Leiftan se manteve dentro da Sala do Cristal como havia tido (sem revelar que a visitara no meio da noite para conferir se ela realmente dormia) e ele aproveitava para tentar fazer com que a Oráculo dentro do Cristal envenenado não só se rebaixasse a ele como também lhe dissesse sobre a misteriosa mulher que ele resolveu acolher em Eel. E como sempre, a Oráculo só lhe dava as costas, mesmo sofrendo.
Como estava perto da hora do almoço e com certeza a Kurisu iria acabar indo para a cozinha, ele deixou o Cristal para preparar a refeição. A comida estava quase pronta quando ela entrou no salão outra vez.
– Olá Kurisu! Já terminou sua poção? – foi logo perguntando com um sorriso no rosto.
– Não, na verdade nem comecei. Só agora que eu terminei de achar as coisas de que precisava. Sem falar que eu estou...
– Faminta? – interrompeu ele, fazendo-a sorrir.
– É. Isso mesmo. O que vamos comer? – perguntava ela curiosa sobre o balcão.
– Uma de minhas especialidades. Espero que goste! – ele enchia dois pratos – Conseguiu se lembrar de mais alguma coisa enquanto buscava por seus ingredientes? – ele ainda queria descobrir mais sobre ela.
– Huummm... Não. – respondeu ela meio chateada – Mas alguma coisa me diz que quando eu terminar essa poção poderei me lembrar de alguma coisa! – voltou ela a se animar e deixando o dragão cada vez mais curioso.
“Será que se eu resolver espioná-la no laboratório eu consigo descobrir algo?” – pensava ele durante a refeição, mas teve que desistir da ideia, pois a mulher avisou que se ele encontrasse a porta do laboratório trancada, era porque ela estava lá dentro fazendo a tal poção. – “Acaso ela é capaz de ler pensamentos?” – ele acabou suspeitando.
Tendo os dois terminado de comer (com a Cris elogiando o chefe), cada um foi para o seu lado. Leiftan retornou para junto do Cristal e a Cris foi para o laboratório.
No laboratório, a Cris mal entrou e já trancou a porta às pressas. – “Meu Deus eterno! Que isso tudo possa terminar logo!”
“[roxa]E vai menina! Mas só se andarmos logo com essa coisa.” – respondia a oráculo já esperando por ela.
“Explica aí o que eu tenho que fazer pra isso tudo acabar.” – pediu a Cris já pegando o livro que revelava o esconderijo.
“[roxa]Bom, vamos começar com a primeira lista. Primeiro você vai triturar as escamas de Arielle.”
“O que é uma Arielle?” – sua curiosidade agia.
“[roxa]Arielle é uma espécie de sereia azulada cuja looonga cauda a faz lembrar uma serpente. Elas também são conhecidas por sua grande coragem e compaixão.” – explicou a Negra deixando a Cris positivamente surpresa – “[roxa]Mas voltando, depois que terminar de triturá-las, coloque-as dentro do frasco de Ícaro, já contento a agua purificada. Depois você vai misturar o leite e o suco até que tome uma cor cobreada. Em seguida, irá despejar o leite no frasco e a pérola em seguida. Quando a pérola tiver se dissolvido, fazendo o líquido ficar transparente, você coloca a essência da vida. Com cuidado para não perder a essência! Tudo claro até aqui?”
“Sim, está sim.” – e assim ela fez, passo-a-passo, como explicado com a Negra lhe recordando cada fase até terminar – “Ok, primeira receita concluída. Como é a segunda?” – pediu ela ao acabar.
“[roxa]Bom, para a segunda terá que ser beeeem cuidadosa, por causa dos ingredientes!” – Cris apenas lhe assentiu – “[roxa]Comecemos. Assim como as escamas, você vai triturar o bico do pássaro marinho que será despejado dentro do copo já contento a energia tenebrosa.”
“De que pássaro pertenceu este bico?” – a curiosidade da Cris agia outra vez.
“[roxa]É uma muda do Basioeland. Uma ave que parece ser a mistura da gaivota com um corvo. Diferente das Arielles, essa ave é bem maliciosa, sem falar de covarde!”
“Legal.” – disse ela sorrindo enquanto despejava a poção negra para colocar a farinha de bico.
“[roxa]Agora você vai colocar as 15 pétalas da rosa dentro do veneno de Ornak com bastante cuidado e, depois que as pétalas terminarem de se dissolver, fazendo o veneno ficar roxeado, você vai juntá-lo ao conteúdo do copo com o buraco negro em seguida. Quando a mistura ficar parecendo piche, você mergulha o frasco do vazio e o deixa se desfazer!”
“Não seria melhor apenas despejar o conteúdo do frasco?”
“[roxa]Vai por mim. Você NÃO quer abri-lo!” – Cris não discutiu, apenas fez como mandado e seguiu para os itens da terceira lista.
“Muito bem. Última receita. O que...” – ela dava um grande bocejo fazendo uma lágrima lhe escapar dos olhos que logo foi recolhida pela Negra com o auxílio de um tubo de ensaio – “Mas o que está fazendo?”
“[roxa]Recolhendo um dos ingredientes extras que mencionei, uma lágrima de indiferença.” – respondeu ela colocando um adesivo negro no tubo e a Cris apenas ficou boquiaberta sem saber bem o que dizer – “[roxa]Os outros são: uma lágrima de amor; uma gota de sangue de dragão; uma gota de sangue de aengel, e uma gota de sangue de humano.”
“E como exatamente você pretende obter essas coisas?!?”
“[roxa]Com você ora essa! Você é uma faeliana mestiça de dragão e aengel o que já nos concede o sangue necessário e quanto à lágrima, basta que eu lhe conte uma historia bem bonita já que você é sensível.”
