1. Spirit Fanfics >
  2. A Arte de (Não) lidar com um Yokai >
  3. Pelo de Gato e Outras Desculpas Ruins

História A Arte de (Não) lidar com um Yokai - Pelo de Gato e Outras Desculpas Ruins


Escrita por: notyuqi

Notas do Autor


Diz a lenda que yokais só partem quando o desejo que os invocou é realizado. O problema? Às vezes o desejo real está enterrado sob negação, gritos e um sofá cheio de pelo de gato. Boa sorte, Jisung.

**Se este capítulo está confuso, saibam que foi revisado com a mesma capacidade cognitiva de um Jisung pós-3 xícaras de café barato.
(A autista entrou em pânico)

Capítulo 5 - Pelo de Gato e Outras Desculpas Ruins


Três dias e meio se passaram desde o beijo.

Jisung contava as horas como um prisioneiro marcando dias na parede da cela. 84, para ser exato. 5.040 minutos desde que os lábios levemente frios de Minho tocaram os seus e transformaram seu cérebro em um liquidificador de emoções conflitantes. E, pior, 84 horas repetindo mentalmente "É só um gato, é só um gato falante", enquanto seu coração trapaceiro acelerava toda vez que:

 

Aqueles olhos dourados piscavam lentamente para ele (gesto felino que agora parecia indecentemente íntimo);
Minho usava suéter largo demais (malditas fossem aquelas clavículas expostas);

O yokai ronronava em forma felina, vibrando contra sua perna como um motorzinho de tentação sobrenatural.

As tentativas de fuga estavam se mostrando patéticas.

 

Trancar a porta do quarto? Minho apareceu dentro do armário, sentado em suas camisas favoritas como um monarca em seu trono têxtil, lambendo uma pata com ar de inocência calculada. "Precisava de um lugar quente. Suas roupas cheiram a você."
Estudar na biblioteca? O yokai materializou-se como gato em cima exatamente do livro que Jisung precisava ler, sua cauda batendo ritmicamente no parágrafo crucial.
Até os banhos gelados – uma tentativa desesperada de esfriar pensamentos inadequados – foram sabotados com um comentário seco de "Patético" do lado de fora do box, enquanto a água inexplicavelmente esquentava sozinha.

 

Hyunjin, suposto aliado na resistência anti-Minho, provou ser tão útil quanto um guarda-chuva furado.

— Se você gritar 'SATANÁS TE ORDENO QUE SAIAS' três vezes, será que funciona? — sugeriu, sério como um juiz em um tribunal de gatos demoníacos, enquanto segurava um livro de exorcismo da biblioteca municipal (com etiqueta de "devolução atrasada: 1998").

 

O ritual falhou espetacularmente. Minho não só roubou seu pedaço de bolo de chocolate como transformou o restante em brócolis antes de desaparecer em uma nuvem de fumaça (que na verdade era só pó do ventilador, mas o efeito dramático foi alcançado).

 

O pior? Minho agia como se nada tivesse acontecido. Como se não tivesse virado o mundo de Jisung de cabeça para baixo com um único toque. Como se não passasse os dias observando cada reação dele com a satisfação de um gato que derrubou um vaso caro - e agora espera o dono escorregar nos cacos.

 

Naquela manhã fatídica, Jisung se viu encurralado entre a geladeira e a bancada da cozinha, segurando uma colher de cereal como se fosse uma espada contra um yokai faminto. Minho — em forma humana, irritantemente atraente com seu suéter largo (que Jisung jurou ser de Hyunjin) e cabelo despenteado como quem acabara de acordar — aproximava-se com passos lentos, olhos dourados brilhando como moedas antigas sob a luz da manhã e um sorriso afiado nos lábios.

 

— Você tá fugindo de mim — observou, inclinando a cabeça no mesmo ângulo que usava como gato ao avistar um pássaro desavisado.

 

— N-não tô! — Jisung ergueu a colher como escudo. — Só... tenho coisas pra fazer! Coisas de humano! Coisas chatas! Tipo... pagar contas! Lavar roupa! Assistir documentário sobre... formigas!

 

Minho deu mais um passo, reduzindo a distância entre eles a meros centímetros. Agora Jisung podia sentir a geladeira pressionando suas costas como cúmplice do crime.

 

— Você tá tremendo — Minho sussurrou, soprando friamente em seu pescoço só para ver os pelos se arrepiarem.

 

— É o... ar-condicionado! — Jisung mentiu, ignorando o fato de que o ar-condicionado havia quebrado no último ano.

 

Minho riu, um som baixo que fez o estômago de Jisung dar um salto perigoso.

 

— Achei que não tivessem ar-condicionado.

