1. Spirit Fanfics >
  2. Always Somewhere (Aonung x Neteyam) >
  3. Ciclo da Vida

História Always Somewhere (Aonung x Neteyam) - Ciclo da Vida


Escrita por: Srta_Michaelis

Notas do Autor


Depois de um capítulo chocante, temos um pouco de descanso... mas não se enganem

Capítulo 11 - Ciclo da Vida


Serpents in my mind (serpentes na minha cabeça)

Looking for your crimes (procurando pelos seus crimes)

Everything changes (tudo muda)

I don't want mine to this time (não quero que seja eu desta vez)

Serpents – Sharon Van Etten

 

Ao’nung não soube dizer por quanto tempo ficou deitado e chorando com as mãos no rosto.

Ainda não conseguia assimilar tudo o que havia acontecido. Ver Neteyam daquela forma completamente irreconhecível era difícil. Mas o pior era saber que o outro nunca tinha sido sincero sobre seus medos e suas dores. Sabia o quanto a guerra mexia com ele, mas perceber que Neteyam havia escondido tanta coisa dele era doloroso demais.

A brisa noturna era gélida e não trazia qualquer conforto para seu coração ferido. Porém, mesmo o frio não foi capaz de tirá-lo do chão. Depois de mais alguns minutos ouvindo apenas seu próprio choro, Ao’nung sentiu a aproximação sorrateira dos pezinhos do garoto.

Meio insegura, a criança se sentou ao seu lado e ele sentiu um cheiro suave e refrescante antes de tirar as mãos do rosto molhado. Os olhos acinzentados fitavam o herdeiro com preocupação. O cheiro diferente aparentemente vinha de umas pétalas amarelas grudadas nos joelhos do menino, que pareciam feridos por conta da queda momentos antes.

Ao’nung limpou o rosto sabendo que precisava sair dali e curar sua perna dormente. Mas antes, era importante garantir que o menino estava seguro.

— Você não pode ficar andando sozinho na floresta. – Sua voz saiu rouca. – Vou te levar até seus pais e avisar sobre o que aconteceu.

Um arrepio passou por sua espinha ao imaginar Neteyam os caçando neste exato momento. Até pensou em pegar o ikran, mas além de sua perna estar tornando impossível a tarefa de voar, sabia que a missão estaria perdida se fossem vistos pelo Povo do Céu. Ignorando esses pensamentos para focar no grande sangramento que havia negligenciado até então, Ao’nung gemeu dolorido ao se sentar.

Analisou a coxa e trincou os dentes ao concluir que seria uma tortura arrancar o punhal cravado em sua carne. Puxou e soltou o ar profundamente algumas vezes, deixando os dedos roçarem no cabo de madeira da arma.

Por fim, fitou o menino ao seu lado:

— É melhor fechar os olhos.

Obediente, a criança levou as mãos aos olhos e Ao’nung respirou fundo uma última vez antes de puxar o punhal com um único movimento, sem conseguir conter um grito de dor. A arma saiu de sua perna com um som agonizante e imediatamente o sangramento quente aumentou. Ofegante e dolorido, o Metkayina percebeu que estava com grandes problemas ao ver o tamanho do buraco em sua perna. O sangue banhava a grama verde incessantemente.

— Ei. – Chamou o menino que espiava por entre os dedos. – Atrás daquela árvore tem uma lança. Pode trazê-la pra mim, por favor?

Com um aceno, a criança fez o que pediu, puxando a arma pesada que tinha muitas vezes o seu tamanho. Carregou com dificuldade até entregá-la. Ao’nung agradeceu pousando a mão sobre os cabelos ondulados, em um gesto carinhoso. Logo em seguida, apoiando com firmeza a lança no chão, ele se levantou, mordendo os lábios para conter um novo gemido dolorido.

Respirou fundo e devagar, antes de começar a andar na direção de onde veio.

— Vem. Eu te levo pra casa, só preciso dar um jeito da minha perna antes.

Sem aplicar muita força na coxa para não piorar o sangramento que banhava sua perna inteira, Ao’nung mancou, apoiando boa parte de seu peso na lança. Escorregou diversas vezes na descida até a floresta baixa onde estava quando chegou e, vez ou outra, o menino o ajudava a se levantar. Apesar da cumplicidade, o silêncio permaneceu durante todo o tempo da lenta caminhada.

Querendo se distrair da dor e rendido a curiosidade, Ao’nung, por fim, questionou:

— Você fala?

