História Aniversários e Abraços - Abraço Desajeitado

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Ú N I C O

Abraço Desajeitado

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Shiro adorava seu aniversário.

Além de reunir todas as pessoas com as quais se importava numa mesma data, seu aniversário caia em ano bissexto, sendo comemorado com exatidão de quatro em quatro anos. Desde pequeno, quando seus pais lhe explicaram o motivo de não comemorar na data de seu aniversário todos os anos, Shiro se sentiu único.

Era como se fosse parte de um grupo de pessoas especiais, onde seu aniversário caía na data mais rara e especial do ano, e por isso quando acontecia ficava eufórico com o prospecto da comemoração no dia vinte e nove. Nunca ficava muito animado para comemorá-lo quando caia em anos normais e a festa acontecia um dia antes, por isso era importante e adorava cada segundo dele.

Mesmo com seus vinte e três anos — ou seis pela contagem bissexta —, ainda sentia toda a mesma animação de quando mais novo e podia sentir o rolar de olhos dramáticos de Adam atrás de si enquanto ajeitava o colarinho de seu uniforme há quase dez minutos, distraído.

— Takashi, até quando vai ficar aí? — questionou numa risada relaxada. Shiro o encarou pelo reflexo.

— Desculpe me distraí. — confessou se virando para o namorado, o sorriso enorme no rosto: — O dia mal começou e já estou animado.

Adam riu se levantando do sofá e o abraçando, depositou um beijo em seu rosto carinhosamente.

— Certo, vai lá aproveitar a atenção, estarei de volta para jantarmos. — o beijou nos lábios: — Feliz Aniversário, Takashi.

— Tenha um bom dia, Adam.

Se despediram na porta do apartamento e cada um seguiu para um lado, Adam com o datapad em mãos e Shiro com o sorriso enorme e radiante.

Foi parado várias vezes durante seu percurso por alunos e professores, alguns deles tiraram fotos e outros mais corajosos lhe entregaram presentes que deixaram Takashi desconcertado de aceita-los. Não havia nada nas regras do Garrison sobre aceitar presentes de alunos, mas ainda era bizarro quando acontecia — principalmente por sempre os receber.

Deixou seus presentes em sua mesa do escritório quando finalmente chegou, sentou-se na mesa e começou a trabalhar pela parte da manhã antes de assumir a turma de voo. Seria o centro das atenções outra vez e esperava que não distraísse a turma mais do que já o faziam sozinhos. Suspirou satisfeito observando as mensagens que recebeu de seus amigos, da família Holt e principalmente de seu avô. Dele foi uma mensagem de vídeo um pouco confusa, mas que aqueceu seu coração de saudades.

Recostou na cadeira voltando para os documentos antes que divagasse demais. As mensagens poderiam ser lidas depois quando terminasse o expediente ou durante o almoço.

Isso se sua curiosidade não o forçasse a abrir antes.

A turma de voo foi mais eufórica do que Shiro esperava. Lance McLain parecia prestes a ter uma sincope se não conseguisse entregar o presente que tinha comprado para ele durante sua ida até a cidade. Além dele, vários outros alunos pareciam querer sua atenção a todo momento e Iverson começou a se incomodar com o alvoroço o mandando ir para fora da área de teste.

Shiro riu da reação nervosa do superior, mas aproveitou a deixa para sair um pouco de perto deles. Encarou a turma uma última vez antes de sair preocupado. Keith não havia comparecido, e ele raramente faltava as aulas. Voltou para seu escritório deixar mais presentes na intenção de ir atrás de Keith, talvez estivesse doente e não pode estar nas aulas, e se esse fosse o caso iria tentar ajuda-lo no que precisasse.

— Hey aniversariante! — chamou Matt do outro lado do corredor, avançando com passos largos: — Como é ser o centro das atenções?

— Exaustivo, mas não nego que gosto da atenção. — admitiu Takashi cruzando os braços: — Falando em atenção, você viu o Keith? Ele não costuma faltar as aulas do simulador.

— Nem ideia, deve estar matando aula em algum lugar do Garrison, diferente de você ele odeia atenção. — relembrou o Holt retirando seu datapad: — Mas agora eu preciso da sua com esses relatórios sobre Kerberos, precisamos fazer umas últimas calibragens e meu pai me pediu para te mostrar.

Shiro pegou os documentos e ambos voltaram para sua sala focando na missão que decolaria dali alguns meses. Ter sido escolhido para a missão foi uma conquista tremenda, tanto de confiança quanto de habilidades. Entendia o motivo de alguns duvidarem de sua saúde para guiar os Holt pelo espaço, mas o conforto que tinha na confiança de Sam o acalmava durante as conversas sobre sua doença.

Adam estava distante por causa da missão, e sentia uma animosidade entre eles que não gostaria de ter antes de partir, mas por hora a única coisa que poderia fazer era lhe dar um pouco de espaço quando precisasse, e atenção nos poucos meses que ainda tinham juntos.

Encarou o aparelho em seu pulso, o vibrar suave do mecanismo contra sua pele sempre o relembrava de suas limitações, mas também daquilo que indicava o estágio de sua doença. Era reconfortante vê-la tranquila e quieta, e esperava que continuasse assim pelos próximos meses.

Terminaram os relatórios ao entardecer com Matt indo atrás de algo para comer enquanto Shiro resolveu ir, finalmente, atrás de Keith.

A caminhada até o dormitório foi turbulenta pela quantidade de alunos que o rodearam perguntando sobre a missão, desejando parabéns ou somente jogando conversa fora. Não pensou que fosse chamar tanta atenção assim, mas fazia sentindo se parasse para pensar nos acontecimentos atuais.

