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História A Benção De Afrodite (HIATUS) - Tempo Irrefreável


Escrita por: SekhmetZetsubou

Notas do Autor


Há um tempo atrás, quando eu estava terminando esse capítulo, eu baixei um bagulho no notebook (juro que não era pornô) que encheu ele de vírus e não dava para abrir mais nada. Aí quando "curei" meu notebook, escrevi para caramba e depois excluí um terço do capítulo sem querer e tive que reescrever... Ou seja, eu sou muito otária.
Enfim, sinto muitíssimo pela demora. Muito mesmo. Comecei esse capítulo há muito tempo, mas eu parecia bloqueada para escrever qualquer coisa. Qualquer coisa MESMO, porque também não escrevi as outras fics... Porém, sempre me sinto inspirada depois de ler livros e recentemente terminei de ler Selva Dos Gafanhotos, um livro muito louco que estou até agora decidindo se gostei ou não do bendito final, mas que ainda gostei muito. De qualquer forma, estou lendo uma porrada de livros agora (me foco agora é Demian, de Hermann Hesse) e isso pareceu acender um tipo de chama em mim e estou escrevendo mais, assim como queria. (Inclusive, estou escrevendo uma one-shot) Logo, logo atualizo minhas outras fics!
Agora, desculpe por tardar tanto sua leitura! Espero que gostem :)

Capítulo 5 - Tempo Irrefreável


O fato de eu não ter adoecido era algo que as freiras do orfanato chamariam de milagre. Mesmo que tivesse ficado apenas alguns minutos debaixo da chuva, os tremores e arrepios que não abandonavam meu corpo quando voltei para dentro do orfanato pareciam querer avisar-me sobre o resfriado que eu teria que suportar por consequência de minhas atitudes impensadas. No entanto, eu acordei bem saudável no dia seguinte. Eu diria até energético, o que não costumava ser uma característica minha quando acabava de sair da cama. Comecei o Dia agradecendo a Hígia, deusa da saúde, por preservar a minha mesmo quando eu praticamente pedi para ficar enfermo, e em seguida agradecendo aos deuses em geral pelo tempo agradável que se exibia lá fora, mas principalmente Deméter, deusa das estações. O clima sempre se refletia no humor da deusa, ela deveria estar se sentindo um pouquinho mais alegre depois de descontar sua raiva no temporal de antes.

Acordei mais cedo do que costumava, Eos ainda estava começando a iluminar a manhã com seus dedos róseos. As aulas só começariam depois do almoço, por isso decidi me ocupar com leitura. Ajoelhando-me sobre o chão frio em frente à minha cama, curvei meu corpo até que pudesse ver a caixa de papelão que eu escondia embaixo do móvel. Após puxá-la para perto, senti-me mal ao ver a quantidade de livros que eu guardava ali. Eram todos livros que havia roubado da biblioteca do orfanato e saber disso embrulhava meu estômago. Eu não gostava de roubar coisas, aquilo era algo que simplesmente não combinava comigo. No entanto, depois que os órfãos descobriram sobre minhas crenças, não demorou para que começassem uma onda de judiação sobre mim e, consequentemente, também sobre qualquer livro encontrado na biblioteca que falasse sobre meus deuses. Eu não entendia a razão de quererem descontar sua intolerância rabiscando, arrancando folhas e rasgando capas; talvez o fato de não conseguir compreender deixou-me ainda mais magoado. Por isso, agarrei cada livro que encontrei e trouxe para meu quarto, antes que tivessem o mesmo destino de seus antigos companheiros destruídos.

Que Hermes, deus dos ladrões, desse proteção ao rapaz incivil e insolente eu era. Pois, mesmo desconfortável com a ideia, não pretendia abster-me do roubo, até que o mesmo não fosse mais necessário.

Empurrei a caixa para de baixo da cama com meu pé e, em seguida, joguei meu corpo recém-desperto sobre o colchão meio duro, segurando um livro entre meus dedos. O nome do livro era Contos Extraordinários e tinha a imagem do herói Aquiles ajoelhado, com uma flecha fincada em seu calcanhar. Uma ilustração trágica para uma história mais trágica ainda.