O menino apenas balançou a cabeça positivamente enquanto tirava os cabelos dos olhos, colocando atrás da orelha.

— Qual seu nome?

— ...Tai’Ren. – Sussurrou com a voz incerta. Seus olhos cinzas estavam cravados no ferimento na perna alheia.

O herdeiro continuou mancando, sentindo-se ligeiramente zonzo pela perda de sangue.

— Eu sou o Ao’nung. E aquele que estava lá em cima com a gente...- Hesitou. – É o Neteyam.

Tai’Ren encolheu os ombros ao pensar na figura ameaçadora.

— Ele é mau.

Ao’nung sentiu o coração cair um pouco ao ouvir aquilo. Àquela altura, já tinham chegado à clareira onde os mantimentos estavam.

— Não, ele não é mau... – Começou o herdeiro, ainda se apoiando na lança enquanto pegava o tecido para enfaixar a coxa e uma tigela com ervas medicinais que trouxeram para emergências. – Ele só...passou por muitas coisas.

Se sentou sobre um tronco de madeira, exausto. Seus olhos inchados do choro, baixaram para disfarçar novas lágrimas que surgiam.

— Ele passou por coisas muito piores do que eu imaginava. – A voz saiu como um sussurro torturado. Depois de alguns segundos, ergueu o rosto para encontrar os olhinhos acinzentados que o observavam na clareira escura. – Então, por favor não o odeie. O Neteyam... é importante pra mim.

— Mas ele fez um dodói em você.

— É. – Ao’nung limpou as lágrimas, fungando. – Ele fez.

Tai’Ren andou pela clareira, pegando folhas caídas e reunindo-as em um pequeno monte. O Metkayina colocou as ervas na ferida aberta e imediatamente começou a enrolar o tecido com força para conter o sangramento, engolindo grunhidos doloridos. Sentindo-se pesado, sem saber se por estar sem dormir até aquele momento ou se era pela perda de sangue, ele optou por ficar acordado.

— Seus pais. – Começou, despertando a atenção do garoto que agora se deitava no chão, colocando a cabeça sobre a pequena pilha de folhas. – Onde estão?

Tai’Ren apenas deu de ombros e virou de costas, encolhendo-se quase em posição fetal para dormir. Ao’nung franziu o cenho diante da ausência de resposta, mas não insistiu. Seus pensamentos involuntariamente vagaram até Neteyam outra vez. Sentiu-se culpado por nunca ter conseguido ajuda-lo com os pesadelos ou entender que aquilo era causado por algo tão grande.

Entretanto, também estava magoado por tudo o que escutou, por ele ter partido daquela forma, lhe colocando como um inimigo. Deitando-se sobre a grama, Ao’nung observou o céu noturno e manteve as orelhas atentas a qualquer sinal do ikran ou do Povo do Céu. Pensou na missão e clamou internamente para conseguissem descobrir o que precisavam. E que Neteyam não se perdesse para sempre no próprio ódio.

***

— Tai’Ren!

Com o coração acelerado, Ao’nung caminhava da forma como podia pela floresta estranha e brilhante à luz do dia. Quase 1 semana havia se passado desde os eventos no penhasco e ainda não havia sinal de Neteyam. Sem saber se alguma tinha acontecido, o herdeiro se viu preocupado e sem conseguir dormir direito. Ao mesmo tempo, ficava ansioso com a possibilidade de Neteyam aparecer furtivamente e matar Tai’Ren enquanto estivesse distraído, por isso, tentava mantê-lo sempre por perto.

Mas agora não havia sinal dele.

Nos últimos dias, Ao’nung estava cada vez mais convencido de que Tai’Ren não tinha ninguém para cuidar dele. Não apenas por estar magro e vagando sozinho, mas por ele sempre ficar quieto ao ser questionado sobre isso. No início achou que fosse apenas timidez, mas conforme os dias passavam Tai’Ren se mostrava uma criança muito ativa, o seguindo onde quer que fosse como uma mini sombra. Ele não falava perfeitamente, geralmente repetia o que escutava, mesmo assim, estava cada vez mais esperto e aprendendo mais palavras.

— Tai’Ren! – Gritou outra vez, mas sem resposta.

Sentindo uma onda de nervosismo, Ao’nung ignorou a dor na coxa e continuou mancando, afastando os arbustos que bloqueavam sua visão. Escutou um som de água e apressou o passo, arregalando os olhos ao ver uma enorme lagoa, cercada de rochas irregulares.