Suspirou fundo tentando dar atenção para os alunos, mas foi perdendo noção do tempo e saturando um pouco sua boa disposição. Gostava da empolgação deles, mas estava fugindo um pouco do aceitável.

Estava prestes a mandar um S.O.S. para Adam quando sentiu uma mão firme segurando seu pulso e o puxando distante da multidão.

Em pouco tempo se viu longe do corredor de alunos e em direção ao terraço guiado por Keith que mantinha o olhar para frente, em alerta. Shiro sorriu para ele enquanto o garoto parecia pensar em rotas que evitassem esbarrar nos alunos voltando de suas aulas.

Após alguns minutos chegaram ao terraço vazio, frequentado só por aqueles que tinham acesso à chave da porta — coisa que Shiro possuía e havia passado para Keith quando sentisse vontade de um pouco da companhia das estrelas.

Dali dava para ver toda a Garrison e o céu se tornando negro, com o pôr-do-sol ao longe no horizonte, quase desaparecendo. Keith soltou seu pulso se virando para ele. Shiro lhe sorriu.

— Obrigado por me salvar, Keith.

— Sem problemas. — admitiu desviando o olhar do dele, encarando o chão com falso interesse: — Seu dia foi totalmente assim?

Shiro riu: — Sim, não tive muito sossego, mas sempre gostei de datas agitadas. Não é sempre que posso comemorar meu aniversário.

Keith concordou: — Bom, se você gosta disso então ok.

Ele ficou em silêncio depois disso e Shiro o observou por algum tempo. Estava coberto de areia de alguma fuga que fez do Garrison para a cidade ou o despenhadeiro. O cabelo totalmente bagunçado lhe dava o charme desleixado que combinava tão bem com suas atitudes.

Achava fofo.

— Eu fui na cidade atrás de algo para você, mas não encontrei nada que realmente você fosse gostar ou não tivesse. — confessou Keith desconcertado. Shiro sorriu, emocionado.

— Não precisava, Keith. Só sua presença já é o bastante. — admitiu o Shirogane num ar suave e confortável. Keith sempre estava presente, e saber que passaria mais algum tempo com o garoto era o bastante.

Keith o encarou cético, mas suspirou.

— Imaginei que fosse dizer isso.

— Bom, não é nenhuma mentira—

Keith o abraçou pela cintura não deixando que Shiro terminasse o que iria dizer. Shiro ficou tenso, não sabendo como reagir ao abraço repentino do garoto tão averso à toques e demonstrações de afeto. Abraços eram raros, e Shiro se sentiu especial.

Relaxou os ombros abraçando o garoto carinhosamente. Keith suspirou.

— Não sei o que te dar de aniversário, mas ouvi dizer que abraços são bons. Então... — falou em baixo tom, visivelmente envergonhado: — Feliz aniversário.

Shiro alargou o sorriso sentindo peito aquecer com aquele gesto. Acariciou seus cabelos empoeirados com a ponta dos dedos, fechando os olhos.

Aquele talvez tenha sido o seu presente predileto de aniversário.

Shiro encarou o espaço pelo lado de fora da nave. Estava auxiliando numa missão da Espada de Marmora na entrega de alimentos para planetas afetados pela guerra. Keith havia solicitado sua presença na viagem e tomou algumas semanas de férias — as férias as quais já teria ter tirado, mas deixou acumular por dedicação excessiva — para aproveitar aquela viagem com o líder da organização.

Ouviu a porta abrir e fechar atrás de si e dois braços o enlaçarem pela cintura, um beijo sendo depositado em seu ombro exposto pela regata.

— Feliz aniversário, Takashi. — desejou Keith em tom baixo e rouco, recém desperto do sono. Shiro riu nostálgico, apoiando o corpo para trás: — Está rindo do que?

— Estava lembrando do meu último aniversário, do presente que você me deu. — comentou carinhosamente, envolvendo os braços de Keith com os seus. O rapaz murmurou, interessado.

— Fala daquele abraço desengonçado? — comentou Keith em tom risonho, provavelmente relembrando do vermelho de seu rosto e de como saiu correndo do terraço assim que se separaram lhe desejando um “boa noite”.

Shiro não pode evitar de rir mais alto.

— Eu amei. — disse gentil virando o rosto para encarar os olhos cativantes do amante. Keith sorriu para ele apertando o abraço.

— Oh? Quer dizer então que não preciso te entregar aquele pacote dentro do armário? — zombou divertido enquanto Shiro virava em seus braços, selando seus lábios em um beijo cheio de risos.

— Me abrace logo. — falou em seu ouvido antes de aterrar seu rosto no ombro de Keith que acariciou suas costas suavemente.

Shiro fechou os olhos se deixando mergulhar naquele sentindo confortável e nostálgico de estar nos braços de Keith. Não era a mesma coisa de antes, havia mais familiaridade entre eles quando mais novos. Agora era um calor diferente, algo que irradiava por seu peito e o fazia se aquecer por inteiro; o rosto corar e os olhos encherem de lágrimas.

Depois de tudo pelo que passaram aqueles abraços significavam o mundo para Shiro, mas que começaram lá no Garrison, naquele primeiro contato desajeitado. Eram importantes, mais significantes que qualquer coisa que poderia receber naquele dia.

Era um dia especial seu aniversário, e a presença de Keith e seu corpo quente e aconchegante o transformavam em algo que o fazia ansiar pela data com mais força; mais do que quando criança.

E iria guardar esses dias por toda sua vida, com Keith ao seu lado em cada momento.

— Mas ainda quero o presente. — admitiu Shiro contra seu ombro.

Keith gargalhou alto.