“Tudo bem... Ok...” – falava a Cris meio pasma – “Desembucha como é a terceira receita antes que eu saia correndo.” – a oráculo segurava a gargalhada.
“[roxa]A terceira é muito mais fácil. Você vai despejar a agua de Lete dentro da tigela, e depois vai colocar as três bolas, ao mesmo tempo, dentro dela. Pra terminar, você vai depositar sua mana sobre a agua bem devagar até que o líquido assuma um leve brilho. Só isso!”
A Cris respirou fundo e fez o que lhe foi tido. Quando o líquido brilhou, as esferas dentro dele se fundiram em uma só e absorveu a agua para dentro de si, fazendo-a parecer uma pérola de energia gigante.
“O que exatamente nós estamos criando, oráculo?” – perguntava ela ao notar os diferentes finais.
“[roxa]Estamos criando uma Esfera de Transmutação de Raça, nós vamos transformar o Leiftan dragão em um aengel.”
“Como é que é???”
“[roxa]Olha, eu sei o que é que você está pensando: pra que transformar um dragão em um aengel?” – a Cris assentiu aguardando a resposta – “[roxa]Bom, digamos que o tipo do dragão que o Leiftan é, não é bem dos mais amigáveis. Isso sem falar todas as atrocidades que ele já fez por ser desse tipo! Transformado em aengel, ele terá mais chances de se arrepender de tudo o que fez e seguir um caminho de luz. Se encontrar a companhia certa, é claro.”
“Tá, ok! Mas me explica uma coisinha, agua de Lete é usada para poções que envolvem a memória, como exatamente ela vai agir nisso tudo?”
“[roxa]O corpo do Leiftan terá que esquecer-se de sua natureza original, e ele também se esquecerá de boa parte das coisas que fez como dragão. Se não for tudo...” – a Cris respirava fundo para absorver aquilo tudo – “[roxa]Certo. Agora sente ali no sofá para podermos adquirir a lágrima de amor para terminarmos a Esfera amanhã.”
“Porque não podemos acabá-la hoje?” – questionou-a já se sentando no lugar indicado.
“[roxa]Porque as poções precisam descansar por uma noite. Agora, senta que lá vem historia.” – o final da frase trouxe um toque de nostalgia para a Cris e a historia que a oráculo lhe contou forneceu facilmente a lágrima de amor que elas precisavam, cujo tubo foi rotulado com um adesivo branco. Já o sangue só seria recolhido ao final do preparo.
Apesar de terem gastado umas três ou quatro horas naquele laboratório, ainda era cedo. A oráculo Negra sugeriu à Cris que desse uma nova volta pela cidade acompanhada do dragão, e se possível, o convencesse a deixá-la vê-lo em sua forma original para que elas pudessem usar a Esfera nele.
“Como vou convencê-lo de passear comigo se não posso entrar naquele quarto?”
“[roxa]Apenas fique parada diante da porta que rapidinho ele dá as caras, pode confiar.”
A Cris estava incrédula sobre isso, mas acabou esperando lá. E não é que deu certo? Após uns dois minutos de espera diante da porta, Leiftan apareceu perguntando se havia algo de errado.
– Me sinto meio sozinha. Sei que disse que eu já sou comprometida graças ao efeito da poção, mas, lhe seria ruim me fazer companhia em um passeio pelos jardins? – perguntou ela a ele da forma mais tímida que conseguiu.
– Ruim lhe fazer companhia? Não minha cara. Isso me seria um imenso prazer. – respondeu ele pegando a mão da moça para apoiá-la em seu braço direito, deixando a Cris (naturalmente) corada.
Durante o passeio, ele voltou a questionar sobre a poção e a Cris apenas lhe explicou que precisava deixá-la descansar para poder terminá-la. Para obter um pouco mais de confiança dele, ela revelou lembrar-se que seu nome era Cris e não Kurisu como lhe dissera antes, e aquilo pareceu fasciná-lo.
– Me diz Leiftan,... – ela pensava no pedido da oráculo – ...eu ainda não posso saber que tipo de dragão é você? Nem mesmo poderia conhecer a sua forma natural?
– Você realmente gosta tanto assim de dragões? – ela não respondeu, apenas assentiu rápido com a cabeça – Tudo bem. Mas depois não diga que eu não avisei! – o sorriso da Cris se alargava – Sou um Necro Dragão. – declarou-se ele em tom seco e observando a reação da mulher (que travou no lugar) com o canto do olho.
– Necro? De Necromante? Tipo... usuário de necromancia, a magia que controla os mortos e coisas assim?
– Exatamente. – confirmou ele – “E daqui você não sai até eu saber mais de você!” – dizia ele para si ao reparar no medo mesclado com surpresa e fascinação presentes nos olhos da Cris – Você ainda deseja conhecer minha forma natural? – questionava ele com um sorriso que fez a garota ter um calafrio que lhe correu pela espinha inteira.
– Hoje, não. – disse ela sem conseguir desviar-se dos olhos verdes dele – Acho melhor voltarmos agora.
A Cris estava com medo, mas agora compreendia melhor o que a Oráculo Negra quis dizer sobre ser melhor fazê-lo deixar de ser um dragão – “Isso também o fará deixar de ser um necromante, não é?” – ela se perguntava.
Voltaram para a torre. Os dois comeram alguma coisa e depois se separam (mas Leiftan passou a vigiá-la). A Cris tomou um longo banho quente para tentar acalmar os nervos e depois partiu para o mesmo quarto em que descansara antes, trancando a porta ao entrar.
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