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História Apogeu - Ádvena


Escrita por: caulaty

Notas do Autor


Ádvena: pessoa que vem de fora; estrangeiro.

Capítulo 13 - Ádvena


O céu amanhecera lilás e azul celeste, com pinceladas de laranja e cor de rosa tocando as nuvens de algodão; dia após dia, Stan não cansava de se embebedar com a beleza de uma coisa tão simples quanto a chegada de um novo dia. Arrancou as botas para aliviar um pouco os dedos do pé aprisionados no couro durante dias a fio. Dormir descalço se fazia impossível, mesmo junto ao fogo e protegido pela tenda, sob cobertores grossos de peles, compartilhando o calor com seus companheiros de viagem, um punhado de homens solitários tentando evitar que seus membros congelassem durante a noite. O sol se tornara melhor amigo de Stanley naqueles dias, possibilitando que jogasse um pouco de água quente sobre os pés descalços para lavar o sangue e as bolhas estouradas dos calos. Perguntava-se, respirando o ar fresco da manhã, se este era um problema que os androides enfrentassem, pois nunca os via reclamar de feridas nos pés. Nunca os via reclamar de coisa alguma.

Na calmaria matinal, a maioria dos homens ainda dormia; com exceção de Craig Tucker, que Stan nunca vira comer ou dormir ou passar frio. De suas partes metálicas, as únicas visíveis eram o maxilar e a mão com a qual cortava a lenha de modo tão disciplinado e persistente que mal parecia humano. Stan buscava se manter fora do caminho dele. Gregory, à sua própria maneira, também parecia um tanto robótico, desprovido de certa humanidade. Aproximou-se de Stanley com uma garrafa térmica, envolto em um poncho de lã branca e um manto de pele de urso branco que tornava seus olhos ainda mais azuis, parecendo descansado e caloroso, as bochechas levemente rosadas pelo frio. Ao fundo, o “toc toc toc” do machado de Tucker formava uma sinfonia com o canto dos pássaros pretos. Gregory serviu Stan de uma caneca fumegante de chá verde.

-Bom dia. - Gregory disse, movendo-se com a mesma graciosidade com que se movia pelas paredes metálicas da sede na Capital, como se a exaustão da viagem não o tivesse atingido. Certamente não parecia ter bolhas nos pés, Stan pensou, aceitando a caneca.

-Obrigado. - Respondeu baixinho, bebericando do chá. Fez uma careta que arrancou de Gregory uma risada fraca.

-Ainda não se acostumou?

-O gosto continua sendo uma merda, mas eu tomo qualquer coisa que vá me manter quente. Conseguiu dormir?

-Não muito. Os cavalos estão agitados.

Durante toda a noite, uivos esganiçados cortaram os céus. Pareciam centenas de lobos chamando uns aos outros, cantando uns para os outros em alguma cerimônia que apenas eles compreendiam. Foi o primeiro sinal de lobos durante toda a viagem, e isso encheu o coração de Stan de esperança renovada. Reconhecia os troncos nus e enegrecidos pelo inverno, o chão de folhas secas que foi coberto pela neve úmida, o grito dos pássaros da montanha. A paisagem era diferente agora, com gotas cristalinas de orvalho congelado, estalactites pingando dos galhos retorcidos, uma forte névoa matinal penetrando entre as árvores, mas mesmo assim… Mesmo assim, Stan ainda sabia dizer exatamente onde Kenny caíra ao levar a flechada, e onde olhara aquele par de olhos vis, verdes como apenas uma coisa natural podia ser. Stan ainda sonhava com a criatura de cabelos vermelhos, rezando para que tivesse clemência com a boca grande de Kenny. Não parecia um ser dotado de muita misericórdia.

-Foi aqui. - Stan disse em uma voz pequena. - Não fui além disso. Acertaram Kenny com uma flecha bem ali. - Apontou entre duas árvores esguias. - E eu corri feito um covarde.

-Um covarde vivo. - Gregory disse, encarando o espaço que parecia tão sombrio com a cerração da manhã. Virou-se para Stan novamente, o manto de pelos brancos roçando contra sua face. Fazia seus cabelos parecerem ainda mais dourados. - Não poderia ter feito outra coisa, Stanley. Poderia ter matado vocês dois se não tivesse voltado.

Stan pressionou a língua por dentro da bochecha, pensativo. Sua consciência gostaria de acreditar que aquilo era verdade, mas não tinha tanta certeza.

-Por falar nisso… O que exatamente vamos fazer quando os encontrarmos, Gregory? Digo… Agora, não podemos estar muito longe. É possível até que já estejam nos vigiando e não vão gostar muito desse bando de estrangeiros se aproximando de sua vila. - Fez uma pausa. - Eles nos chamam de “o homem fraco”, sabia?

Gregory riu; seu rosto se iluminava ao mostrar os dentes brancos e retos.

-Faz sentido.

