecendo-se até emitir um suave brilho cor de âmbar.

 

— Obrigado pelo presente — Minho esfregou o rosto na almofada, ronronando. — Hmm. Cheira a desespero humano e shampoo barato.

 

Jisung, que assistia à cena com a boca aberta, finalmente encontrou sua voz:

— Você… você acabou de transformar um travesseiro velho do Hyunjin em um produto de luxo?

 

— Claro. — Minho deitou-se sobre a almofada, agora flutuando a 30cm do chão. — É o mínimo que vocês merecem depois de me oferecerem… o que era mesmo? Ah, sim. Salgadinho velho e desespero.

 

Hyunjin, com os braços cruzados e os olhos estreitados:

— Eu quero meu travesseiro de volta.

 

— Tarde demais. — Minho bocejou. — Agora ele é meu. Mas se você pedir muito bem, talvez eu o empreste quando você estiver chorando por causa do seu drama das 3AM.

 

— EU NÃO CH—

 

— Chorou sim — Jisung interrompeu, apontando para o celular. — Na terça passada. "Por que eu sou tão solitário?" seguido de "Preciso de um abraço" e cinco emojis chorando.

 

Hyunjin emitiu um ruído agudo, entre um grito e um suspiro, antes de sair batendo a porta do banheiro com força suficiente para fazer o quadro da parede cair.

 

Minho, agora deitado de costas no ar, com a almofada aquecida flutuando sob ele:

— Três minutos até ele voltar pedindo comida. Aposto meu colar.

 

Jisung, já digitando no celular:

— Já tô pedindo pizza. Cebola extra só pra ver ele ficar possesso.

 

— Veja só — Minho virou-se para ele, sorrindo com todos os dentes afiados. — Você está aprendendo a ser um bom dono de yokai.


Notas Finais


Curiosidades:

Sabia que alguns bakenekos podem controlar alergias? É uma habilidade rara (que claramente não existe), usada apenas quando lhes convém. Minho claramente prefere o caos à compaixão… ou será que ele só gosta de ver o Hyunjin sofrer?

Na cabeça da autora, acredita-se que os primeiros dez dias com um bakeneko definem quem é o dono de quem. Considerando que Minho já transformou um travesseiro em propriedade pessoal, roubou café e ignorou pelo menos três pedidos de "saia do meu banheiro", as apostas estão abertas.


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