 

E então, antes que Jisung pudesse protestar, Minho esticou o braço – não para pegá-lo, não para repetir o beijo, mas para... pegar a caixa de cereal na bancada ao lado da geladeira. Seu corpo ficou perto o suficiente para que Jisung sentisse o calor irradiando dele. Ele teve tempo suficiente para contar cada um de seus cílios (que eram indecentemente longos para um yokai).

 

— Eu só queria isso. — O yokai abriu a caixa, examinando o conteúdo com desdém. — Mas obrigado pelo show.

 

Jisung ficou paralisado, o rosto queimando. “Ele estava me provocando. E eu caí que nem um idiota.”

 

Hyunjin, passando pelo corredor com um pacote de sal grosso e um crucifixo de plástico (comprado na Shopee com frete grátis), parou para olhar os dois com a expressão de quem acabou de perder a fé na humanidade.

 

— Por favor, não flertem antes do café.

 

— NÃO ESTAMOS FLERTANDO!

 

Minho apenas ronronou - um som humano, mas inegavelmente felino - e roubou a tigela de cereal de Jisung, tomando um gole direto dela. Seus lábios tocaram exatamente onde os de Jisung tinham tocado segundos antes.

 

— Hm. Doce demais. — Declarou, deixando a tigela de volta enquanto desviava o olhar e lambia os lábios devagar demais para ser acidental.

 

Jisung engoliu seco, os olhos presos no lugar onde os lábios de Minho tinham deixado uma marca úmida na borda da tigela.

 

Ele estava perdendo a cabeça

 

O resto do dia passou em uma tensão estranha. Minho alternava entre formas – gato para evitar conversas, humano para roubar comida – mas sempre mantendo distância.

Jisung, por outro lado, fingia normalidade. Assistiu a um documentário sobre formigas (que odiou), lavou roupa – que Minho depois reorganizou por cor – e, quando anoiteceu, se enfiou na cama mais cedo que o normal.

 

Foi quando Jisung notou um som estranho.

Entreabrindo os olhos, viu Minho (em forma humana) parado ao lado da cama, segurando o copo d'água com expressão concentrada. O yokai fez um movimento estranho com a mão - a água brilhou levemente, ficando mais clara.

 

— O que você está...? — Jisung murmurou, sonolento.

 

Minho congelou. — Nada. — Jogou o copo na mesa com descuido fingido. — Volte a dormir, humano.

 

Mas antes de seus olhos se fecharem por completo, Jisung viu: Minho pegou um pedaço de papel, escreveu algo, depois rasgou. Escreveu de novo, mais devagar, como se cada palavra doesse. Quando a ponta do papel pegou fogo sozinha, o yokai rosnou baixo e... acariciou o bilhete com a ponta dos dedos até as chamas se apagarem.

 

Então, com um último olhar para Jisung, Minho transformou-se em gato e se obrigou a dormir no chão.

 

E mais uma vez, Jisung acordou com um peso no peito.

 

Desta vez, não era Minho, nem ansiedade.

 

Era uma pilha de cobertores quentíssimos, cuidadosamente dispostos sobre seu corpo. Na mesa de cabeceira, um copo d'água e – mais estranho de todos – um bilhete com bordas levemente chamuscadas.

 

"Você tossiu três vezes antes de dormir. Humanos são frágeis. Não adoeça."

 

A caligrafia era surpreendentemente elegante para alguém que geralmente se comunicava através de miados e roubos de comida. Jisung segurou o papel com cuidado, os dedos tremendo levemente. O bilhete cheirava a canela - assim como Minho.

 

No chão, Minho dormia enrolado em forma de gato, aparentemente alheio ao mundo. Mas Jisung sabia. Sabia pelas marcas de arranhões no papel, como se tivesse refeito várias vezes. Sabia pelo ronronar que ecoava pelo quarto, alto demais para ser casual (e inconsciente).

 

Minho estava ronronando o mais alto que Jisung já ouvira, e logo reconheceu esse ronronar como uma maneira felina de dizer "eu me importo".

 

Jisung sorriu no escuro. Talvez yokais e humanos não fossem tão diferentes no fim das contas.


Notas Finais


PS: Se este capítulo parece ter sido escrito por um gato passando o rosto no teclado, peço perdão. Meu cérebro atualmente funciona como a geladeira do Jisung: faz barulhos estranhos e às vezes para de funcionar sem aviso. Entre crises existenciais, a possibilidade de reprovar em ergonomia (a.k.a pior matéria do curso?) e um "yokai fictício" que vive no meu sofá mental cobrando atualizações (uma pessoa ai😙), prometo que a resolução dessa história será uma tentativa de ser menos caótica que minha vida acadêmica. Ou pelo menos terá mais beijos (se eu souber escrever). Obrigada por lerem mesmo assim!

PS 2: Minha relação com prazos é igual a do Minho com humanos:
"Teoricamente eu entendo as regras, mas na prática vou enrolar até o universo implorar por misericórdia."


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...