-Não acredito que vão nos atacar se souberem para que viemos. Talvez… Seja melhor que eu siga sozinho e converse com eles, descubra o que houve com Kenny. Eu falo bem a língua.

Um brilho cruzou os olhos atentos de Gregory, estudando as palavras de Stan com um fundo de sorriso na face, sem propriamente chegar aos lábios. Stan nunca sabia dizer no que ele estava pensando.

-Você quer ir sozinho?

-Acho que seria melhor. Se coloque no lugar deles, se chegarmos com o grupo inteiro…

-Eu concordo com você, Stanley. - Gregory o interrompeu. - Mas não pensei em mandá-lo. É perigoso, não sabemos o que pode acontecer.

-Naturalmente que é perigoso. Se quiséssemos nos manter a salvo, ainda estaríamos naquela bolha de vidro que chamamos de casa, não é? - E então, como se percebesse o próprio tom, Stan silenciou, engolindo as palavras em seco. Gregory o olhou repleto de algo que se parecia com compaixão.

-Talvez você esteja um pouco envolvido emocionalmente em excesso nessa situação, Stanley. Não acredito que seja seguro mandá-lo sozinho.

-Senhor, me escute. - Ele disse com a firmeza de um soldado, aproximando-se o suficiente para que Tucker não os ouvisse. - Ninguém aqui… Ninguém, nem você, quer encontrá-los mais do que eu. Então, por favor, não use isso contra mim. Você me escolheu por um motivo, me mandou aqui pela primeira vez por um motivo. Eu posso encontrá-los, sei que posso, e é melhor que seja eu. Eles não gostam de nós.

-Eu não os culpo por isso.

-Eu também não, mas é por isso que não podemos chegar com animais e homens feitos de lata e esperar que nos recebam bem. Se nós explicássemos… Se eu tiver uma chance de explicar que o nosso povo precisa de ajuda, que o nosso povo vai se extinguir se não fizermos alguma coisa… Eles vão nos ajudar. Vão deixar que colhamos o seu sangue e sua saliva, talvez alguns até queiram conhecer a Capital. Alguns aprendem a nossa língua, ouvi dizer. Talvez queiram ver o que há lá dentro, aceitem fazer alguns exames, tomografias, raios-x… Não seria extraordinário?

Gregory respirou fundo, desviando o olhar para um pequeno esquilo que tentava subir em uma árvore. Alguns raios de luz amigáveis começavam a atravessar a cerração e os galhos, iluminando diretamente a pele pálida de Gregory. Daquele modo, ele quase se parecia com aqueles seres de pinturas antigas, a realeza de um outro tempo, os fundadores da Cúpula. Gregory frequentemente lhe passava a impressão de ser filho de uma época distante. Stan apertou os dedos em torno da caneca, sem conseguir forçar o líquido verde goela abaixo.

-E como você saberia para onde ir? - Gregory perguntou.

-Nenhum de nós sabe. Mas sinto que… Se seguir os uivos, devo encontrá-los.

-Ah. Pretende perseguir animais gigantescos que podem te abrir com uma abocanhada, é? E o que pretende fazer quando os lobos sentirem fome?

-Os lobos estão onde os Vilks estão. Se formos com o grupo, eles nos encontrarão com mais facilidade. Sozinho, eu posso me esconder. Com tudo o que estudamos sobre os animais, eles ainda não aprenderam a escalar árvores. Por favor, Gregory, eu sei o que estou fazendo. Me deixe terminar o trabalho.

Stanley frequentemente se esquecia de que aquele homem era mais jovem, pois Gregory sempre carregava uma expressão tão madura, como se os olhos já tivessem passado por décadas de sabedoria. Por um instante, teve certeza de que Gregory riria dele. Em vez disso, com um último suspiro conformado, disse:

-Se você não voltar em três dias, nós seguiremos viagem. E se algo acontecer, saiba que encontrá-lo não será uma prioridade. Precisa estar ciente disso se vai seguir adiante com essa loucura.

Stanley não se lembrava da última vez que sorrira desde que esteve naquele lugar pela última vez, quando Kenny foi carregado deixando uma trilha de sangue. Riu aliviado, permitindo-se dar um gole longo no chá; o líquido até parecia mais doce agora. Era feito com erva nascida do chão, um gosto estranho à boca de Stan.

-Obrigado, senhor.

Quando se virou para arrumar suas coisas, o coração excitado dentro do peito, Gregory lhe segurou o braço com a força de um punho de ferro.

-Stanley. Isso não é sobre Kenneth. Tente se lembrar disso.

Obedientemente, Stan assentiu com a cabeça.