 

 

 

Quando chegou o horário do almoço, sentei na minha mesa limpa de sempre. Mesmo que meu garfo ainda perfurasse a comida e a trouxesse para meus lábios, minha mente estava bem distante do refeitório. Eu não fazia ideia de quantas já havia lido sobre Aquiles Pelida e Pátroclo, mas havia o feito mais uma vez naquela manhã. Entre a Guerra de Tróia, havia Helena e Páris, casal que apenas se juntara por conta de uma briga sem-sentido entre três deusas, induzidas pela deusa da discórdia. Páris se unira a sua futura companheira pelo interesse em ter a mulher mais linda do mundo e a pobre Helena havia sido enfeitiçada, obrigada a se apaixonar por um homem diferente de seu marido e em seguida a traí-lo, abandonando até mesmo seus filhos. Como se já bastasse o casal ter tanta coisa errada, eles ainda foram pretexto de uma guerra, que levaria a ruína de Tróia.

Em contraposto, havia Aquiles e Pátroclo. Um príncipe e um exilado que se apaixonaram desde muito novos e permaneceram juntos até os dias em que morreriam. Diferente do romance vazio de Helena e Páris, era quase possível sentir o amor que os dois rapazes sentiram um pelo outro, através das palavras das narrações épicas. Quando Pátroclo, usando a armadura de Aquiles, foi morto pelos troianos, que precisaram até mesmo da ajuda do deus Apolo para derrubarem-o, o pelida entrou em um luto e depressão tão profundos que nem quis enterrar o corpo do amado, por causa da intensa tristeza que o abatia ao ver o cadáver. O herói passou a ter apenas duas vontades: chorar e assassinar qualquer troiano que encontrasse. Sua ira, no entanto, era quase inteiramente dirigida ao príncipe Heitor, que havia sido quem dera o golpe final em Pátroclo. Uma profecia deixava claro que Aquiles morreria se matasse Heitor e só por isso havia retardado o ato por tanto tempo. Contudo, saber disso não impediu o herói de vingar Pátroclo. E assim como a profecia previa, Aquiles morreu, por uma flecha atirada por Páris, em seu calcanhar. Antes de sua última batalha, Aquiles pediu aos outros guerreiros que o cremassem junto com Pátroclo e juntassem suas cinzas para que ficassem juntos para sempre, tamanho era o carinho que tinha pelo companheiro que perdera. Era uma história trágica, porém linda aos meus olhos. Os livros sempre diziam que Aquiles enlouquecera, já que fez um massacre de troianos e cavou a própria cova ao matar Heitor. Os livros também diziam que fora por causa de todo o ódio que sentia. Mas eu acreditava que era exatamente o contrário.

Aquiles enlouquecera porque amava demais uma pessoa, porque a mágoa de perdê-la era grande demais para seu coração aguentar.

Sempre que relia aquela história, eu me perguntava se os dois haviam se encontrado nos Campos Elíseos, depois de morrerem. Talvez, enquanto a guerra tinha seu desfecho ou enquanto Odisseu tentava voltar para casa, os dois estavam colhendo flores em uma paisagem paradisíaca, rindo das coisas idiotas que fizeram durante a vida. Eu gostava de imaginar isso, era o tipo de final que eles mereciam.

Assustei-me ao sentir uma mão em meu ombro, soltando o garfo na mesa com o susto. Virei-me confuso para a pessoa atrás de mim e tomei um susto ao perceber que era o moreno que Afrodite trouxera. De imediato, tensei meu corpo, sentindo-me subitamente nervoso por ter sua mão pequena e bonita encostando em mim.

- Com licença. - começou o diálogo, com sua voz melodiosa como a de uma Musa. - Se importa se me sentar aqui?

- Claro! - exclamei, empolgado demais para pensar direito no que dizia. - Quero dizer, eu não me importo. Claro que pode se sentar!

Silencioso como um gato, o rapaz apenas sorriu em agradecimento e sentou-se ao meu lado. Era a primeira vez em um longo período de tempo que alguém comia comigo na minha mesa, contudo, não consegui abrir a boca nem para dizer as palavras mais simples possíveis, em um cumprimento. Pensei que o Silêncio perduraria entre nós até que nossos pratos estivessem vazios e nossos estômagos cheios, que ele levantaria a qualquer momento e iria embora. Não foi assim, no entanto, que o rapaz escolheu por agir.

- Nessa madrugada... – murmurou, de súbito.

