História Bewitched - Jeon Jungkook - Capítulo 16

00h27min.

Rowgson estava deitada em seu colchão, no meio daquelas várias almofadas e travesseiros, admirando o teto do seu quarto, pensando longe, bem longe. São vinte e três anos e nenhuma lembrança. O que será que aconteceu com elas?

O que houve? Será que Jungkook sabe de tudo, mas não quer lhe contar?

— Pensando em quê?

Halley não gritou, não exatamente, ao invés disso se virou na cama afundando o rosto no travesseiro, exclamando um palavrão que soou como um rosnado. Ela não esperava que ele fosse aparecer naquele horário. O silêncio era tão absurdo que fez a voz dele soar alta demais, até acelerou seu coração.

— Eu já falei —  ela o procurou com os olhos, encontrando-o sentado na sua poltrona. — Pare de aparecer de repente!

— Como foi? — sem rodeios, ele pergunta — O passeio.

Halley ficou boquiaberta. Chegou a pensar que ele ainda não havia percebido que quase a fez vomitar o coração. Mas era ele, né. JK não se importava.

— Foi legal.

— Hum. — Kookie murmurou, assentindo para ele mesmo. Rowgson o observou discretamente.

Jungkook se desencostou um pouco para esticar a perna e apoiar o coturno no pufe logo a frente. Ao se voltar para trás em um suspiro ele revelou — sem querer — seu abdômen fazendo Rowgson engolir em seco e, claro, desviar o olhar.

Suas ações jamais passariam despercebidas por ele.

— No que estava pensando, Halley? — Jungkook insistiu. Ele fechou os olhos e os manteve fechados por uns minutos, aquelas estrelas dando voltar por sua cabeça faziam sua pele branquinha brilhar como se fosse pelo luar. — Compartilhe comigo.

Halley se sentou na cama sem tirar os olhos dele e, aproveitando que ele permanecia de olhos fechados,  arrumou o cabelo e o seu pijama amarrotado às pressa. Não tinha culpa se precisava se sentir apresentável perto dele.

— Não é nada. — ela diz normalmente, como quem pede para não se preocupar.

— Claro. — Kookie abriu os olhos. Mas não a olhou nem por um instante. — Faltam apenas duas páginas, não é?

— Eu não sei. O caderno é um pouco grosso.

— Só há sete páginas preenchidas.

— Só? — ela estava surpresa por isso.

— As outras foram arrancadas. — Jungkook soa distante, seus olhos brilham sobre a janela. — Halley, o que fará depois de saber o que aconteceu com você?

Rowgson não quis responder, pois não sabia. Pegou uma almofada e a apertou apreensiva, perguntando a si mesma o que faria.

Jungkook ergueu uma sobrancelha olhando para aquilo.

— Não fuja de seus problemas. Seja forte e os encare. — ele a olha finalmente. — Eles estão por vir.

Halley pendeu a cabeça, encarando-o firmemente.

— Eu fazia isso no passado?

— Quando adolescente você tinha poucos amigos. Dois apenas.

Os lábios de Halley chegaram a se separar para uma pergunta comprometedora escapulir, mas ela se controlou. Pensando alto.

— Como ele sabe disso? — mas em seguida, falou bem alto. — Como você sabe disso, Kookie?

— Você gostava de ficar sozinha.

— Acho que ainda gosto.

— Passava boa parte do tempo na biblioteca...

— Continue.

— Não — Kookie rebate, movendo a cabeça. — Não tenho mais nada a dizer por hoje.

— Mas você não disse nada.

Ele sorri ladino. 

— Eu sei que você quer saber, Halley. Quer muito. — ele levanta, sem quebrar a troca de olhares. — Mas não posso te pôr em risco. É muita informação, algumas delas são pesadas demais para o você de agora.

— E você acha que me fazer esperar não é me pôr em risco?

— Halley.

— Como você sabe disso? Que eu tinha poucos amigos. Você me vigiava desde pequena, por acaso? — ela riu debochada como se quisesse o afetar. — Como naqueles histórias de vampiros que acompanham o crescimento da sua amada em segredo? Isso é tão ridículo.