— Tai’Ren? – Chamou.

O som do movimento suave da água era a única coisa que dava pra escutar. Quando começou a perder as esperanças de encontrá-lo diante de tanto território inexplorado e por conta da perna dolorida, um pensamento lhe ocorreu: Ir até o penhasco. A ideia em si lhe parecia ridícula, já que o local deveria trazer lembranças assombrosas para Tai’Ren, mas precisava tentar.

Segurou a coxa enquanto andava no caminho de volta. Toda a pasta milagrosa que sua mãe produziu já tinha acabado devido a gravidade do ferimento. Agora, Ao’nung contava apenas com o tempo e a correta limpeza do local para melhorar, mas sua recuperação seguia lenta e as dores o impediam de subir no ikran para procurar Neteyam.

Minutos depois, quando finalmente chegou até a subida, Ao’nung praguejou por não ter trazido a lança e segurou nas árvores para apoiar o peso e evitar um pouco as sensações doloridas. Suspirou de alívio, momentos mais tarde, ao alcançar o topo da subida e ver Tai’Ren sentado na grama, olhando o horizonte. Os cabelos ondulados eram bagunçados pelo vento. Suas mãozinhas apertavam um totem que fazia parte de um cordão grande em seu pescoço, objeto esse que Ao’nung notou apenas um dia após se conhecerem.

— Tai’Ren. – Chamou Ao’nung, aliviado, sentindo o coração se acalmar.

— Nung?

— Eu já disse pra não sumir assim.

— Desculpa. – Sussurrou, baixando a cabeça.

O Metkayina caminhou até ele, por um instante parando para observar o oceano infinito e agitado batendo contra as rochas. A visão era realmente muito bonita.

— Tudo bem. – Respondeu, ainda perdido na vista. – Você costuma vir muito aqui? Está esperando alguma coisa?

Sem se surpreender, notou que o menino não responderia.

Depois de alguns segundos em silêncio, Tai’Ren pareceu lembrar de algo que estava ao seu lado:

— Olha, eu peguei pra você! – Disse animado, estendendo a mão. Seus olhos brilhavam de expectativa. – Come!

Ao’nung observou a pequena fruta vermelha que lhe era oferecida. Era a mesma que o viu comer no dia do penhasco. O formato redondo e o brilho rubro pareciam suculentos e convidativos. Ele pegou e levou-a inteira a boca. Quando os dentes perfuraram a casca fina e descobriu o interior molhado, Ao’nung sentiu todos os músculos do rosto se contraírem em caretas que ele nunca tinha feito na vida.

Era um sabor forte e muito estranho, não tinha sentido nada parecido antes. Tai’Ren soltou uma gargalhada para a expressão de Ao’nung, desatando a rir até deitar-se na grama, com as mãos na barriga.

— Por que você come fazendo cara engraçada? – Riu ele.

Tentando se recuperar do amargor em sua língua, o herdeiro falou:

— Engraçadinho. Você sobrevive comendo só isso?

Tai’Ren assentiu.

— Eywa deve estar cuidando de você então. – Concluiu o herdeiro. - Não dá pra viver comendo só essa fruta. Por isso está tão magro e pequeno.

— O que é Eywa?

Por um instante, Ao’nung se lembrou vagamente de Neteyam dizendo que o Povo das Cinzas não acreditava na Grande Mãe e que moravam em uma região morta, onde havia apenas fogo e poeira. Pensando na melhor resposta, apoiou o peso mais ainda na perna boa.

— Eywa é... quem protege o equilíbrio da vida. A Grande Mãe entrega sua energia nas árvores, no mar, nos animais, nos ventos e até nas frutas para que possamos viver. Mas depois, nós devolvemos essa energia pra ela.

— Como?

— Quando morremos.

Tai’Ren pareceu preocupado.

— Você vai morrer, Ao’nung?

— Um dia, sim. – Sorriu ao perceber os olhos do garoto se encherem de medo. – Mas isso não precisa ser algo ruim. Quando morremos, nosso espírito se junta a Eywa e assim podemos encontrar nossos ancestrais.

— O que é isso?

— Ancestrais? – Tai’Ren anuiu positivamente. – São os nossos pais, avós e bisavós. São todos aqueles que vieram antes de nós. Assim, quando morremos e encontramos Eywa, podemos ver todos aqueles que já partiram também.

— Eu vou morrer também?