 

Sozinho, era difícil manter a noção de tempo muito clara. Stanley seguiu sozinho poucas horas depois, munido por uma bolsa de alimentos, água, um saco de dormir enrolado nas costas e vestindo algumas peles extras para garantir que a hipotermia não o pegasse durante a noite. O peso das coisas que carregava só foi ruim nas primeiras horas, mas chegou a um ponto em que Stan já não o sentia mais. Havia algo de agradável na solidão da floresta, algo imenso que fazia com que ele se sentisse insignificante, parte de algo maior. Sob a luz do sol, Stan reviveu a caminhada de volta à Metrópole, o medo de tudo que se movia entre as árvores e a paz que enchia seus ouvidos com o som do rio descendo a montanha. Quando começou a escurecer, no entanto, o frio penetrou seus ossos de tal forma que Stan apenas se encolheu entre as imensas raízes de uma árvore centenária para acender uma pequena fogueira, tremendo no escuro abraçando os próprios joelhos, sentindo as lágrimas e a coriza congelando em seu próprio rosto. Mordiscou um pouco da carne seca sintética, nem mesmo sentindo fome, apenas exaustão e dor, como se os membros estivessem prestes a congelar e cair. De alguma forma, a solidão parecia acentuar o frio, talvez por não conseguir se distrair dele, ou talvez fosse pela falta dos malditos chás de Gregory.

Quando a madrugada avançou e Stan se deu conta de que não conseguiria ficar acordado, esforçou-se para escalar a árvore e se acomodou entre os galhos grossos que formavam berços aéreos, confortável sobre as peles macias. Deixou que o fogo morresse naturalmente, esperando que não atraísse lobos gigantes ou coisa pior. Ouviu os animais uivando durante toda a noite. Não dormiu muito mais do que duas ou três horas. Durante todo o resto da noite, apenas esperou em plena escuridão de olhos abertos, sentindo-se esquecido no fundo do mar ou no espaço sideral, tentando ignorar as sombras que se moviam lá embaixo. Sentia os animais se movendo através da floresta, animais tão grandes que poderiam derrubar uma árvore, mas não se interessaram por ele. Stan não pensou que fossem lobos.

Já eram aproximadamente oito da manhã quando o sol começou a se erguer no horizonte. Stan desceu da árvore, tentando despertar os músculos enrijecidos pelo frio e pela tensão. Espreguiçou-se com um bocejo grande, embalou o saco de dormir e seguiu viagem em direção aos sons que os lobos fizeram durante toda a madrugada. Não soube dizer por quanto tempo caminhou quando cruzou caminho com um cenário familiar, uma árvore de tronco lascado e galhos retorcidos de uma certa maneira que Stan jurou ter visto antes. “Merda, estou andando em círculos”, pensou. Permitiu-se um instante para encher seu cantil de água em um rio largo, embora raso em profundidade, o que revelava seu fundo terroso através da água cristalina. Arregaçou as mangas para não molhá-las, mergulhando o cantil na água gelada, franzindo o rosto em uma careta pelas milhares de agulhas que pareciam penetrar sua pele.

-Filho da puta. - Resmungou baixinho.

Estava tão distraído pelas mãos congeladas que não ouviu os passos astutos atrás de si, nem mesmo se deu conta de que era observado por alguém. Guardou o cantil por dentro do casaco e meteu as mãos molhadas por dentro das peles, agachado à beira do riacho. Só se deu conta de que não estava sozinho quando sentiu algo se aproximar de sua orelha. Congelou, temendo não viver tempo o suficiente para olhar para trás. Antes de qualquer coisa, Stan ergueu as mãos no ar para que vissem que não estava armado, esticando as pernas devagar até se colocar de pé. Tinha de ser uma pessoa. Caso contrário, não estaria mais vivo.

Olhou por cima do ombro com imensos olhos azuis e assustados. Bem, era uma pessoa, mas também havia um animal. Stan nunca tinha visto um lobo antes, não pessoalmente. A criatura tinha o tamanho de um pequeno cavalo, uma pelagem acinzentada e branca, olhos profundos e vermelhos que o observavam com fúria, como se fogo ardesse dentro das pupilas. Tinha as presas amareladas à mostra, das quais caía um filete de baba espessa. Então é isso, Stan pensou. Distraiu-se por tanto tempo com o animal que demorou a notar a ponta da lança tão próxima ao seu rosto, quase roçando contra sua bochecha, afiada e refletindo a luz do sol. Percorreu a extensão da lança com os olhos e se deparou com aquela que a segurava.

Ela tinha olhos cor lilás, duros e severos, atentos a cada movimento. O rosto, pálido feito leite, era comprido e anguloso como o de uma ave. Uma cascata de cabelos negros caía sobre seus ombros, adornados com penas bordô e azul marinho entre as pequenas tranças. Vestia um manto de pele de lobo cinza, a cabeça do animal servindo-lhe de capuz, e o rosto era pintado com um par de linhas brancas grossas nas bochechas e olhos. Era a mulher mais bonita que Stan já vira em toda a sua vida.

-Não me machuque. - Ele espremeu as palavras em Vilkiriano. A garganta estava terrivelmente seca de repente.