— Amada? — ele pareceu confuso, mas logo um sorriso maldoso foi se formando em seus lábios. — Eu não sou um vampiro e você não é a minha amada, e não, eu não acompanhei o seu crescimento.

Rowgson rolou os olhos para cima.

— Ainda bem porque se você fosse um vampiro, eu nunca, jamais, em hipótese alguma daria uma chance a você.

Jungkook ficou a olhando por um tempo, como se a julgasse em silêncio. Parecia querer falar alguma coisa. Quando Halley pensou em dizer algo, ele começou a rir. Mas Kookie riu tanto que seu rosto ficou bem vermelhinho e ele ficou tão engraçado com aquela bagunça de cabelos que, se Rowgson não estivesse o admirando com um brilho nos olhos pensando em como os dentes grandinhos da frente dele lhe lembravam os de um coelho, ela riria junto com ele. Mas preferiu só olhar.

— Tá rindo de quê?

Jungkook nega com a cabeça.

— Você acredita mesmo, Halley, que eu teria algo com você? — ele nem percebeu que Rowgson desmanchou seu sorriso completamente. — Isso nem se passa pela minha...

— Eu não acredito que você vá querer ter algo comigo, nem mesmo sei se você ainda está vivo.

Jungkook é quem desmancha o sorriso agora.

— Me desculpa — disse ele meio sem jeito. — Eu não quis te... Ah! mas você também me ofendeu. Agorinha mesmo.

— Me desculpa, então. — se deitou de costas para ele, embrulhada dos pés à cabeça. — Pode ir. Se quiser não voltar mais, tudo bem. Posso me virar sozinha.

— Por que eu não voltaria?

— Não sei. Talvez você tenha uma amada para acompanhar o crescimento.

Jungkook sorriu presunçoso, mas sua voz não se alterou quando disse:

— Vou voltar, Halley.

Ela nada disse.

— *Não sei até quando. — em coreano, ele sussurra. Mas Halley ouviu e fingiu não ter ouvido, ou melhor, não ter entendido.

Jungkook sabia que ela o esperaria.

***

09 de setembro.

24/08/**

Não tenho amigos.

Mas não pense que escrevi isso com um semblante entristecido. Não mesmo. Mas não vou ser injusta. Escreverei por experiência própria. Amigos fiéis são uma raridade, e eu não tive a sorte de ter ao menos um.

E, por mais que me doa escrever isso, eu quero me lembrar do amigo que tive. Foi ele quem me deu essa ideia de escrever em um caderno tudo de importante que vem acontecendo nesses últimos dias. Bem, eu assim o fiz. Foi como fazer uma terapia e confesso que me ajudou muito. Tem algumas páginas preenchidas e gostaria que tivesse mais. Contudo, a vontade que tenho agora é de rasgá-las e tacar fogo nelas, porque Mike também é a porra de um mentiroso!

Está certo que não tínhamos um relacionamento fechado, mas havia regras! Não se envolver com ninguém do nosso grupo de "amigos" era uma. Tinha a Rebecca, a Becky, Darla, mas ele tinha que ficar justo com a Joyce Scarlett?! A pessoa que ele jurava nunca se envolver na vida?!

E por que estavam falando sobre mim antes de foderem na naquela porra de sala? Num local de trabalho!

Mike Perry... eu não sei nem o que escrever. Realmente é digno de um Oscar, já que eu nunca desconfiei de nada. Nem sequer por um minuto. Ele havia me prometido. Era um segredo só nosso, não tinha nada que ter contado a ela.

A minha vontade agora era de ir lá na sala dele e enfiar essas minhas unhas postiças naquela pele bronzeada e acabar com os sonhos daquela ruiva falsificada que ele pediu em casamento.

Mas não, farei algo melhor. 

Continuaremos amigos, Mike, mas você vai ter que entrar na minha lista negra. Você e sua futura noivinha.