Olhei para ele cheio de expectativa, observando os traços magnificamente desenhados de seu rosto. Estava meio inchado, parecia narrar a velha história de uma noite mal dormida e muito choro; uma história famosa entre recém-órfãos. Apercebi-me também que, entre as fileiras perfeitas de seus dentes brancos, havia um dente que era levemente torto; porém, adorável como nunca imaginei que um dente poderia ser.

- Eu queria te agradecer. – continuou. – Não entendi direito por que parecia tão angustiado, com tanta vontade de me tirar dali. Mas achei que deveria agradecer pela sua preocupação. E por me mostrar onde ficava o banheiro.

- Não precisa agradecer por isso. – assegurei, tentando soar de forma simpática.

Não que eu precisasse me esforçar para ser simpático, mas minha voz sempre tinha um tom monótono irrefreável, que muitas vezes fazia as pessoas acreditarem que eu não tinha interesse em conversar. Eu não queria que ele pensasse algo assim. Eu queria que ele falasse comigo, queria ouvir sua voz.

- Mesmo assim...

Após dizer essas duas palavras, o rapaz deixou que a continuação morresse em sua garganta e emudeceu. Ele parecia não saber muito bem o que dizer, talvez estivesse nervoso por algum motivo. Isso não consegui compreender; eu provavelmente era a pessoa que parecia mais inofensiva naquele refeitório. Não havia motivo para hesitar e aprisionar suas palavras daquela forma.

- Você acordou bem hoje? – perguntei por fim. O moreno me olhou com o que parecia ser confusão, finalmente firmando suas íris bonitas em mim. Quase esqueci que pretendia falar outra coisa, após me perder por um segundo em seus olhos de mel. – É q-que você estava na chuva, por não sei quanto tempo... O fato de eu mesmo não ter adoecido já me surpreendeu bastante.

Ele juntou as mãos na mesa e brincou com um dos anéis de sua canhota. Só naquele momento que notei que havia dois anéis naquela mão, ambos de pratas. Um no dedo anelar e outro no indicador, sendo o do anelar um pouco mais comprido. Os dois brilhavam, refletindo a luz que invadia o refeitório pelas janelas.

- Eu tinha certeza que acordaria doente, para ser sincero. – revelou. – Estou bem surpreso, também. Mas estou me sentindo bem.

Mais um milagre, diriam as freiras. Eu, contudo, tinha certeza de que os deuses deveriam gostar tanto de mim quanto daquele rapaz e estavam favorecendo-nos descaradamente. Talvez tivesse dedo de Afrodite naquilo, mas era impossível saber.

- Isso é bom. – disse. – Assim não perderá suas primeiras aulas.

- Se não me engano, elas começam depois do almoço, certo? – indagou, mais afirmando do que fazendo uma pergunta.

- Sim e não. – respondi. Franziu o cenho e continuei antes que perguntasse algo. – Depois do almoço, devemos estar na sala. As aulas começam um tempinho depois.

- Por que não começam a aula logo, assim que os alunos já entraram?

- A irmã Misook diz que é para nos ensinar a sempre ter pontualidade. Porém, admito que também não vejo muito sentido nisso.

Enquanto falava, procurei o relógio do refeitório com os olhos. Meio dia e quatro, com os segundos passando. As aulas começavam uma hora da tarde, teríamos que esperar um pouco para irmos às salas de aula.

- As aulas começam uma hora, talvez devesse tentar se ocupar com alguma coisa até lá. – aconselhei. – Logo verá que o tempo passa rápido por aqui.

- Não acho que isso acontecerá. – discordou. Sua negação repentina me surpreendeu um pouco, já que se mostrara tão passivo até o momento. – O tempo parece passar tão devagar, que às vezes acho que está parando.

O rapaz baixou os olhos para a superfície fria e limpa da mesa. Olhar para ele era como olhar em um espelho do passado, eu sabia como se sentia. Quando estamos afundando em tristeza, tudo parece parado, opaco e silencioso. Até o tempo para. Perguntei-me se o tempo havia parado para aquele rapaz, quando estava sentado debaixo da chuva, envolto de escuridão.

- O tempo é irrefreável. – garanti. – Isso vai passar, eu tenho certeza.

Eu não esclareci se estava falando do tempo ou do estado de melancolia do moreno. E o que ele entendeu também não ficou muito claro, já que apenas me deu um sorriso fraco.