As sobrancelhas dela se ergueram não mais que um milímetro, surpresa por ouvir sua língua sair da boca daquele homem fraco. Stan quase quis sorrir, mas não se atreveu. Estudou Stanley cuidadosamente, desde os sapatos que usava até o último fio esfarrapado de suas roupas. Quando encarou seus olhos, ele sentiu tontura, pensando por um momento que fosse cair no rio.

-Não deveria estar aqui. - Ela respondeu.

-E-eu sei. Me perdoe. Por favor, ouça o que tenho a dizer. S-se puder abaixar essa coisa…

Isso pareceu irritá-la, fazendo com que pressionasse a lança contra a jugular de Stan. Ele recuou, assustado, escorregando na terra úmida da beira do riacho.

-Não deveria haver mais de vocês aqui.

-Meu nome é Stan. - Ele disse tão rapidamente que parecia uma única palavra vomitada. Tentou respirar fundo, mas não havia tempo, não com aquela lança tocando sua carne. - Estava procurando por você. Pelo seu povo. Estou desarmado, pode ver. Não vim fazer mal a ninguém.

Ela não parecia acreditar muito nele.

-O que você quer?

-Estou procurando pelo meu amigo. K-Kenny. O nome dele é Kenny.

Aquela foi a primeira vez em que a mulher pareceu relaxar um pouco o aperto das mãos em torno do cabo da lança. Durou apenas um segundo, enquanto os olhos lilases se estreitavam em desconfiança, mas a ponta da lança não se afastou um milímetro sequer.

-Você o conhece? - Stan se atreveu a perguntar.

-Não tente nenhuma gracinha. - Ela disse com firmeza. - Vai se arrepender se tentar.

Enfim, Wendy abaixou a arma. A loba imensa ao seu lado rosnou de forma úmida, cheirando a grama morta antes de avançar pelo rio de correnteza fraca. Wendy girou a lança com facilidade em suas mãos e usou a ponta não afiada para empurrar Stan para dentro da água. Quando a água chegou às suas panturrilhas, ele pensou que fosse morrer. Ela, no entanto, atravessou o riacho com calma e elegância, como se o frio que sentisse fosse diferente. Stan engoliu seco e correu até a outra margem sem reclamar, contente por não ter um buraco na garganta.

Apesar do frio corrosivo, Stan queria gargalhar. Não duvidava da existência dos deuses no lado de fora, pois alguma força divina havia lhe mandado uma guia quando mais precisava. Agradeceu silenciosamente e seguiu a mulher floresta adentro.

Após não mais do que uma hora, Stan compreendeu porque os Vilks eram tão difíceis de se encontrar. Não bastava ter uma vaga ideia da localização no interior daquela floresta de árvores adormecidas; não era ali que eles habitavam. Wendy, a mulher, cortou caminho por dentro do morro através de uma caverna escura e úmida. Stan teve certeza de que estava sendo conduzido para sua morte através do breu absoluto, engolido pela escuridão. Antes de adentrarem a caverna, a mulher amarrou uma corda de palha na cintura e ordenou que Stan a segurasse até que saíssem do outro lado.

-O chão é liso. Se cair e quebrar uma perna, não vou te carregar. Vai ficar ali dentro para ser comido, então não seja idiota.

Comido pelo quê, Wendy não disse. De todo modo, Stan se agarrou à corda sabendo que sua vida dependia disso. Tentou não olhar para trás, mas podia sentir a luz desaparecendo nas suas costas. Quanto mais o escuro o engolia, mais estranhos se tornavam os sons ecoando nas paredes estreitas. Ouvia a respiração úmida e selvagem de alguma criatura imensa. “É apenas a loba”, Stan tentava se convencer. “Logo isso vai acabar. Eu não vou morrer. Não vou morrer. Não vou.”

Sentia vontade de chorar. Não fazia ideia do tamanho daquela caverna e amaldiçoou-se por não ter perguntado à mulher antes de entrar. Podia ser um longo e fino corredor ou uma imensa cavidade no útero da montanha, não importava. Stan podia sentir milhares de pequenos olhos os observando. Havia vida naquela caverna, vida grande e vida pequena, vida rastejante e molhada que nunca via a luz do dia. Em certo momento, adentraram a água e Stan fez seu melhor para não soltar um gemido de horror, mais pelo pavor do desconhecido do que pelo frio de estar imerso até os joelhos. Sentia coisas roçando pelas suas panturrilhas, coisas moles e espessas. Não sabia dizer o que estava ali de fato e o que era fruto de sua imaginação. Não enxergava a um palmo em frente ao rosto, mas aquela mulher se movia com tanta certeza que o fazia se perguntar se os Vilks tinham olhos noturnos de lobo.

Não soube dizer quanto tempo passou naquele lugar remoto quando voltou a enxergar alguma coisa. A luz da saída do outro lado pincelou as paredes de forma tão lenta e gradual que Stan pensou ter se acostumado, adaptado seus olhos à escuridão, quando percebeu que a caverna chegava ao fim. O que lhe deu certeza foi o grito esganiçado de uma água da montanha ressoando lá fora. Escorregou no solo lamacento ao sair da água; Wendy não lhe repreendeu, mas pôde sentir a impaciência dela, mesmo sem ver sua expressão.