— Todos nós morremos um dia, Tai’Ren. – Pousou a mão em seus cabelos, bagunçando-os suavemente. – Mas você é muito novo pra se preocupar com isso. Por enquanto, o que você precisa fazer é apenas crescer.

Subitamente, Ao’nung se lembrou da caminhada antes de vir ao penhasco e se animou:

— Vem comigo. Vamos pescar.

Pescar?

Eles começaram a caminhar de volta. O Metkayina andava devagar para não sobrecarregar a perna.

— Sim, você precisa comer de verdade, chega dessas frutas ruins. E eu estou morrendo de fome.

Ainda confuso diante da palavra nova, Tai’Ren deu de ombros, seguindo o na’vi obedientemente para descobrir o que fariam.

***

Depois de passarem no acampamento para pegar a lança, redes e tudo o que precisariam para preparar os peixes, ambos seguiram juntos até que a lagoa descoberta por Ao’nung momentos antes. Ele sorriu ao acertar o caminho, já que estava tão nervoso procurando Tai’Ren que tinha suas dúvidas se lembraria. Não era tão bom quanto Neteyam se guiando em matas fechadas.

Seu sorriso morreu quando pensou no companheiro. Ele estaria conseguindo dormir? Estava ferido? Tinha sido encontrado pelo Povo do Céu? O estômago embrulhou com a possibilidade, mas não podia pensar nessas coisas ruins. Precisava continuar focado em se curar para procurá-lo.

Muito animado, Tai’Ren correu em direção a água, pulando e jogando várias gotas para cima com as mãos.

— Nung, olha! – Gritou, jogando mais água. – Chuva!

O herdeiro até pensou em avisar que fazendo aquilo estava espantando todos os peixes, mas o garoto parecia tão empolgado que deixou ele brincar um pouco enquanto estendia as redes e preparava uma corda para amarrar o que conseguissem pescar. Tai’Ren girava e mergulhava sempre na parte mais rasa da lagoa, observando os peixes minúsculos que pareciam enlouquecidos nadando ao seu redor.

— E então pequeno pescador. – Escutou Ao’nung chamar. – Tem muito peixe por aí?

Ele olhou de novo para os peixes dourados perto de seus pés e então se virou para o Metkayina:

— Eles são de comer?

— Sim, os peixes nos alimentam.

— Mas... você vai matar eles? – Perguntou, chateado.

— É o ciclo da vida. Lembra o que eu disse sobre precisarmos de energia? Nós os matamos, mas agradecemos por eles nos darem aquilo que precisamos pra viver. E quando nós morrermos, devolveremos a energia para a natureza.

Tai’Ren refletiu um pouco sobre aquelas palavras, mas ainda era jovem demais para compreendê-las completamente, por isso, voltou a sua brincadeira, soprando debaixo d’água para criar muita bolhas de ar.

Quando tudo estava pronto, Ao’nung pegou as redes e a lança.

— Vamos?

Sem questionar, Tai’Ren tirou o cabelo molhado dos olhos e o seguiu até o outro lado da lagoa. Durante o caminho, Ao’nung parou duas vezes para jogar as redes sobre a água, posicionando-as estrategicamente bem atadas às rochas e continuou o caminho com a lança na mão. A perna ferida, no entanto, o fazia caminhar lentamente.

Quando finalmente alcançaram o ponto onde previu que os peixes estariam, Ao’nung entrou na lagoa com cuidado e bem devagar para não assustar sua presa.

— Tente me imitar. – Ele instruiu Tai’Ren, que escutou atentamente, admirado com a postura alheia. – Temos que entrar devagar para não os assustar.

O Metkayina deu um aceno de aprovação ao ver o menino entrar silenciosamente na água cristalina, tentando imitar sua postura.

— Muito bem. Agora, está vendo aqueles peixes azuis? – Perguntou, apontando para um grupo de peixes maiores e que nadavam alheios à presença deles. – Eu vou acertar um deles com a lança, mas isso exige bastante concentração. Lembra do exercício de respiração que eu te ensinei?

— Sim. – Sussurrou Tai’Ren, temendo que os peixes escutassem.

— Nós o usamos agora para acalmar nosso coração, assim conseguimos ficar mais precisos. Então, vamos respirar devagar.

Ambos iniciaram uma profunda inspiração e expiração, o maior sem tirar os olhos dos peixes e Tai’Ren sem tirar os olhos dele. Quando se acalmaram completamente, Ao’nung moveu-se devagar, posicionando seu corpo para que a lança fizesse um golpe limpo.