- Agora, eu não sei o que farei até as aulas começarem.

- Poderia visitar a biblioteca.

- Eu já fui lá. – afirmou. – Não encontrei nada que fosse de meu interesse. Há apenas livros bíblicos e didáticos.

- Não gosta de livros bíblicos?

Arrependi-me imediatamente de fazer tal pergunta. Era uma pergunta que uma freira faria, não eu. Era como se aquele senso cristão popular e sem sentido de se espantar por nada tivesse sido impregnado em mim sem meu conhecimento e outro rapaz tivesse falado por mim, um que tinha na voz o mesmo tom e timbre que eu tinha.

- Diria que não sou muito familiarizado com eles. – respondeu, logo soltando uma risada soprada. Soava um tanto sarcástica, como se estivesse escondendo algo de mim e não quisesse dizer. – Agora não sei direito o que irei fazer, até que as aulas comecem.

Eu não tinha muitas sugestões a fazer. Não tínhamos muitas opções de coisas para fazer naquele orfanato, até as freiras pareciam entediadas de vez em quando.

 - Tente distrair-se com algo. – disse apenas.

- Como o quê? – indagou. – Esse lugar é tão monótono. Faz nem três dias que estou aqui e já me sinto...

Ele ficou os segundos seguintes sem continuar a sentença, então assumi que não continuaria. Conversar com ele naquele momento era como falar com um corpo vazio; sua mente parecia estar em outro lugar.

- Já se sente como? – inquiri, curioso.

- Como um boneco de neve em um globo de vidro.

Seu tom era esclarecido, como se tivesse acabado de perceber algo fantástico. Franzi o cenho, estranhando a comparação do outro. Aquilo não parecia responder muito bem minha pergunta. Contudo, decidi não perguntar nada, após julgar a expressão estranha de seu semblante. Pensando em como mudar de assunto, eu tive uma ideia.

- Eu posso te contar uma história? – pedi, assustando-o um pouco. Meu tom saíra mais empolgado do que eu desejava, além de ter falado um pouco mais alto do que antes.

- O que?

- Você não sabia como distrair-se. – esclareci. – Eu posso te contar uma história.

- Oh... Claro. Seria uma boa. – murmurou, mais para si mesmo do que para mim. Depois, repentino, como desde o momento em que o conheci, ele estendeu sua mão para mim e disse: - Ainda não nos apresentamos, não é?

Um pouco hesitante, também estendi minha mão e segurei a dele, balançando para cima e para baixo. Admito que achei um ato um pouco incomum, nenhum rapaz daquele orfanato jamais apresentou-se com um aperto de mão, muito menos para mim. Sua mão era bem diferente da minha. A dele era macia, quente e pequena; já a minha era áspera, fria e grande. Apertar a mão dele deixou-me nervoso por mais uma vez, afinal, apertar as mãos para mim era como segurar a mão de alguém sem entrelaçar os dedos.

- Meu nome é Park Jimin. – declarou, com um pequeno e passageiro sorriso, que não mostrava os dentes.

Não consegui evitar o sorriso que tomou meu próprio rosto, ao ouvir seu nome. Combinava com o rapaz, seus olhos castanhos gritavam “Park Jimin”. Pronunciou o nome de forma lenta e suave, as palavras deslizaram para fora de seus lábios como uma canção e senti-me encantado pelas letras. Senti vontade de repetir o nome e ver como sairia com minha voz, mas temi que ele achasse isso estranho.

- E o seu é...? – indagou, levantando levemente suas sobrancelhas. Um pouco confuso, percebi que apenas continuei a apertar sua mão e não me apresentara.

- Meu nome é Jungkook. – disse, soltando sua mão, com muito pesar e vergonha. – Jeon Jungkook.

Ele deu mais um sorriso fechado e assentiu, logo olhando-me com expectativa. Percebi que o rapaz trocava muitas palavras por sorrisos e expressões.

- Não ia contar uma história? – indagou, em um tom cauteloso.

- Oh, claro! A história! – exclamei, sentindo-me um tolo. Afastei meu prato para o meio da mesa e virei-me para ele, sentando de lado no banco cinza do refeitório. Não contive meu tom animado ao dizer: - Já ouviu falar na Guerra de Tróia?


Notas Finais


Espero que tenham gostado! (E mais uma vez, desculpe pela demora ;-;)


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