Pensou que sentiria alívio ao chegar ao outro lado, mas quando se aproximaram da saída, a luz machucou suas retinas e o cegou por um momento. Cobriu o rosto com a mão, segurando na corda firmemente com a outra, quase esbarrando em Wendy quando ela parou de andar. Ao abaixar a palma, os olhos estreitos para se proteger, revelou-se o desfiladeiro à sua frente. A saída da caverna dava para uma estreita e frágil ponte pênsil erguida sobre uma queda de 900 metros. Stan estremeceu. Os nódulos das mãos ficaram brancos de segurar a corda. Soltou-a quase sem perceber.

-Vocês são protegidos pela cadeia das montanhas. - Stan murmurou, fascinado. - É por isso que ninguém os encontra.

-Não é só o homem fraco que tem sua fortaleza.

Stan não tinha um deus para o qual rezar. Não sabia o que era pior; o breu da caverna ou a altitude, a repressão do breu ou o espaço tão assustadoramente amplo que entontecia. “Não olhe para baixo”, Stan repetiu durante todo o trajeto, movendo os lábios sem emitir um som sequer. Sua respiração se transformava em vapor diante dos seus olhos. A ponte, Stan calculava, devia ter cerca de 90 metros a serem percorridos, mas a cerração fazia com que mal se pudesse enxergar seu fim. Ela fazia uma curva para baixo em seu centro. Em volta, o céu era de um laranja rosado deslumbrante. Não podia enxergar a águia montanhesa, mas pôde ouvi-la por todo o caminho.

“Vou vomitar”, Stan pensou, apavorado. “Merda, vou vomitar”. A cabeça ficava leve feito um balão. Por dentro das peles e do couro, Stan começou a suar frio. A ponte gemia sob seus pés, balançando com o peso dos três seres que a atravessavam. Iris, a loba, abria caminho na frente, as tábuas rangendo e resmungando.

Ao ouvir uma pedra escorregar entre as tábuas e cair, Stan cometeu o erro de olhar para baixo, para o coração da fenda profunda da qual não se podia enxergar o fim. A queda livre era uma morte tão certa quanto se podia ser, com um mar de pedregulhos afiados que partiriam um homem ao meio caso tivesse a infelicidade de cair. Bem, era isso que Stan imaginava. Olhando para baixo, via-se apenas escuridão e o vazio.

Pode ter sido a imagem, ou o fato de que Stanley tinha o estômago vazio e o corpo exaurido pela travessia, pela noite em claro regada a pavor e tensão; o motivo pouco importa. Fato é que a vista de Stan enegreceu. Antes de perder a consciência, ainda teve tempo de pensar: é assim que vou morrer, tão perto de conhecê-los. Inacreditável.

 

Mas não morreu.

Recobrou a consciência parcialmente, confundindo o que era real com aquilo que habitava o interior de seu cérebro empoeirado, sua memória e imaginação. Em dado momento, quase abriu os olhos e viu nuvens manchadas de laranja, como as de uma pintura no salão do orfanato em que crescera. Pensou, ainda, ter visto a silhueta de alguma ave no céu, um borrão tão distante que não se podia dizer se era um falcão ou um passarinho amarelo. Ouviu o coaxar de rãs, vozes distorcidas e o som do estalar da lenha ardendo no fogo, mas nunca chegou a abrir as pálpebras por completo. Pensou estar dormindo em sua cama no apartamento solitário da Metrópole, e que a textura dos pelos contra seu rosto fossem os pelos de Sparky, o datado cachorrinho robótico que o acompanhara desde a infância. Apesar de estar com um olho quebrado (que não se podia substituir pois o modelo de Sparky há muito não era mais fabricado) e tufos de pelo faltando, Sparky era o único que sentiria sua falta se ele morresse. Por alguma razão, era nisso que Stanley pensava antes de escorregar para a inconsciência novamente.

Em dado momento, ainda imerso no breu, começou a distinguir palavras:

-Eu o amo, você sabe que sim, mas não vamos fingir que ele está preparado para lidar com isso. - Uma voz de mulher dizia. Stan levou alguns segundos para perceber que aquelas palavras eram ditas em Vilkiriano, e não na língua comum.

-Não cabe a nós julgar isso. Foi a decisão de nosso Vadonis e devemos honrá-la. Christophe está no lugar dele até que retorne. - Um homem respondeu. Stan nunca ouvira aquela voz antes, mas era carregada de disciplina e certeza.

-Sim! Para coordenar as caçadas e o plantio, e resolver pequenos conflitos como qual idiota fica com qual pedaço do javali que ambos mataram, mas eu lhe asseguro que Standish não contava com um problema desse tamanho. Christophe não é bom com essas coisas. Standish o deixa no comando quando sai justamente para que ele aprenda virtudes que não tem.