Usando suas habilidades e mostrando o por quê era um dos melhores caçadores do clã Metkayina, Ao’nung foi veloz e certeiro, movimentando-se tão depressa que Tai’Ren não conseguiu acompanhar. A lança perfurou o maior dos peixes e imediatamente o puxou para fora. O animal se contorceu por um tempo até finalmente morrer.

Tai’Ren soltou um som de admiração, antes de perguntar:

— Eu posso tentar?

— Não. – Ao’nung riu, saindo da lagoa. – Você veio pra aprender, ainda é muito pequeno para usar uma lança. Vem, vamos comer.

Fazia tempo que Ao’nung não preparava um peixe grande. Desde que começaram a viver dos mesmos peixes que os ilus se alimentavam, as refeições ficaram cada vez menores, então ele aproveitou o momento de breve fartura e o preparou com calma, acendendo uma fogueira para assar e, por fim, separar as melhores partes do peixe para Tai’Ren. O menino, por sua vez, observava tudo com muita atenção, cada vez mais hipnotizado pelo cheiro gostoso.

— Pegue. – O Metkayina ofereceu uma tigela com grandes pedaços macios do peixe. – Come tudo, você precisa engordar.

Curiosa, a criança levou o primeiro pedaço aos lábios. Seus olhos acinzentados se arregalaram, procurando os azuis. Um segundo depois, ele começou a rir. A risada melodiosa era genuinamente alegre e só era interrompida para que ele mordesse mais um pedaço.

Ao’nung acabou rindo um pouco também, mas se compadeceu ao pensar que ele só deveria estar com muita fome.

— Gostou de comer peixe?

— Sim! – Respondeu Tai’Ren enquanto mastigava, emocionado. – É bom!

— Eu amo peixe. Onde eu moro tem tantos que não dá pra contar!

— É sério? – Perguntou o menino, encantado.

— É sim. – Ao’nung, contudo, sentiu o ânimo diminuir ao se lembrar da situação em que seu povo estava. – Bom, costumava ter. Agora, não tem tantos.

Tai’Ren franziu o cenho e comeu outro pedaço antes de responder:

— Por que não tem mais? Você comeu todos?

— Ei! Seu pequeno, skxawng! – Ao’nung riu, bagunçando os cabelos dele. – Eu não comi todos.

— Eu comeria! – Respondeu ele muito focado na sua refeição.

O herdeiro sorriu levemente, mas estava verdadeiramente preocupado. Sem Neteyam e com sua perna ferida, a missão estava consideravelmente atrasada. Fitou a criança que comia com tanto gosto e se questionou sobre quanto tempo estava vivendo naquela situação.

— Eu e o Neteyam viemos aqui pra tentar fazer os peixes voltarem. – Revelou. – Talvez, a resposta esteja nessa ilha.  

— ... E depois você vai embora?

— Sim, eu preciso voltar pra casa.

Tai’Ren sentiu os ombros caírem e não respondeu.

 

Quando ficaram satisfeitos, ambos seguiram de volta pela floresta. Ao’nung optou por deixar as redes na lagoa para pegar os peixes no dia seguinte, e carregava alguns nas costas que já haviam sido capturados pelas redes. Tai’Ren seguia andando mais rápido na frente, pulando sobre as flores e se pendurando em galhos. As vezes sua empolgação o fazia correr muito na frente, gerando uma bronca de Ao’nung por estar fora de seu campo de visão.

A caminhada foi tranquila. Tai’Ren tagarelava sobre como peixes eram deliciosos e o Metkayina ouvia tudo pacientemente, com um sorriso suave. Avistando o local onde deveria estar a clareira, apressaram o passo, mas quando finalmente ultrapassaram o último arbusto, Tai’Ren pulou, rapidamente se escondendo em uma árvore próxima.

Ao’nung sentiu o coração martelar em um misto de sentimentos contraditórios, mas se manteve firme. Ignorou a sensação de sua perna fisgando, implorando por descanso e se preparou para o pior. Isso porque Neteyam estava no centro da clareira e, claramente, ainda parecia fora de si.


Notas Finais


o que será que veremos nos próximos capítulos? Neteyam conseguiu o que queria ou não? E a missão, vai voltar a ser a prioridade?

Eu queria dizer que daqui pra frente tudo fica mais tranquilo, mas é melhor manter o chazinho em dia...

Me digam o estão achando da história! Estamos com quase 100 favoritos aqui! UHUULLL

obrigado <3


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...