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História Anunciação (Imagine Jungkook) - Qualquer lugar (31-26)


Escrita por: dragonkookie

Capítulo 2 - Qualquer lugar (31-26)


You know the sun is in your eyes

And hurricanes and rains

Black and cloudy skies

You're running up and down that hill

You turn it on and off at will

There's nothing here to thrill or bring you down

And if you've got no other choice

You know you can follow my voice

Through the dark turns and noise of this wicked little town

(“Wicked little town”, Hedwig & angry inch)

 

Você acordou em silêncio. Você faz tudo em silêncio. Eu, que sempre fui quieta, fiquei mais falante depois de você nos meus dias. O lugar, não lembro muito bem qual era. Qual cidade, qual apartamento, qual lacuna no tempo. “Antes” e “depois” não faziam mais sentido.

– Sabe que seu livro novo vai ser um fracasso – quem disse isso não foi você, mas uma vozinha dentro de mim.

Tinha café sobre a mesa. Duas canecas e uma garrafa térmica. A toalha estampada, de plástico, de uma feiura reconfortante. Quando me sentei à mesa, você já tinha tomado seu lugar na cadeira de madeira maciça, sem verniz. Suas pernas, em calças de pijama, se espremiam no laço dos seus braços. Estava mais magro. A gola larga da camiseta de dormir deixava ver o relevo das primeiras costelas, tão destacadas. Agora você tinha 26 anos. Eu, 31. Ajustei nossas idades dessa forma porque ambos são números de “quase”. O 30 é um número de angústia, redondo demais, exigente demais, medroso. O 30 é a falsa maturidade, a beira do medo da morte. Com 31, era como se eu fosse imortal. Aos 26, você se tornava vulnerável.

Bebi o café. Tão forte que chegava a ser ruim. Mas você bebia sem açúcar porque eu que tinha feito.

No silêncio, eu contava suas costelas.

 

Vamos mover um pouco o refletor que aponta pra você, vamos arrastar seu foco de luz um tantinho para o lado. (Por que a palavra “musa” só existe no feminino?)

Gostaria que escrever não sacrificasse minhas costas.

Que não exigisse sentar em uma cadeira dura e frígida e olhar uma tela clara demais pra ser real. Clara demais para ser folha, para ser papel, para ser olhos. Que escrever não exigisse uma história que eu não enxergo mais no rosto de ninguém na rua (que eu nunca enxerguei), mas que talvez, um dia, tenha visto no seu rosto.

Musa, muso.

(o corretor do Word marca a palavra com essas irritantes ondinhas vermelhas de erro)

Muso.

(de novo)

Gostaria que escrever fosse só esse caminhar ligeiro na ponte invisível entre seu corpo e minhas mãos. E, depois, das mãos pra minha cabeça, onde as perninhas imaginárias da minha escrita-derme se tornariam asas e sairiam voando para fora e para dentro da página.

Eu estou presa dentro da página.

Você também.

Quero te arrancar, te amassar e te jogar fora. Te queimar com meu isqueiro ou na boca do meu fogão.



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