-E isso não é uma oportunidade de aprender?

-Não! Não é hora de nos colocar nas mãos de um rapaz inconsequente. Nós não sabemos quantos deles há lá fora, se estão armados…

Estavam tão absortos pelo calor de sua discussão que nem mesmo perceberam os olhos bem abertos do homem debruçado sobre a cama de palha. Ele não se atreveu nem mesmo a se sentar, ou a respirar um pouco mais alto, muito menos a anunciar sua súbita consciência. Apenas esperou, prestando cuidadosa atenção às palavras em Vilkiriano, tentando compreendê-las tanto quanto pôde. Nunca antes ouvira nativos falando, a não ser pelo breve encontro na floresta com o rapaz de cabelos ruivos e o homem de pele escura. Os sons daquela língua enchiam seus ouvidos de prazer. Agora, acordado, reconheceu que a mulher era a mesma que o guiou. Stan teve dificuldades de imaginá-la arrastando-o até aquela cama, um baixo estrado de madeira forrado com palha e mantas. Lembrava-se das firmes palavras dela: “se cair, não vou te carregar”.

Mas se estava ali, vivo e inteiro – apesar da terrível dor de cabeça – algo devia ter mudado dentro dela.

“Meu Deus”, Stan pensou, maravilhado. “Estou aqui. Estou mesmo aqui”.

Conseguiu, em uma espiadela ousada, enxergar o homem com quem ela conversava. Este também tinha pele escura e vestia lã de cordeiro. Algo sobre seu ar gracioso quase o lembrava de Gregory. Não tinha certeza de se aquele seria o mesmo homem que encontrara na floresta, aquele de olhos pretos e severos que o alertavam para ir embora.

-Reconheço esse daí. - O homem disse, confirmando o que Stan já imaginava. - Estava com Kenny quando o encontramos. Correu feito uma galinha assustada.

Stan nem mesmo se dignou a sentir-se humilhado. Ele dizia a verdade, afinal de contas. De todo modo, seu coração disparou com a menção do nome de Kenny. “Eles o conhecem”, pensou, apertando os dedos das mãos, duros e gelados. “Deve estar vivo. Tem que estar vivo”.

-Foi essa a história que ele me contou. - Wendy cruzou os braços. - Eram apenas os dois?

-Que eu tenha visto, sim. Talvez só queira levar o amigo de volta.

-Já não era sem tempo. Há algumas luas o menino loiro já tem condições de viajar. Não sei porque ele continua aqui.

Muito do que diziam, diziam rápido. Havia palavras desconhecidas aos ouvidos de Stan, palavras familiares cujo significado não podia se lembrar, mas compreendeu o suficiente para ter certeza de que seu amigo andava e respirava. Foi como se um espinho tivesse sido arrancado de seu coração, um espinho enterrado tão fundo que Stan já havia se acostumado com ele. Foi difícil não emitir som nesse momento.

-Standish parece ter se afeiçoado ao garoto, sabe-se lá porquê. - O homem observou, esfregando o queixo no qual crescia uma barba rente e bem feita.

Foram interrompidos subitamente por alguém abrindo a entrada da tenda sem anúncio. Uma silhueta imensa foi revelada, contrastando com a luz branca do sol que raiava lá fora. Apenas quando o homem deu um passo à frente, deixou de ser uma sombra para ter suas feições reveladas, uma face escura e carrancuda, marcada por uma cicatriz fresca. Tinha olhos quase dourados, com um brilho esverdeado na margem das íris, os olhos de um lobo desconfiado e atento. Uma cascata de cabelos castanhos e ondulados caía sobre seus ombros largos, fios soltos e desgrenhados sem qualquer adorno. Era belo, belo como a flora selvagem da montanha, belo como as águias em rasante e as quedas d’água que podiam escaldar a pele de um homem. Belo como uma coisa livre e assustadora.

Na Metrópole, certamente seria considerado um monstro terrível. Aqui, no entanto, era diferente.

Stan não sentia os cheiros que aquele povo sentia, e apesar dos anos dedicados ao estudo comportamental dos alfas e ômegas, somente naquele instante pôde compreender de verdade como tais coisas funcionavam. O ar na tenda mudou. Wendy, que a Stan parecia tão imponente em sua presença, recuou em uma submissão dolorosa quando aquela criatura chegou. Não chegou a abaixar sua cabeça, mas poderia muito bem tê-lo feito, pelo modo como se calou e abriu caminho para que ele passasse, observando-o com uma resignação quase sábia.

-O que é isso? - Christophe perguntou. Só então, Stan se deu conta de que tinha os olhos bem abertos, e aquele homem encarava dentro deles.

Atordoado, tentou se sentar. Foi acometido por uma tontura que tirou o chão de debaixo dos pés.

-Ele estava perambulando sozinho na floresta branca. - Wendy anunciou. - Fala a nossa língua.

Era quase um aviso, Stan percebeu. “Cuidado com o que diz, pois ele vai entender”. A ideia de que aqueles seres o consideravam perigoso quase fez Stan querer rir.

-Era ele quem acompanhava o homem fraco que trouxemos para cá. - Token explicou.

-Isso virou um hábito? Todo homem fraco que encontram, convidam para a nossa terra e partilham nossa comida?

-Fui eu quem o trouxe. - Wendy disse com firmeza. - Estava procurando pelo amigo dele.

-Aquela coisinha amarela?

-Eu me chamo Stan Marsh. - Atreveu-se a dizer, firmando os pés no chão de terra. A cabeça parecia leve feito um balão sobre seus ombros. Os olhos do homem não se alteraram quando Stan proferiu as palavras. - Trabalho com Kenny na Metrópole. Você é o Vadonis da aldeia?

-Não.

-Ah. Bem… Eu realmente gostaria de falar com ele, se… Se fosse possível.

Fez-se de louco. Não queria que soubessem o quanto tinha ouvido. Qualquer que fosse o conflito entre aquelas pessoas, não queria se atravessar; tratavam-se de três alfas, se não estivesse enganado.

-Terá que se contentar conosco. - Foi ela quem respondeu. - Nosso Vadonis está em caça.

-Como aprendeu nossa língua? - Token quis saber. Tinha os olhos mais cuidadosos, e não parecia gostar do que aquele desconhecido sabia sobre seu povo. Talvez devesse ser mais cuidadoso com as coisas que dizia.

-Eu… Estudo a cultura vilkiriana há muitos anos. Há poucos… - Como traduzir “registros” para um povo que não escrevia livros? - Há pouco sobre seu povo, mas tudo o que há, eu estudei.

-Por quê? - Token perguntou.

-Porque… Bem, porque…

-Eu não gosto disso. - Token interrompeu, comentando baixo para os outros dois. - Fizeram tanto esforço para se isolar do resto do mundo, os homens fracos, até construíram aquela bolha de vidro sobre suas cabeças, por que estão aprendendo nossa língua e procurando nossa aldeia?

-Desculpe, será que eu posso… - Todas as palavras em Vilkiriano desapareciam da mente de Stan. E a maioria no idioma comum também, embora fosse inútil naquela tenda. - O meu amigo está aqui? Kenny, ele… Ele está vivo?

Talvez isso gerasse alguma empatia.

Os três Vilks trocaram um olhar tenso, como se compartilhassem de alguma conversa telepática da qual Stanley não fazia parte. Christophe fez um gesto com a cabeça em direção à saída da tenda e Token, prontamente, marchou para fora. Stan congelou por dentro. Por um instante, teve certeza de que aquele homem monumental estava prestes a matá-lo. Ou pior, entregar-lhe nas mãos da mulher esguia. De algum modo, ela o assustava ainda mais.

-Podemos conversar lá fora? - Wendy perguntou a Christophe, impaciente.

Por um momento, aquele imponente homem que tanto intimidara Stan desapareceu, dando lugar a um rapaz insatisfeito. Foi apenas um relance, uma expressão contrariada que mal cabia naquele rosto tão sisudo, mas durou o suficiente para Stan se dar conta de que Christophe era consideravelmente mais jovem. Sem dizer uma palavra, caminhou em direção à saída da tenda, sabendo que o Wendy o seguiria. Antes de fazê-lo, no entanto, ela se voltou a Stan mais uma vez:

-Não se mexa. E se sabe o que é bom para você, não tente nenhuma gracinha.

 

Wendy fora uma adolescente recém-desabrochada em alfa quando Christophe DeLorne perdeu seus pais. Ainda lembrava-se dele pequenininho, todo sujo de terra, colocando punhados de argila na boca e engolindo sem mastigar, jamais chorando a perda daqueles que o trouxeram ao mundo, jamais chorando coisa alguma. Diversas vezes precisou escalar as árvores do bosque para encontrá-lo entre os galhos, nove metros acima do solo, tentando se esconder do resto do mundo. Lembrava-se, acima de tudo, no amor nos olhos de Standish em um fim de tarde de outono, quando Christophe tinha não mais do que quatro anos de idade e um coração já duro como pedra. Naquele dia, tentava fazer fogo batendo uma pedra na outra, e quando finalmente conseguiu uma faísca, abriu o primeiro sorriso que Wendy já vira em seu rosto, tão satisfeito consigo mesmo. Standish chorou silenciosamente, de modo que Christophe nem percebeu, e repousou uma mão no topo da cabeça cheia de cabelos castanhos espessos, trazendo-o para junto de si. Era um Vadonis tão jovem naqueles tempos, alto como uma montanha, ainda sem os pelos grisalhos na barba e os cabelos cor de areia escura descendo em caracóis até o meio das costas, com a força braçal de vinte homens e o coração de uma mãe sem filhos. Nesse dia, Wendy compreendeu que Standish se tornara pai, talvez antes mesmo de ele próprio se dar conta disso.

Wendy não conseguia mais encontrar aquele menino de pernas finas no homem que a encarava agora. Christophe nunca teve o charme do pai, nem a conversa macia, nem o sorriso caloroso, nem a astúcia e a sensibilidade, e talvez fosse constantemente lembrado disso por todos que o observavam crescer. Wendy perdeu o momento em que aquele menino se tornara adulto, homem feito, unido em casamento perante os deuses e os Vilks, com algumas mortes nas costas, mais do que gostaria de contar. E Wendy o amava profundamente, sempre o amara profundamente, talvez até mais do que amava Kyle, que era tão fácil de amar. Kyle, sim, parecia-se com Standish na juventude, por mais que não fosse de gracejos e sorrisos fáceis. Carregava o mesmo espírito flexível (e, portanto, inquebrável), tinha os mesmos olhos atentos e abertos para o mundo, e mostrava a todos o fogo que ardia dentro dele. Era inteligente e gostável e terrivelmente teimoso.

Mas por qualquer anedota do destino, Kyle não se tornara um alfa. Ninguém pediria dele a liderança, sabedoria e o pulso firme de um Vadonis, ainda que ele tivesse todas essas características.

Christophe nunca pedira por nenhuma dessas coisas, e isso se fazia tão claro quando Wendy olhava dentro daqueles olhos castanho-esverdeados. “É a coisa mais assustadora do mundo achar que não pode proteger seus filhos do que eles acham que querem”, lembrava-se das palavras de Standish na noite do casamento.

-Sei que não me pediu nenhum conselho. - Ela começou, cruzando os braços. Não se preocuparam em andar para muito longe da tenda, caso o homem fraco decidisse fazer algo idiota.

-Não, não pedi.

-Mas sabe que é meu dever dar-lhe mesmo assim. Foi para isso que seu pai me deixou aqui. Aja com esperteza, Christophe. Não meta os pés pelas mãos. O homem fraco é traiçoeiro.

-Ele não parece traiçoeiro, parece um retardado.

-Não me refiro a esse. Embora… Veja bem, eu não gosto de tê-lo aqui mais do que você, mas o que podia ser feito? Token tem razão, eles construíram sua bolha de vidro para nos manter longe, e se estão aqui agora, é porque querem algo. Precisamos descobrir o quê. Talvez o que Kenny disse seja verdade, talvez estivessem apenas intrigados, mas você sabe do que eles são capazes. Sabe como nos veem, sabe como passeiam pelas terras externas em suas caixas com rodas esperando dar uma boa olhada num selvagem, como se fôssemos… Eles são ruins, Christophe. Talvez estes não sejam, ou não saibam que são, mas eles não têm escolha. A ruindade vive dentro deles, nascem condenados a ela. Precisa ter cuidado.

-Você fala, fala, fala, mas viu o que tem ali dentro? Viu aquele amarelinho que Standish tomou debaixo da asa? Por que tem medo deles?

-Você também deveria ter.

Ele riu de escárnio.

-Wendy, eu tenho medo de muita coisa. Mas olha como as coisas são. A águia perfura com as garras e arranca os olhos dos inimigos a bicadas, o veado destrói com os chifres e pisoteia, o polvo quebra os ossos das presas com os tentáculos e nenhum deles têm medo de um preá ou uma truta. É isso que eles são, eles não passam de preás, e o lobo não tem medo de preás.

-Você diz isso porque não os conhece.

-E você conhece?! Quando foi a última vez que o homem fraco nos assustou? Quando foi que eles nos escravizaram?

-Só porque não aconteceu com o nosso povo não significa que…

-Eu vou fazer o que você me pede. Não porque eles são perigosos, mas porque eles são estúpidos demais pra saber onde estão pisando. Vou descobrir o que o desgraçado quer e mandá-lo de volta pro buraco dele, junto com aquele outro amiguinho. Então pare de me encher a porra do saco.

Com isso, apesar de separar os lábios para dizer algo, Wendy se deu por satisfeita e voltou a selá-los. Não demorou para que Token voltasse, seguido pelo garoto loiro, Kenny, que parecia extremamente confuso. Wendy sentiu vontade de rir pela forma com que Kenny endureceu os ombros e baixou o olhar ao chegar perto dele, provavelmente porque Christophe o deixava desconfortável. Christophe deixava muitas pessoas desconfortáveis.

-Token disse que vocês têm algo pra me mostrar. - O loiro disse em seu sotaque engraçadinho.

-Vieram te buscar. - Christophe cuspiu antes de adentrar a tenda novamente. Apreensivo, Kenny o seguiu.

“Não são preás”, Wendy pensou silenciosamente, trocando um olhar demorado com Token. “São malditos leões da montanha, e as presas somos nós”.



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